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Autores: Prof. Enny Fernandes Silva Profa. Maristela Tsujita Colaboradores: Prof. Juliano Rodrigo Guerreiro Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Bioquímica Metabólica Professoras conteudistas: Enny Fernandes Silva / Maristela Tsujita © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S586p Silva, Enny Fernandes. Bioquímica Metabólica / Enny Fernandes Silva, Maristela Tsujita. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 164 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Enzimas. 2. Ácidos nucleicos. 3. Vitaminas. I. Silva, Enny Fernandes. II. Tsujita, Maristela. III. Título. CDU 577.1 U508.90 – 20 Enny Fernandes Silva Graduada em Ciências Biológicas, modalidade médica, pela Universidade de Santo Amaro (Unisa, 1981), é especialista em clonagem em Bacillus subtillis pelo Public Heath Department of the City of New York (1982), mestre em Bioquímica na área de biologia celular e molecular (1989) e doutora em Bioquímica na área de biologia celular e molecular pela Universidade de São Paulo (USP, 2003). Iniciou seu pós-doutorado na Faculdade de Medicina da USP com o Dr. Roger Chammas, na área de adesão celular. Foi chefe do Departamento de Engenharia Química na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP, 1994-2000), onde também ministrou a disciplina de Bioquímica das Fermentações para Engenharia Química, e Meio Ambiente para Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia Mecatrônica, Engenharia Metalúrgica, Engenharia Elétrica, Engenharia Eletrotécnica e Engenharia Química. Foi professora de Bioquímica Básica e Clínica no Instituto de Pesquisa e Educação em Saúde de São Paulo (Ipesp). Desde 1990 é professora de Bioquímica Estrutural, Bioquímica Metabólica, Bioquímica Clínica, Físico-química, Enzimologia, Patologia, Biotecnologia e Ciências do Ambiente/ Saneamento na Universidade Paulista (UNIP). É responsável pela disciplina de Bioquímica do curso de Especialização em Análises Clínicas da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp). É coordenadora do curso de Biomedicina do campus Cidade Universitária da UNIP. Tem experiência na área de bioquímica com ênfase em vias de sinalização, atuando principalmente nos seguintes temas: óxido nítrico, câncer, vias de sinalização, apoptose e adesão focal celular. Maristela Tsujita Graduada em Farmácia pela Universidade de São Paulo (USP, 1999), é mestre (2004) e doutora (2016) em Análises Clínicas pela mesma instituição. Trabalhou no laboratório de Imunopatologia da Fundação Pró-Sangue, hemocentro de São Paulo, onde atuou no diagnóstico de neoplasias hematológicas por citometria de fluxo; e no banco de sangue do Hospital Sírio-Libanês como supervisora do laboratório de criopreservação de células-tronco para transplante de medula óssea. É professora de disciplinas dos cursos de Biomedicina, Enfermagem, Farmácia e Nutrição na UNIP. Além disso, é docente da disciplina Hematologia Clínica do curso de Especialização em Análises Clínicas da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp). Na área de pesquisa tem experiência em Bioquímica, com ênfase em sinalização celular, óxido nítrico e câncer e em hematologia clínica no estudo do nicho hematopoiético. Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Jaci Albuquerque Juliana Muscovick Sumário Bioquímica Metabólica APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 ENZIMAS ........................................................................................................................................................... 11 1.1 Classificação e nomenclatura ........................................................................................................ 14 1.2 Cinética enzimática: fatores que alteram a velocidade de uma reação enzimática ........................................................................................................................................ 15 1.3 Inibidores da atividade enzimática ............................................................................................... 18 1.4 Gráficos de Lineweaver-Burk .......................................................................................................... 20 1.5 Enzimas alostéricas e isoenzimas .................................................................................................. 21 1.5.1 Enzimas alostéricas ................................................................................................................................ 21 1.5.2 Isoenzimas ................................................................................................................................................. 21 1.6 Enzimologia clínica .............................................................................................................................. 22 1.7 Erros metabólicos hereditários ....................................................................................................... 23 1.7.1 Fenilcetonúria e albinismo .................................................................................................................. 24 1.7.2 Albinismo ................................................................................................................................................... 25 1.7.3 Galactosemia ............................................................................................................................................ 26 1.7.4 Doença de von Gierke ou glicogenose tipo I ............................................................................. 26 1.7.5 Cretinismo .................................................................................................................................................. 26 2 CARBOIDRATOS ................................................................................................................................................ 27 2.1 Digestão dos carboidratos ................................................................................................................ 27 2.2 Transportadores de glicose ............................................................................................................... 28 2.3 Glicólise .................................................................................................................................................... 30 2.4 Ciclo de Krebs ......................................................................................................................................... 39 2.5 Cadeia respiratória ...............................................................................................................................44 2.6 Metabolismo do glicogênio: glicogênese e glicogenólise ................................................... 48 2.7 Gliconeogênese ..................................................................................................................................... 52 2.8 Via das pentoses ................................................................................................................................... 55 3 LIPÍDIOS ............................................................................................................................................................... 57 3.1 Processo de liberação de lipídeos do tecido adiposo ............................................................. 58 3.2 Ciclo de Lynen........................................................................................................................................ 61 3.3 Aproveitamento do glicerol ............................................................................................................. 61 3.4 Regulação da lipólise .......................................................................................................................... 62 3.5 Lipogênese ou biossíntese de ácidos graxos ............................................................................. 64 3.6 Formação de triglicerídeos ............................................................................................................... 65 3.7 Regulação da síntese de ácidos graxos ....................................................................................... 67 3.8 Cetogêsene ou síntese de corpos cetônicos .............................................................................. 67 3.9 Síntese de corpos cetônicos ............................................................................................................. 68 3.10 Consequências da cetogênese ...................................................................................................... 69 4 COLESTEROL ...................................................................................................................................................... 71 4.1 Síntese de colesterol ........................................................................................................................... 71 4.2 Principais etapas da síntese do colesterol .................................................................................. 72 4.3 Regulação da síntese do colesterol ............................................................................................... 72 4.4 Transporte do colesterol .................................................................................................................... 74 4.5 Degradação do colesterol ................................................................................................................ 75 4.6 Arteriosclerose ....................................................................................................................................... 