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RAFAELA CORDEIRO GAMA A EDUCAÇÃO PARA A SEXUALIDADE ATRAVÉS DA CONSTRUÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL E SEUS DESDOBRAMENTOS NA SOCIEDADE BRASILEIRA Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 PATRIARCADO, SEXUALIDADE E O PAPEL DA FAMÍLIA ���������������������������������������� 5 OS MOMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO PARA A SEXUALIDADE NO BRASIL ���������������������������������������������������������11 FEMINISMO: DO MOVIMENTO SOCIAL ÀS DIFERENTES VERTENTES TEÓRICAS ���� 18 AS REPRESENTAÇÕES SOBRE DIVERSIDADE SEXUAL E DE GÊNERO NA MÍDIA �����������������������������������������������������������31 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������37 2 INTRODUÇÃO Neste e-book, apresentaremos diferentes aspectos da Educação para a Sexualidade (ES ), por meio de uma compreensão histórico-social. Nesse sentido, buscamos apresentar como a ES brasileira se forja a partir de características sociais e culturais específicas, e que historicamente deram base à educação da sexualidade no Brasil. Dessa forma, conheceremos como, na socieda- de brasileira, se forjou o pensamento patriarcal a partir do momento da colonização europeia e o papel da instituição familiar nesse sistema de opressão. Além disso, também discutiremos como essas duas concepções influenciam diretamente o entendimento e os discursos sobre sexualidade na sociedade da época e como isso se mantem atualmente. Em seguida, apresentaremos as características da ES na sociedade brasileira a partir do período da colonização, demonstrando as transformações e permanências acerca do entendimento da sexu- alidade e como a ES é introduzida no ambiente escolar no Brasil. Conheceremos também o histórico do movimen- to e do pensamento teórico feminista, utilizando diversas fontes e construindo um paralelo entre 3 o desenvolvimento histórico dos discursos em diferentes países com o desenvolvimento do fe- minismo no Brasil. Por fim, discutiremos acerca dos diferentes tipos de representações e estereótipos sexuais e de gênero nas diversas mídias existentes. Além disso, realizaremos uma análise crítica do que representa o aspecto da diversidade sexual e de gênero nas mídias hegemônicas e como o espaço da internet pode ser ao mesmo tempo lugar de reprodução de estereótipos, mas também de resistência. 4 PATRIARCADO, SEXUALIDADE E O PAPEL DA FAMÍLIA Você já percebeu como a língua portuguesa é uma língua, majoritariamente, dividida em gênero masculino e gênero feminino? Além disso, notou como na nossa língua portuguesa utilizamos o gênero masculino como termo genérico para se referir aos dois gêneros? Essas questões refletem o sistema patriarcal constituído na sociedade brasileira. Mas o que seria então o sistema patriarcal? Esse sistema está relacionado com as opressões de gênero que constituem a organização da sociedade. Ou seja, utilizam-se da construção das diferenças sexuais para traduzir as diferenças de gênero em desigualdades sociais. Assim, percebemos que o patriarcado não se ca- racteriza apenas como dominação a nível pessoal e individual de homens em relação às mulheres, no âmbito público-privado. Mas, para além disso, também é compreendido como um sistema de organização da sociedade a partir da dominação e da opressão, principalmente na sociedade capi- talista (SAFFIOTI, 2004). 5 Highlight Desse modo, ele está contido na compreensão das relações de gênero no sentido mais amplo, e teoricamente, com a evolução do pensamento acadêmico e teórico no campo do feminismo, foi sendo substituído pela discussão das questões de gênero. Entretanto, historicamente, o patriarcado constituiu de maneira significativa a organização da sociedade brasileira, também influenciando a questão da sexualidade. Na organização do Brasil colonial a família patriarcal teve uma centralidade importante, sendo construído a partir de uma sociedade essencialmente rural, dos grandes latifúndios, com séculos de escravidão. Essa configuração se traduziu e enraizou diferentes opressões, se constituindo ao longo dos séculos a partir da ideia da propriedade privada. A partir disso, a família patriarcal tinha como ca- racterística a figura central do senhor, sendo ele dono e proprietário da terra, mas não restringindo essa propriedade apenas à terra. Essa ideia da propriedade também se estendia à mulher, aos filhos e aos seus trabalhadores escravizados. Além disso, o poder do chefe de família em relação a tudo o que era de sua propriedade era considerado ilimitado e incontestável, tanto na esfera familiar como também na esfera pública e política (RE- ZENDE, 2015). 