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08 12 Filosofia Caderno 2

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Prof. Maria Helena 
Filosofia & Sociologia 
 
Página 1 de 39 
Filosofia – Caderno 2 
AULA 1 – Ética: filosofia moral 
CONCEITOS DE MORAL E DE ÉTICA 
Moral: Conjunto de normas que orientam o comportamento 
humano tendo como base valores próprios de uma dada 
comunidade ou cultura. Valores relacionados ao bem e ao 
mal, ao permitido e ao proibido, válidos para todos os 
membros de cada sociedade. Os costumes são anteriores 
ao nosso nascimento e formam o tecido moral da sociedade 
em que vivemos. 
Ética: Filosofia Moral >>>> indagação ou questionamento 
a respeito da natureza e do significado dos valores morais 
e dos costumes. Ação pautada no bem comum, hábito 
racional que promove a virtude (Aristóteles). É no campo 
daquilo que está em nosso poder que aparecem os dilemas 
éticos, momentos em que o indivíduo entra em embate com 
a moral vigente (da sociedade) ou em situações novas para 
as quais existem lacunas morais. 
 
Conflito ético: o sujeito entende a norma moral como 
inadequada ou ilegítima. 
 
Texto I 
A característica específica do homem em comparação 
com os outros com os outros animais é que somente ele 
tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e 
de outras qualidades morais. 
 ARISTÓTELES, Política, p. 15 
Texto II 
Moral é o conjunto de normas que a sociedade elabora para 
regulamentar o comportamento dos indivíduos que 
compartilham a vida social. Ética é o conjunto de reflexões 
sistemáticas sobre a moral, elaboradas no curso da história. 
 Anita Helena Schlesener, Para Filosofar. São 
Paulo: Scipione, 2007; p. 61 
Ética e Ciência 
Saber científico: desenvolvimento tecnológico, controle da 
natureza. Tal saber amplia o campo das ações humanas. O 
ser humana passa a dispor de possibilidades de controlar a 
natureza. Porém, surgem com isso novos conflitos no 
campo moral e problematizações éticas. Até que ponto 
devemos manipular a natureza? 
DICA DE FILME: Gattaca, experiência genética (Andrew 
Niccol, 1997, EUA) 
BIOÉTICA 
Algumas definições: 
 
Estudo dos problemas e implicações morais despertados 
pelas pesquisas científicas e relacionados à vida humana. 
Área transdisciplinar que abrange a biologia, a medicina, o 
direito e a filosofia que estuda as condições necessárias 
para uma administração responsável da vida humana, 
animal e responsabilidade ambiental. 
 
Responsabilidade moral dos cientistas em suas pesquisas 
e aplicações. 
Questões centrais do campo bioético: 
Há limites para o desenvolvimento científico? 
Quais as implicações éticas do controle da natureza? 
 
Assuntos relacionados: 
 
A bioética abrange problemas como a utilização de seres 
vivos em experimentos, a legitimidade moral do aborto ou 
da eutanásia, as implicações profundas da pesquisa e da 
prática no campo da genética. 
Excerto de Hannah Arendt sobre Bioética: 
O mundo – artifício humano – separa a existência do 
homem de todo ambiente meramente animal; mas a vida, 
em si, permanece fora desse mundo artificial, e através da 
vida o homem permanece ligado a todos os outros 
organismos vivos. Recentemente, a ciência vem se 
esforçando por tornar artificial a própria vida, por cortar o 
último laço que faz do homem um filho da natureza. O 
mesmo desejo de fugir da prisão terrena manifesta-se na 
tentativa de criar a vida numa proveta, no desejo de 
misturar, 'sob o microscópio, o plasma seminal congelado 
de pessoas comprovadamente capazes, a fim de produzir 
seres humanos superiores' e 'alterar-lhe o tamanho, a forma 
e a função'; e talvez o desejo de fugir à condição humana 
esteja presente na esperança de prolongar a duração da 
vida humana para além do limite dos cem anos. 
Esse homem do futuro, que, segundo os cientistas, será 
produzido em menos de um século, parece motivado por 
uma rebelião contra a existência humana tal como nos foi 
dada (secularmente falando), que ele deseja trocar, por 
assim dizer, por algo produzido por ele mesmo. Não há 
razão para duvidar de que sejamos capazes de realizar 
essa troca, tal como não há motivo para duvidar de nossa 
atual capacidade de destruir toda a vida orgânica da terra. 
A questão é apenas se desejamos usar nessa direção 
nosso novo conhecimento científico e técnico – e esta 
questão não pode ser resolvida por meios científicos: é uma 
questão ética de primeira grandeza, e portanto não deve ser 
decidida por cientistas profissionais nem por políticos 
profissionais. 
(Hannah Arendt. A Condição Humana, 1995, p. 10-11) 
 
1. Concepções filosóficas de ética e moral 
 
Para Platão, ética relaciona-se à conduta racional à medida 
que as noções do bem e do justo estão presentes na 
dimensão inteligível, acessível somente aos que 
desenvolvem o intelecto. Como reconhecer o bem é 
determinante para que haja uma conduta moralmente boa, 
a ética vincula-se à busca pela verdade. 
 
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Filosofia & Sociologia 
 
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Para Aristóteles, por sua vez, a ética é uma habilidade 
relacional que fortalece virtude. O homem capaz de conter 
seus impulsos e agir racionalmente objetivando o bem 
comum é doado de virtudes morais. A virtude enobrece o 
homem e o conduz à felicidade, finalidade última da 
existência. Portanto, o hábito de refletir (ethos) nos 
aprimora em nossa condição humana, uma vez que para 
Aristóteles somos um ser animal racional (temos a 
capacidade de pensar), moral (temos a capacidade de 
discernir e construir valores) e político (compartilhamos e 
organizamos nossa vida social com base nos valores que 
organizamos). 
IMMANUEL KANT e a Crítica da Razão Prática 
 
Novas reflexões sobre ética e moral remetem ao 
pensamento de Kant, no século XVIII. Em sua busca por 
entender profundamente os princípios de racionalidade 
humana, o filósofo distingue a razão pura, instância que nos 
permite conhecer a realidade, da razão prática, instância 
incumbida de deliberar racionalmente e regular as ações 
humanas. 
A questão central em sua obra Crítica à Razão Prática é: 
existe algum princípio racional que regule de forma 
universal as ações? Ou seja, existe alguma referência ética 
que seja compartilhada por todos os indivíduos 
universalmente ou os valores morais são relativos às 
culturas e aos indivíduos? 
A partir de suas reflexões, Kant conclui que existe um 
princípio ético a priori, determinado pela razão prática. Tal 
princípio, chamado de imperativo categórico, regula de 
forma universal as ações a partir da noção de dever. 
“O imperativo categórico é portanto só um único, que é este: 
Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao 
mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” 
(KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: 
Edições 70, 1995. p. 59.) 
 
Assim, para Kant, há um princípio racional que orienta a 
moral e este existe a priori. Cabe ao indivíduo determinar 
se sua ação será pautada por tal princípio de racionalidade, 
uma vez que a ética é o campo da liberdade humana. Essa 
orientação ética universal, o imperativo categórico, 
determina que todo indivíduo deve agir considerando a 
possibilidade de sua ação ser amplificada em nível 
universal. Isso, para o filósofo, asseguraria a base moral de 
uma conduta individual, sem prejuízo para a humanidade. 
Não há conteúdo universalmente prescrito no campo da 
moral, mas uma noção de dever para com o outro, tomar a 
humanidade como um fim e não como um meio. Essa “ética 
do dever” é o princípio racional que norteia universalmente 
a conduta moral. 
Reações às concepções de Kant surgem, no século XIX, 
com Schopenhauer e Nietzsche, que condenam essa 
concepção de moral prescritiva, que teria como única 
finalidade o controle do indivíduo. Para Schopenhauer, a 
verdadeira experiência ética somente poderia brotar da 
compaixão genuína. De outro modo, o egocentrismo 
humano seria apenas contido por princípios de moralidadeexternos ao indivíduo, desprovidos, portanto, de real 
sentido. Para Nietzsche, é fundamental a negação da moral 
vigente, que aprisiona o homem em uma situação de culpa 
e resignação, inibindo a verdadeira potencialidade humana. 
2. Vertentes filosóficas contemporâneas sobre Ética 
 
UNIVERSALISMO 
O Universalismo, inspirado na filosofia moral de Kant, no 
século XVIII, prega que o comportamento moral deve ser 
predeterminado por princípios racionais universalmente 
válidos, vinculados à máxima kanteana do imperativo 
categórico: aja de modo que sua conduta possa ser 
universalizada sem prejuízo para as outras pessoas. A ética 
é, portanto, um dever racional que o indivíduo reconhece. 
Nessa lógica, comportamentos como matar e mentir seriam 
necessariamente negativos, uma vez que se fossem 
assumidos por todos os indivíduos, gerariam prejuízos 
tamanhos para a humanidade. 
 
UTILITARISMO 
 
O Utilitarismo como corrente de pensamento no campo da 
ética e da filosofia política tem sua origem principalmente 
com as ideias do pensador francês Helvétius (1715-71) e 
do inglês Bentham (1748-1832). Posteriormente foi 
desenvolvido e perpetuado pelo filósofo, pensador político 
e ativista liberal John Stuart Mill (1806-73). 
Esses pensadores estipulam o critério da utilidade como 
critério do valor moral de um ato. De acordo com esse 
princípio, o bem seria aquilo que maximiza o benefício e 
reduz a dor ou o sofrimento. O útil é entendido como aquilo 
que contribui para o bem estar geral. Desse modo, os 
pensadores ligados ao utilitarismo propõem que a conduta 
do sujeito moral deva ser avaliada pelo resultado e não pelo 
princípio. A boa ação é aquela que gera resultados 
favoráveis, independente dos meios e critérios. 
 
