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1 Teoria Geral do Processo Ilustra Folha rosto 1ª versão: Aline Martins Coelho Ângela Issa Haonat Rosa Maria Silva Leite 2ª versão revisada e ampliada: Paulo Benincá Ubirajara Coelho Neto 1° período 2 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS Reitor Humberto Luiz Falcão Coelho Vice-Reitor Lívio William Reis de Carvalho Pró-Reitor de Graduação Galileu Marcos Guarenghi Pró-Reitor de Pós-Graduação e Extensão Claudemir Andreaci Pró-Reitora de Pesquisa Antônia Custódia Pedreira Pró-Reitora de Administração e Finanças Maria Valdênia Rodrigues Noleto Diretor de EaD e Tecnologias Educacionais Marcelo Liberato Coordenador Pedagógico Geraldo da Silva Gomes Coordenador do Curso José Kasuo Otsuka EDUCON – EMPRESA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA LTDA Diretor Presidente Luiz Carlos Borges da Silveira Diretor Executivo Luiz Carlos Borges da Silveira Filho Diretor de Desenvolvimento de Produto Márcio Yamawaki Diretor Administrativo e Financeiro Júlio César Algeri MATERIAL DIDÁTICO Organização de Conteúdos Acadêmicos 1ª versão: Aline Martins Coelho Ângela Issa Haonat Rosa Maria Silva Leite 2ª versão revisada e ampliada: Paulo Benincá Ubirajara Coelho Neto Coordenação Editorial Maria Lourdes F. G. Aires Assessoria Editorial Darlene Teixeira Castro Assessoria Produção Gráfica Katia Gomes da Silva Revisão Didático-Pedagógica Marilda Piccolo Revisão Lingüístico-Textual Kyldes Batista Vicente Revisão Digital Douglas Donizeti Soares Projeto Gráfico Douglas Donizeti Soares Irenides Teixeira Katia Gomes da Silva Ilustração Geuvar S. de Oliveira Capa Edglei Dias Rodrigues 3 Apresentação Caro aluno, É necessário afirmar a importância da Teoria Geral do Processo, para o estudo de direito, seja em seu aspecto formal ou material. Não basta apenas conhecer o direito material, é preciso saber como aplicá-lo. A Teoria Geral do Processo abrangerá as disciplinas de direito processual, no âmbito civil e penal, estudadas à luz da Constituição Federal. Na aula 1, apresentaremos um panorama sobre a evolução do homem, do direito dos conflitos e as formas de resolução desses conflitos. Faremos um paralelo entre o direito material e o direito processual. Na aula 2, estudaremos os princípios que darão sustentáculo ao direito processual. Na aula 3, estudaremos a definição, características, fins, princípios, espécies e o exercício da jurisdição e da competência. Na aula 4, abordaremos o Poder Judiciário, para conhecer seus órgãos e suas funções, bem como sua Organização Judiciária. Na aula 5, conheceremos como se dá a atuação desempenhada pelo Ministério Público, pelo advogado e pelos auxiliares da justiça. Na aula 6, abordaremos as teorias da ação, suas condições, elementos, classificação e a carência da ação. Na aula 7, faremos o estudo dos sujeitos e a classificação dos processos. Por fim, estudaremos a dinâmica processual, com o objetivo de conhecer a forma como é realizado o processamento das ações no Judiciário. Desenvolvemos nossos conteúdos de acordo com os objetivos propostos. Lembramos que, nesta modalidade de ensino, você tem um papel fundamental: participar ativamente das aulas, interagir por meio do portal, fazendo perguntas, e consultar as leis referentes aos assuntos abordados. Bons estudos. Paulo Benincá Ubirajara Coelho Neto 4 PLANO DE ENSINO CURSO: Fundamentos e Práticas Judiciárias PERÍODO: 1º DISCIPLINA: Teoria Geral do Processo EMENTA O Estado-Juiz. Categorias jurisdicionais. Da norma processual. Da jurisdição e da competência. Do Poder Judiciário. Da organização judiciária do Estado do Tocantins. Do Ministério Público. Do Advogado. Da ação. Do processo. Do juiz. Das partes. Dos atos processuais. Do processo civil, do processo, dos procedimentos e das fases processuais. Do processo penal, do processo e dos procedimentos. OBJETIVOS • Reconhecer os conceitos básicos do Direito Processual. • Reconhecer os princípios que dão forma ao Direito Processual, a partir da doutrina e da Constituição Federal. • Definir o que é jurisdição e suas características. • Conhecer o Poder Judiciário, indicando os órgãos, as funções, a independência e as garantias dos magistrados do Poder Judiciário. • Conhecer o papel fundamental do Ministério Público. • Conhecer o direito que surge para o indivíduo acionar e fazer agir o Poder Judiciário. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO • Solução de conflitos • Princípios do Direito Processual • Jurisdição e competência • Poder judiciário; Ministério Público; Advogado; Auxiliares da justiça; Escrivão; Oficial de justiça; Perito; Depositário; Administrador e Intérprete • Da ação e Do processo BIBLIOGRAFIA BÁSICA 5 CINTRA, Antonio Carlos Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria Geral do Processo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria Geral do Processo. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. SILVA, José Milton da. Teoria Geral do Processo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Linguagem Jurídica. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. BRASIL. Decreto-Lei n.º 3.689, de 03.10.1941. Código de Processo Penal. Brasília: DOU, 13 de outubro de 1941. BRASIL. Lei n.º 5.869, de 11.01.1973. Institui o Código de Processo Civil. Brasília: DOU, 17 de janeiro de 1973. BRASIL. Lei n.º 8.906, de 04.07.1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Brasília: DOU, 5 de julho de 1994. BRASIL. Lei n.º 10.406, de 10.01.2002. Institui o Código Civil. Brasília: DOU, 11 de janeiro de 2002. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05.10.1988. Brasília: DOU, 05 de outubro de 1988. COELHO, Fábio Alexandre. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004. DIDIER JUNIOR, Fredie. Direito Processual Civil. 3. ed. São Paulo: Salvador, 2003. DONIZETTI, Elpidio. Curso Didático de Direito Processual Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. GRECCO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, v 1. MARCATO, Antônio Carlos. Procedimentos Especiais. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2004. ROCHA, José de Albuquerque. Teoria Geral do Processo. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 6 SUMÁRIO Aula 1: A solução dos conflitos Aula 2: Princípios do Direito Processual Aula 3: Jurisdição e Competência Aula 4: Do Poder Judiciário: organização Aula 5: Das funções essenciais à Justiça Aula 6: Da Ação Aula 7: Do Processo 7 AULA 1 – A solução de conflitos Objetivos Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: • reconhecer os conceitos básicos ao Direito Processual e as formas de resolução dos conflitos jurídicos; • distinguir o Direito Material do Direito Processual. Pré-requisitos Para que você atinja os objetivos propostos, é interessante que faça uma leitura prévia a respeito dos conceitos básicos do Direito Processual e as normas de resolução dos conflitos jurídicos, distinguindo o Direito Material do Direito Processual. Introdução A solução dos conflitos entre os homens nem sempre se deu da forma como conhecemos hoje, seja na via judicial ou extrajudicial. Antes de o Estado chamar para si a tarefa de dizer o Direito, o que assistíamos era a solução dos conflitos via vingança privada, os mais fortes sempre vencendo os mais fracos. Com o passar dos tempos, o Direito aparece como uma das formas de controle social, com o fim de solucionar os conflitos de maneira mais justa. 1.1 O homem e o direito Desde a Antiguidade, o homem vê no Direito uma forma de instrumento de controle social, embora, naquele tempo, o homem já sofresse igualmente a influência de outros instrumentos de controle social, como amoral e a religião. Daí a razão do brocardo jurídico: ubi societas ibi ius. A relação entre a sociedade e o direito encontra-se fundada na função de controle que o direito exerce na sociedade por meio de sua força coativa. Assim, o direito representa a via de compatibilização entre as necessidades e os interesses que surgem em decorrência da vida em sociedade. 8 Para compreender necessidades e interesses na forma que interessam ao direito, são envolvidos na análise alguns conceitos básicos, tais como: necessidade, bem, utilidade, interesse, conflito de interesses, pretensão, resistência e lide. a) Necessidade A palavra necessidade, segundo o dicionário Houaiss (2004), pode ser entendida como: “As exigências mínimas para satisfazer condições materiais e morais de vida”. Podemos citar como exemplo as carências naturais(necessidades) do organismo humano, como beber, comer, dormir etc. Segundo Alvim (2005, p. 2), as necessidades são satisfeitas, levando-se em conta determinados elementos: O homem experimenta necessidades as mais diversas, sob variados aspectos, e tende a proceder de forma a que sejam satisfeitas; que desapareça a carência ou se restabeleça o equilíbrio perdido. A necessidade decorre do fato de que o homem depende de certos elementos, não só para sobreviver, como para aperfeiçoar-se social, política e culturalmente, pelo que não seria errôneo dizer que o homem é um ser dependente. b) Bem Carnelutti citado por Alvim (2005, p. 3) lecionava que bem é o ente capaz de satisfazer uma necessidade. Assim, para o direito, bem deve ser entendido de forma ampla, abrangendo tanto os bens materiais como os imateriais. BENS MATERIAIS IMATERIAIS Água Paz Alimento Liberdade Vestuário Honra Transporte Amor c) Utilidade Para Carnelutti citado por Alvim (2005, p. 3), “utilidade é a capacidade ou a aptidão de uma coisa (bem) para satisfazer uma necessidade”. Alvim (2005, p. 3), porém, faz uma ressalva: nem “sempre que haja utilidade