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Metodologia do ensino de Sociologia

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METODOLOGIA DO 
ENSINO DE SOCIOLOGIA
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Marcone Costa Cerqueira
Indaial - 2020
2ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2019
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C416m
 Cerqueira, Marcone Costa
 Metodologia do ensino de sociologia. / Marcone Costa Cerqueira. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2020.
 169 p.; il.
 ISBN 978-65-5646-045-1
 ISBN Digital 978-65-5646-046-8
1. Sociologia - Estudo e ensino. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da 
Vinci.
CDD 301.07
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
Fundamentos Teóricos da Sociologia ........................................7
CAPÍTULO 2
Questões De Método no Ensino de Sociologia ......................63
CAPÍTULO 3
Metodologia e Ensino de Sociologia no Brasil ....................109
APRESENTAÇÃO
Prezado acadêmico, bem-vindo à disciplina de Metodologia do Ensino de 
Sociologia.
No decorrer desta disciplina, abordaremos pontos-chave para a discussão 
da disciplina de sociologia, tendo em vista seus aspectos pedagógico, teórico e 
prático, buscando compreender o quadro brasileiro e suas peculiaridades. Em vista 
destes propósitos amplos e complexamente articulados, devemos partir de uma 
análise bem direcionada, que aborde os aspectos aludidos de forma esmiuçada, 
mas aproximada, sem perder a visão de integralidade que nos possibilitará uma 
opinião crítica sobre os temas a serem tratados. 
 
O ensino de sociologia perpassa duas bases fundamentais de constituição 
das ciências sociais como um todo, a primeira, uma base teórica que se 
fundamenta em conceitos, pressupostos e teorias bem articuladas. No entanto, 
tais construções teóricas não surgem de um conhecimento puramente abstrato 
ou apartado da realidade social, ao contrário, parte de uma sistemática, ampla e 
crítica reflexão sobre as relações humanas dentro da sociedade em suas diversas 
expressões. Desta forma, sua segunda base fundamental é a prática, que além de 
embasar a própria construção teórica, impulsiona também sua atuação direta nas 
relações sociais, possibilitando uma aplicabilidade própria das ciências sociais.
 
Partindo dessa perspectiva, iniciaremos nosso trajeto crítico nesta 
disciplina através dos fundamentos teóricos da sociologia, seus contextos de 
surgimento e desenvolvimento, os aportes históricos e sociais. Em vista disso, 
no primeiro capítulo, nos voltaremos para o contexto histórico de surgimento dos 
movimentos teóricos, que levaram a humanidade a uma virada em sua busca 
pelo conhecimento, a fundamentação de um método baseado em pressupostos 
científicos utilizados na própria compreensão da realidade social. Este movimento 
nos coloca em confronto com os primeiros teóricos da sociologia, centralmente 
aqueles que se tornaram os pilares clássicos da disciplina.
 
O segundo passo será dado no sentido de compreender e delimitar os 
aspectos metodológicos da disciplina, tendo em mente os pontos nevrálgicos que 
nos permitem vislumbrar sua base conceitual, a constituição de suas principais 
correntes. No entanto, neste segundo capítulo, partiremos desta base conceitual 
para a crítica reflexiva sobre a metodologia de ensino de sociologia, suas 
particularidades e a própria realidade da disciplina no quadro geral da educação.
Por fim, no terceiro capítulo, nos deteremos na discussão sobre a realidade 
brasileira, suas idiossincrasias sociais, históricas e principalmente ideológicas. 
Desta maneira, esperamos demonstrar e compreender os aspectos próprios, tanto 
teóricos quanto práticos, da Metodologia do Ensino de Sociologia na sociedade 
brasileira. 
Ao fim deste estudo, acreditamos que você estará apto a desenvolver sua 
própria visão crítica sobre o tema da Metodologia do Ensino de Sociologia, 
aplicando de forma independente em sua prática profissional o conhecimento 
aqui adquirido.
Bons estudos!
CAPÍTULO 1
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA 
SOCIOLOGIA
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Conhecer e compreender os fundamentos teóricos que lastreiam o surgimento 
e a estruturação da sociologia enquanto ciência humana crítica e dinâmica.
• Analisar de maneira crítica e independente as relações teóricas e práticas no 
surgimento da sociologia, embasando, assim, uma visão ampla dos processos 
de conceitualização, prática e ensino da disciplina.
8
 Metodologia do Ensino de Sociologia
9
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Caro acadêmico, a sociologia surge em um período histórico bem defi nido, a 
chamada Contemporaneidade, no entanto, pode-se afi rmar que os fundamentos 
que lhe deram embasamento são fruto de um movimento que vem se gestando 
lentamente desde a chamada Modernidade. Assim, pode-se dizer que a sociologia 
é uma ciência da Modernidade, ou uma ciência moderna, indicando que suas 
bases teóricas se estendem desde os primeiros movimentos de busca de um 
conhecimento mais objetivo, centrado em traços que defi nem praticamente todas 
as ciências modernas, seja na área da natureza ou da sociedade.
Diante dessas alegações é preciso compreender como se deu esse processo 
de formação de uma ciência que se volta para o campo social, mas que tem 
suas raízes ancoradas em pressupostos teóricos e práticos compartilhados com 
praticamente todas as ciências naturais. Não é à toa que a sociologia é tida como 
uma disciplina que une as características centrais dos dois ramos, tanto o aporte 
teórico das ciências humanas, tais como a fi losofi a, bem como o aporte prático 
das ciências da natureza, tais como a física, a biologia e a matemática. O que 
você pensa dessa aproximação, ela é realmente perceptível na sociologia ou não?
Para esmiuçarmos juntos essas questões, começaremos por compreender 
a complexa relação entre os fundamentos da sociologia como premente ciência 
social e as ciências da natureza, a forma como um ideal de conhecimento se 
diversifi ca e se estabelece como parâmetro para tais construções. Após esse 
passo, é necessário conhecer os principais autores deste movimento de 
adensamento da sociologia enquanto área de conhecimento, primeiro por seu 
fundador, depois por seus principais, e mais infl uenciadores, pensadores. Os 
chamados clássicos da sociologia são aqueles autores que deram destaque e 
profundidade teórica à disciplina desde o seu alvorecer.
Este longo trajeto nos conduzirá a uma problematização da própria sociologia 
no século XX, diante de todas as contradições, tensões e avanços sociais e 
científi cos que marcaram esse período recente da história. Tal itinerário nos 
possibilitará uma visão ampla da sociologia como resultado de um movimento 
cultural, científi co, histórico e social que surge em determinado momento da 
história do conhecimento humano, indo de encontro as suas principais temáticas 
e seus primeiros pensadores-chave.
10
 Metodologia do Ensino de Sociologia
2 A SOCIOLOGIA COMO UMA 
MODERNA CIÊNCIA
A primeira questão que se coloca diante da tentativa de postular a sociologia 
como uma ciência moderna é aquela que direciona ao próprio entendimento do 
que venha a ser uma disciplina científi ca. Ao pensarmos o que seja a concepção 
de ciência nos tempos atuais, somoslevados a acreditar que todo tipo de 
conhecimento científi co deva ser objetivo, mensurável e aplicável. No entanto, 
quando aludimos ao termo ‘ciência’, estamos nos voltando para um entendimento 
mais amplo, que pode ser compreendido como a busca de um conhecimento 
específi co, delineado e claramente demonstrável.
É bastante interessante e instrutivo saber como as diversas 
ciências, naturais, exatas e humanas, são divididas, subdivididas 
e classifi cadas de acordo com suas áreas de conhecimento. Para 
ter um conhecimento maior sobre o tema, acesse o link da Capes 
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). 
Disponível em: https://www.capes.gov.br/avaliacao/instrumentos-de-
apoio/tabela-de-areas-do-conhecimento-avaliacao. 
Assim, pode-se entender que a ideia de ciência é mais antiga do que aquela 
que estamos acostumados a vislumbrar na moderna sociedade tecnológica. Os 
gregos chamavam a metafísica de ‘ciência primeira’, ou seja, a base de todos 
os conhecimentos, que nos remete à própria essência das coisas. Essa é uma 
questão que deve ser levada em consideração quando se quer estabelecer o 
que seja uma ciência moderna, ou pelo menos, a percepção moderna de um 
conhecimento específi co, delineado e claramente demonstrável, como dito 
anteriormente. 
O movimento que deu ensejo ao surgimento da concepção de ciência que 
temos nos dias atuais surgiu ainda no alvorecer da chamada Idade Moderna, 
pondo termo a um paradigma que perdurou por mais de mil anos e que esteve 
associado às ‘trevas intelectuais’. Este dito período de trevas, compreendido 
como Idade Medieval, foi nomeado exatamente por aqueles indivíduos que viam 
em si mesmos o alvorecer de uma nova era, os modernos, que buscaram na 
razão humana a resposta para todas as coisas.
11
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
O processo de mudança em um paradigma que perdura por tanto tempo 
e tem suas raízes presas a tradições tanto sociais quanto religiosas, não pode 
ser superado de uma única vez, muito menos pode ser substituído por outro 
paradigma que não supra a lacuna por ele deixado. É preciso o assentamento 
de pilares que suportem a constituição de novas bases para o conhecimento, 
para a compreensão das relações sociais e para a objetivação do mundo e sua 
representatividade para os indivíduos. Tais assentamentos foram buscados nas 
‘luzes da razão’, direcionadas para o próprio mundo, ou seja, a natureza e sua 
relação com o ser humano, bem como para o mundo social, aquele que é criado 
pelos indivíduos em suas relações como uma segunda natureza. 