ÉTICA DAS VIRTUDES (ou Neoaristotelismo) 
 
Tal vertente é defendida por pensadores do século XX, tais 
como Habermas e Sartre. 
A virtude, tal como propôs Aristóteles, residiria no indivíduo 
equilibrado que pondera suas ações levando em 
consideração os efeitos de sua liberdade no outro. A 
decisão ética não é predeterminada, mas reside no sujeito 
 
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que a pratica, uma vez que todo ato está imerso em 
circunstâncias particulares e, pelo fato de tais 
circunstâncias serem normalmente complexas, é preciso 
que o agente avalie sua conduta nos casos particulares, o 
que carece de um aprimoramento do caráter (virtude). 
Como as virtudes não são inatas, a construção da atitude 
ética é um continuo aprendizado. 
“Toda a habituação ocorre no convívio, pois é somente no 
interior de nossas próprias relações humanas que podemos 
aprender o que é relevante humano e moral por meio da 
própria convivência” (Marco Zingano) 
É importante não confundirmos a ética das virtudes com o 
relativismo moral absoluto, que prega que não há bem 
comum: 
O relativismo moral é a visão de que as afirmações morais 
ou éticas, que variam de pessoa para pessoa, são todas 
igualmente válidas e que nenhuma opinião sobre o que é 
"certo e errado" é melhor do que qualquer outra. O 
relativismo moral é uma forma mais ampla e mais 
pessoalmente aplicada de outros tipos de pensamento 
relativista, tal como o relativismo cultural. Estas são todas 
baseadas na ideia de que não exista um padrão definitivo 
do bem ou do mal, por isso cada decisão sobre o que é 
certo e errado acaba sendo um puro produto das 
preferências e ambiente de uma pessoa. Não existe um 
padrão definitivo de moralidade, de acordo com o 
relativismo moral, e nenhuma declaração ou posição pode 
ser considerada absolutamente "certa ou errada", "melhor 
ou pior". 
Fonte: http://www.allaboutphilosophy.org/portuguese/relativismo-
moral.htm 
 
Texto Complementar: 
Muita gente diz que o significado de ser livre é fazer aquilo 
que se quer, como se o fato de uma pessoa não seguir 
determinada regra revelasse um indício de sua liberdade. A 
afirmação que a filosofia moral kantiana faz a respeito da 
liberdade aponta para o sentido oposto ao do senso 
comum: para poder pensar a liberdade como uma ideia 
universal, é necessário buscar seu fundamento nos limites 
da razão humana, ou seja, encontrar uma lei própria à razão 
que torne possível determinar se uma ação é livre ou não. 
Toda argumentação kantiana vai na direção de retirar da 
causa da ação (de sua intenção última) qualquer vinculação 
com o sensível (impulsos, instintos e desejos individuais). A 
moral, para o filósofo, não é prescritiva, no sentido de 
possuir um conteúdo prévio gerador de valores, mas terá 
de ser compreendida como um procedimento racional de 
avaliação das ações dos homens. 
Esse procedimento de avaliação diz respeito à 
possibilidade de universalização de uma determinada regra 
que, por sua vez, foi pressuposta pela vontade. Assim, se 
uma determinada regra, subjetiva, é válida para todos os 
seres racionais, a ação pressuposta pela regra da vontade 
é racional e, consequentemente, a ação será compreendida 
como uma ação por dever, que respeitou a lei. Esta obriga 
o sujeito a avaliar suas regras de conduta por meio do 
critério de universalização, ou seja, se sua regra de conduta 
é ou não passível de valer para todos os sujeitos racionais. 
Segundo Kant, o princípio formal da vontade, a lei, pode ser 
formulada dessa maneira: “Devo proceder sempre de uma 
maneira que eu possa querer também que a minha máxima 
se torne uma lei universal”. Essa primeira formulação da lei 
é o imperativo categórico da razão. 
Assim, uma ação só pode ser considerada moral se for livre, 
e só pode ser vista como livre no momento em que passa 
pelo critério de avaliação fornecido pela própria razão, pela 
universalização de sua máxima por meio do imperativo. É a 
razão que, portanto, determina a ética de uma ação. Kant 
está preocupado com a condição de universalidade da 
liberdade, o que pressupõe que a liberdade seja válida para 
todos os homens (de outro modo não seria liberdade). 
Todo esse movimento da filosofia prática kantiana converge 
para a ideia do sujeito moderno. Kant o pressupõe tanto do 
ponto de vista de um sujeito universal quanto do ponto de 
vista do indivíduo, pois, em última instância, como a 
vontade está vincula à ideia de uma intenção, só o próprio 
indivíduo pode avaliar se sua ação foi livre, moral, ou não. 
Apesar disso, se por um lado Kant resguarda a 
possibilidade de a vontade de um indivíduo não estar 
submetida à vontade de outrem, por outro lado, com o 
princípio de universalização, o sujeito deve agir de uma 
forma que o seu querer possa também ser entendido como 
uma lei universal. Ele deve levar em conta, portanto, todos 
os seres racionais em sua ação, ou seja, a sua ação é livre 
e moral na medida em que todos também possam, em 
princípio, agir da mesma forma. Kant não afirma que todos 
os seres racionais vão agir assim, mas que todos devem 
ser levados em consideração – o que dá legitimidade à 
legalidade moral. Com isso, o sujeito está sendo pensado 
tanto do ponto de vista de sua individualidade quanto do 
ponto de vista de sua universalidade. 
 Maurício Keirnert – Lei Moral e Autonomia: o conceito da 
vontade em Kant. 
Exercícios básicos 
 
1. (ENEM) Ninguém delibera sobre coisas que não podem 
ser de outro modo, nem sobre as que lhe é impossível fazer. 
Por conseguinte, como o conhecimento científico envolve 
demonstração, mas não há demonstração de coisas cujos 
http://www.allaboutphilosophy.org/portuguese/relativismo-moral.htm
http://www.allaboutphilosophy.org/portuguese/relativismo-moral.htm
 
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primeiros princípios são variáveis (pois todas elas poderiam 
ser diferentemente), e como é impossível deliberar sobre 
coisas que são por necessidade, a sabedoria prática não 
pode ser ciência, nem arte: nem ciência, porque aquilo que 
se pode fazer é capaz de ser diferentemente,nem arte, 
porque o agir e o produzir são duas espécies diferentes de 
coisa. Resta, pois, a alternativa de ser ela uma capacidade 
verdadeira e raciocinada de agir com respeito às coisas que 
são boas ou más para o homem. 
 
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril 
Cultural, 1980. Aristóteles considera a ética como 
pertencente ao campo do saber prático. Nesse sentido, ela 
difere-se dos outros saberes porque é caracterizada como: 
A. conduta definida pela capacidade racional de escolha. 
B. capacidade de escolher de acordo com padrões 
científicos. 
C. conhecimento das coisas importantes para a vida do 
homem. 
D. técnica que tem como resultado a produção de boas 
ações. 
E. política estabelecida de acordo com padrões 
democráticos de deliberação. 
 
2. (Uem 2012) A reflexão sobre a ética apresenta, na 
antiguidade clássica, três características principais: a) a 
fusão do sujeito moral com o sujeito político, pois só 
enquanto cidadão ou membro de uma comunidade política 
pode-se pensar a moralidade; b) a discussão de princípios 
éticos metafísicos, pois a moral fundamenta-se a partir de 
conceitos que descrevem uma interrogação sobre a 
essência do ser (o que é virtude, o que é a felicidade, o que 
é a verdade, etc.); c) a separação entre o domínio privado 
e o domínio público. A partir dessa reflexão sobre a ética na 
antiguidade grega, assinale o que for correto. 
 
 
01) A fundação platônica da cidade ideal, em A República, 
dá-se sob o signo de uma moralidade subjetiva, isto é, 
relativa à boa vontade dos indivíduos, seja qual for sua 
classe social ou política. 
02) Por ser precursor do pensamento político democrático, 
Platão defende os interesses dos escravos, das 
mulheres e das crianças. 
04) Na Ética a Nicômaco, Aristóteles defende os princípios 
de uma ética relativista, já que, ao defender o “justo 
meio”, acaba por defender a medida individual de cada 
sujeito. 
08) A ética, na cidade-Estado grega, acompanha seu 
fundamento político, razão pela qual a violência não é 
condenada na esfera privada e é proibida na esfera 
pública. 
16) Para Aristóteles, as amizades de um homem dependem 
da pessoa que se é, resultando, se ele for um home 
justo e correto, no coroamento de todos os bens: a 
felicidade. Por isso, a filosofia moral de Aristóteles é 
uma eudaimonia (do grego: “boa vida”, “vida feliz”). 
3. (Uncisal 2012) A Ética e a Moral são diferentes, porém 
intrinsecamente interligadas. As reflexões éticas exercem 
significativa influência sobre as práticas morais, assim 
como estas servem de matéria às reflexões éticas. A prática 
moral é relativa, mas as reflexões éticas tendem a ser 
universais. Com relação à Ética e à Moral, assinale a opção 
correta. 
a) Sem a Ética a Moral ficaria obsoleta, caduca, 
ultrapassada. 
b) Sendo universais os princípios éticos perdem o sentido à 
medida que se relacionam com os valores propagados 
pelas diferentes culturas. 
c) Os princípios éticos, em qualquer situação, são 
expressões do individualismo e do relativismo. 
d) A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um 
exemplo de práticas morais. 
e) Independentemente do momento histórico a Moral é 
única, absoluta e imutável. 
4. (Uel 2005) “É na verdade conforme ao dever que o 
merceeiro não suba os preços ao comprador inexperiente, 
e quando o movimento do negócio é grande, o comerciante 
esperto também não faz semelhante coisa, mas mantém 
um preço fixo geral para toda a gente, de forma que uma 
criança pode comprar em sua casa tão bem como qualquer 
outra pessoa. É-se, pois servido honradamente; mas isto 
ainda não é bastante para acreditar que o comerciante 
tenha assim procedido por dever e princípios de honradez; 
o seu interesse assim o exigia; mas não é de aceitar que 
ele além disso tenha tido uma inclinação imediata para os 
seus fregueses, de maneira a não fazer, por amor deles, 
preço mais vantajoso a um do que outro”. 
 
(KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. de 
Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 112.) 
 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o conceito 
de dever em Kant, considere as afirmativas a seguir, sobre 
a ação do merceeiro. 
 
I. É uma ação correta, isto é, conforme postula o dever 
social. 
 
II. É ética, pois revela honestidade na relação com seus 
clientes. 
 
III. Não é uma ação por dever, pois sua intenção é egoísta. 
 
IV. É honesta, mas motivada pela compaixão aos 
semelhantes. 
 
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Estão corretas apenas as afirmativas: 
a) I e II. 
b) I e III. 
c) II e IV. 
d) I, III e IV. 
e) II, III e IV. 
5. (Ufu 2003) Na Crítica da razão pura, Kant vincula o 
sistema da moralidade à felicidade. Assinale a alternativa 
que explica no que consiste a relação moralidade — 
subjetividade. 
a) A esperança de ser feliz e a aspiração por tornar-se feliz 
podem ser conhecidas pela razão prática, desde que o 
fundamento da ação e a norma da conduta sejam a 
máxima do “não faça aos outros aquilo que não queres 
que te façam”. 
b) A convicção da felicidade humana decorre da certeza de 
que todos os entes racionais comportam-se com a mais 
rigorosa conformidade à lei moral, de maneira que cada 
um age orientado pela sua vontade, ou seja, pela razão 
prática do arbítrio individual. 
c) Quando a liberdade é dirigida e restringida pelas leis 
morais, é possível pensar na felicidade universal, pois a 
observância dos princípios morais pode proporcionar não 
só o bem estar para si, como também ser o responsável 
pelo bem estar dos outros. 
d) A felicidade implica na transcendência do mundo moral, 
pois somente na esfera sensível é possível o 
conhecimento pleno das ações humanas, já que 
somente nesse mundo sensível é possível a conexão 
entre moralidade e felicidade. 
6. ENEM A moralidade, Bentham exortava, não é uma 
questão de agradar a Deus, muito menos de fidelidade a 
regras abstratas. A moralidade é a tentativa de criar a maior 
quantidade de felicidade possível neste mundo. Ao decidir 
o que fazer, deveríamos portanto, perguntar qual curso de 
conduta promoveria a maior quantidade de felicidade para 
todos aqueles que serão afetados. RACHELS, J. Os 
elementos da filosofia moral Barueri-SP, Manole, 2005. 
Os parâmetros da ação indicados no texto estão em 
conformidade com uma: 
 
a) fundamentação científica de viés positivista. 
b) convenção social de orientação normativa 
c) transgressão Comportamental religiosa 
d) racionalidade de caráter pragmático. 
e) inclinação de natureza passional 
7. (UNESP) É esse o sentido da famosa formulação do 
filósofo Kant sobre o imperativo categórico: “Aja unicamente 
de acordo com uma máxima tal que você possa querer que 
ela se torne uma lei universal”. Isso é agir de acordo com a 
humanidade, em vez de agir conforme o seu “euzinho 
querido”, e obedecer à razão em vez de obedecer às suas 
tendências ou aos seus interesses. Uma ação só é boa se 
o princípio a que se submete (sua “máxima”) puder valer, 
de direito, para todos: agir moralmente é agir de tal modo 
que você possa desejar, sem contradição, que todo 
indivíduo se submeta aos mesmos princípios que você. Não 
é porque Deus existe que devo agir bem; é porque devo 
agir bem que posso necessitar – não para ser virtuoso, mas 
para escapar do desespero – de crer em Deus. Mesmo se 
Deus não existir, mesmo se não houver nada depois da 
morte, isso não dispensará você de cumprir com o seu 
dever, em outras palavras, de agir humanamente. 
 
(André Comte-Sponville. Apresentação da filosofia, 2002. Adaptado.) 
 
O conceito filosófico de imperativo categórico é baseado no 
relativismo ou na universalidade moral? Justifique sua 
resposta. Explique o motivo pelo qual a ética kantiana 
dispensa justificativas de caráter religioso. 
8. (Uel 2007) Na segunda seção da Fundamentaçãoda 
Metafísica dos Costumes, Kant nos oferece quatro 
exemplos de deveres. Em relação ao segundo exemplo, 
que diz respeito à falsa promessa, Kant afirma que uma 
“pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro 
emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas 
vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer 
firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação 
de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante 
para perguntar a si mesma: Não é proibido e contrário ao 
dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se 
decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: Quando julgo 
estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e 
prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá”. 
 
Fonte: KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução 
de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 130. 
 
De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a moral 
kantiana, considere as afirmativas a seguir: 
I. Para Kant, o princípio de ação da falsa promessa não 
pode valer como lei universal. 
 
II. Kant considera a falsa promessa moralmente permissível 
porque ela será praticada apenas para sair de uma 
situação momentânea de apuros. 
 
 
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III. A falsa promessa é moralmente reprovável porque a 
universalização de sua máxima torna impossível a 
própria promessa. 
IV. A falsa promessa é moralmente reprovável porque vai 
de encontro às inclinações sociais do ser humano. 
A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é: 
a) I e II 
b) I e III 
c) II e IV 
d) I, II e III 
e) I, II e IV 
Gabarito: 
1. D 2. (8+16) 3. A 4. B 5. C 6. D 8. B 
7. O conceito de imperativo categórico, de Kant, é 
fundamentado na universalidade da moral, uma vez que o 
filósofo acredita que temos bases racionais para um 
discernimento moral universal. Isso significa sermos 
capazes de nos nortearmos por valores comuns, que não 
se vinculem a uma pretensa superioridade do eu em 
relação ao outro, mas que se pautem em uma máxima 
universal. É este dever universal que está contido no 
imperativo categórico: tratar a humanidade com um fim. E 
podemos alcançá-lo por sermos seres racionais, capazes 
de discernir moralmente. A ética kantiana dispensa 
justificativas de caráter religioso justamente pelo fato de se 
pautar em bases racionais. São essas bases – e não a 
moral prescrita – que nos fazem seres capazes de avaliar 
nossas condutas. 
 
Exercícios Complementares 
1. (Unesp 2011) Renata, 11, combinava com uma amiga 
viajar em julho para a Disney. Questionada pela mãe, que 
não sabia de excursão nenhuma, a menina pegou uma 
pasta com preços do pacote turístico e uma foto com os 
dizeres: “Se eu não for para a Disney vou ser um pateta”. A 
agência de turismo e a escola afirmam que não pretendiam 
constranger ninguém e que a placa do Pateta era apenas 
uma brincadeira. Para um promotor da área do consumidor, 
o caso ilustra bem os abusos na publicidade infantil. 
“Já temos problemas sérios de bullying nas escolas. Essa 
empresa está criando uma situação propícia para isso”. 
 
(Folha de S.Paulo, 20.04.2010. Adaptado.) 
Acerca dessa notícia, podemos afirmar que: 
a) Em nossa sociedade, os campos da publicidade e da 
pedagogia são esferas separadas, não suscitando 
questões de natureza ética. 
b) Para o promotor citado na reportagem, o caso em 
questão provoca problemas de natureza exclusivamente 
jurídica. 
c) Uma das questões éticas envolvidas diz respeito à 
exposição precoce das crianças à manipulação do 
desejo, exercida pela publicidade. 
d) O público-alvo dessa campanha publicitária constitui-se 
de indivíduos dotados de consciência autônoma. 
e) Para o promotor citado na reportagem, o caso em 
questão não apresenta repercussões de natureza 
psicológica. 
2. (Unesp 2011) Num mundo onde cresce sem parar a 
compulsão para obrigar as pessoas a levar uma vida 
“correta” no maior número possível das atividades que 
formam o seu dia a dia, a mesa tornou-se uma das áreas 
que mais atraem a atenção dos gendarmes empenhados 
em arbitrar o que é realmente bom para você. É uma 
provação permanente. Médicos, nutricionistas, personal 
trainers, editores e editoras de revistas dedicadas à forma 
física, ambientalistas, militantes da produção orgânica, 
burocratas, chefs de cozinha, críticos de restaurantes e 
mais uma multidão de diletantes prontos a dar testemunho 
expedem decretos cada vez mais frequentes, e cada vez 
mais severos, sobre os deveres do cidadão na hora de 
comer. O fato é que toda essa gente, quase sempre com as 
melhores intenções, acabou construindo um crescente 
sistema de ansiedade em torno do pão nosso de cada dia 
– e o resultado é que o prazer de comer bem vai sendo 
substituído pela obrigação de comer certo. Modelos, atrizes 
e outras pessoas que precisam pesar pouco para fazer 
sucesso chegam aos 30 anos de idade, ou mais, 
praticamente sem ter feito uma única refeição decente na 
vida. Propõe-se, como virtude alimentar, um mundo 
sombrio de pastas, mingaus, poções, soros de proteína e 
sabe-se lá o que ainda vem pela frente. Não está claro o 
que se ganha em toda essa história. A perspectiva de 
morrer, um dia, no peso ideal? 
(J. R. Guzzo. Veja, 09.06.2010. Adaptado.) 
Sob o ponto de vista filosófico, podemos afirmar que, para 
o autor, 
a) é positiva a adoção de procedimentos científicos no 
campo nutricional. 
b) o tema da qualidade de vida deve ser enfocado sob 
critérios morais. 
c) os padrões hegemônicos vigentes na sociedade atual no 
campo da nutrição são elogiáveis. 
d) a felicidade depende do número de calorias ingeridas 
pelo ser humano. 
 
