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0 1 Disciplina: A potência da infância e a criança como protagonista Autores: M.e Margarete Terezinha de Andrade Costa Revisão de Conteúdos: Andrey Gabriel Ota Eshima Designer Instrucional: Andrey Gabriel Ota Eshima Revisão Ortográfica: Esp. Lucimara Ota Eshima Ano: 2022 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Margarete Terezinha de Andrade Costa A Potência da Infância e a Criança como Protagonista 1ª Edição 2022 Curitiba, PR Faculdade UNINA 3 Faculdade UNINA Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Andrey Gabriel Ota Eshima Designer Instrucional Andrey Gabriel Ota Eshima Revisão Ortográfica Lucimara Ota Eshima Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério Desenvolvimento da Capa Carolyne Eliz de Lima FICHA CATALOGRÁFICA COSTA, Margarete Terezinha de Andrade. A potência da infância e a criança como protagonista / Margarete Terezinha de Andrade Costa. – Curitiba: Faculdade UNINA, 2022. 50 p. ISBN: 978-65-5944-219-5 1. Infância. 2. Criança. 3. Aprendizagem e desenvolvimento. Material didático da disciplina de a potência da infância e a criança como protagonista – Faculdade UNINA, 2022. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade UNINA 5 Sumário Apresentação da disciplina ....................................................................... 06 Aula 1 – A potência da infância ................................................................ 07 Apresentação da aula 1 ............................................................................ 07 1.1 Conceituação de potência e infância ........................................ 07 1.2 Desenvolvimento infantil: fases de Jean Piaget ....................... 13 Conclusão da aula 1 ................................................................................. 18 Resumo da aula 1 ..................................................................................... 18 Aula 2 – Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento e a criança como protagonista .................................................................................... 19 Apresentação da aula 2 ............................................................................ 19 2.1 Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento da criança ....... 19 2.2 Alguns percursos históricos do protagonismo infantil .................. 24 2.2.1 Summerhill School .............................................................. 25 2.2.2 A escola de Reggio Emilia .................................................. 27 2.2.3 Escola da Ponte .................................................................. 30 Conclusão da aula 2 ................................................................................. 31 Resumo da aula 2 ..................................................................................... 32 Aula 3 – Família e escola como parceiras ................................................ 33 Apresentação da Aula 3 ............................................................................ 33 3.1 A Família ...................................................................................... 34 3.2 Os pais e a vida escolar dos filhos .............................................. 38 Conclusão da Aula 3 .................................................................................. 40 Resumo da aula 3 ..................................................................................... 40 Aula 4 – As relações da parentalidade consciente na formação e desenvolvimento das crianças .................................................................. 41 Apresentação da Aula 4 ............................................................................ 41 4.1 Parentalidade consciente – o que é isso? .................................... 41 4.2 Parentalidade consciente – formação e desenvolvimento da criança ....................................................................................................... 44 Conclusão da aula 4 ................................................................................. 46 Resumo da aula 4 ..................................................................................... 46 Resumo da disciplina ................................................................................ 48 Índice Remissivo ........................................................................................ 49 Referências ............................................................................................... 50 6 Apresentação da disciplina A disciplina “Potência da Infância e a criança como protagonista” apresenta conteúdos relevantes para a formação de professores e suas relações com pais e/ou responsáveis dos alunos. Por sua importância, vamos estudar a potência da infância, seu conceito e possibilidades que devem ser desenvolvidas na educação. Do mesmo modo, estudaremos os direitos da aprendizagem e desenvolvimento infantil e a criança como protagonista de sua formação, explorando todos os potenciais que ela emana. Isso, não seria possível sem ter as famílias como parceiras, processo necessário, todavia, que exige muito trabalho da comunidade escolar. E por fim, vamos analisar as relações da parentalidade consciente na formação e desenvolvimento das crianças compreendendo as responsabilidades de quem lida com os jovens. A ideia básica deste estudo é buscar uma formação sólida e crítica de educadores, a fim de se ter uma educação que reflita o deseja de transformação social e o desenvolvimento de pessoas mais felizes. Isso tudo com fundamentação teórica e legal densas com o desejo de que este material auxilie em sua formação e que seus estudos reforcem seu fazer pedagógico. Bons estudos! 7 Aula 1 - A potência da infância Apresentação da aula 1 Todo o estudo expressivo busca desvendar informações, relacionando-as e capacitando-as para uso com qualidade.Para isso, é necessário, primeiramente, dominar as concepções que as constituem, desta forma, vamos iniciar nossas reflexões retomando alguns conceitos básicos relacionados à Potencialidade da Infância. 1.1 Conceituação de potência e infância Inicialmente vamos rever o conceito de potência. Vocabula rio Potência: é a qualidade de quem tem força, vigor, poder e importância. Devemos lembrar que o termo potência é amplo, na Física, por exemplo, é a capacidade de realizar trabalho, a força com que se equilibra ou se vence uma força contrária. Na Matemática é o produto de um número multiplicado por si uma ou mais vezes. Na Filosofia, Aristóteles definia potência como aquilo em que é possível algum ser se transformar em virtude de um fim próprio, uma semente seria a potência da árvore; Nietzsche (2008) via a Vontade de Potência como a capacidade que a vontade tem para se efetivar, sendo a principal força motriz existente em cada elemento; essa força poderia ser empregada a fim de apoderar-se de realizações, ambições e maior esforço para as conquistas desejadas e expansão do ser. Diferentemente da visão darwiniana de simples adaptação para a sobrevivência; o filósofo acreditava na potência de expandir, dominar, criar valores e dar sentido próprio a vida de forma ativa criando as condições de potência. 8 Curiosidade Vontade de Potência vem do alemão “Der Wille zur Macht”, com a tradução literal de “a vontade de fazer”. Podemos deduzir que mesmo com objetos de estudos vistos por diferentes ângulos, todos estes conceitos carregam em si o mesmo cerne; a ideia buscada neste estudo que vê na potência uma capacidade, seja ela da realização de algo, seja para multiplicar-se, seja para transformar-se, seja para efetivar-se. Em outras palavras, os conceitos de potência nos fazem voltar o olhar para a construção da formação humana. Esta colocação encaixa-se perfeitamente no caminho que desejamos traçar na busca do entendimento da potencialidade da infância Observamos, de tal modo, que ao se ter potência se tem capacidade, inteligência, habilidade, aptidão, talento, entre tantos outros adjetivos, que, por sua vez, são caraterísticas próprias dos seres humanos. O que nos leva ao próximo conceito: a infância. Para entender melhor tal apreciação, vamos buscar a legislação que a determina, a carta magna internacional firmada pelo Brasil em 1990: a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) concebe a infância como o período de vida de todo indivíduo com menos de dezoito anos de idade, vejamos como consta na lei: 9 DECRETO No 99.710, DE 21 DE NOVEMBRO DE 1990. Promulga a Convenção sobre os Direitos da Criança. [...] PARTE I Artigo 1 Para efeitos da presente Convenção considera-se como criança todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes [...] (grifo nosso) Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm De antemão, temos, normativamente, que todos com menos de dezoito anos pertencem ao grupo “criança”. Todavia, sabemos que existem diferentes fases dentro desta categoria, cada qual com suas características, marcos e prioridades. Complementarmente, em nossa legislação, temos, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a