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RAFAELA CORDEIRO GAMA
A EDUCAÇÃO PARA A 
SEXUALIDADE ATRAVÉS 
DA CONSTRUÇÃO 
HISTÓRICO-SOCIAL E SEUS 
DESDOBRAMENTOS NA 
SOCIEDADE BRASILEIRA
Sumário
INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3
PATRIARCADO, SEXUALIDADE E O 
PAPEL DA FAMÍLIA ���������������������������������������� 5
OS MOMENTOS HISTÓRICOS DA 
EDUCAÇÃO PARA A SEXUALIDADE NO 
BRASIL ���������������������������������������������������������11
FEMINISMO: DO MOVIMENTO SOCIAL 
ÀS DIFERENTES VERTENTES TEÓRICAS ���� 18
AS REPRESENTAÇÕES SOBRE 
DIVERSIDADE SEXUAL E DE GÊNERO NA 
MÍDIA �����������������������������������������������������������31
CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & 
CONSULTADAS ��������������������������������������������37
2
INTRODUÇÃO
Neste e-book, apresentaremos diferentes aspectos 
da Educação para a Sexualidade (ES ), por meio de 
uma compreensão histórico-social. Nesse sentido, 
buscamos apresentar como a ES brasileira se 
forja a partir de características sociais e culturais 
específicas, e que historicamente deram base à 
educação da sexualidade no Brasil.
Dessa forma, conheceremos como, na socieda-
de brasileira, se forjou o pensamento patriarcal 
a partir do momento da colonização europeia e 
o papel da instituição familiar nesse sistema de 
opressão. Além disso, também discutiremos como 
essas duas concepções influenciam diretamente 
o entendimento e os discursos sobre sexualidade 
na sociedade da época e como isso se mantem 
atualmente.
Em seguida, apresentaremos as características da 
ES na sociedade brasileira a partir do período da 
colonização, demonstrando as transformações e 
permanências acerca do entendimento da sexu-
alidade e como a ES é introduzida no ambiente 
escolar no Brasil.
Conheceremos também o histórico do movimen-
to e do pensamento teórico feminista, utilizando 
diversas fontes e construindo um paralelo entre 
3
o desenvolvimento histórico dos discursos em 
diferentes países com o desenvolvimento do fe-
minismo no Brasil.
Por fim, discutiremos acerca dos diferentes tipos 
de representações e estereótipos sexuais e de 
gênero nas diversas mídias existentes. Além disso, 
realizaremos uma análise crítica do que representa 
o aspecto da diversidade sexual e de gênero nas 
mídias hegemônicas e como o espaço da internet 
pode ser ao mesmo tempo lugar de reprodução de 
estereótipos, mas também de resistência.
4
PATRIARCADO, 
SEXUALIDADE E O PAPEL 
DA FAMÍLIA
Você já percebeu como a língua portuguesa é 
uma língua, majoritariamente, dividida em gênero 
masculino e gênero feminino? Além disso, notou 
como na nossa língua portuguesa utilizamos o 
gênero masculino como termo genérico para se 
referir aos dois gêneros?
Essas questões refletem o sistema patriarcal 
constituído na sociedade brasileira. Mas o que 
seria então o sistema patriarcal? Esse sistema 
está relacionado com as opressões de gênero 
que constituem a organização da sociedade. Ou 
seja, utilizam-se da construção das diferenças 
sexuais para traduzir as diferenças de gênero em 
desigualdades sociais.
Assim, percebemos que o patriarcado não se ca-
racteriza apenas como dominação a nível pessoal 
e individual de homens em relação às mulheres, 
no âmbito público-privado. Mas, para além disso, 
também é compreendido como um sistema de 
organização da sociedade a partir da dominação 
e da opressão, principalmente na sociedade capi-
talista (SAFFIOTI, 2004).
5
Highlight
Desse modo, ele está contido na compreensão 
das relações de gênero no sentido mais amplo, 
e teoricamente, com a evolução do pensamento 
acadêmico e teórico no campo do feminismo, foi 
sendo substituído pela discussão das questões de 
gênero. Entretanto, historicamente, o patriarcado 
constituiu de maneira significativa a organização 
da sociedade brasileira, também influenciando a 
questão da sexualidade.
Na organização do Brasil colonial a família patriarcal 
teve uma centralidade importante, sendo construído 
a partir de uma sociedade essencialmente rural, dos 
grandes latifúndios, com séculos de escravidão. 
Essa configuração se traduziu e enraizou diferentes 
opressões, se constituindo ao longo dos séculos 
a partir da ideia da propriedade privada.
A partir disso, a família patriarcal tinha como ca-
racterística a figura central do senhor, sendo ele 
dono e proprietário da terra, mas não restringindo 
essa propriedade apenas à terra. Essa ideia da 
propriedade também se estendia à mulher, aos 
filhos e aos seus trabalhadores escravizados. Além 
disso, o poder do chefe de família em relação a 
tudo o que era de sua propriedade era considerado 
ilimitado e incontestável, tanto na esfera familiar 
como também na esfera pública e política (RE-
ZENDE, 2015). 
