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Apg 4 – Doenças Inflamatórias intestinais Objetivos: 1- Rever a morfofisiologia do intestino delgado e grosso. 2- Conhecer a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, fatores de risco, manifestações clínicas e tratamento das Doenças Inflamatórias Intestinais. Intestino Delgado O intestino delgado começa no músculo esfíncter do piloro do estômago, serpenteia a parte central e inferior da cavidade abdominal e, por fim, se abre no intestino grosso. Pregas circulares, vilosidades e microvilosidades aumentam a área da superfície do intestino delgado para a digestão e absorção. São encontrados três tipos de células enteroendócrinas nas glândulas do intestino delgado: células S, células CCK e células K, que secretam os hormônios secretina, colecistocinina (CCK) e polipeptídio inibidor gástrico (PIG), respectivamente. Pregas circulares -> vilosidades -> microvilosidades -> linha felpuda chamada borda em escova, que se estende para o lúmen do ID. Aproximadamente 1 a 2 ℓ de suco intestinal, um líquido amareloclaro, são secretados diariamente. O pH alcalino do suco intestinal é decorrente da sua elevada concentração de íons bicarbonato (HCO3 – ). Juntos, os sucos pancreático e intestinal fornecem um meio líquido que auxilia na absorção de substâncias a partir do quimo do intestino delgado. As células absortivas do intestino delgado sintetizam diversas enzimas digestórias, chamadas enzimas da borda em escova, e inseremnas na membrana plasmática das microvilosidades. Funções do ID: As segmentações misturam o quimo com os sucos digestórios e colocam a comida em contato com a túnica mucosa para a absorção; o peristaltismo impulsiona o quimo ao longo do intestino delgado. Completa a digestão de carboidratos, proteínas e lipídios; inicia e completa a digestão de ácidos nucleicos. Absorve aproximadamente 90%da água e dos nutrientes que passam pelo sistema digestório. A maior parte da digestão e absorção ocorre no intestino delgado Digestão mecânica Os dois tipos de movimentos do intestino delgado – SEGMENTAÇÕES e um tipo de peristaltismo chamado COMPLEXO MIOELÉTRICO MIGRATÓRIO – são controlados principalmente pelo plexo mioentérico. As segmentações são contrações localizadas de mistura que ocorrem em partes do intestino distendido por um quimo volumoso. As segmentações misturam o quimo aos sucos digestórios e colocam as partículas de alimentos em contato com a túnica mucosa para serem absorvidos; elas não empurram o conteúdo intestinal ao longo do canal alimentar. Depois de a maior parte de uma refeição ter sido absorvida, o que diminui a distensão da parede do intestino delgado, a segmentação para e o peristaltismo começa. O tipo de peristaltismo que ocorre no intestino delgado, denominado complexo mioelétrico migratório (CMM), inicia-se na parte inferior do estômago e empurra o quimo para a frente ao longo de um trecho curto do intestino delgado antes de cessar. Digestão química: O quimo que entra no intestino delgado contém carboidratos, proteínas e lipídios parcialmente digeridos. A conclusão da digestão dos carboidratos, proteínas e lipídios é um esforço coletivo do suco pancreático, bile e suco intestinal no intestino delgado. Intestino Grosso Conforme o alimento passa pelo óstio ileal, enche o ceco e acumulase no colo ascendente. Um movimento característico do intestino grosso é a agitação das saculações do colo. Neste processo, as saculações do colo permanecem relaxadas e são distendidas enquanto se enchem. Quando a distensão alcança um determinado ponto, as paredes se contraem e espremem o conteúdo para a próxima saculação do colo. O peristaltismo também ocorre, embora em um ritmo mais lento (3 a 12 contrações por minuto) do que nas partes mais proximais do canal alimentar. Um último tipo de movimento é o peristaltismo em massa, uma forte onda peristáltica que começa aproximadamente na metade do colo transverso e leva