76 Unidade II 5 ÁCIDOS NUCLEICOS ....................................................................................................................................... 82 5.1 Síntese de nucleotídeos e bases nitrogenadas ......................................................................... 84 5.2 Síntese de DNA (replicação ou duplicação) ............................................................................... 84 5.3 Transcrição (síntese de RNA) ........................................................................................................... 88 5.4 Transcrição reversa............................................................................................................................... 91 5.5 Degradação de DNA e RNA .............................................................................................................. 92 5.6 Formação de ácido úrico ................................................................................................................... 93 6 AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS ..................................................................................................................... 95 6.1 Síntese de aminoácidos ..................................................................................................................... 95 6.2 Síntese de proteína (tradução) ....................................................................................................... 95 6.2.1 Ativação de aminoácidos ..................................................................................................................... 95 6.2.2 Iniciação ..................................................................................................................................................... 96 6.2.3 Elongação ................................................................................................................................................... 96 6.2.4 Terminação ................................................................................................................................................ 98 6.3 Inibidores da síntese de proteínas ................................................................................................. 99 6.4 Modificações pós-traducionais ....................................................................................................100 6.5 Degradação de proteínas e aminoácidos ..................................................................................101 6.5.1 Transaminação .......................................................................................................................................103 6.5.2 Desaminação ..........................................................................................................................................105 6.5.3 Ciclo da ureia ..........................................................................................................................................106 Unidade III 7 GRUPO HEME .................................................................................................................................................112 7.1 Estrutura química do grupo heme ..............................................................................................113 7.2 Síntese do grupo heme ....................................................................................................................114 7.3 Porfirias...................................................................................................................................................116 7.4 Degradação do grupo heme ..........................................................................................................118 8 VITAMINAS E SAIS MINERAIS ...................................................................................................................121 8.1 Vitaminas ...............................................................................................................................................121 8.1.1 Vitamina A .............................................................................................................................................. 122 8.1.2 Vitamina D .............................................................................................................................................. 126 8.1.3 Vitamina E ............................................................................................................................................... 130 8.1.4 Vitamina K .............................................................................................................................................. 130 8.1.5 Complexo B ............................................................................................................................................ 133 8.1.6 Vitamina C (ácido ascórbico) ..........................................................................................................139 8.2 Sais minerais .........................................................................................................................................141 8.2.1 Cálcio .........................................................................................................................................................141 8.2.2 Fósforo ...................................................................................................................................................... 143 8.2.3 Magnésio ................................................................................................................................................. 143 8.2.4 Sódio, cloreto e potássio ................................................................................................................... 143 8.2.5 Ferro .......................................................................................................................................................... 144 8.2.6 Zinco ......................................................................................................................................................... 144 8.2.7 Selênio ...................................................................................................................................................... 144 8.2.8 Cobre ......................................................................................................................................................... 145 8.2.9 Iodo ............................................................................................................................................................ 145 9 APRESENTAÇÃO A bioquímica estuda as reações químicas e biológicas dos seres vivos. Essas reações são fundamentais para o entendimento dos processos que permitem a manutenção da vida e o desenvolvimento de tecnologias que permitem melhor qualidade de vida. A presente disciplina tem como objetivo geral capacitar o aluno a entender os processos bioquímicos que regulam a função celular e fornecer uma visão integrada do metabolismo energético. O aluno terá conhecimentos a respeito das principais vias de síntese e degradação de carboidratos, lipídios e proteínas. A disciplina também abordará conceitos fundamentais de bioenergética, do grupo heme e das vitaminas e sais minerais. INTRODUÇÃO Desde a Antiguidade, a bioquímica está presente na vida do ser humano, por exemplo, nos processos fermentativos de produção de queijos e cervejas. Também nos deparamos com a bioquímica nas conversas entre amigos ou quando é abordada em rádio, televisão e redes sociais. Inúmeras vezes ouvimos informações a respeito de diabetes, emagrecimento, doença celíaca, intolerância à lactose entre outras. Será que todas as informações veiculadas são verdadeiras? Por outro lado, é crescente o interesse da comunidade científica e da população por essas informações. A bioquímica está presente na indústria de alimentos, cosméticos, medicamentos, agricultura, medicina diagnóstica, e cabe aqui destacar que o entendimento da estrutura do DNA (ácido desoxirribonucleico) e a compreensão da importância do gene na síntese proteica foi o marco para o desenvolvimento da biotecnologia, que engloba a produção de alimentos transgênicos, estudos com células-tronco, técnicas de clonagem e fabricação de imunoterápicos. Esta disciplina faz parte do currículo de muitos cursos da saúde, o que indica sua característica multidisciplinar. Os conhecimentos aqui adquiridos são fundamentais para a formação dos profissionais de saúde, uma vez que possibilita ao discente a compreensão dos processos biológicos a nível molecular, o que viabiliza o entendimento dos mecanismos celulares. O entendimento das reações orgânicas é imprescindível para a compreensão das reações de anabolismo e catabolismo, entretanto, é importante que você tenha uma visão ampla sobre como essas reações estão relacionadas, bem como do papel das enzimas e seu controle nessas reações. 