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O universo clínico de Periodontia e Cariologia. Nesta Edição • Caderno Científi co - Periodontia • Caderno Científi co - Cariologia • Caderno Especial - Higiene Bucal V. 5 - N0 1 Jan/Fev 2011 ISSN 1981-2922 Periodontia - estética e saúde alinhadas por uma melhor qualidade de vida. O universo clínico de Periodontia e Cariologia. Vol. 5 • N0 1 • Jan/Fev/2011 PerioNews - Vol. 5, n.1 (janeiro/fevereiro/2011) - São Paulo: VM Comunicação - Divisão Cultural, 2007 Periodicidade Bimestral ISSN - 1981-2922 1. Odontologia (Periódicos) 2. Periodontia 3. Cariologia I. VM Comunicações - Divisão Cultural II. Título CDD 617.6005 Black D65 D631 Qualifi cação: Qualis Nacional B4 - Odontologia Indexação: BBO - Bibliografi a Brasileira de Odontologia LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde 5 Considerado na Bíblia como um dos números simbólicos, o cinco faz referência ao Pentateuco, o primeiro bloco do livro sagrado e, ainda, aos dedos das mãos e dos pés. Na numerologia, o cinco é o número da liberdade, das mudanças; na alquimia, remete à quintessência; e, na natureza, aos cinco sentidos humanos. Para nós, da PerioNews, o número representa mais um ano na caminha- da da revista, que vem se solidifi cando e confi rmando sua importante atuação, dia a dia, junto aos periodontistas e cariologistas clínicos de todo o Brasil. Uma atuação marcada pelo padrão na busca constante da excelência em forma e conteúdo. Para este ano, um novo projeto gráfi co se apresenta aos nossos leitores, mais claro e suave, mas seguindo ainda a linha da estética vermelha. Utilizaremos, assim, nas capas deste ano, duas linhas – vermelhas e brancas – representando gengiva e dentes, o cerne da Periodontia que busca a saúde e a estética para uma melhor qualidade de vida. No aspecto editorial, a revista aprimora ainda mais a qualidade científi ca, trazendo arti- gos de interesse e de atualização profi ssional constante para os nossos leitores. Além de matérias informativas, dicas de leituras e a inauguração de uma nova coluna: Periodontia em destaque, que traz a opinião de destacados profi ssionais da Odontologia sobre temas relevantes da especialidade. 2011 chegou e com ele a revista PerioNews – Ano V. Leia e comprove. Boa leitura! Prof. Dr. Antonio Wilson Sallum Editor científi co Editorial Revista PerioNews 2011;5(1):5 PerioNews - Ano V 7Revista PerioNews 2011;5(1):7 A Periodontia de anteontem, ontem, hoje e amanhã Sérgio de Toledo é professor titular na Área de Periodontia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Unicamp. Sérgio de Toledo Ponto de vista Lembro-me bem, embora não me considere tão velho assim, da Perio- dontia do cortar para sarar sem se preocupar com a prevenção. Ouvíamos coisas do tipo: “Fui ao doutor Fulano, especialista em gengiva, e ele me operou duas vezes e continua tudo igual... o que o senhor pode fazer por mim, doutor?” Eram as perguntas frequentes. O tempo passou e os conceitos e as perguntas dos pacientes mudaram. “Como posso controlar a ‘maldita’ placa dental? Qual escova devo usar?” Estávamos nós então, os periodontistas, novamente frente a um questionamento ímpar: seríamos nós os responsáveis pela doença periodontal que muitos de nossos colegas subestimavam ou preferiam ver a placa no bolso através de reabilita- ções grandiosas? Bem, o tempo corre célere. Hoje, os pacientes dizem: “Puxa vida! Meus dentes estão mo- les e vou precisar extraí-los. Será que o implante resolve o meu problema?” E estamos nós novamente na berlinda: extrair ou tentar salvar os elementos dentários? Nos faz pensar se realmente valerá a pena. Se em tantos anos de vida os nossos pacientes não se preocuparam – seja através das cirurgias radicais do anteontem ou através de artefatos indicados para uma excelente, ou ao menos boa, higiene dental para a remoção da tão famigerada placa dental, hoje biofi lme – os cuidados futuros serão respeitados? No presente, já apresentam problemas porque deixaram seus dentes, como se costuma dizer, ao “Deus dará” sem realizar os tratamentos de outrora. Devemos nós profi ssionais extraí-los hoje e colocar únicos ou vários implantes? Fico pensando... Amanhã, quem cuidará de seus próprios implantes? Será que nossos amados e venerados pacientes vão se importam em cuidar bem deles, como cuidam de seus carros, de suas mansões? Será que vão dedicar algum tempo a mais na manutenção de seus adora- dos dentes novos que lhes devolvemos com perfeição, como cuidam do corpo, por exemplo? Lembro-me de uma frase que li em um antigo folheto publicitário que dizia: “Tudo pode mudar na boca do futuro, menos a necessidade de higienizarmos corretamente os nossos dentes”. Muitas coisas mudaram. Novas técnicas, novas possibilidades. Mas, pessoalmente, acredito que nem mesmos nós, humildes periodontistas ou implantodontistas, poderemos continuar evoluindo isoladamente sem o apoio e a conscientização dos nossos queridos pacientes. Cabe a nós interagir com essa conscientização desde hoje e sempre, e durante todo o futuro. 8 EDITOR CIENTÍFICO Prof. Dr. Antonio Wilson Sallum (FOP-Unicamp/SP) (awsallum@terra.com.br) CONSELHO CIENTÍFICO Profs. Drs. Álvaro Francisco Bosco (Unesp-Araça- tuba/SP), Arthur Belém Novaes Júnior (Forp - USP/ SP), Benedicto Egbert Corrêa de Toledo (Unifeb/ SP), Cassiano Kuchenbecker Rösing (UFRGS/RS), Carlos Alberto Dotto (Unicid/SP), Daiane Cristina Peruzzo (FOP-Unicamp/SP), Eduardo Gomes Se- EDITORIAL PerioNews - Ano V PONTO DE VISTA A Periodontia de anteontem, ontem, hoje e amanhã Sérgio de Toledo PERIODONTIA EM PAUTA Halitose: etiologia, diagnóstico e tratamento. Importância psicossocial e de saúde pública CADERNO CIENTÍFICO Trabalhos originais e inéditos em Periodontia e Cariologia RESPONSABILIDADE CIVIL Orientação jurídica à comunidade odontológica Regina Célia Dalle Nogare HOMENAGEM ACONTECE MERCADO PESQUISAS EM EVIDÊNCIA Leituras essenciais GUIA DE PRODUTOS Guia de produtos de higiene bucal para uso domiciliar NORMAS DE PUBLICAÇÃO Como enviar seus trabalhos 5] 7] 10] Revista PerioNews 2011;5(1):8-9 abra (UFRN/RN), Eduardo Muniz Barretto Tinoco (Uerj-Unigranrio/RJ), Eduardo Saba Chujfi (SLMan- dic/SP), Elcio Marcantonio Jr. (Unesp-Araraquara/ SP), Enilson Antonio Sallum (FOP-Unicamp/SP), Euloir Passanezi (FOB-USP/SP), Fernanda Vieira Ribeiro (FOP-Unicamp/SP), Francisco Pustiglioni (Fousp/SP), Francisco Humberto Nociti Jr. (FOP- Unicamp/SP), Getúlio da Rocha Nogueira Filho (EBMSP/BA), Henrique Cruz Pereira (Unig/RJ), José Eduardo Cezar Sampaio (Unesp/SP), José Eustáquio da Costa (UFMG/MG), José Rober- to Cortelli (Unitau/SP), Luis Antonio P. Alves de Lima (USP/SP), Magda Feres (UnG/SP), Márcio Fernando de Moraes Grisi (Forp-USP/SP), Marcio Zaffalon Casati (FOP-Unicamp/SP), Renato de Vas- concelos Alves (FOP-UPE/PE), Ricardo Guimarães Fischer (Uerj-RJ), Rui Vicente Oppermann (UFRGS/ RS), Sérgio Luís da Silva Pereira (Unifor/CE), Sô- nia Groisman (UFRJ/RJ), Urbino da Rocha Tunes (EBMSP/BA), Valdir Gouveia Garcia (Unesp-Araça- tuba/SP), Vinicius Augusto Tramontina (PUC/Pa- raná), Wagner Leal Serra e Silva Filho (Unicamp/ SP), Wilson Roberto Sendyk (Unisa/SP), Wilson Trevisan Jr. (Aonp/PR) PerioNews [ www.perionews.com.br ] Sumário 17] 93] 91] Editor Executivo: Haroldo J. Vieira (diretoria.haroldo@ vmcom.com.br); Editora e Jornalista Responsável: Cecilia Felippe Nery MTb: 15.685 (jornalismo.cecilia@ vmcom.com.br); Revisora: Vivian Arais Soares (jornalismo.vivan@vmcom.com.br); Diretora de Arte: Miriam Ribalta (criacao.miriam@vmcom.com.br); Assistentes de Arte: Cristina Sigaud (criacao.cris@ vmcom.com.br) e Eduardo Kabello (criacao.kabello@ vmcom.com.br); Webdesigner: Rodolfo Mustafe (web. mustafe@vmcom.com.br); Webmaster: Anderson Oliveira Magalhães (web.anderson@vmcom.com.br); Gerente Operacional: José dos Reis Fernandes (go.reis@vmcom.com.br); Circulação e Assinaturas: AlexandreBecsei (assinaturas.alexandre@vmcom. com.br); Gerente Nacional de Marketing e Vendas: Paulo César Raymundo (gerencia.pcraymundo@ vmcom.com.br); Publicidade: Executivas de Contas: Cintia Helena Avila (atendimento.cintia@ vmcom.com.br) e Érika de Carvalho (atendimento. erika@vmcom.com.br); Supervisora de Vendas: Silvia Bruna; Administração: José Fernando Marino. Redação, Marketing e Publicidade: VM Comunicação - Rua Gandavo, 70 - 04023-000 - São Paulo - SP - Tel.: (11) 2168-3400 - Fax: (11) 2168-3422 - www.vmcom.com.br Impressão e Acabamento: Ipsis Gráfi ca e Editora. Responsabilidade Editorial: Todos os artigos assinados, bem como conteúdos publicitários inseridos na Revista PerioNews e edições especiais, são de inteira responsabilidade dos respectivos autores, empresas e instituições. Só será permitida a reprodução total ou parcial de conteúdos desta edição com a autorização dos editores. Tiragem: 5.000 exemplares - auditada pela Circulação nacional. Revista fi liada Capa: imagem simbólica representando estética vermelha. 