seguinte referência: LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Título I Das Disposições Preliminares Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. (grifo nosso) Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm Podemos notar que, no Estatuto da Criança e do Adolescente, a categoria criança é contemplada até os 11 anos de idade. Em nosso percurso pela legislação brasileira cabe citar a Base Nacional Curricular Comum, Brasil (2018). Segundo a BNCC, a Constituição Federal de 1988 determinou o atendimento em creches e pré-escolas às crianças de zero a 6 anos, como um dever do Estado, e com a LDB de 2006 foi antecipado o acesso de crianças de 6 anos ao Ensino Fundamental. Desta forma, a Educação Infantil 10 atende crianças de zero a 5 anos, todavia, na Emenda Constitucional nº 59/200926 foi determinada a obrigatoriedade da Educação Básica dos 4 aos 17 anos. Ficando assim uma grande interrogação sobre o real investimento do Estado na formação de nossas crianças, visto que temos primeiramente uma determinação dada pela nossa lei maior, no qual a criança é categorizada de zero até seis anos, mas atendida obrigatoriamente pelo Estado somente com quatro anos. Para corroborar com tal reflexão tomemos a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu artigo 29, no qual afirma que a Educação Infantil atende crianças até cinco anos, isto é dos zero aos cinco, veja a lei: LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. [...] Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) [...] (grifo nosso) Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm Para completar nossos estudos vamos percorrer o documento que regulamenta quais são as aprendizagens essenciais a serem trabalhadas nas escolas brasileiras, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de 2018. RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 2, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2017 Com a Constituição Federal de 1988, o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a 6 anos de idade torna-se dever do Estado. Posteriormente, com a promulgação da LDB, em 1996, a Educação Infantil passa a ser parte integrante da Educação Básica, situando- se no mesmo patamar que o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. E a partir da modificação 11 introduzida na LD B em2006, que antecipou o acesso ao Ensino Fundamental para os 6 anos de idade, a Educação Infantil passa a atender a faixa etária de zero a 5 anos. (p. 35 - grifo nosso) Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Desta forma, temos atualmente no país a primeira etapa da Educação Básica: a Educação Infantil, que atende crianças da faixa etária de zero a 5 anos e 11 meses, obrigatória somente para crianças de quatro e cinco anos, sendo facultativo o ingresso nos anos anteriores, sendo esse o nosso universo de estudos. Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Resolução CNE/CEB 05/2009), a criança é um [...] sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2009, p. 01). Há subdivisões importantíssimas que representam etapas da vida de todos os seres humanos. De acordo com o Ministério da Saúde, o ser humano desenvolve-se, basicamente, nas seguintes fases para as crianças: • Fase 1 – da concepçãoaté o nascimento; • Fase 2 – Primeira Infância: do nascimento até os 6 anos; • Fase 3 – Segunda Infância ou intermediária: dos 7 aos 11 anos. Estudaremos mais detalhadamente a Fase 2 - Primeira Infância, que pode ser subdividida em duas partes: a primeiríssima infância, que vai da gestação aos três anos de idade, e o período que se estende entre os 4 e 6 anos. Antes disso é necessário ter clareza que tal classificação se dá pela observação do crescimento e desenvolvimento humanos. Ambos acontecem de forma paralela, mas com especificidades próprias. O desenvolvimento está relacionado com a aquisição de capacidades e o crescimento, com o aumento de massa. O crescimento é caracterizado pelas fases da evolução intrauterina; após o nascimento, no qual até os dois anos há um crescimento incremental, seguido de um período de equilíbrio e uniformidade, com acréscimo de peso anual até aproximadamente os seis anos; depois disso, na sua fase final, o crescimento 12 se estende até os vinte anos de idade. Devemos considerar, assim, que o crescimento é resultado de uma somatória de fenômenos celulares, bioquímicos, biofísicos e morfogênicos, determinados, desta forma, pela herança genética e as modificações ambientais. O desenvolvimento também é acelerado na primeira infância. Da concepção até os três anos de idade, o desenvolvimento emocional e cognitivo é determinante na formação do ser humano. Neste período, de acordo com a neurociência, o cérebro das crianças passa por intensas fases de amadurecimento; sendo importante considerar que as sinapses são desenvolvidas de acordo com as interações do meio que estimulam os sentidos, possibilitando ao indivíduo perceber a si mesmo, o outro e o mundo ao seu redor, esse é mais um item que trabalharemos nesta disciplina de forma mais ampla. Vocabula rio Sinapse: a relação funcional de contacto entre as terminações/extremidades das células nervosas; ela realiza a comunicação dos neurônios entre si, ou com outros órgãos, como um músculo ou glândula. A partir dos 4 anos, a criança desenvolve mais autonomia, isso se dá por meio da comunicação e da realização de atividades sem auxílio; amparando, de tal modo, um desenvolvimento cognitivo mais complexo. Consequentemente, na fase entre a concepção e os seis anos de idade de uma criança, o cérebro gera as conexões necessárias para as competências motoras, cognitivas e socioemocionais. Temos aqui mais um elemento importante em nossos estudos. A relação entre o crescimento e desenvolvimento, da geração de uma criança até os seus seis anos de idade, é extremamente importante para o resto de sua vida. São os alicerces determinantes na formação humana, que consequentemente serão refletivos no desempenho escolar, nas realizações pessoais e principalmente na realização dos potenciais da pessoa. 13 Isso porque a potencialização da infância nos remete à construção de um sujeito transformador, participativo e atuante na sociedade em que vive. Assim sendo, deve-se investir em vínculos afetivos estáveis, ambientes seguros e protegidos e uma nutrição adequada. Sendo assim, necessário problematizar os vínculos da criança com a família, educadores e com o ambiente em que transita. 1.2 Desenvolvimento Infantil: Fases de Jean Piaget Não poderíamos abordar as etapas de desenvolvimento infantil sem retomar as fases piagetianas. Jean Piaget (1896-1980), psicólogo suíço que revolucionou os conceitos de inteligência infantil, teve seus estudos refletidos nos conceitos de ensino e aprendizagem. Com suas pesquisas voltadas aos padrões de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo, elaborou os estágios de desenvolvimento infantil. Eles determinaram etapas de acordo com o intelecto e capacidade de perceber relacionamentos. Estágios de desenvolvimento da teoria de Piaget Fonte: Piaget, 1970 Os estágios que contemplam nossos estudos são o Período Sensorimotor e o Pré-operatório. E s tá g io s d e d e s e n v o lv im e n to d a t e o ri a d e P ia g e t 1- Período Sensorimotor 0 a 2 anos 2- Período Pré-Operacional 2 a 7 anos 3- Período Operacional de Concreto 7 a 11 anos 4- Período Operacional Formal 11 e mais, até cerca de 19 anos 14 Para Piaget, no Estágio Sensorimotor, as crianças relacionam-se com o contexto em que vivem por experiências sensoriais e por meio de atividade físicas. Elas melhoram seus reflexos inatos e desta forma, elaboram esquemas por meio da repetição de uma ação com seu próprio corpo, seus atos são aleatórios e experimentais. Nesta fase, há o contato com a língua materna e a comunicação, que, a princípio, é pré-linguística já que utiliza sorrisos e choros involuntariamente, balbucios e sons consoantes. Veja a seguir a subdivisão do estágio sensorimotor: • Até a sexta semana, há três reflexos primários, sugar, seguir objetos que se movem e fechamento da mão quando em contato com algo. Tais reflexos podem ser estimulados carinhosamente. • Da sexta semana até os quatro meses, as reações circulares primárias acontecem por meio de imitação e reprodução de algumas reações. Nesta fase, a criança já pode estar na escola e exercícios referentes ao estímulo são necessários. E s tá g io S e n s o ri m o to r nascimento a 6 semanas reflexos primários 6 semanas a 4 meses Primeiros hábitos e reações circulares primárias 4 a 8 meses Reações circulares secundárias de 8 a 12 meses Coordenação de reações circulares secundárias 12 a 18 meses Reações circulares terciárias 18 a 24 meses Internalização de esquemas 15 • Dos quatro meses aos oito, por meio das reações circulares secundárias, o bebê inicia o desenvolvimento de hábitos e reproduz ações com um propósito. A criança deve ficar em um ambiente livre e protegido, como um tapete de borracha limpo, tendo outras crianças para interagir e com brinquedos