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Centro Psíquico da Adolescência e Infância 
Um desenho organizacional: 
saúde mental, educação, cultura e inclusão social 
 
Resumo 
O presente artigo apresenta o novo desenho organizacional do CePAI, propondo uma concepção 
da Saúde Mental da Infância e Adolescência que integra saberes do campo da saúde, educação e 
cultura, com vistas a uma efetiva inclusão social da sua clientela. Para tal, propõe a criação do 
Núcleo de Ação Cultural, Educacional e Inclusão Social (NACEIS) que disponibilizaria espaços 
para oficinas de informática, cultura e arte, destinados não apenas aos usuários como também à 
comunidade. A sede do NACEIS ocuparia parte da área do CePAI, as instalações da Escola 
Estadual Yolanda Martins e do Hospital Militar da Força Pública Mineira, primeiro Hospital Militar de 
Belo Horizonte, onde Juscelino Kubitschek exerceu sua atividades como médico antes de dedicar-
se à vida pública. 
 
Palavras-chave 
Saúde mental, infância, adolescência, inclusão, multidisciplinariedade, responsabilidade social, 
patrimônio histórico, CePAI, FHEMIG. 
 
Abstract 
This article presents the new organizational design of CePAI. Herein we propose a conception of 
Childhood and Adolescence Mental Health which integrates the knowledge of health, education and 
culture, with the objective of an effective social inclusion of subjects. To reach this objective, the 
creation of the Núcleo de Ação Cultural, Educacional e Inclusão Social (NACEIS) is suggested. 
This center would make computers, cultural and artistic workshops available not only for patients 
but also for community. The area destined to NACEIS would be: part of CePAI, the State School 
Yolanda Martins, and the Military Hospital of Força Pública Mineira, where Juscelino Kubitschek 
worked as a doctor before engage in politics. 
 
Keywords 
Mental health, childhood, adolescence, inclusion, multidisciplinarity, social responsibility, historical 
patrimony, CePAI, FHEMIG. 
 
 
 2
 
Introdução 
 
“Miguilim olhou. Nem podia acreditar! 
Tudo era claridade, tudo novo e lindo e diferente, 
as coisas, as árvores, as caras das pessoas. 
Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, 
 as formiguinhas passeando no chão de uma distância. 
E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo...”. 
Guimarães Rosa, Corpo de Baile 
 
A cidadania não pode ser assimilada como regalia ou presente. Ela é fruto de lutas e 
colheitas que necessitam, sempre, de cuidados constantes. A escolha dos grãos, o tempo da 
semeadura, a rega das mudas, a paciência da espera dos frutos maduros, a ação da colheita e 
seus efeitos. Através da cultura, o homem rege, altera e conduz a natureza para dela usufruir, 
propiciando cada vez mais o avanço do processo civilizatório. “Mais uma vez, portanto, nos 
contentaremos em dizer que a palavra civilização (Kultur) descreve a soma integral das realizações 
e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais, e que servem 
a dois intuitos, a saber: o de proteger os homens contra a natureza e o de ajustar seus 
relacionamentos mútuos” 1. 
A eleição do foco das políticas sociais de assistência à população jamais poderia 
negligenciar a atenção e o cuidado às crianças e aos adolescentes. Nesta fase da vida é que são 
forjadas as matrizes básicas dos laços sociais que sustentam a relação entre os indivíduos e a 
sociedade à qual pertencem. 
Grande parte das metrópoles brasileiras concentra um considerável número de 
equipamentos de saúde – estaduais e municipais – destinados à prestação de serviços à 
população. Devido à desarticulação entre as esferas públicas de poder, é comum constatar-se 
sobreposições de atividades convivendo ao lado de carências não supridas por nenhuma das 
instâncias. “Os serviços comunitários e hospitalares devem coexistir, de maneira que se 
complementem” 2. As propostas voltadas para a saúde mental da infância e adolescência têm 
como desafio organizar ações esparsas executadas por órgãos públicos, incentivar a conexão 
entre os vários campos de saber envolvidos nessas ações, além de referenciar os vários serviços 
disponíveis nos âmbitos municipal e estadual. 
Uma iniciativa que visasse à racionalização dos recursos disponíveis nos estados e 
municípios para a assistência da clientela infanto-juvenil – seja com a otimização de espaços 
existentes, a disponibilização de serviços organizados, o compartilhamento de experiências bem-
sucedidas ou a construção de novas modalidades e alternativas de tratamento – contribuiria para 
maior eficiência e eficácia na administração da Res Pública. Uma articulação construtiva entre as 
esferas de poder envolvidas otimizaria o uso dos equipamentos públicos de saúde, tendo como 
conseqüência direta o desfrute de tais benefícios por parte da população e a melhoria da qualidade 
 3
 