rapidamente o conteúdo do colo para o reto. Como os alimentos no estômago iniciam esse reflexo gastrocólico no colo, o peristaltismo em massa geralmente ocorre 3 ou 4 vezes/dia, durante ou imediatamente após uma refeição. Digestão química no intestino grosso A fase final da digestão ocorre no colo por meio da ação das bactérias que habitam o lúmen. O muco é secretado pelas glândulas do intestino grosso, mas não são secretadas enzimas. O quimo é preparado para a eliminação pela ação de bactérias, que fermentam quaisquer carboidratos restantes e liberam hidrogênio, dióxido de carbono e gases metano. Estes gases contribuem para os flatos no colo, denominada flatulência quando é excessiva. As bactérias também convertem quaisquer proteínas restantes em aminoácidos e fragmentam os aminoácidos em substâncias mais simples: indol, escatol, sulfeto de hidrogênio e ácidos graxos Doença Intestinal inflamatória O termo doença intestinal inflamatória (DII) é usado para designar dois distúrbios intestinais inflamatórios semelhantes: doença de Crohn e colite ulcerativa.. Epidemiologia Estima-se que a condição esteja presente em mais de um milhão de pessoas nos EUA, e em 2,5 milhões de pessoas na Europa. Etiologia As duas condições causam inflamação intestinal, não têm evidência confirmatória de um agente etiológico comprovado, não seguem um padrão de ocorrência familiar e podem ser acompanhadas de manifestações sistêmicas. A doença de Crohn acomete mais comumente os segmentos distais do intestino delgado e o cólon proximal, mas pode afetar qualquer área do sistema digestório desde o esôfago até o ânus; por outro lado, a colite ulcerativa limita-se ao cólon e ao reto. Patogênese Um aspecto notável do sistema digestório é que o sistema imune da mucosa sempre está pronto para reagir aos patógenos ingeridos, mas não reage à microflora intestinal normal. De acordo com a hipótese vigente, esse estado homeostático normal é perdido na DII, o que acarreta reações imunes exageradas e desreguladas. A patogênese da doença de Crohn e da colite ulcerativa inclui anormalidade da regulação imune, predisposição genética e fator ambiental desencadeante, especialmente a flora microbiana. Predisposição genética - Há muito tempo, existe a suspeita de uma base genética para a DII. Parentes de primeiro grau de pessoas com diagnóstico de DII apresentam uma incidência 30 a 100 vezes maior de DII. A história familiar ainda é o fator preditivo mais forte de DII, embora apenas 10% das pessoas tenham um parente em primeiro grau com a doença. Essas relações indicam claramente que a predisposição genética desempenha um papel importante na patogênese da DII. Entretanto, o padrão hereditário não é o mendeliano clássico e, por esta razão, a DII não pode ser atribuída a um único gene. Em suma, os loci de suscetibilidade e os fatores de risco genéticos descobertos até o presente representam apenas 20 a 25% da hereditabilidade (risco genético). Participação dos fatores ambientais - Embora a história familiar seja o fator de risco mais significativo de DII e os genes tenham uma participação importante, dados epidemiológicos consideráveis apoiam a participação crucial do meio ambiente. O tabagismo é o fator ambiental mais antigo e mais consistentemente descrito como influenciador da incidência de doença de Crohn e colite ulcerativa. Tabagistas ativos apresentam risco duas vezes maior de doença de Crohn, com uma associação mais modesta em ex-tabagistas. Em contrapartida, o abandono do tabagismo está associado a aumento substancial do risco de colite ulcerativa no primeiro ano após o início da abstinência, enquanto o tabagismo ativo parece ser protetor. O motivo preciso desse efeito divergente ainda não foi elucidado. O tabagismo poderia contribuir para o desenvolvimento de DII por causa de influências no microbiomaintestinal porque as pessoas com doença de Crohn que são tabagistas apresentam disbiose em sua microbiota intestinal. Estudos