Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Indaial – 2019 Fundamentos de Fisioterapia e Ética proFissional Prof. ª Karina Lopes Prof. ª Laura de Oliveira Carmona 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof. ª Karina Lopes Prof. ª Laura de Oliveira Carmona Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: L864f Lopes, Karina Fundamentos de fisioterapia e ética profissional. / Karina Lopes; Laura de Oliveira Carmona. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 242 p.; il. ISBN 978-85-515-0412-3 1. Fisioterapia. - Brasil. I. Carmona, Laura de Oliveira. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 610 III apresentação Caro acadêmico! Quando pensamos na Fisioterapia, pensamos como profissão e como Ciência. Neste sentido, a Fisioterapia que é o estudo do movimento humano utiliza a Ciência como forma de otimizar a busca a sua recuperação. Assim, este livro objetiva oferecer diversas formas de conhecer a Fisioterapia e suas áreas de atuação, a qual pode atuar em todas as fases de atenção em saúde. Esse livro será um divisor de águas para que você, acadêmico, enten- da o que a Fisioterapia , como Ciência, possui como ferramentas para promo- ver a saúde, prevenir agravos e reabilitar o paciente, seja na área Ortopédica, Traumatológica, Esportiva, Gerontológica, Dermatofuncional, Neurofuncio- nal, Respiratória, Cardiovascular, entre outras. Mas será que foi sempre assim? Será que a Fisioterapia foi desde o início considerada uma Ciência e Profissão regulamentada? Não. O caminho percorrido foi longo, tortuoso, de idas e vindas, de ten- tativas, acertos, retrocessos, avanços, até que finalmente em 1969, através do De- creto Lei 938, a Fisioterapia foi reconhecida e regulamentada como profissão. Antes disso, na Antiguidade e mesmo nas épocas seguintes já se pratica- va a Fisioterapia sem mesmo se ter noção disso. As chamadas desordens físicas, atualmente conhecidas como disfunções e patologias, eram tratadas através do uso de agentes físicos como o calor, a massagem, os exercícios respiratórios, a ginástica, as descargas elétricas vindas do peixe elétrico, entre outras fontes te- rapêuticas. Conforme a civilização foi evoluindo, a visão acerca do corpo e da saúde também foi se modificando. Houve modificações sobre a percepção da importância do corpo físico, da saúde, a relação da fé e do corpo físico, a organização da sociedade em camadas. Esse livro está dividido em três unidades de forma a permitir que você acadêmico, consiga entender a linha histórica da prática da Fisioterapia, desde os primórdios até a atualidade, possibilitando compreender as trasnformações sofridas ao longo dos anos e como atualmente econtra-se o mercado de trabalho, necessitando que legamente o profissional esteja apto a realizar sua atividade profissional, dentro de suas atribuições. Na primeira unidade você compreenderá os fundamentos históricos da Fisioterapia. Na segunda unidade será dada ênfase na apresentação das especialidades da Fisioterapia e suas atribuições profissionais; na terceira e IV última unidade, dividida em cinco tópicos, será apresentado a você, os as- pectos bioéticos e seus princípios, a deondotologia e sua importância no dia a dia profissional, além da abordagem do que é ética e moral. Agora convidamos você para iniciarmos juntos esse estudo por toda a trajetória da profissão de Fisioterapeuta que há 50 anos vem contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas em diversas áreas. Bons estudos! Prof. ª Karina Lopes Prof. ª Laura de Oliveira Carmona V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento. Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada! LEMBRETE VIII UNIDADE 1 – FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA ..........................................1 TÓPICO 1 – AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO ...............................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 A ANTIGUIDADE E O TRATAMENTO DE DESORDENS FÍSICAS ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE AGENTES FÍSICOS ................................................................................................5 2.1 DEFINIÇÃO DE DESORDENS FÍSICAS........................................................................................8 2.2 QUAIS ERAM OS TIPOS DE DESORDENS FÍSICAS ..................................................................9 2.3 QUAIS OS TIPOS DE AGENTES FÍSICOS UTILIZADOS NOS TRATAMENTOS DAS DESORDENS FÍSICAS ......................................................................................................................9 3 A IDADE MÉDIA E O OLHAR PARA AS DESORDENS FÍSICAS ...........................................11 3.1 A ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE EM CAMADAS ...........................................................11 3.2 A FÉ X O CORPO FÍSICO ...............................................................................................................12 4 O RENASCIMENTO E A PREOCUPAÇÃO COM O CORPO ...................................................12 4.1 A RETOMADA DO OLHAR AO CORPO FÍSICO .....................................................................13 4.2 FATOS MARCANTES DO MOVIMENTO LITERÁRIO E ARTÍSTICO ..................................14 4.3 A RELAÇÃO DAS DESORDENS FÍSICAS COM O CORPO SÃO E A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS .....................................................................................................................................14 5 A INDUSTRIALIZAÇÃO, O SURGIMENTO DE DOENÇAS E DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS ..................................................................................................................................................15 5.1 DEFINIÇÃODO NOVO PROCESSO FABRIL ............................................................................15 5.2 O SURGIMENTO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À INDUSTRIALIZAÇÃO ...................................................................................................................15 5.3 A DESCOBERTA DE NOVOS MÉTODOS DE TRATAMENTO DAS DOENÇAS E DE SUAS SEQUELAS ...................................................................................................................... 18 5.4 INICIAÇÃO DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS ......................................................................19 6 A FISIOTERAPIA NO BRASIL E NO MUNDO NA TRANSIÇÃO ENTRE OS SÉCULOS XIX, XX e XXI ...........................................................................................................21 6.1 A TRANSIÇÃO DO SÉCULO XX PARA O SÉCULO XXI EM RELAÇÃO AOS OBJETOS DE TRABALHO E DE ESTUDO .........................................................................24 6.2 O CUIDADO DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS E A PREOCUPAÇÃO COM A DOENÇA INSTALADA ..............................................................................................................25 6.3 A FISIOTERAPIA FAZENDO PARTE DA EQUIPE DE SAÚDE ..............................................25 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................27 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................28 TÓPICO 2 – A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA FISIOTERAPIA ...................................................29 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................29 2 O SURGIMENTO DA FISIOTERAPIA COMO CIÊNCIA E PROFISSÃO ..............................29 2.1 A FUNDAÇÃO DO DEPARTAMENTO DE ELETRICIDADE MÉDICA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP) .........................................30 sumário IX 2.2 A INSTALAÇÃO DO SERVIÇO DE FISIOTERAPIA NO HOSPITAL CENTRAL DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO .............................................................................32 2.3 O SURGIMENTO DO PRIMEIRO CURSO DE FISIOTERAPIA A NÍVEL TÉCNICO NO BRASIL NO INSTITUTO CENTRAL DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE SÃO PAULO .....................................................................................................................................34 2.4 A EVOLUÇÃO DO CURSO DE FISIOTERAPIA ........................................................................34 2.4.1 A fundação da ABBR e a iniciação do curso técnico em reabilitação ..............................35 2.4.2 O curso de Fisioterapia da FMUSP .......................................................................................37 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................38 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................39 TÓPICO 3 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA TENTATIVA DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO E DA OFERTA DE CURSOS DE FISIOTERAPIA COM BASE NA CÂMARA DE ENSINO SUPERIOR (CES) .......................................................................... 