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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR Centro de Ciências da Saúde - CCS Curso de Psicologia 1. Introdução Émile Durkheim (1858-1917) foi um dos pensadores que mais contribuiu para a consolidação da Sociologia como ciência. Viveu em uma Europa conturbada como consequência da Revolução Francesa, Revolução Industrial e Primeira Guerra Mundial. Para Durkheim, a humanidade avança no sentido de seu gradual aperfeiçoamento, governada por uma força inexorável: a lei do progresso (iluminismo). Contrário à forma revolucionária de 1789. Da mesma forma que Comte aspira formulação de leis. 2. A especificidade do objeto sociológico A Sociologia pode ser definida, segundo Durkheim, como a ciência “das instituições, da sua gênese e do seu funcionamento”, ou seja, de “toda crença, todo comportamento instituído pela coletividade”. A sociologia deveria limitar-se ao seu objeto de estudo: os fatos sociais. O fato social é “toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter”. Assim, pois, o fato social é algo dotado de vida própria, externo aos membros da sociedade e que exerce sobre seus corações e mentes uma autoridade que os leva a agir, a pensar e a sentir de determinadas maneiras. A sociedade, então, mais do que uma soma, é uma síntese e, por isso, não se encontra em cada um desses elementos, assim como os diferentes aspectos da vida não se acham decompostos nos átomos contidos na célula: a vida está no todo e não nas partes. Fatos sociais menos consolidados: casamento, suicídio, natalidade etc. e fatos sociais mais consolidados: regras jurídicas, morais, dogmas religiosos, etc. Os fatos sociais são internalizados por meio de um processo educativo. A educação cria um ser novo, insere-o na sociedade. As representações coletivas são uma das expressões do fato social. Elas compreendem os modos “como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a rodeia” Como ocorre a mudança? As instituições são passíveis de mudança desde que “vários indivíduos tenham, pelo menos, combinado a sua ação e que desta combinação se tenha desprendido um produto novo” que vem a constituir um fato social. 3. O método sociológico Diferenciação de um método científico do senso comum. Inspirado nas ciências da natureza. Mas com peculiaridades: a sociologia lida com o reino da natureza. A observação dos fatos sociais deve considerar: a) Os fatos sociais são “coisas”. b) Afastar as prenoções (a priori) na observação. c) Observar caracteres exteriores. d) Considerá-los independentes das manifestações individuais. A coisa se opõe à ideia. (...) É coisa todo objeto do conhecimento que a inteligência não penetra de maneira natural (...) tudo o que o espírito não pode chegar a compreender senão sob a condição de sair de si mesmo, por meio da observação... O sociólogo se comporta diante dos fatos assim qualquer cientista (da natureza). O que perturba o trabalho do sociólogo são seus sentimentos, suas paixões pelos objetos morais que examina. 4. A dualidade dos fatos sociais As regras morais são fatos sociais e são coativas. Mas também podem se apresentar como coisas agradáveis. A sociedade é nossa protetora. Apreciamos essa proteção e deixamos de sentir a coação. O fato social moral apresenta essa dualidade: “o ser proibido, que não se ousa violar; mas é também o ser bom, amado, procurado”. Os fatos sociais morais possuem uma autoridade que, embora os constrangendo (os seres humanos), eles amam. 5. Coesão e solidariedade A solidariedade é o que mantem a coesão de um grupo. O fundamento para a análise da solidariedade é a divisão do trabalho. Existe, pois, uma consciência coletiva e outra individual. O objetivo da educação é constituir a consciência comum. Promover a piedade social (a exemplo da piedade religiosa). Nas sociedades onde se desenvolve a divisão do trabalho a consciência coletiva é menor e surge a personalidade. Mas a diferenciação social (trabalho) não diminui a coesão... Ao contrário, faz com que “a unidade do organismo seja tanto maior quanto mais marcada a individualidade das partes”. Isso porque há interdependência dos indivíduos. 