em animais já estabeleceram de modo definitivo a importância da flora intestinal na DII. Os locais afetados pela DII, a parte distal do íleo e o cólon, apresentam contagens elevadas de bactérias. O uso de antibióticos em 2 a 5 anos do diagnóstico de DII também foi associado ao risco aumentado de DII de aparecimento no adulto, com efeito crescente concomitante ao aumento do número de ciclos de antibioticoterapia e à exposição mais precoce. Embora seja improvável que a DII seja causada diretamente por micróbios, existe a possibilidade de os microrganismos serem o antígeno deflagrador de uma resposta imune desregulada. Manifestações clínicas As manifestações clínicas da doença de Crohn e da colite ulcerativa resultam no final da ativação das células inflamatórias com produção de mediadores inflamatórios, que causam lesão inespecífica dos tecidos. Essas duas doenças caracterizam-se por remissões e exacerbações de diarreia, urgência fecal e emagrecimento. As complicações agudas (p. ex., obstrução intestinal) podem desenvolver-se durante os períodos de doença fulminante. Algumas manifestações sistêmicas são observadas nos pacientes com doença de Crohn e colite ulcerativa. Entre elas, estão artrite axial envolvendo a coluna vertebral e as articulações sacroilíacas, e artrite oligoarticular afetando as grandes articulações dos braços e das pernas; distúrbios inflamatórios dos olhos, geralmente uveíte; lesões cutâneas, especialmente eritema nodoso; estomatite; e anemia autoimune, hipercoagulabilidade sanguínea e colangite esclerosante. Em alguns casos, essas manifestações sistêmicas podem prenunciar a recidiva da doença intestinal. Nas crianças, pode haver atraso do crescimento, principalmente quando os sintomas são persistentes e a ingestão de nutrientes não é satisfatória. Doença de Crohn Doença de Crohn é um tipo de reação inflamatória granulomatosa recidivante que pode afetar qualquer segmento do sistema digestório. Íleo terminal e ceco são as áreas comuns do intestino acometidas pelo processo inflamatório. Trata-se de uma condição de progressão lenta, inexorável e geralmente incapacitante. A doença de Crohn comumente acomete os pacientes entre a segunda e a terceira décadas de vida, afetando as mulheres com uma frequência algo maior que os homens. Um aspecto característico da doença de Crohn são as lesões granulomatosas bem demarcadas e circundadas por mucosa aparentemente normal. Quando existem várias áreas de acometimento, elas comumente são descritas como lesões intercaladas, por se dispersarem entre segmentos de intestino com aspecto normal. Todas as camadas da parede intestinal são afetadas, mas o acometimento é mais acentuado na camada submucosa. A superfície do intestino inflamado geralmente tem aspecto típico em “pedras de calçamento” resultante das fissuras e das fendas que se formam e estão circundadas por áreas com edema da submucosa. Em geral, há preservação relativa das camadas de musculatura lisa do intestino, com alterações inflamatórias e fibróticas acentuadas da submucosa. Depois de algum tempo, a parede intestinal frequentemente se torna espessada e rígida e seu aspecto tem sido comparado ao de um cano de chumbo ou um tubo de borracha. O mesentério adjacente pode estar inflamado e os linfonodos e os canais linfáticos podem estar aumentados. Resposta Th1 Manifestações clínicas A evolução clínica da doença de Crohn é variável. Em muitos casos, ocorrem períodos de exacerbações e remissões com sintomas relacionados com a localização das lesões. Os sinais e sintomas principais, que dependem do segmento intestinal afetado, incluem diarreia, dor abdominal, emagrecimento, distúrbios hidreletrolíticos, mal-estar e febre baixa. Como a doença de Crohn afeta mais gravemente a camada submucosa que a mucosa, os pacientes têm menos diarreia sanguinolenta que os portadores de colite ulcerativa. A ulceração da pele perianal é comum, em grande parte devido à gravidade da diarreia. A