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O preparo adequado para lidar com uma situação de emergência diminui a possibilidade de ela resultar em morbidade significativa ou morte. O conhecimento prévio da condição física do paciente permite ao cirurgião-dentista incorporar modificações no plano de tratamento odontológico. Objetivos da Avaliação 1. Determinar a capacidade do paciente em tolerar fisicamente o estresse envolvido no tratamento planejado. 2. Determinar a capacidade do paciente em tolerar psicologicamente o estresse envolvido no tratamento planejado. 3. Determinar se as modificações no plano de tratamento são necessárias para permitir ao paciente tolerar melhor o estresse envolvido no tratamento planejado. 4. Determinar se o uso da sedação é justificado: a. Determinar qual técnica de sedação é a mais apropriada. b. Determinar se existem contraindicações a quaisquer medicamentos a serem utilizados no tratamento planejado. Os dois primeiros objetivos envolvem a capacidade do paciente em tolerar o estresse envolvido no tratamento planejado. Esse estresse pode ser tanto fisiológico quanto psicológico. Muitos, se não a maioria dos pacientes com condições médicas preexistentes, são menos capazes de tolerar os níveis usuais de estresse associados ao tratamento odontológico. Esses pacientes têm maior chance de exacerbações agudas de suas condições médicas preexistentes quando expostos ao estresse. Exemplos dessas condições preexistentes incluem angina pectoris, epilepsia, asma e anemia falciforme. Embora a maioria dos pacientes seja capaz de tolerar o tratamento odontológico, o cirurgião-dentista deve determinar, antes de o tratamento começar: (1) o problema potencial (2) o nível de severidade do problema (3) o efeito potencial no tratamento odontológico planejado. O estresse excessivo pode também ser deletério à pessoa que não possui comprometimento sistêmico. Medo, ansiedade e dor – especialmente a dor repentina e inesperada – podem gerar mudanças agudas na homeostasia corporal. Muitos pacientes odontológicos experimentam emergências médicas relacionadas ao medo (psicogênicas), as quais incluem a hiperventilação e a síncope vasodepressora (desmaio). O terceiro objetivo na avaliação física é determinar se o tratamento odontológico planejado requer modificações para permitir que o paciente tolere melhor o estresse. Em alguns casos, um paciente saudável pode tolerar o tratamento fisicamente, mas é incapaz de fazê-lo psicologicamente. O paciente com comprometimento médico também se beneficia com as modificações no plano de tratamento que visem a minimizar o estresse. Os cirurgiões- dentistas devem sempre se lembrar de que pacientes com comprometimento sistêmico (como tantos outros pacientes que não tenham comprometimento sistêmico) constantemente temem o tratamento odontológico, o que pode aumentar o risco de uma emergência médica quando combinado à tolerância reduzida para o estresse. Protocolos para redução do estresse, auxiliam o cirurgião-dentista a minimizar o estresse provocado pelo tratamento odontológico (p. ex., intraoperatório, pré-operatório). Quando o paciente precisar de ajuda para lidar com o tratamento odontológico, o cirurgião- dentista pode considerar o uso de sedação. Determinar a necessidade dessas técnicas, selecionando a mais apropriada e escolhendo o(s) medicamento(s) mais apropriado(s) para o paciente, faz parte do objetivo final da avaliação física. Avaliação Física O termo avaliação física descreve as etapas envolvidas no preenchimento dos objetivos já mencionados. A avaliação física na odontologia consiste – minimamente – no questionário de história médica, exame físico e diálogo com o paciente (anamnese). Munido dessas informações, o cirurgião-dentista pode melhor (1) determinar a condição física e psicológica do paciente, permitindo ao dentista (2) atribuir uma classificação do fator de risco do paciente; (3) buscar consulta médica; e (4) instituir modificações apropriadas no tratamento. Questionário de história médica Prevenção O uso de um questionário de história médica, escrito e preenchido pelo paciente, é uma necessidade moral e legal nas profissões de saúde. Além disso, um questionário de história médica fornece ao cirurgião- dentista informações valiosas sobre a condição física e psicológica do paciente. Muitas versões desses questionários de história médica estão disponíveis. Entretanto, existem dois tipos básicos: um formulário resumido da história médica e um formulário mais completo. O formulário reduzido, com geralmente uma página, fornece informação básica sobre a história médica do paciente e idealmente é adequado para o cirurgião-dentista que possua experiência clínica considerável em avaliação física. Para usar o formulário reduzido efetivamente, o cirurgião-dentista deve ter um entendimento completo do diálogo com o paciente, necessário para auxiliar na determinação da avaliação do risco. O dentista também deve ser experiente no uso e na interpretação das técnicas de avaliação física. Infelizmente, muitos profissionais utilizam esse formulário reduzido ou uma modificação deste, em primeiro lugar, como forma de conveniência para seus pacientes. O formulário completo, geralmente com duas ou três páginas, fornece um sumário detalhado da condição física passada e atual do paciente. Ele é utilizado com frequência nos estabelecimentos de ensino, e para tal é o ideal. Qualquer questionário de história médica pode se mostrar extremamente valioso ou totalmente dispensável. O valor final do questionário reside na capacidade do cirurgião-dentista em interpretar o significado das respostas e de obter a informação adicional pelo exame físico e diálogo com o paciente. O histórico de saúde é dividido em seções relacionadas aos sinais e sintomas (“Você já vivenciou?”), doenças diagnosticadas (“Você tem ou já teve?”), tratamentos médicos (incluindo medicamentos e outros componentes fisiologicamente ativos) e diversas outras questões. Uma crítica sobre a maioria dos questionários atualmente disponíveis é a ausência de questões sobre os sentimentos dos pacientes em relação à odontologia. Recomenda-se que uma ou mais questões relacionadas ao assunto sejam incluídas: (1) Você se sente muito nervoso em relação ao tratamento odontológico? (2) Você já teve uma experiência ruim no consultório odontológico? Questionário de história médica 1.A sua saúde geral é boa? Comentário: uma pergunta genérica buscando a impressão geral que o paciente tem sobre a sua saúde. Estudos têm demonstrado que uma resposta “sim” à essa pergunta não necessariamente está correlacionada com a saúde atual do paciente. 