113] 89] 94] 99] 96] 9 O universo clínico de Periodontia e Cariologia. Erupção passiva alterada: diagnóstico, classifi cação e plano de tratamento Delayed passive eruption: diagnosis, classifi cation and treatment plan Marly Kimie Sonohara Gonzales, Ana Lúcia Pompéia Fraga de Almeida Comparação entre duas técnicas para enxerto de tecido conjuntivo em recessões Classes I ou II de Miller Comparison between two techniques of connective tissue grafting in Miller recession Class I and II Fabio Bonamin dos Santos, Vula Papalexiou, Sônia M. Luczyszyn, Sung H. Kim, Vinicius A. Tramontina Retalho reposicionado apical modifi cado e retalho posicionado coronário. Combinação de técnicas cirúrgicas para tratamento de recessão radicular The modifi ed apically repositioned fl ap and coronally positioned fl ap. Combined techniques for treatment of root recession João Carnio, Fernanda Akemi Nakanishi-Ito, Michael Hikaru Tashiro Uso tópico de antimicrobianos como um meio auxiliar no tratamento da periodontite Topical use of antibiotics as an aid in the treatment of periodontitis Larice Kércia Braz Monteiro, Maria Mônica Studart Mendes Moreira Efeitos da terapia fotodinâmica no tratamento não cirúrgico da periodontite crônica Effects of photodynamic therapy in non-surgical treatment of chronic periodontitis Bianca Calil Feldman, Léo Guimarães Soares, Eduardo Muniz Barretto Tinoco, Márcio Eduardo Vieira Falabella, Denise Gomes da Silva, Gerdal Roberto de Sousa Restauração subgengival e cirurgia plástica periodontal no tratamento de recessão gengival associada à lesão cervical não cariosa Subgingival restoration and periodontal plastic surgery in the treatment of gingival recession associated with non-carious cervical lesion Claudia Roberta Tenório-Trevisani, Tatiana Miranda Deliberador, Antonio Luiz Trevisani Júnior, Ricardo Luiz Grein Correção de erupção passiva através de cirurgia plástica periodontal Correction of passive eruption by periodontal plastic surgical. Case report Patrícia Fernanda Roesler Bertolini, Oswaldo Biondi Filho, Dalila Evelyn Santiago Desconforto e dor após aumento de coroa clínica realizado com instrumentos rotatórios e manuais Pain and discomfort after crown lengthening performed with rotatory and manuals instruments Tatiana Militz Perrone Pinto, Gustavo Nogara Dotto, Fabricio Batistin Zanatta Autopercepção sobre o impacto de saúde bucal na qualidade de vida em pacientes com doença falciforme Self perception of the impact of oral health in life quality patients with silk cell disease Caroline Lourenço Correia, Bianca Harari, Marcos Paulo Fonseca Corvino, Sonia Groisman 17] 71] Revista PerioNews 2011;5(1):8-9 25] ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES 50] 59] 35] Caderno Científi co Demais publicações VM Cultural: 42] Assinatura anual - R$ 420,00 | 6 edições Internacional - US$ 280. Central de Relacionamento com o Assinante: Hunter Contact Center | Tel.: (11) 3566-6227 assinaturas@huntercontactcenter.com.br Loja virtual: www.vmstore.com.br Importante: a revista PerioNews só comercializa assinaturas através de telemarketing próprio. Não possui “vendedores” em domicílio. Compromisso com nossos leitores Facilitar o acesso a conteúdos baseados em pesquisas clínicas testadas e comprovadas. Publicar conteúdos de vanguarda, visando trazer para mais perto possibilidades futuras. Promover a discussão de temas polê- micos e fazer consenso para melhor orientar e proporcionar segurança nas várias práticas clínicas. Incentivar a produção científi ca de jovens talentos, criando prêmios de mérito para ampliar o número de pesquisadores no Brasil. Crescer continuamente o volume de artigos clínicos publicados por edição, buscando aumentar a base de informação. Disponibilizar canal on-line de consultas para solucionar even- tuais dúvidas em práticas clínicas seguras. Garantir circulação da revista na data certa, evitando a quebra do fl uxo regular de atualização científi - ca neste campo. 64] 79] 10 Halitose: etiologia, diagnóstico e tratamento. Importância psicossocial e de saúde pública Revista PerioNews 2011;5(1):10-4 A partir desta edição, iniciamos uma nova série de textos referentes a temas importantes da Periodontia, que divulgaremos ao longo de todo o ano, sob o ponto de vista de destacados especialistas da área. Para começar, abordaremos a Halitose, uma das principais causas que levam o paciente a procurar o cirurgião-dentista. Conheça mais sobre o assunto nos textos a seguir. Dentre as especialidades odontológicas, a Periodontia é a que mais se aproxima da prática e do embasamento científi co necessário para diagnosticar e tratar o paciente portador de halitose. Isto porque os determinantes biológi- cos destas manifestações se assemelham, favorecendo o desempenho do periodontista. Por ser de causa multifatorial e alvo de poucos estudos e pesquisas, ainda não há conceito universalmente acei- to para o perfeito diagnóstico e tratamento da halitose. Embora critérios tenham sido sugeridos em diversas pu- blicações científi cas editadas por todo o mundo, a falta de um protocolo único tem levado a difi culdades e confusões crescentes. Principalmente quando se pretende realizar le- vantamentos epidemiológicos em diferentes populações. Estudos realizados por equipes multidisciplinares, com- postas por gastroenterologistas, psiquiatras, otorrinola- ringologistas e periodontistas, constataram que aproxi- madamente 87% das causas de halitose são de ordem bucal. Alterações sistêmicas desempenham papel indireto e por isso muitas vezes em estudos que procuram relação direta das doenças sistêmicas com a halitose, resultam em achados não condizentes com o que se observa cli- nicamente. Estes fatores, que hoje ainda não são devidamente escla- recidos pela ciência, deixam clara a necessidade da co- munidade acadêmica fomentar estudos e pesquisas dire- cionadas a esta área, para que haja a devida capacitação dos profi ssionais de saúde para atender e esclarecer a população que percorre consultórios médicos e odontoló- gicos em busca de ajuda. Celi Vieira Mestre em Ciências da Saúde – Universidade de Brasília – UnB/DF; Especialista em Periodontia – As- sociação Paulista de Cirurgião-Dentista; Professora – IIMDS- International Institute Medical Dentistry Science-Portugal celi17@uol.com.br Esta peregrinação resulta na realização de inúmeros exames desnecessários, como endoscopias gástricas e laringoscopias, bem como uso de diversas medicações inadequadas e até perigosas como antibióticos, ocasio- nando sérios desgastes, físico e emocional, ao paciente que acredita ter halitose. Importante ressaltar que, em média, em cada dez pa- cientes que procuram tratamento de halitose, quatro não apresentam resultados positivos depois de avaliações se- riadas. Estes indivíduos apresentam alterações sensoper- ceptivas que os levam a acreditar que possuemhalitose. Sentem que o seu hálito é alterado, porém, não apresen- tam odor no fl uxo expiratório. Esta alteração geralmente está associada às queixas de gosto ruim e/ou boca seca. Mais do que a halitose real, a pseudo-halitose acarreta sé- rios transtornos na vida de uma pessoa, levando ao isola- mento social e até mesmo familiar. Esta situação geralmente é agravada pela falta de co- nhecimento do profi ssional sobre o assunto, que tende a encaminhar este paciente para outra especialidade na intenção discreta e às vezes até inconsciente de se livrar do problema. Neste cenário, a comunidade odontológica ganha um pa- pel de importância fundamental, pois hoje é o primeiro pro- fi ssional a ser procurado para tratar a halitose, cabendo a ele absorver esta demanda. Ressaltando que o impacto da desinformação causa cons- trangimento, tanto para o paciente quanto para o profi s- sional, além de acarretar gastos desnecessários ao setor público e privado de atenção a saúde de nossa população. 11Revista PerioNews 2011;5(1):10-4 Periodontia em pauta Na história da Odontologia, lamentavelmente, o tema Hali- tose tem sido relegado a planos de menor importância e, muitas vezes, entregue a outros profi ssionais, eximindo a Odontologia de sua responsabilidade. Em termos de defi nição, halitose ou mau hálito é a manifes- tação de odores desagradáveis emanados da boca ou das cavidades nasal, paranasal e faringe. Em relatos norte-ameri- canos, após cárie e doenças periodontais, é uma das causas mais frequentes de visitas ao dentista. Modernamente, halitose tem sido considerada um problema que envolve saúde e estética. A primeira, porque a maior parte das halitoses está associada a processos de doença e a segunda, porque afeta o odor do indivíduo, o que se torna um problema de impacto estético também. Nesse sentido, sabendo do impacto que a halitose traz para o indivíduo e considerando o título proposto para a presente coluna, gos- taria de, brevemente, discutir a questão de ser ou não a hali- tose um problema de saúde pública. Um problema de saúde pública se caracteriza por ser aque- le que se distribui na população de forma ampla, causando custos importantes tanto governamentais quanto de setores privados para sua resolução que, caso não ocorra, gera gran- des malefícios coletivos. Na medida em que halitose por si só não é caracterizada como uma doença, seu entendimento como problema de saúde pública fi caria prejudicado. Estudos