num bem, ocorra um interesse relativamente a ele”. Para ilustrar, usamos o exemplo de Carnelutti citado por Alvim, para quem o pão sempre será um bem e sempre terá uma utilidade, mas não haverá interesse (no pão) para quem não tem fome ou não prevê que possa vir a tê-la 9 (ALVIM, 2005, p. 4). SAIBA MAIS Carnelutti foi considerado um dos maiores juristas italiano do século XX, nascido em 1879 e falecido em 1965. Professor da Universidade de Milão. d) Interesse Este tópico é que efetivamente assume relevância para o Direito, quer pela importância, quer pela discussão doutrinária sobre o tema. Porém, há divergência doutrinária sobre o melhor significado do termo interesse. Segundo o entendimento de Carnelutti citado por Alvim (2005, p. 4) o interesse é a posição favorável do homem em relação à satisfação de uma necessidade. É a relação entre o ente (homem) que experimenta a necessidade e o ente (bem) apto a satisfazê-la. Segundo o entendimento de Ugo Rocco citado por Alvim (2005, p. 4), o interesse pode ser compreendido como sendo: “Juízo formulado por um sujeito acerca de uma necessidade, sobre a utilidade ou sobre o valor de um bem, enquanto meio para a satisfação dessa necessidade. Ato da inteligência, que é dado pela representação de um objeto (bem), pela representação de uma necessidade e pela representação da aptidão do objeto (bem) para satisfazer a própria necessidade.” Por outro lado, temos que considerar que, de acordo com esse raciocínio, nem sempre o homem estará numa posição de interesse. Pode-se citar como exemplo o fato de que, se o homem está com fome e possui o alimento à sua disposição, estará em uma posição de interesse, o que não ocorrerá na hipótese do homem que tem fome e não tem o alimento à sua disposição. O interesse, no que toca à sua relação com o Direito, pode ser classificado, em um primeiro momento, como: Interesse imediato e Interesse mediato. • Interesse imediato: quando a situação se presta diretamente à satisfação de uma necessidade. Ex: quem possui o alimento presta-se diretamente à satisfação da necessidade de alimentar-se. • Interesse mediato: quando a situação apenas indiretamente presta-se a satisfação de uma necessidade, enquanto dela possa derivar uma outra 10 situação (intermediária), que consegue a satisfação da necessidade. Ex: quem possui dinheiro para adquirir alimento, apenas indiretamente (mediatamente) se presta à satisfação da necessidade de alimentar-se. Outra questão importante é a definição das espécies de interesses. Alvim (2005, p. 5) menciona que o interesse se classifica em: interesse individual e interesse coletivo. • Interesse individual: caracteriza-se quando existe uma situação favorável à satisfação de uma necessidade, pode determinar-se em relação a um só indivíduo, de forma isolada. • Interesse coletivo: caracteriza-se por uma situação favorável à satisfação de uma necessidade não pode determinar-se senão em relação a vários indivíduos. 1.2 Conflito de Interesses, Pretensão, Resistência e Lide Vistos os significados de necessidade, bem, utilidade e interesse, faz-se necessário tratar dos conceitos de conflito de interesses, pretensão, resistência e lide. Alvim (2005, p. 6) ensina que existe conflito de interesses quando ”a situação favorável à satisfação de uma necessidade exclui, ou limita, a situação favorável à satisfação de outra necessidade.” O conflito de necessidade que envolve dois interesses e uma só pessoa pode ser chamado de conflito subjetivo. Ocorre quando o indivíduo tem mais de uma necessidade e tem que se decidir por uma delas em específico. Em geral, não ultrapassa as pessoas do próprio sujeito nele envolvido. Há, também, o que se pode chamar de conflito intersubjetivo, como chamou Carnelutti citado por Alvim (2005, p. 6, grifo nosso), que “é o conflito de interesse que envolve duas ou mais pessoas”. Tem importância para o Estado pelo fato do perigo que representa de uma solução violenta, quando ambos os interessados recorrem à força, para fazer valer o seu direito. Os conflitos de interesses ocorrem, por assim dizer, quando estiver caracterizada a disputa pelos bens considerados limitados ou, ainda, sobre o exercício de direitos sobre esses bens, exigindo-se, assim, o controle e a regulação por parte do Estado, por meio do Poder Judiciário. Instalado o 11 conflito de interesses entre as partes, chega-se ao que a doutrina tradicional denominou de lide. Passamos, então, ao conceito de lide. Carnelutti citado por Alvim (2005, p. 10), ao tratar de lide, leciona que “lide é o conflito de interesses, qualificado pela pretensão de um dos interessados e pela resistência do outro". A lide compõe-se de um elemento material e um elemento formal. Como elemento material da lide, temos o próprio conflito de interesses e, como elemento formal, a pretensão e a resistência, também chamada de oposição (ALVIM, 2005, p. 10-11). Assim, a lide é o próprio conflito de interesses, que pode ser representado, de um lado, por uma pessoa que formula uma pretensão contra outra pessoa, que irá a esta opor uma resistência. 1.3 Das formas de solução dos conflitos Desde que o homem passou a viver em sociedade, passaram a existir conflitos e havia a necessidade de regular a forma de solução. Num primeiro momento, não existia a figura do Estado a regular os conflitos existentes na sociedade. Nesse tempo, imperava a vingança privada. Com o passar do tempo, o Estado chama para si a tarefa de dizer o Direito, ou seja, o Estado passou a controlar os conflitos que aconteciam na sociedade. Assim, em um primeiro momento, o que regulou os conflitos do homem foi a autotutela também chamada de autodefesa. a) Autotutela Conforme Ada Pellegrini Grinover e outros (2005, p. 23), a autotutela possui dois traços característicos: “a) ausência de juiz distinto das partes; b) imposição da decisãopor uma das partes à outra”. Alvim (2005, p.13), ao falar sobre a autodefesa, leciona que Esta forma de resolução dos conflitos é apontada como a mais primitiva, quando ainda não existia, acima dos indivíduos, uma autoridade capaz de decidir e impor sua decisão aos contendores, pelo que o único meio de defesa do indivíduo (ou do grupo) era o emprego da força material ou força bruta contra o adversário para 12 vencer sua resistência. Os Estados modernos reconhecem que, em determinados casos, não há como evitar lesões de Direito. Por isso, o próprio Estado criou mecanismos que permitem ao próprio indivíduo defender seu interesse, mesmo que seja necessário usar de força, desde que respeitados os limites impostos pelo próprio direito (ALVIM, 2005, p. 14). Alvim (2005, p. 14) menciona os seguintes exemplos de autodefesa no Estado moderno: (a) Legítima defesa (art. 25 do Código Penal); (b) Desforço incontinenti (art. 1.210 do Código Civil); (c) Penhor legal (art. 1.467 do Código Civil); e (d) Direito de greve (previsto no art. 9º da Constituição Federal e na Lei nº 7.783/89). SAIBA MAIS: Desforço Incontinenti: é a resistência ou a reação promovida por iniciativa própria do possuidor, por própria força dele. b) Autocomposição Com a evolução do homem, mas ainda em tempos remotos, surgem outras formas de solução de conflitos, como a autocomposição, que pode ser considerada como um passo adiante na solução dos conflitos que se estabeleciam na sociedade. O termo autocomposição, de acordo com Alvim (2005, p.15), deve ser creditado a Carnelutti, que, ao tratar dos equivalentes jurisdicionais, ali a incluiu. Assim auto (próprio) e o substantivo composição, na linguagem do renomado mestre, equivalem a solução, resolução ou decisão do litígio por obra dos próprios litigantes. A autocomposição continua a existir no ordenamento jurídico, nas seguintes formas: a desistência, a submissão e a transação. Grinover e outros (2005, p, 23) traz a definição de cada uma delas: • desistência (renúncia à pretensão); • submissão (renúncia à resistência oferecida à pretensão); • transação (concessões recíprocas). Essas formas de autocomposição só podem acontecer em razão dos 13 direitos disponíveis. Direitos Disponíveis Indisponíveis Pode ser transacionado Não pode ser transacionado Pode haver renúncia Não pode haver renúncia Transigíveis Intransigíveis Dessa forma, com o decorrer dos tempos, com a evolução do homem e do próprio Direito, passou-se a preferir, conforme leciona Grinover e outros (2005, p, 23), a figura do árbitro, que atribuía ao caso concreto uma solução imparcial. Surge assim, conforme Alvim (2005, p. 16), a arbitragem facultativa, como forma bem mais evoluída de solução dos conflitos. SAIBA MAIS: A arbitragem é matéria a ser estudada no 5º período do curso. Normalmente, a figura do árbitro na Antiguidade era representada por um sacerdote: acreditava-se que, por estar intimamente ligado às divindades, isso, por si só, garantiria uma solução mais acertada. Outra figura que normalmente se utilizava como árbitro eram os anciãos, pois eram dotados de sabedoria e conheciam os costumes do grupo social da época. Segundo Alvim (2005, p. 17), a arbitragem facultativa, por seu turno, favoreceu o aparecimento do Processo, que pode ser considerado como a última etapa na evolução dos métodos compositivos do litígio. SAIBA MAIS: Processo - Latim Processu. Proceder: avançar, seguir caminhando. De acordo com o que ensina Alvim (2005, p. 17), o processo se apresenta como um instrumento pronto à viabilização de maior número de soluções justas e pacíficas dos conflitos porque, quando se fala em processo, a contenda é solucionada por um terceiro sujeito, alheio às questões que estão sendo debatidas. Esclarece, ainda, Alvim (2005, p. 18) que, Para que o processo produza resultados é preciso que esse terceiro imparcial que decide o conflito seja mais forte do que as partes litigantes, para que possa impor sua vontade, coativamente, frente a qualquer intuito de desobediência ou descumprimento por parte dos contendores. Compreende-se, pois, que este terceiro seja o Estado. Vários doutrinadores preocuparam-se em definir o processo. Alvim traz-nos alguns conceitos cunhados na doutrina. 