6 Highlight Highlight Dessa forma, a organização patriarcal está rela- cionada com a questão da propriedade privada e do sistema de heranças, conforme podemos observar na figura a seguir, com a representação dessa organização da família patriarcal: Figura 1: Representação da família patriarcal no Brasil segundo Jean-Baptiste Debret Fonte: netmundi Esse tipo de dominação patriarcal era constituído e reafirmado em diferentes dimensões: sociais, políticas, religiosas etc., influenciando também a dimensão da sexualidade. Ora, se a figura central da organização da sociedade é o homem, cristão, dono da terra e que necessita manter sua proprie- dade e sua mão de obra para o trabalho nessa terra, as crenças e práticas sexuais eram então organizadas a partir desse ponto de vista. Sobre essa questão Aguiar esclareceu: 7 https://www.netmundi.org/filosofia/2021/o-que-e-etnocentrismo/ A estratégia patriarcal consiste em uma política de população de um espaço territorial de grandes dimensões, com carência de povoadores e de mão-de-obra para gerar riquezas. A dominação se exerce com homens utilizando sua sexualidade como recurso para aumentar a população escrava. A relação entre homens e mulheres ocorre pelo arbítrio masculino no uso do sexo. (AGUIAR, 2000, p. 308) Dessa forma, o estupro de mulheres escravizadas, as crenças de submissão das mulheres, o controle do corpo e dos direitos dos indivíduos, entre outras questões, eram centrais no aspecto da sexualida- de em relação ao patriarcado. A cultura sexista, machista e violenta em relação ao entendimento da sexualidade se justificava pela necessidade de manutenção da propriedade privada (AGUIAR, 2000). Quando observamos, a partir de uma análise considerando as questões de raça, observa-se a complexificação das opressões. Às mulheres brancas, que assumiam o papel de esposa por meio do casamento religioso, eram “destinadas” a dimensão privada e a sexualidade vivenciada a partir do controle do marido, com o objetivo da reprodução. Já às mulheres negras escravizadas a inferiorização à condição de objeto eram as principais formas de controle, não sendo reconhe- 8 cida como uma pessoa de direitos e submetida às violências diversas (RIBEIRO, 2004). Além disso, na colonização, o sexo e a sexualidade eram compreendidos como forma de estabelecer alianças políticas e econômicas, como as relações que os colonizadores portugueses mantinham com os chefes indígenas, casando-se com suas filhas (AGUIAR, 2000). Nesse sentido, a formação da sociedade colonial brasileira teve uma concepção marcada pela opressão, pela exploração e pela violência dos povos europeus, dentro do sistema patriarcal. Esse sistema de opressão, vislumbrado na emer- gência do Estado brasileiro, mantem-se ao longo dos séculos. Rezende (2015, p. 20) indicou o quanto essa característica se manteve no país, mesmo com o desenvolvimento de direitos específicos no âmbito jurídico no momento de modernização do Estado brasileiro, como o fim da escravidão, o direito ao voto das mulheres e o reconhecimento como sujeitos de direitos. Assim, a Educação para a Sexualidade no desen- volvimento histórico do Brasil não começa apenas com a institucionalização do conhecimentosobre sexualidade no país. Quando retomamos histori- camente para a constituição colonial e como se compreendia a questão da sexualidade, com a 9 regulação dos comportamentos sexuais de acordo com regras, normatizações e crenças a partir de uma visão patriarcal, percebemos que a Educação para a Sexualidade acontece a todo momento. Além de acontecer a todo instante, a educação para a sexualidade também se transforma com o desenvolvimento histórico e as mudanças estruturais da sociedade. Principalmente, quando pensamos numa sociedade capitalista, onde o discurso sobre o sexo também foi uma forma de pulverizar o poder burguês e normatizar a sociedade a partir do que se entendia como o pensamento hegemônico em termos de sexualidade (FOUCAULT, 2019). 10 OS MOMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO PARA A SEXUALIDADE NO BRASIL Conforme discutido, o processo de colonização pelo qual o Brasil passou, principalmente a partir do século 16, formou as bases para o sistema pa- triarcal “importado” da Europa. A partir desse novo sistema, a sexualidade passou a ser compreendida de forma dicotômica e contraditória. De um lado do discurso se encontrava a instituição da Igreja Católica que pregava normas, regras e condenações acerca das práticas sexuais correntes da época. Do outro lado estavam os homens, que exerciam seu poder e sua liberdade sexual a partir da opressão e da violência contra as mulheres. E as mulheres brancas sendo submetidas no casamento à opressão dos maridos e as mulheres negras e indígenas submetidas à condição de objeto sexual e mercadoria a partir do interesse dos homens. Ribeiro (2004) indicou tal organização da sexualidade e dos discursos sobre a mesma como o primeiro momento da Educação para a Sexualidade (ES ) no Brasil. Essas eram as bases para o entendimen- to sobre sexualidade e alguns desses discursos 11 continuam sendo reproduzidos no senso comum na contemporaneidade. Entretanto, no século 19, ocorreu o processo de institucionalização do conhecimento sexual, e o discurso religioso foi substituído pelo discurso médico. Nessa substituição, o discurso médico destacou a