apropriados. • De oito a doze meses, há a coordenação de reações circulares secundárias, na qual a criança solidifica a coordenação mão com olho e suas ações são orientadas para objetivos. Novamente, deixar a criança em um espaço livre é importante, sempre com monitoramento. • Dos doze meses aos dezoito, as reações circulares terciárias somadas à novidade e curiosidade que a fazem ser um investigador de objetos que desconhece. Nesta fase, é importante o contato com brinquedos diversos, espaços diferenciados e em contato com outras crianças. • Dos dezoito aos vinte e quatro meses há a internalização de esquemas, na qual a criança utiliza símbolos primitivos para representações mentais e a criança passa para o estágio pré- operatório. Nesta fase o brincar é importante, principalmente pela socialização. O Estágio Pré-operatório está relacionado com a socialização, o que acontece, na maioria das vezes, com a educação formal. Ao relacionar-se com outras pessoas diferentes do seu convívio familiar, há uma ampliação do vocabulário, no entanto, a criança pensará de acordo com suas experiências individuais; desta forma, terá um pensamento egocêntrico, intuitivo e carente de lógica. Desta forma as crianças até os 6 anos não entendem muito bem os eventos e apresentam dificuldades para expressá-los. Não há o entendimento do “eu” podendo haver uma fala na terceira pessoa, no entanto, as crianças são muito curiosas e querem aprender tudo, daí a fase dos porquês. 16 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia a obra O Nascimento da Inteligência na Criança, de autoria de Jean Piaget. O autor apresenta sua teoria do conhecimento consciente como produto de uma estrutura cognitiva, e conceitua a vida como criação contínua de formas cada vez mais complexas, e de sua progressiva adaptação ao meio exterior. Desta forma, ao se pensar a potencialidade da infância, devemos consideraros seguintes pontos: Todas as pessoas, e principalmente as crianças, têm potencialidades, ninguém quer ser nada ou fazer nada. Todos nós somos “sementes” que buscam tornar-se algo, não somos simples adaptações do meio para sobrevivermos. Possuímos potência para expandir, dominar, criar valor e dar sentido próprio à vida, mesmo na mais tenra idade. Isso porque, por termos potência, temos a capacidade, inteligência, habilidade, aptidão e talento para desenvolvermos nossas capacidades. Analise a imagem a seguir, todos nós temos potencial na nossa essência: Todos somos sementes Fonte: https://image.shutterstock.com/image-photo/growing-concept-hand-watering- young-260nw-1911083272.jpg 17 As crianças, da sua concepção até os seis anos são maleáveis para adaptar-se ao meio e necessitam de toda a atenção para sua formação tanto em relação ao seu crescimento, precisando de alimentação saudável, exercícios, e de um ambiente saudável, quanto ao seu desenvolvimento com estímulo cognitivo, afetivo e social, com o contato com outras crianças e com adultos voltados para seu amadurecimento, em um ambiente seguro e protegido, inclusive por toda legislação; principalmente com vínculos que despertem suas possibilidade de vir a ser. Desta forma, o cuidado consciente, desde os primeiros momentos da concepção de um ser humano, vai refletir o seu ser para o resto de sua vida. Cuidado com o ser humano Fonte: https://t3.ftcdn.net/jpg/02/72/54/40/360_F_272544097_r7kRdQZqDHDF4vLKuQKpzRe Qzi78Ihkz.jpg 18 Conclusão da aula 1 Podemos concluir que a criança é um ser completo, que possui potencialidades e essas precisam ser consideradas no processo pedagógico, desta forma, e com todo amparo legal, faz-se necessário conhecer as fases de desenvolvimento dos seres humanos para saber trabalhar melhor uma educação plena. Ví deo Para saber mais sobre a primeira infância apresentada, assista ao vídeo Primeira Infância. Link: https://www.youtube.com/watch?v=XLYV6VmSNsI Resumo da aula 1 Nesta aula abordaram-se os conceitos de potência e infância e a legislação que contempla tais categorias. Vimos a relação entre crescimento e desenvolvimento e questionamos a lacuna entre o que é apregoado legalmente e sua efetivação na prática. Para completar o assunto, percorremos brevemente as fases de desenvolvimento piagetiano e os estágios que contemplam nosso objeto de estudo, a criança. Atividade de Aprendizagem Pesquise, na legislação vigente, as leis que fazem alusão à potencialidade infantil, em seguida faça um esquema citando a lei e os conteúdos contemplados por ela; esse material subsidiará suas atividades pedagógicas nas suas vidas escolares. 19 Aula 2 - Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento e a criança como protagonista Apresentação da aula 2 Ao se pensar nos diretos de aprendizagem e desenvolvimento da criança, temos que fundamentar os estudos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de 2018, legislação que rege a educação no país. Em relação ao protagonismo dos alunos, vamos conhecer exemplos que já realizados obtiveram sucesso. 2.1 Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento da criança Base Nacional Comum Curricular Fonte: https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/-5ac4d59dcf451.jpg A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento que determina os objetivos de aprendizagem dos componentes curriculares que visam à aprendizagem e ao desenvolvimento global dos alunos Desta forma, é nela que vamos buscar fundamento para nossas reflexões. A primeira delas é que a BNCC prevê uma relação entre os componentes curriculares; tal ligação volta-se para a construção do conhecimento e das habilidades e principalmente para a formação de atitudes e valores. O segundo 20 ponto relevante da BNCC são os eixos estruturantes da educação infantil: interações e brincadeiras. As interações e brincadeiras proporcionam para a criança seu próprio desenvolvimento, atribuindo o protagonismo de suas ações e a ampliação de seu universo social. Kramer (2009) afirma que a interação com o meio proporciona à criança o contato com histórias, ideologias, culturas e seus significados, o que lhe proporciona a atribuição de sentidos e a internalização de conceitos e preconceitos que irão constituir sua consciência. Desta forma, as interações são vivências das práticas sociais, nas quais a criança internaliza signos sociais com regras, normas, valores, formas e condições de ser e estar no mundo. Por meio das interações, as crianças aprendem as formas de ser e estar nos diferentes grupos, tanto familiares quanto escolares, fundamentando o seu processo de desenvolvimento. Da mesma forma, o brincar representa um exercício criativo, lúdico e flexível que proporciona à criança experiências diversas consigo mesmo e com os outros. De acordo com Kishimoto (2003) na brincadeira a realidade interna predomina sobre a externa, com a possibilidade de explorar e ensaiar ideias que não seriam possíveis em outras situações. Nestes momentos é possível perceber a visão de mundo de uma criança, seus desejos, valores e explorar seus potenciais e limites; visto que ao brincar ela explicita suas relações emocionais, a integração da personalidade e o inconsciente reprimido. Ainda de acordo com a BNCC, são seis os direitos de aprendizagem e desenvolvimento da criança: 21 Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento Fonte: BNCC, 2018 Cada campo de experiência está relacionado com os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento a serem conquistados no término de cada ciclo: • creche, para bebês de 0 a 1 ano e 6 meses; • creche, para crianças de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses; • pré-escola, destinada a crianças de 4 a 5 anos e 11 meses. Em todas os ciclos deve existir o compromisso de se colocar a criança no centro da aprendizagem, reconhecendo as experiências e valores humanos, isto é, reforçando seu caráter. Vejamos cada um dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento atribuídos pela BNCC: Conviver, Brincar, Participar, Explorar, Expressar e Conhecer. Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento: Conviver Brincar Participar Explorar Expressar Conhecer-se Campos de Experiências O Eu, o outros e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Oralidade e escrita; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. 