2. Houve alguma mudança na sua saúde no último ano? 3. Você já foi hospitalizado ou teve alguma doença séria nos últimos 3 anos? Em caso positivo, por quê? 4. Você está sob tratamento médico agora? Qual o motivo? Qual a data do último exame médico? Qual a data do último exame odontológico? Comentário: As questões 2, 3 e 4 buscam informações sobre mudanças recentes na condição física do paciente. Em todos os casos de resposta positiva, um relato profundo pelo paciente deve ocorrer, determinando a natureza precisa da mudança no estado de saúde, tipo de procedimento cirúrgico ou doença, bem como os nomes de quaisquer medicamentos que o paciente possa estar usando para tratar no problema. 5. Você já teve problemas com algum tratamento odontológico prévio? Comentário: Eu percebo que muitos adultos ficam relutantes em admitir verbalmente ao dentista, higienista, ou assistente, seus temores sobre o tratamento odontológico, por medo de serem rotulados de “crianças”. Isto é especialmente verdadeiro com homens jovens, no final da adolescência ou no começo da 2ª década de vida; eles tentam “encararcomo homens” ou “aceitar uma situação difícil porque não há nada a ser feito” em vez de admitir seus temores. Com frequência, tal comportamento viril resulta em um episódio de síncope vasodepressora. 6. Você está com dor agora? Comentário: O principal motivo desta questão se relaciona à odontologia. Seu objetivo é determinar o que motivou o paciente à busca do tratamento odontológico. Se dor ou desconforto estiverem presentes, o cirurgião- dentista pode precisar tratar o paciente imediatamente ou emergencialmente, enquanto numa situação mais normal o tratamento pode ser postergado até visitas futuras. 7. Dor torácica (angina) Comentário: Um histórico de angina (definida, em parte, como dor torácica desencadeada pelo esforço e aliviada pelo repouso) geralmente indica a presença de um grau significativo de doença da artéria coronária com isquemia do miocárdio. O fator de risco para o paciente típico com angina estável é classe 3 na American Society of Anesthesiologists (ASA). A redução do estresse é extremamente recomendada para estes pacientes. Pacientes com angina instável ou de início recente representam riscos ASA classe 4. 8. Tornozelos inchados? Comentário: tornozelos inchados (edema depressível ou edema dependente, ou sinal do cacifo) indicam possível insuficiência cardíaca (IC). Entretanto, veias varicosas, gravidez e disfunção renal são outras causas do edema nos tornozelos. Pessoas saudáveis que ficam em pé por muito tempo (p. ex., policiais e membros da equipe odontológica) também podem desenvolver edema nos tornozelos. 9. Dificuldade respiratória? Comentário: Embora o paciente possa responder negativamente às questões específicas sobre a presença de diversas desordens cardíacas e pulmonares (p. ex., angina pectoris, insuficiência cardíaca, enfisema pulmonar), sinais e sintomas clínicos de doença cardíaca ou pulmonar podem estar evidentes. Uma resposta positiva a essa questão nem sempre indica que o paciente tem tal doença. Para determinar com mais precisão a condição do paciente antes do tratamento odontológico, uma avaliação posterior é sugerida. 10. Perda recente de peso, febre, suores noturnos? Comentário: a questão se refere principalmente a ganho ou perda inesperada de peso, e não à dieta intencional. Mudanças inesperadas no peso indicam insuficiência cardíaca, hipotireoidismo (aumento de peso), hipertireoidismo, carcinoma generalizado, diabetes melito não controlado (perda de peso), ou muitas outras desordens. A presença de febre e suores noturnos deve ser pesquisada, a fim de determinar se esses sintomas são inocentes ou talvez pistas para a presença de um problema mais significativo, como tuberculose. 11. Tosse persistente, tosse com sangue? Comentário: uma resposta positiva a essa questão exige um diálogo profundo para determinação da causa da tosse persistente ou da hemoptise (esputo tingido de sangue). As causas mais comuns da hemoptise são bronquite/bronquiectasia, neoplasias e tuberculose. Uma tosse crônica pode indicar tuberculose ativa ou outras desordens respiratórias crônicas, como a bronquite crônica. Tosse associada à infecção do trato respiratório superior confere uma classificação ASA 2 ao paciente, enquanto uma bronquite crônica num paciente que fumou mais de um maço de cigarros diariamente pode indicar doença pulmonar crônica e conferir uma classificação de risco ASA 3 ao mesmo. O cirurgião-dentista deve pesar os riscos cuidadosamente antes de administrar depressores do sistema nervoso central (SNC) – especialmente os opioides e barbitúricos, os quais deprimem o sistema respiratório mais do que os outros (p. ex., benzodiazepínicos) – em pacientes que exibem sinais de reserva respiratória diminuída (ASA 3 e 4). 12. Problemas de sangramento, a pele fica facilmente roxa? Comentário: discrasias sanguíneas como a hemofilia estão associadas a sangramento prolongado ou equimoses frequentes. Tais situações podem exigir modificações de certas formas de terapia odontológica (p. ex., cirurgia e administração de anestésicos locais) e assim devem ser apresentadas ao cirurgião-dentista antes de o tratamento começar. Modificações no plano de tratamento odontológico podem ser necessárias quando o risco de sangramento excessivo provavelmente estiver presente. 