14 Para Niceto Alcalá-Zamora y Castillo citado por Alvim (2005, p.18), Processo é o instrumento de que se serve o Estado para, no exercício da função jurisdicional, resolver os conflitos de interesses, solucionando-os. O instrumento previsto como normal pelo Estado para a solução de toda classe de conflitos jurídicos. Carnelutti citado por Alvim (2005, p.19), define processo como sendo O conjunto de atos destinados à formação ou à atuação de comandos jurídicos, cujo caráter consiste na colaboração, para tal fim, de pessoas interessadas (partes), com uma ou mais pessoas desinteressadas (juízes). O processo não se compõe de um único ato, mas de um conjunto de atos coordenados e ligados pelo fim perseguido, que é o de obter a justa composição da lide. Operação mediante a qual se obtém a composição da lide. Para Eduardo Couture citado por Alvim (2005, p. 19), o processo é “o meio idôneo para dirimir imparcialmente, por ato de juízo da autoridade, um conflito de interesses com relevância jurídica”. 1.4 O Direito Processual Depois de estudar as formas de solução dos conflitos de interesses em sociedade, a par de toda a evolução do homem, e as mudanças que ocorreram ao longo do tempo, passamos ao estudo do direito processual propriamente dito, traçando um paralelo entre este e o direito material. Acompanhe o raciocínio de José de Albuquerque Rocha (2005, p. 31), segundo o qual Com o advento do Estado, principalmente do Estado burguês, as normas de conduta passaram a ser criadas, em sua quase totalidade, por órgãos específicos do Estado, através das leis e outros atos semelhantes, e também garantidas, em última instância, pelo próprio Estado, e não mais criadas e garantidas diretamente pela sociedade, como acontecia antes. Como visto anteriormente, no início o homem resolvia os seus conflitos de interesses por meio da autotutela, que era marcada pela falta de intervenção do Estado. Este apenas passou a intervir nos conflitos de interesses já bem mais adiante. Na clássica subdivisão do Direito em Direito Público e Direito Privado, o Direito Processual está colocado como ramo do Direito Público. Essa divisão deve ser entendida apenas do ponto de vista doutrinário. Isso se deve ao fato de 15 que, em nossa disciplina, o direito será melhor compreendido quando classificado em direito material e direito processual. Passemos então a uma breve análise sobre o direito material e o direito processual, de acordo com o que leciona Rocha (2005, p. 32-34), que assim ilustra a diferença entre ambos. DIREITO MATERIAL PROCESSUAL Conjunto de normas de valoração das condutas sociais, visando à proteção dos interesses considerados essenciais à manutenção de uma dada formação social cuja aplicação é garantida, pelo aparelho coativo do Estado. Conjunto de normas jurídicas que dispõem sobre a constituição dos órgãos jurisdicionais e sua competência, disciplinando essa realidade que chamamos processo. O direito material disciplina as condutas materiais, isto é, condutas cuja realização não cria novas normas jurídicas, mas situações materiais. O direito processual é um conjunto de normas que tem por objetivo disciplinar os atos de vontade dos órgãos jurisdicionais e partes, para a criação da norma do caso concreto (decisão do conflito) e sua eventual execução. O Direito Material consiste no conjunto de princípios e normas que regulam os fatos e relações sociais, ou seja, são as normas que disciplinam as condutas humanas e pode ser subdividido em: Direito Civil, Administrativo, Comercial, Tributário, Trabalhista, Constitucional, Penal etc.O Direito Processual pode ser compreendido como o complexo de normas e princípios que regem o exercício da jurisdição. É, assim, um instrumento para a concretização do Direito Material. 1.5 A Norma Processual A norma jurídica, em sentido amplo, tem por objeto a regulação da conduta humana, criando direitos e estabelecendo obrigações. As normas processuais, ao contrário, disciplinam os meios de defesa dos direitos estabelecidos pela norma material. a) Objeto da norma processual Conforme leciona Coelho (2004, p. 151-152), o objeto maior das normas processuais é “disciplinar a atividade do Estado e dos litigantes, bem como o desenvolvimento do processo”. A finalidade da norma processual é estabelecer a forma de solução dos conflitos, por meio do processo. PENSANDO SOBRE O ASSUNTO: E como pode a lei processual ser aplicada na solução dos conflitos por meio do 16 processo? Quem a aplica? Aqui nos reportamos à clássica tripartição de poderes de Montesquieu, pela qual a atividade jurisdicional é reconhecida como uma das funções do poder estatal, ao lado das funções administrativas e legislativas. Assim, para exercer a atividade jurisdicional no âmbito do sistema jurídico, faz-se necessário a verificação do disposto no princípio da investidura, pelo qual o juiz necessita estar investido do Poder delegado pelo Estado, para exercer a atividade judicante e aplicar a norma material e a norma processual ao caso concreto. b) Divisão da norma processual na doutrina A doutrina classifica a norma processual em três grandes grupos: • normas processuais em sentido estrito: são as que cuidam do processo como tal, atribuindo poderes e deveres processuais; • normas de organização judiciária: tratam primordialmente da criação e da estrutura dos órgãos judiciários e seus auxiliares; • normas procedimentais: dizem respeito apenas ao modus procedendi, inclusive à estrutura e coordenação dos atos processuais que compõem o processo. Essa divisão é acatada pela própria Constituição Federal nos arts. 22, inciso I e 24, inciso XI. Vejamos cada uma delas. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; [...]. Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: XI - procedimentos em matéria processual; [...]. c) Natureza da norma processual A norma processual é parte integrante do Direito Público, uma vez que é por meio da mesma que se desenvolve a atividade jurisdicional. Assim, quando falamos em norma processual, não é propriamente uma relação de coordenação, mas, como nos ensinam Grinover e outros (2001, p. 90), é uma relação de “poder e sujeição, predominando sobre o interesse público na 17 resolução (processual e, pois, pacífica) dos conflitos e controvérsias”. Para melhor ilustrar a classificação das normas jurídicas processuais quanto à sua natureza, traçamos o quadro abaixo, distinguindo as normas processuais cogentes das normas processuais dispositivas. NORMAS PROCESSUAIS COGENTES DISPOSITIVAS • Devem ser cumpridas independentemente da vontade de quem é obrigado a cumpri-la. • Regras inderrogáveis pela vontade das partes. • Também devem ser obedecidas, mas podem ser afastadas, nos limites fixados pela própria lei e pela vontade das partes. • Ex: regime de casamento do Código Civil. d) Eficácia da lei processual no tempo e no espaço • Eficácia da lei processual no espaço A norma jurídica, seja ela material ou processual, tem eficácia no tempo e no espaço: aplica-se em determinado período e território. Grinover e outros (2001, p. 96) explicam que o princípio que regula a eficácia espacial da norma processual é o da territorialidade. Assim, a esta se impõe sempre à aplicação da lex fori. SAIBA MAIS: Lex fori - lei do foro onde se resolve o litígio, proferindo decisão, sendo competente, portanto, para reger a forma do processo (DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 03, p. 113). A territorialidade da aplicação da lei processual encontra-se expressa no art. 1º do Código de Processo Civil: “A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes em todo território nacional, conforme as disposições que este código estabelece”. Contudo, devemos observar que o princípio da territorialidade não significa, como lecionam Grinover e outros (2001, p. 97), que o juiz deva ignorar a regra processual estrangeira, pois, no caso do art. 231 do CPC, esta constitui pressuposto para a aplicação da lei nacional. Os autores, contudo, alertam para o fato de que não se pode confundir a aplicação da norma processual estrangeira com a aplicação da norma material estrangeira, referida pelo direito processual nacional, especialmente no art. 7º do CPC. • Da lei processual no tempo 18 Como as demais normas jurídicas, a norma processual também é limitada no tempo, considerado o disposto no direito intertemporal. Dois aspectos devem ser levados em consideração. Vamos a eles: • as leis processuais brasileiras submetem-se ao disposto na Lei de Introdução do Código Civil - LICC, no tocante à observância da eficácia temporal das leis. Em regra, quando não se dispuser de forma contrária, ou no silêncio da lei, a mesma entra em vigor, em todo o país, quarenta e cinco dias após sua publicação; • problema maior ocorre quando a lei incidir sobre situações idênticas, para se estabelecer qual das leis - se a anterior ou a posterior - deve ser aplicada ao caso concreto. Como nos ensina Grinover e outros (2001, p. 98), o processo se constitui por uma série de atos que se desenvolvem e se praticam sucessivamente no tempo (atos processuais integrantes de uma cadeia unitária, que é o procedimento), torna-se particularmente