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1 TEORIA LITERARIA

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E-book 1
 Marcos Gomes
TEORIA 
LITERÁRIA
Neste E-Book:
INTRODUÇÃO ����������������������������������������������4
ALGUNS ASPECTOS DA 
LINGUAGEM LITERÁRIA ��������������������������� 6
CONCEITO DE LITERATURA �������������������� 9
A NATUREZA E A FUNÇÃO DA 
LITERATURA ������������������������������������������������12
CONCEITO E SURGIMENTO DA 
TEORIA LITERÁRIA ������������������������������������17
PRINCIPAIS CORRENTES DA 
TEORIA LITERÁRIA ����������������������������������� 22
Teoria Mimética ���������������������������������������������������� 22
Teoria Pragmática ������������������������������������������������� 23
Teoria Expressiva �������������������������������������������������� 25
Teoria Objetiva ������������������������������������������������������ 27
PARTICULARIDADES DO 
DISCURSO LITERÁRIO �����������������������������31
AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM ������������� 32
NOÇÃO DE IMAGEM & QUESTÕES 
DE RETORICA���������������������������������������������38
FIGURAS DE LINGUAGEM ��������������������� 40
2
FIGURAS DE CONSTRUÇÃO �������������������41
FIGURAS DE PENSAMENTO ������������������43
GÊNEROS LITERÁRIOS ���������������������������49
CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������57
SÍNTESE �������������������������������������������������������59
3
INTRODUÇÃO
Neste módulo, você vai recapitular algumas coisas 
que aprendeu no ensino médio e vai aprofundá-las� 
Conhecerá alguns conceitos do que seja literatura; o 
domínio a que pertence, – a arte –; as particularida-
des da linguagem; o campo da literatura; de acordo 
com as funções que assume a linguagem, destacan-
do-se nisso a função poética� Vai examinar alguns 
textos mais antigos, como algumas passagens de 
Aristóteles, que são integralmente utilizadas ainda 
nos dias de hoje, para compreensão do fenômeno 
literário, bem como as diversas correntes que surgi-
ram a partir das reflexões aristotélicas. Vai verificar 
que a linguagem literária é marcadamente ambígua, 
bem como o papel que a literatura assume na vida 
humana�
Você há de perceber que as explicações exigirão mui-
tos exemplos de obras literárias (e de não literárias 
também) e que há um modo muito específico para 
tratar o texto literário� É bem verdade que há método 
para fazer isso; como o ensino desse método, às 
vezes, é um pouco abstrato. Assim, fique atento ao 
modo como os exemplos apresentados são trata-
dos: é uma maneira prática de lhe dizer como se faz 
análise e interpretação de texto�
4
Neste módulo, estudaremos estes tópicos: o que é 
literatura, algumas particularidades do texto literário; 
a natureza e a função da literatura; conceito e sur-
gimento da Teoria Literária; principais correntes da 
Teoria Literária; e como se faz análise e interpretação 
de texto� Este último item vai além deste módulo e 
será retomado até o final do curso.
 
5
ALGUNS ASPECTOS DA 
LINGUAGEM LITERÁRIA
Um ponto a ser levado em conta no estudo da Teoria 
Literária: a linguagem da literatura não é a mesma 
do linguajar comum� Na comunicação cotidiana e 
mesmo nos textos de jornais e revista, utilizamos um 
padrão conhecido para o vocabulário, e obedecemos 
à ordem natural da língua� Na linguagem literária, 
nem sempre esse padrão é utilizado� Exemplo disso 
é o que ocorre na primeira estrofe do Hino Nacional:
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico um brado retumbante
E o sol da liberdade em raios fúlgidos
Brilhou no céu da pátria nesse instante?