As perspectivas inseridas por esta mudança na forma de se compreender o 
mundo e a relação do ser humano com ele, trouxeram a crítica a várias verdades 
tidas como perenes e inquestionáveis, rompendo assim, como mencionado, com 
fortes tradições sociais e, principalmente, religiosas. No entanto, a questão que 
se coloca como mais proeminente neste cenário é a irreversível construção de 
uma nova relação entre o indivíduo que conhece e o objeto, ou realidade, a ser 
conhecido. 
Neste sentido, há uma profunda inversão no caminho a ser percorrido, não é 
mais possível entender o conhecimento como algo partindo de dentro do indivíduo, 
como acreditava Platão (2016) e seus seguidores, bem como sustentava também 
Santo Agostinho (2009). Essa inversão no caminho de busca do conhecimento, 
que pode ser vista como o divisor de águas entre o paradigma antigo e o 
paradigma moderno, está marcada pelo profundo apreço à observação prática, 
à compreensão dos mecanismos de causa e efeito, bem como à imprescindível 
comprovabilidade dos conhecimentos obtidos no processo.
Pode-se afi rmar que é difícil elencar e analisar todos os processos que deram 
surgimento a essa mudança de paradigma, no entanto, é possível compreender 
que não ocorreram em apenas um âmbito do conhecimento. Como já indicado, 
todas as áreas do saber passaram por essa profunda cisão, podemos especifi car 
o campo das artes, o campo do conhecimento, bem como o campo da política. A 
Modernidade surge com movimentos culturais, intelectuais e sociais marcantes, 
desde o chamado Renascimento, passando pelo Iluminismo, até chegarmos às 
profundas convulsões sociais, tais como a Revolução Americana e a Revolução 
Francesa. Losurdo (2015) corrobora com essa percepção, entendendo que as 
agitações sociais, políticas e intelectuais dos séculos XVIII e XIX são frutos 
maduros das mudanças acumuladas pelas revoltas intelectuais capitaneadas 
pelo Renascimento e Iluminismo.
Essa pista possibilita o vislumbre de uma seara que se fará pouco a pouco 
mais fértil para o surgimento de uma ciência social pautada nos ideais levantados 
12
 Metodologia do Ensino de Sociologia
por todos esses acontecimentos de ruptura, porém, é necessário aproximar um 
pouco mais a lente pela qual pretendemos compreender as implicações deste 
cenário para o surgimento da sociologia enquanto disciplina e ciência social 
prática e teoricamente fundamentada. 
Para tanto, é extremamente importante esclarecer a intrínseca relação entre 
os processos surgidos e adotados pelas ciências naturais e sua apropriação pela 
sociologia em seu surgimento e seu desenvolvimento. O passo seguinte será a 
compreensão dos princípios constitutivos, surgidos da relação entre as ciências 
naturais e sociais, na formulação do pensamento de Auguste Comte, fundador da 
sociologia moderna. 
2.1 CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS 
NO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
Então, você pensa que a sociologia pode ser aproximada de forma 
satisfatória da moderna noção de ciência? Buscaremos traçar uma distinção entre 
um ramo de ciências naturais e outro de ciências humanas, refl exo da evolução 
da própria forma de se compreender a relação do ser humano com o mundo a 
sua volta e com sua própria realidade social. É preciso mapear o movimento do 
estabelecimento das fronteiras que delimitam os dois terrenos, mas sem perder 
uma percepção crítica que possibilite entender o processo que está baseando 
este movimento.
É preciso voltar aos séculos que viram surgir a chamada Modernidade. Já 
no século XV viu-se nascer uma nova forma de concepção do conhecimento e do 
mundo, que se inicia primeiro como movimento cultural e social de contestação e 
questionamento. Este movimento, conhecido como Renascimento, busca retomar 
os ideais empregados pelos antigos, tanto em relação ao mundo natural quanto 
em relação à própria constituição do ser humano. Mesmo partindo do campo 
artístico e intelectual, esse movimento foi primordial para a preparação do que 
viria a ser o campo das ciências naturais, ou ciências da natureza. 
Três aspectos são centrais neste processo, primeiro, a valorização do 
conhecimento prático, surgido da observação e do estudo dos elementos naturais, 
segundo, a contestação de verdades universais sobre o mundo e sobre a natureza 
humana, questionamentos que levaram a uma nova forma de se perceber a 
importância do conhecimento objetivo, por último, a centralidade da técnica e de 
todos os aparatos que lhe dão suporte. Faz-se necessário compreender como 
cada um desses processos, fortalecidos e adensados pelo movimento cultural e 
13
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
1 Faça uma pesquisa em sítios da internet sobre o chamado “Código 
Atlântico” de Leonardo da Vinci, busque informações sobre seu 
conteúdo, as áreas abrangidas nesta obra, a forma como o 
autor desenvolve suas ideias e as proeminentes contribuições 
para o surgimento de um pensamento científi co no alvorecer da 
Modernidade. Em seguida, produza uma apresentação de slides, 
ou fi chamentos, nesta sequência indicada: conteúdo; áreas dos 
conhecimentos abrangidos; método de exposição e análise usado 
pelo autor; por fi m, sua opinião sobre como esse trabalho pode 
ser visto como uma peça no movimento de surgimento à ciência 
moderna.
R.:____________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________. 
intelectual do Renascimento, contribuiu para o surgimento de novas ciências e 
formas de conhecimento.
Como dito, nosso interesse está em compreender como se dá a constituição 
da fronteira limítrofe entre as ciências da natureza e as ciências sociais, 
buscando estabelecer não uma simples leitura histórica, mas uma tese de que tal 
assentamento se dá em vista da inserção de novas concepções do conhecimento 
e da técnica. O Renascimento é o ponto de lançamento dessa inserção de 
novas concepções e técnicas. Artistas, como Leonardo da Vinci, Michelangelo, 
entre outros, trouxeram à tona os ideais de conhecimento que os antigos haviam 
estabelecido. Um conhecimento que surge não apenas da simples abstração, 
mas principalmente da análise cuidadosa e técnica da natureza, suas relações de 
causa e efeito e a maneira como o ser humano pode manipulá-la. 
14
 Metodologia do Ensino de Sociologia
A arte como refl exo da perfeição da natureza não tem mais o objetivo de 
simples imitação ou captação de uma essência aparente, a questão passa a ser 
a compreensão do processo natural em seu curso próprio, regido por normas 
próprias e que apresenta uma extensão em direção à realidade de existência do 
ser humano enquanto parte desta natureza. Esse primeiro impulso rompe com 
uma visão medieval, de infl uência cristã, na qual o ser humano é visto como 
distinto da natureza, como especial, não tendo a mesma origem e muito menos 
a mesma suscetibilidade que os demais animais e componentes naturais. Neste 
cenário surge uma interação importante para o desenvolvimento das ciências 
naturais modernas, a união entre as disciplinas matemáticas e as disciplinas 
artísticas, além de um intenso estudo das relações de forma com os elementos da 
natureza. Vejamos o que nos instrui Byington (2009, p. 26):
Leonardo havia adotado o princípio das proporções matemáticas 
para o corpo humano e da rigorosa base geométrica para a 
representação tridimensional dos corpos. Para ele, a ideia 
de imitação da natureza e a incansável exploração de seus 
segredos permanecem uma doutrina absoluta à qual se dedica 
por meio do desenho; um exercício constante que essa singular 
fi gura do Renascimento leva muito além do âmbito artístico. 
Leonardo acreditava na possibilidade de a pintura igualar e 
superar a natureza por sua capacidade de ir além da matéria, 
representar fenômenos imateriais, como o vento e a bruma, 
criar um ilusionismo metamórfi co que não é mais imitação, mas 
restituição do real. Michelangelo também defendia o estudo 
profundo da natureza, que, em sua concepção, signifi cava 
sobretudo o estudo da anatomia, ao qual se dedicava por meio 
da dissecação de cadáveres.
Esse processo de busca sistemática de um conhecimento obtido diretamente 
da análise da natureza a partir de meios confi áveis, mensuráveis e, ao mesmo 
tempo, críticos e criativos pode ser tomado como um dos principais propulsores 
do surgimento da ciência da natureza moderna. Um dos mais centrais resultados 
deste processo de análise sistemática e crítica do mundo natural é a contestação 
de verdades tidas como imutáveis, perenes, principalmente com relação ao ser 
humano e sua inserção na natureza.
A obra “História da Sociologia: antes de 1918”, por Charles-
Henry Cuin e François Gresle, busca analisar os processos de 
tensão e revolução pelos quais passou o Ocidente no século XIX e 
que, segundo os autores, são fundamentais para se compreender 
como a sociologia desenvolve-se e adensa-se enquanto ciência. Vale 
a pena a leitura.
15
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
O Renascimento trouxe consigo um profundo apreço pelo conhecimento 
herdado das tradições clássicas antigas, conhecimento que fi cou obliterado pelo 
processo de cristianização da cultura e da construção intelectual. Assim, para se 
estabelecer os parâmetros que os renascentistas precisavam para desenvolver 
seus trabalhos, era necessário aproximar-se da tradição clássica e rever, mesmo 
que às custas de muita polêmica, os dogmas e as verdades perenes surgidas na 
cristandade. 
Não é de se estranhar que esse processo tenha sido lento e cheio de 
contrapartidas por parte da Igreja e dos defensores das verdades religiosas. 
Mesmo alguns artistas renascentistas tinham difi culdade em deixar de lado os 
ensinamentos cristãos, o que fez surgir uma crítica sincera, mas ao mesmo tempo 
contumaz, que não visava apenas solapar as bases do pensamento cristão-
medieval, mas rever de forma sistemática sua validade.