13. Problemas sinusais? Comentário: Problemas sinusais podem indicar presença de alergia (ASA 2), a qual deve ser relatada no histórico do paciente; ou infecção do trato respiratório superior (ASA 2), como num resfriado comum. O paciente pode experimentar algum desconforto respiratório quando colocado na posição supina; esse desconforto também pode estar presente quando o lençol de borracha é utilizado. Modificações específicas no tratamento – postergar o tratamento até que o paciente possa respirar mais confortavelmente, limitar o grau de reclinação na cadeira e cancelar o uso do lençol de borracha – são atitudes aconselháveis. 14. Dificuldade de deglutição? Comentário: A disfagia, ou dificuldade para deglutição, pode ter muitas causas. Antes de começar qualquer tratamento odontológico, o cirurgião-dentista deve buscar determinar a etiologia e severidade dos sintomas do paciente. 15. Diarreia, constipação, sangue nas fezes? Comentário: Avaliação é necessária para determinar se problemas gastrintestinais estão presentes, muitos dos quais requerem que o paciente seja medicado. As causas para sangue nas fezes podem variar de eventos benignos autolimitantes a doenças seriamente ameaçadoras. Algumas causas comuns incluem fissuras anais, medicamentos que contêm aspirina, discrasias sanguíneas, varizes esofágicas, trauma por corpo estranho, hemorroidas, neoplasias, uso de esteroides orais, presença de pólipos intestinais e trombocitopenia. 16. Vômito frequente, náusea? Comentário: Diversas causas podem levar a náusea e vômito. Medicamentos, entretanto, estão entre as causas mais comuns de náusea e vômito. Opioides, digitálicos, levodopa e muitos medicamentos anticancerígenos atuam na zona de disparo do quimiorreceptor da área postrema e induzem o vômito. Medicamentos que frequentemente induzem a náusea incluem anti- inflamatórios não esteroidais, eritromicina, antiarrítmicos cardíacos, medicamentos anti- hipertensivos, diuréticos, antidiabéticos orais, contraceptivos orais e muitos gastrintestinais, como a sulfasalazina. Infecções gastrintestinais e sistêmicas, virais e bacterianas, provavelmente estão entre a segunda causa mais comum de náusea e vômito. 17. Dificuldade de urinar, sangue na urina? Comentário: A hematúria, presença de sangue na urina, requer avaliação para determinar a causa, potencialmente indicativa de infecção ou obstrução do trato urinário. 18. Tonturas? Comentário: Uma resposta positiva pode indicar hipotensão postural (ortostática) crônica, hipotensão sintomática, anemia ou ataque isquêmico transitório (AIT), uma forma de acidente vascular encefálico temporário. Além disso, pacientes com certos tipos de convulsões, podem se referir aos desmaios ou ataques de tontura. O cirurgião-dentista deve fazer uma avaliação posterior, incluindo a consulta com o médico do paciente. Um ataque isquêmico transitório representa um risco ASA 3, enquanto a hipotensão postural crônica normalmente representa um risco ASA 2 ou 3. 19. Tilintar nos ouvidos? Comentário: O tinnitus ou tinido (sensação auditiva na ausência de som real em um ou ambos os ouvidos, como uma campainha, buzina, assovio ou clique) é um efeito adverso comum de certos medicamentos, incluindo salicilatos, indometacina, propranolol, levodopa, aminofilina e cafeína. Também pode ser visto em esclerose múltipla, tumor e infarto isquêmico. 20. Dores de cabeça? Comentário: A presença de dor de cabeça deve ser avaliada para determinara causa. Causas comuns incluem dores de cabeça crônicas, cefaleia em salvas, enxaquecas e cefaleia tensional. Se necessário, a consulta com o médico do paciente é justificada. O medicamento ou medicamentos que o paciente possa estar utilizando para tratar os sintomas deve(m) ser determinado(s), porque muitos destes agentes podem influenciar o processo de coagulação do sangue. 21. Ataques de desmaio? Comentário: Veja o comentário para a questão 18. 22. Visão borrada ou turva? Comentário: Uma visão borrada é um achado comum no envelhecimento do paciente. As causas principais de visão borrada e cegueira incluem glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular. A visão dupla, ou diplopia, geralmente resulta do descompasso do músculo extraocular, sendo que a causa precisa deve ser determinada. Causas comuns incluem o dano ao terceiro, quarto e sexto pares de nervos cranianos, secundário a miastenia gravis, distúrbios vasculares e tumores intracranianos. 23. Convulsões? Comentário: Convulsões são emergências médicas bastante comuns na odontologia. O candidato mais provável para ter uma convulsão durante o tratamento odontológico é o paciente epilético. Mesmo pacientes epiléticos cuja condição se mantém bem controlada com medicamentos anticonvulsivantes podem desenvolver convulsões em situações estressantes, como as que podem ocorrer no consultório odontológico. O cirurgião-dentista deve determinar o tipo de convulsão, a frequência de ocorrência e o medicamento ou medicamentos utilizados para impedir a convulsão, antes do início do tratamento odontológico. A modificação no plano de tratamento utilizando os protocolos para redução do estresse (discutido no final deste capítulo) é sempre desejável para pacientes com histórico conhecido de convulsão. Pacientes epiléticos com convulsões sob controle (convulsões infrequentes) são risco ASA 2; aqueles com ocorrência mais frequente representam riscos ASA 3 ou 4. 24. Sede excessiva? Comentário: A polidipsia, ou sede excessiva, é encontrada em diabetes melito, diabetes insípida e hiperparatireoidismo. 25. Micção frequente? Comentário: A poliúria, ou micção frequente, pode ser benigna (muito consumo de líquido) ou sintoma de diabetes melito, diabetes insípida, síndrome de Cushing ou hiperparatireoidismo. 26. Secura bucal? Comentário: O medo é uma causa comum de sensação de boca seca, especialmente no consultório odontológico. Existem outras causas de xerostomia, incluindo síndrome de Sjögren e radioterapia na cavidade oral. 27. Icterícia? Comentário: A icterícia (pele, esclera ocular e membranas mucosas amarelas) ocorre pela deposição da bile em função do excesso de bilirrubina no sangue (hiperbilirrubinemia). É causada frequentemente por obstrução dos ductos biliares, destruição excessiva das hemácias (hemólise) ou distúrbio no funcionamento das células hepáticas. A icterícia é um sinal que pode indicar um problema benigno, como uma pedra na vesícula, obstruindo o ducto biliar comum, ou indicar um carcinoma pancreático, envolvendo a abertura do ducto biliar comum no duodeno. 