Você saberia como explicar o que dizem essas pala-
vras iniciais do hino brasileiro? Uma primeira pergun-
ta: quem ouviu o quê? O que significam os adjetivos 
“plácidas”, “retumbante” e “fúlgidos”? Além de utilizar 
palavras difíceis, o hino apresenta uma ordem arre-
vesada para dizer as coisas�
Se você respondeu que “plácidas” significam “cal-
mas”; “retumbante” é o mesmo que “barulhento”; e 
“fúlgidos” é sinônimo de “brilhantes”, você acertou� 
E se acrescentou que foram “as margens plácidas” 
que “ouviram” alguma coisa, também está correto� 
6
Colocado em ordem direta, o início do Hino Nacional 
ficaria assim: 
As margens plácidas do Ipiranga ouviram
Um brado retumbante de um povo heroico�
Por que as palavras estavam naquela ordem com-
plicada (e não nesta última) não é tão difícil de res-
ponder� Tente cantar o hino com essa disposição 
das palavras, e verá que não vai dar certo� Tentou? 
Você deve ter percebido que a letra está assim dis-
posta para obedecer ao ritmo da música� Quanto ao 
assunto do início do hino: você tem alguma dúvida? 
Para recapitular, essas palavras iniciais dizem res-
peito ao momento em que Dom Pedro I proclama a 
independência do Brasil� Esse momento foi muito 
idealizado�
SAIBA MAIS 
A cena da proclamação da Independência foi re-
gistrada pelo pintor Pedro Américo, mais de 60 
anos depois do ocorrido� O quadro denomina-se In-
dependência ou morte� Trata-se de uma idealiza-
ção do fato� Américo inspirou-se em dois pintores 
franceses Jean-Louis Meissonier e Horace Vernet� 
A Batalha de Solferino de Meissonier é claramen-
te o modelo da cena pintado por Américo. Confi-
ra no site: https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ 
%C3%AAncia_ou_Morte_(Pedro_Am%C3%A9rico)
Letra e música – pelo menos se for levado em conta 
o que se fazia em países como França, Espanha, 
7
https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%20%C3%AAncia_ou_Morte_(Pedro_Am%C3%A9rico)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%20%C3%AAncia_ou_Morte_(Pedro_Am%C3%A9rico)
Portugal, há mais ou menos 900 anos – estavam 
profundamente ligadas� Cerca de duzentos anos de-
pois (século 14), essa aliança foi se desfazendo, e a 
poesia separou-se da música� Desacompanhada da 
melodia, a poesia manteve o ritmo, mas se afastou 
da espontaneidade das canções� O Hino Nacional 
brasileiro (cuja letra é de 1909) obedece a uma es-
tética denominada de Parnasianismo, que é exces-
sivamente formal�
8
CONCEITO DE LITERATURA
Você deve e ter observado que um texto como o Hino 
Nacional não oferece uma linguagem simples do dia 
a dia� O vocabulário e a ordem das palavras são dife-
rentes do usual� Textos como esse pertencem a um 
campo diferente da linguagem comum, denominado 
“Literatura”; e literatura pode ser conceituada como 
“arte da palavra”� Ela trata as palavras assim como 
a pintura trata formas e cores; a escultura, formas e 
volume; o cinema, imagens em movimento�
REFLITA
Uma vez que se definiu a literatura como arte da 
palavra, assim como a pintura trata formas e co-
res, dê uma passadinha no MASP: ali você terá 
a oportunidade de conhecer um grande número 
de obras de arte, principalmente de pintura euro-
peia� Se isso não for possível, faça uma visita vir-
tual a esse museu no site: https://artsandculture.