11 BIOQUÍMICA METABÓLICA Unidade I 1 ENZIMAS Enzimas são exemplos de proteínas, que coordenam as reações químicas, pois são responsáveis pela catálise, isto é, deixam as reações mais rápidas. Apesar de serem exemplos de proteínas, não são estudadas a fundo em bioquímica estrutural por seu papel importante no metabolismo. Hormônios como insulina ou adrenalina, ATP, metabólitos como glicose, citrato, entre outros, podem ativar essas enzimas ou inibi-las, controlando a velocidade das vias metabólicas e, por consequência, o metabolismo como um todo. Se uma via for ativada, formará muito produto, e, ao contrário, pode não formar produto suficiente para as reações subsequentes, e a via em questão ou esse determinado metabolismo (pode ser de carboidrato, proteínas, lipídeos, heme) ficará prejudicado. Essa é a razão de estarmos estudando enzimas nesse contexto da bioquímica metabólica: as enzimas irão comandar o metabolismo mediante a substância (efetuador) que se ligará a ela. Observação As enzimas são proteínas, mas em 1981 foi descoberto um tipo com características diferentes das já conhecidas: as ribozimas, moléculas de RNA com capacidade autocatalítica semelhante às enzimas, também chamada RNA catalítico, descritas em vírus, procariotos e em eucariotos. Estão relacionadas com o processamento ou maturação do RNA e a síntese de proteínas. Os pesquisadores Altman e Cech ganharam o Prêmio Nobel de Química, em 1989, pela descoberta dos RNAs catalíticos. Acredita-se que podem ter papel na terapêutica de doenças, podendo ser usadas na inativação de oncogenes celulares e de alguns retrovírus, como o vírus da aids. A função dessa pequena molécula de catalisar reações levou a especulações sobre a origem da vida, e alguns cientistas acreditam que a vida não teria começado a partir de proteínas, e sim no RNA, ou seja, seria a primeira forma de vida na Terra e que depois teria sido englobada por uma membrana celular, formando DNA e proteínas e, portanto, dando início à primeira célula procariota. 12 Unidade I Saiba mais Para mais detalhes sobre enzimas e, especificamente, sobre ribozimas, leia o artigo: CECH, T. R. RNA as an enzyme. Scientific American, v. 255, n. 5, p. 76-84, 1986. Por definição, enzimas são catalizadores biológicos de alta especificidade. Mas o que significa isso? • Catalizadores: aumentam a velocidade da reação. • Biológico: provêm de um ser vivo. • Alta especificidade: catalisam uma reação específica. Para que ocorra o aumento da velocidade, a enzima deve promover a diminuição da energia de ativação (energia necessária para que os reagentes cheguem ao estado de transição e ocorra a reação química), tornando o caminho menor e mais rápido (figura a seguir). Energia Estado de transição Reagentes Ea sem catalisador Ea com catalisador Produtos Caminho da reação Figura 1 – Gráfico da energia versus caminho da reação; com enzima, a energia para chegar no estado ativado é menor, o que leva a uma maior velocidade para gerar produtos 13 BIOQUÍMICA METABÓLICA Podemos dizer que as enzimas alteram a velocidade e a energia de ativação, e não alteram a natureza das reações (se a reação é endotérmica, não a torna exotérmica), não muda as concentrações finais das reações (se é 1A → 1B não vai mudar para 1A → 100B) nem a constante de equilíbrio (que depende das concentrações dos produtos e reagentes), entalpia (ΔH) e entropia (ΔG). O substrato (também chamado reagente) será a substância que irá se modificar pela ação da enzima, logo após se ligar ao local especial chamado sítio ativo ou catalítico. Sabendo-se que a enzima é uma molécula polipeptídica que apresenta estrutura terciária ou quaternária, enovelada, ou seja, tem forma ou estrutura tridimensional globosa, como uma esfera que terá uma depressão que se encaixa ao substrato, os aminoácidos do sítio ativo direcionam o substrato, o posicionam corretamente no sítio ativo para que seja corretamente modificado,por exemplo: aminoácidos negativos do sítio ativo da enzima posicionam regiões positivas do substrato de tal forma a combinarem com esse local. Enzima Substrato Sítio ativo Figura 2 – Esquema de encaixe de um substrato no sítio ativo da enzima Para entender como se mede a quantidade da enzima (medida em concentração de atividade enzimática: U/mL) em uma amostra biológica, temos que entender o que é atividade enzimática. Por definição da bioquímica, segundo a International Union of Biochemistry and Molecular Biology (IUBMB) e a International Union of Pure and Applied Chemistry (Iupac): 1 unidade (1U) de atividade enzimática corresponde à quantidade de enzima que catalisa uma reação que formará 1 micromol de produto por um determinado período de tempo em condições padrões. Existem muitas enzimas com especificidades diferentes para diferentes reações. Há ocasiões em que se precisa ter sua atividade muito maior (mais rápida) ou menor (mais lenta), então as enzimas precisam sofrer regulação da sua atividade ou velocidade por substâncias, como hormônios, metabólitos, NADH, ATP, por exemplo, que irão modular sua velocidade, aumentando ou diminuindo a velocidade de reações pertencentes a uma determinada via metabólica em que se insere. 14 Unidade I Observação Enzimologia é a parte da bioquímica que estuda o comportamento das enzimas nas reações. Muitas reações são extremamente lentas, mas nosso corpo precisa dos produtos imediatamente para outras reações, pois eles serão substratos de outras enzimas, criando uma rede de reações que chamamos de metabolismo (ou via metabólica). As enzimas, como as outras proteínas, podem ser separadas para serem estudadas (por carga, tamanho ou solubilidade) e usadas para várias finalidades, desde farmacológicas até para outros usos, como, por exemplo, amaciamento da carne (feito pela bromelina encontrada no abacaxi), amilase usada para branqueamento de peças de roupa e amaciamento de tecidos, renina na coagulação de leite para obtenção de queijo etc. Algumas enzimas requerem ligação a moléculas não proteicas chamadas cofatores, para que possam exercer a sua atividade. Os cofatores são íons metálicos, como Ca2+, Zn2+, que irão para o sítio ativo e estão envolvidos na reação catalítica. Pode acontecer de a enzima precisar de mais ajuda para a catálise: as coenzimas, que são pequenas moléculas que transportam grupos químicos de um substrato para outro. Alguns exemplos são as vitaminas do complexo B, compostos que não são sintetizados no organismo (vêm da dieta), como riboflavina, tiamina e o ácido fólico, podendo ser encontradas também em substâncias como NADH, NADPH, FADH2. 1.1 Classificação e nomenclatura As enzimas são classificadas nos seguintes grupos, conforme o tipo de reação química que catalisam: • Oxidorredutases: reações de oxidação-redução ou transferência de elétrons. Exemplo: desidrogenases e oxidases. • Transferases: transferência de grupos funcionais, como amina, fosfato, acil e carboxila. Exemplo: quinases e transaminases. • Hidrolases: reações de hidrólise. Exemplo: peptidases. • Liases: reações de quebra de ligações covalentes e a remoção de moléculas de água, amônia e gás carbônico. Exemplo: dehidratases e descarboxilases. • Isomerases: reações de interconversão ou isomerização entre isômeros óticos ou geométricos (cis/trans). Exemplo: epimerases. • Ligases: reações de formação de novas moléculas a partir da ligação entre duas pré-existentes. Exemplo: sintetases. 15 BIOQUÍMICA METABÓLICA Observação As enzimas de restrição ou endonucleases de restrição são produzidas por bactérias. Seu descobrimento aconteceu pois pesquisadores perceberam que as bactérias resistiam à infeção dos vírus ou outras bactérias produzindo enzimas que clivavam o DNA viral ou bacteriano, fragmentando-o em porções inofensivas, por isso as chamam de tesouras moleculares. Essas enzimas não conseguiam fazer o mesmo com o DNA da produtora, pois havia alguma modificação nesse DNA (por exemplo, um grupamento acetil ou metil) que não permitia o reconhecimento da endonuclease na bactéria que a produziu. Atualmente são usadas comumente em biologia molecular, principalmente quando se pensa em clonagem molecular. Essas enzimas clivam em sequências específicas compostas por 4-6 nucleotídeos, por exemplo, a enzima EcoRI (que tem esse nome por que vem de Escherichia coli cepa RI), e tem como sequência de reconhecimento 5’GAATTC 3’CTTAAG. 1.2 Cinética enzimática: fatores que alteram a velocidade de uma reação enzimática A parte da enzimologia que estuda a velocidade das reações se chama cinética enzimática. Há vários fatores que podem influenciar na reação enzimática, como quantidade de sais e composição de solvente, mas entre os principais fatores que alteram a atividade ou velocidade das enzimas, estão: temperatura, pH, concentração da enzima e do substrato. • pH: cada enzima possui uma faixa de pH considerada ideal. Nessa faixa, a velocidade (atividade) é máxima. Caso a enzima seja submetida a extremos, o pH pode sofrer desnaturação e perder a estrutura. Como toda proteína, as enzimas também são sensíveis a variações de pH, mas podemos encontrar enzimas que suportam faixas de pH extremamente baixos, entre 0,1 e 5,4, como bactérias acidófilas, como a Helicobacter pylori, que pode colonizar a parede estomacal ou suportar faixas de pH entre 8,5 e 11,5 (chamadas bactérias alcalinófilas como a Vibrio cholerae) apresentando um crescimento ótimo em pH 9. pH ótimo Vmax V pH Figura 3 – Existe uma faixa de pH em que a velocidade é máxima (temperatura ótima) 16 Unidade I • Temperatura: cada enzima possui uma faixa de temperatura considerada ideal. Nessa faixa, a velocidade (atividade) é máxima. Temperaturas extremamente altas podem desnaturar as enzimas, enquanto temperaturas baixas (por exemplo, 0 °C) preservam sua atividade. Temperatura ótima Vmax V Temperatura Figura 4 – O gráfico é semelhante ao do pH versus velocidade; algumas espécies de bactérias encontradas em fontes termais toleram temperaturas de até 110 °C Observação Certas bactérias, como Bacillus stearothermophilus (agora chamado Geobacillus stearothermophilus), encontradas em pilhas de adubo orgânico, crescem otimamente entre 65 °C e 75 °C. Os esporos dessa bactéria são utilizados para validar os processos de esterilização nas indústrias alimentícia e farmacêutica, sendo uma das principais ferramentas da garantia de qualidade, pois controla o funcionamento de autoclaves em laboratórios de microbiologia e processos de esterilização em geral. Operações de esterilização em que ocorra crescimento de esporos sobreviventes nesse indicador biológico (Bacillus stearothermophilus), após passagem por autoclave, irão mostrar a ineficiência da esterilização O organismo mais importante a ser destruído em enlatados ou em conserva é o microrganismo anaeróbio Clostridium botulinum, pequenos bacilos gram-positivos capazes de produzir neurotoxina letal muito potente que desencadeia paralisias musculares, podendo levar o indivíduo a morte. • Concentração da enzima: quanto maior a concentração da enzima, maior será a velocidade da reação (por exemplo 1 ug de enzima = velocidade, 2 ug = 2 v, 3 ug = 3 v). 