Para possibilitar o desenvolvimento de uma nova forma de compreender a 
realidade natural do mundo, a partir de bases racionais, técnicas e mensuráveis, 
foi preciso a formulação de diversos aparatos que permitiam manipular, medir, 
experimentar e analisar os elementos naturais e as próprias teorias e ideias que 
surgiam dos estudos dos renascentistas. Esse processo trouxe à tona uma prática 
que fi cou relegada ao segundo plano durante a Idade Média. A construção de 
máquinas e aparatos manuais era tida como uma subatividade, menos importante 
do que o estudo abstrato e a pura utilização da lógica racional.
No Renascimento, vê-se uma crescente valorização destas práticas 
mecânicas relacionadas à construção de máquinas, aparatos para experimentação 
e todo tipo de dispositivos que permitissem uma aplicabilidade do conhecimento 
produzido. Essa característica dos renascentistas será extremamente importante 
para o próximo passo do surgimento das modernas ciências naturais.
Ao se adiantar até os séculos XVI e XVII, vê-se o adensamento de novas 
perspectivas de construção do conhecimento a partir da análise crítica e 
prática dos elementos naturais e de suas relações com o ser humano. Um 
movimento intelectual que pode ser associado à discussão empreendida desde 
o Renascimento surge no Ocidente como fruto de questionamentos ainda mais 
profundos e críticos do que aqueles até então empreendidos. Este movimento, 
que pode ser denominado como ‘revolução científi ca’, aprofunda e expande os 
ideais de conhecimento objetivo e verifi cação de uma verdade que é buscada 
a partir do lançamento da razão humana sobre o mundo natural. Tomemos a 
indicação de Reale e Antiseri (1990, p. 185) sobre esta questão: 
O período de tempo que vai mais ou menos da data de 
publicação do De revolutionibus, de Nicolau Copérnico, isto 
é, de 1543, à obra de Isaac Newton, Philosophiae naturalis 
16
 Metodologia do Ensino de Sociologia
principia mathematica, que foi publicada pela primeira vez 
em 1687, hoje é comumente apontado como o período da 
‘revolução científi ca’. Trata-se de um poderoso movimento 
de ideias que adquire no século XVII as suas características 
determinantes na obra de Galileu, que encontra os seus 
fi lósofos – em aspectos diferentes – nas ideias de Bacon e 
Descartes e que depois iria encontrar a sua expressão, agora 
clássica, na imagem newtoniana do universo concebido como 
uma máquina, ou seja, como um relógio.
Por esse esclarecedor trajeto traçado pelos autores, pode-se perceber que o 
paradigma fundante da nova ciência é a compreensão mecanicista da natureza, 
bem como a busca de sua compreensão a partir da ideia de causa e efeito, ação 
e reação, teoria e experimento. Como já aludido, esse novo paradigma põe 
abaixo o paradigma dominante no medievo, o qual previa que o conhecimento 
surge da contemplação, da busca interior e da refl exão sobre as verdades divinas 
reveladas. 
Este claro predomínio do mecanicismo leva a uma inabalável confi ança 
nas leis da natureza que podem ser descobertas. Ao contrário das ciências 
humanas, até então reclusas no âmbito da abstração, da contemplação e das 
teorias universalistas, as nascentes ciências naturais respondem a leis bem 
claras, rígidas, mensuráveis e observáveis.No entanto, leis que precisam ser 
descobertas pelo ser humano, apreendidas por meio da razão, teorizadas através 
dos conceitos e fórmulas, mas também comprovadas por meio de experiências 
bem delimitadas, analisadas e descritas.
Pode-se levar essa discussão a diversas ramifi cações que tomariam um livro 
inteiro, no entanto, o que nos interessa neste momento, dentro deste tópico de 
estudo, é compreender que o processo que culmina com esse novo paradigma 
mecanicista, próprio das ciências naturais, é fruto de um longo processo de 
questionamentos, contestações e análise curiosa da natureza.
A partir da revolução científi ca, surge um aprofundamento das fronteiras 
que separam os conhecimentos próprios das ciências naturais daqueles próprios 
das ciências humanas. A fi losofi a, a política, a metafísica, a lógica, a teologia etc. 
continuam sendo vistas como áreas do conhecimento ancoradas em conceitos, 
preceitos e verdades universais, perenes, estabelecidas por tradição e concebidas 
no campo da abstração e da refl exão. Em contrapartida, as ciências naturais, 
principalmente a partir do século XVIII, tornam-se referência na busca de um 
conhecimento objetivo e efetivo com relação à natureza e seus fenômenos, bem 
como a respeito do próprio ser humano.
Essa realidade fez aumentar o prestígio das disciplinas que se tornavam 
independentes da própria fi losofi a, que era até então o tronco do qual surgiam 
17
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
as teorias de conhecimentos mais aceitas. Não é à toa que o título da obra de 
Newton traz ainda o nome de “princípios matemáticos de fi losofi a natural”, 
remetendo-se assim à disciplina que dominou toda a Idade Média. Autores, como 
Francis Bacon, John Locke, David Hume e Descartes, foram fundamentais no 
processo de transformação da fi losofi a medieval, estritamente escolástica, em 
uma fi losofi a mais aberta, preocupada com a busca do conhecimento objetivo e 
com a compreensão do mundo natural.
No entanto, disciplinas, como a física, a biologia, a química etc., começavam 
a se fortalecer, ganhando a confi ança do público esclarecido e a desconfi ança das 
instituições religiosas, que se viam preteridas nesse processo. Concomitantemente 
a toda essa efervescência intelectual surgida a partir da revolução científi ca, vê-
se fortalecer também o movimento que via na razão as “luzes” para vencer as 
trevas da superstição e da ignorância, lançando a humanidade em uma era de luz 
e entendimento. 
O chamado Iluminismo traz consigo a marca dos avanços conseguidos até 
então pelos esforços de pensadores ligados às nascentes disciplinas científi cas 
e principalmente dos fi lósofos e pensadores políticos voltados para a questão 
do conhecimento objetivo. O século XVIII é conhecido como o Século das Luzes 
exatamente por ser repleto de efervescente produção intelectual baseada nos 
suportes iluministas, desde as artes até a política, passando pela Enciclopédia, 
até o surgimento de revoluções sociais complexas, como as já aludidas Revolução 
Americana e Revolução Francesa.
Esmiuçar todo esse processo é extremamente demorado, no entanto, 
interessa-nos a perspectiva de que o mundo ocidental não é mais o mesmo de 
dois séculos antes, a busca do conhecimento não se dá pelas tradicionais vias da 
escolástica ou das verdades eternas. Esse alvorecer de uma nova era baseado 
na razão e nas leis da natureza e do intelecto humano, inaugura também uma 
nova era na compreensão da estrutura social. A sociologia surge como soma 
de toda essa convulsão social, intelectual e científi ca, no entanto, não apenas 
reproduzindo o que até então estava posto como diretriz padrão. 
Conhecer as leis que direcionam e regem as relações sociais é uma pretensão 
que surge com os iluministas, expressa-se em autores como Montesquieu, em 
sua obra o Espírito das Leis, além de pensadores, como Rousseau e Kant, porém, 
a sociologia, enquanto ciência da sociedade, inicia-se já em um século no qual a 
técnica, principalmente a produtiva, tem seu estado de maior desenvolvimento até 
então. As críticas aos modelos religiosos e tradicionais estabelecem uma tensão 
maior sobre as pretensões de conhecimento estabelecidos. Assim, os parâmetros 
objetivos estabelecidos pelas ciências da natureza são tomados como bitolas 
para a construção de um saber mais sólido, confi ável.
18
 Metodologia do Ensino de Sociologia
A maior expressão da apropriação dos pressupostos, regras e parâmetros 
advindos das ciências da natureza, serão vistos no pensamento de Auguste 
Comte, o fundador da ciência da sociedade, ou sociologia. Sua fundamentação 
teórica parte da própria crítica da história humana em vista da busca do 
conhecimento, ou melhor, dos processos pelos quais o ser humano passou em 
vista do conhecimento, do domínio da natureza e do domínio de si mesmo. A 
base do edifício teórico erigido por Comte, do qual emerge a própria sociologia, é 
o pensamento ‘positivista’, ou a doutrina ‘positivista’, que, segundo ele, expressa 
a fase fi nal da busca do conhecimento pelo ser humano, nomeado como estado 
‘positivo’. Caro acadêmico, serão estas considerações que procuraremos 
desenvolver no próximo tópico ao perscrutarmos os processos pelos quais Comte 
estabelece seu pensamento. 
2.2 AUGUSTE COMTE E OS 
PRINCÍPIOS CONSTITUTIVOS DA 
SOCIOLOGIA
Isidore Auguste François Marie Xavier Comte, ou apenas Auguste Comte, 
como é mais conhecido, nasceu em Paris em 1798, fi lho de uma família católica 
simpatizante da monarquia. No entanto, Comte não seguiu por muito tempo 
os ensinamentos recebidos em família, não se alinhando aos monarquistas, 
declarando ainda jovem sua adesão ao republicanismo e defendendo-o 
abertamente. Algo que o indispõe junto à família e se tornará uma inicial indicação 
de suas pretensões intelectuais como livre pensador.
O século XIX, principalmente em suas primeiras décadas, será o palco da 
crescente crença do ser humano no poder da razão, da ciência e da incipiente 
industrialização. Novas formas de energia estão sendo exploradas, a já conhecida 
e amplamente utilizada energia a vapor e a recém-descoberta energia elétrica. 
Este século é o resultado de todo o acúmulo de conhecimento que vem se 
formando desde o século XVI, tanto no campo da ciência, quanto no campo da 
política. As revoluções ocorridas na América do Norte e na França, ancoradas 
nos ideais iluministas, convulsionaram as organizações sociais, colocando 
em descrédito as bases do “ancien regime”, ou seja, o velho modo de governo 
aristocrático que a família de Comte tanto prezava. 
