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20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/19 PLANEJAMENTO, PROGRAMAÇÃO E CONTROLE DA PRODUÇÃO AULA 4 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/19 Prof.ª Dayse Mendes CONVERSA INICIAL Caros alunos! O objetivo desta aula de Planejamento, Programação e Controle da Produção é conhecer os sistemas informatizados mais importantes, em especial os sistemas relacionados ao planejamento das requisições de material e seus sucessores, que suportam o PPCP, estabelecendo a programação da produção. Assim, nesta aula vamos conhecer: o conceito de programação da produção; o MRP; o MRP II; o ERP e seus sucessores; e o OPT. Estes sistemas auxiliam na execução do plano mestre de produção, no planejamento da capacidade produtiva, na liberação das ordens de compra, montagem e produção, entre outras funções. Do MRP ao ERP temos sistemas informatizados programados para auxiliar os sistemas produtivos clássicos. Já o OPT é destinado a auxiliar na programação da produção de sistemas que utilizam a filosofia da Teoria das Restrições (vista no tema 5 da Aula 1). Então, vamos entender melhor como funciona a programação no PPCP! TEMA 1: PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO Após a realização do plano de produção, no longo prazo, e do plano mestre de produção, no curto prazo, faz-se necessário conhecer quanto e em qual momento (em que sequência) será necessário produzir para atender a demanda de um determinado produto. Tal conhecimento se deve à necessidade de a produção elaborar a definição da quantidade de trabalho a ser alocado em cada centro de trabalho e determinar a ordem em que as tarefas serão realizadas, bem como programar o início e o fim de cada tarefa. A programação da produção é uma atividade totalmente operacional, ou seja, de chão de fábrica. Nesta atividade se tomam decisões como quando e onde cada tarefa 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/19 deverá ser realizada num horizonte restrito de tempo e de setores que são atingidos por estas decisões (LUSTOSA et al., 2008, p. 162) Para Slack et al. (2009), a etapa de programação da produção diz respeito a uma fase de conciliação entre suprimento e demanda, definidos em termos de volume e tempo. A ideia é definir quanto, quando e em que sequência se deve produzir para atender a demanda. Para Bezerra (2010, p. 99), esta definição está diretamente relacionada ao nível operacional da produção e associada à definição da quantidade de trabalho a ser alocado a cada centro de trabalho, à determinação da ordem em que as tarefas serão executadas e à programação de prazos de início e fim de cada tarefa. Dentro da hierarquia em que estão distribuídas as funções do PPCP, a programação da produção é a primeira dentro do nível operacional de curto prazo, fazendo com que as atividades produtivas sejam disparadas, ou seja, a programação de produção é uma atividade tipicamente operacional, do chão de fábrica, afetando as operações de curto prazo da empresa. Mas cabe observar que isso não significa que as decisões de programação sejam menos importantes, pelo contrário, os objetivos estratégicos da empresa só se realizarão caso a programação seja eficaz. Em caso contrário, a empresa não conseguirá atender seus clientes adequadamente quanto a prazos e quantidades (LUSTOSA et al., 2008), pois cabe à programação da produção estabelecer a possibilidade de se ter a quantidade de produtos finais necessários, na data solicitada pelo cliente. A programação da produção acontece em um prazo muito curto, pois há que se elaborar um conjunto de rotinas que atendam a demanda no prazo correto ao mesmo tempo que se respeita a capacidade produtiva, o que faz com as decisões neste nível tenham de ser rápidas. Para Nunes et al. (2009, p. 7), essa restrição da demanda versus a capacidade produtiva produz três questões a se considerar: quais ordens executar (deve-se elaborar uma regra de programação), que quantidade fazer (os volumes adequados a serem produzidos) e quando fazer (o momento no qual a ordem deve ser executada, conforme ilustra a Figura 1. Figura 1: Programação da produção 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/19 