epidemiológicos têm demonstrado prevalências variadas, de acordo com local e critérios de defi nição. As prevalências apresentadas variam de 2% (halitose severa) a aproximada- mente 30%. Sendo assim, ainda que a halitose não possa ser caracterizada classicamente como um problema de saúde pública, é imperioso que se tenha ideia de que é um problema de prevalência signifi cativa. Mais recentemente, diferentes centros no mundo iniciaram abordagens de halitose, tendo estimulado a pesquisa na área. Esses resultados têm demonstrado que mais de 90% das halitoses são de origem bucal e são resolvidas com o tratamento odontológico. Outras tantas, com situações de origem combinada, também têm redução drástica com as medidas odontológicas para controle da halitose. Essas de- monstrações têm focado que o tratamento multiprofi ssional da halitose deve ser liderado por profi ssional da Odontologia. Nesse sentido, o cirurgião-dentista, em sua abordagem clí- nica, deve perguntar ao paciente se ele observa presença Cassiano Kuchenbecker Rösing Pós-doutorado – Universidade de Oslo; Professor associado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. ckrosing@hotmail.com de halitose ou se alguém o advertiu do fato. Seguindo-se, é importante que se captem as impressões do mesmo sobre a situação para que se possa entender as experiências pré- vias, os impactos e as crenças e atitudes em relação ao pro- blema. Também é importante que se conheçam os hábitos de higiene bucal do paciente, incluindo eventual abordagem do mesmo sobre a língua. Após o momento de entrevista, o profi ssional da Odontologia deve estar atento a todos os problemas bucais que possam ter relação com halitose. Especial atenção deve ser dada à observação da presença de saburra lingual e de doenças pe- riodontais. Havendo problemas bucais, esses devem ser tra- tados através de abordagem etiopatogênica, por ser aquela que tem efetividade e possibilidade de manutenção de resul- tados ao longo do tempo. Estudos que têm realizado tratamento periodontal têm con- sistentemente demonstrado redução de halitose. Em nosso grupo de trabalho, realizamos, em pacientes portadores de periodontite, um programa estrito e meticuloso de controle do biofi lme supragengival. Essa medida já foi capaz de redu- zir drasticamente a halitose. Ainda que os resultados obtidos com abordagens de remoção de bactérias da área da língua sejam controversos, por uma questão de higiene, é interes- sante que essas orientações sejam dadas aos pacientes, o que também tem resultado em diminuição de halitose. Quando se adotam abordagens terapêuticas como as propostas até agora, a resolutividade da halitose é elevada. Também não se pode esquecer de que, no entorno da problemática da hali- tose, diferentes produtos têm sido desenvolvidos para o seu tratamento. Agentes mascaradores, estimuladores de saliva, evitando a volatilização de compostos sulfurosos estão dispo- níveis, mas não fazem parte dessa abordagem motivacional. O cirurgião-dentista, entretanto, antes de prescrever qualquer desses agentes, deve estar familiarizado com sua segurança e, especialmente, com as evidências que o suportam. O mais importante para que se atinjam os objetivos de plena satisfação do paciente é que a equipe de saúde esteja capa- citada para entender a halitose como um problema individual de alto impacto e reconhecer a importância de seu trata- mento. À Odontologia é dada a responsabilidade de liderar o processo de tratamento, por sua importância, sem nunca deixar de lado a integralidade da atenção, com abordagens interdisciplinares e multiprofi ssionais. 12 Revista PerioNews 2011;5(1):10-4 Denise Falcão Especialista em Periodontia – Associação Paulista de Cirurgião-Dentista; Mestre e doutora em Ciências da Saúde – Universidade de Brasília – UnB. dfalcao@terra.com.br Halitose é um termo amplo que até então evi- denciava a emissão de odores desagradáveis no fl uxo expiratório. Contudo, halitose nem sempre se apresenta desta forma, pois não raro, verifi - camos a presença de distúrbios sensopercep- tíveis que revelam alterações gustatórias, olfa- tórias e/ou psicogênicas que promovem queixa de halitose, mesmo na ausência de substâncias odoríferas. Esta queixa pode ser decorrente de uma série de causas isoladas ou associadas e é frequente nos atendimentos de atenção pri- mária, uma vez que 50% da população adulta sofrem deste problema em algum momento de suas vidas. A visão segmentada, e até mesmo limitada, sobre como diagnosticar e tratar halitose tem gerado sérios transtornos de ordem emocional aos portadores, além dos gastos com a realiza- ção de exames desnecessários. É importante o profi ssional ter entendimento de que, embora as publicações científi cas afi rmem que aproximadamente 80% das causas da ha- litose sejam de responsabilidade do cirurgião- dentista, este assunto também é da compe- tência de médicos, psicólogos e nutricionistas. Importante destacar que halitose pode sinalizar uma doença, portanto, requer um diagnóstico preciso e tratamento adequado. Fundamentalmente, a elaboração do correto diagnóstico dependerá da aplicação de uma anamnese detalhada, que avalie o paciente sob a ótica do todo e não como uma peça isolada de um grande quebra-cabeça. A avalição clíni- ca deverá verifi car não somente a presença de doenças periodontais e de biofi lme lingual, mas também avaliar os padrões salivares. Este é outro aspecto falho na formação do cirurgião- dentista. Um estudo conduzido no Brasil verifi- cou que 69% dos periodontistas entrevistados não haviam tido aula sobre saliva durante a pós- graduação. Ora, a saliva, além de promover a autolimpeza, é fundamental para o equilíbrio da microbiota bucal, manutenção do pH, dentre ou- tras funcões. Por exemplo, sabe-se que na ocor- rência de maior viscosidade salivar, de um pH ligeiramente alcalino e/ou da redução do fl uxo salivar, o indivíduo já fi ca vulnerável à halitose de origem bucal em decorrência da maior prolifera- ção de patógenos proteolíticos. Quanto a verifi cação do odor, existem três mé- todos geralmente aceitos para medir e avaliar a extensão do odor nos portadores. O primeiro é o organoléptico, no qual o examinador usa sua capacidade olfativa. Muito embora este método seja considerado o padrão ouro para uso clínico, é importante destacar que nem todos os pro- fi ssionais possuem olfato hábil para atuar nesta área de atenção à saúde. Outro método é o uso de monitores portáteis que quantifi cam os com- postos sulfurados voláteis, como o Halimeter (Interscan Corporation, Chatsworth, CA, EUA) e o OralChroma (Abilit Corporation, Osaka, Ja- pão). O terceiro método, cromatografi a gasosa, é altamente sensível. Entretanto, não é aplicável para uso clínico e pouco usado em pesquisas em função da complexidade de seu uso e do alto custo. A relação dos odores corporais com os aspec- tos sociais sempre foi fator de preocupação para a humanidade e ainda é um obstáculo para a plenitude da vivência conjugal, para os relacio- namentos sociais e, até mesmo, para ascensão profi ssional. Cientes disso, grandes grupos eco- nômicos investem e lucram anualmente grandes somas na área de produtos voltados à melhoria da qualidade do hálito. Paradoxalmente, revela- se inaceitável que com o avanço dos conheci- mentos, a halitose ainda não faça parte do pro- cesso de formação dos profi ssionais da saúde. Portanto, caberá a nós mudar este panorama. 13Revista PerioNews 2011;5(1):10-4 Periodontia em pauta Daiane Peruzzo Especialista em Periodontia – UFRGS; Mestre e doutora em Clínica Odontológica – área de concentração, Periodontia – FOP – Unicamp. daiaperuzzo@yahoo.com.br O que é? A halitose não é necessariamente uma doença, mas um sinal indicativo de que algo não vai bem no orga- nismo, seja do ponto de vista patológico, fi siológico ou até mesmo uma questão de má higiene bucal. Podendo-se fazer uma analogia com a febre, representando um alerta, uma quebra de homeostasia do organismo. Quais são as causas? Pela manhã, ao acordar, o hálito é geralmente mais forte e desagradável devido a uma drás- tica redução do fl uxo salivar durante o sono, associado ao acúmulo e putrefação de células bucais descamadas, resíduos alimentares e saliva. Forma-se então uma cama- da esbranquiçada sobre a língua, principalmente no terço posterior, denominada saburra lingual (SL). As células epi- teliais, contidas na SL, são constituídas por proteínas ricas em aminoácidos que contém enxofre e, por um processo bioquímico, esses compostos (denominados genericamen- te de compostos sulfurados voláteis – CSV) são liberados, causando o mau odor bucal. Entretanto, esse mau hálito matinal é fi siológico e controlado com uma adequada hi- giene bucal. Caso o mau odor permaneça, pode-se con- siderar halitose, a qual merece cuidados especiais quan- to ao seu diagnóstico, orientação e tratamento. A maior parte dos casos de halitose está relacionada à atividade proteolítica das bactérias, residentes na superfície da lín- gua e superfícies dentais, que degradam os substratos proteicos gerando os compostos mal cheirosos, como os CSV, ácidos graxos e