22 Este direito relaciona-se com a interação com o outro, isso deve acontecer por meio brincadeiras e jogos, nos quais regras precisam ser respeitadas; da mesma forma trabalha-se com a organização da convivência em grupo no qual as crianças possam participar da organização dos espaços de estudos, alimentação, organização dos brinquedos. O brincar permite a observação do educador em relação ao processo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, para isso, deve-se disponibilizar materiais que possibilitem novas experiências, incentivando a criatividade; também, diversificar as experiências sensoriais, provocar conversas sobre as atividades realizadas entre outros estímulos possíveis. • "Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas". (BNCC, p. 38) Conviver •"Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais". (BNCC, p. 38) Brincar 23 A participaçãodas crianças deve ser considerada principalmente sobre as decisões das atividades a serem realizadas, reunir as crianças e conversar com elas sobre as brincadeiras, quais preferem, como desenvolvê-las, pedir opiniões sobre a gestão da escola, entre tantos outros fazeres é fundamental na formação de verdadeiros cidadãos. A exploração é a busca do conhecimento, desta forma, é importante proporcionar às crianças oportunidades de ter contato com diferentes materiais concretos e simbólica, buscando, assim, suas diferenças, compará-los, tirar conclusões, fazer diferentes usos deles de forma a elaborar saberes próprios. • "Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando". (BNCC, p. 38) Participar • “Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia”. (BNCC, p. 38) Explorar 24 A comunicação é a base das relações sociais, desta forma, incentivar a expressão do aluno é uma forma de garantir este direito. Por meio de rodas de conversas, minipalestras, relatos de atividades, enfim, momentos de audição e escuta que são fundamentais para o desenvolvimento das diferentes linguagens. O conhecimento e reflexão sobre si é fundamental na formação humana, assim como ter noção do outro para a construção de uma identidade. Toda forma de expressão deve ser respeitada, visto que desta forma a aceitação das diferenças faz com que a criança tenha uma percepção positiva de si e dos outros. Todos estes direitos devem ser trabalhos de forma sistematizada, com objetivos claros e bem definidos. Desta forma, o professor estará caminhando rumo à construção de pessoas que se respeitem, busquem conhecimentos e tenham mais oportunidades na sua elaboração como pessoa. 2.2 Alguns percursos históricos do protagonismo infantil A ideia de a criança ser protagonista de sua aprendizagem não é nova. O termo protagonismo remete à ideia de ser o figurante principal de um processo, • "Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens". (BNCC, p. 38) Expressar • "Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário". (BNCC, p. 38) Conhecer-se 25 deriva do grego protagonistes, no qual protos constitui principal ou primeiro e agonistes, lutador ou competidor. O protagonismo infantil vê na criança um ser dotado de direitos e capacidade, podendo, desta forma, fazer parte do seu processo de desenvolvimento tanto pessoal quanto social. Um bom exemplo disso em nossa legislação é que no Estatuto da Criança e do Adolescente a criança é ouvida em casos judiciais, respeitando, obviamente, o seu grau de maturidade. Para compreender mais o protagonismo infantil, vamos conhecer algumas escolas que tiveram como norte a ideia da real participação dos alunos no processo educacional, como a Escola da Ponte, Summerhill School, a escola de Reggio Emilia. Observe que nas descrições das escolas aparecem apontados os direitos citados na BNCC. 2.2.1 Summerhill School Alexander Sutherland Neill (1883 – 1973), educador e escritor escocês, fundou sua escola denominada de Summerhill School, em 1921, em Dresden, na Alemanha, mas desde 1927, está localizada em Suffolk, na Inglaterra. Em Summerhill, alunos, professores e comunidade escolar convivem igualitariamente, com liberdade e responsabilidade (BNCC – Conciver). Neill fundou esta sua escola acreditando que "Nossa cultura não tem tido grande sucesso. Nossa educação, nossa política, nossa economia levam à guerra. Nossa medicina não põe fim às moléstias. Nossa religião não aboliu a usura, o roubo... Os progressos da época são progressos da mecânica em rádio e televisão, em eletrônica, em aviões a jato. Ameaçam-nos novas guerras mundiais, pois a consciência social do mundo ainda é primitiva." (NEILL, 1977, p. 76) Ela pode ser considerada a primeira escola democrática, na qual o sistema educativo tem como base a liberdade da criança para escolher e decidir o que quer aprender, em seu próprio ritmo; sempre considerando a sensibilidade e o afeto, guias da felicidade do sujeito enquanto aprendiz. Para seu fundador, a educação deve voltar-se para a dimensão emocional do aluno, desta forma, a sensibilidade ultrapassa a racionalidade (BNCC – Conhecer-se). Vejamos seu 26 pensamento: “Gostaria antes de ver a escola produzir um varredor de ruas feliz do que um erudito neurótico”. (Neill,1977, p. 52) Em Summerhill as aulas são opcionais, as disciplinas seguem o currículo inglês tradicional, com aulas de Ciências, Matemática, Inglês, Línguas Estrangeiras, História, Geografia e Arte, além de cursos de teatro, música, carpintaria e informática; contudo com adaptações às necessidades, ritmos e tempo de cada aluno. Seu fundador acreditava que cada aluno iria responder ao estímulo da aprendizagem no momento que desejasse e contava com a curiosidade do aluno para isso (BNCC – Explorar). Seu fundador acreditava que as crianças são naturalmente curiosas e se receberem recursos e orientação que pedirem, serão estudantes entusiasmados e terão prazer em aprender. Não há prova e consequentemente, reprovações. Se algum aluno decidir estudar convencionalmente, ele pode, se for de interesse dele (BNCC – Conhecer-se). Nas avaliações nacionais os alunos da Summerhill têm obtido notas superiores à média. Na escola funciona a Gestão Democrática. Duas vezes por semana todos os integrantes da escola reúnem-se e expõem suas opiniões, reclamações, sugestões e as decisões são tomadas por meio de votação (BNCC - Expressar). O que resulta em um convívio de respeito mútuo sem hierarquia ou controle (BNCC - Participar). Cria-se assim, um ambiente de confiança, o que auxilia em muito na aprendizagem. Desta forma, a participação dos alunos nas decisões da escola acontece em quase todos os processos, menos na área financeira. Os alunos têm liberdade de fazer o que desejarem, contando que não atrapalhem aos outros e sigam o que foi determinado na assembleia. 27 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia a obra Liberdade sem medo, de A. S. Neill. O autor narra a história de Summerhill, a escola que se transformou na maior experimentação do mundo na busca de liberdade, lúcido amor e aprovação à criança. Vejamos o que o autor pensa sobre a educação: “Para resumir, meu ponto de vista é que a educação sem liberdade resulta numa vida que não pode ser integralmente vivida. Tal educação ignora quase inteiramente as emoções da vida, e porque essas emoções são dinâmicas, a falta de oportunidade de expressão deve resultar, e resulta, em insignificância e hostilidade. Apenas a cabeça é instruída. Se as emoções tivessem livre expansão, o intelecto saberia cuidar de si próprio. " (NEILL, 1977, p. 93). 2.2.2 A escola de Reggio Emilia Loris Malaguzzi foi pedagogo nascido em Correggio em 1920. Começou a ensinar na escola primária em 1940 em Sologno, perto da cidade de Reggio Emilia, ao norte da Itália. Próximodali, na Villa Cella, cidade devastada durante a Segunda Guerra Mundial, mães decidiram construir uma escola para seus filhos. Saiba Mais Emilia Romana, cuja capital é Bolonha, é uma região do Norte da Itália com 4 milhões de habitantes, composta por 109 províncias; uma delas é Reggio Emilia, que está dividida em 45 comunas, as quais equivalem aos nossos municípios, sendo sua capital a cidade de Reggio Emilia. A primeira escola foi entregue em 1961, era um prédio de madeira e foi- lhe dado o nome de Robinson, com atendimento para 60 crianças. A escola foi 28 erguida com a venda de um tanque de guerra, seis cavalos e três caminhões, deixados pelos alemães Tal projeto chamou a atenção de Loris Malaguzzi, seguiu para Villa Cella e se encantou com tal experiência. Novas escolas foram construídas, todas operadas por pais e com o auxílio do Comitê Nacional para Libertação; que empreendeu todos os seus esforços ampliando seus anseios pedagógicos com a realidade posta e oferecer uma educação de qualidade, que respeite os direitos e que dê subsídios necessários para que desenvolvam suas cem, ou mais, linguagens. Para Refletir De acordo com Malaguzzi: “Esta ideia pareceu-me incrível! Corri até lá em minha bicicleta e descobri que tudo aquilo era verdade. Encontrei mulheres empenhadas em recolher e lavar pedaços de tijolos. As pessoas haviam-se reunido e decidido que o dinheiro para começar a construção viria da venda de um tanque abandonado de guerra, uns poucos caminhões e alguns cavalos deixados para trás pelos alemães em retirada.” (1999, p. 59) Esta concepção despertou no pedagogo a ideia de que a criança deveria ser a protagonista (BNCC – Participar) na construção do seu conhecimento; não se ensina somente transmitindo conhecimentos, mas os construindo coletivamente, como aquelas mulheres comuns, porém ambiciosas que decidiram construir e operar a escola de seus filhos. A escola de Reggio Emilia é inovadora, pois os pais dos alunos fazem parte dela; porque os eventos são organizados pelas famílias, professores e alunos, buscando a integração e a coletividade; (BNCC – Participar) já que constitui uma continuidade do lar; e por causa da crescente intensificação do seu papel sociocultural social. Segundo Malaguzzi (1999, p. 62), é necessário reconhecer o direito da criança de ser protagonista e a necessidade de manter a curiosidade espontânea de cada uma delas em um nível máximo. Deve haver a necessidade de preservar a decisão de aprender com as crianças (BNCC – Expressar), com os eventos e com as famílias, até o máximo dos limites profissionais, e manter uma prontidão para mudar pontos de vistas, de modo a jamais se ter certezas demasiadas. 