difícil e delicada a solução do conflito temporal de leis processuais. Ocorrendo o conflito de normas processuais no tempo, devemos analisar os sistemas propostos por Grinover e outros (2001, p. 98), que poderiam ser em tese levados em consideração, realçando o sistema do isolamento dos atos processuais que é o sistema consagrado na doutrina brasileira, além de estar expresso no CPP e no CPC. São eles: • Sistema da unidade processual: apesar de se desdobrar em vários atos, o processo apresenta uma unidade que somente poderia ser regulado por uma única norma, seja nova ou velha, devendo a velha se impor para não ocorrer a retroação da nova, com prejuízo dos atos praticados até a sua vigência; • Sistema das fases processuais: sistema no qual distinguir-se-iam fases processuais autônomas (postulatória, ordinatória, instrutória, decisória e recursal), cada uma delas capaz de ser disciplinada por uma lei diferente; • Sistema do isolamento dos atos processuais: pelo qual a lei nova não atinge os atos processuais já praticados, nem seus efeitos, mas se aplica aos atos processuais a praticar, sem limitações relativas às 19 chamadas fases processuais. e) Interpretação da lei processual Não podemos deixar de levar em consideração que a interpretação e a aplicação das normas processuais estão subordinadas às mesmas regras das normas materiais. “As normas processuais seguem as disposições contidas nos arts. 4º e 5º da Lei de Introdução do Código Civil Brasileiro” (GRINOVER e outros, 2001, p. 102). SAIBA MAIS: Art. 4º. LICC: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Art. 5º. LICC: Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Esclarecem, ainda, os autores acima mencionados, que, para não deixar dúvidas quanto à aplicação daquelas regras, o Código de Processo Penal dispõe de forma expressa no seu art. 3º “a lei processual penal admitirá interpretação extensivae a aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito”. As normas processuais, tais como as normas materiais, necessitam, por vezes, de que se preencham as lacunas da lei. Dessa forma, para se preencher as lacunas verificadas na lei, poderão se fazer uso da integração, conforme se extrai da leitura do art. 126 do CPC: “O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei”. O preenchimento das lacunas da lei, de acordo com Grinover e outros (2001, p. 102), será feito por meio da analogia e pelos princípios gerais do direito. Após o estudo da presente aula, podemos concluir que, a solução dos conflitos entre os homens sofreu uma grande transformação durante a sua evolução histórica, passando da vingança privada, onde os mais fortes sempre venciam os mais fracos, até chegar ao modelo atual em que o Estado chama para si a tarefa de dizer o Direito, com o fim de solucionar os conflitos da maneira menos injusta possível. Síntese da aula 20 Esta aula foi planejada com o intuito de transmitir aos alunos conhecimentos básicos sobre a solução dos conflitos de interesses entre os homens, a lide e os elementos que a compõem. Vimos as formas de solução dos conflitos e as diferenças entre Direito Processual e Direito Material. Estudamos a diferenciação entre as normas materiais e as normas processuais; bem como apresentamos as particularidades destas, como seu objeto, sua natureza, suas características, a eficácia da lei processual no tempo e no espaço e sua interpretação. Atividades 1. É correto afirmar, em relação às normas, que: a) as normas materiais disciplinam os meios de defesa dos direitos; b) as normas processuais visam a assegurar o cumprimento das normas materiais, estabelecendo a forma de possíveis conflitos, por meio da aplicação das normas substanciais; c) o objeto da norma processual é disciplinar somente a atividade do Estado e dos litigantes; d) a natureza jurídica da norma processual é de direito privado. 2. Em relação à lide, é correto afirmar, que: a) os elementos formais da lide são a pretensão e o conflito de interesses; b) a lide pode ser definida como o conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida ou insatisfeita; c) os elementos da lide são o material e o conflito de interesses. 3. Qual o marco distintivo entre as normas cogentes e as normas dispositivas? 4. Disserte, em 20 linhas, sobre a eficácia da lei processual no tempo e no espaço. Comentário das atividades Se você compreendeu os conteúdos ministrados nesta aula, verificou que há diferenças substanciais entre as normas processuais e as normas materiais. Assim, você verificou que, na questão 1, a alternativa (b) está correta, uma vez 21 que as normas processuais asseguram o cumprimento do direito previsto na norma material, estabelecendo a maneira da norma material ser aplicada. A alternativa exposta na letra (a) está errada, uma vez que são as normas processuais que definem os meios de defesa dos direitos. A alternativa (c) está errada, uma vez que a norma processual não disciplina a atividade do Estado e dos envolvidos na lide. Por fim, a alternativa exposta na letra (d), também não está correta, uma vez que a norma jurídica processual é de direito público. Em relação à questão 2, você pode observou que ela é definida como o conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida ou não satisfeita. Assim, a alternativa (b) é a correta. A Alternativa (a) está errada, uma vez que a pretensão e o conflito de interesses são elementos materiais da lide. A alternativa (c) também está errada, uma vez que os elementos da lide são: o forma e o material. O conflito de interesse é o elemento material da lide. Em relação à questão 3, em sua resposta você deve ter levado em consideração que as normas cogentes são obrigatórias e não podem sofrer alteração pelos particulares e as facultativas, diferentemente das cogentes, são permissivas. Você que se propôs a estudar nestes conteúdos a aplicação das normas jurídicas no espaço e no tempo, precisou reconhecer as formas de solução dos conflitos com a aplicação das normas aos casos concretos. Você atingiu esse objetivo respondendo à questão 4, se a resposta foi delineada, levando em conta o território em que ela pode ser aplicada (eficácia no espaço) e por quanto tempo (eficácia no tempo), levando em consideração questões sobre o vigência no tempo e soluções de direito intertemporal. As atividades lhe conferiram a oportunidade de reconhecer os conceitos básicos ao Direito Processual e as formas de resolução dos conflitos jurídicos e de distinguir o Direito Material do Direito Processual. Referências ALVIM, J. E. C. Teoria Geral do Processo. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. CINTRA, A. C. A.; DINAMARCO, C. R.; GRINOVER, A. P. Teoria Geral do Processo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. ROCHA, J. de A. Teoria Geral do Processo. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 22 Na próxima aula Estudaremos os princípios do direito processual tendo por base os aspectos constitucionais ligados ao tema e as funções dos princípios gerais. 23 AULA 2 – Princípios do direito processual Objetivos Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: • reconhecer os princípios que dão forma ao Direito Processual, a partir da doutrina e da Constituição Federal; • identificar as funções desses princípios. Pré-requisitos Para você alcançar os objetivos propostos, é interessante que leia a respeito do assunto nas obras indicadas na bibliografia básica, bem como as fontes do Direito, estudados na disciplina Introdução ao Estudo do Direito, pois darão a você embasamento teórico para a compreensão da presente aula. Introdução O estudo dos princípios no âmbito da ciência jurídica é fator de grande relevância. Isso porque os princípios são como leitores de uma realidade, considerados como sobre-normas que informam os fundamentos do Direito. Sinalizam, também, uma varredura dos caminhos a serem percorridos pelo intérprete do Direito, que faz uso dos mesmos ao interpretar as normas, em harmonia com os valores consagrados na Constituição Federal. Neste tema, a ênfase será dada aos princípios que se aplicam de forma geral à Teoria Geral do Processo e, à medida que aprofundarmos no estudo do Direito Processual Penal e do Direito Processual Civil, realçaremos os princípios inerentes a cada uma dessas disciplinas. 