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e) a autonomia individual deveria ser o critério para definir 
os parâmetros de uma vida adequada. 
3. (Uenp 2009) Leia o fragmento: 
 
“Tudo na natureza age segundo leis. Só um ser racional tem 
a capacidade de agir segundo a representação das leis, isto 
é, segundo princípios, ou: só ele tem uma vontade. Como 
para derivar as ações das leis é necessária a razão, a 
vontade não é outra coisa senão razão prática. Se a razão 
determina infalivelmente a vontade, as ações de um tal ser, 
que são conhecidas como objetivamente necessárias, são 
também subjetivamente necessárias, isto é, a vontade é a 
faculdade de escolher só aquilo que a razão 
independentemente da inclinação, reconhece como 
praticamente necessário, quer dizer bom”. 
(KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. de 
Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1995, p. 47.) 
Assinale a alternativa correta: 
 
a) A ética kantiana tem os mesmos princípios da ética 
aristotélica, e por isso pode ser considerada 
eudemonista e utilitarista. 
b) Kant afirmava que o princípio da ação moral era o 
imperativo categórico, que poderia ser reduzido a 
seguinte assertiva: “...age de tal forma que a máxima de 
sua ação possa ser universal”. 
c) Kant desenvolve uma ética do dever. 
d) No pensamento kantiano não existe qualquer distinção 
entre a lei ética, a lei física, a lei moral e a lei jurídica, 
porque todas possuem o mesmo princípio elementar de 
fundamento. 
e) O sistema proposto por Kant servirá de crítica para os 
teóricos posteriores que procuram defender a ideia de 
“ética mínima”. 
4.(Uem 2009) “A ética ou filosofia moral é a parte da filosofia 
que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e 
princípios que fundamentam a vida moral.” 
 
(ARANHA, Maria L. de Arruda e MARTINS, Maria H. Pires. Filosofando: 
introdução à Filosofia. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2003, p. 301). 
 
A ética nasce quando a indagação formula duas questões: 
primeiro, de onde vêm e o que valem os costumes; 
segundo, o que é o caráter de cada pessoa, isto é, seu 
senso e consciênciamoral. Assinale o que for correto. 
01) Para Nietzsche, a ética institui um “dever ser” moral, os 
princípios e os valores que ela dita são universais, 
portanto válidos para todos os homens, 
independentemente do tempo e do espaço. 
02) As perguntas dirigidas por Sócrates aos atenienses 
sobre o que eram os valores nos quais acreditavam e 
que respeitavam ao agir inauguram a filosofia moral, 
porque definem o campo no qual valores e obrigações 
morais podem ser estabelecidos pela determinação do 
seu ponto de partida, isto é, a consciência do agente 
moral. 
04) Para Aristóteles, a ética fundamenta-se em princípios 
ascéticos, em uma moral da abnegação, como 
condições indispensáveis para impor aos homens um 
“dever ser” capaz de conter o caráter perverso dos seus 
instintos e paixões. 
08) A ética não se confunde com a política, todavia elas 
mantêm entre si uma relação necessária, pois a 
formação ética é, ao sobrepor os interesses coletivos 
aos individuais, importante para o exercício da 
cidadania. 
16) Para Kant, não existe bondade natural. Por natureza, o 
homem pode ser egoísta, ambicioso, destrutivo, ávido 
de prazeres que nunca o saciam e pelos quais mata, 
mente, rouba; é a razão pela qual precisa do dever 
racional para se tornar um ser moral. 
5.(Unioeste 2009) “O termo bioética foi, primeiramente, 
utilizado pelo médico norte-americano V. R. Potter no início 
da década de 1970. [...] Nos últimos trinta anos, a bioética 
cresceu rapidamente como área de conhecimento e tornou-
se particularmente importante nas ciências relacionadas 
com a vida humana, tais como a medicina, a enfermagem, 
a biologia, o direito etc., apesar de ser um objeto de estudo 
interdisciplinar e ter ocupado também lugar central na 
filosofia moral”. (D. Dall'Agnol) 
Tendo em conta o ponto de vista da Bioética, é correto 
afirmar que 
a) questões relacionadas à intervenção na natureza e ao 
uso de recursos naturais são independentes das que 
dizem respeito à segurança, ao meio ambiente e ao bem-
estar comum. 
b) a conduta humana no âmbito das ciências da vida e da 
saúde não precisa ser analisada à luz dos valores e 
princípios morais. 
c) é preciso discutir a questão da responsabilidade e da 
autoridade da ciência e do médico em relação às 
intervenções e limites de certas experiências, tais como 
o aborto induzido, a esterilização, a eutanásia, a 
clonagem, as células-tronco, etc. 
d) o conhecimento científico, exatamente por tratar da 
verdade, não pode sofrer limitações por questões éticas 
e, portanto, é independente de valores morais. 
e) a ciência é uma atividade imparcial, neutra e 
desinteressada. 
 
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 6.(Uel 2007) “Ora, nós chamamos aquilo que deve ser 
buscado por si mesmo mais absoluto do que aquilo que 
merece ser buscado com vistas em outra coisa, e aquilo que 
nunca é desejável no interesse de outra coisa mais absoluto 
do que as coisas desejáveis tanto em si mesmas como no 
interesse de uma terceira; por isso chamamos de absoluto 
e incondicional aquilo que é sempre desejável em si mesmo 
e nunca no interesse de outra coisa” 
 
Fonte: ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Leonel Vallandro 
e Gerd Bornheim. São Paulo: Nova Cultural, 1987, 1097b, p. 15. 
 
De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a ética de 
Aristóteles, assinale a alternativa correta: 
a) Segundo Aristóteles, para sermos felizes é suficiente 
sermos virtuosos. 
b) Para Aristóteles, o prazer não é um bem desejado por si 
mesmo, tampouco é um bem desejado no interesse de 
outra coisa. 
c) Para Aristóteles, as virtudes não contam entre os bens 
desejados por si mesmos. 
d) A felicidade é, para Aristóteles, sempre desejável em si 
mesma e nunca no interesse de outra coisa. 
e) De acordo com Aristóteles, para sermos felizes não é 
necessário sermos virtuosos. 
 7.(Uema 2005) “Age como se a máxima de tua ação 
devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da 
natureza”. 
 
Essa máxima kantiana afirma que: 
 
a) a universalidade da conduta ética é aquilo que todo e 
qualquer ser humano racional deve fazer como se fosse 
uma lei inquestionável e válida para todo o tempo e lugar. 
A ação, por dever, é uma lei moral para o agente. 
b) a dignidade dos seres humanos como pessoas é, 
portanto, a exigência de que sejam tratadas como fim da 
ação e jamais como meio. 
c) o agir moral se funda exclusivamente na subjetividade. 
d) o motivo moral da vontade má é agir por dever. 
e) a ação por dever é uma lei amoral para o agente. 
8. (Unesp 2012) O clima do “politicamente correto” em que 
nos mergulharam impede o raciocínio. Este novo senso 
comum diz que todos os preconceitos são errados. Ao que 
um amigo observou: “Então vocês têm preconceito contra 
os preconceitos”. Ele demonstrava que é impossível não ter 
preconceitos, que vivemos com eles, e que grande 
quantidade deles nos é útil. Mas, afinal, quais preconceitos 
são pré-julgamentos danosos? São aqueles que carregam 
um juízo de valor depreciativo e hostil. Lembre-se do seu 
tempo de colégio. Quem era alvo dos bullies? Os diferentes. 
As crianças parecem repetir a história da humanidade: 
nascem trogloditas, violentas, cruéis com quem não é da 
tribo, e vão se civilizando aos poucos. Alguns, nem tanto. 
Serão os que vão conservar esses rótulos pétreos, 
imutáveis, muitas vezes carregados de ódio contra os 
“diferentes”, e difíceis (se não impossíveis) de mudar. 
 
(Francisco Daudt. Folha de S.Paulo, 07.02.2012. Adaptado.) 
 
O artigo citado aborda a relação entre as tendências 
culturais politicamente corretas e os preconceitos. Com 
base no texto, pode-se afirmar que a superação dos 
preconceitos que induzem comportamentos agressivos 
depende 
a) da capacidade racional de discriminar entre pré-
julgamentos socialmente úteis e preconceitos 
disseminadores de hostilidade. 
b) de uma assimilação integral dos critérios “politicamente 
corretos” para representar e julgar objetivamente a 
realidade. 
c) da construção de valores coletivos que permitam que 
cada pessoa diferencie os amigos e os inimigos de sua 
comunidade. 
d) de medidas de natureza jurídica que criminalizem a 
expressão oral de juízos preconceituosos contra 
integrantes de minorias. 
e) do fortalecimento de valores de natureza religiosa e 
espiritual, garantidores do amor ao próximo e da 
convivência pacífica. 
 
Gabarito: 
1.C 2.E 3.B 4. (2+8+16) 5.C 6.D 7.A 8.E 
 
AULA 2 – O idealismo alemão: Hegel 
Hegel (1770 – 1831) 
Georg Hegel nasceu em Stuttgart, na Alemanha. Estudou 
teologia e atuou muitos anos como preceptor. Estabeleceu-
se como professor na Universidade de Jena, onde produziu 
a sua mais importante obra: Fenomenologia do Espírito 
(1807), mas foi forçado a deixar a cidade quando ela foi 
invadida pelas tropas de Napoleão. Trabalhou como editor, 
professor e, mais tarde, nas importantes Universidades de 
Heidelberg e de Berlim. 
“Hegel foi o filósofo mais famoso na Alemanha na primeira 
metade do século XIX. Sua ideia central era a de que todos 
 
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os fenômenos, da consciência às instituições políticas, são 
aspectos de um único espírito (mente ou ideia) que ao longo 
do tempo reintegra esses aspectos em si mesmo. Esse 
processo de reintegração é o que Hegel chama de dialética: 
um processo que nós (enquanto aspectos do espírito) 
entendemos como história.” 
 (O Livro da Filosofia – Ed. Globo, 2011) 
Crítica à Kant: como podemos criticar e estabelecer os 
limites da razão usando a própria razão? 
A realidade possui um movimento dialético. A realidade é 
dinâmica e, em seu movimento, apresenta momentos que 
se contradizem sem, no entanto, perder a unidade do 
processo. A realidade é,portanto, um contínuo DEVIR, no 
qual um momento prepara para o outro, mas, para que esse 
outro momento possa acontecer, o anterior tem que ser 
negado. 
Dialética: TESE ANTÍTESE SÍNTESE 
 
Sistema dialético hegeliano: o caminhar do espírito 
(consciência) em busca do absoluto. A busca da infinitude 
a partir da consciência finita. 
O caminho é feito de verdades parciais que vão sendo 
reunidas até que se chegue a uma verdade totalizadora que 
as engloba. Cada tese e cada antítese foram verdadeiras, 
mas parciais, foram momentos necessários para a razão 
conhecer-se cada vez mais. 
A razão é histórica e o real é obra histórica da razão. 
O processo histórico tem uma lógica racional. Todas as 
coisas e eventos, mesmo os piores, possuem um sentido 
dentro do processo histórico, pois compõem o plano 
racional que é a realidade. 
A formação da consciência vai depender do contexto 
histórico em que está inserida. É na ação que a consciência 
adquire compreensão do objeto. 
 