29 No final da década de 60, a administração da escola pelas mães e pais foi substituída pela da municipalidade ao mesmo tempo em que fundos públicos voltavam-se para a educação infantil Em 1991, a Igreja Católica iniciou uma campanha pública difamando a escola, acusando-a de corromper as crianças. De acordo com o próprio Malaguzzi: “o ataque sobre nossas escolas, foi o rápido crescimento da influência cultural de nossa experiência”. Entretanto, em 1991 a escola listava entre as dez melhores escolas do mundo. Após permanecer por sete anos em Villa Cella, Malaguzzi deixou a cidade e uma crítica a uma escola operada pelo Estado, a qual adere a uma “[...] estúpida e intolerável indiferença para com as crianças, à sua atenção oportunista e obsequiosa para com a autoridade e à sua esperteza auto aproveitadora, empurrando um conhecimento pré-embalado”. (MALAGUZZI, 1999, p. 60) Mais tarde Loris Malaguzzi foi secretário de educação do município de Reggio Emilia. Loris Malaguzzi morreu em 1994. Atualmente a Reggio Emilia é uma escola em contínua mudança, que se propõe a repensar-se e reconstruir-se constantemente; que considera fundamental a interação entre sistema de escolarização e o mundo da família, de modo integrado e participativo; (BNCC – Participar) que ressalta a centralidade da criança no processo educativo, mas também a integração com os professores e as famílias. Por natureza, é uma escola inovadora, na qual criança, professor e família se relacionam de modo integrado e coletivo. A escola funciona da seguinte forma: as escolas denominadas Asilo Nido atendem crianças de três meses até três anos, distribuídas em grupos etários, os Lactantes, Pequenos, médios e Grandes. Há um adulto para cada sete crianças na primeira fase e um adulto para cada treze alunos na segunda. O tempo de atendimento às crianças é de trinta horas semanais mais seis horas de trabalhos em equipe dos profissionais que atendem os alunos, são realizados elaboração dos projetos e didática, preparação de encontros com os pais para socialização dos projetos e do desenvolvimento do trabalho e para elaboração da documentação pedagógica. 30 2.2.3 Escola da Ponte A Escola da Ponte é uma instituição pública situada em Portugal, no município de Santo Tirso, próximo à cidade do Porto. Desde 1976 ela trabalha com o protagonismo dos alunos considerando seus interesses. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia a obra A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir, de Rubens Alves. O livro apresenta a Escola da Ponte, na qual são os alunos que estabelecem os mecanismos da gestão escolar e a vida social depende de que cada um abra mão da sua vontade, naquilo em que ela se choca com a vontade coletiva. E assim vão as crianças aprendendo as regras da convivência democrática, sem que elas constem de um programa. A escola é organizada em núcleos de iniciação, consolidação e aprofundamento. Na fase de iniciação, os alunos têm um tutor que demonstra as regras de convivência coletiva e os compromissos a serem assumidos nos processos de aprendizagem; (BNCC – Participar) na consolidação a tutoria diminui, e o aluno começa a gerir como estudar o primeiro ciclo do currículo nacional de forma autônoma; no aprofundamento, os alunos passam a gerenciar as atividades do segundo ciclo do currículo nacional. Os conteúdos a serem estudados são organizados em seis grupos: • linguística (Língua Portuguesa, Inglesa, Francesa e Alemã); • lógico-matemática (Matemática); • naturalista (Estudo do Meio, Ciências da Natureza, Ciências Naturais, Físico-Química e Geografia); • identitária (Estudo do Meio, História e Geografia de Portugal e História); • artística (Expressão Musical, Dramática, Plástica e Motora, Educação Física, Educação Visual e Tecnológica – E.V.T., Educação Musical, Educação Visual, Educação Tecnológica e T.I.C.); • pessoal e social (Formação Pessoal, Ensino Especial e Psicologia). 31 Os professores são tidos como orientadores educativos e acompanham as questões relacionadas aos conteúdos curriculares e comportamentais. Os alunos escolhem um tutor para ser seu orientador (BNCC – Participar e conviver) e juntos analisam os conteúdos apreendidos, buscam informações, saneiam dúvidas e decidem se o aluno conseguiu atingir os objetivos propostos, desta forma, não há avaliação formal. Todavia há o comprometimento tanto do aluno quanto do tutor na construção do conhecimento. Este processo busca a formação de pessoas autônomas, responsáveis, solidárias, cultas e comprometidas democraticamente com a construção de seu destino e da comunidade em que vive Periodicamente são realizadas assembleias com a participação de pais, professores, alunos, funcionários para discutir as normas e regras da escola; há o uso de uma caixa de segredos no qual podem ser postados reclamações, sugestões, necessidade e outras questões de forma anônima (BNCC – Participar). Ví deo Para entender melhor, não deixe de assistir ao vídeo Rubem Alves Fala sobre a Escola da Ponte. Link: https://www.youtube.com/watch?v=MtGyHzIafLcObserve que no vídeo e nas escolas citadas os direitos apregoados pela BNCC aparecem várias vezes e poderiam ser apontados muitos mais, tal exemplificação teve como objetivo perceber a importância da formação da criança para uma vida futura e principalmente que a possibilidade de sua efetivação é possível. Conclusão da aula 2 Fica claro que todo ser humano tem potencialidades na sua infância e essa precisa ser exercida, isso se dá com a criança como protagonista de sua história. 32 Comprovação disso são as legislações de nosso país, como a BNCC, que prevê habilidades inatas nas crianças e com isso determina seus direitos. A título de conclusão vamos conhecer brevemente a educação infantil no Japão, denominada de Yochien. Lá ela não é obrigatória, mas os japoneses acreditam que quanto mais cedo começar a educação melhor será o desempenho dos alunos, lembrando que existe valorização e competição entre os estudantes; desta forma, a rotina e a disciplina são rigorosas. Não há avaliações para esta fase de ensino, que se volta para a formação de caráter e a responsabilidade por si mesmo. O interessante para nossos estudos é que os alunos, desde muito cedo, são responsáveis pelo cuidado com seus materiais e a limpeza do ambiente escolar, eles se revezam para o trabalho de cuidado com a limpeza, isso para desenvolver o espírito de equipe, empatia e autonomia; não existindo zeladores. Assim como nos momentos de refeições, que ocorrem dentro das salas de aula, os alunos se servem e são responsáveis pela limpeza do ambiente. Outro fator importante é que os alunos pequenos vão para a escola a pé e sozinhos, claro que devemos considerar os fatores de segurança diferentes em nosso país. Resumo da aula 2 Nesta aula, estudamos os direitos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças com base no que é posto na BNCC. Analisamos cada um dos direitos apregoados por esta determinação legal. Em seguida foram apresentadas algumas escolas que fazem uso do protagonismo infantil para fundamentar bases de sua realização. Atividade de Aprendizagem Pesquise atividades desenvolvidas na Educação Infantil, selecione um dos direitos da aprendizagem e do desenvolvimento da criança apregoados pela BNCC. Em seguida, marque o direito mais significativo da atividade pesquisada. Faça um arquivo das mesmas para seu uso em seus estudos e prática pedagógica. 33 Aula 3 - Família e Escola como parceiras Apresentação da aula 3 Como vimos no capítulo anterior, uma das grandes preocupações da educação no Japão é a formação do caráter, que começa nos primeiros anos de vida do ser humano. Desta forma, é responsabilidade da família ensinar a ordem, o respeito às regras de conduta e atribuir limites nas crianças desde muito cedo. A nossa Lei de Diretrizes e Base da Educação é bem clara quanto a família ser responsável pela educação dos seus filhos, vejamos o que ela traz: LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I Da Educação Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. (grifo nosso) Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm Todavia, temos vários problemas educacionais relacionados com a falta de percepção do encargo dos pais ou responsáveis pelos processos formativos das crianças. Responsabilidade que é repassada equivocadamente à escola. Acredita-se que a solução do problema relacionado à falta de caráter nas crianças seja de autoridade só da escola. Desta forma, vamos discutir uma real necessidade da relação entre a escola e a família na busca de soluções possíveis para a melhoria da educação de nossos jovens. 