2.1 Princípios gerais do direito processual Ao tomar como ponto de partida o fato de que nós vivemos em um Estado Democrático de Direito, não poderíamos deixar de iniciar o estudo sobre princípios relacionando-os à nossa ordem constitucional. Dinamarco (2001, p. 191) leciona que: 24 A tutela constitucional do processo é feita mediante os princípios e garantias que, vindos da Constituição, ditam padrões políticos para a vida daquele. Trata-se de imperativos cuja observância é penhor da fidelidade do sistema processual à ordem político-constitucional do país. Tomando por base as noções de direito vistas na disciplina Introdução ao Estudo do Direito, é necessário visualizar as fontes do Direito, uma vez que os princípios gerais do direito encontra-se entre elas. Aliás, a própria Lei de Introdução ao Código Civil - LICC reporta-se aos princípios como fonte de direito, no seu art. 4º, que dispõe o seguinte: “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.” O quadro a seguir demonstra quais são as fontes do direito. FONTES DO DIREITO MATERIAIS FORMAIS • Valores sociais • Elementos culturais • Vontade do povo etc. ESTATAIS NÃO ESTATAIS • Lei • Jurisprudência • Convenção Internacional • Costumes • Doutrina • Princípios Gerais do Direito Para ilustrar a importância do estudo dos princípios, énecessário mencionar, inicialmente, as funções dos mesmos. Rocha (2005, p. 42-43) enumera três funções dos princípios no Direito Processual. São elas: Função Fundamentadora Função Orientadora da Interpretação Função De Fonte Subsidiária Os princípios constituem a raiz de onde deriva a validez intrínseca do conteúdo das normas jurídicas. Quando o legislador se dispõe a normatizar a realidade social, o faz sempre, a partir de algum princípio. Os princípios são idéias básicas que servem de fundamento ao Direito Positivo. A função orientadora decorre da função fundamentadora do direito. Se as leis são informadas ou fundamentadas nos princípios, então devem ser interpretadas de acordo com os mesmos, porque são eles que dão sentido às normas. Os princípios servem, pois, de guia e orientação na busca do sentido e alcance das normas. Nos casos de lacunas da lei os princípios atuam como elemento integrador do direito. Como a lei funda-se nos princípios, estes servem, seja como guia para a compreensão do seu sentido (interpretação), seja como guia para o juiz suprir a lacuna da lei, isto é, como critério para o juiz formular a norma do caso concreto. Uma discussão que se coloca presente quando falamos de princípios, já nos remetendo à matéria processual, é o que a doutrina tende a nomear de 25 princípios formativos do processo. Esta discussão se faz presente, como leciona Dinamarco (2001, p. 195-196): A técnica processual inclui também um número extenso de regras de grande importância, desenvolvidas ao longo dos séculos e da experiência acumulada, sendo responsáveis pela boa ordem do processo e correto encaminhamento de suas soluções. Rigorosamente, contudo, não se qualificam como princípios porque têm lugar no interior do sistema e não atuam como pilares sobre os quais este se apóia. Dentre esses princípios técnicos, destacam-se, quase que de forma unânime, segundo a doutrina: I - princípio econômico: voltado às questões de economia processual; II - princípio lógico: seleção de meios eficazes à descoberta da verdade e das soluções corretas, evitando erros; III - princípio jurídico: postula a igualdade no processo e a fidelidade dos julgamentos ao Direito Substancial; IV - princípio político: direcionado ao binômio representado pelo máximo possível de garantia social com o mínimo de sacrifício pessoal. Estudados os princípios informativos do processo, passamos ao estudo dos princípios de índole político-constitucional ou, ainda, dos princípios sustentáculos da Teoria Geral do Processo. Elegemos para nosso estudo os elencados por Rocha (2005, p. 45/49), que passamos a expor de forma sintetizada. a) princípio da independência: o Princípio da independência pode ser visto sob duas óticas. Pode ser entendido sob a ótica da instituição judiciária (art. 2º da CF) ou do juiz, pessoa física (art. 95 da CF). Dessa forma, por independência pode-se entender tanto a ausência de sujeição a ordens de outros poderes, bem como as garantias de imparcialidade que garantem ao juiz certa estabilidade, especialmente nas causas em que o Estado é parte. b) princípio da imparcialidade: significa em resumo, a eqüidistância do juiz das partes e seus interesses nos processos em que atua. A imparcialidade pode ser subjetiva (quando disser respeito às partes) e objetiva (quando disser respeito aos interesses). Vale lembrar, porém, que as idéias políticas do juiz não comprometem a sua imparcialidade, que só pode ser exigida sob a égide do caso concreto; 26 c) princípio do juiz natural: estabelece um tríplice entendimento. Num primeiro momento significa que a instituição dos juízos e tribunais devem ser anteriores ao fato ensejador de sua atuação. Num segundo momento, que a competência dos órgãos deve ser estabelecida por regra geral. E, por último, requer que a designação dos juízes seja feita com base em critérios gerais, estabelecidos por lei ou procedimentos fixados em lei. d) princípio da exclusividade da jurisdição pelo Judiciário: em síntese, o princípio quer dizer que nenhum conflito pode ser excluído da apreciação do judiciário. Art. 5º, XXXV: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. SAIBA MAIS: Art. 5º, XXXV. A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. O princípio, porém, comporta temperamentos, uma vez que a própria Constituição estabelece a exceção do art. 52, incisos I e II, que dita regra de competência privativa ao Senado Federal, para processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República, nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles e, ainda, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, o Procurador Geral da República e o Advogado Geral da União, nos crimes de responsabilidade. No âmbito infraconstitucional, ressalta-se, também, a título de exceção do princípio da exclusividade da jurisdição pelo judiciário, os conflitos dirimidos por árbitros à luz da Lei nº 9.307/1996: e) princípio da inércia: o processo não pode principiar por iniciativa do juiz. Pode-se dizer que deriva do princípio da independência (visa a resguardar a imparcialidade do juiz) e do acesso à justiça; f) princípio do acesso à justiça: é a possibilidade garantida pela Constituição Federal, no seu art. 5º, XXXV, para que todos possam pleitear a proteção jurisdicional do Estado; g) princípio do devido processo legal: princípio expresso no art. 5º, LIV, da Constituição Federal que estabelece “ninguém será privado da liberdade ou 27 de seus bens sem o devido processo legal”. Assim, cabe ao Judiciário observar o processo estabelecido em lei, a fim de que este assegure o respeito às garantias e direitos fundamentais aos que a ele se submetem; h) princípio da igualdade: derivado do princípio do devido processo legal. Expresso na Constituição Federal no art. 5º caput. Atualmente, temos que enxergar o princípio da igualdade não só sob a ótica da igualdade formal, mas também do aspecto da igualdade substancial; i) princípio do contraditório: decorre da própria estrutura dialética do processo. Pressupõe que a verdade só pode ser evidenciada pelas teses contrapostas das partes. Por este princípio, o órgão judicante não pode decidir uma demanda, sem ouvir a parte contra qual ela foi proposta; j) princípio da ampla defesa: previsto no art. 5º, inciso LV da Constituição Federal. Por este princípio, entende-se que as partes podem produzir provas de maneira ampla, quando observados os meios lícitos conhecidos e permitidos pelo direito. A ampla defesa, em sentido amplo, significa a observância de dois ângulos: a defesa técnica, que é a defesa por advogado, e a defesa não técnica, que consiste no direito de presença; l) princípio da liberdade da prova: expresso na Constituição Federal, no seu art. 5º, LVI “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meio ilícito”. Assim, serão admitidos todos os meios de prova em direito, admitidas desde que não sejam obtidas por meio ilícito; m) princípio da publicidade: o princípio da publicidade destina-se: (a) às partes; e (b) ao público em geral. Possui grande relevância e também está expresso na Constituição Federal no seu art. 93, IX; n) princípio dos recursos: no Brasil, o recurso constitui-se garantia fundamental inerente à ampla defesa. A própria estrutura dos órgãos judicantes induz à aceitação do princípio dos recursos, facultando a parte sucumbente a possibilidade de outro órgão jurisdicional reexaminar a decisão que lhe foi desfavorável; o) princípio da motivação: a motivação das decisões encontra-se expressa no art. 93, IX; portanto, o juiz, como intérprete e aplicador da lei, deverá motivar suas decisões, sob pena de cometer ato contrário ao direito; 28p) princípio da coisa julgada: visa a assegurar a efetividade das decisões judiciais. Expresso na Constituição Federal no art. 5º, XXXVI: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”; q) princípio da justiça gratuita: pode ser considerado como a manifestação do princípio da igualdade material no processo. É princípio expresso na Constituição Federal no art. 5º LXXIV: “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.”, bem como no art. 134, também da Constituição Federal: “A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados na forma do art. 5º, LXXIV”. Síntese da aula Nesta aula, tivemos a oportunidade de estudar as fontes do direito, as funções dos princípios gerais do direito e os princípios informativos do processo, à luz da Constituição federal, que dão sustentabilidade à Teoria Geral do Processo. Estudamos, de forma específica, os princípios da independência, da imparcialidade, do juiz natural, da exclusividade da jurisdição pelo judiciário, da inércia, do acesso à justiça, do devido processo legal, da igualdade, do contraditório, da ampla defesa, da liberdade da prova, da publicidade, dos recursos, da motivação, da coisa julgada e da justiça gratuita. Atividades 1. Em relação aos princípios, é correto afirmar que: a) as funções dos princípios no Direito Processual são a função fundamentadora e a função de fonte subsidiária; b) a função fundamentadora dos princípios atua nos casos de lacunas da lei; c) a função de fonte subsidiária consiste em que os princípios constituem a raiz de onde deriva a validez intrínseca do conteúdo das normas jurídicas; d) são funções dos princípios no Direito Processual: a fundamentadora, a orientadora da interpretação e a fonte subsidiária; 29 e) pelo princípio da inércia, o juiz pode iniciar o processo. 