6
Highlight
Highlight
Dessa forma, a organização patriarcal está rela-
cionada com a questão da propriedade privada 
e do sistema de heranças, conforme podemos 
observar na figura a seguir, com a representação 
dessa organização da família patriarcal:
Figura 1: Representação da família patriarcal no Brasil 
segundo Jean-Baptiste Debret
Fonte: netmundi 
Esse tipo de dominação patriarcal era constituído 
e reafirmado em diferentes dimensões: sociais, 
políticas, religiosas etc., influenciando também a 
dimensão da sexualidade. Ora, se a figura central 
da organização da sociedade é o homem, cristão, 
dono da terra e que necessita manter sua proprie-
dade e sua mão de obra para o trabalho nessa 
terra, as crenças e práticas sexuais eram então 
organizadas a partir desse ponto de vista. Sobre 
essa questão Aguiar esclareceu:
7
https://www.netmundi.org/filosofia/2021/o-que-e-etnocentrismo/
A estratégia patriarcal consiste em uma política 
de população de um espaço territorial de grandes 
dimensões, com carência de povoadores e de 
mão-de-obra para gerar riquezas. A dominação se 
exerce com homens utilizando sua sexualidade 
como recurso para aumentar a população escrava. A 
relação entre homens e mulheres ocorre pelo arbítrio 
masculino no uso do sexo. (AGUIAR, 2000, p. 308)
Dessa forma, o estupro de mulheres escravizadas, 
as crenças de submissão das mulheres, o controle 
do corpo e dos direitos dos indivíduos, entre outras 
questões, eram centrais no aspecto da sexualida-
de em relação ao patriarcado. A cultura sexista, 
machista e violenta em relação ao entendimento 
da sexualidade se justificava pela necessidade de 
manutenção da propriedade privada (AGUIAR, 2000).
Quando observamos, a partir de uma análise 
considerando as questões de raça, observa-se 
a complexificação das opressões. Às mulheres 
brancas, que assumiam o papel de esposa por 
meio do casamento religioso, eram “destinadas” 
a dimensão privada e a sexualidade vivenciada a 
partir do controle do marido, com o objetivo da 
reprodução. Já às mulheres negras escravizadas 
a inferiorização à condição de objeto eram as 
principais formas de controle, não sendo reconhe-
8
cida como uma pessoa de direitos e submetida às 
violências diversas (RIBEIRO, 2004).
Além disso, na colonização, o sexo e a sexualidade 
eram compreendidos como forma de estabelecer 
alianças políticas e econômicas, como as relações 
que os colonizadores portugueses mantinham com 
os chefes indígenas, casando-se com suas filhas 
(AGUIAR, 2000). Nesse sentido, a formação da 
sociedade colonial brasileira teve uma concepção 
marcada pela opressão, pela exploração e pela 
violência dos povos europeus, dentro do sistema 
patriarcal.
Esse sistema de opressão, vislumbrado na emer-
gência do Estado brasileiro, mantem-se ao longo 
dos séculos. Rezende (2015, p. 20) indicou o quanto 
essa característica se manteve no país, mesmo 
com o desenvolvimento de direitos específicos 
no âmbito jurídico no momento de modernização 
do Estado brasileiro, como o fim da escravidão, o 
direito ao voto das mulheres e o reconhecimento 
como sujeitos de direitos.
Assim, a Educação para a Sexualidade no desen-
volvimento histórico do Brasil não começa apenas 
com a institucionalização do conhecimentosobre 
sexualidade no país. Quando retomamos histori-
camente para a constituição colonial e como se 
compreendia a questão da sexualidade, com a 
9
regulação dos comportamentos sexuais de acordo 
com regras, normatizações e crenças a partir de 
uma visão patriarcal, percebemos que a Educação 
para a Sexualidade acontece a todo momento.
Além de acontecer a todo instante, a educação 
para a sexualidade também se transforma com o 
desenvolvimento histórico e as mudanças estruturais 
da sociedade. Principalmente, quando pensamos 
numa sociedade capitalista, onde o discurso sobre 
o sexo também foi uma forma de pulverizar o poder 
burguês e normatizar a sociedade a partir do que 
se entendia como o pensamento hegemônico em 
termos de sexualidade (FOUCAULT, 2019).
10
OS MOMENTOS 
HISTÓRICOS DA 
EDUCAÇÃO PARA A 
SEXUALIDADE NO BRASIL
Conforme discutido, o processo de colonização 
pelo qual o Brasil passou, principalmente a partir 
do século 16, formou as bases para o sistema pa-
triarcal “importado” da Europa. A partir desse novo 
sistema, a sexualidade passou a ser compreendida 
de forma dicotômica e contraditória.
De um lado do discurso se encontrava a instituição 
da Igreja Católica que pregava normas, regras e 
condenações acerca das práticas sexuais correntes 
da época. Do outro lado estavam os homens, que 
exerciam seu poder e sua liberdade sexual a partir 
da opressão e da violência contra as mulheres. E as 
mulheres brancas sendo submetidas no casamento 
à opressão dos maridos e as mulheres negras e 
indígenas submetidas à condição de objeto sexual 
e mercadoria a partir do interesse dos homens.
Ribeiro (2004) indicou tal organização da sexualidade 
e dos discursos sobre a mesma como o primeiro 
momento da Educação para a Sexualidade (ES ) 
no Brasil. Essas eram as bases para o entendimen-
to sobre sexualidade e alguns desses discursos 
11
continuam sendo reproduzidos no senso comum 
na contemporaneidade.
Entretanto, no século 19, ocorreu o processo de 
institucionalização do conhecimento sexual, e o 
discurso religioso foi substituído pelo discurso 
médico. Nessa substituição, o discurso médico 
destacou a sexualidade como questão de saúde 
e higiene. Ou seja, a sexualidade começou a ser 
compreendida a partir de uma visão higienista, 
típica do discurso médico estabelecido na época.