google.com/partner/masp?hl=p
Conceituada a literatura como “arte da palavra”, res-
ta saber que características a palavra apresenta� 
Primeiramente, convém entender o que seja arte� 
Há várias possibilidades de conceituação, sem que 
se esgote a noção� Por exemplo, Croce (1866-1952) 
a entende como “Sentimento forte que se tornou ni-
tidíssima representação”� Para Picasso (1881-1973), 
“A Arte não é aplicação de uma regra de beleza, mas 
9
https://artsandculture.google.com/partner/masp?hl=p
https://artsandculture.google.com/partner/masp?hl=p
aquilo que o instinto e o cérebro podem conceber 
além da regra”�
Não é importante decorar um conceito, que sempre 
será incompleto, mas perceber que cada um deles 
toca um ponto importante daquilo que se compre-
ende como arte�
Pela tradição, ficou este conceito: Arte é a expressão 
do belo� Isso não é muito esclarecedor, pois transfere 
para a noção de belo a noção de arte que se pretende 
conceituar� Acrescente-se aqui que arte, termo ori-
ginário do vocábulo latino ars, artis, está vinculado 
ao domínio técnico de alguma coisa� Isso importa, 
porque fica bem claro que se está a falar de beleza 
produzida pelo homem, e não a beleza percebida na 
natureza, como um pôr do sol� 
Uma das funções da arte – e por consequência, da 
literatura – está emreproduzir a realidade a partir 
de seus aspectos exteriores, tal como se vê num 
quadro, numa escultura, numa peça de teatro, num 
espetáculo de dança num poema, num romance, 
Essa reprodução do mundo não é inocente, mas in-
teressada; isto é, está vinculada a uma intenção do 
artista, que quer valorizar algum aspecto da ordem 
do mundo, ou denunciar alguma coisa, ou revelar um 
mundo idealizado a partir dos elementos tomados 
na realidade comum� 
10
SAIBA MAIS 
Dê uma passada por este site, que apresenta um 
número significativo de conceituações da litera-
tura, esclarecendo a diferença entre os termos 
definição e conceito: https://recantodasletras.
com.br/teorialiteraria/278085
Compreendida “arte” como um dos elementos para 
conceituar a literatura – literatura entendida como 
a arte da palavra –, convém verificar a natureza do 
outro termo, “palavra”. A palavra dificilmente aparece 
isolada� Geralmente vem acompanhada de outra, 
num conjunto que denominamos de frase� Alguns 
exemplos: “Silêncio!”; “A casa é amarela”; “O gover-
no anunciou ontem pela manhã novo decréscimo no 
preço dos combustíveis”.
11
https://recantodasletras.com.br/teorialiteraria/278085
https://recantodasletras.com.br/teorialiteraria/278085
A NATUREZA E A 
FUNÇÃO DA LITERATURA
Para Wellek e Warren (1971), a natureza, função da 
literatura, fica entre dois extremos já identificados 
pelo poeta romano Horácio, em sua Arte Poética: 
“Arrebata todos os sufrágios quem mistura o útil e o 
agradável, deleitando e ao mesmo tempo instruindo o 
leitor” (HORÁCIO, 1981, p� 65� Os grifos são nossos)�
E sua Arte Poética, Horácio recomendava que a com-
posição artística unisse o útil (utile) ao agradável 
(dulce)� Em termos menos formais, pode-se dizer 
que a leitura da obra literária não pode ser aborre-
cida, mas interessante e cativar o leitor para que a 
leia� Quanto a seu propósito, essa obra deve ensinar 
algo de valioso, deve conter em si um ensinamento 
moral, vinculado aos valores mais significativos da 
vida� A tendência que optasse pelo simplesmente 
útil, ou o simplesmente agradável, ficaria à margem 
do propósito maior da arte�
Tais conceitos dizem respeito à grande literatura� Até 
o século 19 era incomum distinguir a grande literatura 
da mera produção de entretenimento� No entanto, já 
existiam na época muitas obras, consideradas como 
simples evasão do mundo comum� Seu propósito é 
esquecer a seriedade da vida comum, apresentando 
simplesmente um romance descompromissado, sem 
vínculos com as questões maiores da vida humana�
12
Na grande obra de arte, os dois valores prazer e uti-
lidade se fundem� O prazer da obra de arte foge ao 