A Europa do início do século XIX é ainda um campo de guerra assolado pelo 
exército francês e pela sanha imperialista de Napoleão Bonaparte, criando um 
cenário ainda mais complexo e polarizado. O maior inimigo da França bonapartista 
19
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
é também a nação mais industrializada desse período e o será até praticamente 
o fi nal do século. O império inglês trava com Napoleão a hegemonia no território 
europeu e a supremacia nos territórios coloniais. Essa agitação política, que pode 
ser entendida como um divisor de águas no paradigma de civilização que se 
formará para os séculos seguintes, é extremamente estimulante para uma mente 
crítica e independente como a de Auguste Comte.
Estes dois temas dominantes do ambiente político-econômico com o qual 
Comte tem contato, o tema da ciência e do desenvolvimento industrial, bem como 
o tema social dos confl itos e mudanças, serão também os temas centrais de 
seu pensamento e a pedra angular do que virá a ser sua ‘doutrina positiva’. Ao 
se voltar para as questões políticas e sociais, Comte não as vê dentro de um 
arcabouço puramente conceitual, buscando apenas teorizar o cenário a sua volta 
ou simplesmente se apoiando nas já desenvolvidas teorias republicanas de matriz 
iluminista. Sua formação intelectual é marcada pela euforia das novas ciências, o 
culto ao conhecimento técnicotoma conta de toda a Europa e principalmente de 
Paris, o centro cultural desde o Iluminismo.
Comte começa seus estudos aos 16 anos na Escola Politécnica de 
Paris, centro do conhecimento científi co da França e um dos centros mais 
fervorosamente devotados ao culto ao conhecimento científi co. Essa imersão 
ainda jovem no incipiente mundo das ciências naturais e físicas, bem como todo 
o conhecimento técnico, o marcará por toda a sua vida intelectual, sendo de 
profunda importância para toda a sua produção. As diretrizes e os parâmetros 
advindos dessas ciências serão infl uenciadores de toda a construção do edifício 
positivista que ele erigirá, no entanto, tendo como matéria de trabalho as questões 
sociais e a postulação de uma necessária evolução social que irromperá da união 
desses dois campos.
É preciso entender que o encantamento causado pelas ciências físicas 
e naturais, assim como todo o conhecimento técnico, terá forte infl uência no 
pensamento comtiano, mas não será engessador de sua percepção das limitações 
e necessidades de ajustamentos dos parâmetros científi cos aplicados no estudo 
da sociedade. Como indica Comte (1972) em seu Opúsculo de fi losofi a social, de 
1822, ao aludir o uso da matemática no estudo da ciência social, ele afi rma que 
somente o posterior desenvolvimento desta ciência social poderia apresentar a 
aplicabilidade da análise matemática.
20
 Metodologia do Ensino de Sociologia
1 Atualmente, os dados coletados em diversas pesquisas sociais 
por amostragem, principalmente por meio dos indicadores 
sociais, têm fomentado inúmeras pesquisas na área das ciências 
humanas, principalmente nas ciências sociais. Tais pesquisas 
se valem de dados estatísticos, coletados diretamente junto à 
população ou grupo social do qual se quer ter um conhecimento. 
Faça a seguinte atividade: acesse a página do Instituto Brasileiro 
de Geografi a e Estatística – IBGE, escolha uma tabela de dados, 
por exemplo, a situação das mulheres no mercado de trabalho. 
Em seguida, tente fazer uma análise crítica desses dados e 
construa um texto de até duas páginas sobre as implicações 
sociais da realidade estatística mostrada pela pesquisa. 
Juntamente à análise crítica, construa um gráfi co que possa ser 
utilizado em uma apresentação para seu texto crítico.
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
________________________.
Não se pode simploriamente afi rmar que Comte plasma o modelo científi co 
vindo das ciências naturais e físicas em uma análise social descuidada e 
totalmente dependente de tais modelos. Seu contato inicial com as ciências físicas 
desperta um desejo pela objetivação, pela sistematização e pela aplicabilidade de 
conceitos e teorias que, extraídos da realidade empírica da sociedade, permitiriam 
compreender a organização social em suas particularidades. Esta perspectiva 
é bem diferente de afi rmar que ele desejava submeter a ciência social a uma 
predominância das ciências naturais e físicas, tornando-a uma subciência. 
Para se ter clara essa distinção de perspectivas, é preciso compreender como 
Comte via a própria evolução da busca do conhecimento na história humana. 
Assim, primeiro é necessário compreender sua postulação dos três estágios pelos 
quais passou a humanidade até chegar ao conhecimento científi co, ou positivo. 
Segundo, é importante entender a forma como ele propunha a relação entre os 
indivíduos e as instituições socais, postulando que uma revolução é a alteração 
21
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
conjunta e completa destas instituições. Por fi m, é preciso ainda compreender 
sua proposta de reorganização da sociedade, tendo como base um plano de 
trabalhos científi cos.
Esse itinerário deve permitir-nos compreender os princípios constitutivos da 
sociologia como uma ciência social moderna, positiva, demonstrando o ideal de 
objetivação e sistematização proposto por Comte para o estudo da sociedade 
e da organização política do ser humano. Löwy (1988) nos esclarece que as 
pressuposições fundantes do positivismo são exatamente de que a sociedade 
possui leis que a regulam em seu funcionamento, tanto social quanto político e 
econômico, leis naturais como as próprias leis da natureza. O fundamento da 
compreensão de um sistema ordenado possibilita se pensar a sociologia, ou 
ciência social, como passível de se valer dos parâmetros das ciências físicas e 
naturais. 
Ao iniciar o estudo da fi losofi a social de Auguste Comte, vê-se de início 
uma predileção pelas normas propostas pelo empirismo para se chegar ao 
conhecimento. Desde David Hume, a relação entre fi losofi a empírica, ou seja, 
aquela que defende a construção do conhecimento a partir das impressões 
dos sentidos diante dos objetos, e o estudo da sociedade e da ética humana 
tem sido correlatamente aprofundada. Esse movimento reverbera na própria 
construção fi losófi ca de Comte, sua adesão à perspectiva empírica parece natural 
diante do próprio predomínio das ciências físicas, que também se dirigem pelos 
fundamentos propostos pelo empirismo. 
Vejamos a divisão do curso de fi losofi a positiva formulado por Comte 
(1972) entre os anos de 1826 e 1827, programado para 72 aulas: Preliminares 
gerais (2 aulas), exposição do objeto do curso; Matemática (16 aulas), Cálculo 
(7 aulas), Geometria (5 aulas), Mecânica (4 aulas); Ciências dos Corpos Brutos: 
Astronomia (10 aulas), Física (10 aulas), Química (10 aulas); Ciências dos Corpos 
Organizados: Fisiologia (10 aulas), Física Social (14 aulas). Este programa dá um 
vislumbre da forma como Comte previa estabelecer sua fi losofi a positiva, bem 
como o projeto de uma ciência social, ou como ele denomina, Física Social. 
No entanto, não é Hume, ou a física de Newton, que tem maior infl uência 
sobre a construção teórica empreendida por Comte, sua maior infl uência veio 
de um autor francês também muito importante na formação de um pensamento 
social pautado na aproximação com as ciências naturais e físicas. Saint-Simon 
é considerado um dos maiores expoentes do chamado ‘socialismo utópico’, 
corrente de pensamento de esquerda que no início do século XIX propunha 
uma ‘comunização’ da sociedade. Baseando-se em um modelo de comunismo 
idealizado, os socialistas utópicos pensavam na formação de grupos comunitários, 
por meio de pequenas indústrias, agricultura e artesanato. Essa corrente não via 
22
 Metodologia do Ensino de Sociologia
ainda na industrialização da produção o grande divisor social de classes que 
mais tarde seria teorizado por Marx e Engels. Com relação a Saint-Simon e sua 
importância no início do século XVIII, Plekhanov (1977, p. 22) afi rma que: 
Saint-Simon, um dos cérebros mais enciclopédicos e menos 
metódicos da primeira metade desse século, esforçou-se por 
assentar as bases de uma ciência social. A ciência social, a 
ciência da sociedade humana, a física social, como a chama 
por vezes, pode e deve, segundo ele, transformar-se em uma 
ciência exata tanto quanto as ciências naturais.
Esta seminal ideia de transformar as ciências humanas e sociais em uma 
ciência exata, ou pelo menos, tão sistematizada e objetiva quanto as ciências 
naturais e físicas, teve intensa e profunda infl uência na formação intelectual de 
Comte. Ainda jovem, em 1817, Comte se torna secretário de Saint-Simon e se 
aproxima bastante de seu escopo teórico, tendo-o auxiliado na organização de 
várias obras, tais como “L’organisateur” (1819-1820), “Du système industriel” 
(1821) e “Catéchisme des industriels” (1823-1824). No entanto, em 1824, depois 
de praticamente sete anos juntos, Comte rompe suas relações com Saint-Simon 
por começar a terdivergências profundas.
Esses anos de parceria foram essenciais para a formação teórica de Comte, 
principalmente no que diz respeito à consolidação de sua visão sobre a relação 
entre as ciências naturais e humanas, bem como a respeito de sua concepção 
de uma fi losofi a social pautada na compreensão da evolução do conhecimento 
humano. Vejamos o que argumenta Schilling (1974, p. 318) sobre este ponto:
Mais tarde, Comte, dando forma aos pensamentos de Saint-
Simon, classifi cou as ciências, em relação à técnica, na 
seguinte ordem: Matemática, Astronomia, Química, Biologia, 
Sociologia. O saber mais antigo e mais geral mantém-se aqui 
em primeiro lugar, o mais recente e o mais especializado no fi m, 
mas a sociologia, que, enquanto ciência, é criação de Comte, 
já é na ideia social de Saint-Simon esse saber novo que deve 
organizar tecnicamente as relações dos homens e integrá-las 
da mesma forma que as ciências naturais, na indústria e na 
técnica, submetem a natureza ao homem tornando-a utilizável.