17 BIOQUÍMICA METABÓLICA V 1v 2v 3v 2E1E 3E [E] Figura 5 – Gráfico da concentração da enzima ([E]) versus velocidade (V) • Concentração do substrato: quanto maior a concentração da enzima e do substrato, maior será a velocidade da reação. [S] V Vmax/2 KM maxV Figura 6 – Gráfico da concentração de substrato ([S]) versus velocidade; esse gráfico foi descrito por Leonor Michaelis e Maud Menten, e por essa razão é chamado gráfico de Michaelis e Menten Nesse gráfico podemos verificar que quanto mais aumenta a quantidade de substrato, mais aumenta a velocidade da enzima no substrato, quase chegando à velocidade máxima (falamos que tende a determinado ponto, que há tendência, ao ponto de velocidademáxima). Michaelis e Menten verificaram que há um ponto extremamente importante: é o ponto que converge a metade da velocidade máxima ( 1 2 Vmax) para uma quantidade de substrato, que se chama KM (KM = [S]). Esse ponto se chama constante de Michaelis-Menten e é característico de cada enzima e pode ser usado como uma medida da afinidade da enzima pelo substrato. Quanto menor o KM, mais forte é a ligação do substrato pela enzima, ou seja, irá precisar de menor quantidade de substrato para chegar na metade da velocidade máxima. Em seus estudos com cinética enzimática, Michaelis-Menten descrevem o que ocorre numa reação enzimática desta forma: E +S ↔ ES → E + P 18 Unidade I Analisando a reação, percebemos que a enzima (E) liga-se ao substrato (S) para formar um complexo enzima-substrato (ES), que se separa em enzima e produto (P). Sabendo-se que ocorre um equilíbrio químico, podemos igualar as velocidades e arrumar os componentes chegando à equação de Michaelis e Menten, que mostra qual é a velocidade em qualquer momento da reação, se soubermos parâmetros como Vmax, KM e [S]: v V S K Sm = [ ] + [ ] max A representação gráfica da velocidade da reação em função da concentração de substrato é uma hipérbole, onde 1 2 da velocidade máxima corresponde ao KM, que é uma determinada concentração de substrato ([S]). 1.3 Inibidores da atividade enzimática Substâncias (que podem ser desde venenos até medicamentos) podem inibir a atividade da enzima. Algumas substâncias tóxicas, como pesticidas, agrotóxicos, toxinas de plantas ou animais podem parar completamente alguma enzima, e a reação em que ela age fica totalmente prejudicada, ocorrendo o bloqueio de uma única reação que afetará toda a sequência de reações, pois não irá ser gerado o produto que será substrato da outra reação seguinte. Essa inibição enzimática pode ocorrer caso a enzima tenha sofrido alguma mutação e não esteja fazendo a catálise corretamente, ou seja, sem controle hormonal ou de metabólitos que possam modular sua velocidade. Nesse caso, medicamentos podem fazer essa função e diminuir drasticamente sua velocidade, levando o paciente a ter vida normal, pois haverá controle da enzima. Analisando-se onde e como é feita a ligação entre o inibidor e a enzima, podemos dividir os inibidores em dois tipos: reversível e irreversível. Na inibição irreversível, a atividade enzimática é definitivamente inativada, pois a ligação desse inibidor com a enzima é do tipo covalente (ligação forte e mais estável), alterando a atividade catalítica de forma permanente. Esse inibidor é chamado de suicida, pois vai ser degradado junto à enzima quando for o momento dela ser degradada. Observação O íon cianeto (CN−) é inibidor irreversível da enzima citocromo oxidase, que é ligada ao processo de respiração celular. Caso inativada, a célula não respira e morre. Muitas mortes e envenenamentos são devidos ao mau uso de agrotóxicos com carbamatos e organofosforados que são inibidores potentes da enzima 19 BIOQUÍMICA METABÓLICA acetilcolinesterase (enzima que cliva a acetilcolina, neurotransmissor do sistema nervoso). Acumulando acetilcolina na fenda sináptica ocorre estimulação contínua dos receptores provocando desde lacrimejamento, micção, diarreia até paralisia e hipertensão. Várias plantas com flores muito bonitas são causadoras de envenenamentos do gado brasileiro, como o cafezinho (Palicourea marcgravii), uma das plantas tóxicas mais perigosas do Brasil. Também é chamado café-bravo, café-do-mato, erva-brava, erva-de-gado, erva-de-rato. Essa planta tem ácido monofluoracético, que inibe a enzima aconitase do ciclo de Krebs, levando à falência respiratória e cardíaca do gado e dos seres humanos. Na inibição reversível, o inibidor se liga à enzima por ligações fracas, instáveis, que podem ser facilmente rompidas, e a enzima volta a catalisar como antes. Nessa inibição iremos estudar a competitiva e não competitiva. Na inibição competitiva, como o próprio nome diz, o inibidor compete com o substrato pelo sítio ativo, pois ambos têm uma estrutura muito parecida com a do substrato da enzima, e como está em maior quantidade, ele é que toma o espaço no sítio ativo, e dessa forma a enzima não catalisa o substrato. Então a afinidade (KM) da enzima para com o substrato irá ser modificada, mas a velocidade máxima não. Observação As estatinas, fármacos hipolipemiantes que agem reduzindo os níveis plasmáticos de colesterol total e LDL-C colesterol, e que auxiliam no tratamento da aterosclerose, são um exemplo de medicamento que tem como mecanismo de ação a inibição competitiva da HMG-CoA redutase, enzima responsável pela formação de colesterol pelo fígado e, consequentemente, pela formação das lipoproteínas plasmáticas, como, por exemplo, LDL-C colesterol, diminuindo o processo de formação de ateroma. Os pacientes devem periodicamente fazer exames laboratoriais para controlar efeitos adversos no fígado ou músculos. Outros exemplos são o fármaco alopurinol, que é inibidor da enzima da síntese de ácido úrico, xantina oxidase, controlando a doença gota úrica, e o metotrexato, fármaco antineoplásico que impede a síntese de purinas e pirimidinas, e, portanto, DNA e RNA, eficaz no tratamento de leucemias, pois inibe competitivamente a enzima di-hidrofolato redutase. 20 Unidade I Na inibição não competitiva, o inibidor pode ligar-se tanto à enzima (em um sítio que não é o sítio ativo) ou ao complexo enzima-substrato. Nesse caso, a ligação do inibidor com a enzima não impede que haja a ligação da enzima com o substrato, ou seja, a afinidade não é modificada (KM), mas atrapalha na velocidade de catálise bruscamente (muda a velocidade máxima) pois há mudança na forma da enzima, impedindo a formação do produto da reação. Observação Como exemplo de inibição não competitiva, podemos citar medicamentos do coquetel anti-aids (ou Haart – terapia antirretroviral altamente ativa), aprovados pelo FDA: delavirdina (Rescriptor®), efavirenz (Sustiva®) e nevirapina (Viramune®), sendo que a nevirapina é um dos poucos fármacos utilizados para prevenir a transmissão do HIV de mãe para filho. São exemplos de inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa do HIV (NNTRs) e afetam a reação que ocorreria no sítio ativo da enzima do vírus. Existem muitos tratamentos terapêuticos que se baseiam na inibição enzimática. Vários antibióticos combatem infecções por bactérias através da inibição irreversível de enzimas desses microrganismos. A penicilina, por exemplo, inibe a atividade da enzima transpeptidase, indispensável à formação da parede celular bacteriana. Com a inativação dessa enzima, a bactéria não tem como fabricar a parede celular, o que impede a sua reprodução. As células animais, por sua vez, não utilizam essa enzima em seu metabolismo, por isso a penicilina não causa mal ao organismo humano (exceto em situações de alergia). Quando não há mais bactéria, para-se o medicamento. 1.4 Gráficos de Lineweaver-Burk Os estudos enzimáticos geralmente são realizados com os gráficos de Michaelis-Menten (gráficos de MM), mas, na prática, é difícil obter o valor da velocidade máxima (Vmax) com precisão (lembra-se que há tendência de chegar à velocidade máxima?). Hans Lineweaver e Dean Burk, analisando o gráfico de MM, perceberam que poderia ser realizada a inversão de velocidade 1 v e de substrato [ ] 1 S e dessa forma iria gerar uma reta a partir da curva do gráfico de Michaelis Menten. Essa reta corta o eixo da velocidade mostrando o ponto 1 Vmax , e dessa forma esse gráfico tem a grande vantagem sobre o gráfico de MM, pois o valor aparece com muita clareza. Da mesma maneira, quando corta o eixo [ ] 1 S , teremos o ponto M 1 K − e facilmente conseguimos saber o valor de KM. 21 BIOQUÍMICA METABÓLICA [ ] 1 S M 1 K − 1 Vm 1 v Figura 7 – A linearização do gráfico de Michaelis-Menten gera uma reta que é o gráficode Lineweaver-Burk, em que podemos verificar o número exato da velocidade máxima 1 Vmax e o KM M 1 K − 1.5 Enzimas alostéricas e isoenzimas 1.5.1 Enzimas alostéricas São as chamadas enzimas marca-passo, pois elas controlam a velocidade de todas as reações de uma determinada via. Não obedecem à cinética de Michaelis-Menten (a curva da velocidade versus [S] é sigmoide (como é possível ver na figura a seguir). V [S] Hipérbole (Michaelis-Menten) Sigmoide (alostérica) Figura 8 – Representação das curvas das sigmoide e hipérbole de enzimas do tipo Michaelis-Menten e alostérica Essas enzimas têm, além do sítio ativo, outro sítio chamado alostérico ou regulatório, em que uma substância (hormônio, ATP, NADH, metabólito) pode se ligar, e modificando o sítio ativo pode facilitar (ativar) a enzima para uma reação ou atrapalhar a entrada do substrato na enzima (inibir). 