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AT 1 2 32 S U M Á R IO 3 INTRODUÇÃO 5 UNIDADE 1 - Elementos Fundamentais da Mecânica Newtoniana 6 1.1 As leis de Newton 7 1.2 Força e massa 8 1.3 Sistemas de referência 9 1.4 Lei de Newton associada à atração da gravidade 10 1.5 Medidas e limitações da Mecânica de Newton 12 UNIDADE 2 - Movimento de Partículas em uma Dimensão 12 2.1 Sistemas de referência 13 2.2 Coordenadas cartesianas e posição 13 2.3 Generalizando para duas e três dimensões 15 2.4 Movimento e repouso 15 2.5 Definindo formalmente a trajetória 16 2.6 Cinemática envolvendo o movimento em uma dimensão 20 UNIDADE 3 - Oscilador Harmônico e Propriedades Fundamentais 20 3.1 Conceitos fundamentais 22 3.2 Equações do movimento harmônico simples 23 3.3 A energia associada ao movimento harmônico simples 24 3.4 Oscilador harmônico amortecido 25 3.5 Oscilador harmônico forçado 28 UNIDADE 4 - Movimentos Bidimensional e Tridimensional Envolvendo Partículas 28 4.1 Vetor posição e vetor velocidade 29 4.2 Vetor aceleração 31 4.3 Movimento de um projétil 35 4.4 Força central 38 UNIDADE 5 - Unidades de Medidas 40 REFERÊNCIAS 2 33 INTRODUÇÃO É sabido que a Mecânica é a parte da Física que estuda o movimento dos cor- pos. Ela é dividida em Cinemática, Dinâ- mica e Estática e, especificamente falan- do, é de fundamental importância para a descrição de propriedades e resolução de problemas particulares no contexto da Engenharia e, em especial, para a par- te da Engenharia Civil. Grosso modo, de forma bem simples, visualizamos que: Cinemática – descreve o movimen- to dos objetos sem se preocupar com suas causas, abrangendo os conteúdos de movimento retilíneo uniforme, mo- vimento uniformemente variado, gran- dezas vetoriais nos movimentos e movi- mento circular; Dinâmica – é o estudo dos movi- mentos e suas causas. Tem como base de seus conteúdos as Leis de Newton; Estática – estuda o equilíbrio de um sistema sob a ação de várias forças. É interessante observarmos que de acordo com Hibbeler (2005), é muito com- plicado nas entrelinhas estabelecermos o nascimento da Mecânica e dos seus es- tudos relacionados, já que existem regis- tros de que ela está intimamente ligada às considerações de astros celestes des- de as mais remotas civilizações. Assim, a partir da consideração da periodicidade do movimento dos astros que foram fei- tos os primeiros calendários na Mesopo- tâmia, por exemplo, por volta do ano de 2700 a.C. Dessa forma, um pulo relevante na Mecânica aconteceu na Grécia antiga a partir da Filosofia Natural, que exercia uma “busca pela verdade”. Os principais nomes dessa fase foram Aristóteles, que definia o movimento como um atributo do ser em movimento, e Arquimedes, que descreveu os estudos específicos sobre estática e hidrostática. Segundo Meriam (2009), o conheci- mento dos gregos prevaleceu durante muitos séculos, entretanto, a partir do século XV, com o Renascimento, que a ciência começou a modernizar-se, Galileu Galilei se tornou o principal pesquisador da área em tais tempos. Em verdade, po- demos dizer que foi ele quem introduziu o conceito de movimento uniforme e es- tudou o movimento do pêndulo simples e de projéteis diversos, propondo também que o Sol seria o centro do Sistema Solar, e não a Terra, como se acreditava em pe- ríodos anteriores. Salientamos ainda, que no mesmo período da morte de Galileu, tivemos o nascimento de Isaac Newton, um grande filósofo, matemático e físico que propôs as três Leis fundamentais da dinâmica em sua obra denominada “Prin- cípios Matemáticos da Filosofia Natural”, publicada em 1687. As teorias apresen- tadas por Newton pareciam ser perfeitas e descreviam, até então, o movimento de todos os corpos. Tome nota: a Mecânica é uma das partes da Física e sen- do a mais antiga de todas, já que é responsável pela descri- ção dos estudos dos fenôme- nos que ocorrem na natureza e, especificamente falando, o que primeiro chamou a atenção da 4 54 humanidade foi o movimento dos corpos. Logo, criaram a Me- cânica para que estudássemos os movimentos e o repouso dos corpos em geral. Entretanto, no início do século XX, de acordo com Silva (2011), Albert Einstein publicou a teoria da relatividade, que afirmou que os eventos físicos são os mesmos para quaisquer referenciais com velocidade relativa constante. As Leis de Newton passaram a ser consideradas vá- lidas apenas para velocidades muito me- nores do que a da luz. Entretanto, as leis propostas por Newton são suficientes para o estudo dos movimentos observa- dos na superfície da Terra, por isso ainda são consideradas relevantes para a Física Clássica. De outra forma, segundo Hibbeler (2005), os princípios da estática desen- volveram-se na história a muito tempo, porque podiam ser formulados simples- mente a partir das medições da geome- tria e da força. Estudos sobre polia, plano inclinado e torção aparecem em registros antigos, da época em que as necessida- des da engenharia limitavam-se princi- palmente à construção de edifícios e má- quinas. A disciplina de Mecânica é um momen- to que envolve a aplicação dos conceitos da Física em relação ao movimento dos corpos no contexto da Engenharia. Vá- rias situações do dia a dia do engenheiro serão analisadas, com o objetivo de fi- xarmos a teoria de uma forma bem mais simples e prática. Sem abrir mão da com- plexidade dos temas propostos, o con- teúdo foi cuidadosamente selecionado e apresentado de modo a permitir que sua aprendizagem aconteça de forma simples e agradável. Sugerimos que leia atentamente cada parte deste material de apoio. Nesse sentido, o objetivo geral da nos- sa disciplina é apresentar um aparato teórico e prático envolvendo a aplicabili- dade da Mecânica no contexto da Enge- nharia e, em particular, no contexto da Engenharia Civil, desde definições e mé- todos utilizados para a resolução de pro- blemas práticos dessas áreas. Pois bem, as palavras acima são nos- sa justificativa para o módulo em estu- do. Desde já, desejamos sucesso, não só nesta disciplina, mas em todo o curso. 4 55 UNIDADE 1 - Elementos Fundamentais da Mecânica Newtoniana É interessante já ficar claro que na área da Mecânica, procuramos descrever um conjunto de leis físicas que forneçam um método matemático para descre- ver o movimento de um ponto material ou de um conjunto de pontos materiais. Estabeleceremos os conceitos de ponto material e conjunto de pontos materiais mais adiante. Além disso, deve ser nota- do que a formulação newtoniana da Me- cânica Clássica baseia-se em quatro con- ceitos fundamentais, a saber: Distância (Espaço), Tempo, Massa e Força. Figura 1: Conceitos fundamentais da Mecânica. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Dessa forma: a “Distância (Espaço)” é entendida de forma intuitiva com base em conside- rações geométricas; o “Tempo” corresponde à medida da sucessão dos acontecimentos e é capaz de ser definida por um observador qual- quer. É da inter-relação entre os concei- tos de distância e tempo que surge o es- tudo do movimento, aparecendo, então, as definições de velocidade e aceleração de um ponto material (Estudo da Cinemá- tica); a “Massa”, embora utilizada intuiti- vamente, requer para a sua elaboração e compreensão o uso das próprias leis fundamentais da Mecânica Clássica (as conhecidas Leis de Newton); a “Força”, que está intimamente re- lacionada com a alteração do estado de movimento de uma partícula. Do ponto de vista físico, as forças são os agentes 6 7 responsáveis pela mudança da velocida- de de um objeto. Se ele muda de veloci- dade então sobre ele age uma força (ou mais forças). Importante: as leis físicas, introduzidas logo de iníciopor Newton, são a base de toda a Mecânica Clássica, apoiadas em observações experimentais. Es- sas leis podem ser entendidas como postulados ditados pela Natureza. Suas implicações es- tão de acordo com a observação da natureza, então, consistente- mente, podem aceitar-se estes postulados como verdadeiros. Eles assumem, portanto, a cate- goria de leis físicas, isto é, verda- des manifestadas pela própria natureza. 