sexualidade como questão de saúde e higiene. Ou seja, a sexualidade começou a ser compreendida a partir de uma visão higienista, típica do discurso médico estabelecido na época. Dessa forma, os comportamentos sexuais consi- derados indisciplinados e desregrados eram vistos como comportamentos que ofereciam riscos à saúde dos indivíduos, possibilidade de contrair doenças físicas ou mentais. As práticas sexuais eram indicadas apenas para o exercício da reprodução. Além disso, as crianças e jovens eram submetidos à uma vigilância siste- mática, principalmente na educação instituciona- lizada e na família, mantendo uma visão patriarcal da sexualidade. Segundo Ribeiro (2004), esse é o segundo momento histórico da Educação para a Sexualidade no Brasil, O autor destaca que nesse segundo momento os discursos sobre sexualidade se estabeleceram no sentido de normalização das práticas sexuais a partir de uma moral médica, ou seja, do que se 12 considerava “saudável” e o que se considerava “pernicioso” para a saúde. Além disso, existia uma ligação com o Estado brasileiro: No século XIX, é a medicina que interage com o Estado: a primeira está interessada em propagar seus ideais higiênicos, o segundo necessita de um aliado que dê sustentação às mudanças políticas e sociais em um país recém-liberto. Os médicos falam ao país através da Academia Imperial de Medicina e da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, com a defesa pública de teses, discursos acalorados, publicação de livros, e artigos nos jornais. A mortalidade infantil – que é elevada e preocupa o governo – torna-se a bandeira de uma luta que visa ditar normas de saúde e higiene que beneficiassem a sociedade. Os médicos preocu- pam-se com a criança, com a educação escolar e com a orientação da família (RIBEIRO, 2004, p. 17) Você pode perceber que a instituição médica, criou estratégias de legitimação de um discurso normativo e prescritivo em termos de comporta- mento sexual. Tal legitimação veio por meio de estratégias de hierarquização do conhecimento sobre a temática, utilizando-se do status quo dos indivíduos que exerciam a medicina como forma de estabelecer o reconhecimento social dos dis- cursos médicos sobre sexualidade. 13 Highlight O terceiro momento da Educação para a Sexua- lidade, segundo Ribeiro (2004), coincide com o surgimento da sexologia no século 20, conside- rada como campo oficial do saber médico sobre sexualidade. Nesse momento, existia uma grande produção de livros publicados por médicos, profes- sores e sacerdotes visando à orientação da prática sexual dos indivíduos, legitimadas pelo discurso “cientificamente fundamentado”. Esse terceiro momento se estende até meados do século 20, quando em 1960 muitas transfor- mações sociais, políticas e culturais na sociedade brasileira influenciarão as mudanças em termos de comportamento sexual. É nesse cenário que o quarto momento da Edu- cação para a Sexualidade no Brasil se estabelece (RIBEIRO, 2004). A EA é introduzida nas escolas brasileiras de algumas cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Nessa implemen- tação, foram criados e implementados programas de orientação sexual, com variações de acordo com as organizações das escolas e colégios. Como desdobramento dessas experiências, em 1968, foi apresentado um projeto de lei propondo a introdução da Educação para a Sexualidade de forma obrigatória nas escolas do país. Entretanto, com a consolidação do regime ditatorial militar, o 14 Highlight qual controlava as manifestações da sexualidade e os comportamentos sexuais, o projeto foi rejei- tado pela Comissão Nacional de Moral e Civismo (RIBEIRO, 2004). Apenas no final da década de 1970 retomou-se a implantação de projetos de Educação para a Sexualidade nas escolas, inicialmente na cidade de São Paulo e após isso, no estado de São Paulo. Assim, o período de 1980 a 2000 é considerado por Ribeiro (2004) como o quinto momento histó- rico da Educação para a Sexualidade no Brasil, se caracterizando pela tomada de responsabilidade de diferentes secretarias municipais e estaduais acerca do trabalho sobre sexualidade nas escolas. Entretanto, os projetos desenvolvidos nessas décadas eram interrompidos de acordo com as mudanças de governos, ou seja, não existia uma continuidade nesse processo. O quinto momento indicado por Ribeiro (2004), acerca do histórico da Educação para a Sexuali- dade, foi a aparição, pela primeira vez, do tema no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Fundamental, a partir da aprovação das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). 