Fonte: Nunes et al. (2009, p. 7). Conforme Paris (in Caiçara Jr., 2015, p.138), o dia a dia do programador da produção envolve decisões que são determinantes na formação dos custos de produção, tais como uso de horas extras, desligamentos de recursos com baixa utilização e contratação de força de trabalho temporária. O programador lida com modificações e revisões diárias dos planos de produção para ter um desempenho adequado da manufatura. Assim, conforme o autor, uma decisão da programação tomada indevidamente ou isoladamente pode exercer impacto negativo no desempenho da empresa como um todo, e a somatória das decisões do dia a dia tem alto peso estratégico geral, apesar de serem operacionais, pois é a programação da produção que fornece informações para comandar todo o sistema produtivo Portanto, a programação dirige o sistema produtivo. Pode-se dizer que, quando se realiza uma programação de produção, busca-se os seguintes objetivos: cumprir os prazos estabelecidos para as diversas atividades do sistema produtivo; determinar quais são os insumos necessários para realizar a produção; procurar o resultado econômico-financeiro mais eficaz por meio da alocação correta de recursos; prever e deliberar sobre situações-problema na produção; diagnosticar a capacidade ociosa do sistema; otimizar o sequenciamento da produção e balancear o capital aplicado em produtos que estejam em processamento. É importante considerar que, mesmo planejando e programando adequadamente a produção, imprevistos, como: quebra de máquinas, absenteísmo dos funcionários, mudanças na produtividade, carência de matéria-prima, podem ocorrer e afetar a execução da programação da produção. 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/19 Na busca de minimizar os problemas e melhorar a programação, Burbidge (1983) apresenta três princípios que devem ser observados na realização da programação de produção: Princípio da duração ótima de tarefas: A programação tende a atingir sua máxima eficiência quando a duração das tarefas é pequena e todas as tarefas são da mesma ordem de grandeza. Princípio do plano de produção ótimo: A programação tende a atingir sua máxima eficiência quando o trabalho é planejado de forma que a carga de trabalho de todos os recursos seja igual. Princípio da sequência ótima de operações: A programação tende a atingir sua máxima eficiência quando o trabalho é planejado de forma que os centros produtivos obedeçam à mesma sequência. Finalizando o tema, vale comentar que a programação da produção é realizada normalmente por sistemas informatizados ou, como denominam Fernandes e Godinho Filho (2007, p. 337), ordering systems, ou seja, sistemas de informação, que programam as necessidades de componentes e de materiais, bem como controlam a emissão e a liberação das ordens de produção e compra. Conheceremos estes sistemas nos próximos temas. TEMA 2: O MRP (MATERIAL REQUERIMENTS PLANNING) MRP (Material Requeriments Planning) é a sigla em inglês para Planejamento das Necessidades de Material. No MRP programa-se um plano de suprimentos de materiais adquiridos, interna ou externamente, de forma a produzir o produto demandado no momento certo. O conceito de MRP baseia-se na ideia de que se pode ter uma visão de futuro do que precisa estar disponível para que se produza um determinado item. Correa et al. (2000, p. 77-79) disponibilizam um exemplo prático que vale a pena conhecermos: uma dona de casa, pretendo oferecer uma bacalhoada na Sexta-Feira Sant. Para tanto ela precisa se preparar com certa antecedência, de modo que todos os seus convidados possam ser servidos de acordo com o horário proposto e coma refeição adequada. Assim, segundo os autores, mesmo sem conhecer programação de produção, a dona de casa começa a tomar uma série de decisões com base nas informações pré-existentes sobre este evento. A dona de casa sabe que vai servir a bacalhoada às 13 horas e convidou 13 pessoas, mas acredita que possa chegar a servir a 15 convidados pelo hábito que o brasileiro tem de levar “agregados” aos eventos. Ela tem uma receita 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/19 que serve a cinco pessoas, portanto terá que