significado comum dos prazeres banais. Está dentro 
do que Wellek e Warren (1971, p� 38) denominam 
“contemplação não aquisitiva”� Essa denominação 
se refere a uma contemplação que não visa à posse 
de nenhum bem� A obra é contemplada pelo prazer 
que se obtém gratuitamente ao observá-la�
Algumas pessoas atribuem um grande valor ao ro-
mance por ele revelar a vida introspectiva das perso-
nagens, mas isso acontece porque é hábito dessas 
pessoas indagarem a respeito da vida psicológica 
dos indivíduos, e elas transferem esse tipo de ob-
servação da vida a sua volta para as personagens� É 
igualmente falho pensar-se que os poetas e roman-
cistas conseguem captar mais facilmente a verdade� 
Uma linha divisória entre a poesia como percepção 
de alguma coisa e a concepção da poesia como in-
tuição artística é algo muito tênue e difícil de traçar�
É complicado afirmar que a verdade consiste em 
uma das qualidades da produção literária� Platão 
concebe a poesia como falsificação porque a per-
cebe como cópia de cópia� Ele entende a realidade 
como o conjunto de ideias primordiais, a partir das 
quais se forma o mundo; por isso, quando um pintor 
reproduz numa tela determinada cena, está copiando 
o que já é cópia, a realidade empírica, que já reproduz 
imperfeitamente o mundo das ideias� Entretanto, o 
que as obras literárias trazem não é uma verdade, 
mas uma visão de mundo que contém alguma dose 
de verdade� Pode-se falar então de verdade na lite-
13
ratura, na medida em que o que ela expressa pode 
ser relativamente próximo daquilo que aparece na 
filosofia em termos conceituais.
Podcast 1 
Talvez a questão possa ser revista, se o conceito de 
verdade for revisto� Caso se pense numa verdade 
positiva, verificável metodicamente, a arte não é por-
tadora da verdade� A verdade pode ser concebida de 
um modo plurimodal, concebendo-se, por exemplo, 
dois modos de conhecer o mundo: o científico, carac-
terizado como discursivo, e o artístico, que faz uso 
do modo “apresentativo”; ou seja, o modo artístico 
apresenta uma imagem do mundo� O domínio da arte 
é a beleza; mas essa beleza se caracteriza também 
por ser verdadeira, ou seja, o mundo reconstruído 
pela arte não se afasta da verdade nem a contraria�
É possível pensar a arte, principalmente a literatu-
ra, como propaganda, porque o escritor (poeta ou 
prosador) a fornece persuasivamente, e assim se 
aproxima da propaganda, porque difunde algo que 
parece ser verdadeiro e induz os leitores a admiti-lo 
como verdadeiro� Por exemplo, o romance 1984, de 
George Orwell, ainda que o mundo não tivesse se 
transformado na realidade absurda descrita pelo 
romancista, esse mesmo mundo absurdo permane-
ceu como referência no imaginário de seus leitores�
Aristóteles, em sua Poética, propõe uma finalidade 
para a obra de arte, a catarse, termo que pode ser 
14
traduzido por purgação� O proposito da catarse é 
libertar o espectador de uma peça de teatro (o que 
é extensível para o leitor de um romance, obra que 
não existia na época de Aristóteles), das paixões� 
Conhecendo as personagens no palco, ou na obra 
lida, e seu destino, o homem liberta-se de suas pul-
sões, realizando-as fantasiosamente, por meio da 
ação das personagens, quer no palco, quer no de-
correr da ação de um romance� As emoções terríveis 
são vividas idealmente� Na volta à vida comum, ter-
minado o espetáculo ou a leitura, o indivíduo provi-
soriamente se liberta de suas tensões psicológicas 
mais perigosas�
Do que se refletiu até aqui, é possível perceber que 
nenhuma resposta é inteiramente satisfatória, por-
que estamos no campo movediço da literatura� 
Responder a essa questão – qual é a função da lite-
ratura? Ou, para que serve a literatura? – equivale a 
responder a estas outras: para que servem as pes-
soas? Qual é o significado do homem? A literatura 
não é algo superficial nem um conjunto de palavras 
e frases bonitas; suas contribuições são valiosas� 