de vida de cada cidadão. A construção de articulações dessa natureza define-se, em última 
instância, pela escolha acertada de conceitos que alicercem tal processo. 
A inclusão social apresenta-se como competente conceito para dar suporte ao 
agrupamento de diversas áreas de saber, na confluência de ações voltadas à infância e 
adolescência. Tal conceito implica no acesso de jovens e crianças aos serviços essenciais à 
promoção do seu crescimento e formação, tendo em vista a especificidade das demandas etárias. 
A inclusão deve apresentar-se, sempre, como fio condutor das ações implantadas, colocando-se 
ainda como desafio diuturno a ser enfrentado por todos os envolvidos pela causa pública. 
Assim como o conceito de inclusão, a multidisciplinariedade também contribui para 
compor um leque de ações direcionadas às políticas públicas da infância e adolescência na 
construção de um projeto de saúde mental, abrangendo as áreas de saúde, educação e cultura. A 
integração dessas variáveis torna-se um campo privilegiado de interseção para o desenvolvimento 
de propostas inter, trans, ou multidisciplinares. Ela se apresenta também como terreno fértil para o 
desenvolvimento de estudos e pesquisas dentro da especificidade do campo da saúde mental da 
infância e adolescência. 
Alçar novos caminhos em consonância com outras miradas surge como um convite para 
romper com a estagnação dos modelos. “A noção de tempo é fundamental. A sociedade é atual, 
mas a paisagem, pelas suas formas, é composta de atualidades de hoje e do passado” 3. A busca 
de desdobramentos, trocas e inserções na multiplicidade dos saberes – em questão no tema da 
inclusão – coloca-se como desafio a ser enfrentado, quando nos defrontamos com a complexidade 
da cena social cosmopolita enquanto objeto a ser decifrado. 
A responsabilidade social restringiu-se, durante largo espaço de tempo, a um mero e 
obrigatório dever do Estado. Tal conceito alarga-se, em nossos dias, ao abarcar setores da 
sociedade que se mostraram sensíveis às necessidades e carências da maioria da população. 
Parte da iniciativa privada mostra-se compromissada com tais causas, encampa esse conceito 
desdobrando-o em atitudes e incorporando-o aos modelos de gestão de suas empresas. Em 
conseqüência dessa nova postura, constatam-se disponibilidades para a composição, junto aos 
poderes públicos responsáveis, de parcerias com vistas à implementação de ações de relevância 
social. 
A importância atribuída hoje aos projetos de inclusão é fato inconteste. A diversidade e 
riqueza das abordagens recoloca a multidisciplinariedade na ordem do dia. A responsabilidade 
social, por sua vez, apresenta-se como um produtivo nicho a ser cultivado, com criatividade, nas 
relações entre os setores públicos e privados. Nesta perspectiva, é explícito o interesse de 
organismos internacionais (Unesco, BID, BIRD, entre outros) no financiamento de projetos sociais 
e na disponibilização de recursos para empreendimentos responsáveis com foco na inclusão 
social. 
 
 
 