34 3.1 A Família O primeiro passo para a compreensão entre a possível parceria entre a escola e os responsáveis pelas crianças é conhecer os tipos de famílias que existem na atualidade. Diferentemente do Japão, que preza por uma tradição e possui características próprias; temos em nosso país uma dinâmica familiar própria. O padrão tradicional de organização familiar, com pais, filhos e outros parentes vivendo num mesmo ambiente, sofreu mudanças relacionadas ao processo de globalização da economia capitalista. Há uma queda de fecundidade e um declínio significativo no número de casamentos formais, famílias estruturadas com pais que não convivem, mulheres e homens que constituem famílias sendo o único responsável pelas crianças, casais homoafetivos, entre outras formas diversificadas de convívio. A família é considerada, atualmente, como um grupo aparentado que se responsabiliza pela socialização de uma ou mais crianças na busca da satisfação de suas necessidades básicas. Isso pode se dar em um grupo que convive por um período indefinido de tempo, devido à relação de sangue, casamento, aliança ou adoção. Veja a seguir, na imagem, os vários tipos de família: 35 Tipos de Família Fonte: https://i.pinimg.com/originals/bd/34/0c/bd340c7ec451fcf85574aa9719e46093.jpg A construção diferenciada de uma família tradicional pode parecer, a princípio, uma forma de desestruturação para a criança. No entanto, ela não pode ser encarada negativamente, isso quando a relação entre as pessoas se dá de forma equilibrada do tipo matrimonial. Sabemos que muitas vezes uma criança que vive com os pais pode sofrer vários tipos de abusos. E claro, que se houver uma relação saudável entre o adulto responsável pela criança e a mesma, todos os diferentes tipos de relação são positivos. Cabe aqui ressaltar que quando a criança convive com as diferenças de forma equilibrada, tende a entender os diferentes papéis sociais atribuídos aos 36 homens e mulheres, o que reflete em uma formação saudável em outras esferas da atividade humana; entendendo, assim, a diversidade de relações sociais. Desta forma, ser filho de uma família dita “desestruturada” não justifica dificuldades escolares das crianças. O importante é saber se a criança é protegida e cuidada independentemente da forma de arranjo familiar em que convive. E assim, adentramos em outro ponto importante, abstraindo-se o tipo de família, devemos questionar como esta família lida com a criança. Na busca de ser bons pais, muitos não se atêm às reais necessidades na formação de seus filhos, o que resulta em crianças indisciplinadas, imperiosas, apreensivas e/ou alienadas. O que é muito comum acontecer. Todavia, devemos considerar que estes pais são resultantes de uma sociedade fundamentalmente capitalista, marcada pelo consumismo, competição, violência, sexualização infantil, entre tantos outros aspectos que marcam a vida de todos nós. Em uma sociedade capitalista, temos a sensação de que a felicidade se dá pelo ter e não pelo ser. Isso faz com que busquemos a felicidade em possuir coisas e não as ter nos traz uma falsa percepção de infelicidade; o que gera uma necessidade de competição, inveja, incertezas, superficialidade e baixa autoestima. Os filhos são reflexos das relações que vivem em família, de acordo com Aparecida e Rebelo (2003, p. 69), são três as características dos pais: “autoritários, permissivos e democráticos”: • Pais autoritários – são rigorosos, pouco comunicativos, não demonstram afeto, são controladores, são restritivos, têm rigorosos padrões preestabelecidos e valorizam a obediências às normas; • Pais permissivos – são afetuosos, comunicam-se com os filhos, contudo, não têm controle de limites, são muito tolerantes e indulgentesaos desejos e atitudes; • Pais democráticos – são equilibrados em relação aos controles das ações; são afetivos e estimulam a criticidade; buscam o amadurecimento da criança, sua independência e uso de respeito; são flexíveis, mas possuem regras e limites claros e objetivos. 37 Não há dúvidas que os pais democráticos são os ideais, contudo não é muito fácil conseguir e manter estes predicados. Obviamente, existem outros parâmetros nas características dos pais e estas mesclam-se. Devemos sempre lembrar que ao se trabalhar com seres humanos, é necessário considerar nossa mutabilidade, estados emocionais e contextos que se modificam constantemente. Mas é perceptível os reflexos no comportamento das crianças da postura dos pais. Desta forma, a família tem um papel decisivo na educação formal e informal dos filhos. E cabe aqui retomarmos a máxima que a educação de uma criança começa em seus avós; pensar em como os pais de nossos alunos foram educados, dos quais os valores solidários, afetivos, éticos e humanitários são constituídos. Isso não significa que tais valores não possam ser construídos pelas crianças em qualquer tempo, contudo isso exige maior exercício educacional; o que só é possível com o trabalho colaborativo entre a escola e a família; que no caso também precisa apreendê-los. E aqui cabe um adendo, muitas vezes, as crianças ensinam seus pais a terem uma atitude de justiça e honestidade, isso pode ser visto, por exemplo, nas regras de trânsito; comumente vemos crianças chamando a atenção dos pais em relação à transgressão de alguma regra. A busca de valores morais e sociais, justiça, honestidade, cuidado com o próximo, equilíbrio, assertividade entre outros adjetivos é o desejo de todos nós, contudo sabemos que existem lacunas, visto que somos seres humanos e temos falhas, desvios e defeitos; cabendo a todos nós repassarmos tais valores aos nossos jovens. Isso frente a uma visão democrática, na qual as crianças tenham uma boa base, autonomia e criticidade para fazer suas escolhas. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96) os princípios necessários no processo educacional da criança são os princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, que tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (LDB, 1998, art. 2º., p.13) O que precisa ser considerado é que as crianças são como esponjas, que absorvem nossas atitudes muito mais do que nosso discurso. Desta forma, os exemplos são mais valiosos que nossas lições. 38 3.2 Os pais e a vida escolar dos filhos Como já dito, a participação dos pais na vida dos filhos é inerente à função de educar, isso deve acontecer em casa e junto à escola. Quando os pais acompanham o desempenho escolar dos filhos, esses tendem a melhorar cada vez mais. Mais uma vez não podemos ter um olhar ingênuo em relação à participação presencial e efetiva dos pais nas escolas, eles são pessoas que precisam trabalhar e têm compromissos que não consideram tal integração. O ideal é que houvesse uma legislação que desse oportunidade de espaços periódicos para visitas dos pais às escolas. Temos um poderoso atributo legal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96), que no artigo 12 esclarece os deveres da família como responsáveis pelo desenvolvimento educacional da criança, bem como a escola em articular processos de interação com as famílias, essas devem manter-se informadas sobre a proposta pedagógica da escola, a frequência e o rendimento dos alunos. Desta forma, os professores precisam tomar cuidado quando houver a presença dos pais, isso porque normalmente acontece na entrega de boletins de notas ou convocações. Os pais não podem ver na escola um espaço somente de reclamações ou queixas em relações aos seus filhos, da mesma forma que os professores não podem pedir aos pais que ensinem conteúdos específicos de suas disciplinas, este é papel da escola. A escola tem a especificidade de ensinar e isso se dá para com os pais também, desta forma, a escola deve ensinar aos responsáveis dos alunos como acompanhar as atividades de casa, como organizar uma agenda de estudos, como ajudar os filhos a cumprir horários, enfim, fazer com os pais ajudem os professores no processo ensino- aprendizagem, devendo haver uma parceria na busca da formação dos nossos alunos. Ví deo Ouça o pensamento do filósofo Mário Sérgio Cortella sobre família e escola. Link: https://www.youtube.com/watch?v=dfkb6H8qUsg 39 O ideal é que a escola proporcione contatos periódicos com os pais, repassando os processos educativos, que os professores esclareçam os tipos de colaboração que os pais possam realizar em relação às atitudes e hábitos de comportamento e outras formas de acompanhamento da aprendizagem e tipo de educação exercida no ambiente escolar. Desta forma, os pais podem amparar os processos educativos em casa, com acompanhamento das atividades escolares. Isso não significa que os pais têm a responsabilidade de ensinar ou realizar a tarefa pelo filho, pelo contrário, eles precisam proporcionar tempo e lugares adequados de estudos em casa, ajudar a organizar cronograma de estudos, verificar a realização das tarefas e sobretudo separar um tempo para ouvir prazerosamente sobre o que foi realizado na