15 Entretanto, esses documentos tinham caráter facultativo, ou seja, não se configuravam como referenciais obrigatórios para a construção dos currículos escolares. Dessa forma, observou-se uma tendência de esquecimento da temática da sexualidade em diferentes lugares do país. Avançando o pensamento de Ribeiro (2004), pode- mos dizer que a partir da discussão e aprovação em 2017 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC ), encontramos o sexto momento da Educação para a Sexualidade no Brasil. Tal aprovação foi considerada por Vianna e Bortolini (2020) como um processo controverso. Principalmente por, nele, terem sido retirados, por pressões da bancada religiosa e conservadora no congresso federal, os termos: orientação sexual e gênero. Além disso, a Educação para a Sexualidade, que estava contemplada pelo documento Orientação Sexual como tema transversal dos PCN, foi eli- minada do documento Temas Contemporâneos Transversais (TCT), publicado em 2019. Ou seja, em termos nacionais, a Educação para a Sexualidade na escola está sem orientações e balizamentos obrigatórios para os currículos escolaresacerca do trabalho em sexualidade. Essa situação de não presença da ES no principal documento base para o currículo escolar, documento esse com caráter 16 obrigatório, pode resultar no esquecimento da importância dessa temática na educação. Com isso, observamos um movimento de discursos mais conservadores em relação à sexualidade, limi- tando o acesso ao conhecimento e à informação nas escolas, retrocedendo as conquistas alcançadas nas décadas de 1990 e 2000, que tiveram relação direta e indireta com a luta feminista. 17 FEMINISMO: DO MOVIMENTO SOCIAL ÀS DIFERENTES VERTENTES TEÓRICAS Ao conhecermos um pouco sobre a construção dos discursos sobre sexualidade no Brasil, per- cebemos como eles foram se tornando cada vez mais complexos e influenciando os costumes e comportamentos sexuais dos indivíduos, desde a colonização, a partir de uma visão patriarcal e do papel da instituição familiar nessa construção discursiva. Além disso, conhecemos o histórico da ES no Brasil e como foi o processo de introdução dessa temática nas escolas brasileiras. Nesse desenrolar, a partir da década de 1960, diferentes transforma- ções sociais, políticas e econômicas aconteceram no Brasil e nessas transformações o movimento social feminista teve grande importância. Dessa forma, conheceremos aqui a história desse movimento social, suas características e como o pensamento feminista foi introduzido nas pesquisas científicas e no pensamento acadêmico, no Brasil e em diferentes países. 18 Para melhor compreensão da história do movi- mento e do pensamento feminista, as pesquisas acadêmicas e diversos autores da área utilizam a metáfora de “ondas”. Essa metáfora é utilizada para marcar determinados momentos históricos, onde o movimento feminista organizado teve uma atuação política mais incisiva. Entretanto, sua história das lutas empenhadas por ele não é linear e universal. Silva (2019) nos esclareceu que, antes da “pri- meira onda” reconhecida pelos livros de história hegemônicos, as mulheres já lutavam pelos seus direitos e contra as opressões, como na Revolução Francesa, contra a escravidão e pelo direito à edu- cação no Brasil. Entretanto, esse reconhecimento não foi contemplado pela organização jurídica da sociedade até meados do século 19 (SILVA, 2019). Conheça a vida e a luta de mulheres no Brasil e no mundo antes da “primeira onda” do feminismo, acessando os seguintes links sobre: Dandara de Palmares - https://www.sbmfc.org.br/dandara/ Luiza Mahín - https://www.ufrgs.br/africanas/ luiza-mahin-seculo-xix/ Esperança Garcia - https://esperancagarcia.org/memoria/ SAIBA MAIS 19 https://www.sbmfc.org.br/dandara/ https://www.ufrgs.br/africanas/luiza-mahin-seculo-xix/ https://www.ufrgs.br/africanas/luiza-mahin-seculo-xix/ https://esperancagarcia.org/memoria/ é descrito por autores em... A chamada “primeira onda” do feminismo (SILVA, 2019) é marcada pelo movimento Sufragista, sur- gido no Reino Unido e nos Estados Unidos, entre o fim do século 19 e meados do século 20. Esse movimento teve como característica a luta das mulheres pelo direito ao voto, à candidatura às eleições e direito a administrar fortunas e bens. Questionavam também a condição de submissão e de restrição de suas vidas ao privado. Pra aprofundar seus conhecimentos acerca do Movimento Sufragista, acesse o link: https://brasilescola.uol.com. br/sociologia/movimento-sufragista.htm#:~:text=A%20 Inglaterra%2C%20grande%20protagonista%20do,10%20 anos%20depois%20(1928). Percebemos que essas reinvindicações estavam de acordo com as necessidades de mulheres brancas de classe mais abastada. Entretanto, as mulheres da classe trabalhadora, tanto no Brasil quanto em outros países, lutavam por melhores condições de trabalho. Já as mulheres negras, como no Brasil e nos Estados Unidos, ainda lutavam contra o reconhecimento jurídico de suas vidas como pro- priedade dos escravocratas e problematizavam a questão do racismo na organização hierarquizada da sociedade capitalista. SAIBA MAIS 20 Entretanto, a autora brasileira Constância de Lima Duarte, no artigo Feminismo e literatura no Brasil, publicado em 2003, contesta a datação hegemô- nica das “ondas feministas”. Essa autora indicou que antes mesmo da considerada “primeira onda” no Reino Unido e nos Estados Unidos, já existia no Brasil, no início do século 