triplicar sua receita. Assim, ela calcula a quantidade de ingredientes necessários com base na composição proposta pela receita. Na receita, a dona de casa também tem informações sobre prazos, de forma a gerar uma sequência de processos que culminarão na bacalhoada pronta. Na receita ela verifica, por exemplo, que o tempo de cozimento da bacalhoada é de 2 horas. Assim, para servir no horário previsto, ela precisa colocar a travessa refratária no forno às 11h. Ela sabe também que, para que os temperos ajam de forma adequada na batata e no bacalhau, a bacalhoada precisa ficar 12 horas “descansando”. A montagem em si leva em torno de uma hora. Desta forma, a dona de casa precisa ter os ingredientes para montar a bacalhoada pelo menos às 22h de quinta-feira. Mas há mais um detalhe, para que o bacalhau possa ser utilizado, ele precisa ficar pelo menos 24 horas “de molho” para perder o excesso de sal. Ou seja, a dona de casa tem de ter o bacalhau disponível pelo menos às 22h de quarta-feira. Alguns ingredientes precisam ser comprados, outros a dona de casa tem em “estoque”, como sal e óleo. Com todas estas informações em mãos, a dona de casa pode programar a compra de ingredientes e a “produção” da bacalhoada. A lógica nas empresas é a mesma. O que difere é a quantidade de informação. Para a bacalhoada, a dona de casa pode fazer sua programação de maneira intuitiva, “de cabeça”. Para uma empresa, possivelmente, isto não será possível. Assim, surge a necessidade de uma ferramenta que auxilie a programar a produção de um determinado item. Por conta desta necessidade, surge o MRP. O MRP foi o primeiro sistema de informação elaborado para resolver questões de gestão de produção, ainda na década de 1970, e faz o cálculo somente do volume de materiais necessários para a linha de produção. O MRP auxilia na liberação das ordens necessárias para que o processo produtivo aconteça, a partir do momento em que o PMP (Plano Mestre de Produção) esteja formalizado e a documentação encaminhada para execução. Uma ferramenta auxiliar importante para o uso adequado do MRP é a árvore do produto. A árvore do produto representa de maneira gráfica todos os componentes para se montar um produto e auxilia no cálculo das quantidades necessárias de itens para este produto. O exemplo da árvore de uma caneta azul encontra-se na Figura 2. Pode-se observar que a árvore de produto possui diferentes níveis, que demonstram as diferentes relações entre os itens que compõem o produto. Os itens podem ser “pais” ou “filhos”, de acordo com seu relacionamento. Cada retângulo representa um item componente e, dentro ou acima do retângulo, encontra-se um número 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/19 que representa a quantidade do item “filho” necessária por unidade do correspondente item “pai”. Quando não há indicação desta quantidade, assume-se que há necessidade de somente um item “filho” para seu item “pai”. A árvore de produto deve demonstrar então todos os itens componentes do produto e suas quantidades necessárias para compor seu item pai. Figura 2: árvore de produto de caneta Fonte: o autor. Assim, conforme Santos (2015, p. 62), pode-se calcular a quantidade de recursos necessários para a fabricação do produto. Para este cálculo, usa-se o MRP. O MRP em uma lógica que parte da visão de futuro de necessidade de produtos acabados e depois vem explodindo as necessidades de componentes nível a nível numa lógica de programação para trás no tempo. A explosão pode ser bruta, quando a representação pretende demonstrar o que e quanto produzir e comprar, sem considerar estoques existentes, bem como qual o tempo necessário para produzir; ou líquida quando a representação pretende demonstrar quanto produzir e comprar, considerando os estoques existentes na empresa. Assim que se tem a previsão de uma determinada demanda para uma determinada data, calcula-se, a partir desta data, quando se deve programar cada ação gerencial necessária para que se atenda a demanda na quantidade e na data correta. É com base nesta programação que se emitem as ordens de compra, de montagem e de produção necessárias. 