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Linguística II

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LINGUÍSTICA II
A LINGUÍSTICA E SUAS CORRENTES 
TEÓRICAS
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Rever o conceito de Linguística;
2. discutir a relação entre Linguística e doutrina gramatical;
3. conhecer, brevemente, algumas correntes teóricas da Linguística, a saber: Gerativismo, Sociolinguística e
Funcionalismo;
4. compreender a importância da Linguística na formação do futuro professor de Língua Portuguesa.
1 Linguística – uma ciência moderna
Embora a investigação sobre a linguagem humana seja antiga, a Linguística, ciência que a tem como objeto de
estudos, é relativamente nova. Destaca-se sua projeção ao se firmar como a primeira ciência humana. Nas
palavras de Aldo Bizzocchi, O fantástico mundo da linguagem.
“Hoje, porém, a maioria das ciências humanas tem rigor metodológico comparável ao das ciências
naturais e usa ferramentas como a lógica e a matemática para descrever seus objetos de estudo e
construir teorias complexas.
Para que as ciências humanas adquirissem esse rigor, foi decisiva a contribuição da linguística. Ela
foi a primeira dessas disciplinas a se constituir como ciência, no final do século 18, com método e
objeto próprios e bem definidos, emprestando depois às demais o seu método de pesquisa.”
(BIZZOCCHI, 2000).
Para entender o caráter científico da Linguística, faz-se necessário apresentar alguns de seus
pressupostos (cf. CUNHA et al., 2009):
A partir de uma metodologia bem definida, busca-se sistematizar as observações sobre a linguagem, relacionando-
as a uma teoria construída para esse propósito.
Observa-se a capacidade da linguagem, a partir de enunciados falados e escritos, que são investigados e descritos
à luz de princípios teóricos, que podem ser validados por meio de análise de enunciados produzidos em várias
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línguas. Embora a escrita também seja considerada pela Linguística. Cabe dizer que seu foco principal é a língua
falada, uma vez que é a modalidade de uso da língua desenvolvida naturalmente pelo indivíduo a partir do
contato com seus familiares.
Como busca a comprovação empírica dos fatos, a maioria das correntes linguísticas contemporâneas trabalha
com dados verificáveis por meio de observações e experiências.
É uma ciência descritiva. Por isso, não há, em suas análises, qualquer tipo de julgamento ou preconceito em
relação a determinados usos. Propõe-se a entender o funcionamento das línguas.
Desse modo, podemos concluir que o trabalho dos linguistas, cientistas que se dedicam à Linguística, é estudar a
linguagem humana através da observação de como as línguas naturais se estruturam e funcionam, a fim de se
obter não só descrições adequadas dessas línguas naturais, mas também entender mais sobre a natureza da
linguagem.
2 Linguística e a doutrina gramatical
Depois de rever os objetivos da investigação linguística, vamos continuar a nossa revisão e abordar a relação
entre Linguística e doutrina gramatical. Começaremos com uma citação que ilustra, muitíssimo bem, essa
relação:
“A Linguística não se compara ao estudo tradicional da gramática; ao observar a língua em uso o
linguista procura descrever e explicar os fatos: os padrões sonoros, gramaticais e lexicais que estão
sendo usados, sem avaliar aquele uso em termos de um outro padrão: moral, estético ou crítico.”
(PETTER, Margarida. Linguagem, língua e Linguística. In. FIORIN, José Luiz. Introdução à Linguística.
São Paulo: Contexto, 2002, p. 17).
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Embora a escrita também seja considerada pela Linguística, cabe dizer que seu foco principal é
a língua falada, uma vez que é a modalidade de uso da língua desenvolvida naturalmente pelo
indivíduo a partir do contato com seus familiares.
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2.1 Analisemos as seguintes construções:
1 - “Os livros chegaram.”
2 - “Os livro chegou.”
O que um linguista e um gramático diriam sobre os exemplos apresentados em (1) e (2)?
Um gramático diria que apenas (1) está de acordo com a prescrição e que (2) apresenta um “erro” em relação às
regras de concordância. E o linguista? Qual seria o seu comentário?