19, uma movimentação com características feministas. Nesse momen- to, havia, por exemplo, a abertura das primeiras escolas públicas femininas, o que deu base para os movimentos e pensamentos de mulheres nos anos seguintes. Para conhecer também feministas brasileiras impor- tantes durante o século 19 e o século 20, acesso os seguintes links sobre: Nísia Floresta: https://www.youtube.com/ watch?v=2r_VU8DRzBw Bertha Lutz: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bertha_Lutz Nesse sentido, o que se considera na Europa e nos Estados Unidos a “primeira onda feminista”, no Brasil, as pesquisadoras historiadoras feministas consideram como a “segunda onda feminista”. Portanto, fica claro, como a história do movimento feminista a partir da metáfora de “ondas” dependerá SAIBA MAIS 21 https://www.youtube.com/watch?v=2r_VU8DRzBw https://www.youtube.com/watch?v=2r_VU8DRzBw https://pt.wikipedia.org/wiki/Bertha_Lutz do referencial teórico que se utiliza e da datação histórica do movimento. A “segunda onda” do feminismo em países da Europa e da América do Norte – considerada a “terceira onda” no Brasil (DUARTE, 2003) – é “inau- gurada” com a publicação da obra O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, no ano de 1949. Esse é o momento em que o pensamento feminista começa a tomar espaço nas universidades estrangeiras como um pensamento científico. Essas discussões acadêmicas iniciam com debates sobre as diferenças de sexo e gênero, buscando, assim, compreender as raízes das opressões so- fridas pelas mulheres ao estudar sobre a origem da condição feminina, principalmente biológica. Ou seja, tais discussões problematizavam o uso do corpo das mulheres, e a compreensão estritamente biológica e essencialista sobre esse corpo, como justificativa e naturalização das opressões sociais: Por influência dessa grande mudança a respeito da relação da mulher com o próprio corpo, se percebe que a segunda onda se distingue como a fase em que aquilo que antes era restrito à esfera particular, agora foi trazido ao âmbito público com as discus- sões acerca da liberdade sexual da mulher e na luta pelos direitos reprodutivos, por isso, “o pessoal é 22 político” foi um dos slogans dessa época. (SILVA, 2019, p. 13) É nesse momento, também, que a pílula anticon- cepcional é difundida e a reprodução deixa de ser uma questão. Entretanto, nem todas as mulheres teriam condição de acesso aos métodos anticon- cepcionais, o que limitava também o alcance das reinvindicações feministas na época. Grandes protestos e manifestações, principalmen- te na década de 1960, marcaram esse momento histórico do feminismo europeu e estadunidense. O Brasil, por sua vez, passava pelo momento de ditadura empresarial e militar, a partir do golpe de 1964. Por conta da repressão e perseguição aos movi- mentos políticos e sociais que se intensificaram até o final do regime, em 1985, e por conta do apagamento histórico do discurso hegemônico sobre o movimento feminista, não existem mui- tas fontes sobre o movimento nesse momento. Entretanto, algumas conquistas no campo jurídico foram realizadas, como a possibilidade de se tornar economicamente ativa, ou seja, trabalhar sem a necessidade de autorização do marido e, em 1977, houve a criação do divórcio (SILVA, 2019). 23 Highlight Percebemos, assim, um movimento feminista centrado em questões individuais, relacionadas ao corpo, à liberdade sexual, ao direito ao aborto, entre outros, mas centralizado na ideia de “mulher universal”. Silva (2019) indicou que nesse momen- to, as pesquisadoras e pensadoras feministas, principalmente na academia,tinham um recorte de classe e raça muito específico: eram mulheres brancas e burguesas, o que limitava as análises das situações sociais e a inclusão de demandas de outros grupos de mulheres. Já a partir da década de 1980, diante de diferentes transformações políticas, econômicas e sociais no mundo, como a dissolução da União Soviética, o fim da Guerra Fria, o fim das ditaduras latino-america- nas, a chamada “terceira onda” feminista no âmbito europeu e dos Estados Unidos da América – sendo para Duarte (2003) a “quarta onda” feminista no Brasil – trouxe transformações importantes para o pensamento e o movimento feminista. Nesse momento, o feminismo negro, das traba- lhadoras e o feminismo lésbico assumem um protagonismo nas discussões acadêmicas e nas pautas do movimento social. A maior crítica des- ses pensamentos foi a centralização das pautas e discussões do feminismo de “segunda onda” a partir da visão de mulheres cisgêneros brancas, economicamente privilegiadas e heterossexuais, 24 considerando essas questões como universais. Silva esclareceu: Dessa maneira, a terceira onda buscou que fossem reconhecidas e consideradas as diversas identi- dades femininas, entendendo que as opressões sociais, mesmo que baseadas no gênero, atingem de maneiras diferentes mulheres que se encontram sob diferentes condições factuais. Por exemplo, estereótipo de feminilidade, o comportamento doce, delicado e gentil imposto como adequado e até natural das mulheres não chegou às mulheres negras do mesmo jeito, foi o que Sojourner Truth questionou quase um século atrás em “Eu não sou uma mulher?”