6. Dois tipos de solidariedade A solidariedade é chamada mecânica quando “liga diretamente o indivíduo à sociedade, sem nenhum intermediário”, constituindo-se de “um conjunto mais ou menos organizado de crenças e sentimentos comuns a todos os membros do grupo: é o chamado tipo coletivo”. O estabelecimento de um poder absoluto - ou seja, a existência de um chefe situado emanada da consciência comum. À medida que se acentua a divisão do trabalho social, a solidariedade mecânica se reduz substituída por uma nova: a solidariedade orgânica ou derivada da divisão do trabalho. 7. Os indicadores dos tipos de solidariedade A solidariedade é liga que une a sociedade. 8. Moralidade e anomia Moral (...) é tudo o que é fonte de solidariedade, tudo o que força o indivíduo a contar com seu próximo, a regular seus movimentos com base em outra coisa que não os impulsos de seu egoísmo, e a moralidade é tanto mais sólida quanto mais numerosos e fortes são estes laços (Durkheim). A anomia é a ausência ou redução da capacidade do tecido social de regular a conduta dos indivíduos por meio de regras. Quando a sociedade é perturbada por uma crise, torna-se momentaneamente incapaz de exercer sobre seus membros o papel de freio moral, de uma consciência superior à dos indivíduos. Estes deixam, então, de ser solidários, e a própria coesão social se vê ameaçada... O mundo moderno caracterizar-se-ia por uma redução na eficácia de determinadas instituições integradoras como a religião e a família, já que as pessoas passam a agrupar-se segundo suas atividades profissionais. Embora a atividade econômica venha acompanhando a civilização, esta não tem, por si só, nada de moralmente obrigatório nem tem servido ao progresso da moral. As corporações pré-industriais teriam o “poder moral capaz de conter os egoísmos individuais, de manter no coração dos trabalhadores um sentimento mais vivo de sua solidariedade comum, de impedir que a lei do mais forte se aplique tão brutalmente às relações industriais e comerciais”. Enfim, sendo a divisão do trabalho um fato social, seu principal efeito não é aumentar o rendimento das funções divididas, mas produzir solidariedade. Critica a herança e a revolução. Ele advoga também que o mérito do esforço pessoal possui caráter moral e, portanto, integrador. 9. Moral e vida social “A noção de bem penetra na noção de dever.” Junto ao conceito de autoridade desenvolve-se o de liberdade, a “filha da autoridade bem compreendida. Porque ser livre não é fazer o que se queira; é ser-se senhor de si, saber agir pela razão, praticando o dever.” Assim, se o educador tem uma ascendência moral sobre seus alunos é porque é para eles uma autoridade legítima, a qual não se dá através do temor que possa inspirar, mas da própria crença na missão que desempenha. A vida em grupo demanda desde já uma vida moral. Durkheim, “na verdade, o homem não é humano senão porque vive em sociedade” e sair dela é deixar de sê-lo. Para adquirir humanidade é indispensável superar-se, dominar as próprias paixões, considerar outros interesses que não os próprios. E é a sociedade que ensina aos homens a virtude do sacrifício, da privação, e a subordinação de seus fins individuais a outros mais elevados. 10. Religião e moral As religiões são constituídas por “um sistema solidário de crenças e de práticas relativas às coisas sagradas- isto é, separadas, interditas - crenças comuns a todos aqueles que se unem numa mesma comunidade moral chamada Igreja”. É a sociedade, então, que envolve os indivíduos no fenômeno religioso e que, por meio dos ritos, torna-se mais viva e atuante nas suas vidas. 11. A teoria sociológica do conhecimento Os conceitos - como, por exemplo, árvore, belo, elegante, decidido, gracioso constituem modos como as sociedades, em certas épocas, representam a natureza, os sentimentos, os objetos e as ideias. Conceitos e categorias são ambos representações coletivas. A origem dos conceitos só pode ser a comunidade, já que são compartilhados por todos e “dependem da maneira como ela é constituída e organizada”.