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/19 Para realizar o MRP, utiliza-se um registro básico de informações. Esse registro é organizado em forma de uma matriz. Na coluna, os períodos de planejamento, como variáveis discretas, embora, conforme Correa et al. (2000, p. 92-94), com a utilização de sistemas informatizados, pode-se trabalhar com períodos de tempo cada vez menores, transformando essa variável discreta em variável contínua. Nas linhas, os registros são: Necessidades brutas: a linha de necessidades brutas representa as saídas esperadas de material do estoque, durante o período em que as quantidades aparecem no registro. Recebimentos programados: a linha de recebimentos programados representa chegadas de material disponibilizado ao estoque. Estoque disponível projetado: a linha de estoque disponível projetado representa as quantidades do item em questão, o qual se espera estar disponível em estoque ao final dos períodos. Para saber o valor, faz-se o seguinte cálculo: quantidade em estoque final do período anterior mais as entradas em estoque esperadas no período, menos as saídas de estoque esperadas no período. Recebimento de ordens planejadas: a linha de recebimento de ordens planejadas se refere a quantidades de material que deverão estar disponíveis no início do período correspondente para atender necessidades brutas que não possam ser supridas pela quantidade disponível em estoque ao final do período anterior. Abertura de ordens planejadas: a linha de abertura de ordens planejadas se refere às aberturas de ordens planejadas a serem recebidas conforme consta da linha de recebimento de ordens planejadas. TEMA 3: O MRP II (MANUFACTURING RESOURCES PLANNING) Corrêa et al. (2000, p.126) observam que não basta garantir a disponibilidade dos materiais para garantir a viabilidade da produção de determinados itens em determinado momento. Há também que se verificar se recursos humanos e equipamentos são suficientes para cumprir o plano de produção nos prazos necessários. Quando as empresas começam a utilizar o MRP, elas percebem que precisam de mais informações do que aquelas oferecidas pelo MRP, que ajuda somente com as informações sobre produzir e comprar apenas o necessário no momento certo. 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/19 Assim surge o MRP II (Manufacturing Resources Planning), traduzindo: Planejamento dos Recursos de Produção. O MRP II pode ser entendido como um desenvolvimento do MRP, no qual se busca informação, além da fornecida pelo MRP, de programação de equipamentos e mão de obra, bem como gerar informação para a área financeira. Dessa forma, verificam-se outras necessidades além da necessidade de informação sobre materiais. O MRP II avança em relação ao MRP não somente quanto ao cálculo de capacidade, representando um sistema integrado de gestão da produção. Segundo Gaither e Frazier (2001), o MRP II tem dois objetivos básicos: melhorar o serviço ao cliente por meio do cumprimento dos prazos de entrega e reduzir os investimentos em estoque, procurando adquirir e disponibilizar os materiais para a produção na quantidade necessária e no momento certo da sua necessidade. Como vantagem do MRP II em relaçãoao MRP, têm-se a possibilidade de programar a produção e as compras e de contratar e demitir funcionários. Também é possível obter o custo detalhado de cada produto, reduzindo assim a existência e a influência de outros sistemas informais (SANTOS, 2015, p. 66). O sistema MRP II é composto por uma série de módulos (pacotes de software) desenvolvidos para dar suporte a este tipo de planejamento. Todas as funções executadas por um MRP II podem ser realizadas manualmente, mas a quantidade de dados a serem trabalhados exige um tratamento por meio de sistema informatizado. Paris (2015, p. 143) descreve que o MRPII é composto por cinco módulos básicos: Planejamento grosseiro de capacidade (RCCP): tem como função principal fornecer um cálculo inicial de capacidade, apoiando a elaboração do plano mestre, transformando a intenção de produção do PMP em uma lista de recursos críticos necessários ao processo produtivo. Planejamento mestre da produção (PMP ou MPS): promove o carregamento da capacidade instalada visando à sua melhor utilização com base nas