Dessa forma, os comportamentos sexuais consi-
derados indisciplinados e desregrados eram vistos 
como comportamentos que ofereciam riscos à 
saúde dos indivíduos, possibilidade de contrair 
doenças físicas ou mentais.
As práticas sexuais eram indicadas apenas para o 
exercício da reprodução. Além disso, as crianças 
e jovens eram submetidos à uma vigilância siste-
mática, principalmente na educação instituciona-
lizada e na família, mantendo uma visão patriarcal 
da sexualidade. Segundo Ribeiro (2004), esse é o 
segundo momento histórico da Educação para a 
Sexualidade no Brasil, 
O autor destaca que nesse segundo momento os 
discursos sobre sexualidade se estabeleceram 
no sentido de normalização das práticas sexuais 
a partir de uma moral médica, ou seja, do que se 
12
considerava “saudável” e o que se considerava 
“pernicioso” para a saúde. Além disso, existia uma 
ligação com o Estado brasileiro:
No século XIX, é a medicina que interage com o 
Estado: a primeira está interessada em propagar 
seus ideais higiênicos, o segundo necessita de um 
aliado que dê sustentação às mudanças políticas 
e sociais em um país recém-liberto. Os médicos 
falam ao país através da Academia Imperial de 
Medicina e da Faculdade de Medicina do Rio de 
Janeiro, com a defesa pública de teses, discursos 
acalorados, publicação de livros, e artigos nos 
jornais. A mortalidade infantil – que é elevada e 
preocupa o governo – torna-se a bandeira de uma 
luta que visa ditar normas de saúde e higiene que 
beneficiassem a sociedade. Os médicos preocu-
pam-se com a criança, com a educação escolar e 
com a orientação da família (RIBEIRO, 2004, p. 17)
Você pode perceber que a instituição médica, 
criou estratégias de legitimação de um discurso 
normativo e prescritivo em termos de comporta-
mento sexual. Tal legitimação veio por meio de 
estratégias de hierarquização do conhecimento 
sobre a temática, utilizando-se do status quo dos 
indivíduos que exerciam a medicina como forma 
de estabelecer o reconhecimento social dos dis-
cursos médicos sobre sexualidade.
13
Highlight
O terceiro momento da Educação para a Sexua-
lidade, segundo Ribeiro (2004), coincide com o 
surgimento da sexologia no século 20, conside-
rada como campo oficial do saber médico sobre 
sexualidade. Nesse momento, existia uma grande 
produção de livros publicados por médicos, profes-
sores e sacerdotes visando à orientação da prática 
sexual dos indivíduos, legitimadas pelo discurso 
“cientificamente fundamentado”.
Esse terceiro momento se estende até meados 
do século 20, quando em 1960 muitas transfor-
mações sociais, políticas e culturais na sociedade 
brasileira influenciarão as mudanças em termos 
de comportamento sexual.
É nesse cenário que o quarto momento da Edu-
cação para a Sexualidade no Brasil se estabelece 
(RIBEIRO, 2004). A EA é introduzida nas escolas 
brasileiras de algumas cidades, como São Paulo, 
Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Nessa implemen-
tação, foram criados e implementados programas 
de orientação sexual, com variações de acordo com 
as organizações das escolas e colégios.
Como desdobramento dessas experiências, em 
1968, foi apresentado um projeto de lei propondo 
a introdução da Educação para a Sexualidade de 
forma obrigatória nas escolas do país. Entretanto, 
com a consolidação do regime ditatorial militar, o 
14
Highlight
qual controlava as manifestações da sexualidade 
e os comportamentos sexuais, o projeto foi rejei-
tado pela Comissão Nacional de Moral e Civismo 
(RIBEIRO, 2004).
Apenas no final da década de 1970 retomou-se 
a implantação de projetos de Educação para a 
Sexualidade nas escolas, inicialmente na cidade 
de São Paulo e após isso, no estado de São Paulo. 
Assim, o período de 1980 a 2000 é considerado 
por Ribeiro (2004) como o quinto momento histó-
rico da Educação para a Sexualidade no Brasil, se 
caracterizando pela tomada de responsabilidade 
de diferentes secretarias municipais e estaduais 
acerca do trabalho sobre sexualidade nas escolas.
Entretanto, os projetos desenvolvidos nessas 
décadas eram interrompidos de acordo com as 
mudanças de governos, ou seja, não existia uma 
continuidade nesse processo.
O quinto momento indicado por Ribeiro (2004), 
acerca do histórico da Educação para a Sexuali-
dade, foi a aparição, pela primeira vez, do tema no 
Referencial Curricular Nacional para a Educação 
Infantil (RCNEI) e nos Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCN) para o Ensino Fundamental, a 
partir da aprovação das Leis de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional (LDBEN).
15
Entretanto, esses documentos tinham caráter 
facultativo, ou seja, não se configuravam como 
referenciais obrigatórios para a construção dos 
currículos escolares. Dessa forma, observou-se 
uma tendência de esquecimento da temática da 
sexualidade em diferentes lugares do país.
Avançando o pensamento de Ribeiro (2004), pode-
mos dizer que a partir da discussão e aprovação em 
2017 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC
), encontramos o sexto momento da Educação 
para a Sexualidade no Brasil. Tal aprovação foi 
considerada por Vianna e Bortolini (2020) como 
um processo controverso. Principalmente por, nele, 
terem sido retirados, por pressões da bancada 
religiosa e conservadora no congresso federal, os 
termos: orientação sexual e gênero.