Como dito, a infl uência de Saint-Simon sobre os fundamentos do pensamento 
comtiano pode ser tomada como a mais marcante em sua trajetória, todavia, não 
foi engessante, muito menos limitou a produção de uma fi losofi a social positiva e, 
por fi m, uma ciência social. Comte avança no caminho inicialmente inaugurado por 
Saint-Simon, aprofundando e dando novas interpretações ao estudo da história 
do conhecimento humano, da interação entre os estudos sociais e os parâmetros 
advindos das ciências naturais. Tal aprofundamento se dá, principalmente, 
na formação de uma fi losofi a positiva, a partir da base teórica erigida por sua 
defi nição da “lei dos três estados”. Essa teoria já havia sido esboçada por Saint-
23
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
Simon, mas Comte a aprofunda e a aplica na compreensão da evolução do 
conhecimento e na constituição de uma ciência social pautada na sistematização 
e na objetivação.
Tendo em vista a discussão já empreendida nos tópicos anteriores, pode-se 
compreender que a ideia da existência de uma ‘lei’ dos estados do conhecimento 
humano alude à infl uência dos métodos iluministas, principalmente nas ciências 
naturais, em determinar leis que regem os fenômenos da natureza, mas que 
também podem ser formuladas com relação aos fenômenos sociais humanos. 
Ao estabelecer sua lei de estados do conhecimento humano, Comte traça uma 
linha ascendente de evolução que trouxe o ser humano da época das trevas 
à época da razão, da fi rme certeza do conhecimento científi co e da possível 
certeza do conhecimento social e político. Tomemos as palavras de Comte para 
compreendermos sua proposição da “lei dos três estados”:
Pela própria natureza do espírito humano, cada ramo de nossos 
conhecimentos está necessariamente sujeito, em sua marcha, 
a passar sucessivamente por três estados teóricos diferentes: 
o estado teológico ou fi ctício, o metafísico ou abstrato, e, 
enfi m, o científi co ou positivo. No primeiro, ideias sobrenaturais 
servem para ligar o pequeno número de observações isoladas 
de que se compõe então a ciência. Em outros termos, os 
fatos observados são explicados, isto é, vistos a priori de 
conformidade com fatos inventados. […] O segundo estado é 
unicamente destinado a servir de meio de transição do primeiro 
para o terceiro. Seu caráter é bastardo, liga os fatos segundo 
ideias que não são mais de todo sobrenaturais, mas não são 
ainda inteiramente naturais. […] O terceiro é o modo defi nitivo 
de qualquer ciência, não se destinando os dois primeiros senão 
a prepará-lo gradualmente. Os fatos se ligam então segundo 
ideias ou leis gerais de ordem inteiramente positiva, sugeridas 
ou confi rmadas pelos próprios fatos [...] (COMTE, 1972, p. 82).
Ao propor a confi guração de desenvolvimento do conhecimento humano em 
cada ramo do saber, Comte prevê que a humanidade chegou ao seu ápice nas 
principais ciências, tanto naturais quanto humanas. Firme nesta compreensão, 
o autor entende que a ciência social, ou sociologia, surge como resultado da 
evolução pela qual passou a ciência humana no decorrer de séculos. Cabe aos 
indivíduos utilizarem os meios disponíveis para empreender o conhecimento 
necessário da realidade social, bem como a proposição das necessárias 
mudanças.
A primeira base de compreensão da evolução do saber humano é o 
fundamento de todo o edifício teórico de Comte, formulado em vista de uma 
fi losofi a social, posteriormente, uma ciência social madura. Sua aplicação na 
compreensão e na proposta de reorganização da sociedade é o segundo ponto 
que nos interessa para compreender os fundamentos constitutivos da sociologia 
24
 Metodologia do Ensino de Sociologia
no pensamento comtiano. Ao se voltar para a tarefa de organização social, Comte 
estabelece os caminhos necessários para se vencer uma dicotomia que, segundo 
ele, marca as disputas políticas dos dois primeiros estados.
Uma disputa entre os representantes do estado teológico da política, os 
reis e seus interesses sempre contrários à sociedade, e os representantes do 
estado metafísico, o povo e suas aspirações sempre hostis com relação ao 
governo. O primeiro representa uma forma de governo ultrapassada, baseada 
numa legitimação religiosa mantida pelo medo e pela servidão. No entanto, o 
segundo representa uma forma de governo desordenada, anárquica, ancorada 
em idealizações críticas de hostilidade. 
Para Comte, a única forma de sanar o problema cíclico que fomenta as 
revoluções e as desordens sociais é o avanço da política para o terceiro estado, 
o positivo. Esse processo, segundo ele, é marcado pela formulação da própria 
ciência social, uma construção que se estabelece no estado mais evoluído da 
história humana. Vejamos novamente as palavras do autor:
Todas as considerações precedentes expostas provam que o 
meio de sair, afi nal, deste deplorável círculo vicioso, origem 
inesgotável das revoluções, não consiste no triunfo da opinião 
dos reis, nem no da opinião dos povos, tais como se manifestam 
atualmente. Não há outro meio senão a formação e a adoção 
geral, pelos povos e pelos reis, da doutrina orgânica, única em 
condições de tirar os reis a direção retrógrada, e os povos a 
direção crítica (COMTE, 1972, p. 63).
Esta visão da perspectiva de Comte sobre o círculo vicioso, que segundo 
ele escraviza a sociedade humana entre as falhas dos dois primeiros estados 
políticos, nos remete diretamente à própria situação da França de seu tempo. O 
fi m da era aristocrática e as convulsões sociais causadas pelas revoluções, são 
para Comte sintomas claros e inequívocos da necessidade de um novo sistema de 
organização social, agora baseado no sistema que é o ápice da história humana, 
o sistema positivista. As instituições sociais devem refl etir esse processo e serem 
construídas em vista do equilíbrio conquistado por meio da análise sistemática e 
objetiva da ‘física social’, a sociologia, em seus fundamentos positivos. 
O processo de construção social de uma realidade política equilibrada, sem 
os vícios das opiniões dos reis ou dos povos, deve seguir um rigoroso modelo 
positivo e científi co para realizar na mesma medida o que o ser humano conseguiu 
nas ciências naturais para alcançar o ápice de seu conhecimento. De modo geral, 
Comte (1972, p. 86) propõe:
Conclui-se das considerações precedentemente indicadas, 
25
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
que a verdadeira política, a política positiva, não deve mais 
pretender governar seus fenômenos, como as outras ciências 
não dirigem os que lhes são próprios.
Elas renunciaram a esta ambiciosa quimera, que lhes 
caracterizou a infância, para se limitarem a observar os 
seus fenômenos e a ligá-los. A política deve fazer o mesmo. 
Deve preocupar-se unicamente em coordenar todos os fatos 
particulares, relativos à marcha da civilização, reduzi-los ao 
menor número possível de fatos gerais, cujo encadeamento 
deve pôr em evidênciaa lei natural dessa marcha, apreciando 
em seguida a infl uência das diversas causas que podem 
modifi car a velocidade.
O intuito de Comte ao estabelecer esses parâmetros para a construção de 
uma ciência social objetiva e sistemática, pautada na observação das leis próprias 
da organização social e na minuciosa análise de suas interligações, como visto, 
é cessar com as constantes revoluções, disputas e confl itos sociais. Essa 
perspectiva será duramente criticada por autores de esquerda que virão após ele, 
principalmente a partir do chamado “socialismo científi co”, inaugurado por Marx 
e Engels. No entanto, as bases que ele lançou se tornaram o fundamento da 
ciência social, ou sociologia, abrindo um novo caminho em direção à crítica da 
sociedade e à discussão de seus problemas de forma objetiva e sistemática.
Certamente que a obra comtiana se desdobra em diversas outras 
implicações, tornando-se uma obra densa e profundamente sistematizada a partir 
das bases aqui expostas, mas como você pode perceber, é preciso avançar em 
nossa discussão e buscar compreender quais eram os contextos histórico, político 
e econômico, refl etidos na própria construção comtiana, e que deram palco ao 
surgimento da sociologia.
3 OS CONTEXTOS DE SURGIMENTO 
DA SOCIOLOGIA
A formação de um novo paradigma em torno da forma como o ser humano 
busca o conhecimento sobre si mesmo e sobre o mundo a sua volta é o substrato 
epistemológico sobre o qual se erige o edifício teórico da sociologia. Como você 
pôde ver até o momento, esse movimento se delongou por mais de um século 
e envolveu diversas áreas do conhecimento, desde a arte até as incipientes 
ciências naturais e físicas. No pensamento de Auguste Comte, refl etindo a própria 
realidade social de sua época, bem como a euforia pelo avanço científi co, a 
ciência social, ou sociologia, toma forma e fundamentos ancorados na busca de 
objetivação, sistematização e num projeto de organização da sociedade.
26
 Metodologia do Ensino de Sociologia
Esse quadro demonstra como a sociologia pode ser tomada como uma 
ciência moderna, ou seja, fruto da intensa e profunda discussão acerca do 
avanço do conhecimento humano em suas bases objetivas. No entanto, como 
não poderia deixar de ser, faz parte do fundamento da sociologia a observação 
e a prática empírica do pesquisador frente a seu objeto de estudo, neste caso, 
a sociedade e sua complexa organização. Diante dessa afi rmação, é necessário 
compreender qual o estado social do cenário no qual a sociologia emerge, sendo 
por isso fundamental perscrutar os contextos históricos, bem como o político e o 
econômico.