limitações de capacidade agregada identificadas. O PMP é o elemento de ligação entre os níveis mais agregados do planejamento, responsável pelos cálculos das necessidades de recursos. As decisões relativas ao PMP levam em consideração as incertezas de demanda, a importância estratégica do pedido, a importância 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/19 estratégica de minimização e estoques, e os custos financeiros e organizacionais das variações dos níveis de produção. Cálculo das necessidades de materiais (MRP): baseia-se num registro básico da posição e dos planos referentes à produção e aos estoques de cada item. O MRP gera liberações de ordens planejadas a partir dos cálculos das necessidades brutas, dos recebimentos programados e do estoque disponível projetado, com base em informações de período, necessidades brutas, recebimentos programados, estoque projetado disponível, plano de liberação de ordens, tempo de ressuprimento (lead time) e tamanho do lote. Cálculo das necessidades de capacidade (CRP): sua função é promover futuras necessidades e identificar possíveis ociosidades que venham a ocorrer. Deve ser feito com antecedência suficiente, a fim de maximizar a eficiência de um sistema de administração da produção. O CRP fornece subsídios para as decisões de ordem de produção, seja para sua confirmação, seja para sua alteração, seja para seu redirecionamento quando o plano for inviável por conta da disponibilidade dos recursos produtivos. Controle do chão de fábrica (SFC): responsável por executar o plano de materiais e de capacidade, controlar as atividades dos centros de trabalho, maximizar a produtividade e controlar prioridades. Sequencia as ordens de produção por célula e controla a produção dentro do prazo planejado no chão de fábrica. Correa et al. (2000, p. 142) acrescentam ainda um módulo denominado Planejamento de Vendas e Operações (S&OP), cuja função é tratar decisões de longo prazo, no nível estratégico da organização, tais como ativação e desativação de unidades fabris, ampliação de linhas de produção, aquisição de equipamentos, contratação ou demissão de mão de obra, entre outras. Após conhecer os módulos, é importante saber como implantar o sistema, posto que não é uma simples instalação de mais um software na empresa ou na produção, mas sim a modificação dos métodos de trabalho utilizados em todas as áreas e a modificação do comportamento dos funcionários frente às atividades que precisam realizar e aos relacionamentos com outras áreas que precisam compreender. É necessário compreender que ao implantar um MRP II as funções ficarão interligadas e, portanto, informações precisam ser trocadas entre todas as áreas. A Figura 3 mostra esses 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/19 relacionamentos entre os módulos do MRP II. Figura 3: Estrutura hierárquica do MRP II Fonte: Correa et al. (2000, p. 147) Finalmente, é importante tecer algumas críticas em relação ao MRPII. Laurindo e Mesquita (2000, p. 328) comentam, por exemplo, que o modelo MRP II não busca, explicitamente, a otimização dos conflitos presentes no planejamento da produção, visto que a elaboração do plano mestre de produção (PMP), com base em previsões de demanda e/ou na carteira de pedidos, bem como a solução de eventuais sobrecargas no sistema, tem sua definição a cargo do usuário, que, num processo de tentativa e erro, tenta encontrar uma solução viável para a programação. Além disso, as imprecisões de informação de um sistema empurrado podem gerar produção em excesso de algumas peças e atraso na produção de outras, além de ser um sistema passivo, pois não questiona parâmetros como tempo de preparação de máquina (incluso no lead time), níveis de refugo, ou níveis de estoque de segurança. 