Além disso, a Educação para a Sexualidade, que 
estava contemplada pelo documento Orientação 
Sexual como tema transversal dos PCN, foi eli-
minada do documento Temas Contemporâneos 
Transversais (TCT), publicado em 2019. Ou seja, em 
termos nacionais, a Educação para a Sexualidade 
na escola está sem orientações e balizamentos 
obrigatórios para os currículos escolaresacerca 
do trabalho em sexualidade. Essa situação de não 
presença da ES no principal documento base para 
o currículo escolar, documento esse com caráter 
16
obrigatório, pode resultar no esquecimento da 
importância dessa temática na educação.
Com isso, observamos um movimento de discursos 
mais conservadores em relação à sexualidade, limi-
tando o acesso ao conhecimento e à informação 
nas escolas, retrocedendo as conquistas alcançadas 
nas décadas de 1990 e 2000, que tiveram relação 
direta e indireta com a luta feminista.
17
FEMINISMO: DO 
MOVIMENTO SOCIAL ÀS 
DIFERENTES VERTENTES 
TEÓRICAS
Ao conhecermos um pouco sobre a construção 
dos discursos sobre sexualidade no Brasil, per-
cebemos como eles foram se tornando cada vez 
mais complexos e influenciando os costumes e 
comportamentos sexuais dos indivíduos, desde 
a colonização, a partir de uma visão patriarcal e 
do papel da instituição familiar nessa construção 
discursiva. 
Além disso, conhecemos o histórico da ES no 
Brasil e como foi o processo de introdução dessa 
temática nas escolas brasileiras. Nesse desenrolar, 
a partir da década de 1960, diferentes transforma-
ções sociais, políticas e econômicas aconteceram 
no Brasil e nessas transformações o movimento 
social feminista teve grande importância.
Dessa forma, conheceremos aqui a história desse 
movimento social, suas características e como o 
pensamento feminista foi introduzido nas pesquisas 
científicas e no pensamento acadêmico, no Brasil 
e em diferentes países.
18
Para melhor compreensão da história do movi-
mento e do pensamento feminista, as pesquisas 
acadêmicas e diversos autores da área utilizam a 
metáfora de “ondas”. Essa metáfora é utilizada para 
marcar determinados momentos históricos, onde o 
movimento feminista organizado teve uma atuação 
política mais incisiva. Entretanto, sua história das 
lutas empenhadas por ele não é linear e universal.
Silva (2019) nos esclareceu que, antes da “pri-
meira onda” reconhecida pelos livros de história 
hegemônicos, as mulheres já lutavam pelos seus 
direitos e contra as opressões, como na Revolução 
Francesa, contra a escravidão e pelo direito à edu-
cação no Brasil. Entretanto, esse reconhecimento 
não foi contemplado pela organização jurídica da 
sociedade até meados do século 19 (SILVA, 2019). 
Conheça a vida e a luta de mulheres no Brasil e no mundo 
antes da “primeira onda” do feminismo, acessando os 
seguintes links sobre:
Dandara de Palmares - https://www.sbmfc.org.br/dandara/
Luiza Mahín - https://www.ufrgs.br/africanas/
luiza-mahin-seculo-xix/
Esperança Garcia - https://esperancagarcia.org/memoria/
SAIBA MAIS
19
https://www.sbmfc.org.br/dandara/
https://www.ufrgs.br/africanas/luiza-mahin-seculo-xix/
https://www.ufrgs.br/africanas/luiza-mahin-seculo-xix/
https://esperancagarcia.org/memoria/
é descrito por autores em...
A chamada “primeira onda” do feminismo (SILVA, 
2019) é marcada pelo movimento Sufragista, sur-
gido no Reino Unido e nos Estados Unidos, entre 
o fim do século 19 e meados do século 20. Esse 
movimento teve como característica a luta das 
mulheres pelo direito ao voto, à candidatura às 
eleições e direito a administrar fortunas e bens. 
Questionavam também a condição de submissão 
e de restrição de suas vidas ao privado.
Pra aprofundar seus conhecimentos acerca do Movimento 
Sufragista, acesse o link: https://brasilescola.uol.com.
br/sociologia/movimento-sufragista.htm#:~:text=A%20
Inglaterra%2C%20grande%20protagonista%20do,10%20
anos%20depois%20(1928).
Percebemos que essas reinvindicações estavam de 
acordo com as necessidades de mulheres brancas 
de classe mais abastada. Entretanto, as mulheres 
da classe trabalhadora, tanto no Brasil quanto em 
outros países, lutavam por melhores condições de 
trabalho. Já as mulheres negras, como no Brasil 
e nos Estados Unidos, ainda lutavam contra o 
reconhecimento jurídico de suas vidas como pro-
priedade dos escravocratas e problematizavam a 
questão do racismo na organização hierarquizada 
da sociedade capitalista.
SAIBA MAIS
20
Entretanto, a autora brasileira Constância de Lima 
Duarte, no artigo Feminismo e literatura no Brasil, 
publicado em 2003, contesta a datação hegemô-
nica das “ondas feministas”. Essa autora indicou 
que antes mesmo da considerada “primeira onda” 
no Reino Unido e nos Estados Unidos, já existia no 
Brasil, no início do século 19, uma movimentação 
com características feministas. Nesse momen-
to, havia, por exemplo, a abertura das primeiras 
escolas públicas femininas, o que deu base para 
os movimentos e pensamentos de mulheres nos 
anos seguintes.