Basta ler algumas biografias e ali se encontrará a 
observação de que determinada obra influenciou 
bastante a vida de uma pessoa, alterando mesmo 
seu destino� Entretanto, ainda que essa informação 
seja verdadeira, não há como avaliá-la em termos 
exatos e positivos�
Talvez quem melhor defina a função da literatura seja 
Leon Tolstoi (1828-1910), em uma nota deixada em 
seu diário� Ele deveria ter secado um divã, mas ao vol-
15
tar a seu quarto, não mais lembrava se havia secado 
esse divã ou não: “Então, se sequei e me esqueci, isto 
é, se agi inconscientemente, era exatamente como se 
não o tivesse feito� Se alguém conscientemente me 
tivesse visto, poder-se-ia reconstituir o gesto� Mas se 
ninguém o viu, ou se o viu inconscientemente, então 
é como se esta vida não tivesse sido”�
O automatismo da vida “engole os objetos, os hábitos, 
os móveis a mulher e o medo à guerra”� Exatamente 
para essa situação que Tolstoi propõe o papel da arte, 
para “desenvolver a sensação de vida, para sentir os 
objetos, para provar que pedra é pedra, existe o que 
se chama arte� O objetivo da arte é dar a sensação 
do objeto como visão e não como reconhecimento”� 
Ou seja, Tolstoi compreende que a arte devolve à 
vida comum a sensação de plenitude (Chklovski, V� 
“A arte como procedimento”� In: Eikhenbaum, B� Os 
formalistas russos� p� 44-5)�
16
CONCEITO E SURGIMENTO 
DA TEORIA LITERÁRIA
A Teoria Literáriaé uma disciplina voltada ao estudo 
da literatura não a partir das obras, mas a partir de 
conceitos, como natureza da literatura, poesia, prosa, 
gêneros literários etc� As primeiras teorizações da 
literatura, de acordo com o ponto de vista da civili-
zação judaico-cristã, surgiram na Grécia Antiga� Na 
peça teatral As rãs, de Aristófanes (447-385 a�C�), 
apresentada no ano 405 a�C� em Atenas, já aparece 
uma referência à questão de gênero� Esse fato é re-
velador de que nessa época já se teorizava a respeito 
da literatura�
Uma reflexão mais apurada a respeito de questões 
literárias ocorre em Platão, no livro III da República, 
destaca que a literatura se compõe do gênero dra-
mático (comédia e tragédia), o épico (considerem-se 
aqui as epopeias Ilíada e a Odisseia) e o ditirambo (a 
designação da poesia lírica pelo metro de que fazia 
uso)� Aristóteles, alguns anos mais tarde, mantém 
essa divisão, ampliando-a ao considerar a aulética 
e a citarística, ou seja, poemas cantados ao som da 
flauta e da cítara. 
17
SAIBA MAIS
Platão foi um dos três filósofos gregos que cau-
saram um grande impacto na Civilização Ociden-
tal� Os outros dois foram Sócrates, seu mestre, e 
Aristóteles, seu discípulo� A obra de Platão é re-
lativamente extensa e consiste de diálogos entre 
um filósofo de destaque, na maioria das vezes, 
Sócrates e um jovem ou uma figura significativa 
da época� A República revela como deveria ser a 
cidade, e ali há uma crítica ferrenha às tragédias e às 
epopeias, por valorizarem determinados comporta-
mentos falhos do ser humano.
Aristóteles escreveu uma obra fundamental sobre 
o assunto, a Poética� Essa obra foi responsável por 
grande parte de todas as reflexões mais significati-
vas a respeito da Teoria Literária no mundo ociden-
tal, com questões relativas aos gêneros literários, à 
composição da tragédia, noção de catarse, como 
um de seus efeitos, referências às partes de sua es-
trutura, noção de enredo, personagens, propósito da 
literatura� Muito de suas proposições são válidas até 
hoje, assim como a nomenclatura proposta por ele�
Em Roma, as questões teóricas a respeito da lite-
ratura apareceram no poema Carta aos Pisões, de 
Horácio, mais conhecida com a denominação pos-
terior de Arte Poética� Nele o poeta romano faz uma 
espécie de aconselhamento, destacando algumas 
qualidades que a obra deve ter – coesão, coerência, 
verossimilhança – e que falhas devem ser evitadas� 
18
Na Idade Média, ocorreram apenas algumas “artes de 
trovar”, mas sem o devido embasamento filosófico. 