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/19 Laurindo e Mesquita (2000, p. 329) também explicam que o sistema MRP II não satisfazia plenamente as necessidades das empresas. Isso se devia à limitação da abrangência e as dificuldades de integração com outros sistemas utilizados nas diferentes áreas da empresa. Assim, surgiram novos sistemas integrados, denominados de ERP, que serão objeto de estudo do próximo tema. TEMA 4: O ERP (ENTERPRISE RESOURCE PLANNING) E SEUS SUCESSORES O ERP (Enterprise Resource Planning), é um sistema de informação que integra todos os dados e processos de uma organização em um único sistema. Caiçara (2015, p. 96) define ERP como um sistema de informação, adquirido pronto na forma de módulos de software, que permite a integração entre dados dos sistemas de informação e dos processos de negócios de uma organização. O ERP se diferencia dos sistemas anteriores pela integração das informações da empresa, por meio do uso de um banco de dados único para toda a organização. Ele é composto de módulos integrados que atendem a cada área funcional ou processo, como Finanças, Produção, Custos, Vendas, RH, entre outras. Figura 4: Estrutura típica de funcionamento de um sistema ERP Fonte: <http://pt.slideshare.net/felipegambu/sig-mrp-erp-crm-e-scm>. 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/19 Para Santos (2015, p. 64) o ERP é um modelo de gestão corporativo informatizado que opera em uma plataforma única de dados em um único ambiente computacional, servindo como infraestrutura básica para a empresa como um todo. Tem o objetivo de promover a integração entre os processos de gerenciamento e de negócios da organização e fornecer elementos para as decisões estratégicas por proporcionar uma visão global da empresa. Ele facilita o fluxo de informações dentro da empresa, integrando todas as diferentes funções existentes, como manufatura, logística, projetos, finanças, recursos humanos, engenharia, entre outras. Essa integração pode ser observada na Figura 4. Laurindo e Mesquita (2000, p. 329-330) tecem comentários sobre benefícios advindos da implantação de um ERP, citando em especial a questão da padronização ao descrever a possibilidade das empresas integrarem e padronizarem as informações de diferentes unidades geograficamente dispersas ou a padronização dos sistemas das diferentes áreas da empresa. Citam ainda que, no caso específico da produção, há benefícios como uma melhor gestão de pedidos e uma possibilidade maior de integração com fornecedores. No entanto os autores comentam que não há só benefícios e citam alguns riscos quando da implantação do ERP em especial quanto à situação da perda de características específicas da empresa que as tornavam diferenciadas e mais competitivas em relação às suas concorrentes, pois, ao implantar um ERP, a empresa está adquirindo uma solução genérica, que embute as melhores práticas de gerenciamento, na ótica do fornecedor do software. Assim, os autores alertam que é preciso analisar se as práticas de negócio incluídasno “pacote” de ERP coincidem com as práticas mais adequadas às particularidades de negócio da empresa. Ou, por outro lado, a empresa busca uma customização, ou seja, uma adequação às suas particularidades, mas essa customização implica em custos mais elevados e em um tempo mais longo para a implantação do sistema. (LAURINDO; MESQUITA, 2000, p. 330). No caso específico do PPCP, o ERP possui uma série de módulos básicos, dentre eles os módulos de PP (Planejamento da Produção) e de MM (Gerenciamento de Materiais). Caiçara Jr. (2015, p. 126- 127) descreve estes módulos, comentando que o módulo PP contempla processos integrados para todos os tipos comuns de produção. Permite planejamento e controle de produção normais, por encomenda, com variantes, bem como para estoque e projeto, e que o módulo MM auxilia no gerenciamento preciso de estoques reduzindo as tarefas de busca e manutenção de materiais. 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/19 O ERP foi um avanço em relação aos sistemas MRP e MRP II satisfazendo a necessidade das empresas de uma maior integração e padronização, mas as empresas começaram a necessitar de maior integração com itens externos à organização como a cadeia de suprimentos ou relacionamento com os clientes. Assim, surgem novas versões como ERP II, que inclui não só a tradicional gestão de recursos da empresa, mas também a gestão do relacionamento com o cliente (CRM – Customer Relationship Management) e toda a integração com o ciclo do fornecimento (SCM - Supply Chain Management), obrigando a uma gestão integrada dos processos internos e