41 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................41 2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA TENTATIVA DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO E DA OFERTA DE CURSOS DE FISIOTERAPIA COM BASE NA CÂMARA DE ENSINO SUPERIOR (CES) ..................................................................................................................................41 2.1 O PROJETO DE LEI DE FEVEREIRO DE 1963 E A TENTATIVA DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO .....................................................................................41 2.2 O DECRETO LEI 938/69: CONTRIBUIÇÕES PARA A EXPANSÃO DO ENSINO DE FISIOTERAPIA NO BRASIL ..........................................................................................................44 2.3 A CRIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE FISIOTERAPIA E DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FISIOTERAPIA: MARCOS IMPORTANTES À PROFISSÃO E AO ENSINO DA FISIOTERAPIA ..........................................................................................................................45 2.4 ASPECTOS LEGAIS DA OFERTA DE CURSOS DE FISIOTERAPIA NO BRASIL ..............45 2.4.1 A expansão do ensino em fisioterapia: houve planejamento adequado? .......................46 2.4.2 Distribuição de cursos por região em 2003..........................................................................46 2.4.3 Relação da distribuição de cursos por região comparado à distribuição populacional em 2003 .....................................................................................................................................................46 2.4.4 A influência do parecer 388/63 aprovado pelo mec em 10/12/1963, sobre a expansão do ensino ................................................................................................................47 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................50 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................51 TÓPICO 4 – ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL FISIOTERAPEUTA APÓS A ASSINATURA DO DECRETO LEI 938/69 ...................................................................53 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................53 2 ATUAÇÃO PROFISSIONAL APÓS A ASSINATURA DO DECRETO LEI .............................53 2.1 O QUE REPRESENTA A LEI 6.316/1975 NA PROFISSÃO DE FISIOTERAPEUTA ..............54 2.2 O COFFITO COMO ÓRGÃO REGULAMENTADOR DA PROFISSÃO .................................55 2.3 A HIERARQUIA COFFITO – CREFITOS .....................................................................................55 2.4 OS CREFITOs ..................................................................................................................................56 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................58 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................59 TÓPICO 5 – O PARECER CNE/CES 1210/2001 COMO DETERMINANTE NO CREDENCIAMENTO DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR QUE OFERTAM A GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA E SUA RELAÇÃO COM AS DCNs (DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS) ....................................61 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................61 2 O PARECER CNE/CES 1210/2001 .......................................................................................................61 X 2.1 DEFINIÇÃO DE CNE, SUA IMPORTÂNCIA E RELAÇÃO COM CES, MEC E DCNs ........................................................................................................................................61 2.2 O PAPEL DO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, DA CÂMARA DE ENSINO SUPERIOR E DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA NO ENSINO SUPERIOR ................................................................................................................62 2.3 DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS EM FISIOTERAPIA ........................................64 2.3.1 Princípios das diretrizes curriculares nacionais em Fisioterapia .....................................64 2.3.2 Objetivos das diretrizes curriculares nacionais em Fisioterapia ......................................652.3.3 A formação profissional segundo as DCNS e o perfil do formando-egresso-profissional ...................................................................................................65 2.3.3.1 Competências e habilidades do egresso em Fisioterapia – competências e habilidades gerais ....................................................................................................................65 2.3.3.2 Competências e habilidades específicas...................................................................65 2.4 CONTEÚDOS CURRICULARES ..................................................................................................66 3 ESTÁGIOS E ATIVIDADES COMPLEMENTARES DO CURSO DE FISIOTERAPIA .........66 3.1 ORGANIZAÇÃO DO CURSO DE FISIOTERAPIA ....................................................................67 3.2 FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A REFORMULAÇÃO DAS DCNs .......................67 4 A INFLUÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL NAS DCNS ................................................69 4.1 COMO A LEI ORGÂNICA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Nº 8.080 DE 19/09/1990 INFLUENCIOU NA REFORMULAÇÃO DAS DCNs ................................................................69 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................72 RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................76 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................77 UNIDADE 2 – APRESENTAÇÃO DAS ESPECIALIDADES DA FISIOTERAPIA E ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS ............................................................................79 TÓPICO 1 – APRESENTAÇÃO DAS ESPECIALIDADES DA FISIOTERAPIA ........................81 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................81 2 APRESENTAÇÃO DAS ESPECIALIDADES DA FISIOTERAPIA ............................................84 2.1 FISIOTERAPIA EM ACUPUNTURA ...........................................................................................86 2.2 FISIOTERAPIA AQUÁTICA ..........................................................................................................86 2.3 FISIOTERAPIA CARDIOVASCULAR ..........................................................................................86 2.4 FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL .................................................................................87 2.5 FISIOTERAPIA ESPORTIVA..........................................................................................................87 2.6 GERONTOLOGIA ...........................................................................................................................87 2.7 TRABALHO ......................................................................................................................................88 2.8 FISIOTERAPIA NEURO FUNCIONAL .......................................................................................88 2.9 FISIOTERAPIA ONCO FUNCIONAL .........................................................................................88 2.10 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA.................................................................................................89 2.11 FISIOTERAPIA TRAUMATO ORTOPÉDICA FUNCIONAL .................................................89 2.12 FISIOTERAPIA EM OSTEOPATIA .............................................................................................89 2.13 FISIOTERAPIA EM QUIROPRAXIA ..........................................................................................90 2.14 FISIOTERAPIA NA SAÚDE DA MULHER ..............................................................................90 2.15 FISIOTERAPIA EM TERAPIA INTENSIVA ..............................................................................90 3 ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS .....................................................................................................90 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................92 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................93 TÓPICO 2 – ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS DE ACORDO COM A ESPECIALIDADE FISIOTERAPÊUTICA ......................................................................................................95 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................95 XI 2 ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS POR ESPECIALIDADE FISIOTERAPÊUTICA ...............95 2.1 FISIOTERAPIA EM TRAUMATO ORTOPEDIA E EM REUMATOLOGIA ...........................95 2.1.1 Avaliação em Traumato Ortopedia e Reumatologia ..........................................................98 2.2 RECURSOS TERAPÊUTICOS UTILIZADOS EM TRAUMATO ORTOPEDIA E REUMATOLOGIA .....................................................................................................................102 2.3 FISIOTERAPIA EM NEUROLOGIA ..........................................................................................105 2.3.1 Escalas de Avaliação Neurofuncional ................................................................................108 2.3.2 Abordagens terapêuticas em Fisioterapia Neurofuncional ............................................113 2.4 FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA.................................................................................................117 2.5 FISIOTERAPIA EM UROGINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA..................................................122 2.5.1 Atuação fisioterapêutica em Urologia e Ginecologia .......................................................122 2.5.2 O programa terapêutico .......................................................................................................123 2.6 FISIOTERAPIA DERMATOFUNCIONAL ................................................................................127 2.6.1 Avaliação em Fisioterapia Dermatofuncional ...................................................................128 2.6.2 Recursos terapêuticos em Fisioterapia Dermatofuncional..............................................130 2.7 FISIOTERAPIA EM ERGONOMIA ............................................................................................132 2.7.1 Ergonomia como ciência ......................................................................................................133 2.7.2 A prática de Ginástica Laboral dentro da Saúde do Trabalhor ......................................134 2.8 FISIOTERAPIA EM SAÚDE DO IDOSO ...................................................................................135 2.9 FISIOTERAPIA AQUÁTICA ........................................................................................................139 2.10 FISIOTERAPIA ESPORTIVA......................................................................................................141 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................146 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................147 TÓPICO 3 – O REGISTRO DE TÍTULOS DE ESPECIALISTA PROFISSIONAL E A PRÁTICA CLÍNICA EM FISIOTERAPIA .................................................................149 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149 2 O REGISTRO DE TÍTULOS DE ESPECIALISTA ........................................................................149 2.1 COMO PROCEDER COM O REGISTRO DE TÍTULOS DE ESPECIALISTA .......................1492.1.1 Resolução 207/2000 e 208/2000 ............................................................................................150 2.1.2 Resoluções 377 e 378 .............................................................................................................151 2.2 SITUAÇÕES QUE DISPENSAM O REGISTRO DE TÍTULOS DE ESPECIALISTA PROFISSIONAL E O EXAME NACIONAL PARA A CONCESSÃO DE TÍTULOS DE ESPECIALISTA PROFISSIONAL ................................................................................................151 3 A PRÁTICA CLÍNICA EM FISIOTERAPIA: REFERENCIAL NACIONAL DE PROCEDIMENTOS E JORNADA DE TRABALHO ...................................................................151 3.1 DEFINIÇÃO DE REFERENCIAL NACIONAL DE PROCEDIMENTOS FISIOTERAPÊUTICOS (RNPF) ....................................................................................................152 3.2 VALOR ATUALIZADO DO REFERENCIAL NACIONAL DE PROCEDIMENTOS FISIOTERAPÊUTICOS ..................................................................................................................153 3.3 RELAÇÃO ENTRE REFERENCIAL NACIONAL DE PROCEDIMENTOS FISIOTERAPÊUTICOS E COEFICIENTE DE HONORÁRIOS FISIOTERAPÊUTICOS (CHF) ......................................................................................................156 3.4 A JORNADA DE TRABALHO DO PROFISSIONAL FISIOTERAPEUTA ...........................157 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................158 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................160 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162 UNIDADE 3 – REGULAMENTAÇÃO E ÉTICA PROFISSIONAL DA FISIOTERAPIA ........165 TÓPICO 1 – REGULAMENTAÇÃO E ÉTICA PROFISSIONAL DA FISIOTERAPIA ............167 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167 XII 2 ÓRGÃOS QUE REGULAMENTAM A PROFISSÃO ..................................................................167 2.1 CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL (COFFITO) ............................................................................................................................................167 2.2 CONSELHOS REGIONAIS DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL (CREFITOS) ...........................................................................................................................................168 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................170 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................171 TÓPICO 2 – CÓDIGO DE ÉTICA ..................................................................................................173 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................173 2 ASPECTOS PRINCIPAIS DOS CAPÍTULOS DO CÓDIGO DE ÉTICA .....................173 2.1 RESPONSABILIDADES FUNDAMENTAIS ...........................................................................174 2.2 RELACIONAMENTO COM CLIENTE/PACIENTE/USUÁRIO ....................................178 2.3 RELACIONAMENTO COM A EQUIPE ....................................................................................180 2.4 RESPONSABILIDADES NO EXERCÍCIO DA FISIOTERAPIA ....................................183 2.5 SIGILO PROFISSIONAL ..................................................................................................................185 2.6 FISIOTERAPEUTA PERANTE AS ENTIDADES DE CLASSE .......................................187 2.7 HONORÁRIOS .......................................................................................................................................188 2.8 DOCÊNCIA, PRECEPTORIA, PESQUISA E PUBLICAÇÃO ..........................................189 2.9 DIVULGAÇÃO PROFISSIONAL ..................................................................................................191 2.10 DISPOSIÇÕES GERAIS ....................................................................................................................194 2.11 IMPORTÂNCIA DO CÓDIGO DE ÉTICA NA VALORIZAÇÃO DA PROFISSÃO ..........195 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................197 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................198 TÓPICO 3 – DEONTOLOGIA PROFISSIONAL ...................................................................199 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................199 2 DEONTOLOGIA NA PRÁTICA DIÁRIA PROFISSIONAL DA FISIOTERAPIA ......................................................................................................................199 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................................201 AUTOATIVIDADE ..........................................................................................................................202 TÓPICO 4 – ESTUDO DA ÉTICA E DA MORAL .................................................................203 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................203 2 MORAL VERSUS ÉTICA ............................................................................................................203 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................205 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................206 TÓPICO 5 – BIOÉTICA .....................................................................................................................207 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................207 2 IMPORTÂNCIA E FUNÇÕES DA BIOÉTICA ...................................................................207 3 MODELOS DE DISCURSOS BIOÉTICOS ...................................................................................208 4 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ................................................................................................................209 4.1 BIOÉTICA NO BRASIL .................................................................................................................210 5 BIOÉTICA PRINCIPIALISTA ..........................................................................................................210 6 PRINCÍPIOS DA BIOÉTICA............................................................................................................211 7 DIRETRIZES INTERNACIONAIS PARA PESQUISA EM SERES HUMANOS ..................214 7.1 PRINCIPAIS DIRETRIZES INTERNACIONAIS EM PESQUISA (CIOMS, 1993) ................217 7.2 LIMITES DA PESQUISA EM SERES HUMANOS NO BRASIL .............................................221 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................225 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................232 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................233 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................2341 UNIDADE 1 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender quais foram as modificações que ocorreram acerca do objeto de trabalho (Fisioterapia) em vários períodos da história, desde a Antigui- dade até o final do século XX, tendo marcos importantes na prática da Fi- sioterapia, mesmo não sendo ainda uma ciência nem profissão; • conhecer que, em cada uma dessas fases, houve visões diferentes sobre o corpo, sobre a saúde e o autocuidado; • perceber que depois do surgimento de doenças que até então não existiam houve um impacto da mecanização sobre a saúde e, por fim, o surgimento de estudos e pesquisas sobre a prática da Fisioterapia; • verificar que em tempos remotos agentes físicos eram utilizados como tra- tamento de algumas desordens e qual a sua analogia com a atualidade; • saber como e quando a Fisioterapia surgiu como objeto de estudo e de tra- balho junto à classe médica, o impacto da atuação na prática clínica fazendo com que a mesma passasse mais tarde a ser ofertada como curso superior; • conhecer a organização didática e pedagógica da oferta de cursos de Fisio- terapia no ensino superior, a organização das disciplinas e dos conteúdos curriculares, permitindo formar profissionais com perfil voltado às habili- dades e competências em saúde; • informar-se sobre a regulamentação da profissão baseada na Constituição Federal e nos princípios do SUS; • entender as atribuições profissionais do Fisioterapeuta. 