poliaminas. Seguida da presença da SL, a segunda grande causa da halitose está relacionada à presença do biofi lme (placa bacteriana) nas superfícies dos dentes, presença de cáries, gengivite e periodontite. O que fazer para evitar a halitose? a) beber água regu- larmente; b) ter uma dieta balanceada, incluindo alimentos fi brosos, pois eles funcionam como uma escova, limpando a língua; c) evitar o consumo excessivo de alimentos de odor carregado; d) fazer pequenas refeições a cada três e quatro horas; e) evitar o consumo de bebidas alcoólicas e cigarro; f) controlar o estresse, pois ele também contribui para a ocorrência do mau hálito; g) realizar adequada higie- ne bucal, incluindo o uso de fi o/fi ta dental e a limpeza da língua; h) manter a boca saudável, isto inclui ausência de cáries e de doenças gengivais (gengivites e periodontites). O que fazer para tratar a halitose? O tratamento da halitose está relacionado à causa, desta forma, o primeiro passo a ser dado é investigar a origem; no entanto, vale ressaltar que a grande maioria dos casos de halitose (cerca de 90%) são de origem bucal e a terapia da halitose deve ser determinada de acordo com as necessidades individu- ais de cada paciente. Para a halitose de origem bucal, as seguintes abordagens terapêuticas devem ser considera- das: a) redução da carga bacteriana intraoral; b) redução da disponibilidade de nutrientes proteicos para as bactérias, uma vez que a microbiota responsável pela conversão dos CSV são bactérias proteolíticas; c) conversão dos CSV em compostos não voláteis; d) mascaramento do mau odor. Considerando que a superfície dorsal da língua e o biofi lme dental bacteriano são os principais reservatórios de bacté- rias produtoras de CSV, os procedimentos de tratamento periodontal, realizados pelo dentista, e um efetivo contro- le de placa bacteriana, associado à higiene da superfície dorsal da língual, visando remover a SL, são medidas de fundamental importância para redução dos níveis de CSV na cavidade bucal. A limpeza da língua deve ser realiza- da usando a associação de escova + limpador lingual. A escova tem o papel de varrer a superfície da língua e o limpador de língua, por sua vez, age como um rodo, re- movendo a SL. O uso de enxaguatórios bucais sem álcool pode auxiliar na resolução do aspecto cosmético do mau odor bucal, porém, não deve ser considerado como forma única de tratamento. O uso de antissépticos, em sua grande maio- ria, não trata halitose, apenas servem para mascará-la e proporcionar um hálito mais agradável enquanto o produto está ativo na cavidade bucal. Entretanto, alguns antissépti- cos possuem maior comprovação na redução da halitose, como os que possuem em suas formulações gluconato de clorexidina ou cloreto de zinco. A clorexidina tem a capaci- dade de permanecer ativa até 12 horas, porém, o seu uso contínuo pode provocar efeitos colaterais como mancha- mento em dentes e língua, o qual pode ser removido por profi laxia feita pelo dentista. Quanto ao cloreto de zinco, poucos estudos foram realizados para avaliar o tempo de efi cácia, porém, efeitos adversos não foram encontrados. 14 Revista PerioNews 2011;5(1):10-4 A halitose é um problema multifatorial e multidisciplinar. Apesar disso, 98% ou mais se devem às causas odontológicas, com destaque especial para a doença perio- dontal e saburra lingual. Esses dois casos acontecem devido à contaminação por bactérias patogênicas anaeróbicas gram-negativas que inicialmente se localizam na língua, o que geralmente acontece por um mecanismo de aderência devido a um aumento da concentração de mucina na saliva (por redução do fl uxo salivar ou não). A preocupação com o hálito vem de longa data, mas somente em 1874, quando foi estudada e descrita por Howe, a halitose passou a ser considerada como uma entidade clínica. Os odorivetores mais importantes com relação ao desenvolvimento da halitose po- dem ser classifi cados em três grupos: 1. compostos sulfurados voláteis (mais impor- tantes, presentes na saburra e doença periodontal – sulfi dreto, metilmercaptana e dimetilsulfeto); 2. compostos orgânicos voláteis de origem putrefativa; 3. compostos orgânicos voláteis de origem sistêmica, sendo estes do tipo metabólico patológico, metabólico alimentar (fi siológico) e metabólico medicamentoso (iatrogênico). A halitosedeve ser considerada importante por pelo menos duas razões: 1) é uma restrição social; 2) pode ter consequências sistêmicas quando os microrganismos patogênicos caem na corrente circulatória (geralmente, pela perda da inserção epitelial, no início da doença periodontal). Como possíveis problemas sistêmicos devido à doença periodontal estão descritos na literatura: pneumonias, gastrite, ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, eclâmpsia, nascimento prematuro, nascimento de baixo peso, abortos e artrite reacional. Informações da literatura mostram que a saburra é a sede de microrganismos responsáveis pela placa dental, cárie, doença periodontal, halitose, doenças pulmo- nares, gastrite por H. pylori etc. Por todos os motivos acima expostos, é lógico que manter a superfície da língua o mais limpa possível é uma forma de reduzir drasticamente a contagem de micror- ganismos patogênicos na cavidade bucal. No entanto, é um erro acreditar que todo hálito desagradável seja sempre anormal ou indicativo de alterações orgânicas. Encontramos alterações do hálito em pessoas normais, pela manhã, devido à hipoglicemia do jejum e pela redução fi siológica do fl uxo salivar que acontecem durante a noite. Olinda Tarzia Professora e pesquisadora – Cetao/São Paulo; Autora do livro “Halitose – um desafi o que tem cura”; Responsável pelo setor científi co – Odomed. tarzia@uol.com.br 17Revista PerioNews 2011;5(1):17-22 Periodontia RESUMO A gengiva tem um papel importante na estética do sorriso. O sorriso gen- gival, o qual apresenta exposição gengival em excesso, pode ter como fatores etiológicos: excesso maxilar vertical (esquelético), lábio superior curto ou hiperativo, posição dentária relacionada com a extrusão, coroa clínica curta, ou erupção passiva alterada. Esta última ocorre quando não há uma correta migração apical da margem gengival e parte da coroa anatômica do dente permanece coberta por gengiva. O presente trabalho teve como objetivo discutir classifi cação, métodos de diagnóstico e plano de tratamento do sorriso gengival causado por erupção passiva alterada, ilustrada por meio de um caso clínico. Unitermos - Erupção dentária; Estética dentária; Sorriso; Gengiva; Au- mento de coroa clínica; Coroa dentária. ABSTRACT The gingiva plays a fundamental role in the esthetics of smile. The gummy smile, which presents excessive gingival exposure, may have as etiologic factors the vertical maxillary excess (skeletal), short or hyperactive upper lip, extruded tooth positioning, short clinical crown, or delayed passive eruption. The latter occurs when there is no correct apical migration of the gingival margin and part of the anatomical crown of the tooth remains covered by gingiva. The present study aims at discussing the classifi cation, methods for diagnosis and treatment plan for the gummy smile caused by delayed passive eruption, illustrated by means of a case report. Key Words - Tooth eruption; Esthetics dental; Smiling; Gingiva; Tooth crown. Erupção passiva alterada: diagnóstico, classifi cação e plano de tratamento *Mestre em Periodontia e doutora em Reabilitação Oral – Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo (FOB/USP) – Bauru/SP. *Professora doutora do Depto. de Prótese – FOB/USP e Hospital de Reabi- litação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo – HRAC/ USP – Bauru/SP. Relato de caso clínico Marly Kimie Sonohara Gonzales* Ana Lúcia Pompéia Fraga de Almeida** Delayed passive eruption: diagnosis, classifi cation and treatment plan Recebido em set/2010 Aprovado em out/2010 18 Revista PerioNews 2011;5(1):17-22 Gonzales MKS • de Almeida ALPF INTRODUÇÃO As três estruturas que compõem um sorriso (dente, con- torno gengival e lábio) devem ter uma relação harmônica para uma estética aceitável1-2. O sorriso pode ser: baixo, médio e alto. O sorriso é alto quando ocorre excessiva exposição de gengiva, conhecido como sorriso gengival3-4. O sorriso gengival pode ocorrer pela posição dentária e à coroa clínica curta. As causas comuns incluem destruição coronária traumática, cáries, atrito incisal e localização coro- nária da gengiva, podendo levar a hipertrofi a do tecido ou um fenômeno conhecido como erupção passiva alterada5-9. Além disso, pode estar associado a outras condições, incluindo lábio superior curto, extrusão dentária e crescimento vertical excessivo da maxila6-7. O processo de erupção dentária basicamente constitui- se em duas fases. A erupção ativa ocorre quando o dente, em movimento oclusal, emerge da cripta óssea e continua a erupcionar até manter contato oclusal com o dente antago- nista. Este estágio é seguido pela segunda fase, a erupção passiva, caracterizada pelo deslocamento apical da junção dentogengival10-11, que resulta no aumento do comprimento da coroa clínica11-12. Quando