28. Dores/rigidez das articulações? Comentário: Um histórico de dor/rigidez nas articulações (artrite) pode estar associado com o uso em longo prazo de salicilatos (aspirina) ou outros anti- inflamatórios não esteroidais (AINEs), alguns dos quais podendo alterar o processo de coagulação sanguínea. Pacientes com artrite que utilizam corticosteroides há muito tempo podem ter o risco aumentado de insuficiência adrenal aguda, especialmente aqueles pacientes que pararam o uso recentemente. Esses pacientes podem precisar reinstituir a terapia de corticosteroides ou podem necessitar de uma modificação (aumento) nas doses durante o tratamento odontológico, de tal forma que o corpo responderá melhor a qualquer estresse adicional que possa estar associado com o tratamento. Devido à possível dificuldade de posicionar o paciente confortavelmente, modificações talvez se mostrem necessárias ao posicionar o paciente com problemas articulares. A maioria dos pacientes que fazem uso dos corticosteroides é classificada como risco ASA 2 ou 3, dependendo do motivo pelo qual o paciente usa tais medicamentos e do grau de deficiência presente. Pacientes com grandes deficiências causadas pela artrite são considerados de ASA 3. Você Tem ou Já Teve? 29. Doença cardíaca? Comentário: Esta questão tenta detectar a presença de qualquer tipo de doença cardíaca. Na presença de um “sim”, o cirurgião-dentista deve buscar uma informação mais específica/detalhada sobre a natureza e severidade do problema, assim como uma lista de quaisquer medicamentos de que o paciente faça uso para tratar esta condição. 30. Ataque cardíaco, anormalidades no coração? Comentário: Ataque cardíaco é o termo leigo para infarto agudo do miocárdio (IM). O cirurgião-dentista deve determinar o tempo que se passou desde o infarto do miocárdio, sua severidade e o grau de dano residual ao músculo cardíaco, a fim de decidir se modificações no plano de tratamento são necessárias. Na maioria das vezes, o tratamento odontológico eletivo deve ser postergado em 6 meses após a ocorrência do infarto. A maioria dos pacientes pós-infarto do miocárdio são considerados risco ASA 3; entretanto, um paciente que tenha sofrido um infarto há menos de 6 meses do momento do tratamento odontológico planejado deve ser considerado risco ASA 4. Quando o dano residual ao miocárdio for pequeno ou inexistente, o paciente pode ser considerado risco ASA 2, após 6 meses. Insuficiência cardíaca (IC): o grau de insuficiência cardíaca (fraqueza da “bomba”) deve ser examinado através do diálogo com o paciente (anamnese). Quando o paciente possuir uma condição mais séria, como uma insuficiência cardíaca congestiva (ICC) ou dispneia (respiração trabalhosa) em repouso, modificações específicas no plano de tratamento são recomendadas. Nesta situação, o cirurgião-dentista deve considerar se o paciente necessita de suprimento de O2 durante o tratamento odontológico. Enquanto a maioria dos pacientes com insuficiência cardíaca é classificada como ASA 2 (leve insuficiência cardíaca sem incapacitação) ou ASA 3 (incapacitação ocorrendo durante exercício ou estresse), a presença de dispneia em repouso significa risco ASA 4. Lesões cardíacas congênitas: Um diálogo mais completo com paciente é necessário para determinar a natureza da lesão e o grau de incapacitação que esta produz. Pacientes com tais lesões podem representar os riscos ASA 2, 3 ou 4. O cirurgião-dentista pode recomendar uma consulta com o médico, especialmente nos pacientes pediátricos, para julgar a severidade da lesão. Alguns tratamentos odontológicos podem necessitar profilaxia antibiótica. 31. Sopros cardíacos? Comentário: Sopros cardíacos são comuns, mas nem todos os sopros são clinicamente significativos. O cirurgião-dentista deve determinar se um sopro é funcional (não patogênico ou ASA 2) ou se os sinais e sintomas clínicos de uma estenose ou regurgitação de válvula estão presentes (ASA 3 ou 4) e se a profilaxia antibiótica é justificada. O sintoma clínico fundamental de um sopro cardíaco significativo (orgânico) é a fadiga fácil. 32. Febre reumática? Comentário: Uma história de febre reumática deve incitar o cirurgião-dentista a fazer perguntas mais aprofundadas ao paciente sobre a presença de doença cardíaca reumática. Se a doença cardíaca reumática estiver presente, a profilaxia antibiótica pode minimizar o risco de o paciente desenvolver endocardite bacteriana subaguda. Dependendo da severidade da doença e da presença de incapacitação, pacientes com doença cardíaca reumática podem ser risco ASA 2, 3 ou 4. Modificações adicionais no plano de tratamento odontológico podem ser recomendadas.33. “Derrame”, enrijecimento das artérias? Um paciente que tenha sofrido um acidente vascular encefálico tem risco aumentado de sofrer outro AVE ou convulsão caso ocorra uma hipóxia. Se o cirurgião- dentista utilizar sedação no tratamento desse paciente, apenas níveis leves, como os utilizados na sedação por inalação ou sedação consciente, são recomendados. 34. Pressão sanguínea elevada? Nos pacientes com histórico de pressão arterial elevada, o cirurgião-dentista deve determinar os medicamentos que o paciente esteja tomando, os potenciais efeitos adversos desses medicamentos e quaisquer possíveis interações com outros medicamentos. 35. Asma, tuberculose, enfisema ou outra doença pulmonar? Determinar a natureza e severidade dos problemas respiratórios é parte essencial da avaliação do paciente. Muitos problemas agudos no ambiente odontológico estão relacionados ao estresse, aumentando a carga de trabalho do sistema cardiovascular e as necessidades de oxigênio de muitos tecidos e órgãos do corpo. A presença de doença respiratória severa pode influenciar significativamente o tratamento odontológico planejado. 