2 PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO EM FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO TÓPICO 2 – A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA FISIOTERAPIA TÓPICO 3 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA TENTATIVA DE REGULAMEN- TAÇÃO DA PROFISSÃO E DA OFERTA DE CURSOS DE FISIOTERAPIA COM BASE NA CÂMARA DE ENSINO SUPERIOR (CES) TÓPICO 4 – ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL FISIOTERAPEUTA APÓS A ASSINATURA DO DECRETO-LEI Nº 938/69 TÓPICO 5 – O PARECER CNE/CES 1210/2001 COMO DETERMINANTE NO CREDENCIAMENTO DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR QUE OFERTAM A GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA E SUA RELAÇÃO COM AS DCNs (DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS) Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 1 INTRODUÇÃO Neste primeiro tópico, a abordagem será sobre as modificações que ocor- reram em relação ao objeto de trabalho e em relação à Fisioterapia. O conheci- mento dessas modificações vividas em diferentes períodos da História permitirá que você tenha condições de entender como foi o período, as descobertas, as difi- culdades, os avanços, enfim, a evolução de toda a trajetória até a atualidade. Situações relatadas na História farão você, acadêmico, compreender que todas as fases foram de extrema importância a nível social, cultural, humano, político e econômico. Houve progressos em diversas áreas e claro que junto com todo o progresso também se têm efeitos “colaterais”. A trajetória histórica a seguir conduzirá você a uma aproximação desses aspectos, principalmente levará a perceber como a Fisioterapia foi pouco a pouco sendo vista como Ciência, como profissão regulamentada, tendo o respeito e a valorização que se busca manter até o atual momento. A linha cronológica representada pelas Figuras 1 e 2, a seguir, foram dis- ponibilizadas ao acadêmico para melhor visualização dos períodos da História, facilitando o entendimento acerca do surgimento das civilizações, do modo como viviam, do que se alimentavam, como era o uso dos recursos naturais, as desco- bertas, os avanços, o surgimento das moléstias, a influência da arte e da cultura sobre a vida, dentre tantas outras percepções. Vamos começar? Bons estudos! UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 4 FIGURA 1 – TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA HUMANIDADE FONTE: <https://images.app.goo.gl/SST2T51ycjxogXBu8>. Acesso em: 5 jul. 2019. TÓPICO 1 | AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 5 FIGURA 2 – TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA HUMANIDADE FONTE: <https://images.app.goo.gl/FQ5CYQqyerdtdi6A9>. Acesso em: 5 jul. de 2019. 2 A ANTIGUIDADE E O TRATAMENTO DE DESORDENS FÍSICAS ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE AGENTES FÍSICOS Os primeiros registros que temos acesso acerca da utilização de que sem tem acesso, sobre a utilização de agentes físicos com finalidades terapêuticas vêm da Chi- na e são datados no ano de 2.698 a.C., especialmente por meio da prática de exer- UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 6 FIGURA 3 – REGISTROS DE ANTIGAS CIVILIZAÇÕES QUE JÁ UTILIZAVAM A MASSAGEM COMO FORMA DE BEM-ESTAR FONTE: <http://bit.ly/37WCSut>. Acesso em: 5 jul. 2019. Há indícios de que a Fisioterapia surgiu quando o homem pré-histórico, para aliviar a dor por traumatismos, esfregava a mão no local atingido de forma instintiva e, assim, estava realizando, mesmo que nos primórdios, a técnica hoje conhecida como Massoterapia. Na época, era utilizado o movimento de deslizamento (esfregar). Anos mais tarde somou-se ao deslizamento outros movimentos clássicos como vibração, percussão, amassamento, rolamento, pinçamento, entre outros (KURBAN, 2005). Inicialmente o uso da ginástica era exclusividade dos sacerdotes que a utiliza- vam com finalidades terapêuticas. Mais adiante, na Idade Média, o clero (representado pelos sacerdotes) como detentor do poder entendeu que os fenômenos naturais seriam causados por interferência divina e se fossem eventos negativos, como as desordens físicas, seria por atuação demoníaca. Assim, caberia ao clero o uso do exercício para exorcizar os “demônios” em alguns membros da sociedade (GALVAN, 1998). Na mesma época, na Índia, utilizavam-se exercícios respiratórios para evitar a constipação intestinal. Na era cristã, por intermédio de sacerdotes, os movimentos do corpo eram racionalizados e planejados como ginástica para o tratamento de disfun- ções orgânicas já estabelecidas (CARVALHO et al., 2014). A preocupação com as diferenças incômodas promoveu a utilização de recur- sos, técnicas e procedimentos que as eliminassem. Há registros de exercícios e do uso do peixe elétrico como agentes físicos para eliminar as morbidades que assolavam a humanidade naquela época (REBELATTO; BOTOME, 1999). Os fundamentos da Eletroterapia estão amparados numa longa trajetó- ria do emprego da corrente elétrica com fins terapêuticos, mesmo nos remotos tempos em que os reais efeitos dessa energia eram desconhe- cidos dos seus adeptos. Podemos começar a ilustrar o uso da corrente elétrica de forma muito natural, onde o agente gerador nada mais era que um peixe capaz de produzir uma desacarga efetiva relatada como analgésica. Esse fato faz referência a Galeno (+/- 130 a.C) e ao médico Scribonius Largus (+/- 50 d.C) os quais indicavam aos seus pacientes por- cícios. Em todo o período que compreendeu a Antiguidade, porém, há descrições acerca dos banhos de sol, do uso das águas termais e das massagens como formas medicinais de tratamento (GAVA, 2004). TÓPICO 1 | AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 7 FIGURA 4 – PEIXE ELÉTRICO FONTE: <http://bit.ly/2LgddmS>. Acesso em: 5 de jul. 2019. No século X a.C., o médico romano Scribonuius Largo utilizava as enguias para tratar os pacientes com doenças da mente enquanto que Antero, um nobre romano, ao caminnar pela praia de forma acidental pisou em um peixe elétrico, vindo, assim, a descobrir a corrente elétrica como meio de aliviar a dor. Mais tarde, a Eletroterapiafoi sendo estudada e conhecidas as suas particularidades e os seus benefícios (KURBAN, 2005). A palavra Fisioterapia tem sua origem no grego (physis: natureza; therapeia: tratamento) e suas raízes estão na Antiguidade no período compreendido entre 4.000 a.C. a 395 d.C., época em que os médicos já tinham o conhecimento sobre os agentes físicos, entre eles o sol, a luz, o calor, a água e a eletricidade. Esses recursos serviam para eliminar as morbidades que assolavam a humanidade naquela época (CARVALHO et al., 2014). O uso da água com finalidades terapêuticas também começou na Antigui- dade, com Hipócrates, um dos pioneiros na sua utilização, e com os romanos e suas famosas casas de banho. Mas, somente no final do século passado e começo des- te, o efetivo emprego da água em seus diferentes estados e temperaturas passou a ser utilizado com finalidade dietética, profilática e terapêutica. Nomes como Floyer, Hahn, Einternitz, Kneipp são responsáveis pelo início das duchas, saunas, piscinas terapêuticas, walking tank, turbilhões e equipamentos hoje indispensáveis nas clíni- cas de reabilitação. Os povos primitivos também conheciam os efeitos curativos da Helioterapia, pois adoravam expor-se ao Sol. Os romanos foram os primeiros a cons- truir um sollarium para a prática curativa através da radiação natural. Mas somente em meados do século passado, a investigação e o fomento da Helioterapia permiti- ram que, em Zurich (Alemanha), fosse construído o primeiro Intituto da Luz, para o tratamento da tuberculose cutânea. Hoje a Fisioterapia utiliza a fototerapia para o tratamento de inúmeras patologias, através de dispositivos como o infravermelho, o ultravioleta e o raio laser (KURBAN, 2005). tadores de gota. Entre as espécies mais citadas temos a arraia elétrica da família Torpedinidae por isso conhecido como peixe torpedo, o peixe “gato” da família Malapteruridae, o bagre elétrico do Congo e Nilo clas- sificado como Malapterus electricus (AGNE, 2013, p. 11). UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 8 FIGURA 5 – TERMAS ROMANAS FONTE: <http://bit.ly/37XxIOT>. Acesso em: 5 de jul. 2019. Desde o seu surgimento, não existiu na Fisioterapia um objeto de estudo ou de intervenção claramente definido. O que confusamente foi considerado objeto de trabalho da Fisioterapia desenvolveu-se por caminhos diversos que dariam sentido e autonomia à Fisioterapia como área de conhecimento, de estudo ou como profis- são (REBELATTO; BOTOME, 1999). 