. Da mulher negra, a estrutura social machista que também é racista esperava acidez, hostilidade e grosseria, de maneira que, para a mu- lher negra, reivindicar o direito de ser doce, delicada e gentil era sim um ato de revolução ao racismo atravessado pelo machismo. (SILVA, 2019, p. 17-18) Cisgênero é um termo relativo à questão da identidade de gênero e se refere àquela pessoa que se identifica com o gênero atribuído ao nascer. Além de pessoas cisgêneros existem também as pessoas transgêneros ou travestis, que são as quais não se identificam com o gênero atribuído ao nascer. Esses termos têm como FIQUE ATENTO 25 objetivo “[...] enfatizar a perspectiva binarista vigente e, dessa forma: 1) expor que o gênero não é da ordem do natural; 2) que é um constructo a partir das convenções morais e sociais; e 3) que não está condicionado à exis- tência de uma determinada genitália/órgãos reprodutivos [...]” (SILVA; SOUZA; BEZERRA, 2019, p. 3) Nesse momento da história do movimento femi- nista e do pensamento acadêmico ficou evidente a diversidade de experiências de mulheres distintas (SILVA, 2019). Ângela Davis, com o livro Mulheres, Raça e Classe publicado em 1981 ganhou destaque com o pensamento associando às opressões de gênero, de raça e de classe na sociedade capita- lista. Além disso, é nesse período que o dia 8 de março passa a ser considerado o Dia Internacional das Mulheres, em referência à luta das mulheres trabalhadoras. Para saber mais sobre 8 de março, que deve ser entendida como uma data política, acesse o link: https://azmina. com.br/reportagens/esqueca-o-incendio-na-fabrica-es- ta-e-a-verdadeira-historia-do-8-de-marco/ No Brasil, com o período de ditatura militar, o mo- vimento e o pensamento feminista tiveram uma característica importante de questionamento dos SAIBA MAIS 26 https://azmina.com.br/reportagens/esqueca-o-incendio-na-fabrica-esta-e-a-verdadeira-historia-do-8-de-marco/ https://azmina.com.br/reportagens/esqueca-o-incendio-na-fabrica-esta-e-a-verdadeira-historia-do-8-de-marco/ https://azmina.com.br/reportagens/esqueca-o-incendio-na-fabrica-esta-e-a-verdadeira-historia-do-8-de-marco/ sistemas políticos e econômicos, sendo pauta das discussões por melhores condições de vida e luta pela redemocratização do país. Entretanto, também se discutiam pautas sobre sexualidade, o direito ao aborto e o direito ao prazer (DUARTE, 2003). Nesse sentido, esse momento se encontrou a diversificação das pautas sociais e da discussão acadêmica sobre o movimento feminista, surgindo então diferentes vertentes teóricas do feminismo, que tinham diferentes fontes, como o feminismo marxista, o feminismo radical, o feminino intersec- cional, o feminismo liberal, entre outros. Conheça um pouco mais sobre as diferentes vertentes do pensamento feminista em: https://azmina.com.br/ reportagens/radical-liberal-interseccional-conhecas-as- -principais-vertentes-do-feminismo/. Entretanto, a partir da década de 2010, já no sé- culo 21, com a intensificação do uso da internet e das redes sociais diversas, ressurgiram discus- sões acerca da constatação que, mesmo com os avanços das feministas nas “ondas” anteriores, a tão almejada igualdade entre os sexos ainda não é realidade (SILVA, 2019). SAIBA MAIS 27 https://azmina.com.br/reportagens/radical-liberal-interseccional-conhecas-as-principais-vertentes-do-feminismo/ https://azmina.com.br/reportagens/radical-liberal-interseccional-conhecas-as-principais-vertentes-do-feminismo/ https://azmina.com.br/reportagens/radical-liberal-interseccional-conhecas-as-principais-vertentes-do-feminismo/ Nesse sentido, com o avanço da tecnologia e as transformações observadas em termos de comportamento e de discussões entre grupos de mulheres, já se falam na existência de uma “quarta onda” do feminismo, pensado a partir da Europa e dos Estados Unidos. Desse modo, podemos se- guir o pensamento de Duarte (2003) e identificar a “quinta onda” do feminismo no Brasil. Conheça diferentes pensadoras e pensadores importante para o movimento e o pensamento feminista no século 21, acessando os links a seguir: Sueli Carneiro: https://www.geledes.org.br/sue- li-carneiro/?gclid=CjwKCAiA4KaRBhBdEiwAZi1zzklbG- ML1mvzJr7DAfozPafUHICD85ktwSg2Q5e3xcvUZY6er- qDErXRoCAIwQAvD_BwE Lél ia Gonzá lez : ht tps : //pt .w ik iped ia .org/ wiki/L%C3%A9lia_Gonzalez Heleieth Saffioti: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Heleieth_Saffioti Paul B. Preciado: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Paul_B._Preciado Judith Butler: https://pt.wikipedia.org/wiki/Judith_Butler Assim, a internet se tornou um lugar para dar voz a diferentes grupos de pessoas, com as mais variadas SAIBA MAIS 28 https://www.geledes.org.br/sueli-carneiro/?gclid=CjwKCAiA4KaRBhBdEiwAZi1zzklbGML1mvzJr7DAfozPafUHICD85ktwSg2Q5e3xcvUZY6erqDErXRoCAIwQAvD_BwE