1.5.2 Isoenzimas São enzimas que diferem na sequência de aminoácidos, mas que catalisam a mesma reação química em órgãos diferentes. Isso ocorre para que funcione de formas distintas em vários compartimentos do corpo, ajustando a velocidade da reação para determinado metabolismo. Podemos citar a creatina quinase (ou creatina cinase), o lactato desidrogenase e a fosfatase alcalina. A creatina quinase é um dímero com dois tipos de subunidades, M (muscular) e B (cerebral). No musculoesquelético, as duas subunidades são do tipo M (CPK3 ou CKMM), no cérebro as duas unidades são do tipo B (CPK1 ou CKBB), mas no miocárdio encontramos as duas subunidades: M e B (CPK2 ou CKMB). Consegue-se separar os três tipos por diferentes mobilidades na eletroforese. Essa enzima catalisa a formação de energia (ATP) a partir de creatina fosfato gerando creatinina. 22 Unidade I A lactato desidrogenase (LD ou LDH) é tetramérica, ou seja, contém 4 subunidades de 2 tipos diferentes: H, para o coração e M para o musculoesquelético, gerando 5 formas dessas isoenzimas: LDH1 (HHHH), presente no coração; LDH2 (HHHM), encontradas no miocárdio e nos eritrócitos; LDH3 (HHMM), no cérebro e rim; LDH4 (HMMM); e, por fim, LDH5 (MMMM), encontrada no fígado e musculoesquelético. Essa enzima catalisa a reação de piruvato para lactato (reversível), dessa forma, podemos dizer que ela será acionada quando não tiver muita oferta de oxigênio para a célula. A fosfatase alcalina pode ser encontrada no osso, no fígado, no intestino e na placenta, durante a gravidez. A fosfatase alcalina óssea é marcador da atividade osteoblástica, ou seja, destruição óssea, que geralmente ocorre no câncer ósseo. A isoenzima de origem hepática (ALP1) é termoestável, enquanto a fração óssea (ALP2) é inativada pelo calor. A determinação laboratorial da fosfatase alcalina, quando analisada com outros parâmetros e outras enzimas, pode ajudar no diagnóstico de doenças de ossos ou fígado. Essa enzima faz desfosforilação, ou seja, remove grupos fosfato de algumas moléculas, como proteínas ou nucleotídeos e atua em pH alcalino. 1.6 Enzimologia clínica Em algumas doenças, a atividade de certas enzimas é modificada, geralmente aumentadas se comparadas ao normal. As enzimas podem ser quantificadas no plasma sanguíneo, líquido cefalorraquidiano, urina e exsudatos, e sua atividade deve ser comparada ao valor de referência liberado pelos laboratórios que comercializaram o kit de determinação da enzima. Sua medida colabora com o auxílio diagnóstico nos processos patológicos, pois quando um órgão tem alguma alteração (patologia), suas atividades são modificadas e liberadas para o exterior da célula e daí para o sangue, como no caso de lesão tecidual provocada por processos patológicos que levam ao aumento na permeabilidade celular ou morte da célula. Observação Embora a maioria das enzimas funcione dentro das células, há algumas que funcionam no sangue como as relacionadas à formação e degradação de coágulos. Algumas enzimas são rotineiramente medidas em laboratório clínico, como no quadro a seguir: 23 BIOQUÍMICA METABÓLICA Quadro 1 – Apresentação de algumas enzimas e relação com algumas patologias Enzima Patologia relacionada com o aumento no plasma Amilase Enfermidade no pâncreas, parotidite Creatina cinase (CK) Enfermidades musculares, cardíacas e cerebrais Fosfatase ácida Enfermidades na próstata Fosfatase alcalina Enfermidades hepáticas, doenças ósseas Lactato desidrogenase (LD) Enfermidade hepática, cardíaca, renal, hemólise Lipase Enfermidades pancreáticas Gama glutamil transferase (γ GT) Enfermidades hepáticas Transaminase glutâmico oxalacética (TGO ou AST) Enfermidades hepáticas, cardíacas, musculares, renais Transaminase glutâmico pirúvica (TGP ou ALT) Enfermidades hepáticas A amilase é uma enzima produzida pela glândula parótida ou pelo pâncreas, portanto, caso haja aumento dessa enzima no sangue, poderá ser por patologia no pâncreas (por exemplo, pancreatite) ou se tiver aumento no tamanho de uma ou mais glândulas salivares (geralmente a parótida, mas pode ser também glândulas sublinguais ou submandibulares). A enzima lipase é produzida no pâncreas e seu aumento no sangue, junto à amilase, denotam com certeza problemas pancreáticos. Fosfatase ácida é uma enzima produzida na próstata, e quando há aumento nesse local, há extravasamento dessa enzima para o sangue. Apesar de ser um bom marcador de problemas prostáticos, há uma glicoproteína chamada PSA, que é mais específico e mais sensível. Gamaglutamiltransferase (γ-GT) é uma enzima hepática, que além de outras funções, transfere aminoácidos e grupamento glutamil pela membrana celular para peptídeos. TGO e TGP são enzimas encontradas em vários órgãos, mas principalmente no fígado. TGO é encontrada dentro das mitocôndrias, enquanto TGP é citoplasmática. Quando há lesão hepática é liberada, primariamente, a TGP, e quando essa lesão é grave, por exemplo, com necrose onde as organelas são degradadas, a mitocôndria libera TGO no sangue. Creatina cinase, lactato desidrogenase e fosfatase alcalina já foram explicadas no item Isoenzimas. 1.7 Erros metabólicos hereditários Os erros inatos do metabolismo (EIM) ocorrem quando uma determinada enzima não é produzida corretamente, geralmente por mutação no DNA que se prolifera para o RNAm e a proteína (enzima). Esse defeito genético que levou a um defeito enzimático pode até interromper uma via metabólica, e os produtos dessa via não serão sintetizados, levando às doenças metabólicas hereditárias (DMH), que correspondem a cerca de 10% de todas as doenças genéticas. 24 Unidade I Geralmente ao nascer, as crianças portadoras com EIM parecem normais e algum fator externo inicia as manifestações agudas diagnosticadas em laboratório clínico. Dependendo do erro inato do metabolismo e da substância acumulada, tem-se a terapêutica que vai desde dieta até transplante de medula óssea. 1.7.1 Fenilcetonúria e albinismo A fenilcetonúria é uma doença genética, autossômica e recessiva, em que a enzima fenilalanina hidroxilase está mutada e dependendo do tipo de mutação poderá ocorrer a ausência ou deficiência desta enzima, que não faria a transformação da fenilalanina em tirosina e, dessa forma, a via ficaria toda prejudicada. • Fenilalanina • Tirosina • L-Dopa • Dopamina • Norepinefrina • Epinefrina Fenilalanina hidroxilase Figura 9 – Esquema da transformação de fenilalanina até adrenalina Com esse aumento das moléculas de fenilalanina do sangue, ocorre a transformação destas em ácido fenilpirúvico, que pode ir para a urina pelo sangue e para outros órgãos, mostrando-se tóxica, inclusive no cérebro. Caso a doença não seja diagnosticada com o teste do pezinho (do Programa Nacional de Triagem Neonatal do Ministério da Saúde), seu início poderá ser manifestado clinicamente em torno do 3o ou 4o mês de vida, quando a criança começa a apresentar atraso global do desenvolvimento neuropsicomotor, irritabilidade ou apatia, convulsões, coceiras crônicas, coloração esbranquiçada na pele (hipopigmentaçãocutânea), e se não tratada, chega ao retardo mental. Observação Adoçantes artificiais, como sacarina, ciclamato de sódio, aspartame e outros, são usados por diabéticos para substituir o açúcar, mas pessoas que querem emagrecer utilizam esses produtos também. Alimentos light são aqueles que têm uma redução de 25% de um ingrediente em relação ao original. Alimentos diet são aqueles que não têm algum componente nutricional, como gordura ou açúcar. Dessa forma, diabéticos não deveriam consumir produtos light e sim diet. 25 BIOQUÍMICA METABÓLICA O aspartame (criado nos Estados Unidos em 1965) é formado pela união de dois aminoácidos: ácido aspártico e fenilalanina, resultando em um produto doce que substitui o açúcar, mas fenilcetonúricos não podem ingerir, pois já possuem fenilalanina no organismo, o que agravaria muito sua condição Caso faça corretamente a dieta livre de fenilalanina, a criança pode ter desenvolvimento e expectativa de vidas normais. 1.7.2 Albinismo O albinismo provém de falha na produção de melanina. Para que ocorra, tanto o pai como a mãe irão passar os genes defeituosos para os filhos (herança autossômica recessiva). Sua natureza genética afeta a atividade da enzima tirosinase, podendo ser classificado em: tirosinase-negativo (quando não há produção de melanina) e tirosinase-positivo (quando há pequena produção de melanina), e por consequência, ausência parcial ou total de pigmentos na pele, nos cabelos e nos olhos. Esse pigmento serve como barreira natural contra as radiações solares e sua falta pode provocar fotossensibilidade, queimaduras e câncer de pele. Não compromete o desenvolvimento físico e mental de seus portadores. O albinismo pode ocorrer também em animais (que sofrem mais facilmente o ataque de predadores e da energia solar) e plantas (que não produzem pigmento clorofila e vivem com o armazenamento de substâncias energéticas que estão presentes nas sementes). • Fenilalanina • Tirosina Tirosinase Tirosinase • L-Dopa Melanina Figura 10 – Esquema da produção de melanina e criança da raça negra e albina 26 Unidade I Lembrete O albinismo acomete seres humanos, animais e plantas. 