1.1 As leis de Newton Segundo Hibbeler (2005), as leis de Newton podem ser enunciadas como se- gue: Primeira lei de Newton: todo o cor- po permanece no seu estado de repouso, ou de movimento uniforme retilíneo, a não ser que seja compelido a mudar esse estado devido à ação de forças aplicadas. Figura 2: Interpretando a primeira lei de Newton. Fonte: Hibbler (2005). Segunda lei de Newton: a variação de movimento é proporcional à força apli- cada, e dá-se na direção da reta segundo a qual a força está aplicada. Figura 3: Interpretando a segunda lei de Newton. Fonte: Hibbler (2005). Terceira lei de Newton: a toda a ação sempre se opõe uma reação igual; ou seja, as ações mútuas de dois corpos são sempre iguais e dirigidas às partes contrárias. Figura 4: Interpretando a terceira lei de Newton. Fonte: Hibbler (2005). Notemos que a primeira lei, pode ser interpretada como a Lei da Inércia. Gros- so modo, no universo newtoniano, essa lei associa à alteração do estado de mo- vimento de um corpo, o aparecimento de uma grandeza denominada força aplica- da. Uma consequência importante dessa lei é a existência de sistemas de referên- cia e referenciais inerciais, que serão ca- racterizados a posteriori. Importante: por inércia, um corpo em repouso tende a con- tinuar em repouso. Por exemplo: por isso que quando um indivíduo 6 7 está em pé dentro de um ônibus e este “dá uma arrancada” forte, este indivíduo é jogado para trás, pois tende a permanecer parado. A segunda lei associa a força aplicada com a variação de movimento, ou seja, a variação temporal da quantidade de movimento, que é o produto da massa pela velocidade Tal expres- são característica é comumente conhe- cida como a expressão da segunda lei de Newton. A terceira lei adiciona uma propriedade nova ao conceito de força, que é o seu as- pecto de dualidade, ou seja, a existência de ação e reação simultâneas. Tal fato é de fundamental importância no contexto da Engenharia como um todo. Existe, todavia, chamarmos a atenção para o fato de essa terceira lei não ser uma Lei Geral da Natu- reza, isto é, não sendo válida para todo tipo de força. Ela só se aplica às forças que resul- tam da interação de dois pontos materiais e cuja direção coincide com a linha que une os pontos, ou seja, só se aplica às chamadas forças centrais. Cabe ressaltar ainda que, de acordo com Hibbeler (2005), Newton ainda observou que a força resultante que se faz sentir sobre o corpo corresponde à soma de cada uma das forças, no caso de elas atua- rem separadamente. Esse corolário enun- ciado por Newton constitui o princípio da independência dos efeitos das forças, ou o princípio da composição das forças. Tome nota: as três leis e a regra da composição de forças constituem os princípios básicos da Mecânica newtoniana e so- bre os quais é edificada toda a Dinâmica. 1.2 Força e massa De acordo com Hibbeler (2005), a obra de Newton foi sujeita, logo após a sua publicação, a muitas críticas pesa- das, sobretudo no que diz respeito aos seus conceitos fundamentais, levando em consideração os conceitos de massa e de força. Neste sentido, pergunta-se: Seria, efetivamente, necessária a defini- ção a priori da força para construir toda a Mecânica? E o conceito de massa? O que significava quantidade de matéria, qual a sua relação com a inércia? Os conceitos de força e massa corres- pondem a fórmulas de cunho matemático que associam medidas de espaço e tem- po. Grosso modo, o valor da massa de um ponto material corresponde ao quocien- te entre a mesma e a de um outro ponto de massa unitária, um padrão escolhido. Logo, segundo Hibbeler (2005), a primei- ra lei de Newton pode ser vista como: A aceleração de um ponto mate- rial é sempre produzida por outros pontos materiais; se o ponto mate- rial é um ponto isolado, isto é, infini- tamente afastado de qualquer ou- tro, a sua aceleração é nula, ou, por outras palavras, a sua velocidade é constante (o movimento é uniforme) ou é também nula (o ponto está em repouso). Importante: a segunda lei de Newton corresponde efeti- vamente à definição de força. A força é determinada pelas inte- rações induzidas pelos corpos, uns sobre os outros, segundo as linhas que os unem; identificar os corpos que atuam sobre o corpo 8 9 em estudo corresponde a identi- ficar as forças que atuam sobre este. A caracterização da massa é feita com base no estudo do movimento e o conhe- cimento da força resulta do produto da massa pela aceleração. Da necessidade de quatro conceitos fundamentais (espa- ço, tempo, massa e força) na formulação newtoniana, a Mecânica Clássica passa a precisar somente de dois conceitos es- senciais, espaço e tempo. Uma das formas mais correntes de determinar a massa de um corpo não é a que se acabou de apresentar, mas sim pesá-lo (o que também corresponde a uma comparação com um corpo padrão). Este procedimento baseia-se no conhe- cimento que o peso do corpo, , cor- responde à força gravitacional que atua sobre ele. Pela segunda lei de Newton: , e m que é a aceleração da gravidade local. Cabe mencionar que massa inercial é a massa que determina a aceleração de um corpo quando sujeito à ação de uma for- ça, e massa gravitacional é a massa que determina a força gravitacional existen- te entre um corpo e outros corpos. As modelagens ou idealizações são meios usados na Mecânica para simplifi- car a aplicação da teoria. Em particular, vamos definir três modelos importantes. Conceito: uma partícula possui mas- sa, mas em um tamanho que pode ser desprezado. Exemplo: imaginemos um caminhão que percorre determinado caminho. Ao longo de uma estrada ele pode ser consi- derado uma partícula, pois, o seu tama- nho é desprezível em relação à estrada. Entretanto, este mesmo caminhão se for colocado em um galpão, já não poderá ser considerado uma partícula, pois, seu ta- manho não é desprezível em relação ao local onde se encontra. Quando um corpo é modelado como uma partícula, os princípios da Mecânica reduzem-se a uma forma muito simplifi- cada, uma vez que a geometria do corpo não estará envolvida na análise do pro- blema. Conceito: um corpo rígido pode ser considerado a combinação de um grande número de partículas que permanecem a uma distância fixa umas das outras, tanto antes como depois da aplicação da carga. Na maioria dos casos, as deformações reais ocorrem em estruturas, máquinas, mecanismos e similares são relativamen- te pequenas, e a hipótese de corpo é ade- quada para a análise. 1.3 Sistemas de referência De acordo com Meriam (2009), New- ton tinha consciência de que as suas leis dinâmicas do movimento só faziam senti- do se definisse um sistema de eixos, um referencial ou sistema de referência, em relação ao qual se pudessem fazer as me- didas sobre o movimento dos corpos. As- sim, nos enunciados das Leis de Newton, não se faz qualquer menção ao sistema de referência em relação aos quais essas leis são verdadeiras. E isso acontece por- que o próprio Newton admitiu, previa- mente ao enunciado das leis, a existência de um espaço absoluto que na sua pró- pria natureza, sem comparação a nada de exterior, permanece sempre o mesmo e é imóvel, o que o obrigou também a defi- 8 9 nir um espaço relativo, correspondendoa uma dimensão ou medida móvel do espa- ço absoluto. Portanto, do ponto de vista newtoniano, o movimento a que se refe- rem as suas leis é o movimento absoluto que possui como referencial o espaço ab- soluto. Será que existe de fato essa entidade em relação à qual tudo se move? E por ser de grande dificuldade, não impossível, responder a esta questão, o problema passa a ser colocado de forma inversa: admitem-se como válidas as leis de New- ton (elas podem ser comprovadas expe- rimentalmente) e, nestas condições, de- fine-se o sistema de eixos necessário à legitimação dessa validade. O tal espaço absoluto é definido como aquele em rela- ção ao qual se verificam os três postula- dos newtonianos, contrariamente à pre- sunção inicial, ou seja, o enunciado das leis implica a existência prévia do espaço absoluto. Tal como Newton admitiu, a existência do espaço absoluto, também definiu o tempo absoluto, verdadeiro e matemáti- co que da sua própria natureza fluiria de uma forma igual sem relação com qual- quer coisa de exterior. Conceito: define-se referencial de inércia como aquele em relação ao qual são válidas as leis de Newton. Todavia, ainda de acordo com a Primeira Lei, qual- quer sistema de eixos, movendo-se com velocidade uniforme e retilineamente em relação ao referencial absoluto, também será um referencial de inércia. Estes são os sistemas de eixos privilegiados que se utilizam na Mecânica Clássica. Em termos específicos, na física new- toniana, espaço e tempo são duas enti- dades completamente distintas, sendo esta última independente do sistema de eixos usado; o tempo flui de igual forma em todos os referenciais. Numa primeira aproximação, pode di- zer-se que os referenciais ligados à Terra são referenciais inerciais. Esses referen- ciais utilizam-se, para o estudo, de fenô- menos em que o movimento da Terra não influencia grandemente a observação e experimentação. Contudo, para ou- tros fenômenos, observação das estre- las, movimento dos planetas do sistema solar, o referencial ligado à Terra não se comporta como um referencial inercial. Conceito: chama-se observador a qualquer sistema físico capaz de efetuar medidas. Na Mecânica, o observador terá que estar munido de uma régua e de um relógio, de modo a conhecer as suas gran- dezas fundamentais que são o espaço e o tempo, respectivamente. 