https://www.geledes.org.br/sueli-carneiro/?gclid=CjwKCAiA4KaRBhBdEiwAZi1zzklbGML1mvzJr7DAfozPafUHICD85ktwSg2Q5e3xcvUZY6erqDErXRoCAIwQAvD_BwE https://www.geledes.org.br/sueli-carneiro/?gclid=CjwKCAiA4KaRBhBdEiwAZi1zzklbGML1mvzJr7DAfozPafUHICD85ktwSg2Q5e3xcvUZY6erqDErXRoCAIwQAvD_BwE https://www.geledes.org.br/sueli-carneiro/?gclid=CjwKCAiA4KaRBhBdEiwAZi1zzklbGML1mvzJr7DAfozPafUHICD85ktwSg2Q5e3xcvUZY6erqDErXRoCAIwQAvD_BwE https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A9lia_Gonzalez https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A9lia_Gonzalez https://pt.wikipedia.org/wiki/Heleieth_Saffioti https://pt.wikipedia.org/wiki/Heleieth_Saffioti https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_B._Preciado https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_B._Preciado https://pt.wikipedia.org/wiki/Judith_Butler pautas. Então, existe um movimento de contes- tação e de questionamentos acerca do sexismo, machismo, racismo, da LGBTQIA+fóbica , xenofobia, entre outros tipos de violência e de opressão. O alcance de pessoas mais jovens a essas dis- cussões também se concretiza nesse momento, o que renova o interesse e as possibilidades de organização de lutas e reinvindicações do movi- mento social. Além disso, traz as demandas de mulheres de países considerados periféricos e a emergência de uma perspectiva teórica decolonial: Deste modo, a quarta onda do feminismo é intrin- secamente ligada às demandas das pessoas das regiões periféricas do ocidente, aquelas pessoas que nunca antes – ou muitíssimo mal – tiveram espaço para se manifestarem e serem ouvidas, mas na internet encontraram esseespaço. É o caso das mulheres dos países da América Latina. Na internet, essas mulheres encontraram oportunidade para articular a própria luta contra a violência de gênero – violência esta que se manifesta de diver- sas formas tanto no ambiente público quanto no âmbito privado. (SILVA, 2019, p. 26-27). As manifestações contra os casos de violência contra as mulheres cis, travestis e trans na América Latina ganharam destaque em diferentes países. Como o movimento “Ni Una Menos” que teve origem 29 na Argentina, após o assassinato de Chiara Páez pelo namorado, ambos ainda na adolescência. Esse movimento se espalhou para outros países do continente, denunciando e dando visibilidade aos casos de violência de gênero. No Brasil, importantes leis foram conquistadas, como a lei do feminicídio e a lei Maria da Penha. Entretanto, isso não quer dizer que o país não tenha altos índices de violência contra mulheres. Ainda existem pautas tabus no país, como a legalização do aborto, que já fora conquistada em diferentes países da América Latina. A realidade brasileira ainda é machista, sexista, LGBTQIA+fóbica , classista e racista. E muitas desigualdades são justificadas a partir dessas opressões construídas socialmente. Por isso, os grupos na internet são formas de organização e debate acerca dessa realidade, em diferentes países. E neles também são escancara- das e problematizadas a exploração das imagens e das identidades pela mídia. 30 AS REPRESENTAÇÕES SOBRE DIVERSIDADE SEXUAL E DE GÊNERO NA MÍDIA Por conta da evolução rápida das tecnologias, na contemporaneidade, existem diferentes mídias. Hoje, a internet é a mídia de mais relevância, assim como foi a televisão e o rádio. Dessa forma, por conta do alcance em massa, as mídias digitais são ferramentas de transmissão de informação consideradas também ferramentas de produção de conhecimento, por isso, podem ser consideradas, também, como espaços educativos (FELIPE, 2016). A televisão foi uma das principais mídias que influenciaram a formação de sujeitos contempo- râneos, das suas subjetividades e identidades. Ou seja, a televisão teve uma importante influência nos nossos gostos, interesses, pensamentos, ideias e visões de mundo. Hoje, a internet tem esse papel, principalmente para as gerações mais jovens. Nes- se sentido, as representações da sexualidade nas mídias também assumiram um papel educativo. Historicamente, as representações sobre a diver- sidade sexual e de gênero nas mídias se transfor- maram continuamente. Claro, a partir de interesses específicos e com objetivos específicos. No Brasil, 31 as propagandas, os comerciais, as novelas, os jornais e programas jornalísticos eram – e ainda são – muito influenciados pelo imperialismo cul- tural estadunidense. Atualmente, nas redes sociais e na internet, isso se mantem em certo nível. Algumas das grandes redes sociais, como o Instagram, Facebook e WhatsApp foram criadas e se mantem nos Estados Unidos. Portanto, consumimos historicamente muito conteúdo e informações que dizem respeito ao universo norte americano. Para além disso, a mídia brasileira também assume estereótipos a partir da diversidade sexual e de gênero. Por exemplo, na contemporaneidade as pensadoras feministas e outros pesquisadores questionam e problematizam a representação feminina nas mídias, principalmente nas redes sociais. Padrões de