Para conhecer também feministas brasileiras impor-
tantes durante o século 19 e o século 20, acesso os 
seguintes links sobre:
Nísia Floresta: https://www.youtube.com/
watch?v=2r_VU8DRzBw
Bertha Lutz: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bertha_Lutz
Nesse sentido, o que se considera na Europa e nos 
Estados Unidos a “primeira onda feminista”, no 
Brasil, as pesquisadoras historiadoras feministas 
consideram como a “segunda onda feminista”. 
Portanto, fica claro, como a história do movimento 
feminista a partir da metáfora de “ondas” dependerá 
SAIBA MAIS
21
https://www.youtube.com/watch?v=2r_VU8DRzBw
https://www.youtube.com/watch?v=2r_VU8DRzBw
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bertha_Lutz
do referencial teórico que se utiliza e da datação 
histórica do movimento.
A “segunda onda” do feminismo em países da 
Europa e da América do Norte – considerada a 
“terceira onda” no Brasil (DUARTE, 2003) – é “inau-
gurada” com a publicação da obra O Segundo Sexo, 
de Simone de Beauvoir, no ano de 1949. Esse é o 
momento em que o pensamento feminista começa 
a tomar espaço nas universidades estrangeiras 
como um pensamento científico. 
Essas discussões acadêmicas iniciam com debates 
sobre as diferenças de sexo e gênero, buscando, 
assim, compreender as raízes das opressões so-
fridas pelas mulheres ao estudar sobre a origem 
da condição feminina, principalmente biológica. Ou 
seja, tais discussões problematizavam o uso do 
corpo das mulheres, e a compreensão estritamente 
biológica e essencialista sobre esse corpo, como 
justificativa e naturalização das opressões sociais:
Por influência dessa grande mudança a respeito da 
relação da mulher com o próprio corpo, se percebe 
que a segunda onda se distingue como a fase em 
que aquilo que antes era restrito à esfera particular, 
agora foi trazido ao âmbito público com as discus-
sões acerca da liberdade sexual da mulher e na luta 
pelos direitos reprodutivos, por isso, “o pessoal é 
22
político” foi um dos slogans dessa época. (SILVA, 
2019, p. 13)
É nesse momento, também, que a pílula anticon-
cepcional é difundida e a reprodução deixa de ser 
uma questão. Entretanto, nem todas as mulheres 
teriam condição de acesso aos métodos anticon-
cepcionais, o que limitava também o alcance das 
reinvindicações feministas na época.
Grandes protestos e manifestações, principalmen-
te na década de 1960, marcaram esse momento 
histórico do feminismo europeu e estadunidense. 
O Brasil, por sua vez, passava pelo momento de 
ditadura empresarial e militar, a partir do golpe 
de 1964. 
Por conta da repressão e perseguição aos movi-
mentos políticos e sociais que se intensificaram 
até o final do regime, em 1985, e por conta do 
apagamento histórico do discurso hegemônico 
sobre o movimento feminista, não existem mui-
tas fontes sobre o movimento nesse momento. 
Entretanto, algumas conquistas no campo jurídico 
foram realizadas, como a possibilidade de se tornar 
economicamente ativa, ou seja, trabalhar sem a 
necessidade de autorização do marido e, em 1977, 
houve a criação do divórcio (SILVA, 2019).
23
Highlight
Percebemos, assim, um movimento feminista 
centrado em questões individuais, relacionadas 
ao corpo, à liberdade sexual, ao direito ao aborto, 
entre outros, mas centralizado na ideia de “mulher 
universal”. Silva (2019) indicou que nesse momen-
to, as pesquisadoras e pensadoras feministas, 
principalmente na academia,tinham um recorte 
de classe e raça muito específico: eram mulheres 
brancas e burguesas, o que limitava as análises 
das situações sociais e a inclusão de demandas 
de outros grupos de mulheres.
Já a partir da década de 1980, diante de diferentes 
transformações políticas, econômicas e sociais no 
mundo, como a dissolução da União Soviética, o fim 
da Guerra Fria, o fim das ditaduras latino-america-
nas, a chamada “terceira onda” feminista no âmbito 
europeu e dos Estados Unidos da América – sendo 
para Duarte (2003) a “quarta onda” feminista no 
Brasil – trouxe transformações importantes para 
o pensamento e o movimento feminista.
Nesse momento, o feminismo negro, das traba-
lhadoras e o feminismo lésbico assumem um 
protagonismo nas discussões acadêmicas e nas 
pautas do movimento social. A maior crítica des-
ses pensamentos foi a centralização das pautas 
e discussões do feminismo de “segunda onda” a 
partir da visão de mulheres cisgêneros brancas, 
economicamente privilegiadas e heterossexuais, 
24
considerando essas questões como universais. 