grande parte da coroa anatômi- ca permanece coberta pela gengiva, denomina-se de erup- ção passiva alterada ou atrasada2. A ocorrência da erupção passiva alterada é imprevisível, mas a sua frequência no geral da população é de aproximadamente 12%6,10-11,13-14. Clinicamente, o paciente com erupção passiva alterada apresenta coroas clínicas curtas, apresentando a dimensão vertical da coroa menor do que a dimensão horizontal, com- prometendo a harmonia do sorriso2. Para diagnosticar a etiologia do sorriso gengival, como sendo a erupção passiva alterada, deve-se inicialmente anali- sar os lábios do paciente em repouso e no sorriso forçado4, verifi car se há exposição de gengiva em excesso. Se o com- primento do lábio estiver entre 20 e 24 mm destes parâme- tros e o paciente expuser a gengiva em excesso durante o sorriso a causa é sua hiperatividade. Após a análise do lábio, o próximo passo é a localização da JCE (junção cemento esmalte) utilizando uma sonda explo- radora subgengivalmente8. Se a JCE está localizada em uma posição normal no sulco gengival, provavelmente, o paciente não apresenta erupção passiva alterada. Quando a JCE não for detectada no sulco, a sondagem da crista óssea alveo- lar deve ser realizada. Normalmente, nos casos de erupção passiva alterada, é determinado que a JCE está próxima do sulco gengival. A medida pode ser utilizada para determinar a relação da JCE com a crista óssea alveolar7,15. O exame radiográfi co por meio de radiografi as peria- picais auxilia também na determinação do comprimento da coroa anatômica, pela localização da JCE e da quantidade de suporte ósseo8. Quando a causa do sorriso gengival for erupção passiva alterada, o tratamento será a cirurgia periodontal de aumento de coroa clínica. A indicação das diferentes técnicas cirúrgi- cas depende da classifi cação da erupção passiva alterada16. O sucesso do tratamento de aumento de coroa clínica depende de um diagnóstico apurado e um plano de tratamen- to cuidadoso, considerando as distâncias biológicas e a jun- ção dentogengival. Considerando-se que a maioria dos casos de sorriso gengival observados é devido à erupção passiva alterada, o presente artigo teve como objetivo discutir classi- fi cação, métodos de diagnóstico e plano de tratamento desta alteração, exemplifi cando-a através de um caso clínico. RELATO DE CASO CLÍNICO Paciente FM, 19 anos, gênero feminino, queixa-se da de- sarmonia do sorriso após tratamento ortodôntico e relatou ter vergonha de sorrir. Durante o exame inicial, realizou-se uma sequência de avaliação para obter o diagnóstico correto da etiologia do sorriso gengival, que consiste em: • Análise do sorriso forçado da paciente e dos seus lábios em repouso (Figura 1). • Mensuração do lábio superior em repouso: medida de 20 mm estava dentro dos parâmetros para as mulheres (de 20 a 22 mm). • Avaliação da altura da coroa clínica: desarmonia do nível Figura 1 - Sorriso inicial da paciente, mostrando exposição exces- siva da gengiva. 19Revista PerioNews 2011;5(1):17-22 Periodontia da margem gengival dos dentes anteriores superiores (Figura 2). • Medida da alturadas coroas clínica dos dentes: incisivo central superior (8 mm de altura), Figura 3. • Localização da JCE com sonda exploradora introduzida através do sulco gengival: não foi possível detectar a JCE, sugerindo a sua localização no nível da crista óssea alveolar (subgrupo B). • Sondagem óssea: após a anestesia terminal infi ltrativa, introduziu-se uma sonda milimetrada até atingir a crista óssea, a medida obtida de 2,5 mm indicava quantidade de tecido gengival supraósseo (Figura 4). • Medida da quantidade de mucosa ceratinizada: a JMG (jun- ção muco gengival) estava localizada apical à crista óssea (Tipo I), Tabela 1. • Radiografi a periapical da área para auxiliar na localização da JCE e verifi car sua relação com a crista óssea alveolar: crista óssea proximal estava distante da JCE (sem neces- sidade de osteotomia na área interproximal). O diagnóstico clínico e radiográfi co foi de erupção pas- siva alterada Tipo IB e foi planejada a correção do sorriso gengival por meio de cirurgia periodontal com retalho de bisel interno e osteotomia (Tabela 2). Posterior a uma anamnese criteriosa, executou-se a raspagem da boca toda e orienta- ções de higiene bucal para restabelecer a saúde gengival. Após a anestesia terminal infi ltrativa de toda região anterior superior, realizou-se uma incisão em bisel interno ou inverso Figura 2 - Vista frontal intrabucal: desarmonia do nível da margem dos dentes ântero-superiores. Figura 3 - Medida da altura da coroa clínica do incisivo central su- perior direito (8 mm). Figura 4 - Medida da margem gengival até a crista óssea realizada com auxílio da sonda milimetrada. TABELA 1 - CLASSIFICAÇÃO DA ERUPÇÃO PASSIVA ALTERADA6 Tipo Descrição I JMG está localizada apical a crista óssea alveolar. II JMG está localizada no nível da JCE. Subgrupo A A distância entre a crista alveolar e a JCE corresponde a 1,5 a 2 mm, permitindo a inserção normal de fi bras gengivais no cemento. Subgrupo B A crista alveolar está no nível da JCE. TABELA 2 - PLANEJAMENTO CIRÚRGICO DA ERUPÇÃO PASSIVA ALTERADA6 Tipo Planejamento cirúrgico IA Gengivectomia, retalho de bisel interno. IB Retalho de bisel interno com osteotomia. IIA Retalho com posicionamento apical. IIB Retalho com posicionamento apical com osteotomia. 20 Revista PerioNews 2011;5(1):17-22 Gonzales MKS • de Almeida ALPF com lâmina de bisturi 15c, demarcando um arco côncavo regular, mais apicalmente, próximo ao nível da JCE, sem atingir a região interproximal2,8, para não alterar a papila in- terproximal e não comprometer a estética da área (Figura 5). Removeu-se o colar de gengiva de aproximadamente 2 a 3 mm (Figura 6), eliminando-se o tecido gengival em excesso e expondo a coroa anatômica do dente. O retalho total foi rebatido com um descolador, possibi- litando a visualização da crista óssea vestibular ao nível da JCE. A osteotomia com cinzéis acompanhou a JCE, estenden- do-se aproximadamente 1 a 2 mm apicalmente para permitir espaço para as distâncias biológicas (Figura 7). Finalmente, as suturas simples foram realizadas nas re- giões interproximais, com fi o Vicryl 6.0 (Johnson & Johnson), Figura 8, e removidas após uma semana. A avaliação pós- operatória de três meses revelou um adequado aumento de coroa clínica dos dentes com a preservação da característica em arco côncavo regular da margem gengival e da papila interproximal (Figura 9). A comparação entre o sorriso inicial (Figura 1) e fi nal do paciente (Figura 10) demonstrou a harmo- nia do lábio com as estruturas dentárias e gengivais obtidas após o procedimento cirúrgico periodontal. DISCUSSÃO O planejamento cirúrgico do aumento de coroa clínica se baseia na avaliação do sorriso, comprimento anatômico da coroa, comprimento do lábio superior e altura do osso maxilar. A apresentação do caso clínico enfoca também a importância do planejamento, considerando-se a distância da JCE à crista óssea alveolar e localização da JMG em relação ao nível da JCE e a quantidade de mucosa ceratinizada, para obter um sorriso com harmonia entre lábios, coroa clínica dentária e tecidos periodontais. Figura 5 - Incisão em bisel interno delimitado a nova margem gengival para expor mais a coroa anatômica dos dentes. Figura 6 - Aumento de coroa clínica dos dentes ântero-superiores após a remoção do tecido gengival marginal posicionado a margem gengival do incisivo lateral 1 mm coronal em relação à margem dos incisivos centrais e caninos. Figura 7 - Osteotomia manual realizada após rebatimento do reta- lho total, localizando a crista óssea vestibular de 1 a 2 mm apical à junção cemento-esmalte. Figura 8 - Retalho posicionado e suturado com fi o Vicryl 6-0. 21Revista PerioNews 2011;5(1):17-22 Periodontia Figura 10 - Sorriso fi nal do paciente.Figura 9 - Vista frontal da região ântero-superior, três meses após a cirurgia periodontal. A erupção passiva alterada foi classifi cada em dois tipos principais, de acordo com a relação entre junção cemento- esmalte (JCE) e junção mucogengival e então subdividiram em duas classes conforme a posição da crista óssea7. O caso clínico apresentado corresponde ao Tipo IB de erupção passiva alterada, um dos tipos mais frequentes des- ta alteração15. O Tipo I apresenta ampla faixa de gengiva, o excesso de tecido gengival pode ser removido por gengivectomia ou retalho em bisel interno. Ao contrário o Tipo II, necessita pre- servar a pouca faixa de gengiva, sendo indicada a realização de retalho posicionado apicalmente13. No subgrupo B, como a crista óssea está ao nível da JCE, indica-se a realização da ressecção óssea para criar espaço para a reinserção de fi bras gengivais e restabelecer as distâncias biológicas para o remodelamento do tecido gengival no nível mais apical4,8. Nos casos em que a crista óssea encontra-se de 1,5 a 2 mm apical a JCE, Tipo IA e IIA, o tratamento do sorriso gengival baseia-se apenas no deslocamento apical do teci- do gengival, sem a necessidade de osteotomia. Nesta fase, deve-se avaliar a simetria da margem gengival com o dente contralateral. O ponto mais alto do contorno gengival do in- cisivo central e canino está distal à linha média (no ângulo distovestibular) e do incisivo lateral está centralizado mesio- distalmente8,13. O tratamento realizado foi a gengivectomia interna (reta- lho com bisel inverso) e osteotomia. Se o tipo IB fosse trata- do apenas com gengivectomia e o excesso de gengiva fosse removido até a JCE, a distância biológica seria eliminada, ocorrendo o retorno da margem gengival a nível pré-cirúrgico com recidiva do sorriso gengival. Portanto, é necessária a Nos casos em que a crista óssea encontra- se de 1,5 a 2 mm apical a JCE, Tipo IA e IIA, o tratamento do sorriso gengival baseia-se apenas no deslocamento apical do tecido gengival, sem a necessidade de osteotomia. Nesta fase, deve-se avaliar a simetria da margem gengival com o dente contralateral. O ponto mais alto do contorno gengival do incisivo central e canino está distal à linha média (no ângulo distovestibular) e do incisivo lateral está centralizado mesiodistalmente8,13. 