 4
 
Centro Psíquico da Adolescência e InfânciaAs nomeações das instituições não escapam à regra habitual imposta pela cultura. Elas 
apontam, com freqüência, para a prática que nelas se exerce. As unidades assistenciais da 
Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG) não fogem a esta regra. No seu 
percurso histórico, o Hospital de Neuro-Psiquiatria Infantil (HNPI) transformou-se, em dado 
momento, no Centro Psico-Pedagógico (CPP), nome que batizou a unidade até recente data. 
Dando prioridade em um primeiro período para o aspecto médico, em um segundo tempo a 
instituição direciona seu foco para a educação. 
Pautada na necessidade de um reposicionamento assistencial, uma nova proposta de 
nomeação apresentou-se para a instituição em 2007. A mudança da nomeação da unidade para 
Centro Psíquico da Adolescência e Infância (CePAI) cumpre a finalidade de explicitar a ampliação 
do foco assistencial para além da saúde e da educação, incluindo também a cultura como valor a 
ser considerado no acolhimento dispensado aos adolescentes e crianças. 
O CePAI apresenta, junto com sua recente nomeação, uma proposta de revitalização e 
requalificação da unidade assistencial da Rede FHEMIG voltada para o atendimento de crianças e 
adolescentes, tanto no que tange à prestação de serviços, quanto ao uso de suas instalações 
físicas. O projeto, além de propor mudanças no status ocupado pela instituição na rede pública de 
saúde municipal e estadual, ousa mais: propõe a criação de um espaço singular destinado à 
especificidade de sua clientela, onde sejam criadas e desenvolvidas ações que englobem a saúde, 
a educação e a cultura, proporcionando a devida inserção institucional no âmbito das políticas 
sociais. 
Projetos assistenciais necessitam de espaços físicos para adquirirem existência concreta. 
“A interpretação de um espaço ou de sua evolução só é possível através de uma análise global 
que possa combinar simultaneamente estas três categorias analíticas – forma, estrutura, função – 
porque a relação é não só funcional como estrutural” 4. A proposição de novos funcionamentos 
implica tanto na criação de espaços quanto na requalificacão dos existentes. Dessa forma, o 
CePAI configura um ponto de interface e confluência de saberes voltados ao campo psíquico da 
adolescência e infância, criando espaços para interações entre as áreas de saúde, educação e 
cultura. 
 
Saúde 
 
O trajeto institucional do CePAI pauta-se pelo exercício da atividade assistencial voltada 
para jovens e crianças, independente de privilegiar determinadas vertentes teóricas em alguns 
momentos específicos de sua história. Esta unidade assistencial da Rede FHEMIG adquire 
particularidade não apenas frente às demais da Fundação, como também ante os diversos 
equipamentos públicos de saúde exatamente por ser a única instituição no município e no Estado 
voltada para o atendimento dessa clientela. 
 5
 
O trabalho de desospitalização de pacientes psiquiátricos, conduzido pelo então Centro 
Psico-Pedagógico, apresenta-se como paradigma de atuação efetiva frente ao conceito inclusão 
social. A criação do primeiro Lar Abrigado do País merece ser mencionada como testemunho do 
respeito ao trajeto histórico e do engajamento da instituição nas propostas progressistas dos nos 
80. O trabalho de humanização desenvolvido pela equipe junto aos seus moradores sustenta, após 
dez anos de funcionamento, os princípios básicos que motivaram a sua criação. 
O CePAI presta atendimento terciário e secundário, em urgência e de ambulatório 
especializado, aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Três vértices organizam a prática 
clínica na proposição do novo desenho institucional. O acolhimento, o tratamento e a inclusão 
propostos pela instituição fogem às intervenções delimitadas apenas pela orientação médica, 
circunscrita muitas vezes ao ato de diagnosticar distúrbios, transtornos e propor o tratamento 
médico strito sensu, assim como escapam à predominância da orientação pedagógica. A 
assistência prestada envolve diversas categorias profissionais atuantes na saúde mental da 
adolescência e da infância. Psiquiatria, pediatria, neurologia, serviço social, psicologia, terapia 
ocupacional, fonoaudiologia, fisioterapia e pedagogia integram o trabalho multiprofissional 
desenvolvido na unidade, voltado para a atenção secundária e terciária dos seus usuários. 
 O desenho institucional reorganiza - segundo diretrizes preconizadas pela Reforma 
Psiquiátrica - a oferta de serviços clínicos específicos para a adolescência e infância. Essa 
reorganização clínica em andamento no serviço baseia-se na atenta observação do fluxo da 
demanda, considerando o momento da chegada, permanência e saída dos usuários. 
 O serviço de urgência do CePAI é composto pelo acolhimento em saúde mental, pronto-
atendimento psiquiátrico e avaliação sistematizada de enfermagem, quando indicada a 
permanência do usuário na unidade por mais de 24 horas. Para tais casos, em consonância com 
as premissas preconizadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – “os 
estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência 
em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou 
adolescente (Art. 12)5” - a hospitalidade integral disponibiliza a prerrogativa da presença de um 
acompanhante para todas as crianças e adolescentes, cuja permanência na instituição esteja 
indicada segundo critérios clínicos. A noção de integralidade proposta para a hospitalidade 
dispensada aos usuários deve ser entendida não apenas sob o aspecto do tempo de permanência, 
mas também pelo fato de abrigar criança e familiar durante a estadia indicada. A hospitalidade 
também pode ser parcial – quanto ao tempo de permanência e acompanhamento – dependendo 
das indicações clínicas para cada caso. 
 O atendimento ambulatorial secundário, especializado em saúde mental da infância e 
adolescência, vinculado à rede assistencial municipal e estadual, acolhe demandas secundárias 
encaminhadas, prioritariamente, por instituições de saúde (secretarias de saúde de cidades do 
interior do estado, postos de saúde da capital e região metropolitana, CAPS, CERSAMs), 
educacionais (escolas públicas) ou judiciárias. Além da disponibilização do trabalho das categorias 
profissionais com formação no atendimento à infância e adolescência, a unidade oferece, aos seus 
 6
 