superfície absortiva do intestino pode ser destruída e os pacientes têm deficiências nutricionais relacionadas com o segmento intestinal especificamente afetado. Quando a doença de Crohn ocorre na infância, as duas manifestações clínicas principais podem ser atraso do crescimento e desnutrição significativa. As complicações da doença de Crohn incluem formação de fístulas, abscessos abdominais e obstrução intestinal. As fístulas são passagens tubulares que formam conexões entre outras áreas, inclusive bexiga, vagina, uretra e pele. As fístulas perineais que se originam do íleo são relativamente comuns. As fístulas entre segmentos do sistema digestório podem causar má absorção, síndromes de proliferação bacteriana excessiva e diarreia. Além disso, essas fístulas podem ser infectadas e resultar na formação de abscessos. Diagnóstico O diagnóstico da doença de Crohn baseia-se na história clínica e no exame físico detalhados. A sigmoidoscopia é realizada para examinar diretamente as áreas afetadas e obter amostras de biopsia. Também devem ser adotadas medidas para excluir a possibilidade de que agentes infecciosos sejam a causa da doença. Em geral, isso é conseguido com culturas de fezes e exame de amostras fecais a fresco em busca de ovos e parasitos. Nos pacientes em que se suspeita de doença de Crohn, radiografias contrastadas possibilitam determinar a extensão do acometimento do intestino delgado e averiguar a existência e o tipo de fístulas. A TC pode ser realizada para detectar massa inflamatória ou abscesso. Tratamento Não existe cura para a doença de Crohn, e a remissão não é possível ou, quando ocorre, não se prolonga. As intervenções terapêuticas visam basicamente suprimir a reação inflamatória e promover a cicatrização; manter a nutrição adequada; e evitar e tratar complicações. Vários fármacos são eficazes para suprimir a reação inflamatória, inclusive corticoides, sulfassalazina, metronidazol, azatioprina, 6-mercaptopurina, metotrexato e infliximabe. Ressecção cirúrgica do intestino afetado, drenagem dos abscessos ou reparo dos trajetos fistulares pode ser necessário. Sulfassalazina é um fármaco tópico com várias ações anti- inflamatórias. Os efeitos benéficos desse fármaco são atribuíveis a um dos seus componentes, o ácido 5- aminossalicílico (5-ASA). Os fármacos que contêm 5-ASA bloqueiam várias etapas do ciclo do ácido araquidônico, as quais são essenciais à patogênese da inflamação. A sulfassalazina contém 5-ASA com sulfapiridina acoplada por uma ligação azo. O fármaco não é bem absorvido pelo intestino e a ligação azo é decomposta pela flora bacteriana do íleo e do cólon, liberando 5-ASA. O metronidazol é um antibiótico usado para tratar proliferação bacteriana excessiva no intestino delgado. O infliximabe é um anticorpo monoclonal que tem como alvo a destruição do fator de necrose tumoral (TNF), um mediador da resposta inflamatória, cuja expressão está exacerbada nos processos inflamatórios como a doença de Crohn. O infliximabe foi o primeiro fármaco aprovado especificamente para tratar essa doença e é usado no tratamento dos pacientes com doença moderada a grave em atividade, que falharam em obter resposta satisfatória com corticoides ou outros imunomodulares. Subsequentemente, outros dois agentes anti-TNF, adalimumabe e certolizumabe pegol, foram aprovados pela FDA para uso no tratamento da doença de Crohn. O anticorpo monoclonal ustequinumabe parece ser uma opção terapêutica segura que pode ajudar pessoas com formas moderadas e graves da doença de Crohn ativa. Deficiências nutricionais são comuns nos pacientes com doença de Crohn, em consequência da diarreia, da esteatorreia e de outros distúrbios da absorção. Por isso, recomenda-se uma dieta nutritiva com teoresaltos de calorias, vitaminas e proteínas. Como as gorduras frequentemente agravam a diarreia, recomenda-se que sejam evitadas. Dietas elementares nutricionalmente balanceadas, mas sem resíduos nem