22 Revista PerioNews 2011;5(1):17-22 Gonzales MKS • de Almeida ALPF REFERÊNCIAS 1. Fischman SL. Current status of indices of plaque. J Clin Periodontol 1986;13:371-4. 2. Oppermann RV, Rösing CK. Prevenção e tratamento das doenças periodontais. 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The Clinical Evaluation of an Electronic Toothbrush in the Removal of Established Plaque and Reduction of Gingivitis, Quintessence Int 1996;27:389-94. redução tanto do tecido gengival como do tecido ósseo, pro- porcionando uma distância de pelo menos 2 mm entre a JCE e a crista óssea13, criando espaço para a formação da inser- ção conjuntiva e do epitélio juncional durante a cicatrização da área. A avaliação estética cuidadosa é necessária para tornar mais realista as expectativas do tratamento do sorriso gengi- val com aumento de coroa clínica. Deve ser considerada linha média da face, posição da borda incisal e linha do sorriso. Para a harmonia gengival, a posição do lábio superior deve ser paralela ou seguir a linha gengival dos dentes superiores e a incisal dos mesmos deve seguir a linha do lábio inferior17. A posição ideal da margem gengival é ditada pelo limite ver- tical do sorriso, nos incisivos centrais e caninos está posi- cionada no mesmo nível da parte inferior do lábio superior. A margem gengival dos incisivos centrais superiores está localizada 1 a 2 mm mais incisalmente do que os incisivos la- terais e caninos. O ponto mais alto da margem é distal à linha média do incisivo central e canino e é localizado no centro do incisivo lateral13. Devem ser avaliados os limites vertical e horizontal do sorriso. A dimensão vertical ideal é quando a margem gengi- val do incisivo central e canino superiores toca a borda infe- rior do lábio superior no sorriso completo e o limite horizontal do sorriso dita quão posterior o procedimento cirúrgico deve se estender8. Os procedimentos cirúrgicos periodontais estéticos só devem ser conduzidos se houver saúde gengival. Não deve haver sinais de doença periodontal como: sangramento após a sondagem, supuração, infl amação e perda óssea10,15. No entanto, os elementos chaves para se determinar posição e contorno da margem gengival são posição e contorno do osso alveolar subjacente15. A opção pelo tratamento estético periodontal que visa corrigir o sorriso gengival implica em diagnosticar correta- mente sua etiologia18. Depois de diagnosticada a erupção passiva alterada, o plano de tratamento cirúrgico para au- mento de coroa clínica segue o tipo de alteração16. CONCLUSÃO O sucesso do tratamento do sorriso gengival está no diagnóstico adequado da real etiologia do problema e no pla- nejamento de um tratamento preocupado com a manutenção das distâncias biológicas. Endereço para correspondência: Ana Lúcia Pompéia Fraga de Almeida Al. Dr. Octávio Pinheiro Brisola, 9-75 – Vila Universitária 17012-901 – Bauru – SP Tel.: (14) 3235-8081/3235-8272 – Fax: (14) 3235-8182 analmeida@usp.br 25 RESUMO A recessão gengival é uma condição bastante comum entre pacientes de ambos os sexos e em diferentes idades, aumentando sua frequência com o passar dos anos. As maiores queixas dos pacientes com reces- são gengival são hipersensibilidade radicular e aspecto antiestético. Para isto, existem diversos tratamentos, sendo as cirurgias de enxerto as mais utilizadas. Atualmente, o tratamento mais indicado para estes casos são os enxertos de tecido conjuntivo associados a alguma técnica de retalho. Este trabalho visou comparar apenas em recessões profundas, Classes I ou II de Miller, se existiam diferenças entre enxertos realizados com a técnica do envelope e a técnica do retalho posicionado apicalmente (RPA). Optou-se por estas técnicas, já que no envelope parte do enxerto fi ca ex- posto e no RPA ele é recoberto e um dos parâmetros avaliados foi o ganho de tecido ceratinizado após os atos cirúrgicos. Concluiu-se que ambas são igualmente satisfatórias quanto a recobrimento neste tipo de recessão, tendo a técnica do envelope um ganho maior de tecido ceratinizado, além de ter a cicatrização mais rápida. Unitermos - Recessão gengival; Enxerto conjuntivo; Recobrimento radi- cular. ABSTRACT The gingival recession is a common condition in pacients, in different ages, increasing its frequency with the age. Patients are frequently complaining about gingival recession, mostly in cases of root sensibility and non esthetical aspect. There are a variety of gingival recession treatment, where gingival grafts surgery are the most used procedure. Nowadays, the most indicated treatment are the graft surgeries combined with some kind of fl ap design. The goal of this study was to compare, in deep gingival recessions, Miller class I or II; if there were differences between grafts with Envelope technique and Langer and Langer technique. The choice for those techniques were that in the Envelope technique the graft remains partially exposed, while in Langer and Langer it remains covered. It was possible to conclude that both techniques had root coverage, while the Envelope present better results concerning the width of keratinized tissue and faster wound healing. Key Words - Gingival recession; Connective tissue grafts; Root coverage. Comparação entre duas técnicas para enxerto de tecido conjuntivo em recessões Classes I ou II de Miller *Especialista e mestre em Odontologia e Periodontia – PUC/PR. **Prof. em pós-graduação em Odontologia e Periodontia – PUC/PR. Relato de caso clínico Revista PerioNews 2011;5(1):25-33 Periodontia Fabio Bonamin dos Santos* Vula Papalexiou** Sônia M. Luczyszyn** Sung H. Kim** Vinicius A. Tramontina** Comparison between two techniques of connective tissue grafting in Miller recession Class I and II Recebido em set/2010 Aprovado em set/2010 26 Revista PerioNews 2011;5(1):25-33 dos Santos FB • Papalexiou V • Luczyszyn SM • Kim SH • Tramontina VA INTRODUÇÃO A recessão gengival é uma condição indesejada por re- sultar em exposição radicular, propiciando o acúmulo de pla- ca que pode resultar em cárie radicular, aspecto antiestético, exposição cervical das restaurações protéticas, sensibilida- de, além do medo de perda dentária por parte do paciente1. Pode ser defi nida como amigração apical da margem gengi- val, a partir da junção cemento-esmalte2. Várias são as causas da recessão gengival, entre elas o trauma de escovação, má posição dentária no arco, pre- sença de placa e cálculo dental, movimentos ortodônticos, grampos de próteses removíveis mal adaptados, incisões in- corretas, ou incisões intencionais para eliminação de bolsas periodontais3-5. Além disto, quanto menor a faixa de tecido ceratinizado, maior a incidência de recessão gengival6. É ne- cessário um mínimo de 2 mm de mucosa ceratinizada para a manutenção da saúde gengival, mesmo em áreas livres de placa clinicamente detectável7. Uma gengiva de espessura fi na apresenta pouco tecido conjuntivo entre o epitélio oral e o sulcular. Na presença de uma tábua óssea delgada, o pro- cesso infl amatório leva à formação de uma deiscência, fator imprescindível ao aparecimento das recessões. Com isto há união entre os epitélios, resultando na recessão gengival8. Recessões profundas podem representar um desafi o para o recobrimento completo de raízes expostas através de enxertos livres, devido à difi culdade de nutrição da sua porção mais coronal9-10. Os fatores que podem levar o den- te a apresentar recessão gengival podem ser divididos em: fatores anatômicos, fi siológicos e/ou patológicos11. Sabe-se que é necessária a presença de infl amação local causada por placa bacteriana ou trauma, que pode estar associada a uma série de fatores isolados ou em conjunto, tais como: trauma oclusal, presença de freios ou bridas inseridos próximos da margem gengival, hábitos nocivos, invasão de espaço bioló- gico, deiscências e fenestrações ósseas, mal posicionamen- to dentário, tábua óssea delgada, dentre outros12. A classifi cação de recessão gengival foi descrita em 1985 por Miller13, e divide-se em Classes I, II, III e IV, levando em conta a profundidade das recessões e a condição