Sabemos que a Linguística, por conta de seu caráter científico, não julga os enunciados de uma língua. Não há
preconceitos ou rótulos de “certo” e “errado” no que se refere a construções comumente observadas no uso da
língua. Por isso, um linguista, ao analisar os exemplos (1) e (2), diria que ambos são enunciados lógicos e
coerentes, comuns nos contextos comunicativos da Língua Portuguesa. O exemplo (2), embora siga um modo de
combinação que difere daquele apresentado nas gramáticas normativas, apresenta regras gramaticais próprias.
Para o linguista, que não tem como objetivo fazer julgamentos de correto-incorreto, as falas do juiz e do
mecânico estariam adequadas ao contexto comunicativo em que se encontram. As construções utilizadas
refletem o nível de escolarização dos personagens. Por exemplo, o juiz, por ser altamente escolarizado e estar em
uma situação comunicativa formal, faz uso do pronome oblíquo “o” para se referir ao senhor Marcos Mattos. Por
sua vez, o mecânico Ademir, analfabeto, usará o pronome “ele” na função de objeto direto (“arrumá ele”).
Para o gramático, que considera um determinado uso da língua como correto, apenas a fala do juiz estaria
correta, pois há muitos usos, na fala do mecânico, que não condizem com a prescrição.
O linguista e o gramático diriam que a fala do E.T. é agramatical, pois sua construção não obedece às regras de
funcionamento da nossa língua, à gramática intuitiva que cada falante tem. O extraterrestre, como não é um
falante nativo do português, apresenta uma construção com um modo de combinação possível no português.
3 As correntes da Linguística
Já entendemos que Linguística corresponde ao estudo científico da linguagem humana. Assim como ocorre em
outras ciências, podemos ter diferentes maneiras de compreender o mesmo objeto de estudo. Desse modo, a
Linguística apresenta algumas correntes teóricas, que vão investigar a linguagem humana sob perspectivas
diferentes. Vamos a uma breve apresentação de algumas delas. Teremos como foco as correntes linguísticas que
serão abordadas em nossa disciplina, a saber: Gerativismo, Sociolinguística e Funcionalismo. Vale dizer que há
outras não menos importantes.
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Costuma-se atribuir o nascimento da Linguística moderna no ano de 1916 à publicação do Curso de Linguística
, obra do linguista suíço Ferdinand de Saussure. Sabemos que, na realidade, as bases da LinguísticaGeral
moderna já haviam sido lançadas ao longo do século XIX a partir do trabalho de muitos linguistas que tinham
como foco os estudos de comparação entre línguas diferentes.
As ideias de Saussure, apresentadas no , ganharam tanto destaque que, no século XX, surge uma das maisCLG
importantes escolas científicas: o Estruturalismo, que firmou sua influência não só na Linguística, mas também
em outras áreas como a Sociologia, a Antropologia, a Psicanálise, a Filosofia etc.
O estruturalismo de Saussure, embora considere a “língua” como um fato social, se atém ao caráter formal e
estrutural do fenômeno linguístico, uma vez que a concebe como uma estrutura.
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Em 1957, o linguista Noam Chomsky promove uma verdadeira revolução nos estudos da linguagem ao propor
uma abordagem caracterizada pela ausência do componente social: a língua passa a ser vista como um fenômeno
mental. Para Chomsky e sua teoria Gerativa (ou Gerativismo), a capacidade humana de falar e entender uma
língua é o resultado de uma capacidade genética. Seu objetivo era propor uma teoria explicativa que pudesse
contemplar não só as frases realizadas, mas também aquelas que seriam, potencialmente, produzidas pelo falante.
Como uma reação aos modelos formais de análise linguística do Estruturalismo e do Gerativismo, na década de
1960, nos Estados Unidos, surge a Sociolinguística, que, na sua vertente variacionista, tem como nome principal o
linguista William Labov. A Sociolinguística propõe novamente a focalização do aspecto social,mas sob o ponto de
vista da variação e a possibilidade de sistematizá-la. Assim, tem-se como pressuposto teórico a ideia de que toda
língua muda com o tempo e varia em função de aspectos geográficos e sociais.
