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FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL O termo “pedagogia” surgiu na Grécia, mas, ao passar para a língua latina, deu origem a “paedagogia”, que significa instrução, e “paedagogus”, que significava pedagogo, mestre, guia, aquele que conduz. Muitos foram os sentidos dados ao termo pedagogia. Contudo, a partir do século XIX, o conceito se aproximou mais das práticas conscientes dentro do processo educativo. Percebe-se que, ao longo da história da pedagogia, esse sentido foi se constituindo, tendo como mola propulsora a necessidade cada vez maior de formar professores para atuar de forma competente no desenvolvimento e na aprendizagem das crianças. A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (1996), definiram as mudanças na educação básica. Assim, tornou-se necessário redesenhar a formação e o papel dos professores na educação brasileira. Há muito a ser aperfeiçoado, e o momento que estamos vivendo evidencia essa necessidade. Neste capítulo, você vai estudar o percurso histórico que constituiu a formação do pedagogo e o seu atual campo de atuação. Além disso, você vai verificar como a formação inicial e continuada interferem na vida profissional do pedagogo. AULA 03 FORMAÇÃO DE PROFESSORES Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Definir as bases legais e atualizadas que fundamentam a formação e a atuação do profissional pedagogo. • Identificar a legislação que compreende a formação inicial e continuada do professor para a Educação Básica. • Reconhecer a importância de a formação do pedagogo estar em consonância com a Base Nacional Comum Curricular. 3 A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO Os professores que hoje ensinam as crianças e os jovens nas primeiras etapas da educação básica se formam nos cursos de Pedagogia. Segundo Saviani (2020, p. 30), a primeira vez que o termo “pedagogia” apareceu no Brasil foi em 1826, com a apresentação do Projeto de Lei “[...] que pretendia instituir um sistema completo de educação distribuído em quatro graus, sendo o primeiro, relativo ao ensino elementar, isto é, aos conhecimentos mínimos necessários a todos indistintamente”. Assim, a “[...] Lei das Escolas de Primeiras Letras promulgada em 15 de outubro de 1817 prescrevia, no artigo 1º: ‘Haverão [sic] escolas de primeiras letras, que se chamarão pedagogias, em todas as cidades, vilas e lugares populosos […]’” (SAVIANI, 2020, p. 31). Como em muitos países europeus, a formação inicial de professores no Brasil era feita nas Escolas Normais, sendo que a primeira fundada no país na data de 1835 se situava na cidade de Niterói. Observa-se que houve um atraso de quase meio século em relação à formação de professores na Europa, pois a primeira Escola Normal de que se tem registro foi aberta na França, na cidade de Paris, em 1795. Segundo Saviani (2020, p. 27), nas Escolas Normais Primárias europeias, predominava como modelo de formação o “[...] modelo pedagógico-didático [...] este modelo considera que a formação propriamente dita dos professores só se completa com o efetivo preparo pedagógico-didático” (SAVIANI, 2020, p. 32). Já no Brasil, o currículo priorizava os conteúdos a serem ensinados na escola elementar. Esse direcionamento estava previsto na Lei Provincial (Ato nº. 10), de 4 de abril de 1835. Ao determinar os conteúdos a serem ensinados às crianças, definiam-se os moldes da formação dos professores. Isso é observado no Decreto nº 7.247, de 19 de abril de 1879, da província do Rio de Janeiro, no qual fica determinado que o ensino primário passa a adotar o método intuitivo, como descreve Saviani (2020, p. 33): É o que se evidencia no enunciado da disciplina “prática do ensino intuitivo ou lições de coisas” (Art. 9º) do currículo da Escola Normal, bem como no componente disciplinar “noções de coisas” (Art. 4º) do currículo da escola primária. E o substantivo “pedagogia” assim como o adjetivo “pedagógico” já aparecem cada um uma vez no texto do decreto. Trata-se do inciso 10 do artigo 8º, onde se lê: “Fundar ou auxiliar bibliotecas e museus pedagógicos nos lugares onde houver escolas normais” e do § 1º do artigo 9º, onde se fixa “pedagogia e prática do ensino primário em geral” como uma das disciplinas do