externos. Surge ainda o XERP (Alternate Enterprise Resource Planning), ou ERP estendido, que incorpora mais funções, tais como a business intelligence (BI); business-to-business (B2B); business-to-costumer (B2C); sistemas de controle da execução de fabricação (MES); planejamento e programação avançada (APS); workflow de processos (WFM); portais de negócios; integração com a internet; suporte para computação em nuvem; entre outras funcionalidades. O desenvolvimento dos sistemas ao longo do tempo pode ser observado na figura 5. Figura 5: Evolução histórica dos sistemas TEMA 5: OPT (OPTIMIZED PRODUCTION TECHNOLOGY) O sistema OPT (Optimized Production Technology) foi desenvolvido por um grupo de pesquisadores israelenses, dentre eles o físico Eliyahu Goldratt, com base em programação linear. Posteriormente Goldratt expande o conceito do sistema informatizado para uma filosofia de produção, denominada Teoria das Restrições (mais sobre o assunto pode ser encontrado no Tema 5 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/19 da Aula 1). Especificamente quanto ao sistema informatizado, o mesmo foi elaborado para manter o gargalo produtivo sempre ocupado, de maneira a conter os atrasos na produção; a não produzir estoques excessivos, em especial nos processos antecessores do processo gargalo; a evitar paradas no processo produtivo, em especial nos processos posteriores ao gargalo; evitar lead-time elevado; evitar uso de horas-extra. O OPT, como o próprio nome diz, é uma técnica computadorizada de produção cujo objetivo é realizar a programação da produção, observando para tanto os gargalos existentes no sistema produtivo. Os gargalos surgem no sistema produtivo quando um processo antecessor é mais lento que seu processo posterior. Essa situação gera restrições no sistema produtivo que precisam ser consideradas quando da programação da produção. Na Figura 6 pode-se observar que existem quatro tipos básicos distintos de relacionamento entre recursos gargalo e recursos não gargalo em um processo produtivo, que devem ser levados em consideração ao se fazer a programação da produção utilizando o OPT. Figura 6: Tipos de relacionamento entre gargalos e não gargalos Fonte: Tubino (1997, p. 165). Tubino (1997, p. 164-165) explica os relacionamentos da seguinte forma: Tipo 1: o fluxo produtivo flui de um gargalo para um não gargalo. Assim o recurso não gargalo fica limitado à capacidade e velocidade produtiva do recurso gargalo em fornecer os itens. 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/19 Tipo 2: o fluxo produtivo flui de um recurso não gargalo para um recurso gargalo. Nesta situação, caso o recurso gargalo trabalhe em sua máxima capacidade, haverá formação de estoques em processo no sistema, pois somente uma parte dos itens passará pelo recurso gargalo. Tipo 3: neste caso um recurso gargalo e um recurso não gargalo abastecem uma linha de montagem. Esta linha de montagem estará limitada a velocidade do recurso gargalo e o recurso não gargalo gerará estoques, caso trabalhe em sua capacidade máxima. Tipo 4: nesta situação, tanto o recurso gargalo quanto o recurso não gargalo atendem diretamente a demanda de mercado. O autor coloca esta situação para demonstrar que os gargalos podem ser tanto internos quanto externos ao sistema produtivo, pois a demanda pode ser o gargalo de um determinado fluxo. Tubino (1997, p. 164) comenta que o OPT, com a disponibilidade de recursos computacionais mais potentes a partir da década de 1980, pode ser desenvolvido com base de dados que leva em consideração a estrutura do produto (lista de materiais) e a estrutura do processo (rotina de operações) ao mesmo tempo, tornando possível a análise simultânea entre capacidade de produção e sequenciamento de operações. Segundo ANTUNES Jr. et al. (1989, p.58-60), esse sistema de otimização pode ser utilizado em qualquer ambiente fabril para qualquer tipo de sistema produtivo (seja puxado, seja empurrado), pois para se fazer a modelagem se pensa no processo produtivo como se fosse uma rede que contém todos os recursos, todos os dados relativos à produção (como rotinas e tempos de operação, por exemplo), e todos os dados da demanda do mercado. Ainda segundo