36. Hepatite, outra doença hepática? 37. Problemas estomacais, úlceras? 38. Alergias a: medicamentos, alimentos, látex? Comentário: O cirurgião-dentista deve avaliar a presença de alergias no paciente antes de administrar qualquer tratamento odontológico ou medicamento. A importância desta pergunta e da sua avaliação completa não pode ser subestimada. 39. Histórico familiar de diabetes, problemas cardíacos, tumores? 40. AIDS? 41. Tumores, câncer? 42. Artrite, reumatismo? 43. Doenças oculares? 44. Doença de pele? 45. Anemia? 46. Doença venérea (sífilis ou gonorreia)? 47. Herpes? 48. Doenças nos rins ou bexiga? 49. Doença da tireoide ou da adrenal? 50. Diabetes? 51. Tratamento psiquiátrico? 52. Tratamentos com irradiação? 53. Quimioterapia? 54. Válvula cardíaca protética? 55. Prótese articular artificial? 56. Hospitalização? 57. Transfusões sanguíneas? 58. Cirurgias? 59. Marca-passo? 60. Lentes de contato? Você está fazendo uso de: 61. Drogas recreacionais? 62. Drogas, medicamentos, remédios sem receita (incluindo a aspirina), remédios homeopáticos? 63. Tabaco de qualquer espécie? 64. Álcool? Mulheres apenas: 65. Você está/poderia estar grávida/amamentando? 66. Fazendo uso de contraceptivos? Todos os pacientes: 67. Você tem/já teve quaisquer outras doenças ou problemas médicos NÃO listados neste formulário? Exame físico Mesmo sendo o completo questionário de história médica de tamanha importância na verificação geral da saúde física e psicológica do paciente, o mesmo possui limitações. Para que o questionário de histórico de saúde seja válido, os pacientes devem (1) estar cientes da sua condição de saúde e de quaisquer condições sistêmicas existentes e (2) estar dispostos a compartilhar esta informação com o cirurgião-dentista. O exame físico fornece muitas dessas informações. Tal exame físico na odontologia consiste nos seguintes passos: Monitoração dos sinais vitais Inspeção visual do paciente Testes funcionais, quando indicado Ausculta, monitoramento (via eletrocardiograma) e testes laboratoriais cardíacos e pulmonares, quando indicados A avaliação física mínima dos pacientes deve consistir na mensuração dos sinais vitais e inspeção visual do paciente. O valor principal desse exame é fornecer ao cirurgião-dentista informações importantes sobre a condição física do paciente, enquanto o questionário de saúde fornece a informação do histórico médico do mesmo. De maneira ideal, o exame físico deve ser completado na consulta inicial, antes do início real do tratamento odontológico. Os sinais vitais obtidos nesta consulta preliminar, conhecidos como sinais vitais basais, possuem duas funções. Primeiro, eles ajudam na determinação da capacidade do paciente em tolerar o estresse envolvido no tratamento odontológico planejado. Segundo, tais sinais vitais basais são utilizados como padrão durante o tratamento de situações emergenciais em comparação com os sinais vitais obtidos durante a emergência. Sinais vitais 1. Pressão sanguínea 2. Frequência e ritmo cardíaco (pulso) 3. Frequência respiratória 4. Temperatura 5. Altura 6. Peso 7. Índice de massa corporal(IMC) Pressão sanguínea arterial Um estetoscópio e um esfigmomanômetro com braçadeira são necessários, sendo considerados equipamentos básicos. Para o monitoramento pré-operatório de rotina da pressão arterial, o paciente deve estar sentado em posição ereta. O braço do paciente deve repousar ao nível do coração, relaxado, levemente flexionado, e sustentado por uma superfície firme. O paciente deve repousar por pelo menos 5 minutos antes de a pressão arterial ser registrada. Isso permite que indivíduo relaxe de tal forma que a pressão sanguínea registrada esteja mais próxima da leitura basal. Durante este momento, o cirurgião-dentista pode realizar outros procedimentos não invasivos, como uma revisão do questionário de história médica. Antes de ser posicionada no braço do paciente, a braçadeira deve ser esvaziada. A braçadeira deve ser colocada em volta do braço, uniforme e igualmente, ao redor do mesmo, com o centro da porção inflável sobre a artéria braquial e o tubo de borracha ao longo da porção medial do braço. A margem inferior da braçadeira deve ficar aproximadamente 1 polegada (2,5 cm) acima da fossa antecubital. Sabe-se que a braçadeira está muito apertada quando 2 dedos não podem ser colocados sob a margem inferior da mesma. Uma braçadeira apertada diminui o retorno venoso do braço, resultando em medições erradas (pressão diastólica elevada). Já quando a braçadeira está muito larga (um problema bem mais frequente) a mesma pode ser removida do braço com uma simples puxada. Uma leve resistência deve ser sentida quando a braçadeira está colocada adequadamente. O pulso radial no punho deve ser palpado enquanto a pressão na braçadeira é aumentada rapidamente até 30mmHg acima do ponto onde o pulso radial desaparece. A braçadeira deve então ser desinflada lentamente numa taxa de 2-3 mmHg por segundo até que o pulso radial reapareça. Isto é chamado de pressão sistólica pelo método palpatório. A pressão na braçadeira é então liberada completamente. A determinação real da pressão sanguínea arterial pelo método auscultatório é mais precisa e requer a palpação da artéria braquial, a qual está localizada na região medial da fossa antecubital. As olivas auriculares do estetoscópio devem estar voltadas para frente, quando colocadas nos ouvidos de quem ausculta. O diafragma do estetoscópio deve ser posicionado firmemente na região medial da fossa antecubital, sobre a artéria braquial. À medida que a braçadeira vai sendo esvaziada, o som auscultado vai passando por mudanças na qualidade e na intensidade. À medida que a pressão na braçadeira se aproxima da pressão diastólica, os sons se tornam surdos e abafados, e em seguida desaparecem. A pressão sanguínea diastólica pode ser mais bem determinada no momento em que os sons cessam completamente. Alguns erros relativamente comuns associados ao registro da pressão sanguínea arterial incluem os seguintes: Posicionamento frouxo da braçadeira, fornecendo