Durante o século XIX, pano de fundo da formação da sociologia e de diversos 
movimentos intelectuais e científi cos, viu-se uma intensa dinâmica social, tanto 
no que se refere ao desenvolvimento das ciências, da indústria, bem como de 
mudanças no quadro político da Europa. Os três âmbitos elencados neste cenário, 
o político, o histórico e o econômico, passaram por profundas mudanças, rupturas 
e renovações, trazendo nova base de elementos para a discussão sociológica e 
seu avanço.
Assim, neste tópico, partiremos da análise do contexto histórico, buscando 
compreender os principais movimentos sociais, políticos e intelectuais, que 
direcionaram os acontecimentos em diversos países europeus e americanos. 
Além disso, nos debruçaremos sobre os contextos político e econômico, 
entendendo que eles estiveram profundamente interligados durante todo o século 
XIX, moldando o que seria a discussão política dominante no século XX. Essa 
discussão gravitava em torno do problema do controle de um âmbito, ou esfera, 
sobre o outro, ou seja, a esfera política sobre a esfera econômica. Diversas 
correntes sociológicas, políticas e econômicas surgem a partir dessa discussão.
Dentro do agitado e revolucionário, em todos os sentidos, século XIX, as 
nações que mais se destacaram foram, sem dúvida, na Europa, França, Inglaterra 
e Alemanha, já na América, os Estados Unidos da América também passavam por 
profundas e importantes mudanças. Compreender esse cenário é extremamente 
importante para se compreender o contexto histórico, político e econômico no qual 
a sociologia surge e se consolida como ciência. Dentre esses países, certamente 
a Inglaterra será o mais industrializado e a referência de crescimento econômico 
idealizado a partir da Revolução Industrial. 
No entanto, isso não a torna a mais justa e igualitária, pelo contrário, como 
aponta Schilling (1974, p. 306), “a Inglaterra era, já na época de Thomas More, 
um país de contrastes prementes entre ricos e pobres, que se agravaram mais no 
século XIX com a industrialização”.
Já no contexto político, pode-se afi rmar que a França é o país, desde o 
27
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
século XVIII, que apresenta maior turbulência social, principalmente em suas 
recorrentes rupturas e tensões com relação ao tipo de governo adotado. Como 
já aludido, essa realidade é uma das propulsoras da ânsia comtiana em acabar 
com a desordem político-social e construir um projeto ‘positivo’, científi co, de 
organização social orgânica, sanando tal oscilação.
Por fi m, as tensões existentes do outro lado do Atlântico impactaram 
severamente as relações entre essas duas grandes nações europeias, a 
Revolução Americana será um campo de batalha estendido até os ‘portões da 
Europa’. Começaremos nosso itinerário pelo contexto histórico, avançando em 
seguida para os contextos político e econômico.
3.1 O CONTEXTO HISTÓRICO
Para se compreender o contexto histórico do século XIX na Europa é 
necessário retroceder até o século XVI, revendo de forma crítica o próprio 
processo de organização e expansão das nações europeias e suas conquistas. Se 
tomarmos como referência apenas o processo de mercantilização e colonialismo, 
poderemos compreender parte do intricado processo histórico que culmina no 
século XIX. É necessário compreender como esse fenômeno da mercantilização 
e do colonialismo refl etiu um direcionamento que já vinha se construindo nos 
países europeus.
Ao se analisar o século XVI, vê-se um forte avanço das nações ibéricas, 
principalmente a Espanha, dentro do próprio território europeu. Felipe II, rei da 
Espanha e ferrenho aliado do Papa, acossava constantemente a Itália, ao mesmo 
tempo em que desafi ava a Inglaterra de Elisabeth I. Essa posição espanhola foi 
impulsionada principalmente pela união do país, que antes se via dividido entre as 
regiões de Castela e Aragão, mas principalmente pelos fartos recursos em metais 
preciosos vindos das recém-colônias, o que permitia manter um grande exército 
ocioso, utilizando-o quando preciso e suplantando as nações e repúblicas que 
dependiam de exércitos mercenários para se defenderem. 
A França contava com uma monarquia até então não absolutista, na qual as 
províncias e os nobres gozavam de participação nas decisões importantes para o 
país e o rei mantinha em equilíbrio as forças políticas importantes. Esse cenário 
será modifi cado apenas com Luís XIV, o chamado “Rei Sol”, que se tornou um 
dos principais monarcas absolutistas da Europa no século XVII. Esses dois 
países apresentam características distintas daquelas que estavam se assentando 
na Inglaterra já desde o fi m do reinado de Henrique VIII. 
28
 Metodologia do Ensino de Sociologia
No desenrolar desses movimentos e na sequência das sucessões 
monárquicas após a morte de Henrique, vê-se Eduardo VI assumir o trono, como 
infante, tendo um Conselho Regencial como tutor. Nesse período fortaleceu-se 
a Igreja Anglicana, principalmente pela ação de Tomás Cranmer, o que deu as 
feições próprias de um cristianismo protestante e afastou ainda mais a Inglaterra 
da Igreja Romana. No entanto, após a morte prematura de Eduardo, ascende ao 
trono sua meia-irmã, Maria Tudor, a qual restabeleceu a primazia do catolicismo 
na Inglaterra e reverteu o processo de fortalecimento do protestantismo anglicano.Como aludido, essas alterações abruptas, feitas mais por motivos políticos 
que realmente teológicos ou de fé no âmbito religioso, levaram à criação de um 
estado de instabilidade no corpo social inglês após a morte de Henrique VIII. A 
pressão exercida pela Igreja Romana e pelo Sacro Império Germânico levou a 
um aumento da situação de instabilidade e fomentou o cenário no qual emergirá 
Elisabeth I e o fortalecimento do pensamento republicano na Inglaterra. 
Elizabeth I era protestante, promovendo um fortalecimento da Igreja que 
Henrique havia criado, no entanto, não fomentando uma perseguição muito forte 
ao catolicismo, como aquela feita no período de regência de Eduardo VI. Todavia, 
em 1570, ela é excomungada pela Igreja Romana, o que levou a um crescente 
medo de atentados contra a sua vida, principalmente pela difusão da teoria do 
tiranicídio benéfi co. A Igreja Romana tinha imenso interesse em fomentar tal clima 
de animosidade contra a rainha e, após sua excomunhão, decretou que seria 
um ato de fé o assassinato de um tirano, ou tirana, no caso de Elizabeth, que 
oprimisse o verdadeiro “corpo de Cristo”. 
A inserção de uma infl uência republicana na Inglaterra e a instabilidade na 
sucessão do trono, trouxeram uma condição de diminuição do poder monárquico 
e ao mesmo tempo uma ânsia de maior participação por parte de burgueses e 
aristocratas, como argumenta Hadfi eld (2005, p. 17):
Se o republicanismo foi tomado de alguma maneira como clara 
e coerente doutrina nos meados do século XVI na Inglaterra, 
isso se deu à convicção intelectual de que era necessário 
controlar o poder da Coroa estabelecendo meios de assegurar 
que um conjunto de conselheiros virtuosos e servis poderiam 
sempre ter o direito constitucional para aconselhar o monarca, 
e também a infl uenciar e controlar suas ações dentro dos 
limites da lei.
Esse cenário inglês será determinante para a formação do quadro geral 
do país até o século XIX, tornando-se a pedra angular da formação de uma 
constituição econômica e política própria, porém, isso não acontecia com a 
Espanha, que acabará por perder seu poderio marítimo, bem como sua força 
29
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
militar na Europa, passando a se concentrar em suas colônias e mantendo um 
forte sistema monárquico alinhado à Igreja Católica. A França, por sua vez, vê 
avançar o absolutismo de seus reis até a execução de Luís XVI por conta da 
Revolução Francesa.
A reverberação dessas disposições iniciadas ainda no século XVI poderá 
ser percebida na constituição desses países no século XIX. Ao se analisar qual 
foi o desdobramento das políticas e dos movimentos econômicos empreendidos, 
percebe-se que o quadro histórico oitocentista é refl exo da maior ou menor 
construção de um cenário propício para o surgimento da indústria e dos governos 
republicanos em cada nação.
O século XIX será o preâmbulo para a formação econômica e política da 
Europa do século XX, mas pode ser tido também como ponto de transição entre 
um modelo produtivo e político falido, baseado no latifúndio, no capitalismo 
mercantil e na monarquia, e um modelo que se tornaria hegemônico, baseado na 
industrialização e no republicanismo. A Inglaterra oitocentista é o puro exemplo 
dessa dinâmica que começou a ser forjada, como dito, no século XVI, estando 
suas organizações políticas e econômicas propícias ao surgimento desse novo 
modelo. Por outro lado, a França, a Espanha e outros países europeus não 
apresentavam tal cenário, e amargaram na verdade um quadro social conturbado 
e cheio de instabilidades políticas e econômicas, como se verá mais à frente. 
Tente pensar sobre o quadro histórico e econômico da Europa e 
América do Norte em comparação ao mesmo quadro nas Américas 
do Sul e Central no século XIX. Pode-se dizer que a diferença 
percebida nesta comparação tem refl exos na forma de organização 
produtiva que se tem nos dias atuais nas mesmas regiões? Se sim, 
qual seria a forma ideal de sanar tal diferença e suas implicações 
sociais?
Dessa forma, o cenário histórico do século XIX no qual Comte estabelece 
as bases para o surgimento e a consolidação da sociologia, é fruto de um longo 
período de formação que não pode ser entendido sem se analisar o quadro 
europeu desde o século XVI. Essa análise, como já apontado, é o substrato que 
fomenta uma visão objetiva, sistemática, da organização da sociedade, uma ideia 
30
 Metodologia do Ensino de Sociologia
de encadeamento e de processo histórico que pode ser mensurado, analisado e 
criticado de maneira clara.