os autores, embora se tente minimizar os estoques, como se opera em função da redução dos problemas advindos dos gargalos, usam-se estoques de segurança colocados estrategicamente na fronteira entre as partes críticas e as não críticas do sistema produtivo. O software OPT é um sistema proprietário, ou seja, seus procedimentos não são de domínio público. O software é composto por quatro módulos, que são: OPT: programa os recursos gargalo (RRC - recurso restritivo crítico) com uma lógica de programação heurística, ou seja, com base em aproximações de resolução, maximizando o fluxo de produtos vendidos e reduzindo os níveis de estoques no sistema e de despesas operacionais; 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/19 BUILDNET (construção de rede): cria e mantém a base de dados utilizada. Neste módulo se combina os dados de entrada manuais com os arquivos de dados do MRP da empresa; SERVE (servidor): avalia se o plano de produção é factível em termos de capacidade. Este módulo ordena os pedidos de utilização de recursos e programa os recursos considerados não gargalos, usando as informações de prazo e de quantidade dos materiais necessários. Estas datas e quantidades são definidas pelo módulo OPT. SPLIT (separação): separa os recursos em gargalos e não gargalos com base no cálculo de capacidades necessárias dos recursos feito pelo SERVE. Algumas operações do sistema são restritas, em especial aquelas operações referentes aos recursos gargalo. Estas são processadas no módulo OPT. Outras, como as de recursos não gargalo, seguem uma programação elaborada pelo SERVE, cuja lógica é semelhante à do MRP. Neste sentido, comenta-se que um dos aspectos negativos do OPT é o fato do sistema computadorizado ser centralizador, ou seja, pode dificultar um maior comprometimento da força de trabalho, pois não há flexibilidade para os operadores do sistema tomarem decisões. Outro fator negativo seria a programação heurística do OPT, pois, pela falta de rigor própria do método, nem sempre o processo de identificação dos gargalos consisteem um procedimento simples. Finalmente, por ser um software proprietário, o usuário fica dependente do fornecedor, além do seu preço elevado. SÍNTESE Nesta aula se pode compreender como acontece a programação em um PPCP, ou seja, quanto e em qual momento (em que sequência) será necessário produzir para atender a demanda de um determinado produto. Pode-se observar que atualmente a programação é feita por meio de sistemas informatizados, que surgem na produção a partir de meados da década de 1970. Desde então surgem uma série destes sistemas, desde aqueles próprios ao processo produtivo, como o MRP e o OPT, até os sistemas atuais que agem sobre a organização como um todo e, dependendo do sistema, até sobre elementos externos à organização, como é o caso do ERP e seus sucessores. REFERÊNCIAS 20/03/2023, 10:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/19 ANTUNES Jr., J. A. et al. Considerações críticas sobre a evolução das filosofias de administração da produção: do just-in-case ao just-in-time. RAE, São Paulo, v. 29, n. 3, jul/set 1989, p. 49-64. BEZERRA, C. A. Técnicas de planejamento, programação e controle da produção: aplicações e planilhas eletrônicas. Curitiba: IBPEX, 2010. BURBIDGE, John L. Planejamento e controle da produção. São Paulo: Atlas, 1983. CAIÇARA Jr. C. Sistemas integrados de gestão – ERP: uma abordagem gerencial. 2. ed. Curitiba: Intersaberes, 2015. GAITHER, N; FRAZIER, G. Administração da produção e operações. São Paulo: Pioneira. 2001. FERNANDES, F. C. F; GODINHO FILHO, M. Sistemas de coordenação de ordens: revisão, classificação, funcionamento e aplicabilidade. Gestão da Produção, São Carlos, v. 14, n. 2, p. 337-352, maio-ago, 2007. LAURINDO, F.J.B.; MESQUITA, M.A. Material Requirements Planning: 25 anos de história. Gestão & Produção, v.7, n.3, p.320-337, dez. 2000. LUSTOSA, L. et al. Planejamento e controle da produção. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. NUNES, D. M. et al. Planejamento, programação e controle da produção: o uso da simulação do preactor em uma indústria de alimentos. In: XXIX ENEGEP. 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