usuários, farmácia para fornecimento de medicação interna e externa e serviço de 
eletroencefalografia (EEG). 
 Além da prestação da assistência pública em saúde mental, o CePAI desenvolve ainda 
atividades de formação profissional, dispondo de Residência Médica em funcionamento há 20 
anos, credenciada pelo MEC, voltada para a especialização em Psiquiatria da Infância e 
Adolescência. A unidade disponibiliza também treinamentos e estágios destinados a estudantes, 
profissionais e equipes de saúde mental da infância e adolescência. 
 
Educação 
 
O corpo se impõe como tema de importância maior para a infância e adolescência. Eixo de 
constituição e sustentação subjetiva não apenas biológica e psíquica, o corpo também se 
transforma em objeto social, alvo de intervenção no campo das políticas de inclusão. “A função do 
estádio do espelho revela-se, para nós, por conseguinte, como um caso particular da função da 
imago, que é estabelecer uma relação do organismo com sua realidade – ou, como se costuma 
dizer, do Innenwelt com o Umwelt” 6. A importância dispensada aos cuidados corporais básicos, 
assim como a preocupação com a atribuição psíquica do reconhecimento do corpo próprio engloba 
ainda a representação social do corpo na inserção do sujeito em suas relações simbólicas. A 
articulação entre tais aspectos é tarefa indispensável ao desenvolvimento saudável e à formação 
digna e merecida por todo e qualquer cidadão, sendo desnecessário reafirmar seu grau de 
importância para a faixa etária em questão. 
 Os processos educacionaisnão se restringem, na atualidade, ao espaço das salas de aula. 
Seu assento ultrapassa a carteira escolar, seu alcance se estende para as mais variadas 
modalidades de relações sociais. “Considerada em um ponto determinado no tempo, uma 
paisagem representa diferentes momentos do desenvolvimento de uma sociedade. A paisagem é o 
resultado de uma acumulação de tempos” 7. A requalificação de áreas internas da unidade alinha-
se com as proposições do novo desenho institucional. Dispondo de pátios intercalados com áreas 
construídas, o novo projeto do CePAI propõe a criação de uma brinquedoteca e uma biblioteca 
infantil integradas às demais edificações por intermédio uma praça utilizada pelo conjunto dos 
usuários, familiares e servidores. 
 Experiências desenvolvidas em Minas, pelas secretarias municipal e estadual de 
educação, visam a inclusão de crianças e adolescentes considerados especiais e apontam para 
procedimentos alternativos que viabilizam, na prática, o exercício da inclusão. A Escola Estadual 
Yolanda Martins Silva (EEYMS) – que funciona em regime de comodato nas dependências do 
CePAI há quase 20 anos – demanda uma reflexão fundamentada pelos novos paradigmas que 
hoje se colocam para a educação de crianças e adolescentes portadores de necessidades 
especiais. Assim, uma nova orientação contribuiria para que a cidade de Belo Horizonte 
despontasse, no cenário nacional, como capital de um estado que prima pela inclusão escolar, na 
rede pública, de alunos especiais com problemas psíquicos. 
 7
 
O novo desenho institucional do CePAI propõe um novo uso para a edificação ocupada 
pela EEYMS. Suas instalações físicas seriam requalificadas para a promoção de atividades 
educacionais e culturais, convocando a integração da comunidade ao processo de inclusão 
proposto pela instituição. As instalações multiuso desse espaço físico, destinado antes à 
segregação de um restrito número de alunos especiais, promoveriam a circulação da própria 
comunidade, convidada a dele usufruir ao lado dos nossos usuários com indicação para algumas 
das oficinas disponibilizadas, proporcionando assim uma efetiva inclusão social dos freqüentadores 
da instituição. 
 