Tanto a Inglaterra quanto a França serão os dois principais países no cenário 
mundial do século XIX, tendo em vista a ocorrência de amplo avanço nas ciências 
nesses dois países, bem como a ocorrência de revoluções sociais e econômicas. 
A polarização entre essas duas forças europeias será perpassada pela ascensão 
dos Estados Unidos da América, principalmente após a instauração de uma 
revolução ainda no século XVIII e uma guerra civil no século XIX. Esse cenário 
servirá de objeto de análise não só para Comte, mas ainda para autores, como 
Marx e Engels.
Assim, é necessário aprofundar um pouco mais os aspectos político e 
econômico, buscando uma composição mais acurada do quadro geral que se 
estabeleceu durante todo o século XIX, palco de surgimento e consolidação da 
sociologia. 
3.2 O CONTEXTO POLÍTICO E 
ECONÔMICO
Ao analisarmos o processo de formação histórica que culminou com 
a confi guração própria do século XIX europeu, percebemos que há um 
inegável avanço econômico, tendo em vista a transformação ocorrida desde o 
mercantilismo até o início da industrialização, bem como um direcionamento 
político, estabelecido pelas mudanças ocorridas no decorrer de três séculos. 
Esses movimentos convergiram para um cenário oitocentista bastante complexo 
e instável, sendo por isso o substrato perfeito para o surgimento de uma ciência 
social direcionada pela busca objetiva e sistemática dos mecanismos e leis que 
‘regem’ o mundo social.
O contexto histórico é direcionador do entendimento sobre o processo mais 
amplo de formação do quadro geral da sociedade europeia entre os séculos 
XVI e XIX, porém, é necessário compreender um pouco mais acuradamente 
os contextos econômico e político. Começando pela questão do contexto 
econômico, como bem apontam Hunt e Sherman (1995), pode-se afi rmar que a 
partir de 1500, com o início do mercantilismo, estabelecem-se as bases para a 
formação do sistema capitalista. No entanto, esse capitalismo mercantilista está 
voltado para o acúmulo de capital, ou seja, a acumulação de dinheiro através da 
comercialização. A incipiente produção manufatureira é expandida pelo processo 
de acumulação de capital por meio do comércio, uma vez que o benefi ciamento 
31
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
das matérias-primas vindas das colônias é um fator de aumento do capital.
Nos sistemas mercantilistas do século XVI até o século XVIII, o 
principal personagem da atividade econômica é o comerciante, 
sobretudo o comerciante exportador e “aventureiro”. É ele quem 
negocia, empresta, organiza sociedades e expedições, sendo 
encontrado nas mais diversas organizações econômicas: 
empréstimo para as grandes aventuras, sociedades por ações, 
sociedades privadas, mistas ou estatais, bancos, esses bancos 
que desde o século XV subvencionam o comércio colonial, 
as monarquias nascentes, bancos que se tornam poderosas 
dinastias, tais como as do Thurzo, dos Fugger, na Áustria, 
dos Médicis, em Florença, dos Hochstetter, em Franqueforte. 
[…] Essa atividade econômica que se desenvolve ao redor 
do comerciante imprime a característica essencial do regime 
capitalista da época, mas ao lado dela persistem atividades 
corporativas e artesanais. As corporativas, fortemente 
regulamentadas, perdem progressivamente sua força: fecham 
suas portas a elementos humanos jovens e dinâmicos, a fi m de 
conservar os privilégiosadquiridos dos mestres; fecham ainda 
suas portas aos progressos técnicos, tornando-se pesadas, 
esclerosadas, estáticas, pelos excessos de regulamentação. 
As atividades artesanais, livres, também perdem aos poucos 
sua importância: o desenvolvimento do setor capitalista 
dominado pelos comerciantes vem procurar empregados 
e operários na massa de artesãos que se tornam, assim, 
progressivamente, uma massa de salariados. Este sistema do 
capitalismo comercial e regulamentar, que se desenvolve no 
decorrer do longo período mercantilista, prepara o advento do 
capitalismo industrial – que aparecerá com a revolução técnica 
do último terço do século XVIII e se generalizará no século XX 
(HUGON, 1962, p. 97-98).
Esse cenário é um preparativo para a futura hegemonia do capitalismo 
industrial, como se verá mais à frente, porém, é preciso compreender que o 
processo de fundação do capitalismo mercantilista fi cou direcionado pelos rumos 
tomados pelas nações europeias no âmbito político, como se buscou indicar, de 
forma geral, na apreciação do contexto histórico. Ao chegarem ao século XIX, 
os países europeus não desenvolveram igual avanço de amadurecimento do 
processo capitalista de comercialização, ou mais ainda de produção. A Inglaterra 
e a França tornaram-se as nações mais infl uentes no cenário europeu e no 
quadro geral mundial. No entanto, a primeira apresentou muito mais estabilidade 
e direcionamento político, enquanto a segunda não conseguiu tal êxito.
O processo de industrialização na Inglaterra seguiu a passos largos a 
demanda de mercadorias que se tornava crescente durante o século XVIII, o que 
impulsionou o acúmulo de capital nesse país e, consequentemente, propiciou o 
avanço para a nova fase industrial do capitalismo, como nos instruem novamente 
Hunt e Sherman (1995, p. 53):
32
 Metodologia do Ensino de Sociologia
1 A história humana esteve sempre atrelada ao processo de busca 
de sobrevivência e construção de possibilidades para se ter uma 
vida mais confortável e segura, constituindo essa história em 
uma luta constante para superar os desafi os impostos pelo meio 
natural. Ao se pensar nos diversos momentos de evolução dessa 
busca, seria correto dizer: 
a) Toda a história humana foi marcada por ‘revoluções tecnológicas’, 
desde a evolução do nomadismo para a agricultura e criação de 
animais, bem como cada nova ferramenta e aparato produtivo.
b) A história produtiva só teve início quando a tecnologia pôde 
contar com fontes de energia que potencializaram a produção 
e permitiram o surgimento de diversos tipos de máquinas e 
aparatos.
c) A sobrevivência foi o objetivo primário dos primeiros modos de 
produção, no entanto, com o advento da tecnologia, o foco passa 
a ser apenas o conforto e o desenvolvimento de novas formas de 
satisfação.
Entre 1700 e 1770, os mercados estrangeiros disponíveis 
para os produtos fabricados na Inglaterra cresceram muito 
mais rapidamente que os mercados domésticos. No período 
compreendido entre 1700 e 1750, a produção das indústrias 
que atendiam o mercado doméstico cresceu 7% e a das 
indústrias de exportação, 76%. No período entre 1750-1770, 
esses índices foram de 7% e 80%, respectivamente. O rápido 
crescimento das exportações de produtos manufaturados 
ingleses foi a causa mais importante de uma transformação 
decisiva na história do homem: a Revolução Industrial.
A Revolução Industrial pode ser tida como o marco que separa o esgotamento 
do capitalismo mercantilista, a primeira fase do capitalismo, do capitalismo 
industrial, sua fase mais madura. De acordo com Watkins e Kramnick (1981), a 
expressão “Revolução Industrial” é um erro se pensada a forma como se gesta 
tal processo, ou seja, as bases que lhe deram sustentação e o cenário que lhe 
proporcionou o surgimento. Pode-se pensar que a própria euforia dos defensores 
da tecnologia produtiva como ápice da capacidade humana, levou-os a classifi car 
a incrementação da produção industrial como uma revolução que modifi caria 
toda a história da humanidade e traria uma situação de fartura e igualdade nunca 
experimentadas. 
33
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
d) Toda a história produtiva do ser humano está baseada na 
produção de tecnologias que se tornaram necessárias para a 
formação de comunidades específi cas, sendo este um diferencial 
entre as primeiras comunidades e se constitui como um defi nidor 
de nível evolutivo das sociedades até hoje.
Se a Revolução Industrial trouxe um novo incremento, exponencial, na forma 
de se produzir bens de consumo, o pensamento econômico já vinha amadurecendo 
desde o século XVIII no cenário inglês. O surgimento do liberalismo econômico, 
cuja principal voz ecoa da obra de Adam Smith, teoriza que o Estado, como ente 
político não envolvido no processo produtivo, não pode interferir nas relações 
econômicas dos indivíduos, existindo uma espécie de ‘mão invisível’ que regula 
essas relações, além dos interesses desses mesmos indivíduos em sustentar 
essa relação, ou seja, um quer comprar algo e o outro quer vender algo (SMITH, 
1996). 
Existe assim um câmbio livre, uma livre troca a partir de interesses 
econômicos entre os indivíduos, sendo essa a base do mercado. O Estado não 
pode intervir nessa relação, sendo direcionado a ele apenas a tarefa de proteger a 
posse privada e regulamentar, através de leis, a validade das relações econômicas 
entre os indivíduos para que não haja prejuízos ou crimes fi nanceiros. Estes dois 
fatores juntos, a expansão industrial a partir da Revolução Industrial, bem como 
o assentamento de um pensamento político-econômico, deram à Inglaterra a 
dianteira durante praticamente todo o século XIX. 
O mesmo não se percebe na França dos séculos XVIII e XIX, apesar de 
gozar de grande produção intelectual e científi ca, principalmente por conta de sua 
herança iluminista propagada em toda a Europa. O processo de industrialização 
foi muito mais lento e difícil na França, principalmente em vista de sua política 
centralizada na monarquia e trucada pela já adiantada disputa entre a nobreza, 
que se esvaía, e a crescente burguesia capitalista. Essa instabilidade política e o 
atraso industrial deram à França um quadro político-econômico bastante distinto 
daquele da Inglaterra.