2.1 DEFINIÇÃO DE DESORDENS FÍSICAS Na Antiguidade, o olhar era voltado às pessoas que possuíam as chama- das diferenças incômodas. Esse termo, de forma equivalente, poderia ser utiliza- do para definir as desordens físicas ou doenças em nossa atualidade (REBELAT- TO; BOTOME, 1999). TÓPICO 1 | AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 9 FIGURA 6 – A SÍNDROME DE DOWN APARECE DOCUMENTADA NA HISTÓRIA, PELO PINTOR RENASCENTISTA ANDREA MANTEGNA (1431 – 1506) FONTE: <http://bit.ly/2P5BblP>. Acesso em: 5 de jul. 2019. A preocupação estava em como eliminar essas alterações, e os médicos desse período conheciam e já utilizavam os recursos físicos, como a eletroterapia sob a forma de descargas elétricas, por meio do peixe elétrico, para tratar doenças com fins analgésicos e os exercícios sob a forma de ginástica. 2.2 QUAIS ERAM OS TIPOS DE DESORDENS FÍSICAS Não há registros claros de quais eram especificamente essas desordens físi- cas, ou as ditas “diferenças incômodas”. Se pensarmos no significado de “diferen- te”, é possível entendermos como aquilo que “foge dos padrões e da normalidade”, ou seja, as desordens físicas poderiam, comparativamente, ser definidas atualmente como todas as alterações físicas: os desvios posturais (escoliose, hipercifose torácica e hiperlordose lombar), as alterações de pé (pé cavo ou pé plano) e de pisada (supi- nada ou pronada), as deformidades e alterações ósseas (dedo em martelo, dedo em pescoço de cisne, joelhos varos ou valgos), as deformidades de caixa torácica decor- rente de doenças respiratórias, como as DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crôni- ca), entre outras alterações que causassem dor ou desconforto, levando o indivíduo a não ser visto como uma pessoa “normal” pela sociedade. 2.3 QUAIS OS TIPOS DE AGENTES FÍSICOS UTILIZADOS NOS TRATAMENTOS DAS DESORDENS FÍSICAS No ano de 2.698 a.C., o imperador chinês Hoong-Ti criou um tipo de ginástica curativa que continha exercícios respiratórios e exercícios para evitar a obstrução de órgãos (REBELATTO; BOTOME, 1999). Lindemann (1970 apud REBELATTO; BOTOME, 1999), afirma que Galeno (130 a 199 d.C.) informou que conseguiu, por meio de uma ginástica planificada de tronco e dos pulmões, corrigir o tórax deformado de um rapaz até lograr condições normais. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 10 FIGURA 7 – CLÁUDIO GALENO (130 – 200 D.C.) FONTE: <http://bit.ly/2DrtZv7>. Acesso em 5 jul. 2019. FIGURA 8 – O BADUANJIN, UMA DAS FORMAS DO CHI KUNG EM UM MANUAL DA DINASTIA QING FONTE: <http://bit.ly/2Oiq3CO>. Acesso em 5 de jul. 2019. Percebe-se, através de registros da época, que os médicos conheciam os agentes físicos e os utilizavam como forma de tratamento de morbidades. A ênfa- se estava na ação de tratar, e eram prescritos os banhos de sol e as saunas, o que hoje seria a Termoterapia; as descargas elétricas do peixe elétrico, a Eletroterapia de hoje; além da utilização de movimentos corporais racionalizados e planejados, que hoje, dentro da Fisioterapia, podem ser entendidos como a Cinesioterapia, a Reeducação Postural Global (RPG) e o Pilates. Todas as informações trazidas anteriormente nos remetem para uma prá- tica com poucas ou nenhuma evidência científica, ou seja, o emprego de métodos e técnicas sem atribuição à Ciência, mas que eram utilizados com finalidades de TÓPICO 1 | AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 11 FIGURA 9 - SOCIEDADE ESTRATIFICADA E DIFERENÇAS SOCIAIS NA IDADE MÉDIA FONTE: <https://images.app.goo.gl/RuChDtLmmAbqZABu8>. Acesso em: 5 jul. 2019. tratamento na doença instalada, perceptível e incômoda. O olhar era apenas cura- tivo e não havia o enfoque preventivo. 3 A IDADE MÉDIA E O OLHAR PARA AS DESORDENS FÍSICAS Na Idade Média surge a concepção de uma ordem social estabelecida no plano divino em que os homens se organizavam hierarquicamente: clero (detentor do poder), nobreza (guerreiros) e camadas populares (força braçal) (CARVALHO et al., 2014). Nesse período da História, compreendido entre os séculos IV a XV, a vi- são sobre as diferenças incômodas estava se modificando e os estudos iniciados na Antiguidade a respeito do emprego dos agentes físicos nas desordens físicas estavam sendo interrompidos. Isso se deu por dois motivos: a mudança na con- cepção do que era desordem física e a visão do corpo humano, bem como pela organização da sociedade. Aqui as desordens físicas ou as diferenças incômodas precisavam ser “exorcizadas” (REBELATTO; BOTOME, 1999). 3.1 A ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE EM CAMADAS Na Idade Média a organização da sociedade acontecia de forma hierár- quica representada pelo clero, o qual detinha o poder, pela nobreza que guerrea- va e, por fim, pelas camadas populares que realizavam o serviço através da força física (braçal). Além disso, havia uma organização providencial e uma ordem so- cial estabelecida pelo plano divino (GALVAN, 1998). UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 12 FIGURA 10 – PRÁTICA DE ESGRIMA AJUDA NA SOBREVIVÊNCIA E MELHORA O DESEMPENHO NAS GUERRAS FONTE: <https://images.app.goo.gl/8gHY8So2oVEDDUpS9>. Acesso em 5 de jul. 2019. 4 O RENASCIMENTO E A PREOCUPAÇÃO COM O CORPO O período do Renascimento, inicialmente ocorrido na Itália e mais tarde difundido por toda a Europa, foi marcado por um crescente nas áreas da arqui- 3.2 A FÉ X O CORPO FÍSICO As camadas hierárquicas tinhamdentro desse aspecto organizacional direi- tos e deveres estabelecidos por uma ordem: a divina. Enquanto os camponeses traba- lhavam, a nobreza participava de guerras e o clero executava o serviço divino. A fé, nessa época, era vista como algo imprescindível ao homem, fazendo o clero ter um poder decisivo nas escolhas da sociedade. Na época chamada de Idade Média o corpo era apenas um recipiente. O valor estava voltado para os conceitos religiosos do período que cultuava a alma e o espírito (GALVAN, 1998). Com toda essa organização social em camadas (cada qual com suas fun- ções específicas e o forte papel do clero e da fé do homem) percebe-se que as diferenças incômodas ou as desordens físicas têm correlação com o jeito de viver dessa hierarquia. O exterior refletia o interior, ou seja, se o homem de determi- nada classe dentro de suas atribuições “fugisse” dos padrões organizacionais, ou mesmo se o seu lado religioso estivesse comprometido por falta de fé, sua desor- dem física ocorria por influência demoníaca, ou seja, o que acontecia por fora era ocasionado por aquilo que trazia por dentro. Diferente do que ocorria na Antiguidade, como forma de tratamento atra- vés da atividade física, o exercício físico na Idade Média era feito com propósitos diferentes: os nobres o faziam para melhor se defender nas lutas e proteger os bens, já a camada popular fazia exercício como uma forma barata de lazer. Nessa época, os hospitais localizavam-se dentro de mosteiros e as enfermarias ficavam ao lado de capelas. TÓPICO 1 | AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 13 FIGURA 11 - RENASCIMENTO, MOVIMENTO INTELECTUAL CUJO AUGE OCORREU NA ITÁLIA NOS SÉCULOS XV E XVI FONTE: <https://images.app.goo.gl/QPbzmfibmc28rfpw7>. Acesso em 5 de jul. 2019. 4.1 A RETOMADA DO OLHAR AO CORPO FÍSICO Foi no período do Renascimento que começou a retomada dos estudos sobre o corpo humano e o culto ao exterior (físico) (GALVAN, 1998). O Renascimento é um período compreendido entre os séculos XV e XVI e é descrito como um momento de crescimento científico e literário por meio do Humanismo e das Artes. Há a retomada dos estudos na área da saúde como uma concepção curativa e de manutenção do estado normal existente em indivíduos sãos. A atividade física passa a servir então para a manutenção da saúde, trata- mento de enfermidades, reeducação de convalescentes e correção de deformida- des (CARVALHO et al., 2014). tetura, escultura, pintura, decoração, literatura, música e política (REBELATTO; BOTOME, 1999). FIGURA 12 – RENASCIMENTO FONTE: <http://bit.ly/2P3Gt1f>. Acesso em: 5 de jul. 2019. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 14 4.2 FATOS MARCANTES DO MOVIMENTO LITERÁRIO E ARTÍSTICO O homem dessa época teve seu interesse voltado ao mundo que o cercava e passou a ter mais liberdade de expressão. A beleza física do homem, de modo geral, passou a ser mais valorizada e os valores morais da Idade Média, que eram cobrados pelo clero, começaram a decair. A independência ganhou visibilidade, surgiram as universidades e as pessoas que as buscavam ansiavam pela compreensão do mundo e pela busca de conhecimento. O movimento literário e a arte foram expressos através do naturalismo e isso ocorreu justamente pela queda das restrições estabelecidas na Idade Média. O humanismo e as artes passaram a se desenvolver fazendo com que os estudos sobre o corpo, iniciados na Antiguidade e abandonados na Idade Média, fossem retomados. Tal atitude se deu pela necessidade de cuidado com o corpo, marcado pelo culto ao físico. Pode-se observar que a mentalidade de cuidado com o corpo não era diri- gida apenas ao tratamento ou cuidados com as situações já instaladas, mas havia a preocupação com a manutenção das condições existentes em organismos sãos. Fica claro aqui a mudança de visão do conceito de saúde: enfoque curativo x en- foque preventivo. 