A Filosofia é: “sua época apreendida pelo pensamento”. 
 
Exercícios 
 
1.(Ueg 2011) Um dos elementos mais conhecidos da 
filosofia de Hegel é a dialética, baseada no pressuposto de 
que uma ideia (tese) produz uma ideia oposta (antítese), 
resultando, consequentemente, numa conciliação (síntese) 
entre as duas ideias opostas. Nesse sentido, ao utilizar 
esse princípio hegeliano para interpretar os sistemas 
políticos contemporâneos, percebe-se que a síntese entre 
os princípios do liberalismo e os do marxismo foi efetivada 
no 
a) Estado de bem-estar social. 
b) anarquismo de Bakunin. 
c) nazismo alemão. 
d) fascismo italiano. 
2.(Uem 2010) Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o 
kantismo. Endereçou a todos a mesma crítica, a de não 
terem compreendido o que há de mais fundamental e 
essencial à razão: o fato de ela ser histórica. Com base 
nessa afirmação, assinale o que for correto. 
01) Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel considera a 
razão como sendo relativa, isto é, não possui um caráter 
universal e não pode alcançar a verdade. 
02) Não há para Hegel nenhuma relação entre a razão e a 
realidade. Submetida às circunstâncias dos eventos 
históricos, a razão está condenada ao ceticismo, isto é, “ao 
duvidar sempre”. 
04) A identificação entre razão e história conduz Hegel a 
desenvolver uma concepção materialista da história e da 
realidade, negando entre ambas a possibilidade de uma 
relação dialética. 
08) No sistema hegeliano, a racionalidade não é mais um 
modelo a ser aplicado, mas é o próprio tecido do real e do 
pensamento. O mundo é a manifestação da ideia, o real é 
racional, e o racional é o real. 
16) Karl Marx, ao afirmar, na Ideologia alemã, que não é a 
história que anda com as pernas das ideias, mas as ideias 
é que andam com as pernas da história, critica, ao mesmo 
tempo, o idealismo e a concepção da história de Hegel e 
dos neo-hegelianos. 
3.(Ufu 2005) Hegel, em seus cursos universitários de 
Filosofia da História, fez a seguinte afirmação sobre a 
relação entre a filosofia e a história: “O único pensamento 
que a filosofia aporta é a contemplação da história”. 
HEGEL, G. W. F. Filosofia da História. 2 ed. Brasília: Editora da UnB, 
1998, p. 17. 
De acordo com a reflexão de Hegel, é correto afirmar que: 
 
I. a razão governa o mundo e, portanto, a história universal 
é um processo racional. 
II. a ação dos homens obedece a vontade divina que 
preestabelece o curso da história. 
III. no processo histórico, o pensar está subordinado ao real 
existente. 
IV. a ideia ou a razão se originam da força material de 
produção e reprodução da história. 
Assinale a alternativa que contém somente assertivas 
corretas. 
a) III e IV. 
 
b) I e II. 
 
c) II e III. 
 
d) I e III. 
 
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Gabarito: 
Resposta da questão 1: [A] 
A única alternativa correta é a A, porém, com ressalvas. O 
Estado de bem-estar social, como síntese dos princípios do 
liberalismo com o marxismo, só pode ser considerado a 
partir de uma concepção simplista da dialética hegeliana. A 
síntese dialética é uma forma de se alcançar a realidade e 
a verdade por meio da contradição, não uma forma de se 
adaptar governos ou interesses políticos. 
Resposta da questão 2: 08 + 16 = 24. 
 
Somente [08] e [16] são asserções verdadeiras. O 
idealismo hegeliano, uma das teorias filosóficas mais 
difíceis de serem compreendidas, considerava a razão 
como sendo histórica, no sentido de que ela conhece-se a 
si mesma através do tempo. Hegel também dividia a razão 
em dois tipos: a razão subjetiva, correspondente ao 
conjunto de leis do pensamento, e a razão objetiva, 
correspondente à ordem objetiva e racional das coisas. É 
na busca da superação de tal sistema filosófico que Karl 
Marx desenvolveu seu materialismo dialético. 
Resposta da questão 3: [D] 
O idealismo hegeliano faz uma abordagem da história 
enquanto manifestação da razão. Nesse processo, o 
pensar está subordinado ao real existente, ou seja, à razão. 
Vale ressaltar que essa razão não corresponde à vontade 
divina nem é produzida pela força material de produção e 
reprodução da história. Essa última visão (apresentada na 
assertiva IV) se aproxima mais ao marxismo que ao 
hegelianismo. 
 
 
AULA 3 – Origens da Sociologia 
O QUE É SOCIOLOGIA? 
Ciência que surge no século XIX e que se propõe a estudar 
a sociedade moderna. 
Objetivos: 
- analisar a relação entre as transformações na vida 
cotidiana e os processos mais amplos de mudança 
histórica. 
- compreender a sociedade industrial do século XIX: 
capitalismo, vida urbana, industrialização, desenvolvimento 
tecnológico, novas relações de tempo e espaço, 
individualismo, secularização. 
Estas mudanças que caracterizam a sociedade moderna 
passam a não ser mais tomadas como naturais pelo 
indivíduo do século XIX. Nesse contexto, surgem as 
chamadas ciências sociais, que aplicam o método científico 
(rigor, apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos) 
para estudar diferentes aspectos da vida social. 
Sociologia – estudo científico da sociedade moderna, com 
foco em questões estruturais e na relação entre indivíduo e 
sociedade. 
Antropologia – ciência social que estuda o ser humano 
como produtor de cultura e as diferentes manifestações 
culturais 
Ciência Política – estudos dos fenômenos e das estruturas 
políticas. 
 
imaginação sociológica 
Expressão criada pelo cientista social norte-americano C. 
Wright Mills em 1959. Ela designa uma habilidade que 
qualquer indivíduo pode desenvolver ao longo da vida. 
Significa o indivíduo tornar-se capaz de compreender de 
modo mais amplo os eventos cotidianos, estabelecendo 
relações entre a biografia (pessoal) e a história (social, 
estrutural). Assim, a imaginação sociológica é um conceito 
que que procura descrever o processo de conexão entre a 
experiência individual da pessoa com as instituições sociais 
sob as quais convive e com o seu próprio lugar 
na história da humanidade. 
 
Carles Wright Mills (1916 – 1962) 
Contexto histórico do surgimento da sociologia: 
- Rev. Industrial: desestrutura por completo o feudalismo e 
consolida o modo de produção capitalista; 
- Rev. Francesa: marca, junto às demais revoluções 
burguesas, a ascensão política da classe burguesa, que 
desestrutura o Antigo Regime e abre caminhos para o 
surgimento de modelos de democracia representativa 
baseados na igualdade jurídica e civil dos cidadãos; 
- Iluminismo: corrente filosófica do século XVIII que 
compreende a razão humana como instrumento de 
transformação histórica (progresso), consagra a ciência e 
dissemina valores liberais como liberdade e igualdade. 
É importante notarmos que até o Iluminismo não existia um 
pensamento autônomo sobre a vida social, as tradições, os 
costumes (ancorados na religião) regiam a vida cotidiana 
como se todos os hábitos evalores fossem inquestionáveis. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/C._Wright_Mills
https://pt.wikipedia.org/wiki/C._Wright_Mills
https://pt.wikipedia.org/wiki/1959
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria
 
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A desigualdade entre os homens era tomada como uma 
condição natural. 
 
Contexto científico do surgimento da sociologia: 
Dentre os pressupostos científicos para o surgimento da 
Sociologia encontram-se as seguintes noções, bastante 
difundidas no século XIX: 
− as relações entre os homens podem ser destacadas 
como objeto de conhecimento científico; 
− há leis (padrões) que ordenam a política, o Estado, os 
costumes e hábitos sociais (esses padrões 
independem da vontade do homem) e tais leis podem 
ser conhecidas por meio de um método formalizado de 
acordo com as premissas da ciência. 
Como vimos, a sociedade que inquietava os primeiros 
sociólogos era uma sociedade industrial, marcada por 
novas formas de produção material e pela intensa divisão 
do trabalho. A ciência passa a ocupar lugar de destaque 
nessa sociedade, uma vez que muitas teses e descobertas 
sobre a natureza se alastram pela Europa dos séculos XVIII 
e XIX, alternando significativamente o que se conhecia do 
mundo. O cientificismo do período expande-se para o 
estudo da sociedade, gerando um conjunto de teses e 
interpretações hoje bastante questionáveis, mas que 
marcaram os primeiros estudos no campo sociológico. 
 
Darwinismo Social 
 
Muitos cientistas e políticos do século XIX leram as teses 
de Darwin sobre a evolução das espécies e transpuseram 
tais ideias para a análise da sociedade, o que resultou no 
darwinismo social, expressão que abarca teses do século 
XIX que afirmam que as sociedades se desenvolvem de 
forma semelhante, sempre de um estágio inferior para um 
estágio superior. Inspirados nessa perspectiva 
evolucionista, cientistas justificavam a discrepância entre as 
sociedades europeias e as de outros continentes, que se 
encontrariam em estágios inferiores de desenvolvimento. 
Além de refletir o otimismo da industrialização, o 
darwinismo social acabou servindo de forte justificativa para 
o colonialismo na África e em outras regiões do planeta que, 
na leitura dos representantes dessa corrente, careciam de 
ser levados ao progresso. 
 