1.4 Lei de Newton associa- da à atração da gravidade De acordo com Meriam (2009), após a explicação de suas três leis do movimen- to, Newton postulou a lei que governa a atração gravitacional entre duas partícu- las quaisquer. Matematicamente, escre- ve-se que: Sendo: F = força gravitacional entre duas par- tículas; G = constante da gravitação universal; 10 11 6,67 x 10-11 m3/kg.s2; m1 e m2 = massa de cada uma das partículas; r = distância entre as duas partículas. O que seria o peso? Saberia descre- ver? Assim sendo, segundo a equação anterior, quaisquer duas partículas ou corpos possuem uma força de atração mútua (gravitacional) agindo entre eles. Entretanto, no caso de uma partícula lo- calizada sobre ou próxima à superfície da Terra, a única força da gravidade com in- tensidade considerável é aquela entre a Terra e a partícula. Consequentemente, essa força, denominada peso, será a úni- ca força que consideraremos no estudo da mecânica. W = m . g Note que através de uma simples com- paração com F = m.a, podemos ver que g é a aceleração devido à gravidade. Como ela depende de r, então o peso de um cor- po não é uma quantidade absoluta. Em vez disso, sua intensidade é determinada onde a medição foi feita. Para a maioria dos cálculos de Engenharia, no entanto, g é determinada ao nível do mar e na la- titude de 45º, que é considerado o ‘local padrão’. 1.5 Medidas e limitações da Mecânica de Newton Como já falamos anteriormente, toda a construção da Mecânica Clássica baseia- -se em dois conceitos fundamentais: o espaço e o tempo; deles derivam uma sé- rie de grandezas, tais como o momento, linear e cinético, a energia, entre outros. Neste sentido, os cálculos dessas grandezas, os resultados que se obtêm, dependem dos aparelhos usados para as medições de espaço e de tempo; quanto mais precisos forem os aparelhos, mais rigorosos serão os resultados numéricos a que se chegará. Todavia, existem limi- tações físicas objetivas para a precisão das medidas efetuadas. Heisenberg mostrou em 1927, com o Princípio da Incerteza, que sob a ótica das dimensões atômicas o ato de medir implica a introdução de importantes per- turbações no objeto da medição. Esse fato implica que, para um elétron, não é possível conhecer, medir, o valor da sua posição e da sua velocidade, do seu mo- mento linear, com uma precisão infinita. Se no mundo atômico não é possível o conhecimento simultâneo da posição e do momento linear, as leis da Mecânica Clássica, bem como todas as suas conse- quências, não são passíveis de ser aplica- das neste domínio. Para o infinitamente pequeno, desenvolveu-se uma nova des- crição da Mecânica conhecida como a Me- cânica Quântica. Tome nota: outra limitação da Mecânica de Newton tem a ver com o princípio da exis- tência de um tempo absoluto, isto é, com a capacidade de um observador saber se dois acon- tecimentos, situados a uma distância qualquer ocorrem si- multaneamente. Essa capacida- de implicaria a possibilidade de uma comunicação, envio de si- nais, permitindo a comparação da simultaneidade, a uma velo- cidade infinita, isto é, o conhe- cimento instantâneo do que se 10 11 passa em qualquer ponto do es- paço. Sabe-se que a velocidade máxima com que se pode trans- mitir qualquer sinal é da ordem de: Essa limitação imposta pela própria natureza levou à construção de uma nova mecânica, a Teoria da Relatividade Restrita, elaborada por Einstein. A Mecânica de Newton está assim su- jeita às limitações fundamentais para dois domínios particulares de fenômenos naturais: o muito pequeno e o muito rá- pido. É interessante observarmos que New- ton revolucionou a ciência de uma forma geral com sua teoria sobre as leis do mo- vimento e suas propriedades peculiares. Ele descreveu as leis básicas do movi- mento (da dinâmica) e a da gravitação e estabeleceu a universalidade das leis fí- sicas. As leis que valem na Terra se apli- cam igualmente a qualquer parte do Uni- verso. Sua lei da gravitação é conhecida, por isso, como lei da Gravitação Univer- sal. Observemos também que algumas das leis ou definições de Newton já es- tavam, previamente, compreendidas nos trabalhos de Galileu, Descartes e Chris- tian Huygens. Entretanto, o mérito dife- renciado de Newton está no fato de ter construído uma formulação teórica de leis e definições bem estruturada, que contemplava todos os aspectos do movi- mento então conhecidos, onde quer que ocorressem. Ao introduzir o cálculo dife- rencial na descrição de fenômenos físi- cos, foi possível a descrição quantitativa dos fenômenos e a presciência de outros com grande precisão, causando um gran- de impacto na cultura científica. Outra contribuição fundamental dada por Newton à ciência foi a lei da Gravita- ção Universal, uma das leis fundamentais de interação no universo físico. Newton percebeu que, se dois corpos de massa ma e mb estão a uma distância d, então sur- ge, em cada um deles, uma força gravi- tacional que é diretamente proporcional às massas, inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles, tem a direção da linha que une os dois corpos e o sentido de atração entre eles. Assim, a força atuante numa maçã que cai ao chão tem a mesma origem que aquela que atua para sustentar a Lua em órbita, mas tem intensidade menor do que estaúlti- ma, segundo o quadrado da razão entre a distância da Lua e o raio da Terra. A partir da lei da Gravitação Universal e das leis do Movimento, foi possível for- mular o movimento dos corpos celestes – a mecânica celeste – a partir de ingre- dientes básicos. A previsão do posiciona- mento e velocidade dos corpos celestes passou a ser possível com grande preci- são. Newton aplicou a lei da Gravitação universal para entender o movimento dos planetas em torno do Sol. 12 1312 UNIDADE 2 - Movimento de Partículas em uma Dimensão A Mecânica é a área da Física que estu- da o movimento dos objetos. Por razões de organização e estruturação de seu conhecimento, a Mecânica é dividida ou separada em duas áreas: a Cinemática e a Dinâmica. É interessante notarmos que na Ci- nemática são analisados os conceitos utilizados para descrever o movimento, surgindo a velocidade, aceleração e tra- jetória. Na Dinâmica, estudamos as leis do movimento, isto é, as leis que deter- minam que tipo de movimento terá um objeto, conhecidas as forças que atuam sobre ele. Neste instante é de nosso interesse a descrição da parte da Cinemática, mais precisamente o movimento unidimen- sional de uma partícula. A generalização, que trataremos do Movimento em Duas ou Três Dimensões será visto a posterio- ri. 2.1 Sistemas de referência Quando se fala que um objeto está em movimento, significa que sua posição está mudando com o passar do tempo. No entanto, é fácil constatar que o conceito de movimento é relativo, isto é, um obje- to pode estar em movimento em relação a outro, mas pode estar em repouso em relação a um terceiro objeto. Consideremos uma xícara sobre uma mesa de um vagão-restaurante que se encontra movimento. Observe a Figura 5 a seguir. Em relação ao vagão, a xícara (e a mesa) está em repouso (e assim ela é vista pelos passageiros). No entanto, em relação à Terra, a xícara está em mo- vimento. Figura 5: Conceito de movimento relativo. Fonte: Meriam (2009). 12 1313 Percebe-se aqui a importância de um sistema tido como referência para o es- tudo do movimento dos objetos e, por- tanto, no estudo da Mecânica. Além de o conceito de movimento ser relativo (isto é, depender do sistema de referência), outras grandezas físicas são também relativas. Esse é o caso da posi- ção de uma partícula. 2.2 Coordenadas cartesia- nas e posição A forma mais utilizada, do ponto de vista matemático, de especificarmos a posição de um objeto é devida ao mate- mático francês René Descartes. Vamos ilustrar esse procedimento, analisando o caso de uma joaninha que se movimenta ao longo de um fio retilíneo, conforme Figura 6 na sequência. Nesse caso, dize- mos que o movimento é unidimensional, ou seja, em uma única direção. Figura 6: Conceito de movimento unidimensional. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Para especificarmos a posição da joa- ninha no fio, temos que adotar um pon- to como referência. Assim, denomina-se esse ponto simplesmente de origem “O” (origem do sistema de coordenadas). A partir desse ponto de origem, especifica- mos a coordenada do objeto da seguinte forma: primeiramente, determinamos a distância do objeto até a origem. A coor- denada será o valor dessa distância se o objeto estiver à direita da origem, ou será o valor dela precedido pelo sinal menos se ele estiver à esquerda. Note de for- ma clara que isso é uma padronização. Se adotarmos outra, devemos especificá-la. Para especificar a convenção que ado- tamos, fazemos uso de uma flecha. O sentido da flecha apenas indica o sentido no qual a coordenada terá um valor posi- tivo. As coordenadas terão valores nega- tivos quando a posição estiver na direção oposta à da flecha a partir da origem. 