Silva esclareceu:
Dessa maneira, a terceira onda buscou que fossem 
reconhecidas e consideradas as diversas identi-
dades femininas, entendendo que as opressões 
sociais, mesmo que baseadas no gênero, atingem 
de maneiras diferentes mulheres que se encontram 
sob diferentes condições factuais. Por exemplo, 
estereótipo de feminilidade, o comportamento 
doce, delicado e gentil imposto como adequado e 
até natural das mulheres não chegou às mulheres 
negras do mesmo jeito, foi o que Sojourner Truth 
questionou quase um século atrás em “Eu não sou 
uma mulher?”. Da mulher negra, a estrutura social 
machista que também é racista esperava acidez, 
hostilidade e grosseria, de maneira que, para a mu-
lher negra, reivindicar o direito de ser doce, delicada 
e gentil era sim um ato de revolução ao racismo 
atravessado pelo machismo. (SILVA, 2019, p. 17-18)
Cisgênero é um termo relativo à questão da identidade 
de gênero e se refere àquela pessoa que se identifica 
com o gênero atribuído ao nascer. Além de pessoas 
cisgêneros existem também as pessoas transgêneros 
ou travestis, que são as quais não se identificam com 
o gênero atribuído ao nascer. Esses termos têm como 
FIQUE ATENTO
25
objetivo “[...] enfatizar a perspectiva binarista vigente e, 
dessa forma: 1) expor que o gênero não é da ordem do 
natural; 2) que é um constructo a partir das convenções 
morais e sociais; e 3) que não está condicionado à exis-
tência de uma determinada genitália/órgãos reprodutivos 
[...]” (SILVA; SOUZA; BEZERRA, 2019, p. 3)
Nesse momento da história do movimento femi-
nista e do pensamento acadêmico ficou evidente a 
diversidade de experiências de mulheres distintas 
(SILVA, 2019). Ângela Davis, com o livro Mulheres, 
Raça e Classe publicado em 1981 ganhou destaque 
com o pensamento associando às opressões de 
gênero, de raça e de classe na sociedade capita-
lista. Além disso, é nesse período que o dia 8 de 
março passa a ser considerado o Dia Internacional 
das Mulheres, em referência à luta das mulheres 
trabalhadoras.
Para saber mais sobre 8 de março, que deve ser entendida 
como uma data política, acesse o link: https://azmina.
com.br/reportagens/esqueca-o-incendio-na-fabrica-es-
ta-e-a-verdadeira-historia-do-8-de-marco/
No Brasil, com o período de ditatura militar, o mo-
vimento e o pensamento feminista tiveram uma 
característica importante de questionamento dos 
SAIBA MAIS
26
https://azmina.com.br/reportagens/esqueca-o-incendio-na-fabrica-esta-e-a-verdadeira-historia-do-8-de-marco/
https://azmina.com.br/reportagens/esqueca-o-incendio-na-fabrica-esta-e-a-verdadeira-historia-do-8-de-marco/
https://azmina.com.br/reportagens/esqueca-o-incendio-na-fabrica-esta-e-a-verdadeira-historia-do-8-de-marco/
sistemas políticos e econômicos, sendo pauta das 
discussões por melhores condições de vida e luta 
pela redemocratização do país. Entretanto, também 
se discutiam pautas sobre sexualidade, o direito 
ao aborto e o direito ao prazer (DUARTE, 2003).
Nesse sentido, esse momento se encontrou a 
diversificação das pautas sociais e da discussão 
acadêmica sobre o movimento feminista, surgindo 
então diferentes vertentes teóricas do feminismo, 
que tinham diferentes fontes, como o feminismo 
marxista, o feminismo radical, o feminino intersec-
cional, o feminismo liberal, entre outros.
Conheça um pouco mais sobre as diferentes vertentes 
do pensamento feminista em: https://azmina.com.br/
reportagens/radical-liberal-interseccional-conhecas-as-
-principais-vertentes-do-feminismo/.
Entretanto, a partir da década de 2010, já no sé-
culo 21, com a intensificação do uso da internet 
e das redes sociais diversas, ressurgiram discus-
sões acerca da constatação que, mesmo com os 
avanços das feministas nas “ondas” anteriores, a 
tão almejada igualdade entre os sexos ainda não 
é realidade (SILVA, 2019).
SAIBA MAIS
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https://azmina.com.br/reportagens/radical-liberal-interseccional-conhecas-as-principais-vertentes-do-feminismo/
https://azmina.com.br/reportagens/radical-liberal-interseccional-conhecas-as-principais-vertentes-do-feminismo/
https://azmina.com.br/reportagens/radical-liberal-interseccional-conhecas-as-principais-vertentes-do-feminismo/
Nesse sentido, com o avanço da tecnologia e 
as transformações observadas em termos de 
comportamento e de discussões entre grupos de 
mulheres, já se falam na existência de uma “quarta 
onda” do feminismo, pensado a partir da Europa 
e dos Estados Unidos. Desse modo, podemos se-
guir o pensamento de Duarte (2003) e identificar 
a “quinta onda” do feminismo no Brasil.