Herbert Spencer (1820 – 1903) 
 
Spencer, principal teórico e defensor do Organicismo, 
defendeu a tese de que toda a realidade evolui de modo 
semelhante aos organismos vivos. Na perspectiva social, o 
sistema organicista defende a ideia da superioridade dos 
seres que melhor se adaptam ao ambiente. 
Auguste Comte (1789 – 1857) 
 
Filósofo francês, criador da corrente filosófica conhecida 
como Positivismo. Nela, a ciência é o único conhecimento 
válido à compreensão da realidade e capaz de resolver os 
problemas que impedem as sociedades humanas de 
alcançarem a sua plenitude. 
Comte consolidou a palavra “sociologia” no ambiente 
intelectual da época, num primeiro momento chamada de 
“física social”, dada a influência das ciências da natureza, 
seu método e pretensão de neutralidade. Ele defendia a 
tese de que a humanidade passava por três estágios de 
conhecimento: 
TEOLÓGICO: os homens atribuíam as causas dos 
fenômenos aos deuses. 
METAFÍSICO: recorriam a conceitos abstratos para 
entender o mundo. 
POSITIVO: os homens aplicam métodos científicos para 
compreender a causa dos fenômenos. 
Comte creditava que a especificidade da Sociologia era o 
estudo da sociedade. Defendia a existência de leis sociais 
que determinam o curso da evolução da humanidade. As 
leis são resultados aleatórios da ação humana. Essa 
movimentação natural tende a levar as sociedades ao 
progresso (evolução). As forças evolutivas, que fazem 
eclodir as transformações necessárias seriam, por sua vez, 
equilibradas pela ação das forças ordenadoras, que teriam 
o papel de manter a coesão das sociedades, não permitindo 
que as transformações abalassem de modo demasiado as 
estruturas. Essas forças, ordem e progresso, deveriam 
existir sempre em equilíbrio. 
O filósofo almejava entender a organização da sociedade 
industrial europeia, direcionando-a ao progresso. 
Acreditava que a Sociologia poderia estudar 
profundamente e contribuir com o equilíbrio das forças 
sociais. O positivismo influenciou um outro importante 
pensador francês, chamado Émile Durkheim, considerado 
um dos pais da Sociologia. 
 
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EXERCÍCIOS 
 
1. (Uem 2018) Auguste Comte (1798-1857), a quem se 
atribui a formulação do termo Sociologia, foi o principal 
representante e sistematizador do Positivismo. Acerca do 
pensamento comteano, é correto afirmar que 
01) considerava os prejuízos do desenvolvimento 
econômico das sociedades industriais. 
02) teve grande influência sobre o pensamento social 
brasileiro do século XIX e início do XX. 
04) a inspiração para o método de investigação dos 
fenômenos sociais de Comte veio das ciências da 
natureza. 
08) era uma tentativa de constituição de um método objetivo 
para a observação dos fenômenos sociais. 
16) considerava o progresso e a evolução social um 
princípio da história humana. 
3. (Uem 2018) Assinale o que for correto em relação ao 
surgimento das Ciências Sociais e de suas perspectivas 
teóricas e metodológicas. 
 
01) Tal como a Física, a Química e a Biologia, a Sociologia 
surgiu como parte do desenvolvimento e dos 
desdobramentos do conhecimento científico. 
02) Somente com o surgimento da Sociologia e da 
Psicologia, por volta do século XVIII, a humanidade 
despertou sua curiosidade para o comportamento 
humano e suas consequências para as relações entre 
as pessoas. 
04) A Sociologia, como as demais ciências puras, não tem 
impacto prático na vida das pessoas. 
08) A avaliação de resultados de políticas públicas pode ser 
um dos objetivos da investigação sociológica. 
16) O estudo sociológico somente é possível porque a 
humanidade já atingiu seu completo desenvolvimento 
no processo de estruturação social. 
 
3. (UNESP 2016) 
Texto 1 
Diversamente do idealismo, o positivismo reivindica o 
primado da ciência: nós conhecemos somente aquilo que 
as ciências nos dão a conhecer, pois o único método de 
conhecimento é o das ciências naturais. O positivismo não 
apenas afirma a unidade do método científico e o primado 
desse método como instrumento de conhecimento, mas 
também exalta a ciência como o único meio em condições 
de resolver, ao longo do tempo, todos os problemas 
humanos e sociais que até então haviam atormentado a 
humanidade. 
(Giovanni Reale e Dario Antiseri. História da Filosofia, vol. 3, 1999. 
Adaptado.) 
Texto 2 
Basta, portanto, que os homens sejam considerados coisas 
para que se tornem manipuláveis, submetidos à ditadura 
racionalizada moderna que encontra seu apogeu no campo 
de concentração. Assim, a nova crise da razão é interna e 
traz subitamente à luz, no cerne da racionalização, a 
presença destrutiva da desrazão. Já não é apenas a 
suficiência e a insuficiência da razão que estão em causa, 
é a irracionalidade do racionalismo e da racionalização. 
Essa irracionalidade pode devorar a razão sem que ela se 
dê conta. 
(Edgar Morin. Ciência com consciência, 1996. Adaptado.) 
 
Considerando a análise realizada por Edgar Morin sobre as 
tendências irracionais da razão, explique sua importância 
para uma crítica ao otimismo positivista diante da ciência. 
4. (ENEM 2006) No início do século XIX, o naturalista 
alemão Carl Von Martius esteve no Brasil em missão 
científica para fazer observações sobre a flora e a fauna 
nativas e sobre a sociedade indígena. Referindo-se ao 
indígena, ele afirmou: 
 “Permanecendo em grau inferior da humanidade, 
moralmente, ainda na infância, a civilização não o altera, 
nenhum exemplo o excita e nada o impulsiona para um 
nobre desenvolvimentoprogressivo [...]. Esse estranho e 
inexplicável estado do indígena americano, até o presente, 
tem feito fracassarem todas as tentativas para conciliá-lo 
inteiramente com a Europa vencedora e torná-lo um 
cidadão satisfeito e feliz.” 
 
(VON MARTIUS, Carl. O estado do direito entre os autóctones do Brasil. 
Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1982.) 
 
Com base nessa descrição, conclui-se que o naturalista 
Von Martius 
 
a) apoiava a independência do Novo Mundo, acreditando 
que os índios, diferentemente do que fazia a missão 
europeia, respeitavam a flora e a fauna do país. 
b) discriminava preconceituosamente as populações 
originárias da América e advogava o extermínio dos índios. 
c) defendia uma posição progressista para o século XIX: a 
de tornar o indígena cidadão satisfeito e feliz. 
d) procurava impedir o processo de aculturação, ao 
descrever cientificamente a cultura das populações 
originárias da América. 
e) desvalorizava os patrimônios étnicos e culturais das 
sociedades indígenas e reforçava a missão "civilizadora 
europeia", típica do século XIX. 
 
 
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5. (Uem 2012) Sobre a relação entre a revolução industrial 
e o surgimento da sociologia como ciência, assinale o que 
for correto. 
 
01) A consolidação do modelo econômico baseado na 
indústria conduziu a uma grande concentração da 
população no ambiente urbano, o qual acabou se 
constituindo em laboratório para o trabalho de 
intelectuais interessados no estudo dos problemas que 
essa nova realidade social gerava. 
02) A migração de grandes contingentes populacionais do 
campo para as cidades gerou uma série de problemas 
modernos, que passaram a demandar investigações 
visando à sua resolução ou minimização. 
04) Os primeiros intelectuais interessados no estudo dos 
fenômenos provocados pela revolução industrial 
compartilhavam uma perspectiva positiva sobre os 
efeitos do desenvolvimento econômico baseado no 
modelo capitalista. 
08) Os conflitos entre capital e trabalho, potencializados 
pela concentração dos operários nas fábricas, foram 
tema de pesquisa dos precursores da sociologia e 
continuam inspirando debates científicos relevantes na 
atualidade. 
16) A necessidade de controle da força de trabalho fez com 
que as fábricas e indústrias do século XIX inserissem 
sociólogos em seus quadros profissionais, para 
atuarem no desenvolvimento de modelos de gestão 
mais eficientes e produtivos. 
 
6. (Ufu 2010) A Sociologia surge em um período em que o 
fazer científico encontrava-se influenciado por algumas 
teses desenvolvidas durante o século XIX. Herbert 
Spencer, Charles Darwin e Auguste Comte, por exemplo, 
tiveram grande importância para o pensamento sociológico. 
O primeiro, por aplicar às ciências humanas o 
evolucionismo, mesmo antes das teses revolucionárias 
sobre a seleção das espécies do segundo. Com relação a 
Comte, houve a influência de seu “espírito positivo” na 
formação dos muitos intelectuais do período. 
Sobre as ideias de evolução e progresso e seu impacto no 
pensamento sociológico, podemos afirmar que: 
 
a) A ideia de progresso, apesar de ter grande influência na 
área das ciências naturais, não teve impacto decisivo na 
constituição da sociologia. 
b) A ideia de evolução foi uma das palavras de ordem do 
período, mas a sociologia rejeitou a sua adoção, assim 
como qualquer comparação entre seus efeitos no reino 
natural e no mundo social. 
c) A explicação sociológica procurou, desde o seu início, 
afastar-se de qualquer forma de determinismos, fossem 
biológicos ou geográficos, pois se contrapunha 
fortemente às explicações de cunho evolucionista. 
d) Em sua busca por constituir-se como disciplina, a 
Sociologia passou pela valorização e incorporação dos 
métodos das ciências da natureza, utilizando metáforas 
organicistas, assim como conferindo ênfase à noção de 
função. 
7. (UNESP) É difícil acreditar na guerra terrível, mas 
silenciosa, que os seres orgânicos travam em meio aos 
bosques serenos e campos risonhos. 
 