currículo da Escola Normal. Saviani (2020) destaca que o termo “pedagógico” é, na verdade, um adjetivo para bibliotecas e museus, e o substantivo “pedagogia” é uma indicação da atividade prática, não caracterizando o sentido de teoria da educação. Em 1890, na província de São Paulo, ocorreu a maior reforma da instrução pública, tendo como preocupação a boa formação dos professores e uma crítica às Escolas Normais existentes. Dessa forma, como destaca Saviani (2020, p. 35): A reforma foi marcada por dois vetores: enriquecimento dos conteúdos curriculares anteriores; e ênfase nos exercícios práticos de ensino, cuja marca característica foi a criação da Escola-Modelo anexa à Escola Normal, na verdade a principal inovação da reforma. De fato, foi por meio dessa escola de aplicação que o modelo pedagógico-didático se tornou a referência para a formação de professores propiciada pelas Escolas Normais. Esse modelo, que também pode ser chamado de escola de professores, evidenciou que era necessário garantir a preparação didático-pedagógica na formação de professores de forma deliberada e sistemática. Essa ideia se expandiu para todas as demais províncias. Dessa reforma, surgiu a primeira tentativa para elevar os estudos ao nível superior, A Lei n. 88, de 8 de setembro de 1892, instituiu o curso superior da Escola Normal organizado em duas seções, a científica e a literária, com dois anos de duração, tendo como finalidade a formação de professores para as Escolas Normais e ginásios. E “no regulamento da Escola Normal de São Paulo, aprovado em 9 de outubro de 1896, o curso superior reaparece apenas como um dos cursos da Escola Normal de São Paulo”, tendo como objetivo a formação de professores para o ensino secundário (SAVIANI, 2020, p. 35). Foi por meio do Decreto nº. 19.851, de 11 de abril de 1931, que se estabeleceu o Estatuto das Universidades Brasileiras, que se previu entre os cursos superiores o de educação. Para Saviani (2020, p. 36), foi um passo importante para a criação do “espaço acadêmico da pedagogia” — ou seja, a educação seria pensada no ensino superior, dentro das universidades onde, na época, só se valorizavam os cursos tradicionais de Direito, Medicina e Engenharia. No entanto, pela exigência do estatuto, foi instituída no Rio de Janeiro apenas a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras como espaço de formação de professores. Esse estatuto foi uma vitória, ainda que não se concretizasse o curso de Pedagogia, pois passaram a ser valorizados os estudos de educação em nível superior. Com a criação da Universidade de São Paulo (USP), em 1934, formou-se a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em São Paulo, como “[...] instituição integradora de todos os conhecimentos humanos” e que mantinha “disciplinas comuns aos demais institutos universitários para a formação dos professores das escolas secundárias e das instituições de ensino superior” (SAVIANI, 2020, p. 41). O espaço de educação da USP nascia, na verdade, em outro endereço, na Escola Normal da Praça, [...] o antigo Instituto Caetano de Campos, ao qual ficaram subordinados administrativa e tecnicamente, como institutos anexos, o Curso Complementar; a Escola Secundária; a Escola Primária; e o Jardim de Infância, “destinados à experimentação, demonstração e prática do ensino, e ao estágio profissional dos alunos da Escola de Professores”, conforme se estipulou no artigo 5º do Decreto Estadual n. 6.283, de 25 de janeiro de 1934, que criou a USP (SÃO PAULO, 2000, p. 211 apud SAVIANI, 2020, p. 42). O Decreto nº. 4.888, de 12 de fevereiro de 1931, transformou a Escola Normal da Praçaem instituto pedagógico, por meio de Lourenço Filho, reorganizando o ensino normal com um “ideário renovador”. Isso porque se buscava uma formação aos professores primários de elevada qualidade, em que era possível vivenciar a escola em sua complexidade enquanto se preparava para atuar nela. Isso era inovador de tal forma que se podia afirmar, segundo Monarcha, que “[...] Lourenço Filho e Fernando Azevedo estariam inaugurando uma Escola Normal Superior” (MONARCHA, 1999 apud SAVIANI, 2020, p. 44). Segundo Gatti et al. (2019, p. 22): O efeito dos institutos de educação será contribuir para um novo padrão de escolas normais em nível secundário (hoje médio) e, com sua elevação ao nível universitário, no caso do Rio de Janeiro e de São Paulo, dão origem na Universidade do Distrito Federal e na Universidade de São Paulo à área de estudos relativos à Educação e aos cursos de Pedagogia. Esse movimento, construído passo a passo, devido à necessidade de qualificação na formação de professores, acabou por desencadear, em meio ao Estado Novo, pelo Decreto-Lei nº. 1.190, de 04 de abril de 1939, a organização da Faculdade Nacional de Filosofia. Esta se estruturava em quatro seções: filosofia, ciências, letras e pedagogia, acrescentando uma seção especial que era, na verdade, a de didática. Essas seções ofereciam diferentes cursos; contudo, as seções de pedagogia e didática abrigavam apenas o curso com o nome da seção. Segundo Saviani (2020), foi aí que nasceu o curso de Pedagogia. A Faculdade Nacional de Filosofia, em suas diferentes seções, oferecia cursos em duas modalidades, bacharelado e licenciatura, inclusive a pedagogia. No entanto, os cursos iniciavam com três anos de bacharelado. Somente ao final, caso os alunos quisessem atuar na docência, como professores, deveriam cursar a seção de didática, para receberem o grau de licenciados. Assim, o curso de pedagogia era: [...] lugar de formação de “técnicos em educação”. Estes eram, à época, professores primários que realizavam estudos superiores em Pedagogia para, mediante concurso, assumirem funções de administração, planejamento de currículos, orientação a professores, inspeção de escolas, avaliação do desempenho dos alunos e dos docentes, de pesquisa e desenvolvimento tecnológico da educação, no Ministério da Educação, nas secretarias dos estados e dos municípios (BRASIL, 2005, p. 2). Foi somente com a Reforma Universitária, a partir da Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, que houve uma nova regulamentação para o curso de Pedagogia, que resultou na Resolução nº. 02, de 12 de maio de 1969, do Conselho Federal de Educação (CFE), na qual foram estabelecidos os conteúdos e a duração do curso. Assim, a formação de professores teve seus conteúdos divididos em duas frentes: uma base comum a todos e uma parte diversificada, que continha as habilitações, como orientação educacional, administração escolar, supervisão escolar e inspeção escolar. Apesar de inúmeras discussões e movimentos acerca dos conteúdos e da carga horária, o curso de pedagogia não se alterou até 1996, com a publicação da LDB. Definindo a educação básica e as suas principais características, a LDB acabou impulsionando, primeiramente, a publicação da Resolução do Conselho Pleno (CP) nº. 01, de 30 de setembro de 1999, que criava os Institutos Superiores de Educação, com o intuito de promover as formações inicial, continuada e complementar de professores para atuarem na docência da educação básica. Em seguida, houve a publicação do Decreto nº. 3.276, de 6 de dezembro de 1999, que dispunha sobre a formação em nível superior de professores para atuar na educação básica. Nele, ficou estabelecido (no art. 5º) que o Conselho Nacional de Educação (CNE) definiria as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores, o que ocorreu com a publicação da Resolução CNE/CP nº. 01, de 15 de maio de 2006, revogando, quase 50 anos depois de sua publicação, a Resolução CFE nº. 02/1969. Contudo, as mudanças não pararam por aí. Em 2015, o CNE publicou a Resolução nº. 02, de 1 de julho de 2015, que definia as diretrizes curriculares nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Essa Resolução não revogou as diretrizes do curso de Pedagogia, mas acrescentou a esse curso e a todos os demais cursos de formação de professores aspectos que definiam princípios, fundamentos, dinâmica formativa e procedimentos para a formação inicial e continuada. 