óssea e gengival interproximal. Nas Classes I e II de Miller, 100% de recobrimento radicular podem ser obtidos. A recessão Clas- se III de Miller não pode prever um recobrimento radicular completo e na Classe IV o recobrimento não pode ser espe- rado. Para o tratamento cirúrgico dessas recessões existem duas modalidades que podem ser aplicadas: enxertos pedi- culados e enxertos livres, sendo que os enxertos livres que utilizam tecido conjuntivo são os que apresentam a maior previsibilidade de recobrimento radicular9,14-16. A técnica de enxerto conjuntivo associado ao retalho posicionado coronariamente (RPC) foi descrita inicialmente17. Uma modifi cação foi então feita na técnica precursora, onde o retalho foi posicionado coronariamente recobrindo total- mente o enxerto. O enxerto conjuntivo é então submerso neste leito e assim terá irrigação de forma bilaminar, no lado interno pelo conjuntivo e periósteo e no externo pelo conjun- tivo presente no retalho. Na técnica do envelope10, o enxerto conjuntivo é colo- cado entre a superfície radicular desnuda e o retalho parcial previamente preparado. O retalho é realizado sem a presen- ça de incisões relaxantes e com a preservação das papilas, criando-se um envelope que irá servir como leito receptor do enxerto. O fato de não possuir incisões relaxantes, faz com que o suprimento sanguíneo do enxerto seja otimizado, diminuindo as chances de insucesso. Uma vez criado o enve- lope, o enxerto é colocado em seu interior, fi cando uma parte exposta ao meio bucal. A cicatrização do enxerto conjuntivo na área receptora pode ocorrer de várias formas, sendo que o mais comum é a adaptação conjuntiva. Com dois meses pós-operatórios, a adaptação do enxerto à raiz ocorre por migração epitelial e adaptação conjuntiva18. Visto que há poucos trabalhos comparando essas téc- nicas em recessões profundas ( 3 mm), faz-se necessária a avaliação comparativa para se determinar se existe uma melhor opção para tratamento destas áreas, tanto para reco- brimento radicular quanto para ganho de tecido ceratinizado. RELATO DE CASO CLÍNICO O estudo foi submetido ao CEP-PUC/PR (Comitê de Ética e Pesquisa em Humanos) e aprovado sob número 2.008. Os pacientes envolvidos assinaram um termo de consentimento, explicando os procedimentos a serem realizados, estando livres para abandonarem a pesquisa a qualquer momento, sem qualquer tipo de prejuízo para si. Foram atendidos dois pacientes vinculados à clínica Odontológica da PUC/PR, apresentando duas áreas distintas de recessão gengival Classes I ou II de Miller, com profundida- de 3 mm, em dentes homólogos monorradiculares. Como o cigarro é um fator que afeta negativamente na cicatrização de enxertos livres, pacientes fumantes não foram incluídos no estudo19-20. Previamente aos procedimentos cirúrgicos, foram realiza- dos procedimentos periodontais básicos e instrução de higie- ne bucal. Foram feitas tomadas radiográfi cas periapicais pa- 27Revista PerioNews 2011;5(1):25-33 Periodontia dronizadas com o uso de posicionador, para avaliar condição óssea interproximal para certifi car ausência de perda óssea e confi rmar a classifi cação das recessões. Foi realizada uma técnica em cada dente, sendo que estes deveriam ser únicos, contralaterais, monorradiculares e sem presença de doença periodontal. Pacientes tabagistas, etilistas, com doenças crô- nicas, e com trauma de oclusão, lesões cariosas ou abrasões no dente em questão não foram incluídos neste estudo. Os parâmetros periodontais avaliados foram: profundida- de de sondagem (margem gengival ao fundo do sulco clínico), nível de inserção clínica (junção cemento-esmalte ao fundo do sulco clínico), faixa de mucosa ceratinizada (da margem gen- gival à linha mucogengival), profundidade da recessão (jun- ção cemento-esmalte à margem gengival), largura da reces- são (em sua maior largura cervical) e os índices gengival, de placa e de sangramento a sondagem. Para as sondagens foi utilizada uma sonda milimetrada tipo PCP-UNC 15 (Hu-Friedy), tendo o auxílio de um dispositivo acrílico (stent) posicionado no dente a ser tratado e nos dentes vizinhos, para padroniza- ção da posição das medidas clínicas. Para avaliação da faixa de tecido ceratinizado foi utilizada solução de iodo metaloide (solução de Schiller). As cirurgias foram realizadas em dois momentos distintos, sendo a escolha entre as duas técnicas de maneira aleatória para cada sítio cirúrgico. Os procedimentos foram realizados sob efeito de anes- tesia local infi ltrativa com uso de lidocaína 2% com epinefrina 1:100.000 como vasoconstritor. Após a instalação da anes- tesia, as áreas a serem tratadas foram raspadas com curetas de Gracey, segui- das de descontaminação química com uso de EDTA 24% por dois minutos. Os enxer- tos conjuntivos foram sempre retirados da região do palato do paciente, do hemiarco correspondente ao do procedimento cirúrgico, com incisão em traço único que possibilita melhor cicatrização em um curto período de tempo. Todas as cirurgias foram realizadas pelo mesmo operador, objetivando maior padronização nos resultados clínicos. Como medicação pós-cirúrgica, foi usado ibuprofeno- arginina (Spidufen) 400 mg a cada oito horas por três dias. Além disto, bochecho com clorexidina 0,12%, duas vezes ao dia por sete dias, para o controle químico de placa bacte- riana. Na área doadora usou-se cimento cirúrgico (Coe-Pak), para maior conforto do paciente, e na receptora, com obje- tivo de evitar traumas involuntários na região por parte do paciente. O cimento foi retirado após três dias para controle de placa profi ssional e foi recolocado em casos de maior desconforto do paciente. As reavaliações dos parâmetros clínicos periodontais fo- ram realizadas após um, três, seis e 18 meses, sendo com- paradas com as avaliações iniciais prévias ao procedimento cirúrgico. Caso Clínico 1 Paciente LD, sexo feminino, 24 anos, leucoderma, apre- sentava recessões nos dentes maxilares devido a sua posi- ção vestibularizada. Os dentes 14 e 24 apresentavam reces- sões Classe I de Miller comboas condições de recobrimento. Técnica do Envelope, Figuras 1 a 10, e técnica de Lan- ger e Langer, Figuras 11 a 16 (Tabela 1). As reavaliações dos parâmetros clínicos periodontais foram realizadas após um, três, seis e 18 meses, sendo comparadas com as avaliações iniciais prévias ao procedimento cirúrgico. Figura 1 - Foto inicial evidenciando recessão gengival do dente 14, com 3 mm de profundidade. Figura 2 - Confecção do envelope em espessura parcial. 28 Revista PerioNews 2011;5(1):25-33 dos Santos FB • Papalexiou V • Luczyszyn SM • Kim SH • Tramontina VA Figura 3 - Após o enxerto ser posicionado, foi feita compressão com gaze, por cinco minutos, para sua estabilização. Figura 4 - Sutura do leito doador após remoção do enxerto pela técnica da incisão única. Figura 5 - Aspecto com sete dias pós-operatórios. Notar a boa maturação do enxerto. Figura 6 - Sete dias pós-operatórios na região doadora. Figura 7 - Pós-operatório de 30 dias. Figura 8 - Pós-operatório de três meses. Figura 9 - Pós-operatório de seis meses, evidenciando o ganho de tecido ceratinizado. Figura 10 - Controle após 18 meses da cirurgia. Paciente em tratamento ortodôntico. 29Revista PerioNews 2011;5(1):25-33 Periodontia TABELA 1 - ÍNDICES PERIODONTAIS AVALIADOS Altura da recessão (AR), largura da recessão (LR), faixa de mucosa ceratinizada (MC), profundidade de sondagem (PS), índice de placa (IP), índice gengival (IG) e índice de sangramento (IS).Al d ã (AR) l d ã (LR) f d d (MC) f d d d d d (PS) í d d l (IP) í d l (IG) í d d (IS) Dente 14 (Envelope) Dente 24 (Langer e Langer) Início Um mês Três meses Seis meses 18 meses Início Um mês Três meses Seis meses 18 meses AR 4 mm 2 mm 2 mm 1 mm 0 mm 4 mm 0 mm 0 mm 0 mm 0 mm LR 4 mm 2 mm 2 mm 2 mm 0 mm 4 mm 0 mm 0 mm 0 mm 0 mm MC 1 mm 3 mm 3 mm 3 mm 4 mm 1 mm 1 mm 1 mm 1 mm 1 mm PS 1 mm 2 mm 1 mm 1 mm 1 mm 1 mm 1 mm 2 mm 1 mm 1 mm IP 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 IG 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 IS 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 Figura 11 - Foto inicial do dente 24 com recessão de 4 mm de altura. Figura 12 - Retalho parcial elevado, com o enxerto estabilizado por suturas laterais. Figura 13 - Deslocamento do retalho apicalmente, recobrindo totalmente o enxerto. Figura 14 - Três meses pós-operatórios. Figura 15 - Seis meses pós-operatórios. Figura 16 - 18 meses pós-operatórios. 30 Revista PerioNews 2011;5(1):25-33 dos Santos FB • Papalexiou V • Luczyszyn SM • Kim SH • Tramontina VA Caso Clínico 2 Paciente EOG, sexo masculino, leucoderma, 23 anos, procurou a Clínica de Periodontia da PUC/PR com queixa de lesões por recessão gengival em vários dentes, principalmen- te nos dentes 13 e 23. Técnica do Envelope, Figuras 17 a 24, e técnica de Lan- ger e Lange, Figuras 24 a 32 (Tabela 2). Figura 17 - Recessão inicial do dente 23 (3 mm). Figura 18 - Envelope criado na região da recessão. Figura 19 - Enxerto conjuntivo posicionado sobre a recessão. Figura 20 - Cicatrização após sete dias. Figura 21 - Um mês pós-operatório. Figura 22 - Três meses de controle. Figura 23 - Após seis meses da cirurgia, houve um aumento de volume do tecido enxertado, devido ao Creeping attatchment. 