("C. Darwin, anotação no Diário de 1839".) 
 
Na segunda metade do século XIX, a doutrina sobre a 
seleção natural das espécies, elaborada pelo naturalista 
inglês Charles Darwin, foi transferida para as relações 
humanas, numa situação histórica marcada 
 
a) pela concórdia universal entre povos de diferentes 
continentes. 
b) pela noção de domínio, supremacia e hierarquia racial.
 
c) pelos tratados favoráveis aos povos colonizados. 
d) pelas concepções de unificação europeia e de paz 
armada. 
e) pela fundação de instituições destinadas a promover a 
paz. 
 
8. (UEL 2005) A Sociologia é uma ciência moderna que 
surge e se desenvolve juntamente com o avanço do 
capitalismo. Nesse sentido, reflete suas principais 
transformações e procura desvendar os dilemas sociais por 
ele produzidos. Sobre a emergência da sociologia, 
considere as afirmativas a seguir. 
 
I. A Sociologia tem como principal referência a explicação 
teológica sobre os problemas sociais decorrentes da 
industrialização, tais como a pobreza, a desigualdade 
social e a concentração populacional nos centros 
urbanos. 
II. A Sociologia é produto da Revolução Industrial, sendo 
chamada de “ciência da crise”, por refletir sobre a 
transformação de formas tradicionais de existência social 
e as mudanças decorrentes da urbanização e da 
industrialização. 
III. A emergência da Sociologia só pode ser compreendida 
se for observada sua correspondência com o 
cientificismo europeu e com a crença no poder da razão 
e da observação, enquanto recursos de produção do 
conhecimento. 
IV. A Sociologia surge como uma tentativa de romper com 
as técnicas e métodos das ciências naturais, na análise 
dos problemas sociais decorrentes das reminiscências 
do modo de produção feudal. 
 
 
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Estão corretas apenas as afirmativas: 
 
a) I e III. 
b) II e III. 
c) II e IV. 
d) I, II e IV. 
e) I, III e IV. 
Gabarito: 
1.(2+4+8+16) 2.(1+8) 4.E 5. (1+2+4+8) 
6. D 7. B 8. B 
3.Dissertativa (corrigido em aula ou no plantão) 
 
AULA 4 – Émile Durkheim e o método sociológico 
Émile Durkheim (1858 – 1917) 
Sociólogo francês, Émile Durkheim foi o primeiro a 
desenvolver a Sociologia como uma disciplina acadêmica, 
sendo considerado um de seus pilares clássicos. 
 
 
Obras principais: 
“Da Divisão do Trabalho Social” 
“As Regras do Método Sociológico” 
“As Formas Elementares da Vida Religiosa” 
“O Suicídio” 
Durkheim defendia a ideia de que a sociedade era mais do 
que um simples agrupamento de indivíduos movidos por 
interesses particulares. A sociedade é um corpo moral com 
regras e uma consciência coletiva. Mesmo em uma 
sociedade mais especializada e com uma forte presença do 
individualismo seria possível localizar a presença de regras 
que obrigavam os homens a certos modos de ação e certas 
relações com os outros. 
Durkheim acreditava que a Sociologia devia adotar 
procedimentos científicos, próprios ao mundo das ciências 
naturais, investigando os fatos de maneira objetiva. Define, 
então, um método para a Sociologia partindo do empirismo 
das outras ciências e deixando de lado a metafísica. Para 
ele, os preconceitos e valores arraigados do cientista 
impedem a apreciação positiva do mundo. Por isso, os fatos 
sociais deviam ser tratados como “coisas”, o que implica em 
distanciamento e busca pelo máximo grau de neutralidade 
possível. 
FATOS SOCIAIS 
- maneiras coletivas de agir, pensar e sentir (possuem 
generalidade); 
- exteriores ao indivíduo e coercitivos (independem da 
vontade do indivíduo); 
Sentimentos, opiniões e modos de agir de ordem coletiva 
seriam objetos gerados pela força da coletividade, 
cristalizadosem instituições sociais e impostos ao homem 
de forma coercitiva e obrigatória. 
Para Durkheim, a sociedade é um sistema complexo 
composto por diversas partes. É necessário compreender o 
fato social a partir da função que exerce no sistema. 
O autor adota o paradigma biológico, estabelecendo 
distinções entre o normal e o patológico (comportamento 
desviante), criando o conceito de anomia. 
Anomia: “ausência ou redução da capacidade do tecido 
social para regular a conduta dos indivíduos. Nesses 
sentido, configura-se como um problema a ser 
solucionado, sob pena de causar risco à coesão social e 
levar a sociedade ao fim. O aumento do número de crimes, 
por exemplo, indica que a sociedade é incapaz de regular o 
comportamento dos indivíduos.” 
(Sociologia em Movimento, vários autores, Ed. Moderna, p. 43) 
Entende que a divisão do trabalho cumpre um papel de 
extrema importância nas sociedades industriais, pois gera 
coesão (senso de pertencimento), produz solidariedade 
entre pessoas com funções claramente complementares e, 
por isso, evita quadros mais graves de anomia. 
Divisão do trabalho: 
− tem uma função no processo de diferenciação 
social / especialização 
− aumenta a forma produtiva do trabalhador 
− gera coesão e solidariedade 
Os dois tipos de solidariedade identificados por Durkheim 
relacionam-se especialmente à forma de organização 
social: 
Solidariedade mecânica (sociedades pré-capitalistas): os 
indivíduos se identificam por meio da família, da religião, da 
tradição e dos costumes. Não há diferenciação social 
promovida pela individualidade (ela é inexpressiva). O 
sentimento de pertencimento a uma coletividade é bastante 
forte, fazendo com que os indivíduos reconheçam os 
mesmos valores, crenças, sentimentos e objetos sagrados. 
 
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Solidariedade orgânica (característica das sociedades 
capitalistas): através da divisão do trabalho social, os 
indivíduos tornam-se interdependentes. A união social não 
se dá pelo compartilhamento de costumes. Os indivíduos 
são diferentes e necessários, tal como os órgãos de um 
organismo vivo. 
O suicídio 
“Durkheim estudou profundamente o suicídio, utilizando 
nesse trabalho toda a metodologia defendida e propagada 
por ele. Considerou-o fato social por sua presença universal 
em toda e qualquer sociedade e por suas características 
exteriores e mensuráveis, completamente independente 
das razões individuais. Assim, apesar de uma conduta 
marcada pela vontade individual, o suicídio interessa ao 
sociólogo por aquilo que tem em comum e coletivo e que, 
certamente escapa às consciências individuais dos 
envolvidos. Para Durkheim, a prova de o suicídio depende 
de leis sociais e não da vontade do sujeito estava na 
regularidade com que variam as taxas de suicídio de acordo 
com alternâncias das condições históricas. Ele verificou, 
por exemplo, que as taxas de suicídio aumentavam nas 
sociedades em que havia uma aceitação profunda de uma 
fé religiosa que prometesse a felicidade após a morte. É 
sobre fatos assim concretos e objetivos, gerais e coletivos, 
cuja natureza social se evidencia, que o sociólogo deve se 
debruçar.” 
(Cristina Costa, Sociologia: uma introdução à ciência da sociedade; Ed 
Moderna, p. 84) 
Texto complementar 
O que é um fato social? 
Émile DURKHEIM (As Regras do Método Sociológico) 
Antes de indagar qual o método que convém ao estudo dos 
fatos sociais, é necessário saber que fatos podem ser assim 
chamados. 
A questão é tanto mais necessária quanto esta qualificação 
é utilizada sem muita precisão. Empregam-na 
correntemente para designar quase todos os fenômenos 
que se passam no interior da sociedade, por pouco que 
apresentem, além de certa generalidade, algum interesse 
social. Todavia, desse ponto de vista, não haveria por assim 
dizer nenhum acontecimento humano que não pudesse ser 
chamado de social. Cada indivíduo bebe, dorme, come, 
raciocina e a sociedade tem todo o interesse em que estas 
funções se exerçam de modo regular. Porém, se todos 
esses fatos fossem sociais, a Sociologia não teria objeto 
próprio e seu domínio se confundiria com o da Biologia e da 
Psicologia. 
Na verdade, porém, há em toda sociedade um grupo 
determinado de fenômenos com caracteres nítidos, que se 
distingue daqueles estudados pelas outras ciências da 
natureza. 
Quando desempenho meus deveres de irmão, de esposo 
ou de cidadão, quando me desincumbo de encargos que 
contraí, pratico deveres que estão definidos fora de mim e 
de meus atos, no direito e nos costumes. Mesmo estando 
de acordo com sentimentos que me são próprios, sentindo-
lhes interiormente a realidade, esta não deixa de ser 
objetiva; pois não fui eu quem os criou, mas recebi-os 
através da educação. Contudo, quantas vezes não 
ignoramos o detalhe das obrigações que nos incumbe 
desempenhar, e precisamos, para sabê-lo, consultar o 
Código e seus intérpretes autorizados! Assim também o 
devoto, ao nascer, encontra prontas as crenças e as 
práticas da vida religiosa; existindo antes dele, é porque 
existem fora dele. O sistema de signos de que me sirvo para 
exprimir pensamentos, o sistema de moedas que emprego 
para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo 
nas relações comerciais, as práticas seguidas na profissão, 
etc., etc., funcionam independentemente do uso que delas 
faço. Tais afirmações podem ser estendidas a cada um dos 
membros de que é composta uma sociedade, tomados uns 
após outros. Estamos, pois, diante de maneiras de agir, de 
pensar e de sentir que apresentam a propriedade marcante 
de existir fora das consciências individuais. 
Esses tipos de conduta ou de pensamento não são apenas 
exteriores ao indivíduo, são também dotados de um poder 
imperativo e coercitivo, em virtude do qual se lhe impõem, 
quer queira, quer não. Não há dúvida de que esta coerção 
não se faz sentir, ou é muito pouco sentida quando com ela 
me conformo de bom grado, pois então torna-se inútil. Mas 
não deixa de constituir caráter intrínseco de tais fatos, e a 
prova é que se afirma desde que tento resistir. Se 
experimento violar as leis do direito, estas reagem contra 
mim de maneira a impedir meu ato se ainda é tempo; com 
o fim de anulá-lo e restabelecê-lo em sua forma normal se 
já se realizou e é reparável; ou então para que eu o expie 
se não há outra possibilidade de reparação. Mas, e em se 
tratando de máximas puramente morais? Nesse caso, a 
consciência pública, pela vigilância que exerce sobre a 
conduta dos cidadãos e pelas penas especiais que têm a 
seu dispor, reprime todo ato que a ofende. Noutros casos, 
a coerção é menos violenta; mas não deixa de existir. Se 
não me submeto às convenções mundanas; se, ao me 
vestir, não levo em consideração os usos seguidos em meu 
país e na minha classe, o riso que provoco, o afastamento 
em que os outros me conservam, produzem, embora de 
maneira mais atenuada, os mesmos efeitos que uma pena 
propriamente dita. Noutros setores, embora a coerção seja 
apenas indireta, não é menos eficaz. Não estou obrigado a 
falar o mesmo idioma que meus compatriotas, nem a 
empregar as moedas legais; mas é impossível agir de outra 
maneira. Minha tentativa fracassaria lamentavelmente, se 
procurasse escapar desta necessidade. Se sou industrial, 
nada me proíbe de trabalhar utilizando processos e técnicas 
do século passado; mas, se o fizer, terei a ruína como 
resultado inevitável. Mesmo quando posso realmente me 
libertar destas regras e violá-las com sucesso, vejo-me 
sempre obrigado a lutar contra elas. E quando são 
finalmente vencidas, fazem sentir seu poderio de maneira 
suficientemente coercitiva pela resistência que me 
opuseram. Nenhum inovador, por mais feliz, deixou de ver 
 