3.1 A formação do pedagogo e a sua atuação A formação do pedagogo não se estabeleceu da noite para o dia — foi um longo processo de construção que, além de intervir na própria formação docente, também modificou o modo como a sociedade foi entendendo a educação e o papel do pedagogo. A formação inicial é compreendida, atualmente, como um processo de construção de identidade que articula o profissional formado no curso de pedagogia com a formação inicial de docentes — tanto que as políticas públicas delimitaram essas questões em diferentes resoluções. O pedagogo, ao se formar, segundo o art. 2º da Diretriz Curricular Nacional (DCN) do Curso de Pedagogia, está habilitado a atuar na docência da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, nos cursos de ensino médio, na modalidade normal, em cursos profissionais na área de serviço e apoio escolar e na gestão escolar (BRASIL, 2006). A DCN prevê que o pedagogo poderá atuar em quaisquer áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos, o que amplia os espaços de atuação, como a participação no “[...] planejamento, gestão e avaliação dos estabelecimentos de ensino, de sistemas educativos escolares, bem como na organização e desenvolvimento de programas não escolares”, conforme definido no Parecer CNE/CP nº. 05/2005 (BRASIL, 2005, documento on-line). Podemos destacar, a partir desse conjunto citado na legislação, a atuação do pedagogo como coordenador pedagógico, diretor de escola e supervisor de ensino. Podemos ainda ampliar esse espaço de atuação, considerando que o pedagogo poderá, entre outras funções: • Orientar a produção e revisão de materiais didáticos, sejam eles livros, brinquedos, jogos, games, entre outros; • Desenvolver programas de formação em empresas e corporações, bem como em instituições do terceiro setor, em hospitais, bibliotecas, museus e espaços diversos que compreendam ações educativas, o que inclui programas de rádio, TV e imprensa; • Elaborar questões para as avaliações em larga escala, como a Provinha Brasil e outras; • avaliar relatórios educacionais; • Desenvolver pesquisas na sua área de atuação. Observa-se que há um vasto campo de atuação já conquistado pelos pedagogos, e outras formas de atuação que vêm surgindo a cada mudança nos espaços produtivos, como tutor para a educação a distância, criador de conteúdo para sites e blogs na área da educação, entre outros. A Resolução CNE/CP nº. 01/2006, ao definir que o pedagogo poderá atuar em qualquer espaço que preveja os conhecimentos pedagógicos, entende, como descrito no § 2º do art. 2º, que o curso de pedagogia propiciará aos seus egressos: [...] por meio de estudos teórico-práticos, investigação e reflexão crítica, [...] I – o planejamento, execução e avaliação de atividades educativas; II – a aplicação ao campo da educação, de contribuições, entre outras, de conhecimentos como o filosófico, o histórico, o antropológico, o ambiental- ecológico, o psicológico, o linguístico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural (BRASIL, 2006, documento on-line). Sendo a pedagogia uma área ligada diretamente à formação humana, torna- se necessário que esse campo possa ser compreendido dentro das demais áreas do conhecimento. Isso, porque o objetivo dos estudos de pedagogia é orientaros pedagogos na “[...] observação, análise, execução e avaliação do ato docente e de suas repercussões ou não em aprendizagens, bem como orientar práticas de gestão de processos educativos [...]”, sendo esses conhecimentos considerados centrais na formação do pedagogo (BRASIL, 2005, documento on-line). Nesse sentido, é importante compreender as competências que devem ser construídas pelos alunos ao longo do curso de Pedagogia e que definem a sua competência profissional. De acordo com o art. 5º da Resolução CNE/CP nº. 01/2006 (BRASIL, 2006, documento on-line), os egressos do curso de Pedagogia deverão estar aptos a: • atuar com ética e compromisso para uma sociedade justa, equânime e igualitária; • contribuir para o desenvolvimento integral de crianças de zero a cinco anos; • fortalecer as aprendizagens de crianças, jovens e adultos; • promover as aprendizagens a todos e nas diversas etapas de escolaridade; • reconhecer as necessidades dos educandos; • ensinar os conteúdos previstos nas diversas áreas de forma interdisciplinar; • relacionar as linguagens dos meios de comunicação à educação com domínio das novas tecnologias de informação e comunicação; • promover e facilitar a relação escola-família; • investigar e intervir nas realidades complexas; • respeitar as diferenças de forma consciente; • trabalhar em equipe de forma dialógica com todas as áreas; • participar plenamente da gestão das instituições escolares; • participar da gestão em espaços escolares e