Em 1975, as análises funcionalistas ganham destaque na linguística norte-americana a partir dos trabalhos de
Dwight Bolinger. Ainda como uma oposição às ideias estruturalistas e gerativistas, surge uma teoria que tem
como objetivo explicar a língua com base no contexto linguístico e na situação extralinguística: o Funcionalismo,
corrente teórica que tem como foco de interesse a relação entre estrutura gramatical das línguas e os contextos
de comunicação em que são utilizadas. Sobre o Funcionalismo europeu, Cunha (2009) afirma: “atribui-se aos
membros da Escola de Praga, que se originou no Círculo Linguístico de Praga (...), as primeiras análises na linha
funcionalista.” (p.159).
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4 A Linguística é a salvação?
Depois de conhecermos, brevemente, outras correntes linguísticas, vamos encerrar a nossa primeira aula,
refletindo sobre o papel da Linguística na formação do futuro professor de Língua Portuguesa.
À medida que conhecemos melhor as correntes gerativistas, sociolinguísticas e funcionalistas, vamos ampliando
a nossa visão sobre a língua e passamos a refletir sobre a aplicação dos resultados das pesquisas linguísticas
nessas áreas na questão do ensino. Como as inovações introduzidas pela Linguística podem nos ser úteis para
tratar algumas ideias preconcebidas e amplamente difundidas pela doutrina gramatical?
Sobre esse aspecto, é preciso ter cuidado. Retomamos um trecho do item “ ”, de A salvação na Linguística? Celso
 (1997):Pedro Luft
“Nenhum ensino em crise pode ser salvo pela simples troca de uma teoria por outra, ainda que esta,
como a Linguística, seja do mais alto nível científico. Porque não é esse o problema.(...)
O lugar da Linguística, antes de mais nada, é nos cursos de graduação e pós-graduação, onde é
ministrada a futuros técnicos, pesquisadores, especialistas do ramo, professores, autores de livros
didáticos.
Ensinar Linguística no 1º e 2º Grau é uma insensatez. As teorias gramaticais estão em evolução
constante, sua abordagem exige maturidade mental, capacidade de reflexão e abstração.
O que a Linguística traz de positivo ao ensino de línguas são as noções fundamentais de linguagem e
língua, de variedades e registros; a noção de que não há língua que não evolua; a noção de que o uso
e os fatos devem prevalecer sobre preconceitos normativistas – sobretudo, a noção de que a língua é
um saber interior, pessoal, dos falantes, de onde o ensino deve partir e em que deve, sempre, se
basear. (LUFT, 1997: 97)
Fique ligado
Como dissemos anteriormente, em Linguística II, vamos nos ater a uma breve apresentação
dessas três correntes linguísticas. É importante dizer que não existe pressuposto teórico
melhor ou pior. Vamos entender que essas áreas terão como objeto de estudo a linguagem
verbal humana, cada uma com um foco diferente de análise.
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Mas tudo isso é o embasamento teórico imprescindível que deve guiar o professor em suas aulas
práticas, e não se transformar em matéria de ensino. O ensino tem de ocupar-se com o manejo
efetivo da língua, falada e escrita.”
(LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino.
Porto Alegre: L&PM, 1985, p.96-97.)
Hoje, não é mais possível conceber um ensino que não considere os avanços trazidos pelas pesquisas científicas
em relação aos fenômenos linguísticos. Felizmente, o Ministério da Educação está atento a isso. Vale destacar, no
entanto, que essas reflexões devem fazer parte apenas da formação do professor de Língua Portuguesa. Como
salientou Luft, não podemos “trocar uma teoria por outra” (p.96).
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• O Gerativismo;
• a faculdade da linguagem;
• a Gramática Universal (GU);
• o conceito de princípios e de parâmetros.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Reviu o conceito de Linguística;
• discutiu a relação entre Linguística e doutrina gramatical;
• conheceu, brevemente, algumas correntes teóricas da Linguística, a saber: Gerativismo, Sociolinguística 
e Funcionalismo;
• compreendeu a importância da Linguística na formação do futuro professor de Língua Portuguesa.
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