2.3 Generalizando para duas e três dimensões Segundo Meriam (2009), a extensão para o caso de duas dimensões pode ser entendida a partir do movimento de uma bola sobre uma mesa. As duas coordena- das (x, y) da posição P da bola seriam de- terminadas conforme Figura 7 a seguir. Primeiramente, adota-se uma origem (O) do sistema de coordenadas. Em seguida, faz-se passar pela origem dois eixos or- togonais (isto é, retas perpendiculares) e para cada um dos eixos damos uma orien- 14 15 tação. Agora traçamos, a partir de P, duas re- tas paralelas aos eixos e tracejadas, até elas encontrarem os eixos Ox e Oy, res- pectivamente. Esses pontos de encontro das retas tracejadas com os eixos defi- nem as coordenadas da posição do corpo. Figura 7: Coordenadas em duas dimensões (x,y). Fonte: Elaborado pelo próprio autor. No caso do movimento no espaço tridi- mensional Figura 8 a seguir, é suficiente acrescentarmos mais um eixo (z). Primei- ramente, traçamos uma reta paralela ao eixo z até encontrar o plano xy em P. Para a coordenada z, adota-se o mesmo proce- dimento do caso unidimensional ao longo dessa reta paralela z. Para as demais co- ordenadas, adota-se o ponto onde a reta intercepta o plano xy. Podemos, então, concluir que, utili- zando um sistema de coordenadas carte- sianas, a posição P de um objeto pode ser inteiramente especificada por meio do conjunto de coordenadas x, y, z, ou seja, temos que P = (x, y, z). Figura 8: Coordenadas em três dimen- sões (x,y,z). Fonte: Elaborado pelo próprio autor. 14 15 2.4 Movimento e repouso A partir do que foi colocado inicial- mente, pode-se definir de maneira mais estruturada os principais conceitos da Mecânica. Em um primeiro instante, tra- taremos de um objeto de dimensões muito pequenas e, por isso, nós o repre- sentaremos como um ponto no espaço e o chamaremos de ponto material ou par- tícula. Um objeto menos idealizado pode ser tratado como uma coleção de pon- tos materiais e lidaremos com ele mais adiante. Logo na sequência, introduzi- mos um sistema de referência e, para tal, utilizaremos um conjunto de três eixos ortogonais (perpendiculares entre si). Tal sistema, um tanto quanto abstrato, é ab- solutamente fundamental na Mecânica. Dizemos que um corpo está em re- pouso se a sua posição não muda com o tempo. Se, no entanto, sua posição variar com o tempo, ele estará em movimento. Observe que, se um objeto estiver em movimento, à medida que o tempo passa, suas coordenadas (x, y, z) (ou pelo menos uma delas) mudarão. Figura 9: Variação de posição de um ponto. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. 2.5 Definindo formalmen- te a trajetória Para interpretarmos a noção de traje- tória, basta considerarmos uma situação ilustrativa bem simples. Vamos imaginar o movimento de uma mosca voando no espaço. Agora, tiremos fotos em interva- los de tempo regulares e muito curtos e superponhamos as fotos. O resultado se- ria o que se vê na Figura 10 a seguir. Figura 10: Fotos de uma mosca em movimento. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. 16 17 Quando interligamos os diversos pon- tos pelos quais a mosca passou, obtemos uma curva no espaço conforme Figura 11 a seguir. Essa curva é a trajetória percor- rida pela mosca. Cada ponto da trajetória representa um ponto pelo qual a mosca passou em algum instante de tempo. Figura 11: Conceito de trajetória. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. A trajetória é, portanto, o lugar geo- métrico dos pontos pelos quais a partícu- la passou ao longo do tempo. 2.6 Cinemática envolven- do o movimento em uma dimensão Consideremos primeiramente o caso do movimento de uma partícula deslo- cando-se ao longo de uma linha reta. Nesse caso, sua posição fica inteiramen- te caracterizada, atribuindo-se à partícu- la sua coordenada “X”. Observe a Figura 12 a seguir. Figura 12: Movimento de uma partícula. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. a) Velocidade instantânea O conceito de velocidade estáintima- mente ligado à variação da posição. Se a posição de um objeto muda com o tempo, ele está animado de velocidade. Se ele está em repouso, sua velocidade é nula. Figura 13: Variação de posição de um ponto. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. 16 17 Digamos que, no tempo t1, a partícula estava em x1 e que, no instante t2, ela está em x2. Admitiremos t2 > t1. Logo, no intervalo de tempo t1 dado por ∆t = t2 - t1 , houve uma variação da posição,∆x , dada por ∆x = x1 - x2 . Defi- nimos então a velocidade escalar média (vm) como a razão entre a variação da co- ordenada e o intervalo de tempo decorri- do pela expressão: Importante: observe-se que a velocidade escalar média sem- pre faz referência a dois instantes de tempo (por isso, falamos em média). No entanto, a velocidade na qual temos maior interesse é a velocidade num determinado ins- tante de tempo. Tal velocidade é denominada velocidade instan- tânea. Para definirmos a velocidade instan- tânea, devemos recorrer a um conceito matemático conhecido como limite. Note que a velocidade média é definida to- mando-se dois instantes de tempo. Para defini-la num determinado instante, bas- ta tomarmos intervalos de tempo cada vez menores. Dessa forma, estamos as- segurando que, cada vez mais, não exis- ta diferença entre t2 e t1. Portanto, esta- remos falando, ao tomarmos o limite no qual ∆t tende a zero, de um só instante de tempo. Definimos, portanto, a veloci- dade instantânea no instante t1 através do processo limite . O proces- so limite definido acima tem o nome de derivada da função x(t) com respeito ao tempo e se representa: b) Aceleração instantânea e acele- ração média Se a velocidade de um objeto varia com o tempo, diz-se que ele tem acele- ração. Se a velocidade é constante (isto é, não varia com o tempo), a sua acele- ração é nula. Formalmente, isto é, ma- tematicamente, definimos a aceleração escalar média de uma partícula como o quociente entre a variação de velocida- de e o intervalo de tempo, ou seja, por conforme nos mostra a Figura 14 a se- guir. Figura 14: Conceito de aceleração escalar média. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. De maior importância do que a acele- ração média é a aceleração instantânea. Como o nome indica, o interesse é a ob- tenção da aceleração num determinado instante de tempo. A maneira de defi- ni-la, a partir da aceleração média, é to- marmos intervalos de tempo cada vez menores, isto é, tomarmos o limite em que o intervalo se aproxima de zero. Esta é a situação na qual t2 é muito próximo de t1. Referimos, portanto, à aceleração escalar instantânea através do processo limite , ou ainda, c) Movimento com aceleração cons- tante 18 19 O movimento acelerado mais simples é o movimento retilíneo com aceleração constante. Neste caso, a velocidade varia com a mesma taxa durante o movimento. Vamos deduzir as equações fundamen- tais para o movimento retilíneo com ace- leração constante. Na igualdade anterior, podemos substituir a aceleração média pela aceleração (instantânea) constante “a”: Faça t1 = 0 e suponha que t2 seja um instante posterior arbitrário t. Utilizando v0 para a velocidade no instante t = 0; a velocidade para qualquer instante t é v. Então, a equação anterior pode ser rees- crita como , ou seja, v=v0+at . A seguir, descreveremos uma expres- são para a posição da partícula que se move com aceleração constante. Desig- namos simplesmente por x a posição em um instante posterior t. Para o intervalo de tempo ∆t = t - t0 e para o deslocamen- to correspondente ∆x = x – x0, vem que . Para a aceleração constante, a veloci- dade média é dada por: Substituindo essa expressão de v na igualdade anterior, obtemos: E, finalmente, escrevemos: Importante: v2=v20 + 2a(x-x0). Podemos obter uma outra equa- ção útil igualando as das expres- sões de vm dadas anteriormente, e multiplicando os dois membros por t. Ou seja, podemos escrever As equações colocadas anteriormente são as equações do movimento com acele- ração constante. Usando essas equações, podemos resolver qualquer problema que envolva o movimento retilíneo com acelera- ção constante. d) Queda livre de corpos A queda livre é um caso particular de mo- vimento com aceleração constante, sendo interpretado inicialmente por Galileu Galilei, de modo correto, como ocorre a queda livre dos corpos, quando soltos próximos à super- fície da Terra. Desprezando a ação do ar, ele enunciou: todos os corpos soltos num mesmo local, livres da resistência do ar, caem com uma mesma aceleração, quaisquer que sejam suas massas. Essa aceleração é denominada gravidade (g). Observe a Figura 15 a seguir. Figura 15: A experiência de Galileu. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. 18 19 Importante: em torno da Terra, g vale aproximadamente 10 m/s2. Agora, vamos considerar um objeto em queda vertical, a partir do repouso, num local em que o efeito do ar pode ser des- prezado e a aceleração da gravidade seja constante e igual a g, conforme Figura 16 a seguir. Orientando-se a trajetória para baixo, o objeto realizará um movimento uniformemente variado (MUV) com ace- leração escalar igual a g. Ou seja: Figura 16: Queda de um objeto a partir do repouso. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Por meio da equação horária do deslo- camento de Movimento Uniformemente Variado (MUV), podemos relacionar a al- tura descida (h) com seu respectivo tem- po de queda (t) da seguinte forma: A velocidade escalar (v) adquirida após certo tempo (t) de queda é dada por: Por outro lado, podemos expressar a velocidade atingida (v) em função da al- tura descida (h). Usando a equação de Torricelli, temos: Assim, a velocidade escalar atingida é diretamente proporcional ao tempo de queda e, ao mesmo tempo, diretamente proporcional à raiz quadrada da altura descida. 20 2120 UNIDADE 3 - Oscilador Harmônico e Propriedades Fundamentais 3.1 Conceitos fundamen- tais Você já ouviu falar em oscilador? Sabe- ria descrever oscilações? Já presenciou algum tipo de oscilação na prática do dia a dia? Neste sentido, a vibração de um cristal de quartzo em um relógio, a osci- lação de um pêndulo de um relógio an- tigo de parede, as vibrações sonoras de um instrumento de sopro, as oscilações produzidas pelos pistões no motor de um automóvel, são exemplos clássicos de movimentos que se repetem de forma indefinida. Especificamente falando, é o movimento periódico ou oscilação que será discutido neste instante. O entendi- mento do movimento periódico será es- sencial para os estudos futuros sobre on- das, o som, as correntes elétricas e a luz. Na Figura 17 a seguir, indicamos um sistema que pode executar um movi- mento periódico. Um corpo de massa m se move ao longo de um trilho horizontal sem atrito, tal como no caso de um trilho de ar linear, de modo que ele pode se mo- ver apenas ao longo do eixo Ox. A mola presa ao corpo possuiu massa desprezí- vel e pode ser comprimida ou esticada. A extremidade esquerda da mola é manti- da fixa, e a sua extremidade direita está presa ao corpo. Vamos analisar como as oscilações ocorrem neste sistema. Figura 17: Oscilador harmônico simples. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. 20 2121 Quando deslocamos o corpo para a di- reita até a posição x = A e, na sequência o libertamos, a força resultante e a ace- leração são orientadas para a esquerda. A velocidade aumenta até o corpo atingir a posição de equilíbrio O. Quando o corpo está no ponto O, a força resultante que atua sobre ele é igual a zero, entretanto, devido ao seu movimento, ele atravessa a posição de equilíbrio. No outro lado da posição de equilíbrio, sua velocidade está orientadapara a es- querda, entretanto, sua aceleração está orientada para a direita. Logo, a veloci- dade diminui até que o corpo para mo- mentaneamente. No caso da mola ide- al, ela para no ponto x = - A. A seguir, o corpo se acelera para a direita, atravessa novamente a posição e para momenta- neamente no ponto x = A, repetindo o processo inteiro. O corpo está oscilando! Caso não existisse atrito nem outra for- ça capaz de remover a energia mecânica do sistema, este movimento se repetiria eternamente. A força (chamada de res- tauradora) obrigaria sempre o corpo a voltar para a sua posição de equilíbrio e ele toda vez atravessaria de posição. A seguir definimos alguns termos que serão usados na discussão sobre o movi- mento periódico. Conceito: a amplitude do movimento, designado por A, é o módulo máximo do vetor deslocamento do corpo a partir da posição de equilíbrio; isto é, o valor máxi- mo de x em módulo. Ele é sempre positi- vo. Sua unidade no sistema internacional (SI) é o metro (m). O ciclo é a uma oscilação completa, digamos de A até -A e retornan- do ao ponto A. O período, T, é o tempo cor- respondente a um ciclo. A frequência, f, é o número de ciclos na unidade de tempo. Ela é sempre positiva. No SI sua unidade é hertz (Hz) A equação da frequência é: A frequência angular , é vezes a frequência: Falaremos da frequência angular um pouco mais a frente. O tipo mais simples de oscilação ocorre quando a força res- tauradora F é diretamente proporcional ao deslocamento x da posição de equilí- brio. Isso ocorre quando a mola da Figura 17 é ideal, ou seja, quando ela obedece à lei de Hooke. A constante de proporcio- nalidade k entre F e x é a constante da força ou constante da mola. Logo, o com- ponente x da força F que a mola exerce sobre o corpo é F(x) = -k x As molas reais obedecem esta lei para pequenos deslocamentos. Esta relação fornece corretamente o módulo e o sinal da força, independente- mente do valor de x ser positivo, negati- vo ou nulo. A constante da mola k é sem- pre positiva e possui unidades de N/m (ou kg/s2). Estamos supondo que não existe atrito, de modo que a igualdade anterior fornece a força resultante sobre o corpo. Das leis de Newton sabe-se que: F = m a 22 23 Igualando as duas últimas equações, vem que: Importante: o sinal negativo indica que a aceleração possui sempre sentido contrário ao do descolamento. Esta aceleração não é constante, de modo que não podemos usar as fórmulas do movimento unidimensional de uma partícula. Problema – Um transdutor ultrassô- nico (uma espécie de alto-falante), usa- do para diagnóstico médico, oscila com uma frequência igual a 6,7 MHz. Quan- to dura uma oscilação e qual é a frequ- ência angular? Solução – neste caso, temos que: Logicamente, vem que é igual a: Uma vibração muito rápida correspon- de a valores elevados de e de f e a va- lores pequenos de T; uma vibração lenta corresponde a e f pequenos e valo- res de T elevados. 3.2 Equações do movimen- to harmônico simples A frequência angular estabelece a conexão entre a oscilação e o movimento circular uniforme. Podemos interpretar a próxima igualdade como uma relação para a frequência angular de um corpo de massa m que executa um movimento harmônico simples sobre o qual atua uma força restauradora com uma constante de mola k. A equação a seguir calcula o desloca- mento x em função do tempo para um os- cilador harmônico. A constante Φ é comumente conheci- da como ângulo de fase. Ela nos informa em que ponto do ciclo o movimento se encontra para t = 0. A Figura 18 a seguir nos mostra um gráfico da expressão anterior para o caso de Φ = 0. Figura 18: Gráfico de x contra t para x= A cos (ωt + Φ) (Φ=0) . Fonte: Elaborado pelo próprio autor. A Figura 19, na sequência, mostra um gráfico da posição em função do tempo para movimentos harmônicos simples com mesma frequência e amplitude, mas com fases diferentes. Figura 19: MHS com fases diferentes. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. 22 23 A equação a seguir apresenta a fórmu- la de como calcular o ângulo de fase, ou seja: E a igualdade na sequência descreve o cálculo da amplitude no MHS, ou seja, tem-se que: 3.3 A energia associada ao movimento harmônico sim- ples A energia cinética do corpo da Figura 19 é dada pela igualdade característica: Enquanto que a energia potencial da mola é descrita por: A energia mecânica total E = K + U é conservada e caracterizada matematica- mente pela expressão: (Equação 3.10) A energia mecânica total E, é também frequentemente relacionada diretamen- te com a amplitude A do movimento. Quando o corpo atinge o ponto x = A, seu deslocamento máximo a partir do ponto de equilíbrio, ele para momentaneamen- te e depois retorna para o seu ponto de equilíbrio. Ou seja, quando x = A (ou x = - A), v = 0. Para este ponto a energia é in- teiramente potencial. (Equação 3.11) Como E é constante, ela permanece sempre igual a E em qualquer outro pon- to. Combinando esta expressão (Equação 3.11) com a Equação 3.10 obtemos: Essa é a expressão da energia mecâ- nica total no movimento harmônico sim- ples. A Figura 20 a seguir nos mostra a co- nexão entre a amplitude A e a corres- pondente energia mecânica total E. Se tentássemos fazer x maior do que A (ou menor do que -A), U seria maior do que E, e K seria negativo. Entretanto, K não pode ser nunca negativa, logo x não pode ser maior do que A nem menor do que -A. Note que para cada ponto x a soma dos valores de K e de U é sempre igual ao va- lor constante de E. Figura 20: Energia cinética K, energia Potencial U e energia mecânica total E em função da posição no MHS. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. 24 25 3.4 Oscilador harmônico amortecido O sistema oscilante ideal discutido na seção anterior não relacionava a força de atrito, ou seja, não possuía atrito. Para esse sistema, a força é conservativa, a energia mecânica total é constante e, quando o sistema começa a oscilar, ele continua oscilando eternamente sem ne- nhuma diminuição da amplitude. Contudo, os sistemas reais sempre possuem alguma força não conservati- va e a amplitude das oscilações vai dimi- nuindo com o tempo, a menos que seja fornecida alguma energia para suprir a dissipação da energia mecânica. A diminuição da amplitude provocada por uma força dissipativa é comumente denominada por amortecimento, e o mo- vimento correspondente denomina-se oscilação amortecida. Nesse caso, exis- te uma força de atrito adicional que atua sobre o corpo, dada por: F= -b v , Sendo, é a velocidade, e b é uma constante que descreve a intensidade da força de amortecimento. O sinal negativo indi- ca que a força possui sempre um senti- do contrário ao da velocidade. Portanto, a força resultante sobre o corpo é dada por: E a segunda lei de Newton para o sis- tema é A igualdade anterior pode ser resolvida utilizando a teoria das equações diferen- ciais. Quando a força de amortecimento é relativamente pequena, o movimento é descrito por: A frequência angular ω’ é dada por: O movimento descrito pela igualdade anterior é diferente do caso sem amorte- cimento de dois modos. Primeiro, a ampli- tude Ae-(b/2m)t não é constante e diminui com o tempo por causa do fator decres- cente e-(b/2m)t . A Figura 21 é um gráfico da equação de que mostra que quanto maior for o valor de b mais rapidamente diminuirá a amplitude. Figura 21: Gráfico da Equação 3.7 para Φ = 0. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. 24 25 Segundo, a frequência angular ω’ não é mais igual a , entretanto, é ligeiramente menor. Ela tende a zero quando b é tão grande que: Quando a igualdade anterioré satisfei- ta, ocorre o que conhecemos como sendo o amortecimento crítico. O sistema não oscila mais e, ao ser deslocado e liberta- do, retorna para sua posição de equilíbrio sem oscilar. A condição b maior que cor- responde ao superamortecimento. Nova- mente, o sistema não oscila, entretanto, retorna para a sua posição de equilíbrio mais lentamente do que no caso do amor- tecimento crítico. Para b menor do que o valor crítico, quan- do a igualdade é verificada, a condição denomina-se suba- mortecimento. O sistema oscila com uma amplitude que diminui continuamente. 3.5 Oscilador harmônico forçado Quando um oscilador amortecido é deixado livre, suas oscilações tendem a parar. Entretanto, podemos manter cons- tante a amplitude das oscilações aplican- do uma força que varia periodicamente, com dado período e uma frequência fixa. Como exemplo, imagine uma criança osci- lando no balanço de um parquinho. Você pode manter constante a amplitude das oscilações se fornecer a ela um pequeno empurrão no final de cada ciclo. Essa for- ça adicional é chamada de força propul- sora. Quando aplicamos uma força propul- sora variando periodicamente com uma frequência angular ωd a um oscilador harmônico amortecido, o movimento re- sultante é uma oscilação forçada ou uma oscilação com força propulsora. Trata-se de um movimento diferente do ocorrido quando simplesmente deslocamos o sis- tema da sua posição de equilíbrio e o dei- xamos livre; neste casso, o sistema oscila com uma frequência angular natural ω’ , determinado por m, k e b como na igual- dade Contudo, no caso de uma oscilação for- çada, a frequência angular da oscilação da massa é igual à frequência angular da força propulsora ωd . Esta frequência não é igual à frequência angular ω’ com a qual o sistema oscilaria caso ele não estivesse submetido à ação da força. Quando você segura as cordas do balanço da criança no parquinho, pode forçá-lo a oscilar com qualquer frequência que desejar. O caso mais simples a ser analisado é o de uma força que varia em termos da função seno, com a forma: Quando variamos a frequência angular ωd da força propulsora, a amplitude da oscilação forçada resultante varia de modo como mostra Figura 22 a seguir. O eixo horizontal indica a reação entre a frequência angular ωd e a frequência an- g u l a r da oscilação natural não amortecida. Os números ao lado das 26 27 curvas indicam os valores das grandezas adimensionais , que caracteri- zam a quantidade do amortecimento. A curva com pico mais elevado possui , a curva seguinte possui , e assim por diante. À medida que b aumenta, o pico torna-se mais lar- go e a amplitude se torna menor e se desloca para frequências menores. Quando b é maior do que , o pico desaparece completamente. Quando existe um amortecimento muito pequeno (b pequeno), a amplitude tende a crescer fortemente até atingir um pico agudo no momento em que a fre- quência angular ωd da força propulsora torna-se igual à frequência angular natu- ral ω’ . Quando o amortecimento aumen- ta mais (b grande), o pico se torna mais largo e a amplitude se torna menor e se desloca para frequências menores. Figura 22: Oscilação forçada. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. A equação que nos mostra a amplitude A de um oscilador forçado é descrita ma- tematicamente como segue. Problema – A extremidade esquerda de uma mola horizontal é mantida fixa. Ligamos um dinamômetro na extremi- dade livre da mola e puxamos para a di- reita; verificamos que a força que estica a mola é proporcional ao deslocamento e que, a uma força de 6,0 N, produz um deslocamento igual a 0,030 m. A seguir, removemos o dinamômetro e amarramos a extremidade livre a um corpo de 0,50 kg, puxamos o corpo até uma distância de 0,020 m, libertamos e observamos o MHS resultante. Assim sendo, pede-se: a) Calcule a constante da mola. b) Calcule o período da oscilação. c) Admita um deslocamento inicial de +0,050 m e uma velocidade inicial de +0,40 m/s. Calcule o período, a amplitude e o ângulo de fase. d) Calcule a energia mecânica total. Figura 23: A descrição geométrica do problema. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Solução – neste caso, temos que: a) Quando x = 0,030 m, a força que a mola exerce sobre o dinamômetro é F = - 6,0 N. Logo, escrevemos: b) Os dados são m = 0,050 kg e k = 200 N/m = 200 kg/s2, dessa maneira, vem 26 27 que: A frequência é caracterizada como se- gue: O período T é o inverso da frequência f, assim sendo, temos que: c) O período é exatamente igual ao ob- tido T = 0,31 s, pois, em um MHS, o perí- odo não depende da amplitude, somente dos valores de k e de m. Portanto, vem que: Para encontrarmos o ângulo de fase, usamos a expressão como segue: d) A energia total possui o mesmo va- lor para todos os pontos durante o movi- mento: 28 2928 UNIDADE 4 - Movimentos Bidimensional e Tridimensional Envolvendo Partículas 4.1 Vetor posição e vetor velocidade Consideremos uma partícula que es- teja em um ponto P em dado instante. O vetor posição da partícula neste instante é um vetor que vai da origem do sistema de coordenadas até o ponto P. Observe a Figura 24 a seguir. Essa figura também mostra que as coordenadas car- tesianas x, y e z do ponto P são compo- nentes x, y e z do vetor r. Usando os veto- res unitários podemos escrever: Figura 24: Vetor posição . Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Quando uma partícula se desloca no espaço, a trajetória descrita normalmen- te é uma curva, conforme nos mostra a Figura 25 a seguir. Durante um intervalo de tempo ∆t , a partícula se move de um ponto P1, onde o vetor posição é , até o ponto P2, onde o vetor posição é . A varia- ção da posição (o deslocamento) duran- te esse intervalo de tempo é ∆r = r2 - r1. Definimos a velocidade média vm identi- camente como fizemos anteriormente, como o deslocamento dividido pelo inter- valo de tempo: Figura 25: Movimento de uma partícula do ponto P1 ao ponto P2 . Fonte: Elaborado pelo próprio autor. A velocidade instantânea é definida tal como feito anteriormente, ela é o li- mite da velocidade média quando o inter- valo tende a zero, sendo igual à taxa de variação do vetor posição com o tempo. A diferença fundamental é que agora a po- sição r e a velocidade instantânea v são vetores: Normalmente, é mais fácil calcular o vetor velocidade instantânea usando componentes. Durante qualquer deslo- camento as variações ∆x, ∆y e ∆z 28 2929 das três coordenadas da partícula são os componentes de ∆r. Daí se conclui que os componentes vx, vy e vz da velocidade instantânea v são simplesmente as deri- vadas das coordenadas x,y e z em relação ao tempo. Ou seja, O módulo do vetor velocidade instan- tânea v – isto é, a velocidade escalar – é dado em termos dos compontente vx, vy e vz pelo Teorema de Pitágoras. Ou seja, escrevemos: A Figura 26 a seguir mostra a situação quando a partícula se move no plano xy. Nesse caso, o eixo z e vz são nulos. Então, a velocidade escalar (o módulo do vetor v) é dada por: E a direção da velocidade instantânea v é dada pelo ângulo indicado na Figura 26 a seguir. Então, temos que: Figura 26: Os dois componentes da velocidade para um movimento no plano. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Problema – Um rinoceronte está na origem do sistema de coordenadas para t1 = 0. Para o intervalo de tempo entre t1 = 0 e t2 = 12,0 s, sua velocidade média possui componente x = -3,8 m/s e compo- nente y = 4,9 m/s. Para t2 = 12,0 s: a) Quais são as coordenadas x e y do rinoceronte? b) Qual a distância entre a origem e o rinoceronte? Solução: Neste caso, temos que: a) x = (vx, média) ∆t = (-3,8m/s)(12,0 s) = - 45,6 m e y = (vy, média)∆t = (4.9 m/s)(12.0 s) = 58,8 m. b) 4.2 Vetor aceleração Assim como no caso do movimento unidimensional, a aceleração indica como a velocidade de uma partícua está va- riando. Entretanto, agora vamos genera- lizar o conceito de aceleração para incluir variações do módulo da velocidade (isto é, da velocidade escalar) e variações da direção da velocidade (isto é, da direção e do sentido do movimento no espaço). Na Figura 27 a seguir, uma partícula está se movendo ao longo de uma traje- tória curva. Os vetores v1 e v2 represen- tam, respectivamente, o vetor velocida- de instantânea da partícula no instante t1 quando ela está no ponto P1, e o vetor velocidade instantânea da particula no instante t1 quando ela está no ponto P2. 