leituras falsamente elevadas, o que provavelmente se encontra entre os erros mais comuns. Uso de um tamanho errado de braçadeira, o que pode resultar em leituras errôneas. Um hiato auscultatório pode ocorrer. O paciente pode estar ansioso. Frequência e ritmo cardíacos A frequência (pulso) e o ritmo cardíacos podem ser mensurados através da palpação de qualquer artéria imediatamente acessível. As mais utilizadas para medidas de rotina (não emergenciais) incluem a artéria braquial,localizada na região medial da fossa antecubital, e a artéria radial, localizada nas regiões radial e volar do punho. Outras artérias, como a carótida e a femoral, também podem ser utilizadas, mas raramente em situações de rotina porque não são tão acessíveis. Em situações de emergência, a artéria carótida deve ser palpada em vez das outras, porque é ela que libera sangue oxigenado para o cérebro. A palpação imediata e precisa desta artéria é essencial em situações de emergências. Quando se palpa o pulso, o cirurgião-dentista deve pressionar as porções distais dos dedos indicador e médio sobre a pele do paciente, leve o suficiente para sentir a pulsação, mas não tão firmemente a ponto de ocluir a artéria. O polegar não deve ser utilizado para monitorar o pulso porque contém sua própria artéria que pulsa. Situações têm surgido nas quais o batimento cardíaco mensurado tem sido o do dentista, e não o da vítima. Orientações para avaliação clínica. Os três fatores abaixo devem ser examinados quando a frequência e o ritmo cardíacos são monitorados: 1. Frequência cardíaca (registrada como o número de batimentos por minuto) 2. Ritmo cardíaco (regular ou irregular) 3. Qualidade da pulsação (vazio, forte, cheio ou fraco) A frequência cardíaca deve ser avaliada por no mínimo 30 segundos, idealmente por 1 minuto. A frequência cardíaca normal em repouso num adulto varia entre 60 e 110 batimentos por minuto. Esta taxa é frequentemente mais baixa em atletas bem condicionados e elevada em pacientes apreensivos. Entretanto, processos patológicos clinicamente significativos também podem produzir batimentos cardíacos lentos (< 60 bpm = bradicardia) ou rápidos (> 110 bpm = taquicardia). Frequência respiratória A frequência respiratória deve ser imperceptivelmente examinada. Pacientes cientes de que sua respiração está sendo observada geralmente não respiram normalmente. Por este motivo, a respiração deve ser monitorada imediatamente após a frequência cardíaca ter sido mensurada. A pessoa que registra os sinais vitais deve manter seus dedos no pulso radial ou braquial do paciente, depois de ter acessado a frequência cardíaca, contando as respirações através da observação da elevação e depressão do tórax do paciente, por no mínimo 30 segundos (idealmente 1 minuto). Temperatura A temperatura deve ser monitorada oralmente, se possível. O termômetro, esterilizado e já com a temperatura reduzida, deve ser colocado sob a língua do paciente, o qual não deve ter ingerido, fumado ou bebido qualquer coisa nos 10 minutos que precedem o registro. O termômetro deve permanecer na boca do paciente, fechada, por 2 minutos antes de sua remoção. No Brasil, a medição da temperatura via axilar é mais comumente utilizada, tornando-se, assim, clinicamente aceitável. Altura e peso Os pacientes devem ser questionados quanto a sua altura e peso, duas mensurações variáveis. Índice de massa corporal (IMC) O IMC é um número calculado a partir do peso e da altura do paciente. Esse número é um indicador bastante confiável da quantidade de gordura corporal para a maioria dos indivíduos e pode ser utilizado primariamente como um método de rastreio para as categorias de peso que podem estar associadas com problemas de saúde. Inspeção visual A inspeção visual do paciente pode fornecer ao cirurgião-dentista informações adicionais sobre a condição física e o grau de ansiedade do indivíduo. A observação da postura, do movimento corporal, da fala e da pele do paciente pode ajudar o dentista na detecção de desordens que previamente passaram despercebidas. Respostas rápidas às questões ou timbres de voz nervosos podem indicar ansiedade e uma possível necessidade para sedação durante o tratamento odontológico. Procedimentos adicionais na avaliação Após finalizar o preenchimento do questionário de história médica, o registro dos sinais vitais e o exame físico, uma avaliação mais profunda das desordens médicas específicas deve ser realizada. Este exame físico pode incluir a ausculta do coração e dos pulmões, o teste dos níveis de glicose sanguínea, o exame da retina, os testes de função da condição cardiorrespiratória (p. ex., teste da apneia), o exame eletrocardiográfico e a bioquímica sanguínea. Diálogo com o paciente Depois de reunir as informações previamente discutidas sobre a condição física do paciente, o cirurgião-dentista deve em seguida determinar qual significado, se existente, destas desordens, em relação ao tratamento odontológico planejado. Reconhecimento do Medo do Tratamento Odontológico e da Ansiedade A ansiedade aumentada e o temor frente ao tratamento odontológico podem gerar uma exacerbação aguda dos problemas médicos prévios, como angina pectoris, convulsões e asma, assim como outros problemas relacionados ao estresse, como a hiperventilação e síncope vasodepressora. Um dos objetivos na avaliação do paciente é determinar se o mesmo é psicologicamente capaz de tolerar o estresse associado com o tratamento odontológico planejado. Três métodos estão disponíveis para permitir ao cirurgião-dentista reconhecer a presença de ansiedade. O primeiro é o questionário de história médica; segundo, o questionário de ansiedade; e o terceiro, a arte da observação. Exame psicológico Verificar ansiedade e situações traumáticas que o paciente pode ter passado. Determinação do risco médico Após a finalização do exame físico e odontológico e da decisão sobre o plano de tratamento, o cirurgião- dentista deve revisar todas as informações e responder as seguintes questões: Este paciente será capaz, tanto física como psicologicamente, de tolerar com