escola; este tipo de reforço estimula a criança a pensar, refletir e buscar mais sobre os conteúdos estudados. O uso de agenda escolar é altamente recomendada para troca de comunicação entre escola e família. Ter um tempo específico para estudar em casa é um compromisso familiar, todos devem colaborar com silêncio, interesse, participação. Se um dia não houver atividades enviadas pela escola, que este tempo seja utilizado para leitura de um livro, revista em quadrinhos, de forma que o compromisso de estudo constante se realize. Desta forma, este momento será benéfico para todos da família. A organização de uma minibiblioteca em casa é uma tarefa recomendada, enquanto um realiza as atividades, os outros podem estar lendo, desenhando, pintando. Desta forma cria-se uma fruição frente ao processo educativo. As tarefas e os estudos não podem ter caráter punitivo, e sim um caráter formativo, tornando o aprender prazeroso. A leitura é um hábito extremamente saudável em todas as idades e deve ser uma prática diária. Soares (2000) explica que ao se ler para uma criança se está desenvolvendo uma fonte de prazer e ao mesmo tempo, oferecendo tempo de presença com os filhos. Assim, além da “viagem” pelos diversos universos proporcionados pelos livros, há uma associação entre a leitura e momentos coletivos prazerosos, que funcionará durante os primeiros anos de vida como uma “propaganda para a mente”. 40 Desta forma, cada instância social cumpre seu papel, os pais de acompanharem seus filhos, a escola de sua especificidade e juntos voltam-se para a formação das crianças. Conclusão da aula 3 As crianças são reflexo do modo como seus pais os veem e tratam. E independentemente de como a família se constitui, os pais ou responsáveis são de extrema importância para o desenvolvimento de seus filhos, uma vez que as crianças os copiam e levam suas experiências para a vida. A escola consegue fazer uma grande formação na criança também, mas o mais adequado é o contato mútuo entre estes dois núcleos para melhorar o desenvolvimento dela, com os pais também se entrepondo em suas tarefas, tanto dentro de casa como as da escola. Resumo da aula 3 Nesta aula foi discutido a relação entre a escola e a família. Para isso, em um primeiro momento, retomou-se os tipos de família e sua influência na criança, em seguida, a relação dos pais com a vida escolar dos filhos. Ficou claro, desta forma, que tanto a família quantoa escola constituem relevantes alicerces para orientá-los no desenvolvimento cognitivo e social. Desta forma, entende-se que com apoio e incentivo vindos das principais bases que sustentam a construção do indivíduo, esse terá no futuro uma formação responsável e consciente de seu papel no mundo. Atividade de Aprendizagem Pesquise formas de realizar a parceria entre a escola e as famílias, elabore em seguida estratégias positivas que possam ser utilizadas em uma situação real. 41 Aula 4 - As relações da parentalidade consciente na formação e desenvolvimento das crianças Apresentação da aula 4 O termo parentalidade é definido como a qualidade do que é parental, sendo um estado ou condição de quem é pai ou mãe, entretanto, a parentalidade vai além das relações biológicas. Ela é o conjunto de atividades exercidas pelos adultos que convivem com uma criança, sendo referência em relação aos vínculos afetivos, socais, morais e éticos, principalmente nos primeiros anos de vida. A importância disso se dá, visto que os cuidados, a estimulação, a determinação de limites e o desenvolvimento da autonomia são vínculos que irão formar a base da vida do futuro adulto. 4.1 Parentalidade consciente – o que é isso? O termo parentalidade é originário do inglês parenting, foi utilizado, em 1959, pela psicanalista húngara Therese Benedek (1892 –1977) ao se referir às mudanças no desenvolvimento libidinal ligadas a tornar-se pai e mãe. O psicanalista francês Paul-Claude Racamier (1924-1996) usou o termo na década de 60 para enfatizar o caráter processual implicado no exercício das funções dos pais em relação aos filhos. Na década de 80, René Clement (1913 – 1996) e Serge Lebovici (1915 – 2000), apresentam uma visão transgeracional sobre o que se herda da família, o que se passa como legado e, também, incorpora uma visão social, de como se incorpora essa herança. Eles reconheceram que se tornar pai ou mãe é um processo que envolve construções e aprendizagem, inclusive com a participação do filho, independentemente de sua idade. Atualmente o termo parentalidade expande-se para toda uma geração daqueles que convivem e cuidam das crianças, isto contempla os pais, avós e responsáveis pelos cuidados dela. Desta forma, todo o discurso, crenças e valores de uma geração são considerados na formação de um ser, considerando-se, desta forma, o contexto de convivência de todos que cercam o jovem. Portanto, a parentalidade está diretamente relacionada à formação do indivíduo independentemente das relações dadas pelo nascimento; 42 contemplando assim, os pais adotivos, os avós, os cuidadores, professores entre tantos outros. Desta forma, a busca de uma parentalidade consciente requer maior atenção para algumas qualidades, entre elas podemos citar: • A escuta com afabilidade plena; • Concordância sem juízo da criança; • Compreensão emocional de si da criança; • Autocontrole na relação parental; • Complacência por si e pela criança. A escuta com afabilidade plena volta-se para a total atenção nas interações, fazendo com que a criança se sinta partícipe do processo comunicativo e com isso, há a promoção de sua autoestima, que dá por meio da linguagem verbal e não verbal, desta forma as expressões faciais e a linguagem corporal são importantes no processo de formação. A concordância sem juízo da criança está relacionada com a parentalidade consciente pela aceitação das características e comportamentos do ser em formação. Desta forma, o prestar atenção e aceitar suas limitações tornam o jovem um ser mais confiante e determinado. Todavia, deve haver o cuidado em relação aos limites, assunto a que retomaremos ao longo do texto. A compreensão emocional de si da criança é um fator determinante nas relações em geral e principalmente com as crianças. Ter compreensão das próprias emoções e das dos filhos constitui a base no processo de escuta e de aceitação. Em situações em que não há equilíbrio emocional, os processos devem ser vistos de forma diferenciada, exigindo um procedimento de volta à calma para retomada dos processos citados. Devemos lembrar que a emoção está diretamente relacionada aos processos cognitivos. O que nos leva à próxima característica. O autocontrole na relação parental busca o controle de reações aos comportamentos das crianças, que estão vinculados aos objetivos e valores estabelecidos na família. A construção de relações afetivas de diálogo, atenção e respeito exigem um controle emocional e contribuem para o desenvolvimento das mesmas na criança. Para se chegar a esta fase é necessário desenvolver e 43 ter clareza dos objetivos parentais, da monitoria das ações realizadas e principalmente da elaboração de regras de convívio. A complacência por si e pela criança está voltada para a empatia no cuidado. A criança tem necessidade de se sentir acolhida e cuidada, isso se dá quando o cuidador tem prazer no que faz e transmite este sentimento para ela. Isso auxilia no sentimento de culpa pelo tempo despendido no cuidado, tornando-o positivo e satisfatório para o cuidador e a criança. Ví deo Para saber mais, assista ao vídeo Análise Direta - "Parentalidade Consciente" - Iara Mastine Link: https://www.youtube.com/watch?v=d7ehn4dOax8 A relação parental consciente auxilia na melhor adaptabilidade na prática. E com isso, há maior enquadramento na compreensão das variáveis que influenciam todo um processo. Isso está relacionado com as características individuais e os contextos nos quais os envolvidos estão inseridos. Todavia há de se considerar que para o bem-estar psicológico dos envolvidos deve-se ponderar sobre as características de cada criança e de seus cuidadores, a relação existente entre os membros da família, as redes e contextos sociais e o desenvolvimento da criança. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia a obra Parentalidade Consciente de Daniel Siegel e Mary Hartzell Os autores escrevem como tratar com as crianças de maneira saudável e compassiva de forma responsável, consciente e plena. 