2. Das alternativas a seguir apresentadas, uma não representa o princípio da imparcialidade do juiz. Marque-a. a) O princípio determina a imparcialidade em relação às partes envolvidas na demanda. b) O princípio determina a imparcialidade em relação aos interesses envolvidos na demanda. c) O princípio representa a eqüidistância do juiz em relação às partes e aos interesses envolvidos nos processos em que atua. d) Exterioriza a imparcialidade que o juiz deve ter perante as partes e perante os interesses, ressalvados os casos em que as posições políticas, morais e religiosas do magistrado estejam em choque com o processo. 3. Em que consiste o princípio do devido processo legal? 4. É correto afirmar que os princípios do Direito Processual servem para suprir lacunas normativas? Comentário das atividades Se você compreendeu os tópicos trabalhados nesta aula, verificou que, para a questão 1, a resposta correta é a descrita na letra (d), uma vez que são três as funções dos princípios no Direito Processual: a função fundamentadora; a função orientadora da interpretação e a função de ser fonte subsidiária do direito. Por estarem incompletas, as alternativas (a) e (b) estão erradas. A alternativa “c” está errada, uma vez que os princípios, como fonte subsidiária do direito, têm por finalidade auxiliar na interpretação das leis. Por fim, a letra “d” está errada, uma vez que, pelo princípio da inércia, a atuação do juiz deve ser provocada. Em relação à questão 2, você estudou que o princípio da imparcialidade se dirige ao juiz ao conduzir um processo. Neste sentido, ele não pode sofrer influências externas. Reconhecendo, assim, o princípio da imparcialidade, você 30 acertou se marcou a alternativa (d), uma vez que as concepções morais, religiosas ou políticas do magistrado não podem ser o fator determinante de sua decisão. Todas as demais alternativas representam o princípio da imparcialidade do juiz, quer seja em relação às partes, quer em relação ao interesses envolvidos na lide. Para responder à questão 3, sua resposta deve ter contemplado, os ditames do art. 5º, LIV, da Constituição Federal. Você viu que o princípio constitucional do devido processo legal, estabelece que, em respeito aos direitos e garantias individuais, “ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens, sem o devido processo legal”. Você precisou reconhecer que por este princípio, a existência e validade do processo é questão indispensável para alguém ser preso ou perder seus bens. Na questão 4, você identificou dentre as funções dos princípios processuais, a chamada função de ser “fonte subsidiária”. Assim, se você respondeu que se a norma for incompleta ou se assunto não é regulado pela lei, os princípios servem para suprir esta omissão ou esta lacuna da norma, a resposta está correta. As atividades propostas lhe deram a oportunidade de alcançar os objetivos da aula de reconhecer os princípios que dão forma ao Direito Processual, a partir da doutrina e da Constituição Federal e de identificar as funções desses princípios. Referências CINTRA, A. C. A.; DINAMARCO, C. R.; GRINOVER, A. P. Teoria Geral do Processo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. COELHO, F. A. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004. Na próxima aula Estudaremos tópicos relativos à Jurisdição, às espécies de jurisdição e conhecerem como se dá o exercício da jurisdição por meio da Competência. 31 AULA 3 – Jurisdição e competência Objetivos Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: • definir o que é jurisdição e apontar suas características; • conhecer os princípios, os fins e as espécies da jurisdição. Pré-requisitos Para você alcançar os objetivos propostos, é interessante que leia a respeito do assunto nas obras indicadas na bibliografia básica, bem como as aulas 1 e 2 deste caderno de conteúdos e atividades, pois darão a você embasamento teórico para a compreensão da presente aula. Introdução Para o Estado desempenhar sua função jurídica, necessita de se ater a duas ordens de atividades: a legislação e a jurisdição. A primeira ordem estabelece as normas que regulam a vida em sociedade, ditando o que é lícito e o que é ilícito, atribuindo direitos e obrigações. Já a segunda ordem se caracteriza pela atuação do Estado, com o intuito de solucionar os conflitos de interesses, declarando qual é o preceito que se aplica ao caso concreto. Dada a forma com que o Estado brasileiro é organizado, especialmente em relação ao Poder Judiciário, é necessário definir quem tem competência legal para aplicar a norma vigente ao caso concreto. 3.1 Definição de jurisdição Juris + dictio = dizer o direito Muitos autores, para definir o que é jurisdição, levam em conta apenas o significado literal da palavra, assim, para defini-la, apoiamos-nos em Coelho (2004, p. 180). Pode-se considerar, num primeiro momento, que é a função do Estado, concretizada pelo Poder Judiciário, de dizer o direito. Boa parte da doutrina prefere conceituar a jurisdição da seguinte 32 forma: função do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve com justiça (GRINOVER e outros, 2001, p. 131). 3.2 Jurisdição enquanto poder A jurisdição, enquanto manifestação do poder estatal, pode ser conceituada, segundo Grinover e outros (2001, p. 131), como “a capacidade de decidir imperativamente e impor decisões”. Assim, a jurisdição gera um poder de império, no qual as decisões, quando não acolhidas espontaneamente, são impostas, a fim de gerar eficácia atingindo sua finalidade. 3.3 Jurisdição enquanto função A jurisdição é uma função estatal, visto que, salvo em casos especiais, não se permite a autotutela, como visto nas unidades anteriores. Ela representao poder de julgar, que decorre do imperium pertencente ao Estado. A jurisdição, como função do Estado, representa, de acordo com Coelho (2004, p. 181): a) poder: manifestação do imperium (autoridade, domínio) do Estado, por meio do qual impõe e determina o cumprimento coativo (através da força se necessário) de suas decisões; b) função: atribuição própria dos órgãos jurisdicionais de prestarem a tutela jurisdicional, para que ocorra a pacificação social; c) atividade: complexo de atos praticados no processo pelos juízes e auxiliares como representantes do Estado. 3.4 Características da jurisdição Várias são as características da jurisdição. Dentre elas, Coelho (2004, p 181 e182) destaca as seguintes: a) imparcialidade do juiz: o juiz, como agente ou representante do Estado, age de forma imparcial no processo; b) inércia: como decorrência da adoção do princípio da ação ou da demanda, é preciso acionar, movimentar o Poder Judiciário, pois seus órgãos são inertes, 33 de acordo com os brocardos jurídicos que ilustramos a seguir: Nemo judex sine actore = não há juiz sem autor Ne procedat judex ex officio = o juiz não deve proceder de ofício c) observância do contraditório: no exercício da atividade jurisdicional do Estado, está presente a possibilidade de contrariar, contradizer, contestar o que foi alegado pela parte contrária. O contraditório aqui se perfaz por dois elementos: (i) informação e (ii) reação; d) coisa julgada e irrevogabilidade dos atos jurisdicionais pelos outros poderes: a coisa julgada é definida em nosso direito como sendo a eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso; e) atividade substitutiva: conforme Chiovenda citado por (Coelho, 2004, p. 182), a jurisdição é [...] a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade dos órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no afirmar a existência da vontade da lei [processo de conhecimento], já no torná-la, praticamente efetiva, [processo de execução]. f) atividade voltada para a solução de uma lide: a existência de uma lide ou litígio corresponde ao conflito de interesses caracterizado por uma pretensão resistida, é o fator que, para Carnelutti, identifica a jurisdição e serve para diferenciá-la das demais funções estatais; g) caráter público: essa característica decorre do fato, de a jurisdição estar relacionada ao Estado e ser voltada para a satisfação dos interesses públicos; h) instrumental: a jurisdição é o instrumento para a realização do direito material. Sua existência liga-se à suposta existência de uma relação jurídica material, servindo para tornar efetivo os comandos normativos que regulam os relacionamentos disciplinados pelo direito; i) inafastabilidade ou indeclinabilidade: O art. 5º, XXXV da CF dispõe que “a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito”. Assim, não há como afastar o controle jurisdicional e os juízes; por outro lado, não podem declinar de suas atribuições, já que atuam em nome do Estado e não para a satisfação de interesses pessoais; j) presença do juiz natural: o juiz natural é aquele que se liga ao litígio antes 34 mesmo de sua ocorrência. Sua competência para solucionar determinados tipos de conflitos é previamente estabelecida em lei; l) territorialidade: a atividade de dizer o direito adere a determinado território, consoante a idéias de soberania. 3.5 Fins da Jurisdição Fredie Didier Junior (2003, p. 39) apresenta-nos os fins da jurisdição. Segundo o autor, a jurisdição encontra-se arrimada em três fins. São eles: I - O escopo jurídico: atuação da vontade concreta da lei. A jurisdição tem por fim primeiro, portanto, fazer com que se atinjam, em cada caso concreto, os objetivos das normas de direito objetivo substancial. A aplicação ou a realização do Direito objetivo não é uma atividade privativa ou específica da jurisdição. Os particulares, quando cumprem a lei, realizam o direito objetivo; II - O escopo social: Promover o bem-comum, com a pacificação com justiça, pela eliminação dos conflitos além da consciência dos direitos próprios e respeito aos alheios. Como forma de expressão de poder do estado, deve-se canalizar fins do Estado. Perceba que, aqui, o fim é jurisdição em si mesma, não das partes, pois ninguém seria ingênuo de afirmar que alguém entra com uma ação condenatória contra outrem por interesses altruístas; III - O escopo político: O Estado busca a afirmação de seu poder, além da participação democrática (ação popular, ações coletivas, presença de leigos nos juizados etc.) e a preservação do valor liberdade, com a tutela das liberdades políticas por meio dos remédios constitucionais (tutela constitucional da liberdade). Desta forma, a atuação da vontade concreta da lei, a promoção do bem-comum, e a busca da afirmação do poder estatal, são os pilares do instituto jurídico da jurisdição. 