Cultura 
 
 O prédio onde funcionou o primeiro hospital militar, em Belo Horizonte, encontra-se em 
precárias condições de conservação, ameaçado de desaparecimento devido ao seu atual estado 
de ruínas. Sua restauração resgataria para a capital mineira um patrimônio arquitetônico de 
inestimável valor histórico para a cidade. Tal edificação é nada menos que o registro vivo da vida 
profissional do então médico Juscelino Kubitschek. Médico do Hospital Militar da Força Pública 
Mineira, JK clinicou em suas dependências até a época de sua saída para a vida política, quando 
assumiu a prefeitura da cidade a convite do governador Benedito Valadares. 
O projeto de restauração e requalificação dessa edificação propõe a criação de um espaço 
museológico permanente para abrigar o acervo JK MÉDICO, pertencente ao Centro de Memória da 
Faculdade de Medicina da UFMG. O prédio comportaria ainda a instalação de um espaço multiuso 
destinado a atividades temporárias, podendo funcionar como galeria de arte, oficina, local para 
manifestações artísticas, culturais e educacionais voltadas, com ênfase maior, para o público 
infantil e adolescente. Artes plásticas, música, cinema, teatro, dança, performances, seminários e 
palestras realizadas no local promoveriam uma efetiva inclusão social dos freqüentadores do 
CePAI junto à comunidade freqüentadora do equipamento, independente de sua mobilização ser 
provocada pelo eixo da saúde, da educação ou da cultura, oferecendo a todos um espaço de 
convivência e formação pessoal e profissional. 
A edificação ainda destinada ao funcionamento da Escola Estadual Yolanda Martins Silva 
junto às dependências do Hospital da Força Pública Mineira, antigo Hospital Militar de Belo 
Horizonte, constituiriam o local para instalação do Núcleo de Ação Cultural, Educacional e Inclusão 
Social (NACEIS). Tal equipamento abrigaria atividades terapêuticas, artísticas, culturais, 
educacionais e sociais voltadas para a infância e adolescência. 
Com tal proposta, o NACEIS configura-se como espaço diferenciado em meio aos diversos 
centros culturais existentes na cidade. Vinculado à complexidade e multiplicidade dos conceitos de 
inclusão social, voltado para a saúde mental da infância e adolescência, o NACEIS constrói, assim, 
uma missão diferenciada. Uma profícua articulação entre saúde, educação e cultura voltada para a 
inclusão social impulsiona o nascimento de esperadas novidades, abrigando propostas e desafios 
colocados na ordem do dia pelo mundo contemporâneo. 
 8
 
 
Conclusão 
 
“A criança maravilhosa é primeiramente, a nostalgia do olhar materno 
que fez dela um extremo de esplendor, semelhante ao Menini-Jesus 
em majestade de luz, jóia cintilante de poder absoluto; 
mas é também,e ao mesmo tempo, 
a criança abandonada, perdida numa total solidão moral, 
só, diante do terror e da morte”. 
Serge Leclaire, Mata-se uma criança 8. 
 
A atenção dispensada à saúde mental da infância e adolescência encontra-se defasada 
dos avanços sociais contemporâneos. A ela compete a formulação de um projeto que contemple 
as variantes implicadas no tratamento psíquico, contribuindo para a formação de cidadãos 
compromissados e empenhados no cumprimento de suas funções sociais. Avanços referentes à 
infância e adolescência implicam, pois, em uma articulação efetiva centrada na questão psíquica. 
“O momento passado está morto como tempo, não porém como espaço; o momento 
passado já não é, nem voltará a ser, mas sua objetivação não equivale totalmente ao passado, 
uma vez que está sempre aqui e participa da vida atual como forma indispensável à realização 
social”9. A convocação de distintos campos de saber para um enfrentamento das questões 
concernentes à saúde mental da infância e adolescência tem como tarefa a reorganização de um 
conjunto de propostas que viabilize um atendimento diferenciado na área de saúde mental voltada 
para essa clientela. Afinal, "a criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, 
esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de 
pessoa em desenvolvimento" (ECA, Art. 7110). Uma proposta de funcionamento engajada em tais 
prerrogativas articularia a saúde, a educação e a cultura na formulação de um atendimento em 
saúde mental voltado para o acolhimento, o tratamento e a inclusão social de crianças e jovens 
usuários do SUS. Três áreas de conhecimento enodam, assim, uma tríade de momentos na 
condução de um tratamento. “O caráter fundamental dessa utilização do nó (de Borromeu) é 
ilustrar a triplicidade que resulta de uma consistência que só está afetada pelo imaginário, de um 
agulheiro fundamental que provém do simbólico, e de uma ex-sistência cujo caráter fundamental é 
pertencer ao real” 11. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a aprovação do voto aos 16 anos, a 
criação e orientação de programas sociais voltados à infância e adolescência são exemplos do 
abrangente conjunto de demandas endereçadas às políticas públicas. A complexidade da situação 
coloca desafios que exigem sempre respostas inovadoras. “Por conseguinte, é bastante concebível 
que tampouco o sentimento de culpa produzido pela civilização seja percebido como tal, e em 
grande parte permaneça inconsciente, ou apareça como uma espécie de mal-estar, uma 
insatisfação, para a qual as pessoas buscam outras motivações” 1. O aspecto multidisciplinar, a 
 