Conheça diferentes pensadoras e pensadores importante 
para o movimento e o pensamento feminista no século 
21, acessando os links a seguir:
Sueli Carneiro: https://www.geledes.org.br/sue-
li-carneiro/?gclid=CjwKCAiA4KaRBhBdEiwAZi1zzklbG-
ML1mvzJr7DAfozPafUHICD85ktwSg2Q5e3xcvUZY6er-
qDErXRoCAIwQAvD_BwE
Lél ia Gonzá lez : ht tps : //pt .w ik iped ia .org/
wiki/L%C3%A9lia_Gonzalez
Heleieth Saffioti: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Heleieth_Saffioti
Paul B. Preciado: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Paul_B._Preciado
Judith Butler: https://pt.wikipedia.org/wiki/Judith_Butler
Assim, a internet se tornou um lugar para dar voz a 
diferentes grupos de pessoas, com as mais variadas 
SAIBA MAIS
28
https://www.geledes.org.br/sueli-carneiro/?gclid=CjwKCAiA4KaRBhBdEiwAZi1zzklbGML1mvzJr7DAfozPafUHICD85ktwSg2Q5e3xcvUZY6erqDErXRoCAIwQAvD_BwE
https://www.geledes.org.br/sueli-carneiro/?gclid=CjwKCAiA4KaRBhBdEiwAZi1zzklbGML1mvzJr7DAfozPafUHICD85ktwSg2Q5e3xcvUZY6erqDErXRoCAIwQAvD_BwE
https://www.geledes.org.br/sueli-carneiro/?gclid=CjwKCAiA4KaRBhBdEiwAZi1zzklbGML1mvzJr7DAfozPafUHICD85ktwSg2Q5e3xcvUZY6erqDErXRoCAIwQAvD_BwE
https://www.geledes.org.br/sueli-carneiro/?gclid=CjwKCAiA4KaRBhBdEiwAZi1zzklbGML1mvzJr7DAfozPafUHICD85ktwSg2Q5e3xcvUZY6erqDErXRoCAIwQAvD_BwE
https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A9lia_Gonzalez
https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A9lia_Gonzalez
https://pt.wikipedia.org/wiki/Heleieth_Saffioti
https://pt.wikipedia.org/wiki/Heleieth_Saffioti
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_B._Preciado
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_B._Preciado
https://pt.wikipedia.org/wiki/Judith_Butler
pautas. Então, existe um movimento de contes-
tação e de questionamentos acerca do sexismo, 
machismo, racismo, da LGBTQIA+fóbica , xenofobia, 
entre outros tipos de violência e de opressão. 
O alcance de pessoas mais jovens a essas dis-
cussões também se concretiza nesse momento, 
o que renova o interesse e as possibilidades de 
organização de lutas e reinvindicações do movi-
mento social. Além disso, traz as demandas de 
mulheres de países considerados periféricos e a 
emergência de uma perspectiva teórica decolonial:
Deste modo, a quarta onda do feminismo é intrin-
secamente ligada às demandas das pessoas das 
regiões periféricas do ocidente, aquelas pessoas 
que nunca antes – ou muitíssimo mal – tiveram 
espaço para se manifestarem e serem ouvidas, 
mas na internet encontraram esseespaço. É o caso 
das mulheres dos países da América Latina. Na 
internet, essas mulheres encontraram oportunidade 
para articular a própria luta contra a violência de 
gênero – violência esta que se manifesta de diver-
sas formas tanto no ambiente público quanto no 
âmbito privado. (SILVA, 2019, p. 26-27).
As manifestações contra os casos de violência 
contra as mulheres cis, travestis e trans na América 
Latina ganharam destaque em diferentes países. 
Como o movimento “Ni Una Menos” que teve origem 
29
na Argentina, após o assassinato de Chiara Páez 
pelo namorado, ambos ainda na adolescência. 
Esse movimento se espalhou para outros países 
do continente, denunciando e dando visibilidade 
aos casos de violência de gênero.
No Brasil, importantes leis foram conquistadas, 
como a lei do feminicídio e a lei Maria da Penha. 
Entretanto, isso não quer dizer que o país não tenha 
altos índices de violência contra mulheres. Ainda 
existem pautas tabus no país, como a legalização 
do aborto, que já fora conquistada em diferentes 
países da América Latina. A realidade brasileira 
ainda é machista, sexista, LGBTQIA+fóbica , classista e 
racista. E muitas desigualdades são justificadas a 
partir dessas opressões construídas socialmente.
Por isso, os grupos na internet são formas de 
organização e debate acerca dessa realidade, em 
diferentes países. E neles também são escancara-
das e problematizadas a exploração das imagens 
e das identidades pela mídia. 
30
AS REPRESENTAÇÕES 
SOBRE DIVERSIDADE 
SEXUAL E DE GÊNERO NA 
MÍDIA
Por conta da evolução rápida das tecnologias, na 
contemporaneidade, existem diferentes mídias. 
Hoje, a internet é a mídia de mais relevância, assim 
como foi a televisão e o rádio. Dessa forma, por 
conta do alcance em massa, as mídias digitais 
são ferramentas de transmissão de informação 
consideradas também ferramentas de produção de 
conhecimento, por isso, podem ser consideradas, 
também, como espaços educativos (FELIPE, 2016). 
A televisão foi uma das principais mídias que 
influenciaram a formação de sujeitos contempo-
râneos, das suas subjetividades e identidades. Ou 
seja, a televisão teve uma importante influência nos 
nossos gostos, interesses, pensamentos, ideias e 
visões de mundo. Hoje, a internet tem esse papel, 
principalmente para as gerações mais jovens. Nes-
se sentido, as representações da sexualidade nas 
mídias também assumiram um papel educativo.
Historicamente, as representações sobre a diver-
sidade sexual e de gênero nas mídias se transfor-
maram continuamente. Claro, a partir de interesses 
específicos e com objetivos específicos. No Brasil, 
31
as propagandas, os comerciais, as novelas, os 
jornais e programas jornalísticos eram – e ainda 
são – muito influenciados pelo imperialismo cul-
tural estadunidense. 
Atualmente, nas redes sociais e na internet, isso 
se mantem em certo nível. Algumas das grandes 
redes sociais, como o Instagram, Facebook e 
WhatsApp foram criadas e se mantem nos Estados 
Unidos. Portanto, consumimos historicamente 
muito conteúdo e informações que dizem respeito 
ao universo norte americano.