3.6 Princípios da Jurisdição O instituto jurídico da jurisdição é fundado em diversos princípios, tais como: a) Princípio da investidura: o Estado atua por meio de seus órgãos. E, assim sendo, somente os agentes políticos investidos do poder estatal de aplicar o direito ao caso concreto é que podem exercer a jurisdição. A investidura se dá, em regra, por aprovação em concursos públicos de títulos e conhecimento jurídico. Além desta via, a investidura poderá ocorrer, também, pela nomeação direta, por ato do chefe do Poder Executivo, nos casos 35 previstos em lei, de pessoas com prévia experiência e notável saber jurídico, por exemplo, o ingresso na magistratura pelo quinto constitucional, ou nomeação dos ministros dos tribunais superiores. b) Princípio da aderência ao território: o exercício da jurisdição, por força do princípio da territorialidade da lei processual, está atrelado a uma prévia delimitação territorial. Grinover e outros (2001, p. 138) leciona que, por existirem muitos juízes no mesmo país, distribuídos em comarcas, pode-se daí inferir que “cada juiz só exerce sua autoridade nos limites do território sujeito por lei à sua jurisdição”; c) Princípio da indelegabilidade: como a jurisdição é investida após preenchimento de rigorosos critérios técnicos, como nos concursos públicos, por exemplo, não podem os investidos na função delegar o ônus que a própria Constituição lhe atribuiu com exclusividade. d) Princípio da inevitabilidade: a situação das partes (autor e réu) será a de sujeição quanto ao decidido pelo órgão jurisdicional, independentemente da vontade das partes ser contrária à decisão proferida pelo Estado-juiz. e) Princípio do juiz natural: apregoa que todos têm direito de ser julgados por um juízo independente e imparcial, previsto como órgão legalmente criado e instalado anteriormente ao surgimento da lide. É diametralmente oposto aos Tribunais de Exceção. Ex.: Tribunal de Nuremberg, criado após a Segunda Guerra, para julgamento dos delitos praticados pelos nazistas. 3.7 Unidade da jurisdição Rocha (2005, p. 92) afirma que [...] quando falamos em espécies de jurisdição, temos em vista não uma pluralidade de funções jurisdicionais, mas a diversidade das matérias sobre as quais se exerce a jurisdição, ou outras particularidades, que impõem a repartição das atribuições jurisdicionais entre diferentes órgãos, o que, contudo, não informa a tese de sua unidade, vez que em todas essas situações a jurisdição é, sempre, a mesma função soberana do Estado de dizer ou executar coativamente o direito no caso concreto, em última instância, e de modo definitivo e irrevogável. Reforçando a idéia de unidade da jurisdição, resultado do fato de ser esta uma atribuição fundamental do Estado exercida por ele em regime de exclusividade significa, Rocha (2005, p. 91) afirma “que só o Estado a exerce, 36através dos órgãos por ele instituídos, e que só esses órgãos podem prestar o serviço público da justiça, com aquelas características de criatividade, definitividade e irrevogabilidade”. No nosso sistema jurídico, o princípio da unidade da jurisdição encontra-se expresso no art. 5º, incisos XXXV e XXXVII, e no art. 93 da Constituição Federal. No ordenamento infraconstitucional, este princípio está insculpido no art. 345 do Código Penal. 3.8 Jurisdição comum e jurisdição especial A jurisdição comum, como leciona Rocha (2005, p. 92), “é aquela que tem caráter geral; portanto, diz respeito à generalidade dos interesses por tutelar”. Ensina, ainda, o autor que À jurisdição comum cabe conhecer de todas as controvérsias, excluídas apenas aquelas que a lei reserva às jurisdições especiais. A jurisdição comum só está limitada no sentido negativo, pois conhecem todas as causas, menos as que são cometidas a outras jurisdições. A jurisdição especial, ao contrário, é aquela que só conhece as matérias que a lei expressamente assim reconhece. De acordo com Rocha (2005, p.92), “só opera em relação a certos interesses, tendo em vista sua natureza, a qualidade de seus titulares, etc.” A própria Constituição Federal dispõe sobre as justiças que exercem a jurisdição especial e as justiças que exercem a jurisdição comum. Entre as que exercem jurisdição especial estão: a Justiça Militar (arts. 122 a 124); a Justiça Eleitoral (arts. 118 a 121); a Justiça do Trabalho (arts. 111 a 117); e a Justiça Militar Estadual (art. 125, § 3.º). No âmbito da jurisdição comum, estão: a Justiça Federal (art. 106 a 110); e a Justiça Estadual Ordinária (art. 125 e 126). 3.9 Jurisdição penal e jurisdição civil Rocha (2005, p. 93) esclarece que a jurisdição penal “cuida dos conflitos disciplinados pelo Direito Penal comum e especial. É, pois, preposta à atuação das normas penais, que se caracterizam por definirem os fatos puníveis (crimes e contravenções) e lhes cominarem penas, que são as mais graves das sanções“. 37 A jurisdição civil, por seu turno, define-se, segundo Rocha (2005, p. 93), “por exclusão da jurisdição penal. Tudo quanto não cabe na jurisdição penal, por exclusão, é jurisdição civil. Tem, pois, por objeto, todas as matérias que a lei não confia à jurisdição penal”. 3.10 Jurisdição superior e inferior Grinover e outros (2005, p. 155) mencionam que é próprio da natureza humana o inconformismo, perante as decisões desfavoráveis do judiciário. Na maioria das vezes, a parte vencida quer nova oportunidade, para demonstrar suas razões e reivindicar novamente os seus direitos. A classificação da jurisdição em superior e inferior se dá por conta da posição verticalizada dos órgãos judiciários na estrutura organizacional do Poder Judiciário (ROCHA, 2005, p. 93). Grinover e outros (2005, p. 155) resumem em breves linhas essa estrutura organizacional do Poder Judiciário. Ensinam eles que Chama-se jurisdição inferior àquela exercida pelos juízes que ordinariamente conhecem do processo desde o seu início (competência originária): trata-se na Justiça Estadual, dos juízes de direito das comarcas distribuídas por todo o Estado, inclusive comarca da Capital. E chama-se jurisdição superior a exercida pelos órgãos a que cabem os recursos contra as decisões proferidas pelos juízes inferiores. O órgão máximo, na organização judiciária brasileira, e que exerce a jurisdição em nível superior ao de todos os outros juízes e tribunais, é o Supremo Tribunal Federal. Essa divisão não possui conotação hierárquica, mas apenas distribuição de trabalho, conforme a competência de cada um desses órgãos. E se dá por conta da observação do princípio do duplo grau de jurisdição. 3.11 Jurisdição voluntária e jurisdição contenciosa Didier (2003, p. 50) conceitua a jurisdição voluntária como “a atividade jurisdicional que integra a vontade das partes; sem a participação do Estado-juiz, tal interesse não poderia ser tutelado. Aqui, o órgão judicial atua como fiscalizador da produção de vontade”. Assim a jurisdição voluntária se dá, no dizer do autor, como uma atividade integrativa e fiscalizadora, uma vez que há determinados atos 38 jurídicos dos particulares que se revestem de tal importância, que os mesmos não poderiam se dar sem a participação do Estado-juiz. Didier (2003, p. 50-52) fornece argumentos para os que entendem a jurisdição voluntária como administração pública de interesses privados e para os que entendem a jurisdição voluntária como atividade jurisdicional. A seguir, apresentamos os argumentos presentes na defesa da jurisdição voluntária como administração pública dos interesses privados. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA COMO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE INTERESSES PRIVADOS a) insuficiência de critério orgânico: não é por se tratar de atividades desenvolvidas pelo juiz que poderiam ser consideradas jurisdicionais; b) não atuação do direito: não se visa à atuação do direito ao caso concreto, mas sim à constituição de situações jurídicas novas; c) não haveria substitutividade: o magistrado se insere entre os participantes do negócio jurídico, não os substituindo; d) não existência de lide: não há lide e sim concurso de vontades; e) interessados: como não há conflito, não haveria partes e sim interessados; f) não haveria ação: pois esta consiste no poder de exercitar o judiciário; g) não há processo: não havendo ação, também não haveria processo e sim procedimento; h) não haveria produção de coisa julgada material: os atos em jurisdição voluntária só produzem coisa julgada formal. O juiz nada declara com eficácia para fazer coisa julgada material. Na defesa da jurisdição voluntária como atividade jurisdicional, pesam os argumentos listados a seguir. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA COMO ATIVIDADE JURISDICIONAL a) redação legal: o art. 1º do CPC fala em jurisdição voluntária: Art. 1º do CPC: “A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece”; b) outros escopos: a jurisdição possui outros escopos que não a simples atuação do direito (que não lhe é característica exclusiva); c) preventividade: a lide jamais poderia ser da essência da jurisdição, pois, se assim o fosse, apenas as hipóteses de tutelas repressivas teriam esta qualidade. A jurisdição voluntária possui certa natureza preventiva; d) processo: a jurisdição voluntária se exerce por meio das formas processuais (petição inicial; sentença etc.), além do que, não seria razoável defender-se a inexistência de relação jurídica entre os interessados e o juiz; e) coisa julgada: não se trata de critério diferenciador do ato jurisdicional, pois há hipóteses de jurisdição contenciosa que não fazem coisa julgada material; f) conceito processual de parte: não há parte em sentido substancial, porquanto não haja conflito de interesse material. Mas parte é aquele que postula, daí ser inadmissível não ser parte nesta situação; g) substitutividade: o juiz intervém para assegurar a tutela de um interesse a que ele se mantém estranho, como terceiro imparcial mantendo sua independência. A jurisdição contenciosa, na lição de Coelho (2004, p. 191), “é a exercida em função de um conflito, litígio, ou, nas palavras de FRANCESCO CARNELUTTI, de um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”. A doutrina costuma traçar um paralelo realçando as diferenças entre 39 a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa, que transcrevemos a seguir: JURISDIÇÃO CONTENCIOSA JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA Atividade jurisdicional Atividade administrativa Composição de litígios Administração pública do direito privado Bilateralidade da causa Unilateralidade da causa Questionam-se os direitos ou obrigações de outrem Não se questionam obrigações ou direitos de outrem Envolve partes Envolve apenas interessados Há contraditório ou possibilidade de contraditórioNão há contraditório Há jurisdição Não há jurisdição Há ação Não há ação Há processo Não há processo, mas apenas uma medida administrativa Legalidade estrita Não há obrigatoriedade de legalidade estrita Inter nolentes Inter volentes Há coisa julgada Não há coisa julgada Há revelia Não há revelia Em regra, não há provas determinadas de ofício Qualquer prova pode ser determinada de ofício Fonte: Maximilianus Cláudio Américo Fuhrer (2002, p. 48) 3.12 Jurisdição de direito ou de eqüidade Coelho (2004, p. 192) leciona que a jurisdição por eqüidade encontra arrimo no disposto no art. 127 do CPC, que ora transcrevemos: “o juiz só decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei”. Explica o autor que decidir por eqüidade significa decidir sem as limitações impostas pela precisa regulamentação legal; é que, às vezes, o legislador renuncia a traçar, desde logo, na lei, a exata disciplina de determinados institutos, fato que deixa uma grande margem para a individualização da norma pelos órgãos jurisdicionais. Como exemplo, o próprio autor trabalha três possibilidades: (i) a fixação de alimentos – art. 1.694 do CC; (ii) a decisão na arbitragem – art. 11 da Lei n. 9.307/96; e a jurisdição voluntária – art. 1.109 do CPC. 3.13 Da Competência Segundo Liebman citado por Menna (2005, p. 42), “a competência é a quantidade de jurisdição cujo exercício é atribuído a cada órgão ou grupo de órgãos”. Assim podemos considerar a competência como a repartição do poder estatal entre os órgãos e seus respectivos agentes. Contudo, para se estabelecer a competência de determinado juízo, 40 para julgar determinada causa, alguns critérios devem ser observados. Assim Grecco Filho (2002, p. 170), leciona que: “A competência, portanto, é o poder que tem um órgão jurisdicional de fazer atuar a jurisdição diante de um caso concreto”. 3.14 Critérios de determinação de competência Vários critérios de determinação de competência terão que ser examinados, a fim de que esta possa ser determinada. Comecemos pela Competência Internacional. a) Da competência internacional Grecco Filho (2002, p. 171) explica que, por ser necessário a análise de múltiplas etapas, para se apontar a competência de determinado órgão, a primeira etapa é a própria definição da competência internacional, segundo as normas dos arts. 88 a 90 do CPC, pois, se a lide não guarda nenhum elemento de conexão com o Brasil, nenhum órgão jurisdicional brasileiro será competente para julgá-la. Assim o art. 88 trata da competência concorrente, ou seja, nos casos em que a autoridade judiciária brasileira é competente para julgar, sem prejuízo da competência de outra jurisdição estrangeira. O art. 89 do CPC, por seu turno, trata da competência exclusiva. Nesta hipótese, a autoridade judiciária brasileira se diz a única competente para conhecer dos conflitos, negando, assim, qualquer solução que venha a ser proferida em outro país. E, por último, o art. 90 do CPC impede que haja litispendência e conexão quando se tratar da matéria tratada no artigo antecedente, ou seja, impede a litispendência e a conexão de demandas interpostas no Brasil e perante tribunal estrangeiro. b) Da competência interna Vista a primeira etapa, para saber se a autoridade brasileira é competente para julgar determinada demanda, passamos a tratar da competência interna, observando os critérios que devem ser adotados para esta determinação. 41 A primeira divisão que se deve observar é quanto à atribuição da Justiça Federal E Da Justiça Estadual. A Justiça Federal tem sua competência fixada em âmbito constitucional (art. 109 da CF). Deste artigo podemos extrair, de acordo com o que ensina Carlos Eduardo Ferraz de Mattos Barroso (2000, p. 40-41), que dois critérios devem ser observados, o primeiro em relação à pessoa envolvida na demanda, e o segundo em relação a matéria objeto de análise. Assim, a competência da justiça estadual se dará por exclusão, ou seja, será a competência residual, segundo a qual, esta será competente para julgar as causas que não sejam de competência de qualquer outra justiça - federal, militar, do trabalho e eleitoral. CRITÉRIOS OBSERVADOS QUANTO À COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL Em relação à pessoa Em relação à matéria • Causas em que são partes a União, entidade autárquica ou empresa pública federal • Causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional • Causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País. • Demandas sobre direitos indígenas • Os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal. • Causas relativas à nacionalidade e a naturalização - x- • Execução de sentenças estrangeiras homologadas pelo Supremo Tribunal Federal. c) Competência territorial ou de foro “ratione loci” O critério territorial determina o local que deverá ser ajuizada a ação. Assim a competência territorial indicará a comarca onde a demanda deverá ser proposta. SAIBA MAIS: Foro significa a delimitação territorial onde o juiz exerce a sua atividade. Como regra, o foro comum para a propositura da ação será sempre o do domicílio do réu (CPC, art. 94), porém esta é uma regra que comporta temperamentos, uma vez que o próprio CPC prevê esses temperamentos (arts. 95 a 101), quanto: à natureza do direito versado nos autos; a qualidade especial da parte; a situação da coisa e ao local de cumprimento da obrigação ou da prática do ato ilícito, como leciona Barroso (2000, p. 42). A competência fixada em razão do território é relativa: ou seja, poderá ser derrogada por vontade das partes. A exceção quanto à competência territorial relativa dá-se por conta do art. 95 do CPC, que trata de ações 42 fundadas em direito real sobre imóveis, tornando, assim, a competência absoluta, significando que não poderá ser modificada pela vontade das partes. d) Competência material “ratione materiae” A competência fixada em razão da matéria será sempre de caráter absoluto. Em razão do interesse público, não poderá ser modificada. A forma como será distribuída será determinada pelas normas de organização judiciária de cada estado da Federação, conforme leciona Grecco Filho (2002, p. 205). Dessa forma, se a demanda versar sobre direito de família, deverá ser proposta perante a Vara de Família. e) Competência em razão da pessoa “ratione personae” Tal qual a competência em razão da matéria, a competência em razão da pessoa é absoluta, não pode ser mudada pela convenção das partes. A competência em razão da pessoa decorre do fato de que determinadas pessoas, em razão do interesse público que representam, serem julgadas por juízes especializados. f) Competência fixada pelo valor da causa O valor da causa também é um dos critérios determinantes da competência. Só que, de acordo com o art. 111 do CPC, tanto a competência em razão do território quanto a competência fixada em razão do valor da causa são consideradas como competências relativas: ou seja, podem ser modificadas em razão de convenção entre as partes. O exemplo mais ilustrativo da competência fixada pelo valor da causa é o do Juizado Especial Civil da justiça estadual, que fixa em 40 salários mínimos o teto máximo para as ações ali interpostas. QUADRO COMPARATIVO DAS COMPETÊNCIAS Competência absoluta Competência relativa Interesse público Interesse privado Nulidade absoluta Nulidade relativa (sanável) Reconhecível de ofício Depende de argüição da parte A qualquer tempo e grau de jurisdição Alegável no prazo da resposta do réu, sob pena de prorrogação Não tem forma prescrita em lei Forma prescrita em lei (exceção) 3.15 Prorrogação de competência A prorrogação da competência se dá pelo fenômeno, pelo qual o juiz, a princípio incompetente, torna-se competente para apreciar determinada
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