não escolares; • produzir conhecimentos que promovam o sucesso na área educacional; • utilizar com competência os instrumentos de construção de conhecimento pedagógico e científico; • estudar e aplicar a legislação educacional. Além da formação específica no curso de Pedagogia, é preciso que o profissional se oriente por duas outras resoluções: a Resolução CNE/CP nº. 02/2019, a DCN da formação inicial para professores, e a Resolução CNE/CP nº. 01/2020, a DCN da formação continuada. Ambas articulam a formação do professor com a BNCC. 3.2 A formação inicial e continuada de professores no Brasil Você já deve ter percebido que a formação de professores não termina. Assim, é fundamental compreender como esse percurso de aprendizagem está previsto nas políticas públicas, desde a graduação e ao longo de toda a atuação profissional. A Resolução CNE/CP nº. 02/2019 “Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC- Formação)” (BRASIL, 2019, documento on-line). Há uma preocupação na política educacional de que os professores tenham desenvolvidas competências profissionais que contribuam para a consolidação das aprendizagens essenciais previstas na BNCC para a educação básica. Por isso, essa Resolução também institui a BNC-Formação. A BNC-formação define 10 competências gerais e específicas (Quadro 1), sendo estas organizadas em três dimensões, que são interdependentes e devem integrar-se e complementar-se na ação docente. Quadro 1 – Competências específicas em suas três dimensões Conhecimento Profissional Prática Profissional Engajamento Profissional • Dominar objetos de conhecimento e saber ensiná-los; • Demonstrar conhecimentos sobre os estudantes e como eles aprendem; • Reconhecer os contextos da vida dos estudantes; • Conhecer a estrutura e a governança dos sistemas educacionais. • Planejar as ações de ensino que resultem em efetivas aprendizagens; • Criar e saber gerir os ambientes de aprendizagem; • Avaliar o desenvolvimento do educando, a aprendizagem e o ensino; • Conduzir as práticas pedagógicas dos objetos do conhecimento, as competências e as habilidades. • Comprometer-se com o próprio desenvolvimento profissional; • Comprometer-se com a aprendizagem dos estudantes e colocar em prática o princípio de que todos são capazes de aprender; • Participar do Projeto Pedagógico da escola e da construção de valores democráticos; • Engajar-se, profissionalmente, com as famílias e com a comunidade, visando melhorar o ambiente escolar. Fonte: adaptado de Brasil, 2019. As competências específicas para a formação inicial de professores possuem estreita relação com as competências para a formação dos pedagogos, e ambas devem compor a formação docente, sem qualquer hierarquia e com total integração. A formação inicial do professor visa garantir o pleno desenvolvimento dos alunos da educação básica em todas as suas etapas e modalidades. Dessa forma, são fundamentos: • a sólida formação básica com conhecimentos científicos e sociais do trabalho de sua competência; • a associação entre teorias e práticas pedagógicas; e • o aproveitamento da formação e de experiências anteriores, desenvolvidas ao longo da escolarização, em outras atividades docentes ou na área da educação. Enfatiza-se no parágrafo único do art. 5º da Resolução CNE/CP nº. 02/2019 que todos os processos de ensino e de aprendizagem devem alicerçar-se em conhecimentos científicos, de modo a favorecer o desenvolvimento dos saberes e promover o acesso ao conhecimento. A política de formação de professores para a educação básica, articulada à BNCC, enfatiza os princípios que mostram que o Estado se compromete com a formação docente para que se fortaleça uma educação básica de qualidade. Tais princípios são listados no art. 6º da Resolução CNE/CP nº. 02/2019 (BRASIL, 2019, documento on-line): Art. 6º A política de formação de professores para a Educação Básica, em consonância com os marcos regulatórios, em especial com a BNCC, tem como princípios relevantes: I - a formação docente para todas as etapas e modalidades da Educação Básica como compromisso de Estado, que assegure o direito das crianças, jovens e adultos a uma educação de qualidade, mediante a equiparação de oportunidades que considere a necessidade de todos e de cada um dos estudantes; II - a