Para além disso, a mídia brasileira também assume 
estereótipos a partir da diversidade sexual e de 
gênero. Por exemplo, na contemporaneidade as 
pensadoras feministas e outros pesquisadores 
questionam e problematizam a representação 
feminina nas mídias, principalmente nas redes 
sociais. Padrões de feminilidade, do corpo perfeito, 
racistas e misóginos foram, e ainda, são apontados 
por diferentes pensadoras e pesquisadoras:
Se em tempos atrás a imposição dos padrões de 
beleza às mulheres estava nas revistas, filmes, 
novelas e publicidade de modo geral, hoje essa 
imposição invadiu todos os espaços e está cada vez 
mais arraigada no cotidiano. As “selfies” imediata-
mente editadas nos smartphones, com filtros que 
uniformizam e até clareiam o tom da pele, clareiam 
32
os dentes, fazem a pessoa aparentar mais magras, 
entre outras, são publicadas cotidianamente nas 
plataformas de rede social (SILVA, 2019, p. 33).
Isso também não é diferente em relação aos pa-
drões de masculinidade veiculados nos espaços 
das mídias, dos padrões de sexualidade e de com-
portamento sexual. O culto ao corpo perfeito e aos 
comportamentos sexuais considerados a partir de 
uma visão restritiva são veiculados comumente 
por meio das mídias.
Ao mesmo tempo que, também atualmente, en-
contramos um movimento que chama atenção. A 
questão das representatividades da diversidade, 
principalmente no Brasil, em relação à sexualidade 
e às identidades de gênero na mídia. Se por um 
lado essa representatividade traz benefícios para 
a visibilidade da diversidade sexual e de gênero, 
por outro, pode invisibilizar experiências e vivên-
cias de vida, contribuindo para a construção de 
estereótipos.
Outra questão importante destacar é a tendência de 
a publicidade cooptar pautas e discursos, como o 
feminista por igualdade de direitos, e a diversidade 
sexual e de gênero, para atingir novos mercados 
e novos consumidores. Esse cooptação, típica do 
capitalismo, também acaba por contribuir com 
33
que apesar de trazer
estereótipos sexuais e de gênero, alimentando a 
hegemonia dos discursos liberais.
Entretanto, no cotidiano, o que se percebe é uma 
realidade totalmente distinta, onde os grupos me-
norizados na sociedade, ou seja, mulheres, pessoas 
trans e travestis, homossexuais, gays, lésbicas, 
pessoas não brancas, entre outros grupos, são 
submetidas a diferentes tipos de discriminação, 
preconceito e violência.
Nesse sentido, a internet, assim como a mídia 
alternativa, se torna também um espaço de resis-
tência e de articulação desses grupos, promovendo 
movimentos específicos de ciberativismo (SILVA, 
2019). Desse modo, entendemos que a internet 
pode ser um espaço de controle e de normatiza-
ção da sexualidade e das identidades de gênero, 
mas também um espaço de articulação de lutas 
e de discussões sociais, políticas e econômicas, 
no sentido de democratização dos espaços e de 
reconhecimento e respeito à diversidade sexual e 
de gênero.
34
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse e-book pudemos conhecer a base de de-
senvolvimento do pensamento hegemônico na 
sociedade brasileira e como a sexualidade esteve 
– e ainda está – implicada nesse desenvolvimento.
A sociedade brasileira, a partir da colonização, 
teve uma formação patriarcal, repressora e nor-
matizadora em termos de sexualidade. Com isso, 
percebemos, então, como a estrutura social de 
dominação na época da colônia influencia até nos 
tempos atuais os comportamentos e os discursos 
sobre sexualidade e gênero.
Nesse sentido, a Educação para a sexualidade, a 
qual deve acontecer em todos os espaços e a todo 
momento, também está implicada na estrutura 
dessa sociedade e sofre transformações ao longo 
da história da sociedade brasileira.
Além disso, as transformações sociais e as rei-
vindicações realizadas pelo movimento feminista 
no Brasil e no mundo são também agentes de 
transformação dos discursos e entendimentos 
sobre sexualidade e gênero. Consequentemente, 
a compreensão da ES também se transforma com 
o passar dos anos, demonstrando a característica 
histórica-social da sexualidade.
35
Isso também se reflete nas mídias brasileiras, as 
quais tiveram e ainda tem grande influência na 
compreensão e nos discursos sobre diversidade 
sexual e de gênero. Entretanto, as mídias têm um 
papel dicotômico, principalmente a internet, que 
pode ser plataforma para reprodução e conser-
vação da estrutura da sociedade capitalista, ou 
como lugar de articulação de resistências e de 
movimentos políticos sociais no âmbito da trans-
formação social.
Portanto, percebemos que a ES esteve e está im-
plicada num processo de diferentes dimensões 
que têm influência nos discursos e entendimen-
tos sobre sexualidade. E isso não é diferente na 
sociedade brasileira, a qual passou e ainda passa 
por diferentes transformações.
36
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http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/cadernos_tematicos/sexualidade.pdf
https://www.scielo.br/j/ref/a/dJXnfdnYrpSLPCxSZQHVfNv/?format=pdf&lang=pt
https://www.scielo.br/j/ref/a/dJXnfdnYrpSLPCxSZQHVfNv/?format=pdf&lang=pt
	Introdução
	Patriarcado, sexualidade e o papel da família
	Os momentos históricos da Educação para a sexualidade no Brasil
	Feminismo: do movimento social às diferentes vertentes teóricas
	As representações sobre diversidade sexual e de gênero na mídia
	Considerações finais
	Referências Bibliográficas & Consultadas

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