segurança relativa o estresse envolvido no plano de tratamento odontológico proposto? O paciente possui um risco maior (de morbidade ou mortalidade) do que o usual durante o tratamento planejado? Se o paciente apresenta risco aumentado, quais modificações no plano de tratamento, se necessárias, podem ser utilizadas para minimizar o risco no tratamento proposto? O risco é muito elevado para o paciente ser tratado no meu consultório odontológico? Sistema de classificação da condição física ASA Sistema de Classificação da Condição Física ASA Essa classificação é um método no qual se pode estimar o risco médico do paciente agendado para “anestesia” frente ao procedimento cirúrgico. O sistema foi desenvolvido, em princípio, para pacientes que recebessem anestesia geral, mas desde sua introdução tem sido utilizado em todos os pacientes cirúrgicos, independente da técnica anestésica (anestesia geral, regional ou sedação consciente mínima ou moderada). ASA 1: Paciente normal, saudável, sem doença sistêmica. ASA 2: Paciente com doença sistêmica leve. ASA 3: Paciente com doença sistêmica grave ASA 4: Paciente com doença sistêmica incapacitante, sendo uma ameaça constante à vida. ASA 5: Paciente moribundo sem expectativa de sobreviver sem cirurgia. ASA 6: Paciente declarado com morte encefálica, cujos órgãos serão removidos para fins de doação. ASA E: Operação de emergência de qualquer variedade, com o E precedendo o número para indicar a condição física do paciente (p. ex., ASA E-3). ASA 1 Pacientes ASA 1 são considerados normais e saudáveis. A revisão do histórico médico, avaliação física e todos os parâmetros de avaliação não indicam quaisquer anomalias. Os órgãos e sistemas principais – coração, pulmões, fígado, rins e SNC – parecem estar em boa forma. Pacientes ASA 1 são capazes de subir um lance de escadas ou andar dois quarteirões sem desconforto (dificuldade respiratória, fadiga fácil e dor torácica são sinais de desconforto). Fisiologicamente, pacientes ASA 1 devem ser capazes de tolerar qualquer estresse associado ao tratamento odontológico sem risco adicionalde complicações sérias. Psicologicamente, esses pacientes possuem pouca ou nenhuma dificuldade em lidar com o plano de tratamento. Pacientes saudáveis com pouca ou nenhuma ansiedade no consultório odontológico são considerados ASA 1 representando “sinal verde” para o tratamento. Modificações no plano de tratamento geralmente não são necessárias neste tipo de paciente. ASA 2 Um paciente ASA 2 possui uma doença sistêmica leve ou é um paciente saudável (ASA 1) que demonstra ansiedade e medo extremo no consultório odontológico. Pacientes ASA 2 são capazes de subir um lance de escadas ou andar dois quarteirões, antes que o desconforto ocasione sua interrupção. Pacientes ASA 2 geralmente são menos tolerantes ao estresse do que os pacientes ASA 1; entretanto, ainda representam risco mínimo durante o tratamento odontológico. O tratamento odontológico de rotina (eletivo) é permitido, contanto que seja pelo menos considerada a modificação no tratamento, ou seja, levado em consideração o histórico médico do paciente. Exemplos de tais considerações ou modificações incluem o uso de antibióticos profiláticos ou técnicas sedativas, limitações na duração do tratamento e possível consulta médica. Uma classificação ASA 2 deve servir como “sinal amarelo”, um aviso para que o cirurgião-dentista proceda com o tratamento odontológico, porém com cautela. O tratamento odontológico eletivo é justificado em função do aumento mínimo do risco ao paciente durante o atendimento. Modificações no plano de tratamento também devem ser consideradas. Exemplos de condições/pacientes ASA 2 incluem: Diabetes Tipo 2 (bem controlado); Epilepsia (bem controlada). ASA 3 Pacientes ASA 3 possuem uma doença sistêmica grave que limita sua atividade, mas não os torna incapazes. Em repouso, os pacientes ASA 3 não exibem sinais ou sintomas de desconforto e podem viver normalmente; entretanto, tal desconforto é exibido quando esses pacientes se deparam com um estresse fisiológico ou psicológico. Por exemplo, um paciente que tenha medo do tratamento odontológico e que possui angina pectoris pode estar normal (sem dor torácica) na recepção, mas a dor surge quando é colocado na cadeira odontológica. Pacientes ASA 3 são capazes de subir um lance de escadas ou dois quarteirões, mas terão que parar pelo menos uma vez para descansar enquanto caminham. Tais quais os pacientes ASA 2, estes são pacientes “sinal amarelo” (proceda com cautela). O tratamento odontológico eletivo não está contraindicado, mas o risco destes pacientes durante o tratamento odontológico se torna aumentado. Uma consideração séria deve ser feita para a possível modificação no plano de tratamento. Exemplos de condições/pacientes ASA 3 incluem: Angina pectoris (estável). Condição pós-infarto do miocárdio: mais de 6 meses antes da consulta odontológica e sem sinais ou sintomas residuais significativos. ASA 4 Pacientes ASA 4 possuem uma doença sistêmica incapacitante, a qual é uma ameaça constante a suas vidas. Possuem problemas médicos graves que são mais significativos à saúde do que o tratamento odontológico eletivo planejado. Sempre que possível, o tratamento odontológico eletivo deve ser postergado até que a condição médica do paciente tenha melhorado pelo menos para a classificação ASA 3. Pacientes ASA 4 são incapazes de subir um lance de escada ou andar dois quarteirões planos. O desconforto está presente mesmo em repouso. Estes pacientes apresentam-se no consultório odontológico exibindo sinais e sintomas de sua doença. Uma classificação ASA 4 significa “sinal vermelho”, um aviso de que o risco envolvido no tratamento odontológico é muito grande para se permitir tratamento eletivo. O tratamento das emergências odontológicas, tais como dor ou infecção, deve ser o mais conservador possível, até que a condição física do paciente melhore. Sempre que possível, o tratamento odontológico deve ser não-invasivo, consistindo na prescrição de medicamentos, como analgésicos para dor e antibióticos