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seus empreendimentos se chocarem contra oposições 
deste gênero. 
Estamos, pois, diante de uma ordem de fatos que apresenta 
caracteres muito especiais: consistemem maneiras de agir, 
de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de 
um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõem. Por 
conseguinte, não poderiam se confundir com os fenômenos 
orgânicos, pois consistem em representações e em ações; 
nem com os fenômenos psíquicos, que não existem senão 
na consciência individual e por meio dela. Constituem, pois, 
uma espécie nova e é a eles que deve ser dada e reservada 
a qualificação de sociais. Esta é a qualificação que lhes 
convém; pois é claro que, não tendo por substrato o 
indivíduo, não podem possuir outro que não seja a 
sociedade: ou a sociedade política em sua integridade, ou 
qualquer um dos grupos parciais que ela encerra, tais como 
confissões religiosas, escolas políticas e literárias, 
corporações profissionais, etc. Por outro lado, é apenas a 
eles que a apelação convém; pois a palavra social não tem 
sentido definido senão sob a condição de designar 
unicamente fenômenos que não se englobam em nenhuma 
das categorias de fatos já existentes, constituídas e 
nomeadas. Estes fatos são, pois, o domínio próprio da 
Sociologia. É verdade que o termo coerção, por meio do 
qual o definimos, corre o risco de amedrontar os zelosos 
partidários de um individualismo absoluto. Como professam 
que o indivíduo é inteiramente autônomo, parece-lhes que 
o diminuímos todas as vezes que fazemos sentir que não 
depende apenas de si próprio. Porém, já que hoje se 
considera incontestável- que a maioria de nossas ideias e 
tendências não são elaboradas por nós, mas nos vêm de 
fora, conclui-se que não podem penetrar em nós senão 
através de uma imposição; eis todo o significado de nossa 
definição. Sabe-se, além disso, que toda coerção social não 
é necessariamente exclusiva com relação à personalidade 
individual. 
(...) Esta definição do fato social pode, além do mais, ser 
confirmada por meio de uma experiência característica: 
basta, para tal, que se observe a maneira pela qual são 
educadas as crianças. Toda a educação consiste num 
esforço contínuo para impor às crianças maneiras de ver, 
de sentir e de agir às quais elas não chegariam 
espontaneamente, observação que salta aos olhos todas as 
vezes que os fatos são encarados tais quais são e tais quais 
sempre foram. Desde os primeiros anos de vida, são as 
crianças forçadas a comer, beber, dormir em horas 
regulares; são constrangidas a terem hábitos higiênicos, a 
serem calmas e obedientes; mais tarde, obrigamo-las a 
aprender a pensar nos demais, a respeitar usos e 
conveniências, forçamo-las ao trabalho etc. Se, com o 
tempo, esta coerção deixa de ser sentida, é porque pouco 
a pouco dá lugar a hábitos, a tendências internas que a 
tomam inútil, mas que não a substituem senão porque dela 
derivam. É verdade que, segundo Spencer, uma educação 
racional deveria reprovar tais procedimentos e deixar a 
criança agir em plena liberdade; mas como esta teoria 
pedagógica não foi nunca praticada por nenhum povo 
conhecido, não constitui senão um desiderato pessoal, não 
sendo fato que possa ser oposto àqueles que expusemos 
atrás. Ora, estes últimos se tomam particularmente 
instrutivos quando lembramos que a educação tem 
justamente por objeto formar o ser social; pode-se então 
perceber, como que num resumo, de que maneira este ser 
se constitui através da história. A pressão de todos os 
instantes que sofre a criança é a própria pressão do meio 
social tendendo a moldá-la à sua imagem, pressão de que 
tanto os pais quanto os mestres não são senão 
representantes e intermediários. 
(...) Chegamos, assim, a conceber de maneira precisa qual 
o domínio da Sociologia, o qual não engloba senão um 
grupo determinado de fenômenos. O fato social é 
reconhecível pelo poder de coerção externa que exerce ou 
é suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a presença 
deste poder é reconhecível, por sua vez, seja pela 
existência de alguma sanção determinada, seja pela 
resistência que o fato opõe a qualquer empreendimento 
individual que tenda a violentá-lo. Todavia, podemos defini-
lo também pela difusão que apresenta no interior do grupo, 
desde que, de acordo com as precedentes observações, se 
tenha o cuidado de acrescentar como característica 
segunda e essencial que ele existe independentemente das 
formas individuais que toma ao se difundir. Nalguns casos, 
este 'último critério é até mesmo mais fácil de aplicar do que 
o anterior. 
Com efeito, a coerção é fácil de constatar quando ela se 
traduz no exterior por qualquer reação direta da sociedade, 
como é o caso em se tratando do direito, da moral, das 
crenças, dos usos, e até das modas. Mas, quando não é 
senão indireta, como a que exerce uma organização 
econômica, não se deixa observar com tanta facilidade. 
Generalidade e objetividade combinadas podem então ser 
mais fáceis de estabelecer. A segunda definição não 
constitui senão uma forma diferente que toma a primeira: 
pois o comportamento que existe exteriormente às 
consciências individuais só se generaliza impondo-se a 
estas. Vemos o quanto esta definição do fato social se 
afasta daquela que serve de base ao engenhoso sistema 
de Tarde. Primeiramente, devemos declarar que as 
pesquisas não nos fizeram de modo algum constatar a 
influência preponderante que Tarde atribui à imitação na 
gênese dos fatos coletivos. Além do mais, da definição 
precedente (que não é uma teoria, mas um simples resumo 
dos dados imediatos da observação) parece resultar que a 
imitação não exprime sempre, e nem mesmo exprime 
nunca, o que há de essencial e característico no fato social. 
Não há dúvida de que todo fato poder-se-ia, todavia, 
perguntar se esta definição é completa. Com efeito, os fatos 
que nos forneceram a base para ela são todos eles modos 
de agir; são de ordem fisiológica. Ora, existem também 
maneiras de ser coletivas, isto é, fatos sociais de ordem 
anatômica ou morfológica. A Sociologia não se pode 
desinteressar daquilo que concerne ao substrato da vida 
coletiva. No entanto, o número e a natureza das partes 
elementares de que é composta a sociedade, a maneira 
 
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pela qual estão dispostas, o grau de coalescência a que 
chegaram, a distribuição da população na superfície do 
território, o número e a natureza das vias de comunicação, 
a forma das habitações etc., não parecem, a um primeiro 
exame, passíveis de se reduzirem a modos de agir, de 
sentir e de pensar. 
Contudo, em primeiro lugar, apresentam estes diversos 
fenômenos o mesmo traço que nos serviu para definir os 
outros. Do mesmo modo que as maneiras de agir de que já 
falamos, também a social é imitado; apresenta, como 
acabamos de mostrar, tendência para se generalizar, mas 
isto porque é social, isto é, obrigatório. Seu poder de 
expansão não é a causa e sim a consequência de seu 
caráter sociológico. A imitação poderia servir, se não para 
explicar, pelo menos para definir os fatos sociais, se ainda 
estes fossem os únicos a produzir esta consequência. Mas 
um estado individual que ricocheteia não deixa por isso de 
ser individual. E, mais ainda, podemos indagar se o termo 
imitação é realmente aquele que convém para designar 
uma propagação devida a uma influência coercitiva. Sob 
esta expressão única - imitação - confundem-se fenômenos 
muito diferentes que seria necessário distinguir. De fato, 
quando queremos conhecer como está uma sociedade 
dividida politicamente, como se compõem estas divisões, a 
fusão mais ou menos completa que existe entre elas, não é 
com o auxílio de uma investigação material e por meio de 
observações geográficas que poderemos alcançá-lo; pois 
estas divisões são morais, ainda quando apresentam algum 
ponto de apoio na natureza física. É somente através do 
direito público que se torna possível estudar tal 
organização, pois é ele que a determina, assim como 
determina nossas relações domésticas e cívicas. Tal 
organização não é, pois, menos obrigatória do que outros 
fatos sociais. Se a população se comprime

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