1.7.3 Galactosemia É a deficiência em enzimas que são usadas na conversão da galactose no sangue, entre elas a galactose-1-fosfato-uridil transferase devido à herança autossômica recessiva. Após a amamentação, aparecem vômitos, hepatomegalia, crescimento deficiente, letargia, diarreia e disfunção renal, que levam à acidose metabólica. A restrição da galactose da dieta, que tem como fonte principal o carboidrato lactose, é o tratamento principal. 1.7.4 Doença de von Gierke ou glicogenose tipo I Esse distúrbio metabólico hereditário autossômico recessivo leva ao acúmulo de glicogênio por causa da deficiência da enzima glicose-6-fosfatase, que é responsável por liberar glicose a partir do glicogênio (glicogenólise), acumulando-o no fígado (leva a hepatomegalia) e nos rins (nefromegalia), podendo acarretar convulsões, irritabilidade, tremores, desmaios. O diagnóstico ocorre por hipoglicemia, aumento de ácido láctico, colesterol, ácidos graxos, triglicérides, fosfolípides e ácido úrico. O tratamento é a prevenção da hipoglicemia e da acidose láctica, sendo que a dieta deve ter alimentos ricos em glicose ou amido. 1.7.5 Cretinismo A ausência do hormônio tiroxina (hormônio proteico com moléculas de iodo) afeta o amadurecimento cerebral, levando à deficiência mental pelo hipotireoidismo congênito, que pode ser por deficiência enzimática durante o desenvolvimento do hormônio da tireoide. É possível identificar a doença por meio do teste do pezinho. Epiglote Cartilagem tireóidea Glândulas paratireóideas superiores Glândula tireóidea Glândulas paratireóideas inferiores Traqueia Figura 11 – Desenho esquematizado da tireoide 27 BIOQUÍMICA METABÓLICA 2 CARBOIDRATOS Por que nos alimentamos? Nos alimentamos para gerar energia para nossas células. E de que modo nossas células produzem energia? Elas produzem energia na forma de adenosina trifosfato (ATP) a partir da oxidação de macronutrientes (carboidratos, lipídios e proteínas) por meio de reações que constituem o metabolismo. Essas reações de degradação (catabolismo) dos macronutrientes em moléculas menores e de construção (anabolismo) que permitem a formação de macromoléculas são reguladas por enzimas, vitaminas, sais minerais e hormônios. Então estudaremos como essas reações químicas de conversão de uma molécula em outra ocorrem em nossas células. Metabolismo Anabolismo Construção de moléculas complexas a partir de moléculas simples Consumo de ATP Degradação de moléculas mais complexas em moléculas simples Produção de ATP Catabolismo Figura 12 – Interdependência do anabolismo e do catabolismo Em bioquímica estrutural, cita-se como exemplo a ingestão de um café da manhã com pão, biscoitos, bolo, mel e leite. Já sabemos como esses carboidratos são classificados quanto à complexidade, agora iremos compreender a sua digestão até que possam atingir a corrente sanguínea e serem utilizados por todas as células do organismo. Por questões didáticas, iremos estudar a digestão dos macronutrientes de forma individualizada, mas ressaltamos que estes são digeridos ao mesmo tempo, às vezes não compartilham o mesmo local de digestão e demandam enzimas distintas. 2.1 Digestão dos carboidratos Na cavidade bucal, o amido é degradado em dextrinas de amido pela enzima alfa-amilase (ptialina), que quebra as ligações α-1,4 da molécula de amido. No intestino, as moléculas de dextrina de amido continuam a ser degradadas pela amilase pancreática em moléculas de maltose. E a maltose é hidrolisada em duas moléculas de glicose. A glicose (monossacarídeo) pode ser absorvida para a corrente sanguínea através das células do intestino delgado. A digestão da sacarose (dissacarídeo) ocorre no intestino delgado na presença da enzima sacarase e origina produtos como glicose e frutose (monossacarídeo), que são absorvidos para a corrente sanguínea. O leite contém outro açúcar, a lactose, que também é um dissacarídeo, e a degradação depende da lactase. Nesse caso, os produtos gerados são glicose e galactose. E a digestão da frutose? É um monossacarídeo, então ela é prontamente absorvida pelas células intestinais. 28 Unidade I Lactose Lactose Glicose Glicose Galactose Glicose Amido Maltose Sacarose Sacarose Glicose Frutose Lactase SacaraseAmilase pancreática α-amilase Dextrinas de amido Maltase+ + + Moléculas simples absorvidas Figura 13 – Digestão de carboidratos Saiba mais Alguns indivíduos apresentam intolerância à lactose. A sua má absorção ocorre em virtude da inatividade ou ineficiência da lactase. Os indivíduos intolerantes à lactose apresentam flatulência, dores abdominais e diarreia. Vale a pena a leitura do artigo: DENG, Y. et al. Lactose intolerance in adults: biological mechanism and dietary management. Nutrients, v. 7, n. 9, 8020-8035, 18 set. 2015. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4586575/ pdf/nutrients-07-05380.pdf. Acesso em: 29 jun. 2020. 2.2 Transportadores de glicose Uma vez na corrente sanguínea, como a glicose entra nas células? Ela não pode difundir-se através dos poros da membrana, pois é muito grande. Seu peso molecular é de 180 kDa e o máximo das partículas permeáveis é cerca de 100 kDa. Existem dois tipos de mecanismos de transporte de glicose através da membrana: facilitado, mediado por transportadores de membrana específicos (GLUT, do inglês glucose transporter), e o cotransporte, com o íon sódio (SGLT, do inglês sodium glucose transporter). 29 BIOQUÍMICA METABÓLICA Glicose Glicose Célula Transportador de glicose Sódio-potássio ATPase Na+ Na+ Na+ K+ K+ Figura 14 – Transportador de glicose Existe uma família de transportadores (atualmente é proposta a existência de doze tipos de transportadores) que diferem quanto às características funcionais e distribuiçãotecidual e que podem transportar outros monossacarídeos, com estruturas semelhantes à da glicose, incluindo, especialmente, a galactose. A maioria das células expressa um número diferente de GLUTs em proporções distintas. E a atividade dos GLUTs pode ser regulada ou não pela insulina. Assim, a quantidade de glicose passível de se difundir para o interior da maioria das células, na ausência de insulina, é insuficiente para o metabolismo energético. Nessas células, o transporte de glicose é dependente de insulina (ver figura a seguir). Nos hepatócitos e nos neurônios, a entrada de glicose também é mediada pelos GLUTs, entretanto, não é dependente de insulina. Insulina Receptor de insulina Glicose Insulina ligada ao receptor Transportador de glicose aberto Transportador de glicose fechado Célula Célula Figura 15 – Entrada de glicose na célula mediada pela insulina No epitélio intestinal e tubular renal, o transporte de glicose ocorre contra gradiente e acoplado ao sódio na membrana apical das células através dos cotransportadores (SGLT1-SGLT2), com posterior difusão facilitada para o interstício através de GLUTs presentes na membrana basolateral. 30 Unidade I Vejamos as características de alguns GLUTs: • O transportador de glicose tipo 1 (GLUT1) está amplamente distribuído pelas células, e realiza o transporte basal de glicose celular. Está presente nos tecidos fetais, mas sua expressão está diminuída nos tecidos adultos. Não tem atividade alterada pela presença da insulina. • O transportador de glicose tipo 2 (GLUT2) está presente nos hepatócitos, células β pancreáticas, mucosa intestinal e rins. Possui alta afinidade com a glicose e não tem atividade modulada pela insulina. As células β pancreáticas detectam a variação da glicemia e iniciam automaticamente o controle da secreção de insulina, e em reposta o fígado capta ou libera glicose. • O transportador de glicose tipo 4 (GLUT4) é o mais abundante e está nas membranas celulares do musculoesquelético, cardíaco e tecido adiposo. É dependente de insulina. • O transportador de glicose tipo 5 (GLUT5) é uma proteína transportadora de frutose, com pequena ou nenhuma afinidade pela glicose. Desse modo, uma vez dentro das células, a glicose será utilizada com diferentes finalidades, dependendo do estado metabólico do organismo, ou seja, absortivo, pós-absortivo ou em jejum. A variação da glicemia (quantidade de glicose na corrente sanguínea) determina quais hormônios são produzidos e quais reações químicas estão favorecidas. Agora iremos estudar as vias metabólicas correspondentes ao metabolismo dos carboidratos. 2.3 Glicólise No balanço geral da glicólise (C6H12O6), ela produz duas moléculas de piruvato ou ácido pirúvico (C3H4O3), duas moléculas de ATP e duas moléculas de NADH, mas isso ocorre numa sequência de reações no citosol das células. Glicose 2 Piruvato 10 reações NAD+ 2NADH 2ATP ADP + Pi Figura 16 – Esquema simplificado da glicólise 31 BIOQUÍMICA METABÓLICA O ácido pirúvico é um composto orgânico que contém três átomos de carbono (C3H4O3). Dissocia-se em meio aquoso e forma o ânion piruvato, que é a forma sob a qual participa dos processos metabólicos. C C O O O O OH O– H+ C C CH3 Ácido pirúvico Piruvato CH3 Figura 17 – Diferença entre ácido pirúvico e piruvato Observação ATP é uma sigla usada para indicar a molécula de adenosina trifosfato (adenosine triphosphate). A molécula de ATP é formada por uma base nitrogenada adenina, uma ribose e por três grupos fosfato. A adenina ligada à ribose é chamada adenosina. Quando a adenosina está ligada a apenas dois grupos fosfato, temos a adenosina difosfato (ADP). O O O P P P CH2 –O O O H H O H ATP H OH OH O– O– O– N N NN NH2 O O P P CH2 –O O H H O H ADP H OH OH O– O– N N NN O NH2 Figura 18 – Moléculas de ATP e ADP Nicotinamida adenina dinucleotídeo (NADH), em inglês (nicotinamide adenine dinucleotide) é uma coenzima que pode estar no estado: NAD+ (oxidado) ou NADH (reduzido). 