30 31 As duas velocidades podem possuir módulos e direções diferentes. Defi- nimos o vetor aceleração média am da partícula quando ela se move de P1 a P2 como a variação vetorial da velocidade, v2 - v1=∆v dividida pelo intervalo de tem- po t2 - t1=∆t: Ou seja, temos que: Como descrito anteriormente, defini- mos a aceleração instantânea a no pon- to P1 como o limite da aceleração média quando o ponto P1 se aproxima do ponto P2, e ∆v e ∆t tendem simultaneamente a zero; a aceleração instantânea também é igual à taxa de variação da velocida- de instantânea com o tempo. Como não estamos nos restringindo ao movimen- to retilíneo, a aceleração instantânea é agora uma grandeza vetorial: O vetor velocidade v é tangente à tra- jetória da partícula. Entretanto, a cons- trução indicada na Figura 28, na sequ- ência, nos mostra que o vetor aceleração instantânea a de uma partíula em mo- vimento sempre aponta para o lado côn- cavo de uma trajetória curva, ou seja, para o lado interno de qualquer volta que a partícula esteja fazendo. Nota-se também que, quando uma partícula se move ao longo de uma trajetória curva, sua aceleração é sempre diferente de zero, mesmo quando sua velocidade es- calar é constante. A definição mais pre- cisa da igualdade mostra que pode existir aceleração diferente de zero quando houver qualquer variação do ve- tor velocidade, incluindo apenas variação da direção deste vetor sem variação da velocidade escalar ou, então, variação simutânea da direção da velocidade es- calar. Para dar um exemplo de que uma partí- cula possui aceleração diferente de zero quando ela descreve uma trajetória curva com velocidade constante, lembre-se da sua sensação quando está viajando em um carro. Quando o carro acelera, você tente a se mover em sentido contrário ao da aceleração dele. Logo, você tende Figura 27: Partícula se movendo em uma trajetória curva. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. → → → → 30 31 a ser emprurrado para a traseira do carro quando ele acelera para a frente (aumen- ta de velociade) e, para a frente do car- ro quando ele acelera para trás (diminui de velocidade). Quando o carro faz uma curva em uma estrada plana, você tende a ser empurrado para fora da curva; indi- cando que o carro possui uma aceleração para dentro da curva. Normalmente, estamos interessados no vetor aceleração instantânea e não na aceleração média. A partir de agora, quando mencionarmos a palavra “ace- leração”, queremos nos referir ao vetor aceleração instantânea. Cada componente do vetor aceleração instantânea é dado pela derivação do respectivo componente do vetor veloci- dade: O módulo do vetor aceleração instan- tânea a – isto é, a aceleração escalar – é dado em termos dos compontentes ax, ay e az pelo Teorema de Pitágoras: Para a situação, quando a partícula se move no plano xy, o eixo z e a aceleração vz são nulos. Então, a aceleração escalar (o módulo do vetor a ) é dada por: E a direção da aceleração instantânea a é dada pelo ângulo α . Então, temos que: Problema – A velocidade de um ca- chorro correndo em um campo aberto possui componente v x = 2,6 m/s, v y = -1,8 m/s para t1 = 10,0s. Para um intervalo de tempo entre t1 = 10,0 s e t2 = 20,0 s, a ace- leração média do cachorro possui módulo igual a 0,45 m/s2, formando um ângulo de 31,0º, medido considerando a rotação do eixo +Ox para o eixo +Oy. a) Quais são os componentes x e y da velocidade do cachorro? b) Qual o módulo da velocidade do ca- chorro? Solução – neste caso, temos que: a) Devemos encontrar os componen- tes da aceleração nas direções x e y. Estes componentes são dados por: ax = a cos α0 ay = a sen α0 Dessa forma, vem que: ax = (0,45) cos 31,0° = 0,39 m/s2; ay = (0,45) sen 31,0° = 0,23 m/s2. Utilizando a equação v=v0+at , temos que: vx = 2,6 + (0,39) (10,0) = 6,5 m/s; vy = -1,8 + (0,23) (10,0) = 0,52 m/s. b) Aplicando o módulo da velocidade, vemos facilmente que: 4.3 Movimento de um pro- jétil A fim de analisarmos este tipo de mo- vimento, começaremos com um mode- lo idealizado, representando o projétil → 32 33 como uma partícula com aceleração (de- vido à gravidade) constante em módulo, direção e sentido. Iremos desprezar os efeitos de resistência do ar e a curvatura e rotação da Terra. Notamos inicialmente que o movimen- to de um projétil está sempre confinado em um plano vertical determinado pela direção da velocidade inicial. Observe a Figura 28 a seguir. Isso ocorre porque a aceleração da gravidade é sempre ver- tical. Logo, o movimento de um projétil ocorre em duas dimensões. O plano do movimento será considerado o plano xy, sendo o eixo Ox horizontal, e o eixo Oy vertical e orientado de baixo para cima. Figura 28: Movimento de um projétil. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. A chave para analisarmos o movimento de um projétil é tratar os componentes x e y separadamente. O componente x da aceleração é igual a zero, e o componente y é constante e igual a –g. Podemos expressar todas as relações vetoriais para a posição, velocidade e ace- leração usando equações separadas para os componentes horizontais e perpendi- culares. O movimento efetivo do projétil é a superposição destes movimentos sepa- rados. Os componentes de a são: ax = 0 ay = -g Sendo: g = 9,8 m/s2. Podemos utilizar as equações descritas anteriormente de modo direto. Exemplifi- cando, suponha que no instante t=0, a par- tícula esteja em repouso no ponto (x0 e y0) e que, nesse instante, sua velocidade inicial possua componente v0x e v0y. Os compo- nentes da aceleração são ax = 0 e ay = -g. Considerando inicialmente o movimento no eixo Ox, substituindo v por vx, v0 por v0x e a por 0 obtemos que: vx = v0x x = x0 + v0xt Para o movimento no eixo Oy, substituin- do x por y, v por vy, v0 por v0y e a por –g, en- contramos: vy = v0y – gt Normalmente, é mais simples considerar a posição inicial (t = 0) como a origem. Nes- se caso x0 = y0 = 0. A Figura 29 a seguir, mostra-nos a tra- jetória de um projétil que começa na (ou atravessa a) origem em dado instante t=0. Os componentes da posição, da velocidade e da aceleração são indicados para inter- valos de tempos iguais; o componente x da aceleração é igual a zero, portanto, vx é constante. O componente y da aceleração é constante e não nulo, de modo que vy va- ria de quantidades iguais em intervalos de tempo iguais. No ponto mais elevado da sua trajetória vy = 0. 32 33 Podemos também representar a velo- cidade inicial v0 por seu módulo v0 (a velo- cidade escalar inicial), seu ângulo α0 com o sentido positivo do eixo Ox. Em termos dessas grandezas, os componentes v0x e v0y da velocidade inicial são: v0x=v0 cos α0 v0y =v0 sen α0 Equação 3.15 Usando este resultado nas relações indicadas pela equação até a equação x=Ae-(b/2m)t cos(ω't+Φ) e fazendo x0= y0, vem que: x = (v0 cos α0 ) t vx= v0 cos α0 vy = v0 sen α0 - gt Essas equações descrevem a posição e a velocidade de um projétil na Figura 30 a seguir, em qualquer instante t. Dessas re- lações, podemos extrair muitas informa- ções. Por exemplo, em qualquer instante, a distância r entre o projétil e a origem (o módulo do vetor posição r) é dada por: A velocidade escalar do projétil (o mó- dulo de sua velocidade), em qualquer ins- tante, é dada por: A direção e o sentido da velocidade em termos do ângulo que ela faz com o sen- Figura 29: Trajetória de um corpo. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. → 34 35 tido positivo de Ox são dados por: O vetor velocidade v em cada ponto é tangente à trajetória no referido ponto. Podemos deduzir a equação da forma da trajetória em termos de x e de y eliminan- do t. Pelas equações que supõem x0 =y0 = 0, obtemos: Não se preocupe com os detalhes des- ta equação; o ponto importante é sua forma geral. As grandezas v0, tan α0 , cos α0 e g são constantes, de modo que esta equação tem a forma: y = bx – cx2 Sendo que b e c são constantes. Trata- -se da equação da parábola. A trajetória de um projétil, com nosso modelo simpli- ficado, é sempre uma parábola. Esta fo- tografia estroboscópica de uma bola sal- tando mostra justamente essa trajetória parabólica depois de cada salto. Figura 30: Trajetória parabólica de uma bola de tênis. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Problema – Um motociclista se proje- ta para fora da borda de um penhasco. No ponto exato da borda, sua velocidade é ho- rizontal e possui módulo igual a 9 m/s. Pe- de-se: a) a posição do motociclista; b) a distância da borda do penhasco; c) a velocidade depois de 0,50 s. Solução – neste caso, temos que: a) Escolhendo a origem na borda do penhasco, onde o motociclista começa a se tornar um projétil, temos: x0 = 0; y0 = 0. A velocidade é puramente horizontal (ou seja, α0 = 0), de modo que a velocida- de inicial possui os componentes: v0x = v0 cos α0 = 9,0 cos 0º = 9 m/s; v0y = v0 sen α0 = 9,0 sen 0º = 0 m/s. Quanto ao t = 0,50, temos: b) Da equação , temos: c) Das equações vx = v0 cos e vy = v0 sen α0 - gt, temos: O motociclista possui a mesma velo- cidade horizontal vx que possuía no mo- mento t = 0 em que ele abandona a borda do penhasco, entretanto, surge uma ve- → 34 35 locidade vertical vy dirigida para baixo (no sentido negativo do eixo Oy). Figura 31: Interpretação geométrica do problema. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. 4.4 Força central a) Força de atração entre os corpos A interação entre dois corpos de mas- sa M e m é descrita em termos de uma força atrativa, conforme Figura 32 a se- guir, cuja direção é a reta que passa pelo centro dos dois corpos e cujo módulo é dado pela equação matemática dada por: Figura 32: Força de atração. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Sendo G a constante da gravitação universal G = 6,67.10-11 Nm2/kg2, e r é a distância entre os centros dos corpos. b) Interpretando a aceleração da gravidade É denominada intensidade do campo gravitacional, ou aceleração da gravida- de g em um ponto P distante r do centro do planeta de massa M, a força sobre a unidade de massa situada no ponto P é dada por: Figura 33: Aceleração da gravidade. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. c) Força central Considere que uma força F atuante so- bre uma partícula de massa m, como está representado na Figura 34 a seguir, é tal que: a) ela é sempre dirigida de m para um ponto fixo O ou em sentido contrário; b) seu módulo depende somente da distância r de m a O. Figura 34: Representação de uma força central. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Uma força assim é chamada de força central ou campo de força central, em que O é o centro de força. Uma força é central quando o vetor po- sição r é paralelo ao vetor força F. O mo- mento da força M = r x F = 0. Da relação entre o momento das forças que atuam → → → 36 37 sobre a partícula e o momento angular (Teorema do momento angular), conclu- ímos que: O momento angular permanece cons- tante em módulo, direção e sentido. O momento angular L de uma partícula é o vetor resultado do produto vetorial L = r x m v , cuja direção é perpendicular ao plano determinado pelo vetor posição r e o vetor velocidade v. Como o vetor L permanece constan- te em direção, r e v estão em um plano perpendicular à direção fixa de L . Con- cluímos que a trajetória do móvel estará contida em um plano perpendicular ao vetor momento angular L . Quando os vetores, r e v são parale- los, logo a direção do movimento passa pela origem, o momento angular L = 0. A partícula descreve um movimento re- tilíneo, cuja aceleração não é constante. Observe a Figura 35 a seguir. Figura 35: Força Central. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. d) Força de atração Suponhamos que uma partícula de massa m se move desde a posição A até a posição B nas proximidades de um corpo fixo de massa M. Figura 36: Força de atração. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Vamos calcular o trabalho realizado pela força atração F . Neste caso, temos que: O trabalho infinitesimal é o produto escalar do vetor força F pelo vetor deslo- camento dl , tangente à trajetória. dW =F . F = F.dl.cos (180 - θ) = - F.dl.cos Φ = - F. dr, sendo dr o deslocamento in- finitesimal da partícula na direção radial. Para calcular o trabalho total, integra- mos entre a posição inicial A, distante rA do centro de forças e a posição final B, distante rB do centro fixo de forças. O trabalho W não depende do caminho seguido pela partícula para ir da posição A à posição B. A força de atração F , que exerce o corpo fixo de massa M sobre a partícula de massa m, é conservativa.Tal função é denominada energia potencial. A fórmula da energia potencial é escrita como: O nível zero de energia potencial foi estabelecido no infinito, para r = infinito, Ep = 0. O fato de que a força de atração ser → → → → → → → → → →→ → → → → → → 36 37 conservativa implica que a energia total (cinética mais potencial) da partícula é constante, em qualquer ponto da traje- tória. sendo 1/2 mv2 a energia cinética (Ec) da partícula. e) Queda livre de grandes distân- cias Examinamos a situação mais simples, aquela na qual o momento angular L = 0 (movimento retilíneo), em que somente é necessário aplicar o princípio de conser- vação da energia. Figura 37: Aplicando o princípio de conservação de energia. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Admitindo uma altura h < R, pequena em comparação com o raio da Terra. O tempo t e a velocidade v com que o corpo atinge a superfície da Terra são calcula- dos mediante as equações: sendo g, a aceleração da gravidade na superfície da Terra que supomos cons- tante (9,8 m/s2). Vamos descrever o movimento de um corpo que é deixado cair desde uma dis- tância r > R do centro da Terra até atingir a sua superfície. Como a força de atração depende da distância r entre o centro da Terra e o objeto, a aceleração não é cons- tante. No entanto, o princípio de conser- vação da energia nos permite calcular a velocidade v com a qual atingirá a super- fície da Terra. Sendo: m é a massa do corpo; M é a massa da Terra; R é o raio da Terra; r é a distância entre o centro do corpo à superfície da Terra. Problema – Deixamos cair um objeto situado a h = 20.000 km de altura. Calcule a velocidade com a qual atinge a superfície da Terra. Os dados são: Raio da Terra - R = 6,37.106 m Massa da Terra - M = 5,98.1024 kg Constante - G = 6,67.10-11 Nm2/kg2 Solução – neste caso, temos que: r = 20,0.106 + 6,37.106 = 26,37 . 106 m Substituindona equação: Vem que, v = 9.746 m/s. 38 3938 UNIDADE 5 - Unidades de Medidas As quatro quantidades básicas – com- primento, tempo, massa e força – não são todas independentes umas das outras; na verdade, elas são relacionadas pela se- gunda lei do movimento de Newton, F = ma. A igualdade F = ma é mantida apenas se três das quatro unidades, chamadas unidades básicas, estiverem definidas e a quarta unidade for derivada da equação. a) Unidades SI O Sistema Internacional de Unidades, abreviado como SI, do francês Système International d’Unités, é uma versão moderna do sistema métrico, que rece- beu aceitação mundial. Como mostra o Quadro 1 a seguir, o sistema SI define o comprimento em metros (m), o tempo em segundos (s) e a massa em quilogramas (kg). A unidade de força chamada ‘new- ton’ (N), é derivada de F = ma. Portanto, 1 newton é igual a força necessária para fornecer a 1 (um) quilograma de massa uma aceleração de 1 m/s2(N = kg.m/s2). 38 3939 b) Prefixos Quando uma quantidade numérica é muito grande ou muito pequena, as uni- dades usadas para definir seu tamanho podem ser modificadas usando um prefi- xo. Alguns dos prefixos usados no SI são mostrados no Quadro 2 a seguir. 40 4140 REFERÊNCIAS BEER, Ferdinand P.; JOHNSTON, Jr., E. Russell. Mecânica Vetorial para engenhei- ros: estática. 5 ed. Ver. São Paulo: Pear- son, 1994. HIBBELER, R. C. Estática: mecânica para engenharia. 10. Ed. São Paulo: Pear- son, 2005. LANDAU, L.LIFCHITZ, E. Mecânica. São Paulo: Hemus – Livraria Editora. MERIAM, J. L.; KRAIGE, L. G. Estática: mecânica para engenharia. Volume 1. 6. Ed Rio de Janeiro: LTC, 2009. MAIA, L.P.M. Mecânica Vetorial. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. SHAMES, I. H., Estática: mecânica para engenharia. 4. Ed. São Paulo: Ed. Prentice Hall, 2002. V.1. (BV). SILVA, Larissa. Mecânica estática. São Paulo: Pearson Prentice Hall. 2011 (BV). SYMON, K. R. Mecânica. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1982. RICARDO, Octavio Gaspar de Souza. Teoria das estruturas. SP: Mcgraw-hill, 1978. 40 4141 INTRODUÇÃO UNIDADE 1 - Elementos Fundamentais da Mecânica Newtoniana 1.1 As leis de Newton 1.2 Força e massa 1.3 Sistemas de referência 1.4 Lei de Newton associada à atração da gravidade 1.5 Medidas e limitações da Mecânica de Newton UNIDADE 2 - Movimento de Partículas em uma Dimensão 2.1 Sistemas de referência 2.2 Coordenadas cartesianas e posição 2.3 Generalizando para duas e três dimensões 2.4 Movimento e repouso 2.5 Definindo formalmente a trajetória 2.6 Cinemática envolvendo o movimento em uma dimensão UNIDADE 3 - Oscilador Harmônico e Propriedades Fundamentais 3.1 Conceitos fundamentais 3.2 Equações do movimento harmônico simples 3.3 A energia associada ao movimento harmônico simples 3.4 Oscilador harmônico amortecido 3.5 Oscilador harmônico forçado UNIDADE 4 - Movimentos Bidimensional e Tridimensional Envolvendo Partículas 4.1 Vetor posição e vetor velocidade 4.2 Vetor aceleração 4.3 Movimento de um projétil 4.4 Força central UNIDADE 5 - Unidades de Medidas REFERÊNCIAS
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