44 4.2 Parentalidade consciente – formação e desenvolvimento da criança Como diz um velho ditado, não há manual de como ser pais. Mas há como se aprender a ser um. Neste sentido existe a concepção de parentalidade consciente. O que faz com que a relação familiar se torne mais segura e busque uma boa formação e desenvolvimento das crianças. Os pais ou responsáveis pela criação de uma criança podem entender e buscar a melhor forma de cuidar dos seus entes. Entre todo o carinho, atenção e cuidado é necessário saber que existem limites e dificuldades nas relações afetivas, sendo assim, devemos considerar que todo ser humano, independentemente de sua idade, consegue entender e ter consciência da importância das regras e dos combinados. Contudo existem emocionalmente algumas dificuldades para exercê-los, devido aos limites humanos. Desta maneira, ter clareza e exercer as regras, por todos, no convívio social é fundamental. Seguir as determinações do grupo traz segurança e estabilidade, isso quando decidido e exercido por todos. A relação entre liberdade e responsabilidade deve ser exercida desde os primeiros anos de vida e compartilhada por todos na família com igual peso. Quando uma norma é decidida coletivamente em família e compreendida por todos, seu cumprimento torna-se natural e de forma internalizada. Desta forma, cria-se um ambiente de respeito e reciprocidade e quando houver necessidade de algum tipo de repreensão não haverá o peso da culpa, evitando também algum tipo de manipulação em relação à transcrição de uma regra. Importante A parentalidade consciente e a disciplina positiva utilizam de conceitos reais de respeito, responsabilidade e resiliência. Tradicionalmente, asfamílias acreditam que os pais devem ser respeitados ao mesmo tempo que não ouvem seus filhos em relação às regras pretendidas; sem respeitá-los. O que ocasiona uma postura imperativa que muitas vezes é quebrada. Outras famílias, ao não estabelecerem norma, são 45 permissivas e não dão limites aos filhos, o que se torna outro grande problema. Devemos considerar que, quando recebe limites demasiadamente rígidos, a criança fica oprimida e vulnerável na relação com o outro. Assim sendo, há necessidade de haver equilíbrio entre as liberdades e os limites estipulados pelo grupo. Reunir todos da família, isso inclui a avó, tio, madrinha e outros que precisam conhecer e respeitar o que foi decidido, não utilizando de sua quebra como uma chantagem emocional, é de fundamental importância para a formação de um caráter pleno. A busca na solução harmônica para um conflito deve se dar de forma afetuosa. Ao se determinar limites não se está esperando submissão de ninguém a uma regra, por este motivo, o ideal é que as normas sejam elaboradas coletivamente e com o consenso de todos. Quando esperamos que uma criança tenha autonomia, independência e seja protagonista consciente e crítica de sua vida, temos que proporcionar possibilidade desta construção gradativamente, portanto, ela deve participar das decisões, seus argumentos devem ser considerados e quando negados, precisam ser esclarecidos pontualmente a fim de que a mesma entenda o porquê de tal decisão. Para se ter responsabilidade, não é necessário esperar que se atinja a maior idade ou que se saia de casa ou mesmo que a pessoa fique sozinha. A responsabilidade é uma característica elaborada desde a primeira infância, por isso, a família precisa estabelecer de forma amorosa as prioridades para um convívio tranquilo, equilibrado e sensato. Ví deo Para ampliar seus conhecimentos assista ao vídeo A convivência da criança na sociedade - 7 Experiências Fundamentais. Link: https://www.youtube.com/watch?v=oXoQn6MAYKA Cabe aqui ressaltar que na relação entre pais ou professores e as crianças nós somos os adultos. Com isso, deve-se entender que já vivemos relações similares, que conhecemos jogos agressivos e perversos que são possíveis 46 quando não há o estabelecimento de normas de conduta entre as pessoas. Isso nos dá autoridade, não autoritarismo, que são conceitos diferentes. A autoridade reflete uma postura de diálogo, combinados entre as partes, para isso é necessário haver conversas amplas, sinceras e tranquilas, com a participação efetiva da criança. Já o autoritarismo remente à onipotência, na qual somente os responsáveis teriam razão sem ouvir o outro. É óbvio que o autoritarismo é totalmente prejudicial à formação de um jovem que se deseja que seja responsável, autônomo e tenha protagonismo responsável e crítica de sua formação. Pelo contrário, o autoritarismo ensina o jovem a ser radical em suas decisões, revoltado e muitas vezes violento. Todo o processo de construção de uma pessoa exige muita responsabilidade. O cuidado com o outro faz parte de uma reflexão de quem somos, o que exige muito estudo, dedicação e atenção na forma, principalmente de como agimos. Conclusão da aula 4 Nesta aula vimos que a parentalidade consciente é repleta de desafios. O papel na educação das crianças, que um dia serão adultas, é intricado, irregular, inconstante, descontínuo, desgastante, repleto de frustrações, desafiador, mas também gratificante, maravilhoso e instigante. Desta forma, cabe a nós, educadores, conhecer cada vez mais este assunto e buscar a construir pessoas que se conheçam cada vez mais. Resumo da aula 4 Vimos em nossa última aula os conceitos voltados para a parentalidade consciente, seus conceitos, as qualidades a serem desenvolvidas, sua relação com a formação e desenvolvimento da criança. Obviamente não tivemos a pretensão de esgotar o assunto, visto que o mesmo é muito mais amplo. Desta maneira, tivemos a intensão de apontar um caminho de estudo e pesquisa para professores que possam auxiliar os pais de seus alunos a terem uma postura mais assertiva na busca da formação de uma criança que seja protagonista de sua vida e, assim, maximizar na parceria entre a escola e a família. 47 Atividade de Aprendizagem Pesquise reportagens relacionadas a problemas em relação parentalidade consciente. Em seguida, busque possíveis soluções relacionadas com tais conflitos, faça um resumo de cada incidente pesquisado e sua respectiva solução. Este estudo, relacionado com a realidade, ajudará em seu aprofundamento sobre o assunto. 48 Resumo da disciplina A disciplina “A Potência da Infância e a criança como protagonista” abordou a potência da infância, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento da criança como protagonista, a família e escola com parceiras e as relações da parentalidade consciente na formação e desenvolvimento das crianças, categorias que estão interconectadas e são interdependentes, visto que para se chegar à potência da infância, faz-se necessário considerá-la a criança como protagonista de sua construção história, desde os primeiros minutos de sua formação. Desta forma, a família faz parte intrinsicamente do processo e para tal tem que ter a mínima noção da parentalidade consciente. 49 Índice Remissivo A escola de Reggio Emilia ........................................................................ (Escola; Reggio Emilia; criança protagonista) 27 A Família ................................................................................................... (Família; família tradicional; pais) 34 A potência da infância ............................................................................... (Potência; infância; lei) 07 Alguns percursos históricos do protagonismo infantil ............................... (protagonismo infantil; escolas; legislação) 24 As relações da parentalidade consciente na formação e desenvolvimento das crianças ............................................................................................... (Crianças; pais; formação e desenvolvimento) 41 Conceituação de potência e infância 07 Desenvolvimento infantil: fases de Jean Piaget ........................................ (Desenvolvimento infantil; Jean Piaget; fases) 13 Escola da Ponte ......................................................................................... (Escola; Escola da Ponte; autonomia) 30 Família e escola como parceiras ............................................................... (Família; escola; ensino) 33 Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento da criança .................... (Direitos; BNCC; aprendizagem e desenvolvimento) 19 Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento e a criança como protagonista ............................................................................................... (Direitos; aprendizagem e desenvolvimento; BNCC) 19 Os pais e a vida escolar dos filhos ............................................................ (Família; escola; pais) 38 Parentalidade consciente – formação e desenvolvimento da criança ....... (Parentalidade; formação e desenvolvimento; família) 44 Parentalidade consciente – o que é isso? ................................................. (Parentalidade; relação parental; comportamento) 41 Summerhill School ..................................................................................... (Escola; Summerhill School; escola democrática) 25 50 REFERÊNCIAS ALVES, Rubem. A Escola com que Sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir. Ed. Papirus, 2001. APARECIDA, Rosana; REBELO, Argento. Indisciplina escolar: causas e sujeitos. 2. ed. Petrópolis:Vozes, 2003. BRASIL, Convenção sobre os Direitos da Criança. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#infantil BRASIL, Biblioteca Virtual em Saúde MINISTÉRIO DA SAÚDE Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/24-8-dia-da-infancia-2/ BRASIL, Ministério da Educação. 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