feminilidade, do corpo perfeito, racistas e misóginos foram, e ainda, são apontados por diferentes pensadoras e pesquisadoras: Se em tempos atrás a imposição dos padrões de beleza às mulheres estava nas revistas, filmes, novelas e publicidade de modo geral, hoje essa imposição invadiu todos os espaços e está cada vez mais arraigada no cotidiano. As “selfies” imediata- mente editadas nos smartphones, com filtros que uniformizam e até clareiam o tom da pele, clareiam 32 os dentes, fazem a pessoa aparentar mais magras, entre outras, são publicadas cotidianamente nas plataformas de rede social (SILVA, 2019, p. 33). Isso também não é diferente em relação aos pa- drões de masculinidade veiculados nos espaços das mídias, dos padrões de sexualidade e de com- portamento sexual. O culto ao corpo perfeito e aos comportamentos sexuais considerados a partir de uma visão restritiva são veiculados comumente por meio das mídias. Ao mesmo tempo que, também atualmente, en- contramos um movimento que chama atenção. A questão das representatividades da diversidade, principalmente no Brasil, em relação à sexualidade e às identidades de gênero na mídia. Se por um lado essa representatividade traz benefícios para a visibilidade da diversidade sexual e de gênero, por outro, pode invisibilizar experiências e vivên- cias de vida, contribuindo para a construção de estereótipos. Outra questão importante destacar é a tendência de a publicidade cooptar pautas e discursos, como o feminista por igualdade de direitos, e a diversidade sexual e de gênero, para atingir novos mercados e novos consumidores. Esse cooptação, típica do capitalismo, também acaba por contribuir com 33 que apesar de trazer estereótipos sexuais e de gênero, alimentando a hegemonia dos discursos liberais. Entretanto, no cotidiano, o que se percebe é uma realidade totalmente distinta, onde os grupos me- norizados na sociedade, ou seja, mulheres, pessoas trans e travestis, homossexuais, gays, lésbicas, pessoas não brancas, entre outros grupos, são submetidas a diferentes tipos de discriminação, preconceito e violência. Nesse sentido, a internet, assim como a mídia alternativa, se torna também um espaço de resis- tência e de articulação desses grupos, promovendo movimentos específicos de ciberativismo (SILVA, 2019). Desse modo, entendemos que a internet pode ser um espaço de controle e de normatiza- ção da sexualidade e das identidades de gênero, mas também um espaço de articulação de lutas e de discussões sociais, políticas e econômicas, no sentido de democratização dos espaços e de reconhecimento e respeito à diversidade sexual e de gênero. 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse e-book pudemos conhecer a base de de- senvolvimento do pensamento hegemônico na sociedade brasileira e como a sexualidade esteve – e ainda está – implicada nesse desenvolvimento. A sociedade brasileira, a partir da colonização, teve uma formação patriarcal, repressora e nor- matizadora em termos de sexualidade. Com isso, percebemos, então, como a estrutura social de dominação na época da colônia influencia até nos tempos atuais os comportamentos e os discursos sobre sexualidade e gênero. Nesse sentido, a Educação para a sexualidade, a qual deve acontecer em todos os espaços e a todo momento, também está implicada na estrutura dessa sociedade e sofre transformações ao longo da história da sociedade brasileira. Além disso, as transformações sociais e as rei- vindicações realizadas pelo movimento feminista no Brasil e no mundo são também agentes de transformação dos discursos e entendimentos sobre sexualidade e gênero. Consequentemente, a compreensão da ES também se transforma com o passar dos anos, demonstrando a característica histórica-social da sexualidade. 35 Isso também se reflete nas mídias brasileiras, as quais tiveram e ainda tem grande influência na compreensão e nos discursos sobre diversidade sexual e de gênero. Entretanto, as mídias têm um papel dicotômico, principalmente a internet, que pode ser plataforma para reprodução e conser- vação da estrutura da sociedade capitalista, ou como lugar de articulação de resistências e de movimentos políticos sociais no âmbito da trans- formação social. Portanto, percebemos que a ES esteve e está im- plicada num processo de diferentes dimensões que têm influência nos discursos e entendimen- tos sobre sexualidade. E isso não é diferente na sociedade brasileira, a qual passou e ainda passa por diferentes transformações. 36 Referências Bibliográficas & Consultadas AGUIAR, N. Patriarcado,sociedade e patrimonialismo. Sociedade e Estado, Brasília, v. 15, n. 2, p. 303-330, Dez. 2000. Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/a/ cRnvYmPTgc59jggw7kV5F4d/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 13 jul. 2022. BERTHA LUTZ. Wikipedia [s/d]. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bertha_Lutz. Acesso em: 13 jul. 2022. CARVALHO, G.; MELO, S.; MENDES, P.; SANTOS, V. 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