valorização da profissão docente, que inclui o reconhecimento e o fortalecimento dos saberes e práticas específicas de tal profissão; III - a colaboração constante entre os entes federados para a consecução dos objetivos previstos na política nacional de formação de professores para a Educação Básica; IV - a garantia de padrões de qualidade dos cursos de formação de docentes ofertados pelas instituições formadoras nas modalidades presencial e a distância; V - a articulação entre a teoria e a prática para a formação docente, fundada nos conhecimentos científicos e didáticos, contemplando a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, visando à garantia do desenvolvimento dos estudantes; VI - a equidade no acesso à formação inicial e continuada, contribuindo para a redução das desigualdades sociais, regionais e locais; VII - a articulação entre a formação inicial e a formação continuada; VIII - a formação continuada que deve ser entendida como componente essencial para a profissionalização docente, devendo integrar-se ao cotidiano da instituição educativa e considerar os diferentes saberes e a experiência docente, bem como o projeto pedagógico da instituição de Educação Básica na qual atua o docente; IX - a compreensão dos docentes como agentes formadores de conhecimento e cultura e, como tal, da necessidade de seu acesso permanente a conhecimentos, informações, vivência e atualização cultural; e X - a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte, o saber e o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas. Com base nesses princípios, a Resolução determina que os cursos destinados à formação inicial de professores para a educação básica tenham em seus fundamentos pedagógicos toda a organização e o amparo necessários para uma formação sólida, de modo a tornaresses profissionais aptos e competentes para formarem as crianças e os jovens na educação básica em todas as áreas do conhecimento. Nessa prática, devem ser usadas estratégias e metodologias inovadoras, com domínio de todos os processos educacionais apoiados no conhecimento científico, e todas as decisões pedagógicas devem ser tomadas com base em evidências. Para os cursos de licenciatura, e aqui destacamos o curso de Pedagogia, essa Resolução destaca algumas temáticas que são indissociáveis da formação docente para atuar na educação básica, em especial na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, que veremos mais adiante. A formação continuada e a BNC-Continuada, apresentadas na Resolução CNE/CP nº. 01/2020, são definidas com orientações detalhadas para a implementação em todas as modalidades e cursos de formação de professores para a educação básica. Essa Resolução adota 10 competências gerais, as mesmas descritas na BNC-Formação, e também prevê as três dimensões para as competências específicas. No entanto, ao desenvolvê-las, amplia as habilidades, evidenciando a ideia de progressão na formação docente ao longo da vida. O art. 9º da Resolução CNE/CP nº. 01/2020 define os cursos e programas para a formação continuada, destacando que podem ser “[...] atividades formativas diversas, presenciais, a distância, semipresenciais, de forma híbrida, ou por outras estratégias não presenciais” (BRASIL, 2020, documento on-line). Considerando as necessidades formativas, tais atividades poderão ocorrer em cursos de atualização com carga horária mínima de 40 horas, em cursos e programas de extensão, em cursos de aperfeiçoamento com mínimo de 180 horas de carga horária, em cursos de pós graduação lato sensu com o mínimo de 360 horas de carga horária e em cursos e programas de mestrado acadêmico ou profissional e de doutorado, que são cursos de pós graduação stricto sensu. Espera-se que os docentes que ministrarão essa formação continuada nas instituições sejam professores com experiência nas redes escolares, para que haja uma ponte orgânica e contextualizada entre o ensino superior e a educação básica. Ainda, os artigos 11, 12, 13 e 14 que dispõe sobre as Diretrizes curriculares para a formação continuada de professores para a educação básica (BRASIL, 2020) apresentam as políticas de formação ao longo da vida e em serviço, sendo uma das inovações a relação de mentoria ou tutoria do professor mais experiente acompanhando a formação daquele que inicia sua trajetória, atendendo ao parágrafo único do art. 61 da LDB. Há, tanto na BNC-Formação quanto na BNC-Formação Continuada, uma forte preocupação em manter o constante diálogo entre a formação docente nas instituições formadoras e a vivência nos processos escolares. Isso porque esse diálogo possibilita maior qualificação no atendimento à educação básica, como previsto nos respectivos fundamentos e objetivos. 