Fora isso, houve uma ou outra obra sobre o assunto, 
como um comentário elaborado pelo médico árabe 
Averróis a respeito da Poética de Aristóteles� 
Podcast 2 
Na Renascença e nos séculos seguintes, houve 
uma grande produção de obras, geralmente calca-
das na Poética de Aristóteles� Moisés (1978) cita 
esses autores e publicações, como: Giraldi Cinthio, 
Da Composição de comédias e Tragédias (1543); 
Giangiorgio Trissino, Poética (1529-1563); Jean 
Pelletier, Art Poétique (1555), Ludovico Castelvetro, 
Poetica d’Aritotele Vulgarizzata et Sposta (1570)� Os 
italianos tiveram o mérito de colocar a lírica como 
um gênero com a mesma importância da épica� Além 
disso, “dedicaram atenção pela primeira vez a uma 
modalidade nova, o romanzo, ou seja, o poema épico 
de cunho cavalheiresco” (MOISÉS, 1978, p� 242)�
No século 16, surge, na França, Nicolas Boileau 
(1636-1711), que critica o preciosismo (dos italianos), 
e busca conciliar a grandeza com a simplicidade, 
sob a influência do Pseudo-Longino, que escreveu 
Sobre o sublime (século 1 ou 2; a data é incerta)� Há 
contribuição de críticos ingleses, como Pope, que 
introduziu o “criticismo”� Na Itália, surge Giambattista 
Vico (1668-1744), que não introduziu nenhuma arte 
poética, mas afirmava que a poesia, irredutível às 
ciências, era a linguagem dos povos primitivos� Além 
19
disso, estava interessado na interpretação dos mitos� 
Na Alemanha, Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-
1762) – filósofo que introduziu o termo “estética” 
nas reflexões sobre a arte –, Friedrich Schiller (1759-
1805) e Immanuel Kant (1724-1804) desenvolvem 
uma teoria do sublime, atribuindo novo significado 
ao diálogo entre razão e paixão� Friedrich Höderlin 
(1770-1843) via esse diálogo pela ótica do ethos 
religioso�
Com o advento do Romantismo, a poética se confun-
de com a paixão� Victor Hugo (1802-1885), na França, 
em seu prefácio da peça Cromwell, rejeita as normas 
clássicas referentes ao drama, propondo uma visão 
religiosa e sagrada para a arte� Na América do Norte, 
aparece uma voz relativamente isolada, Edgar Allan 
Poe (1809-1849)� Poe foi notável contista, introduzin-
do o gênero policial e refletindo sobre a literatura. N’A 
filosofia da composição reproduz as propostas que 
Aristóteles dedicava à tragédia, aplicadas ao conto�
Pouco depois, Charles Baudelaire (1821-1867), 
influenciado por Poe, propôs em sua obra a Arte 
romântica, que a poesia deve ligar-se à vida mo-
derna, sem abandonar o ideal do belo� Baudelaire 
foi um marco importante não apenas na literatura 
francesa, mas sua obra, particularmente o poema 
Correspondences, em que destaca que a poesia é 
simbólica: as palavras poéticas evocam uma reali-
dade do indizível� Stéphane Mallarmé (1842-1898) 
coloca a questão de a poesia ser platônica ou voltada 
às sensações� Em sua obra, tende a conciliar tais 
tendências�
20
https://pt.wikipedia.org/wiki/1724
https://pt.wikipedia.org/wiki/1804
No século 20, há várias tendências significativas. 