fibras, podem ser administradas durante a fase aguda da doença. Essas dietas são absorvidas em grande parte no jejuno e permitem possível que o intestino inflamado “repouse”. A nutrição parenteral total (i. e., hiperalimentação parenteral) consiste na infusão intravenosa de soluções hipertônicas de glicose, às quais podem ser acrescentados aminoácidos e gorduras. Esse tipo de tratamento nutricional pode ser necessário quando os alimentos não podem ser absorvidos no intestino. Em razão da hipertonicidade dessas soluções, elas devem ser administradas por uma veia central calibrosa. Colite ulcerativa Colite ulcerativa é uma doença inflamatória inespecífica do intestino grosso. A incidência e a prevalência da colite ulcerativa variam bastante, de acordo com a região geográfica. Essas taxas são de populações caucasianas na Europa setentrional e na América do Norte. Ao contrário da doença de Crohn, que pode acometer vários locais do sistema digestório, a resposta inflamatória na colite ulcerativa se limita à mucosa e à submucosa e é confinada ao reto e ao cólon, portanto, a colectomia é curativa. A colite ulcerativa pode ocorrer em qualquer grupo etário, com a incidência máxima entre 15 e 25 anos de idade. Resposta Th2 Em geral, a doença começa no reto e estende-se no sentido proximal afetando basicamente a mucosa, embora possa chegar à submucosa. A extensão do acometimento proximal é variável e a doença pode acometer apenas o reto (proctite ulcerativa), o reto e o cólon sigmoide (proctossigmoidite) ou todo o intestino grosso (pancolite). O processo inflamatório tende a ser confluente e contínuo, em vez de ter áreas intercaladas de tecido normal, como acontece com a doença de Crohn. Etiologia A causa da colite ulcerativa não é conhecida. As teorias incluem disfunção do sistema imune, genética, alterações das bactérias intestinais normais e fatores ambientais. Um aspecto típico dessa doença são as lesões que se formam nas criptas de Lieberkühn na base da camada mucosa. O processo inflamatório resulta na formação de hemorragias puntiformes da mucosa que, com o tempo, supuram e transformam-se em abscessos das criptas. Essas lesões inflamatórias podem sofrer necrose e ulcerar. Embora as úlceras geralmente sejam superficiais, frequentemente se estendem e formam amplas áreas desnudas. Em consequência do processo inflamatório, a camada mucosa frequentemente desenvolve projeções linguiformes, que se assemelham a pólipos e, por esta razão, são conhecidas como pseudopólipos. A parede intestinal torna-se espessa em consequência dos episódios repetidos de colite. Manifestações clínicas Nos casos típicos, a colite ulcerativa evidencia-se por uma doença recidivante marcada por episódios de diarreia. A diarreia pode persistir por dias, semanas ou meses, mas depois regride e recomeça apenas depois de um intervalo assintomático de vários meses ou anos, ou até mesmo décadas. Como a colite ulcerativa acomete a camada mucosa do intestino, as fezes geralmente contêm sangue e muco. A diarreia noturna geralmente ocorre quando os sintomas são graves durante o dia. O paciente pode referir cólicas abdominais brandas e incontinência fecal. Anorexia, fraqueza e fadiga aos esforços mínimos são comuns. Com base nos resultados dos exames clínicos e endoscópicos, a doença é classificada com base na extensão de acometimento do cólon e na gravidade da inflamação. A gravidade é definida como branda, moderada, grave ou fulminante. O tipo mais comum da doença é a forma branda, na qual o paciente defeca menos de quatro vezes ao dia (com ou sem sangue), sem manifestações sistêmicas de toxemia e velocidade de hemossedimentação (VHS) normal. Os pacientes com doença moderada defecam mais de quatro vezes ao dia, mas mostram sinais mínimos de toxemia. A doença grave evidencia-se por mais de seis defecações sanguinolentas por dia e indícios de toxemia como febre, taquicardia, anemia e VHS elevada. Os pacientes com doença fulminante