para infecção. Em situações nas quais a intervenção imediata é julgada necessária (p. ex., incisão e drenagem, extração, extirpação pulpar), o paciente deve ser tratado em ambiente hospitalar, sempre que possível, ou em uma clínica odontológica que seja equipada o suficiente para o reconhecimento e tratamento de situações de emergência que possam acontecer. Embora pacientes hospitalizados ainda sejam de risco, a chance de sobrevivência pode ser maior no caso do surgimento de uma emergência médica aguda.Exemplos de condições ASA 4 incluem: Angina pectoris instável(angina pré-infarto). Infarto do miocárdio: nos últimos 6 meses. ASA 5 Pacientes ASA 5 são moribundos e não é esperado que sobrevivam por mais do que 24 horas sem cirurgia planejada. Pacientes ASA 5 quase sempre estão hospitalizados (significa que estão no hospital, casa de repouso, ou instituições para pacientes terminais), sendo estes pacientes terminalmente doentes. Podem ser referidos como ONR (ordem de não reanimação) ou pacientes “sem código”. O tratamento odontológico eletivo, nesses casos, está contraindicado; entretanto o tratamento emergencial no âmbito do tratamento paliativo (isto é, alívio da dor) pode ser necessário. Uma classificação ASA 5 é um “sinal vermelho” para tratamento odontológico. Exemplos de condições ASA 5 incluem: Doença hepática terminal. Câncer terminal. Consulta médica A consulta médica não deve ser feita até que a avaliação odontológica e física seja completada. O cirurgião- dentista deve estar preparado para discutir amplamente com o médico do paciente sobre o plano de tratamento odontológico proposto e quaisquer problemas antecipados. Uma das considerações mais importantes na consulta médica é a determinação da capacidade do paciente em tolerar com segurança relativa o estresse envolvido no tratamento odontológico proposto. O aconselhamento proveniente do médico do paciente deve ser cuidadosamente considerado. Sempre que houver dúvida após a consulta, uma segunda opinião, talvez de um especialista na área, deve ser buscada. Após receber o aconselhamento médico, o cirurgião- dentista deve considerar a implantação de certas atitudes que visem a minimizar qualquer risco potencial ao paciente. O cirurgião-dentista em si tem a responsabilidade final pelo plano de tratamento odontológico e pelos riscos do atendimento. Os riscos não podem ser compartilhados com o médico do paciente. Na maioria dos casos, a consulta com o médico altera muito pouco ou em nada o plano de tratamento odontológico. Modificações específicas no plano de tratamento representam etapas muito importantes que o dentista deve conduzir para diminuir o risco ao paciente. Protocolo de diminuição do estresse Este protocolo é desenvolvido baseado na crença de que a prevenção ou a redução do estresse deve começar antes da consulta odontológica, continuar durante o tratamento e seguir pelo período pós-operatório, se necessário. Reconhecimento do risco médico e ansiedade O reconhecimento da presença de risco médico aumentado ou ansiedade e medo relacionados à odontologia representa o ponto de partida para tratamento do estresse. Consulta médica A consulta médica com o médico do paciente deve ser considerada em situações nas quais o cirurgião-dentista não tem certeza do grau de risco do paciente. A consulta médica não é necessária, nem recomendada, para todos os pacientes com problemas médicos. Entretanto, a consulta deve ser realizada quando o dentista não tiver certeza sobre a natureza da desordem do paciente ou das possíveis interações entre o problema de saúde e o tratamento odontológico planejado. O cirurgião dentista pode precrever medicamentos para o paciente com ansiedade fazer uso durante a noite anteriorao procedimento (pré-medicação); marcar consultas pela manhã para evitar a ansiedade e consequentemente perda do dia pelo paciente, que deixa de fazer suas atividades diárias pela expectativa do procedimento (agendamento da consulta). Minimizar o tempo de espera, para que esse paciente não fique esperando por muito tempo. Antes de começar qualquer tratamento em um paciente com comprometimento sistêmico, o cirurgião-dentista deve monitorar e registrar de rotina os sinais vitais pré- operatórios. Tais sinais vitais registrados devem incluir pressão sanguínea arterial, frequência e ritmos cardíacos e frequência respiratória. Se a redução adicional do estresse for necessária durante o tratamento odontológico, qualquer técnica de sedação ou anestesia geral pode ser utilizada. O controle adequado da dor é essencial na redução do estresse. Isto é especialmente importante no caso do paciente com comprometimento médico. O tempo de duração do tratamento é significativo tanto no paciente com comprometimento médico quanto no paciente apreensivo. A menos que a condição física do paciente exija consultas curtas, o cirurgião-dentista deve considerar os desejos do paciente e decidir sobre a duração apropriada. Controle pós-operatório da dor e ansiedade O controle pós-operatório da dor e ansiedade é tão importante quando o controle pré-operatório e intraoperatório. O controle pós-operatório é ainda mais relevante no caso do paciente que é submetido a um procedimento potencialmente traumático, tal como o tratamento endodôntico, cirúrgico ou periodontal, reconstrução oral extensa ou procedimentos restauradores. O cirurgião-dentista deve considerar complicações potenciais que possam surgir nas primeiras 24 horas depois da consulta, discuti-las com o paciente e tomar as providências para auxiliar o paciente na prevenção e no tratamento dessas situações. Estas providências podem incluir: Estar disponível pelo telefone 24 horas por dia. Monitorar o controle da dor e prescrever medicação analgésica quando necessário. Prescrever antibióticos se houver possibilidade de infecção. Prescrever medicamentos ansiolíticos se o paciente necessitar. Prescrever relaxantes musculares após terapia prolongada ou injeções múltiplas numa área (como o bloqueio do nervo alveolar inferior).
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