32 Unidade I H H O N O N+ NH2 NH2 Ribo Ribo ADP ADP NAD+ + H+ + 2e+ NADH Redução Oxidação H Figura 19 – Molécula de NADH; ribose (Ribo) • Reação 1: uma vez dentro da célula, a glicose é modificada para que não possa sair. E isso é possível a partir da reação de fosforilação pelo ATP, formando a glicose-6-fosfato. Essa reação é catalisada pela enzima hexoquinase ou glicoquinase (ver figura a seguir). O fosfato adicionado à glicose confere carga negativa à glicose e assim não permite que ela passe pela membrana plasmática. O magnésio é o cofator dessa reação. CH2OH Glicose Glicose-6-fosfato H H OH OH OH OH 6 5 4 1 23 H H O CH2O – P H H OH OH OH OH 6 5 4 1 23 H H O Hexoquinase ou glicoquinase ATP ADP Figura 20 – Conversão de glicose em glicose-6-fosfato O P dentro do círculo que aparece nas moléculas corresponde ao grupo fosfato PO4 -3. E a seta para cima indica que o ATP está sendo consumido na reação, e a seta para baixo indica que o ADP está sendo formado pela reação. A seta única da reação (→) indica que esta é irreversível. E quando a reação é reversível, pode ser representada pelas seguintes setas: ↔ ou ← → • Reação 2: ocorre a isomerização da glicose à frutose. Isso é possível pela ação da enzima fosfoglicoisomerase, que transforma a aldose da glicose em uma cetose. Fosfoglicoisomerase CH2O – P H H OH OH OH OH 6 5 4 1 23 H H O P –OCH2 CH2OH H HOH HO OH 5 4 2 3 Glicose-6-fosfato Frutose-6-fosfato O 16 Figura 21 – Conversão de glicose-6-fosfato em frutose-6-fosfato 33 BIOQUÍMICA METABÓLICA • Reação 3: a frutose-6-fosfato é então fosforilada pelo ATP e se transforma em frutose-1,6-bisfosfato com o auxílio da fosfofrutoquinase (FFK). Essa enzima é alostérica e é um dos pontos de regulação da glicólise. O magnésio é o cofator dessa reação. Fosfofrutoquinase –OCH2 –OCH2CH2OH CH2O– H H H HOH OH HO HOOH OH 5 5 6 6 4 4 2 2 1 1 3 3 Frutose-6-fosfato ATP ADP Frutose-1,6-bifosfato O O Figura 22 – Conversão de frutose-6-fosfato em frutose-1,6-bifosfato • Reação 4: a frutose-1,6-bisfosfato é clivada em duas moléculas: di-hidroxiacetona fosfato e gliceraldeído-3-fosfato. Essa reação é catalisada pela aldolase. P –OCH2 CH2O – P H HOH HO OH 5 6 4 2 1 3 Frutose-6-fosfato O Aldolase H H C C C CH2O CH2O CH2OH O O OH Di-hidroxiacetona fosfato Gliceraldeído 3-fosfato + P P Figura 23 – Quebra da frutose-1,6-bifosfato em gliceraldeído-3-fosfato e di-hidroxiacetona fosfato • Reação 5: apesar de serem formadas duas moléculas, é o gliceraldeído-3-fosfato que é utilizado na continuação da glicólise; por isso é necessário que a di-hidroxiacetona seja interconvertida a gliceraldeído-3-fosfato. Essa isomerização é catalisada pela triose-fosfato isomerase. Observe que existe uma seta com duplo sentido na isomerização, isso indica que o gliceraldeído-3-fosfato também pode ser convertido em di-hidroxiacetona, mas para que isso não ocorra, ele é prontamente consumido, e a conversão da di-hidroxiacetona para aldeído é favorecida. 34 Unidade I C CH2O CH2OH O Di-hidroxiacetona fosfato P H H C C CH2O O OH Gliceraldeído 3-fosfato P Triose-fosfato isomerase Figura 24 – Isomerização da di-hidroxiacetona fosfato • Reação 6: a molécula de gliceraldeído-3-fosfato é transformada em 1,3-disfosfoglicerato (1,3-BPG), em uma reação catalisada pelo gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase. Observe que uma molécula de NAD+ (coenzima no estado oxidado) foi reduzida a NADH (coenzima no estado reduzido). H H C C CH2O O OH Gliceraldeído 3-fosfato 1,3–difosfoglicerato P H C C CH2O O O OH P PGliceraldeído 3–fosfato desidrogenase Pi NAD+ NADH Figura 25 – Conversão de gliceraldeído-3-fosfato em 1,3-difosfoglicerato • Reação 7: é a primeira vez que forma um ATP. O 1,3-disfosfoglicerato se converte em 3-fosfoglicerato, em uma reação catalisada pelo fosfoglicerato quinase (vejafigura a seguir). A fosforilação ocorreu com a transferência do grupo fosfato diretamente do substrato. Essa reação forma 2 ATP por molécula de glicose. H COO– C CH2O OH 3-fosfoglicerato1,3–difosfoglicerato P H C C CH2O O O OH P P Fosfoglicerato quinase ADP ATP Figura 26 – Conversão do 1,3-difosfoglicerato em 3-fosfoglicerato • Reação 8: o fosfato do 3-fosfoglicerato é transferido do carbono 3 para o carbono 2, formando o 2-fosfoglicerato. Isso ocorre por que o composto 3-fosfoglicerato possui baixo potencial de transferência de substrato (veja figura a seguir). Para aumentar o seu potencial, o fosfato passa da posição 3 para a posição 2. 35 BIOQUÍMICA METABÓLICA H COO– C CH2O OH 3-fosfoglicerato P H COO– C CH2OH O 2-fosfoglicerato P Fosfoglicerato mutase Figura 27 – Mudança do radical fosfato da posição 3 para a posição 2 • Reação 9: para aumentar ainda mais seu potencial de transferência de fosfato, o 2-fosfoglicerato se transforma em fosfoenolpiruvato. H COO– C CH2OH O 2-fosfoglicerato P Fosfoenolpiruvato COO– C CH2 O P Enolase Figura 28 – Formação do fosfoenolpiruvato • Reação 10: o fosfoenolpiruvato se transforma em piruvato por ação da piruvato quinase (veja figura a seguir). Nessa reação, formam-se 2 ATP a partir do substrato. Essa reação é irreversível, devido ao alto valor de ΔG. Fosfoenolpiruvato COO– C CH2 O P Piruvato quinase ADP ATP Piruvato C C CH3 O O O– Figura 29 – Formação do piruvato Após o estudo individual das reações, podemos agrupá-las em dois momentos distintos: a fase preparatória da glicose e a de produção de energia. A fase preparatória da glicólise inicia-se na glicose e origina gliceraldeído-3-fosfato e di-hidroxiacetona. Nessa fase são gastos ATPs em duas fosforilações. Essa fase termina com a quebra da hexose em duas trioses. 36 Unidade I Glicose Glicose 6-fosfato Frutose 6-fosfato Frutose 1,6-dfosfato Gliceraldeído 3-fosfato Di-hidroxiacetona fosfato Hexoquinase ou glicoquinase Gasto de ATP Fosfoglicoisomerase Fosfofrutoquinase Gasto de ATP Fase preparatória Aldose Gliceraldeído 3-fosfato Triose-fosfato isomerase Gasto de 2 moléculas de ATP Figura 30 – Fase preparatória da via glicolítica Na de produção de energia: do gliceraldeído-3-fosfato até piruvato ocorrem duas reações de fosforilação em nível de substrato. Isso significa que a reação transfere não só energia livre ao ADP, mas também o próprio fosfato, necessário à síntese de 1 ATP. 2 (gliceraldeído 3-fosfato) 2 (1,3-difosfoglicerato) 2 (3-fosfoglicerato) 2 (2-fosfoglicerato) 2 (2-fosfoenolpiruvato) 2 (Piruvato) Gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase Produção de 2NADH Fosfoglicerato quinase Produção de 2 ATP Fosfoglicerato mutase Enolase Piruvato Quinase Produção de 2 ATP Fase de produção Produção de 2 moléculas de ATP e de 2 moléculas de NADH Figura 31 – Fase de produção de energia 37 BIOQUÍMICA METABÓLICA Observe que são formadas duas moléculas de NADH, que é um aceptor intermediário dos elétrons formados nas reações de oxidação da via. O NADH é constantemente regenerado. E quando isso ocorre? Nas próximas etapas de metabolização do piruvato. O piruvato possui três destinos distintos dependendo da presença ou ausência de oxigênio. Na presença de oxigênio (aerobiose), o piruvato produz dióxido de carbono, e em aerobiose os produtos podem ser etanol ou ácido lático. Glicose 2 Piruvato 2 Acetil-CoA 2 Lactato2 Etanol + 2CO2 4CO2 + 4H2O Glicose Condições aeróbias Condições anaeróbias Condições anaeróbias Ciclo de Krebs Figura 32 – Destinos do piruvato nas células na presença ou ausência de oxigênio Na respiração anaeróbica, ou fermentação, ocorre uma série de reações de degradação da glicose para a obtenção de energia sem a utilização de O2. Esse processo irá ocorrer no citoplasma das células e a formação de ATP não é eficiente, ou seja, menor quantidade de ATP é produzida em comparação com a respiração aeróbica. Nesses casos, um mol de glicose irá gerar somente dois mols de ATP. Existem dois tipos de fermentação: alcoólica e láctica (vejas as figuras a seguir). C6H12O6 Glicólise 2 +4H+ + 4e– → +2CO2 Ácido pirúvico Álcool etílico (Etanol) O C C C O H3 OH OH CH2 CH3 Figura 33 – Fermentação alcoólica 38 Unidade I C6H12O6 Glicólise 2 2+4H+ + 4e– → Ácido pirúvico Ácido lático O C C CH3 O OH O C CH CH3 OH OH Figura 34 – Fermentação lática Na fermentação alcoólica que ocorre principalmente nas leveduras e em vários outros microrganismos, é possível a produção de vinho e cerveja, por exemplo. Na primeira etapa, o piruvato é descarboxilado pela ação da piruvato descarboxilase, gerando aldeído acético, que na sequência é reduzido a etanol pela ação da enzima álcool desidrogenase, com a concomitante formação de NAD+, por meio da regeneração de um NADH. Na respiração aeróbica, o processo é mais eficiente e acontece nas mitocôndrias das células. Vamos relembrar a estrutura dessa organela. Matriz ou estroma Crista mitocondrial Membrana externa Membrana interna Ribossomo Figura 35 – Mitocôndria Nessa forma de obtenção de energia, ocorre a produção de 38 mols de ATP com apenas 1 mol de glicose. Quase todos os seres vivos utilizam a respiração celular aeróbica como processo de obtenção de energia para suas diversas atividades. 39 BIOQUÍMICA METABÓLICA 2.4 Ciclo de Krebs O ciclo de Krebs (CK) também é conhecido como ciclo dos ácidos tricarboxílicos ou ciclo do ácido cítrico e ocorre na matriz mitocondrial. É uma sequência de reações nas quais acontece a oxidação de moléculas e como consequência ocorre a liberação de elétrons que serão utilizados na cadeia respiratória para a obtenção de ATP. A representação das reações está em forma de um ciclo. Cada volta do ciclo de Krebs produz 3 moléculas de NADH, 1 FADH2 e 1 GTP. Entretanto, quando uma molécula de glicose inicia a glicólise aeróbia, são geradas 2 moléculas de piruvato, que se convertem em acetil-CoA e, por isso, consideramos que duas moléculas de acetil-CoA iniciam esse ciclo. Acetil-CoA Oxaloacetato Citrato IsocitratoMalato Fumarato Succinato α-cetoglutarato Succinil-CoA Figura 36 – Intermediários do ciclo de Krebs Saiba mais O funcionamento do ciclo de Krebs foi descrito pelo biólogo, médico e químico alemão Hans Adolf Krebs, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel em 1953. Você pode conhecer sua história na indicação a seguir: HANS KREBS. Biográfico. The Nobel Prize. Nobel Media AB, 2020. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/medicine/1953/krebs/ biographical/. Acesso em: 30 jun. 2020. 40 Unidade I Figura 37 – Hans Adolf Krebs É importante que o processo global de produção de energia que está na forma de moléculas de NADH e FADH2 seja compreendido. Agora observe em quais etapas ocorrerá a produção dessas coenzimas no estado reduzido. Acetil-CoA NADH FADH2 NADH NADH CO2 CO2 GTP Oxaloacetato Citrato IsocitratoMalato Malato desidrogenase Succinato desidrogenase Isocitrato desidrogenase Aconitase Citrato sintase Succinil-CoA sintetase Complexo α-cetoglutarato desidrogenase Fumarase Fumarato Succinato α-cetoglutarato Succinil-CoA Figura 38 – Produção de coenzimas (NADH e FADH2), GTP e CO2 no ciclo de Krebs Para que ocorra o ciclo de Krebs, é necessário que a molécula de piruvato sintetizada na glicólise seja transformada em acetil-CoA na mitocôndria por ação da piruvato desidrogenase. 41 BIOQUÍMICA METABÓLICA Piruvato C C CH3 O O O– Acetil-CoA Coenzima A C CH3 O CO2 CoA NAD+ NADH Figura 39 – Conversão de piruvato em acetil-CoA Agora vejamos detalhadamente as oito reações que compõem o ciclo de Krebs. • Reação 1: síntese do citrato. O acetil-CoA inicia o ciclo de Krebs, reage com o oxaloacetato, na presença do citrato sintase e forma citrato. Observe a soma de carbonos. O citrato tem seis carbonos, quatro carbonos provenientes do oxaloacetato e dois carbonos do acetil-CoA.Acetil-CoA Coenzima A C CH3 O Oxaloacetato Coenzima A Citrato sintase H2O CH2 C COO– COO– O Citrato C C H2C H2C COO – COO–HO COO–H+ Figura 40 – Formação do citrato • Reação 2: isomerização do citrato em isocitrato. O citrato formado é então isomerizado a isocitrato, o que facilita sua descarboxilação em uma reação catalisada pela aconitase. Aconitase Citrato C C H2C H2C COO – COO–HO COO–H Isocitrato C C OH H2C COO – COO–HO COO–H Figura 41 – Isomerização do citrato • Reação 3: descarboxilação oxidativa do isocitrato. O isocitrato formado sofre descarboxilação, catalisada pelo isocitrato desidrogenase, para formar o α-cetoglutarato. Utiliza o NADH como transportador de dois hidrogênios liberados na reação, havendo o desprendimento de uma molécula de CO2. 42 Unidade I Isocitrato desidrogenase CO2 NAD+ NADH Isocitrato C C OH H2C COO – COO–HO COO–H α-cetoglutarato C C O H2C COO – HH COO– Figura 42 – Descarboxilação oxidativa do isocitrato • Reação 4: descarboxilação oxidativa do α-cetoglutarato a succinil-CoA. O a-cetoglutarato também sofre descarboxilação, catalisada pelo complexo a-cetoglutarato desidrogenase, formando um intermediário, o succinilcoenzima-A (succinil-CoA). Esse complexo também utiliza o NADH como transportador de dois hidrogênios liberados na reação, havendo o desprendimento de mais uma molécula de dióxido de carbono. Complexo de α-cetoglutarato desidrogenase CoA-SH NAD+ NADH Succinil-CoA C C O H2C COO – H + CO2H S-CoA α-cetoglutarato C C O H2C COO – HH COO– Figura 43 – Descarboxilação oxidativa do α-cetoglutarato • Reação 5: formação de um GTP a partir do substrato. A enzima succinil-CoA catalisa a quebra da succinil-CoA, o que permite a liberação de energia na forma de um GTP (figura anterior). O GTP pode transferir o seu Pi para um ADP, formando um ATP. Essa é a única etapa do ciclo em que ocorre a formação de um composto pronto de alta energia. Succinil-CoA Isocitrato desidrogenase Coenzima A GDP GTP Succinato C C H2C COO – COO– HH H HC C O H2C COO – HH S-CoA Figura 44 – Formação de GTP • Reação 6: desidrogenação do succinato. É formado o fumarato, pela ação do succinato desidrogenase, que utiliza o FADH2 como transportador de dois hidrogênios liberados na reação. A coenzima A retorna ao pool inicial da mitocôndria. E finalmente ocorrem reações que permitem 43 BIOQUÍMICA METABÓLICA a regeneração do oxaloacetato. O succinato sofre uma série de reações de oxidação, hidratação e uma segunda oxidação para a formação do oxaloacetato. Fumarato Succinato desidrogenase FAD FADH2 Succinato C C H2C COO – COO– HH H H C C O COO– H H Figura 45 – Desidrogenação do succinato • Reação 7: hidratação do fumarato. A fumarase catalisa a hidratação do fumarato e ocorre a produção do malato. Fumarato Fumarase Malato C C COO– COO– HH H OHC C COO- COO– H H Figura 46 – Hidratação do fumarato • Reação 8: desidrogenação do malato. A malato desidrogenase catalisa a oxidação do malato em oxalacetato e utiliza o NADH como transportador de dois hidrogênios liberados na reação. Malato desidrogenase Malato C C COO– COO– HH H OH Oxaloacetato C C O H COO– COO– H NAD+ NADH Figura 47 – Desidrogenação do malato Agora, vamos entender a quantidade de moléculas de ATP, NADH e FADH2 produzidas considerando uma molécula de glicose em glicólise aeróbia. 44 Unidade I Quadro 2 – Produtos formados a partir de uma molécula de glicose em glicólise aeróbia Etapa Combustão aeróbia de 1 molécula de glicose Glicólise 2 ATP2 NADH Conversão do piruvato em acetil-AcoA 2 NADH Ciclo de Krebs 6 NADH 2 FADH2 2 GTP Lembrete Cada volta do ciclo de Krebs produz 3 moléculas de NADH, 1 FADH2 e 1 GTP. Entretanto, quando uma molécula de glicose inicia a glicólise aeróbia, são geradas 2 moléculas de piruvato. Estas se convertem em acetil- CoA e por isso consideramos que duas moléculas de acetil-CoA iniciam o ciclo de Krebs. E como a atividade do ciclo de Krebs é controlada? A partir da razão NAD/NADH, que, por sua vez, é dependente da quantidade de ADP e ATP celular. Além disso, algumas enzimas do ciclo também são reguladas, como é o caso do citrato sintetase, que é inibido alostericamente pelo ATP, e do isocitrato desidrogenase, que é ativado pelo ADP e inativado pelo ATP e o NADH. A succinato desidrogenase é inibida pelo oxaloacetato, e a sua disponibilidade é controlada pela malato desidrogenase, que depende da razão NADH/NAD. Você deve ter percebido que no ciclo de Krebs houve produção de muitas moléculas de NADH e FADH2, mas como elas irão originar ATP? Essa produção irá acontecer na cadeia respiratória, que é nosso próximo assunto. 2.5 Cadeia respiratória Os componentes da cadeia respiratória são denominados complexos (I, II, III e IV) e estão localizados na membrana interna da mitocôndria. Na figura a seguir estão representados: o complexo I (NADH-ubiquinona oxidorredutase), o complexo II (succinato-ubiquinona oxidoreductase), o complexo III (ubiquinol-citocromo-c oxidoreductase) e, finalmente, o complexo IV (citocromo-c oxidase). Os complexos I e II estão conectados pela coenzima Q (CoQ), e o citocromo c conecta os complexos III e IV. 45 BIOQUÍMICA METABÓLICA I II IVIII CoQ C Espaço intermembranas Matriz mitocondrial Membrana interna Figura 48 – Representação esquemática dos complexos da cadeia respiratória mitocondrial; complexos I, II, III e IV, coenzima Q (CoQ) e citocromo C Os complexos I, III e IV funcionam como uma bomba de prótons. Estes acumulam-se no espaço intermembranas e geram uma diferença de potencial eletroquímico, que é utilizado pela ATP sintase na formação de ATP, a partir de ADP e Pi. Esses componentes, bem como a bomba de ATP sintetase, formam o sistema de fosforilação oxidativa que sintetiza ATP. A função geral da cadeia respiratória é a oxidação de NADH e FADH2, provenientes das diversas vias metabólicas (carboidratos, lipídios e proteínas), bem como o transporte de equivalentes reduzidos ao longo de uma série de transportadores para o aceitador final, o oxigênio. Como os elétrons são transportados ao longo da cadeia? Os elétrons ao serem transportados, e muitos dos complexos, utilizam a energia para bombear prótons da matriz mitocondrial para o espaço intermembranar, formando um gradiente de prótons. Todos os elétrons que entram na cadeia de transporte vêm das moléculas de NADH e FADH. O NADH doa eficientemente seus elétrons em reações redox, isto é, seus elétrons estão em um alto nível de energia, portanto ele pode transferir seus elétrons diretamente para o complexo I, voltando a ser NAD+. Conforme os elétrons percorrem o complexo I em uma série de reações redox, energia é liberada e o complexo usa essa energia para bombear prótons da matriz para o espaço intermembranar. O FADH não é bom doador de elétrons em comparação ao NADH, isto é, seus elétrons estão em um nível de energia mais baixa, então não pode transferir seus elétrons para o complexo I. Em vez disso, ele os leva pela cadeia de transporte até o complexo II, que não bombeia prótons através da membrana. Isso justifica porque cada molécula de FADH faz com que menos prótons sejam bombeados do que cada molécula de NADH. I II IVIII Espaço intermembranasMenor potencial de redução Maior potencial de redução Matriz mitocondrial NADH Succinato Membrana interna CoQ C e– e– e – e– e– e–e– Figura 49 – Transferência de elétrons na cadeia respiratória 46 Unidade I À exceção desses dois primeiros complexos, NADH e FADH, os elétrons percorrem exatamente a mesma rota. Tanto o complexo I quanto o complexo II passam seus elétrons para a ubiquinona (Q), que é reduzida e forma QH. Essa molécula atravessa a membrana e entrega os elétrons ao complexo III. Conforme os elétrons percorrem o complexo III, mais íons H+ são bombeados através da membrana, e os elétrons são finalmente entregues a outro carreador
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