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Sentença de pronúncia

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Poder Judiciário 
JUSTIÇA ESTADUAL 
Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins 
Vara Especializada no Combate à Violência Contra a Mulher 
PROCESSO N. 0041802-79.2013.8.06.0001
PARTE AUTORA: Ministério Público 
PARTE RÉ: João Cana Brava 
VÍTIMA: Jhennifer Cana Brava
Vistos etc.
O Ministério Público denunciou JOÃO CANA BRAVA, devidamente qualificado nos autos, como incurso no art. 121, § 2º, II e IV, do Código Penal, porque, no dia 20/01/2020, por volta das 2 horas, com emprego de uma arma branca (laudo evento 01 e laudo 03), na residência localizada na qd01 lt16 na cidade de Gurupi, matou Jhennifer Cana Brava após lesioná-la por três vezes, sendo duas no tórax e uma no dorso. 
A denúncia descreveu que JOÃO agiu por motivo fútil, pois praticou o crime em razão de ciúme.
Dissertou ainda que JOÃO usou de recurso que dificultou a defesa da vítima, porque agiu de inopino, matando a vítima enquanto dormia e estava desarmada, tendo invadido a residência no repouso noturno. 
Por isso, pediu a condenação (f. 2-4).
Recebida a denúncia em 20-01-2020 (f. 90-1), foi citado (f. 100-1) e apresentou Defesa Escrita (f. 103), por intermédio do Defensor Público, que o acompanhou até o final.
Durante a formação da culpa, inquiriram-se a vítima e 1 (uma) testemunha: Martinalle Francisca de Souza (f. 142-6).
Depois, interrogou-se JOÃO (f. 154-62).
Nas alegações finais, o Promotor de Justiça pediu a pronúncia nos termos da denúncia (f. 166-83).
Na sua vez, JOÃO CANA BRAVA , assistido pelo referido Defensor Público, alegou tese negativa de autoria e ausência de elementos idôneos para subsidiar a pronúncia, mas se esse não for entendimento do juízo, reserva- se o direito de debater o mérito por ocasião do julgamento em plenário (f. 185-6).
É o relatório. Decido. Fundamentadamente.
Preliminarmente, salienta-se que nesta fase processual, o juízo é de probabilidade e não de certeza. Portanto, concorrendo a materialidade e indícios suficientes de autoria, deve a causa ser submetida a julgamento (art. 413 do CPP).
Pois bem.
No que pertine à materialidade, o laudo de exame de corpo de delito atesta que Jhennifer Cana Brava sofreu “Lesão Corporal Grave”, sendo esta a causa da morte, f. 21-4.
Na senda dos indícios de autoria, reputo-os presentes e suficientes.
JOÃO, nas oportunidades em que foi ouvido [Delegacia (f. 15-6) e Juízo (f. 154-62)], a sua maneira, negou a autoria do crime.
A testemunha Martinalle Francisca de Souza aponta JOÃO como o autor do injusto penal apurado neste feito (f. 142-6).
Dessa forma, há justa causa (elementos quanto à materialidade e aos indícios de autoria) que viabiliza a remessa do caso a julgamento popular, sendo tal medida de rigor.
Em prosseguimento, quanto às qualificadoras devem, por ora, ser mantidas. Explica-se.
A peça acusatória imputa a JOÃO o motivo fútil assim descrito:
"Conforme investigado, o denunciado agiu impelido por motivo fútil, vez que tentou matou a vítima em razão de ciúme."
In casu, há elementos nos autos que indicam que tal circunstância possa ter ocorrido, ou seja, existem vetores apontando que o móvel do delito seria uma viagança por ciúmes, veja f. 135, f. 137, f. 139.
Seguindo, a denúncia atribui a JOÃO o recurso que dificultou a defesa da vítima nos seguintes moldes:
"Ademais, utilizou-se de modo que dificultou a defesa da vítima, na medida em que agiu de inopino, atacando enquanto dormia, invadindo sua residência no repouso noturno, bem como estava desarmada."
Na hipótese, cumpre consignar que há plausibilidade de que tal circunstância tenha ocorrido, basta olhar depoimento de f. 142-3.
Logo, tais circunstâncias devem ser valoradas pelo Juiz Natural, qual seja, o Conselho de Sentença que possui assento de estatura constitucional.
Posto isso, com esteio no art. 413, do CPP, pronuncia-se JOÃO CANA BRAVA [brasileiro, nascido aos 14.11.1981, natural de Gurupi- TO, filho de Severino Cana Brava e Rosemary Cana Brava] no art. 121,§2º, incisos II e IV do Código Penal.
Por oportuno, este juízo, para fins de facilitação e otimização do procedimento que ocorre em Plenário do Júri, tem por hábito traçar a chamada "causa de pedir" em suas decisões de pronúncia.
Trata-se de item não obrigatório, conforme doutrina majoritária, de modo que serve tão somente como instrumento para orientar e facilitar a realização da quesitação aos jurados.
Dessa forma, justamente por não constar no dispositivo da sentença, não é objeto de trânsito em julgado, portanto, não vinculativo da decisão judicial.
Assim, repito, trata-se tão somente de um padrão sugestivo de quesitação, não vinculando o juiz aos seus termos, mormente diante do que dispõe a parte final do parágrafo único do art. 482, do CPP, in verbis:
"Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008). Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes."
Ressalva feita, passo a fixar a causa de pedir.
Segundo consta, no dia 20 de janeiro de 2020, por volta 2 horas, na qd 01 lt 16,n. 127 na cidade de Gurupi, Jhennifer Cana Brava foi atingido por golpes de faca, sendo duas no tórax e uma no dorso, os quais lhe causaram os ferimentos descritos no laudo de exame de corpo de delito de f. 21-4, que vieram a causa da morte.
Deduz-se, em tese, que JOÃO CANA BRAVA é o autor dos golpes de faca contra Jhennifer Cana Brava.
Supõe-se, em princípio, que JOÃO CANA BRAVA agiu por motivo fútil, porque praticou o fato em razão de vingança por ciúmes.
Infere-se, "in thesis," que JOÃO CANA BRAVA usou de recurso que dificultou a defesa de Jhennifer, porque agiu de inopino, matando-a enquanto dormia e estando desarmada.
A materialidade do delito restou plenamente comprovada pelo laudo de exame necroscópico de fls.10. 
Quanto ao pedido da defesa de absolvição sumária, existindo dúvidas, na fase da pronúncia vige o princípio, in dubio pro societate, ou seja, a decisão soberana compete ao Tribunal do Júri.
O réu foi preso em flagrante delito, logo após o fato, em posse da faca utilizada no crime e permanecerá preso até o julgamento.
As qualificadoras ficaram bem retratadas pela prova pericial e merecem ser mantidas para o debate das partes em plenário, mesmo porque só podem ser excluídas quando manifestamente impertinentes, o que não é o caso.
À vista do exposto, e considerando o que mais dos autos consta, julgo procedente a presente ação penal, e, com fundamento no art. 413 do Código de Processo Penal, pronuncio o réu JOÃO CANA BRAVA, como incurso no art. 121, § 2º, II e IV, do Código Penal, a fim de que seja julgado pelo Tribunal do Júri de Gurupi.
P.R.I.C.
15 de Maio de 2020.
Valdeni de Sousa Brito 
Juíza de Direito

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