1
 FREUD, S. O mal-estar na civilização, in Obras Completas, vol. XXI. RJ:Imago, 1974 
 9
 
inclusão e a responsabilidade social se apresentam como referências organizadoras 
imprescindíveis à formulação de políticas de saúde voltadas para essa parcela da população. 
O desenho institucionalem implantação no CePAI propõe intervenções voltadas para a 
construção de uma nova relação entre a própria instituição e o corpus social que a circunda. 
Incorpora ainda a possibilidade de participação de atores, públicos e privados, para agregar novas 
contribuições sociais às ações institucionais pelo incremento de parcerias. Tais parcerias, 
aportariam não apenas contribuições ou facilitadores financeiros. Elas seriam o reflexo de uma 
efetiva participação da sociedade na discussão e construção de projetos que transformam a 
diversidade e a inclusão em ferramentas de responsabilidade social. 
 
Augusto Nunes Filho 
psicanalista, médico pela FM-UFMG, psiquiatra pelo IRS-FHEMIG, especialista em Gestão 
Hospitalar pela ESP-MG, mestre em filosofia pela FAFICH-UFMG; pesquisador cultural da 
FUNDEP, assessor da Presidência da FHEMIG, diretor do Centro Psíquico da Adolescência e 
Infância-FHEMIG 
 
Referências Bibliográficas: 
 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Lei 8069, 13.07.1990 
 
FLEITLICH-BILYR, B; ANDRADE,E.R.; SCIVOLETTO, S.; PINZON, V.D. A saúde mental do jovem 
brasileiro. RJ: Book RJ Gráfica e Editora Ltda, 2004 
 
FREUD, S. O mal-estar na civilização, in Obras Completas, vol. XXI. RJ:Imago, 1974 
- Construções em análise, in Obras Completas, vol. XXIII. RJ:Imago, 1974 
 
LACAN, J. El synthoma, El seminário de Jacques Lacan, libro 23. Buenos Aires: Paidós, 2006 
 - Le stade du miroir comme formateur de la fonction du Je, in Écrits. Paris: Editions du 
Seuil, 1966 
 
GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. SP: Ed. Perspectiva, 1974 
 
MANNONI, M. - La théorie comme fiction. Paris: Ed. Du Seuil, 1979 
 
 
 
 - Construções em análise, in Obras Completas, vol. XXIII. RJ:Imago, 1974 
 
 
 
1
0
1
 FREUD, S. O mal-estar na civilização, in Obras Completas, vol. XXI. RJ:Imago, 1974 
 - Construções em análise, in Obras Completas, vol. XXIII. RJ:Imago, 1974 
 
2
 FLEITLICH-BILYR, B; ANDRADE,E.R.; SCIVOLETTO, S.; PINZON, V.D. A saúde mental do 
jovem brasileiro. RJ: Book RJ Gráfica e Editora Ltda, 2004 
 
3
 SANTOS, M. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Ed. Edusp, 2004 
 
4
 SANTOS, M. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Ed. Edusp, 2004 
 
5
 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Lei 8069, 13.07.1990 
 
6
 LACAN, J. El synthoma, El seminário de Jacques Lacan, libro 23. Buenos Aires: Paidós, 2006 
 - Le stade du miroir comme formateur de la fonction du Je, in Écrits. Paris: Editions du 
Seuil, 1966 
 
7
 SANTOS, M. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Ed. Edusp, 2004 
 
8
 LECLAIRE, S. Mata-se uma criança. RJ: Zahar Editores, 1977 
 
9
 SANTOS, M. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Ed. Edusp, 2004 
 
10
 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Lei 8069, 13.07.1990 
 
11
 LACAN, J. El synthoma, El seminário de Jacques Lacan, libro 23. Buenos Aires: Paidós, 2006 
 - Le stade du miroir comme formateur de la fonction du Je, in Écrits. Paris: Editions du 
Seuil, 1966

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