3.3 A formação docente e a BNCC Quando analisamos cuidadosamente a formação docente — inicial e continuada — e a sua articulação com a BNCC, podemos observar a estreita relação entre a ação pedagógica de ensino e a ampliação ao acesso dos alunos da educação básica a uma educação de qualidade. Por isso, a formação docente não pode se restringir ao espaço acadêmico, pois a sua vivência profissional se dará na complexidade e na especificidade das escolas da educação básica. Por mais que se discuta quantos são os aspectos formativos que compõem a escola, a qualidade da educação se inicia com a figura do professor, como defendem Gatti et al. (2019, p. 43): Qualquer que seja o tipo de relação estabelecida e as formas dos processos educativos, o formador é figura imprescindível. Os insumos, a infraestrutura, são condições necessárias, mas, não suficientes para a implementação de processos formativos. Terceiro aspecto a integrar essa forma de configurar qualidade educacional é a concepção de que o núcleo do processo educativo é a formação das pessoas, seja como indivíduos sociais e/ou como profissionais. Somente por meio das vivências é possível integrar-se à realidade do trabalho de formação das crianças e jovens no dia a dia da escola. Assim, podemos compreender o intuito da atual política pública, que define no art. 15 da Resolução CNE/CP nº. 02/2019 (BRASIL, 2019), que a carga horária de 800 horas, destinada às atividades práticas e ao estágio supervisionado, deve ser aplicada de forma presencial nos espaços escolares, tendo como suporte o apoio do professor da instituição formadora e de um professor experiente da escola em que o aluno realizará suas atividades. Assim, acredita-se ser possível concretizar a união entre teoria e prática e, consequentemente, entre a formação oferecida na graduação e a formação realizada nas escolas — o diálogo entre os saberes acadêmicos e os saberes escolares. Esse diálogo pode ser observado nas 10 competências gerais docentes propostas na BNC- Formação e na BNC-Formação Continuada e nas 10 competências gerais para a educação básica, apresentadas no Quadro 2. Quadro 2 – Competências gerais apresentadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na BNC – Formação e na BNC – Formação Continuada Competências gerais para educação básica — BNCC Competências gerais docentes — BNC-Formação e BNC Formação Continuada 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital, para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 1. Compreender e utilizar os conhecimentos historicamente construídos para poder ensinar a realidade, com engajamento na aprendizagem do estudante e na sua própria aprendizagem, colaborando para a construção de uma sociedade livre, justa, democrática e inclusiva 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 2. Pesquisar, investigar, refletir, realizar a análise crítica, usar a criatividade e buscar soluções tecnológicas para selecionar, organizar e planejar práticas pedagógicas desafiadoras, coerentes e significativas 3. Desenvolver o senso estético para reconhecer, valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também para participar de práticas diversificadas da produção artístico- cultural. 3. Valorizar e incentivar as diversas manifestações artísticas e culturais, tanto locais quanto mundiais, e a participação em práticas diversificadas da produção artístico- - cultural, para que o estudante possa ampliar seu repertório cultura 4. Utilizar diferentes linguagens — verbal (oral ou visual-motora, como Libras) e escrita, corporal, visual, sonora e digital —, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos, em diferentes contextos, e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 4. Utilizar diferentes linguagens — verbal, corporal, visual, sonora e digital — para se expressar e fazer com que o estudante amplie seu modelo de expressão, ao partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos, produzindo sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação, de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolverproblemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas docentes, como recurso pedagógico e como ferramenta de formação, para comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e potencializar as aprendizagens. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade 6. Valorizar a formação permanente para o exercício profissional, buscar atualização na sua área e afins, apropriar-se de novos conhecimentos e experiências que lhe possibilitem aperfeiçoamento profissional e eficácia e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania, ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns, que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável, em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado consigo mesmo, com os outros e com o planeta 7. Desenvolver argumentos com base em fatos, dados e informações científicas para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns, que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental, o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, de forma harmônica, e a cooperação, fazendo-se respeitar, bem como promover o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza, para promover ambiente colaborativo nos locais de aprendizagem. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões, com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. 10. Agir e incentivar, pessoal e coletivamente, com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência, a abertura a diferentes opiniões e concepções pedagógicas, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários, para que o ambiente de aprendizagem possa refletir esses valores. Fonte: Adaptado de Brasil (2017). Observa-se que a BNC-Formação, a BNC-Formação Continuada e a BNCC partem do mesmo núcleo de competências gerais. Todas elas se articulam, sendo que, aos alunos, são designadas competências a serem desenvolvidas, e aos docentes, são designadas competências a serem desenvolvidas para ensinar e promover a aprendizagem de seus alunos, dentro do previsto na BNCC. Esse quadro nos evidencia a importância de a formação docente estar articulada com a BNCC, pois é preciso que as competências a ser desenvolvidas caminhem na mesma direção — ou seja, o que se espera é uma educação de qualidade ao longo de toda a vida. A BNCC é, como descrito no art. 1º da Resolução CNE/CP nº. 02/2017, um “[...] documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo das aprendizagens essenciais como direito das crianças, jovens e adultos no âmbito da educação básica escolar [...]” (BRASIL, 2017, documento on-line). Assim, a organização dos currículos prevê que os conteúdos sejam desenvolvidos a partir de metodologias e estratégias que possam promover a sua realização. Esses conhecimentos são encontrados na formação do pedagogo e na formação inicial docente (BNC-Formação). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CNE/CP nº 5/2005. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia. Brasília: MEC, 2005. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia. Brasília: MEC, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CP n° 2, de 22 de dezembro de 2017. Institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum Curricular, a ser respeitada obrigatoriamente ao longo das etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação Básica. Brasília: MEC, 2017. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CP nº 2, de 20 de dezembro de 2019. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica. Brasília: MEC, 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CP nº 1, de 27 de outubro de 2020. Dispõe sobre as Diretrizes curriculares para a formação continuada de professores para a educação básica. Brasília: MEC, 2020. GATTI, B. A. et al. Professores do Brasil: novos cenários de formação. Brasília: UNESCO, 2019. SAVIANI, D. A pedagogia no Brasil: história e teoria. Campinas, SP: Autores Associados, 2020. E-book. 1835. Cartografias da Leitura, 2016.
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