4.3 A RELAÇÃO DAS DESORDENS FÍSICAS COM O CORPO SÃO E A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS Foi no final do período do Renascimento que o interesse pela saúde corporal começou a se tornar mais específico. Ao fim de 1550, o movimento renascentista na Itália começa a declinar, entretanto, em países como Alemanha, França e Inglaterra, isso não ocorreu. Nesses três países, os estudos e trabalhos foram se solidificando. Um estudo publicado pela Sociedade Médica de Berlim, em 1864, relata que a prática de exercícios físicos para pessoas enfermas deveria ser distinta dos executados em pessoas sãs. O texto traz alguns trechos como: “os enfermos e aqueles cuja coluna vertebral sofre deformidades ou alterações posturais de om- bros e cadeiras, correspondem às salas de cura e não às lições de ginástica para sãos”. Essa publicação mostra a mudança na forma de praticar a atenção com a saúde das pessoas, contribuição importantíssima para identificar o objeto de tra- balho da Fisioterapia, que dava passos lentos para mais tarde tornar-se profissão. TÓPICO 1 | AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 15 5 A INDUSTRIALIZAÇÃO E O SURGIMENTO DE DOENÇAS E DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS Na Revolução Industrial ocorreu uma transformação social determinada pela produção em larga escala. O desenvolvimento das cidades produziu condi- ções sanitárias precárias, jornadas de trabalho estafantes e condições alimentares insatisfatórias, que, consequentemente, provocaram proliferação de novas doenças (CARVALHO et al., 2014). FIGURA 13 – MULHERES TRABALHANDO EM MÁQUINAS TÊXTEIS, INSPECIONANDO FIOS, NA AMERICAN WOOLEN COMPANY, BOSTON (1910) FONTE: <http://bit.ly/2QBfH2x>. Acesso em: 5 de jul. 2019. 5.1 DEFINIÇÃO DO NOVO PROCESSO FABRIL O período entre os séculos XVIII e XIX foi historicamente caracterizado por uma transformação social na Inglaterra. Foi uma época determinada pela produção em larga escala, através do processo de mecanização e do trabalho operário, o cha- mado modelo fabril (REBELATTO; BOTOME, 1999). O processo de Industrialização foi uma época de transformação social em que as diferenças incômodas voltam a despertar o interesse dos estudiosos, assim como o encaminhamento para o surgimento das especialidades e seus tratamentos (GALVAN, 1998). 5.2 O SURGIMENTO DE PROBLEMAS DE SAÚDE RELACIONADOS À INDUSTRIALIZAÇÃO Embora a industrialização fosse uma forma de otimizar a produção de bens e de serviços, tornando-os mais acessíveis a todos, sua formação contribuiu UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 16 para um período histórico e social em que predominou a divisão da sociedade em classes sociais bem definidas. As pessoas com maior poder aquisitivo eram donas das terras e o povo era dono de sua força de trabalho. A obtenção de lucros tornou-se uma obsessão para os que controlavam a sociedade e a população de baixa renda pagava o preço para esse crescimento. Nos ambientes de trabalho dentro da indústria era comum a violência exer- cida pelos chefes e mestres contra os trabalhadores. As vítimas dessa violência eram mulheres e crianças que sofriam desde multas, castigos corporais, até brutalidade explícita (KURBAN, 2005). Ao passo que a industrialização ia se instalando, o ritmo de trabalho aumen- tava e muitos trabalhadores perdiam os seus empregos. Os camponeses migravam das áreas rurais e se fixavam ao redor das cidades. As pesquisas eram voltadas para o aperfeiçoamento de máquinas para melhorar a performance do sistema de produção e mais tarde, trazer soluções para os diversos problemas oriundos do próprio processo de industrialização, como os acidentes de trabalho. O processo de industrialização, além dos acidentes de trabalho, trouxe pro- blemas relacionados às condições sanitárias da época, bem como as extensas e can- sativas jornadas de trabalho, as quais não eram diferenciadas por sexo nem idade (jornadas chegavam a 16 horas diárias). Houve epidemias de cólera ede tuberculose, além do forte hábito do uso de álcool. Tanto nas indústrias têxteis como nas chapelarias as condições de trabalho eram insatisfatórias e não havia água potável, iluminação e ventilação adequadas. As máquinas não tinham proteção e suas engrenagens e correias ficavam muito pró- ximas aos trabalhadores, além da disposição das mesmas não ser apropriada, pois ficavam em corredores apertados, dificultando a locomoção das pessoas que ainda inalavam poeira e muitos resíduos (KURBAN, 2005). TÓPICO 1 | AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 17 FIGURA 14 – O JOVEM RAOUL JULIEN TRABALHANDO EM CHACE COTTON MILL, BURLINGTON, VERMONT, EM 1909 FONTE: <http://bit.ly/3490Cco>. Acesso em: 5 de jul. 2019. FIGURA 15 – CRIANÇAS TRABALHANDO NAS FÁBRICAS DURANTE A INDUSTRIALIZAÇÃO FONTE: <http://bit.ly/2O5ItH6> Acesso em: 5 de jul. 2019. As classes sociais dominantes tinham suas atenções voltadas ao sistema pro- dutivo e às atividades que geravam lucros por meio do uso do trabalho da população operária. A preocupação dessas classes dominantes era não perder ou diminuir a fonte de ganhos gerados pela classe econômica mais baixa e socialmente dominada. Para a classe dominante não interessava como a classe dominada vivia e sim, apenas tratar as doenças quando as condições de saúde prejudicassem a produção e os ganhos. Fora da indústria, as condições de vida não eram muito diferentes, pois essa mão de obra não especializada era basicamente formada por escravos livres e imigrantes italianos. Alguns, com mais sorte pelo bom comportamento e alta produtividade, conseguiam morar em vilas operárias junto às fábricas, com uma UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 18 FIGURA 16 – PATRÃO E CLASSE OPERÁRIA FONTE: <http://bit.ly/2Orz3oa>. Acesso em: 5 de jul. 2019. 5.3 A DESCOBERTA DE NOVOS MÉTODOS DE TRATAMENTO DAS DOENÇAS E DE SUAS SEQUELAS O abuso da exploração até os limites das possibilidades de vida dos ope- rários e camponeses fazia explodir as “patologias”, que, desconhecidas naquelas di- mensões, impressionavam.. As explicações e “teorias” que predominavam — e convinham às classes dominantes — não indicavam os determinantes das “patologias” (ou “diferenças incômodas”) no ambiente físico ou social (no sistema econômico e social do regime político, por exemplo) e sim no próprio “indivíduo doente”. Esse tipo de expli- cação era conveniente às classes dominantes, assim como convinha “tratar” essas patologias para não perder ou diminuir a fonte de riqueza e de bem-estar, gerados pela força de trabalho das classes de poder econômico mais baixo (e socialmente dominadas) (REBELATTO; BOTOME, 1999). A medicina teve muitos desafios na tentativa de intervir nas patologias que surgiam em função do advento da mecanização e industrialização. Inovações me- todológicas começaram a ser implantadas nas faculdades de Medicina, assim como o surgimento de novos equipamentos e novas formas de observar e de identificar as doenças. Essa época foi muito marcada pela assistência curativa e reabilitadora, não havia preocupação com a prevenção ou mesmo com a manutenção da saúde, até porque, nessa época cabia essa responsabilidade ao empregador e não ao Estado e o empregador tinha apenas visão de lucro. infraestrutura mais adequada de subsistência. Outros, entretanto, acabavam mo- rando em cortiços ou favelas, onde as condições de higiene e salubridade eram péssimas. Sem poder reverter esse quadro, devido aos baixíssimos salários e uma grande concorrência, essa população padecia miseravelmente (KURBAN, 2005). TÓPICO 1 | AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 19 5.4 INICIAÇÃO DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS Foi assim que a clínica, a cirurgia, a farmacologia, a aplicação de recursos elétricos, térmicos e hídricos, além da prática de exercícios físicos evoluiram e a ideia do atendimento hospitalar surgiu. Nessa fase, a medicina se subdividiu e iniciaram as especialidades. Surgiram a Dermatologia, a Pediatria, a Obstetrícia, seguidas da Psiquiatria, da Oftalmologia e da Otorrinolaringologia. FIGURA 17 - CESÁREA (OBSTETRÍCIA) FONTE: <http://bit.ly/2OtjDQs>. Acesso em: 5 de jul. 2019. FIGURA 18 - LOUCURA: DIRETO AO PROBLEMA (PSIQUIATRIA) FONTE: <http://bit.ly/2KFXr4n>. Acesso em: 5 de jul. 2019. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 20 FIGURA 19 – CATARATA (OFTALMOLOGIA) FONTE: <http://bit.ly/2O5ZCjH>. Acesso em: 5 de jul. 2019. Os doentes da época eram tratados por profissionais treinados e em locais propícios para o desenvolvimento de pesquisas e estudos anátomo clínicos da época. Durante a guerra, escolas de cinesioterapia surgiram a partir de clínicas uni- versitárias ortopédicas. Além disso, as lesões, a mutilações, as alterações físicas de várias naturezas e gravidades fizeram com que tratamentos fossem necessários para recuperar os combatentes ou mesmo reabilitá-los para que tivessem condições de vida social e produtiva. Como consequência das guerras eram necessárias as mínimas condições de retorno às atividades sociais de forma integradora e com produtividade, de- vido à presença de mutilações e de alterações físicas de vários tipos e graus (GALVAN, 1998). É possível perceber pelos relatos da época que a preocupação maior não era em ter a percepção geral dos problemas nem de suas determinantes, mas como “consertá-los”, a fim de que o indivíduo pudesse voltar para a sua função. Na Revolução Industrial houve o predomínio de uma assistência curativa, recuperativa e reabilitadora. A Fisioterapia passou, mesmo sem ter sido ciência e muito menos vista como profissão, por quatro importantes acontecimentos históri- cos (CARVALHO et al, 2014). A partir desse contexto houve um interesse mundial pelo termo reabilita- ção. O que contribuiu para esse interesse foram alguns aspectos históricos como: o processo acelerado de industrialização e de urbanização, trazendo os acidentes de trabalho e o processo tecnológico e social, além das duas grandes guerras mundiais. TÓPICO 1 | AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 21 6 A FISIOTERAPIA NO BRASIL E NO MUNDO NA TRANSIÇÃO ENTRE OS SÉCULOS XIX, XX e XXI Diversos materiais internacionais fazem uma analogia entre as duas grandes guerras mundiais e a poliomielite, afirmando que a polio seria equivalente ou superior às guerras e contribuiram para que, através de suas técnicas e métodos, a fisioterapia se desenvolvesse a nível mundial (BARROS, 2008). A Fisioterapia teve seu nascimento na metade do século XIX, na Europa. As primeiras escolas apareceram na Alemanha, nas cidades de Kiel, em 1902, e Dresdem, em 1918. Depois disso, a Fisioterapia, na Inglaterra, apareceu em destaque no cená- rio mundial, com os trabalhos de massoterapia realizados pelos doutores Mendell e J. Cyriax, os trabalhos de cinesioterapia respiratória feitos por Winifred Linton, no Brompton Hospital, em Londres, e, sobretudo, os trabalhos de Fisioterapia neurológi- ca realizados em conjunto com a fisioterapeuta Berta Bobath e o neurofisiologista Karel Bobath que criaram o Método Bobath, para tratamento de pacientes com paralisia cere- bral (SANCHES, 1984 apud GAVA, 2004). FIGURA 20 – JAMES CYRIAX, ORTOPEDISTA BRITÂNICO QUE DESENVOLVEU A TÉCNICA DE MASSAGEM CYRIAX FONTE: <https://iphysio.files.wordpress.com/2010/04/dr_cyriax_j.gif>. Acesso em: 6 jul. 2019. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 22 O surgimento da Fisioterapia em nosso país deu-se pela necessidade de se reabilitar os portadores de sequelas decorrentes da poliomielite, do crescente aumento do número de casos de acidentes de trabalho e das mutilações em muitos combatentes da Segunda Guerra Mundial (CARVALHO et al, 2014). “A história da profissão de fisioterapeuta a nível nacional tem sido objeto de estudode professores e pesquisadores, principalmente fisioterapeutas vincu- lados a programas de pós-graduação e áreas como saúde coletiva, educação e na própria fisioterapia” (BARROS, 2008, p. 942). O autor ainda continua sua linha de pensamento afirmando que o marco histórico da profissão, de caráter institucio- nal, é o Decreto-Lei nº 938, porém, no período que o antecedeu, pouco se tem de material e relatos de como o processo foi viabilizado. Seu foco principal é utilizar outro momento da História, partindo da criação e do reconhecimento da Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro (ERRJ). O profissional fisioterapeuta surgiu em decorrência das grandes guer- ras fundamentalmente para tratar de pessoas fisicamente lesadas. As perdas totais ou parciais dos membros, atrofias e paralisias são exem- plos do objeto de trabalho da fisioterapia em sua gênese. Naquelas circunstâncias, porém, a preocupação fundamental, ou mesmo única, com doenças ou lesões e suas consequências, parecia adequada. A de- corrência natural das condições existentes na época fez toda a atuação profissional ficar voltada para atenuar ou diminuir o sofrimento, reabi- litar organismos lesados ou, quando possível, recuperar as condições de saúde preexistentes dos organismos cujas condições haviam sido alteradas. Então ocorrem os princípios militares do condicionamento e o esforço físico e a incrementação das técnicas com recursos de tecnolo- gia como a Mecanoterapia (máquinas e equipamentos para exercícios) e a eletroterapia (corrente elétrica para fins terapêuticos), substituindo gradativamente a Cinesioterapia (terapia por exercícios físicos) da har- monia dos movimentos. Neste enfoque a profissão segue o caminho da especialização fragmentada, afastando-se da visão do homem como um todo, visível no Ocidente, e bem forte nos Estados Unidos da América (GALVAN, 1998, p. 54-55). FIGURA 21 - KAREL E BERTA BOBATH, CRIADORES DO MÉTODO BOBATH FONTE: <http://bit.ly/37od7mq>. Acesso em: 6 jul. 2019. TÓPICO 1 | AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 23 FIGURA 22 – CENTRO DE TRATAMENTO PARA ALTERAÇÕES RESPIRATÓRIAS EM CRIANÇAS ATINGIDAS PELA POLIOMIELITE NA DÉCADA DE 50 FONTE: <http://f.i.uol.com.br/livraria/capas/images/12110329.jpeg>. Acesso em: 6 jul. 2019. FONTE: <http://bit.ly/2D0iI4m>. Acesso em: 6 de jul. 2019. No final do século XIX, no Brasil, a Fisioterapia inicia suas atividades por meio da criação do Serviço de Eletricidade Médica e Hidroterapia na cidade do Rio de Janeiro. E em 1884, no Hospital de Misericórdia, na mesma cidade, é criado o primeiro Serviço de Fisioterapia da América do Sul, através do médico Arthur Silva (GAVA, 2004). FIGURA 23 – CRIANÇAS COM SEQUELAS MOTORAS DEVIDO À POLIOMIELITE UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 24 FIGURA 24 – O MÉDICO ARTHUR SILVA PARTICIPA DA CRIAÇÃO DO PRIMEIRO SERVIÇO DE FISIOTERAPIA DA AMÉRICA DO SUL NO HOSPITAL DE MISERICÓRDIA DO RIO DE JANEIRO FONTE: <http://bit.ly/2OuFrLh>. Acesso em: 5 de jul. 2019. 6.1 A TRANSIÇÃO DO SÉCULO XX PARA O SÉCULO XXI EM RELAÇÃO AOS OBJETOS DE TRABALHO E DE ESTUDO Os tipos de preocupação e olhar em cada época da História passaram por oscilações de grande impacto. Todas essas preocupações contribuíram para que houvessem estudos e reflexões, decorrentes das próprias situações em cada perío- do, resultando no modo de enxergar a doença e o modo de tratá-la (REBELATTO; BOTOME, 1999). Na Antiguidade surgiram os primeiros estudos para entender os distúrbios que acometiam o homem, bem como a tentativa de explicar o surgimento e as pro- postas de solucionar esses problemas. A Idade Média foi marcada pela interrupção de pesquisas relativas à saúde e o interesse por ações práticas, substituídas por concepções religiosas. O Renascimento permitiu que esses estudos fossem retomados, além da descoberta de novas formas de olhar a saúde, cuja preocupação era preservar as condições de saúde que o indivíduo apresentasse. A Industrialização foi caracterizada por precárias condições de vida e a proliferação de doenças fazendo com que surgissem as especialidades médicas, mantendo a preocupação com a doença instalada. Os diferentes momentos da História determinaram a influência das re- lações de produção dentro da organização da sociedade e o direcionamento das ações em saúde em cada momento. Ao passo que essas relações de produção per- mitiram maior acesso da população à melhor condição de vida, o modo de assis- tência disponível se alterou. Os problemas de saúde que a população apresentava TÓPICO 1 | AS MODIFICAÇÕES NA CONCEPÇÃO DO OBJETO DE TRABALHO E A FISIOTERAPIA NOS DIFERENTES MOMENTOS DE SUA CONSTITUIÇÃO 25 eram considerados o resultado de uma somatória de problemas individuais de cada membro dessa população e não mais visto como unicausalidade. 6.2 O CUIDADO DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS E A PREOCUPAÇÃO COM A DOENÇA INSTALADA Aos gabinetes de curiosidades do século XVII, tantas vezes entulhados de quinquilharias, sucederão, após um intervalo de investigações puramente clínicas, os laboratórios onde o saber médico encontrará um verdadeiro fundamento cientí- fico (STAROBINSKI, 1967 apud REBELLATO; BOTOME, 1999). A citação acerca dos laboratórios como caminho para o verdadeiro fundamento científico é o ponto de partida para a prática da pesquisa, da descoberta de novas tecnologias e formas de se tratar, do entendimento de novas doenças que foram surgindo com o avanço da industrialização e com as áreas da Medicina que estão conectadas. Anos mais tarde no século XX, precisamente em 1957, viria a descoberta da vacina Sabin, pelo microbiologista Albert Bruce Sabin. De acordo com pesquisas de dados no Acervo do jornal O Globo (2018), a primeira tentativa de erradicar a pa- ralisia infantil (veremos mais a frente) aconteceu em 1952 quando o americano de origem polonesa Jonas Edward Salk, que cultivara o vírus da poliomielite, produ- ziu uma vacina injetável à base de vírus mortos. Na prática percebeu-se que os efei- tos eram de curta duração. Na continuação das pesquisas cinco anos depois, outro microbiologista: Albert Bruce Sabin desenvolveu uma nova vacina com benefícios que a de Salk não apresentou como: era uma vacina oral, com tempo prolongado de imunização e com custo reduzido. FIGURA 25 – ALBERT SABIN E JONAS SALK (ÓCULOS), OS PESQUISADORES DA VACINA ANTI PÓLIO FONTE: <http://bit.ly/2KGptg1>. Acesso em: 6 de jul. 2019. 6.3 A FISIOTERAPIA FAZENDO PARTE DA EQUIPE DE SAÚDE A Fisioterapia integrada com a área da saúde sofreu os mesmos tipos de alterações no decorrer da história. Basicamente todos os recursos e ações eram voltados quase que de forma exclusiva ao indivíduo com a doença manifesta. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA FISIOTERAPIA 26 Acesse os links a seguir e leia algumas informações adicionais a respeito da prática da Fisioterapia, mesmo sem ainda ser uma Ciência nem mesmo profissão regulamentada: • https://blog.inspirar.com.br/fisioterapia-na-idade-media/ • http://www.bodyworks.med.br/historia-da-fisioterapia/ • http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/CarolinaCristinadoNascimento.pdf/ DICAS Mesmo com o conhecimento da tecnologia a atenção estava voltada, quando a saúde se encontrava em seus piores estágios, para reabilitar ou recuperar as condições perdidas pelo indivíduo (REBELATTO; BOTOME, 1999). Então surge o questionamento sobre como a Fisioterapia foi se desenvol- vendo e se modificando ao longo dos tempos, até vir a ser uma profissão e os rumos que ela tomou para ser considerada o que hoje realmente é a Fisioterapia. Parece que, conforme for entendido o que seja o objeto de trabalho da Fi- sioterapia, serão desenvolvidos atenção, atividades, esforços e estudos na direção das patologias (“diferenças” ou alterações incômodas nos organismos) ou de atividades, estudos e esforços na direção de mais do que apenas as patologias. O objeto de trabalho da Fisioterapiano Brasil, de certa forma, não se apresenta de maneira diferente do que já pode ser percebido até agora na história do desenvolvimento da concepção de trabalho com a “saúde” das pessoas. Vale eliminar melhor o que pode ser caracterizado como objeto de trabalho de estudo dessa área ou dessa profissão no País (REBELATTO; BOTOME, 1999, p. 20). Provavelmente esse questionamento, feito pelo autor e por muitos outros autores, pesquisadores e ou profissionais que já o fizeram, ocorra devido ao fato de que no surgimento da atuação do fisioterapeuta, sua profissão era codependente de outras, como a do médico, por exemplo. Os médicos da época eram conhecidos como reabilitadores e os fisioterapeutas ainda sem profissão regulamentada eram denominados como auxiliares de médicos. Nos anos 30, tanto na cidade do Rio de Janeiro como em São Paulo, os primeiros serviços ligados à fisioterapia foram idealizados por médicos. Esses estabelecimentos não visavam apenas a estabilidade clínica do paciente, como em hospitais por exemplo, mas sim a recuperação física permitindo o retorno à sociedade, com funções idênticas anteriores à lesão ou mesmo semelhantes. Essa visão dos médicos fez com que eles fossem chamados de médicos de reabilitação e os profissionais de fisioterapia de auxiliares de médico (CARVALHO et al., 2014). 27 Neste tópico, você aprendeu que: • A Antiguidade foi marcada por diferenças incômodas e a visão era muito curativa, não tendo enfoque preventivo. • A Idade Média foi caracterizada pela organização da sociedade em hierarquias e o clero era uma classe que tinha um poder determinante nas decisões dos caminhos escolhidos pela sociedade. • O Renascimento foi marcado pela preocupação com o corpo saudável, em função dos movimentos artísticos e literários, fazendo menção do culto ao corpo físico. • A Industrialização foi o período no qual a mecanização e as extensas jornadas de trabalho somada às condições precárias da população, propiciaram o surgimento de acidentes de trabalho, epidemias e o surgimento das especialidades médicas. • Cada fase da História teve uma visão e uma atuação característica sobre o conceito de doença e de ação em saúde. • Por fim, a Fisioterapia, no final do século XX, por ser área da saúde, sofreu as mes- mas oscilações no decorrer da História. Desde o seu surgimento não existiu um ob- jeto de estudo ou de intervenção pré-definido levando a profissão a caracterizar-se ao longo de sua existência. RESUMO DO TÓPICO 1 28 1 Quando se falou em Antiguidade, viu-se que o termo “diferenças incômodas” foi mencionado. O que esse termo significava na época e como era feita a inter- venção para ajudar o indivíduo que apresentasse essas alterações? 2 Comentou-se sobre a prática de ginástica curativa nas pessoas no período da Antiguidade. Como era realizada e qual o seu objetivo? 3 Citou-se recursos físicos, como o uso da luz, do sol, dos banhos e do peixe elétri- co, como agentes terapêuticos. Analogamente, hoje são utilizadas essas formas de tratamento, mas com denominações e classificações diferentes. Como são chamados, atualmente, esses agentes terapêuticos? 4 Quando a Industrialização foi citada como um período histórico, viu-se que acidentes de trabalho fizeram parte do processo de mecanização e que muitas vezes eram resultados de extensas jornadas de trabalho. Como isso poderia ser freado? E atualmente, o que se faz em relação à repetição das funções durante as jornadas de trabalho? 5 Em vários momentos da história viu-se que a visão da época era apenas cura- tiva, sem haver o enfoque preventivo. O que você, como estudante da área da saúde, entende sobre a importância da prevenção nos aspectos sociais e econô- micos? AUTOATIVIDADE 29 TÓPICO 2 A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA FISIOTERAPIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste segundo tópico, dar-se-á ênfase na trajetória da Fisioterapia em nos- so país como Ciência e profissão iniciada em 1919 na cidade de São Paulo, com a fundação do Departamento de Eletricidade Médica e, mais tarde, em 1929, com a instalação do Serviço de Fisioterapia junto ao Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia. Paralelamente a esses marcos, o aparecimento de epidemias, entre elas a Poliomielite, que assolou o mundo, os acidentes de trabalho e as mutilações dos combatentes de guerra, fizeram com que anos mais tarde começasse a ser ofer- tado o primeiro Curso de Fisioterapia do Brasil, em 1951, no Instituto Central do Hospital das Clínicas. Toda essa trajetória fez com que a profissão de fisioterapeuta, até então não regulamentada, começasse a ser vista como indispensável à sociedade, claro que em um primeiro momento sem autonomia profissional e com pouca estrutura, mas aos poucos o entendimento de que era necessário lutar pelo reconhecimento e va- lorização da classe. Aconteceram várias tentativas de reformular a oferta de cursos (disciplinas/ carga horária/ nível de ensino), afinal a demanda estava aumentando. Surgiram associações e projetos de reconhecimento junto ao Congresso Nacional. Conhecen- do essa retrospectiva histórica, você perceberá que através da apresentação e dis- cussão de informações e documentos legais, houve a regulamentação do ensino e exercício profissional, bem como a representatividade de órgãos de classe e norteio aos profissionais da área. Vamos entender como tudo isso ocorreu? 2 O SURGIMENTO DA FISIOTERAPIA COMO CIÊNCIA E PROFISSÃO Baseado nos aspectos históricos vistos no Tópico 1, entende-se que o pro- cesso sofrido ao longo do tempo culminou para o surgimento da Fisioterapia atra- vés da necessidade primária de reabilitar. A época colonial foi um momento decisivo para que a Fisioterapia tivesse início. A saúde dos trabalhadores e dos escravos nos campos e lavouras, as con- dições de vida precária, as frequentes mazelas da sociedade como a pneumonia, a diarréia e a tuberculose não eram preocupação, exceto para aqueles escravos que tinham perfil de rentabilidade e de maior produtividade (KURBAN, 2005). UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS HISTÓRICOS 30 No decorrer da História, várias passagens deixam claro que a prática se dava através de recursos físicos, utilizados puramente como agentes curativos e isso ocorreu desde a Antiguidade até o século XX, através dos marcos da Industria- lização, da Poliomielite e da Segunda Guerra Mundial. Veremos, na sequência, as modificações que a Fisioterapia sofreu de acordo com a realidade e a necessidade da época, iniciando com a atuação do fisioterapeuta junto à classe médica (então chamado de auxiliar de médico); a oferta de cursos; a epidemia que atingiu a população infantil em nível mundial; os acidentes de traba- lho; as mutilações por bombas; as associações de classe; as indas e vindas com pedi- dos de reconhecimento de classe profissional, até finalmente, em 1969, a Fisioterapia ser regulamentada como profissão em que o fisioterapeuta atua de forma autônoma e independente, através de métodos e técnicas privativos. Mais tarde, ao longo das próximas seções, veremos de que modo a criação e a regulamentação de leis foram importantes às atribuições profissionais e à fiscalização do exercício profissinal. 2.1 A FUNDAÇÃO DO DEPARTAMENTO DE ELETRICIDADE MÉDICA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP) A Fisioterapia começou a se desenvolver com maior atenção e cuidado no Rio de Janeiro com a implantação dos serviços de Hidroterapia, na época chama- da de Casa das Duchas e de Eletricidade Médica. Período por volta de 1879 que coincidia com o processo de industrialização e com o surgimento dos acidentes de trabalho (SANCHES, 1984 apud KURBAN, 2005). A Casa das Duchas que existe até hoje foi tombada como patrimônio his- tórico. Localiza-se em Petropólis, no estado do Rio de Janeiro e na época de fun- cionamento atendia cerca de cinquenta pessoas por hora, com o intituito de tratar enfermidades pelo uso da água. Era um dos pontos mais bem frequentados da cidade. Integrantes do Império, homens
Compartilhar