Para se compreender essa gritante diferença, é preciso focar no século 
XVIII, principalmente em suas décadas fi nais. Como já discutido no tópico sobre 
o contexto histórico, a Revolução Americana, ocorrida ainda na década de 1770, 
trouxe um esgotamento dos cofres franceses, isso porque a França apoiou 
substancialmente essa revolução, tendo em vista a busca do enfraquecimento de 
seu principal inimigo, a Inglaterra. No entanto, a perda da colônia americana não 
34
 Metodologia do Ensino de Sociologia
impactou a Inglaterra a ponto de torná-la arrasada, ao contrário, o fortalecimento 
da industrialização ia mais forte no fi nal desse século.
No entanto, o quadro francês era bastante preocupante, com uma base 
industrial ainda incipiente, principalmente em vista do poderio ainda existente 
de uma nobreza, mesmo que decadente, a desigualdade social era alarmante. 
A política se restringia à centralização monárquica, com extrema distância do 
rei e a nobreza com relação ao povo e à burguesia capitalista. Esse quadro 
culmina com a insurgência popular, seguindo a infl uência iluminista e a própria 
base da Revolução Americana apoiada pela França, em 1789. A Revolução 
Francesa atinge de morte o decrépito sistema monárquico, junto à própria 
nobreza latifundiária. Esses acontecimentos franceses marcam o fi nal do século 
XVIII com profundas rupturas políticas, sociais e econômicas. A essa agitação, 
seguem-se acontecimentos ainda mais tenebrosos e marcantes, em 1792, 
ainda dentro dos desdobramentos da Revolução de 1789, o monarca Luís XVI é 
executado juntamente a sua esposa. O ‘período do terror’, que leva a França à 
total instabilidade, faz vítimas em diversos ramos, atémesmo na ciência, como 
foi o caso de Lavoisier, que foi executado por ser o responsável pela coleta de 
imposto do rei. No entanto, após o fracasso da Revolução, vê-se a ascensão de 
Napoleão, sua sanha imperialista que varre a Europa, a derrota para a Inglaterra, 
o retorno da monarquia, posteriormente o retorno de um Bonaparte ao poder. 
Já em meados do século XIX, outra revolução, essa menos duradoura 
promovida pelo proletariado, assola Paris. Segundo Losurdo (2015), o biênio 
revolucionário de 1848-1849, mesmo que rapidamente sufocado pelo poder 
do capital e pela burguesia dominante, representou uma base sólida para o 
fortalecimento do espírito revolucionário que continuaria a crescer até as primeiras 
décadas do século XX. O próprio Marx assiste a essa insurreição proletária 
em meados do século XIX e prevê o avolumamento das revoluções em toda a 
Europa, como segue:
O húngaro não será livre, nem o polonês nem o italiano, 
enquanto os trabalhadores permanecerem escravos! Por fi m, 
em virtude da vitória da Santa Aliança, a Europa assumiu 
uma forma que fazia cada novo levante proletário na França 
coincidir diretamente com uma guerra mundial. A nova 
revolução francesa é obrigada a abandonar imediatamente o 
território nacional e a conquistar o terreno europeu, o único 
em que será possível realizar a revolução social do século XIX 
(MARX, 2012, p. 65).
Esse quadro político reverberará na obra de praticamente todos os 
pensadores que se voltaram para a questão social nesse período e no século 
posterior. Não esqueçamos que o próprio Comte vê essas agitações e fortalece 
ainda mais sua percepção de que é necessário pensar uma organização social 
35
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
A obra “A riqueza das nações: investigações sobre sua natureza 
e suas causas”, por Adam Smith, é tida como a peça fundamental 
de estabelecimento da moderna economia política. Nessa obra, o 
autor aborda o tema da geração de riqueza, os processos de livre 
comércio e o estabelecimento do chamado liberalismo econômico. É 
uma leitura fundamental para se entender o pensamento econômico 
liberal dominante nos séculos XIX e XX (SMITH, 1996). 
que supere esse dualismo de classes, principalmente em vista de uma união 
da sociedade como um todo. Comte será, para os pensadores sociológicos de 
esquerda, o arauto de uma visão conciliatória, reacionária, diante da efervescência 
revolucionária desse período, mas como já se discutiu, sua visão era a de que 
a opinião do povo, sempre crítica e anárquica, fazia parte ainda de um estado 
metafísico da ciência política, assim como a opinião do rei (nobreza) representava 
o estado teológico.
Ao fi nal do século XIX, olhando para todo o quadro político da França 
oitocentista, alguns autores viram a marca do atraso e da insanidade, caso 
de Gustave LeBon (2008), que em 1895 publica sua obra “Psicologia das 
multidões”, na qual ele cria uma explicação psicopatológica sobre os processos 
revolucionários, afi rmando ser fruto da insanidade mental e da barbárie. Ele 
refere-se ao período que vai de 1789 a 1871, desde a Revolução Francesa até a 
Comuna de Paris. 
No entanto, esse importante período da história europeia e mundial, que 
compreende o fi m do século XVIII e todo o desenrolar do século XIX, será o 
nascedouro das principais correntes sociológicas, assim como o nascimento da 
própria sociologia enquanto ciência social a partir do pensamento de Comte. O 
papel da Inglaterra será central ao ditar o andamento da evolução econômica 
e ao prover o mundo com o pensamento dos economistas clássicos, como já 
mencionado, Adam Smith, David Ricardo, entre outros. 
A França será o berço do fervor jacobino e da evolução do pensamento 
socialista utópico, culminando no socialismo científi co de Marx e Engels e dando as 
bases empíricas para a avaliação social dos pensadores de esquerda. O intricado 
e volúvel contexto político-econômico da Europa o século XIX, principalmente na 
França e Inglaterra, é bastante difícil de ser resumido e analisado, no entanto, é 
primordial entendermos que ele foi o divisor de águas para a construção de uma 
36
 Metodologia do Ensino de Sociologia
nova ciência moderna, a sociologia, sendo também o ‘laboratório’ para formulação 
e desenvolvimento de suas principais linhas de pensamento. No próximo tópico, 
analisaremos as principais linhas de pensamento a partir dos chamados clássicos 
da sociologia.
4 OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA
Caro acadêmico, assim como em todas as demais ciências, naturais ou 
humanas, a sociologia passou por um período de fundamentação e consolidação 
de suas bases teóricas e práticas. Esse processo de amadurecimento e 
delimitação dos diversos ramos de abrangência da discussão sociológica foi 
fomentado por pensadores de extrema agudeza teórica e ampla infl uência 
prática. Nomes, como o de Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, tornaram-se 
clássicos dentro da disciplina da sociologia.
Quando nos referimos a esses pensadores como clássicos, ressaltamos a 
importância deles na construção teórica da sociologia, mas também indicamos 
que eles se tornaram catalisadores do pensamento sociológico. Praticamente 
todas as correntes sociológicas surgidas nos séculos XIX e XX tiveram infl uência 
do pensamento desses autores, na concórdia ou na discórdia.
 
Assim, ao buscarmos demonstrar o cerne teórico da obra desses pensadores, 
abrimos um amplo e profícuo caminho para a discussão da sociologia enquanto 
disciplina e sua importância na construção das ciências humanas a partir do século 
XIX. Mesmo divergindo em diversos pontos nevrálgicos, estes três autores, Marx, 
Durkheim e Weber, comungam de diversos pontos em comum, principalmente 
com relação às investigações que eles empreenderam sobre a realidade industrial 
capitalista e sua infl uência na organização social da sociedade contemporânea. 
Além disso, refl etiam também o ideal científi co que deu surgimento à própria 
sociologia e a impulsionou a partir da obra de Comte.
Cada qual terá sua construção teórica impulsionada pelas prementes 
necessidades de se discutir a realidade social surgida a partir da Revolução 
Industrial, as ressonâncias das diversas revoluções ocorridas entre os séculos 
XVIII e XIX, bem como as aparentemente insuperáveis questões do futuro da 
organização social no nascente século XX. Diante dessas colocações, parece 
bastante prudente delimitar os pontos centrais do pensamento de cada um desses 
três autores, tendo a consciência de que esse movimento é apenas sintético, 
dada a enormidade da obra de cada um deles e a ressonância que tiveram na 
construção de várias correntes teóricas dentro da sociologia e do pensamento 
político ocidental.
37
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA Capítulo 1 
4.1 ÉMILE DURKHEIM
O pensamento de Émile Durkheim (1858-1917) é caracterizado pela 
preocupação em se formular uma compreensão dos fenômenos sociais e suas 
diversas abordagens, partindo para a construção de sua própria teoria sobre a 
formação de tais fenômenos e a maneira como eles infl uenciam a organização 
social. Sua obra refl ete a centralidade da discussão sobre o processo de 
industrialização pelo qual a sociedade ocidental passava desde o século XVII, 
marcadamente o século XIX, pode-se dizer que Durkheim viu surgir o capitalismo 
industrial e com ele todas as mazelas trazidas para o convívio social. 
O cerne de suas primeiras pesquisas está centrado na demonstração de 
que os fatos sociais são os meios pelos quais a sociologia pode vislumbrar os 
caminhos traçados pela confi guração social na história do homem, sendo eles a 
causa dos fenômenos sociais. “A concepção da sociologia de Durkheim se baseia 
em uma teoria do fato social. Seu objetivo é demonstrar que pode e deve existir 
uma sociologia objetiva e científi ca, conforme o modelo das outras ciências, tendo 
por objeto o fato social” (ARON, 1987, p. 336). Essa clara infl uência cientifi cista, 
baseada na busca empírica

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