31Revista PerioNews 2011;5(1):25-33 Periodontia Figura 24 - Recobrimento obtido após 18 meses da cirurgia, com aumento da faixa de tecido ceratinizado. Figura 25 - Recessão inicial no dente 13 (4 mm). Figura 26 - Incisões relaxantes e intrassulcular. Preservação das papilas. Figura 27 - Deslocamento apical do retalho, recobrindo toda a área da recessão. Figura 28 - Estabilização do retalho por pontos simples isolados. Figura 29 - Um mês pós-operatório. Figura 30 - Controle de três meses. Figura 31 - Seis meses pós-operatórios. 32 Revista PerioNews 2011;5(1):25-33 dos Santos FB • Papalexiou V • Luczyszyn SM • Kim SH • Tramontina VA No presente trabalho, ambas as técnicas mostraram- se satisfatórias quanto a recobrimento radicular. Isto se deve ao fato da indicação das cirurgias para recobrimento, onde Classes I e II de Miller têm boas chances de sucesso, além da cooperação dos pacientes quanto a higiene bucal e acompanhamento profi ssional. DISCUSSÃO No presente trabalho, ambas as técnicas mostraram-se satisfatórias quanto a recobrimento radicular. Isto se deve ao fato da indicação das cirurgias para recobrimento, onde Classes I e II de Miller têm boas chances de sucesso, além da cooperação dos pacientes quanto a higiene bucal e acom- panhamento profi ssional. Em estudos prévios comparando- se enxertos de tecido conjuntivo associado às técnicas do RPC e envelope, ambos obtiveram bons resultados quanto a redução da recessão (94,7% e 89,6%, respectivamente), sendo tais diferenças apenas numéricas, não signifi cativas estatisticamente. Já quanto ao ganho de mucosa ceratini- zada, houve signifi cativa melhora com a técnica do envelo- pe21-22. Outro estudo, comparando enxertos conjuntivos pelas técnicas de Langer e Langer e túnel, constatou que ambas tiveram redução signifi cativa nas recessões, sendo estatisti- camente superiores às tratadas pela técnica do túnel (96,4%) em comparação com as tratadas pela técnica de Langer e Langer (75,5%). Também, quanto ao ganho de inserção Figura 32 - Estabilidade do enxerto após 18 meses de acompa- nhamento. TABELA 2 - ÍNDICES PERIODONTAIS AVALIADOS Altura da recessão (AR), largura da recessão (LR), faixa de mucosa ceratinizada (MC), profundidade de sondagem (PS), índice de placa (IP), índice gengival (IG) e índice de sangramento (IS). Dente 13 (Langer e Langer) Dente 23 (Envelope) Início Um mês Três meses Seis meses 18 meses Início Um mês Três meses Seis meses 18 meses AR 4 mm 0 mm 0 mm 0 mm 0 mm 3 mm 2 mm 2 mm 1 mm 1 mm LR 4 mm 0 mm 0 mm 0 mm 0 mm 3 mm 3 mm 2 mm 2 mm 1 mm MC 2 mm 2 mm 2 mm 2 mm 2 mm 2 mm 3 mm 4 mm 4 mm 4 mm PS 1 mm 2 mm 2 mm 1 mm 1 mm 1 mm 1 mm 1 mm 1 mm 1 mm IP 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 IG 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 IS 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 33Revista PerioNews 2011;5(1):25-33 Periodontia clínica, a técnica do túnel foi superior 77,1% contra 56,4% da Langer e Langer23. Independente da técnica aplicada, a presença de um periodonto normal na área interproximal confere ótimo suprimento sanguíneo ao enxerto, o que não ocorre nas Classes III e IV. Em casos de recessões profun- das, a técnica do envelope deixa grande parte do enxerto exposto, sem suprimento sanguíneo por estar em contato apenas com a superfície dentária que é avascular. Portanto, apesar de esta estrutura poder ser incorporada e tornar-se tecido ceratinizado, existe o risco de necrose desta região e consequente reabsorção de parte do enxerto. Nos casos aqui apresentados, houve um aumento signifi cativo na faixa de tecido ceratinizado quando usada a técnica do envelope. Na técnica de Langer e Langer, como todo o enxerto deve ser recoberto pelo retalho, a vascularização é maior24, sen- do maior a chance de sucesso nesta terapia. Contudo, se o tecido preexistente não apresentar uma faixa adequada de mucosa ceratinizada, toda a área do recobrimento também será desprovida deste tecido, podendo haver limitação estéti- ca pela alteração da posição da junção mucogengival após o posicionamento coronário do retalho. Além disto, a cicatriza- ção das áreas tratadas com esta técnica foram mais demora- das do que nas tratadas com o envelope, devido as incisões relaxantes presentes em ambos os lados da recessão. No segundo caso apresentado com a técnica do envelope, o re- cobrimento poderia ter sido melhor se o tamanho do enxerto tivesse sido maior, por ter havido limitação de quantidade de tecido na área doadora. Entretanto, houve um aumento considerável na faixa de tecido ceratinizado pelo fenômeno do Creeping attatcment, que pode ocorrer de seis meses a um ano após o procedimento cirúrgico. A cicatrização do leito doador em todos os casos foi considerada ótima, por não ter havido necrose tecidual e consequentemente com pós-operatório favorável ao paciente. CONCLUSÃO • As duas técnicas foram igualmente satisfatóriasquanto a recobrimento radicular em recessões Classe I ou II de Miller, até 3 mm de altura. • Houve maior formação de tecido ceratinizado nas áreas que receberam a técnica de envelope. Endereço para correspondência: Fábio Bonamin dos Santos Rua Francisco Alves Guimarães, 333 - Cristo Rei 80050-210 – Curitiba – PR Tel.: (41) 3264-4001 fabiobond@yahoo.com.br REFERÊNCIAS 1. 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Esta combinação de técnicas foi efi ciente na reso- lução da sensibilidade radicular, proporcionando 100% de recobrimento com menor trauma cirúrgico, ausência de tecido doador palatal e com resultado estético ideal. Unitermos - Recobrimento radicular; Recessão gengival; Retalho reposi- cionado apical modifi cado; Retalho posicionado coronariamente. ABSTRACT This paper aims to report a clinic case of root coverage performed in a tooth with an exacerbated sensitivity due to gingival recession Class I Miller. The modifi ed apically repositioned fl ap was performed in order to increase the amount of keratinized tissue apical to the defect, prior to the use of coronally positioned fl ap. This combination of techniques was effective at a long term in resolution of the root sensitivity, providing 100% root coverage with less surgical trauma, absence of palatal donor tissue and excellent aesthetic result. Key Words - Root coverage; Gingival recession; Modifi ed apically repositioned fl ap; Coronally advanced fl ap. Retalho reposicionado apical modifi cado e retalho posicionado coronário. Combinação de técnicas cirúrgicas para tratamento de recessão radicular *Coordenador da Disciplina de Periodontia e dos Cursos de Especialização e Residência em Periodontia – Universidade Estadual de Londrina. **Professora da Disciplina e do Curso de Especialização em Periodontia – Universidade Estadual de Londrina. ***Graduado em Odontologia – Universidade Estadual de Londrina. Relato de caso clínico Revista PerioNews 2011;5(1):35-40 Periodontia João Carnio* Fernanda Akemi Nakanishi-Ito** Michael Hikaru Tashiro*** The modifi ed apically repositioned fl ap and coronally positioned fl ap. Combined techniques for treatment of root recession Recebido em ago/2010 Aprovado em set/2010 36 Revista PerioNews 2011;5(1):35-40 Carnio J • Nakanishi-Ito FA • Tashiro MH INTRODUÇÃO As recessões gengivais são defi nidas como o desloca- mento apical da gengiva marginal de sua posição cervical para níveis localizados na superfície radicular, aquém da jun- ção amelocementária1. Os fatores etiológicos das recessões gengivais podem ser divididos em dois grupos2-3: fatores determinantes (relacionados à má higienização e à escova- ção traumática4) e fatores predisponentes (incluindo tecido gengival delgado5, fatores iatrogênicos, mau posicionamento dental, inserção muscular alta, tração do frênulo e deiscên- cias ósseas alveolares). Entre os procedimentos propostos para recobrimento radicular, o retalho posicionado coronal (RPC) é uma das téc- nicas descritas na literatura para o tratamento de recessões Classe I e II de Miller6-10. Apesar de ser a técnica de fácil execução e de produzir resultado estético satisfatório, ela exige a presença de tecido ceratinizado apical ao defeito, ao redor de 3 mm, para que os resultados sejam satisfatórios e duradouros11-14. Quando existe ausência ou mesmo dimensões insatis- fatórias de gengiva ceratinizada apical ao defeito, o uso de enxerto gengival livre prévio é preconizado15-17. Embora pro- duza resultados funcionais adequados, a estética se torna comprometida e a utilização do palato como área doadora, gera mais um trauma cirúrgico e incômodo pós-operató- rio18-19. Visando aumentar a dimensão apicocoronal de gen- giva ceratinizada da área doadora, alguns autores20 propuse- ram o retalho reposicionado apical modifi cado (Marf- Modifi ed Apically Repositioned Flap), o qual apresenta vantagens como a não utilização de um tecido doador palatal, simplicidade da técnica, tempo operatório reduzido, menor trauma cirúrgico e estética satisfatória. O presente trabalho teve
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