têm mais de 10 defecações diárias, sangramento contínuo, febre e outros sinais de toxemia, dor à palpação e distensão do abdome, necessidade de transfusão sanguínea e dilatação do cólon nas radiografias abdominais. Esses pacientes estão sujeitos a desenvolver megacólon tóxico, que se caracteriza por dilatação do intestino grosso e sinais de toxemia sistêmica. Essa complicação é causada pela extensão do processo inflamatório com acometimento das estruturas neurais e vasculares do intestino. Acredita-se que a colite ulcerativa tem origem sistêmica (ou seja, autoimune), de modo que as pessoas podem apresentar comorbidades com manifestações clínicas e complicações extracolônicas. A frequência relatada dessas manifestações extraintestinais varia entre 6 e 47%. As manifestações extraintestinais incluem artrite, uveite, trombose venosa profunda (TVP), colangite esclerosante primária ou espondilite anquilosante. A manifestação extraintestinal mais comum da DII é artrite. Para algumas pessoas, sobretudo aquelas com colangite esclerosante primária ou espondilite anquilosante, as manifestações extraintestinais são mais problemáticas que a doença intestinal. Diagnóstico e tratamento O diagnóstico da colite ulcerativa baseia-se na história e no exame físico. Em geral, o diagnóstico é confirmado por retossigmoidoscopia, colonoscopia, biopsia e exames de fezes negativos para agentes infecciosos ou outras causas. A colonoscopia não deve ser realizada nos pacientes com doença grave, em vista do risco de perfuração, mas pode ser efetuada depois de ocorrer melhora comprovada para determinar a extensão da doença e a necessidade de monitoramento do desenvolvimento de câncer subsequente. O tratamento depende da extensão da doença e da gravidade dos sintomas e inclui medidas para controlar as manifestações agudas da doença e evitar recidivas. Alguns pacientes com sintomas brandos a moderados conseguem controlar seus sintomas simplesmente evitando cafeína, lactose (leite), alimentos muito condimentados e produtos formadores de gases. Suplementos de fibra podem ser administrados para atenuar a diarreia e os sintomas retais. O tratamento cirúrgico (i. e., ressecção do reto e de todo o intestino grosso) com ileostomia ou anastomose ileoanal pode ser necessário para pacientes que não melhoram com fármacos e medidas terapêuticas conservadoras. Os fármacos usados para tratar colite ulcerativa são semelhantes aos utilizados no tratamento da doença de Crohn. Isso inclui preparações de 5-ASA não absorvíveis (p. ex., mesalamina, olsalazina). Os corticoides são usados seletivamente para atenuar a resposta inflamatória aguda. Alguns desses fármacos podem ser administrados por via retal com supositórios ou enemas. Os fármacos imunomoduladores e os agentes anti-TNF podem ser usados para tratar pacientes com colite grave. Câncer do intestino grosso é uma das temidas complicações a longo prazo da colite ulcerativa. Essa doença caracteriza-se por desnaturação do ácido desoxirribonucleico (DNA) com instabilidade dos microssatélites das células da mucosa. Mais recentemente, a instabilidade genômica foi demonstrada em áreas sem displasia dos pacientes com colite ulcerativa, sugerindo que estes indivíduos tenham deficiência de reparação do DNA e instabilidade genômica em todos os segmentos do sistema digestório. Em uma metanálise enfatizando os estudos com pacientes portadores de colite ulcerativa, os riscos cumulativos de desenvolver câncer colorretal eram de 2% em 10 anos, 6% em 20 anos e 18% em 30 anos. Todos os pacientes com esse diagnóstico devem fazer colonoscopia de triagem nos primeiros 8 anos depois do início dos sintomas. A frequênciado monitoramento colonoscópico geralmente é de um exame a cada 1 a 2 anos, dependendo dos resultados dos exames e das biopsias. Referências: Norris, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (10th edição). Grupo GEN, 2021.
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