Benedetto Croce (1866-1952) escreve Ensaios de 
estética, obra em que conceitua a arte distinta da 
ciência, de um simples jogo de imaginação, nem 
de sentimento, mas contemplação do sentimento� 
Vincula a estética à filosofia. Com o desenvolvimento 
da linguística, há uma aproximação entre essa ciên-
cia e o estudo da literatura� Nesse campo, destaca-se 
Roman Jakobson, que examina a literatura a partir 
de considerações a respeito da linguagem�
21
PRINCIPAIS CORRENTES 
DA TEORIA LITERÁRIA
As reflexões a respeito dos fenômenos literários nem 
sempre tiveram unanimidade� Conforme o momento 
histórico, a arte é compreendida de maneira especí-
fica. Assim, é possível destacar pelo menos quatro 
teorias para o estudo da literatura� São elas:
• Teoria Mimética
• Teoria Pragmática
• Teoria Expressiva
• Teoria Objetiva
Teoria Mimética
A primeira corrente teórica a respeito da literatura 
dizia que a literatura era imitação (o termo “miméti-
ca” decorre de mimese: imitação)� Lembramos que, 
de acordo com Platão, a arte imitava o mundo físico 
e, como para esse filósofo o mundo físico era uma 
cópia do mundo real – o mundo das ideias –, um 
quadro, uma escultura, um poema seriam cópias de 
uma cópia (pois o mundo físico “copiava” o mundo 
das ideias)� Platão submetia a apreciação da lite-
ratura a um crivo moral� Dessa forma, desaprovava 
22
muitas obras trágicas e épicas, valorizando apenas 
determinadas passagens�
Aristóteles também entende a arte como imitação� 
Essa não seria mera cópia do mundo físico� Ele com-
preendia que a obra de arte inspirava-se nos mais 
altos ideais, de modo que a arte era imitação da re-
alidade� Deve-se entender que essa imitação não era 
mera transcrição, mas uma construção semelhante 
ao mundo� “O artista deve captar o real, em primeiro 
lugar, manipulando-o com os meios próprios à sua 
arte� No caso da literatura, seria o ritmo, a melodia, 
o verso” (GOMES; VECHI, 1990, p� 34)�
Teoria Pragmática
Na teoria pragmática, cabe ao artista projetar uma 
imagem do mundo melhor do que aquele que cos-
tumeiramente conhecemos. A finalidade dessa ima-
gem melhorada é educar o homem� Assim se podem 
compreender as produções barrocas� Na igreja bar-
roca, as pessoas se encantam com as imagens e a 
arquitetura do prédio. A finalidade desse encanta-
mento é conduzir o olhar do observador para a figura 
santificada ali reproduzida. 
FIQUE ATENTO
Caso você não tenha se lembrado de exemplos 
da arte barroca, convido-oa consultar dois si-
tes: https://www.historiadasartes.com/nomun-
23
https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-barroca/barroco/
do/arte-barroca/barroco, que contém um texto 
explicativo satisfatório e um grande número de 
imagens; e https://br.images.search.yahoo.com/
yhs/search;_ylt=AwrEeGFG5B1dyi4AbAIf7At.;_
y lu=X3oDMTByMjB0aG5zBGNvbG8DYm
YxBHBvcwMxBHZ0aWQDBHNlYwNzYw--
-?p=arte+barroca&fr=yhs-avast-securebrowser
&hspart=avast&hsimp=yhs-securebrowser, que 
contém somente imagens.
Do ponto de vista literário, o Barroco e o Arcadismo 
tiveram muitas obras de caráter exemplar� Eis um 
bom exemplo de uma composição fiel à teoria prag-
mática de Bocage (1765-1805):
Vem, ó Marília, vem lograr comigo�
Deixa louvar da corte a vã grandeza
Destes alegres campos a beleza,
Quanto me agrada mais estar contigo,
Destas copadas árvores o abrigo�
Notando as perfeições da Natureza�
[BOCAGE (1974), último terceto do poema “Já se afastou de nós o Inverno 
agreste”] 
No convite feito pelo poeta a Marília há claros ele-
mentos da teoria pragmática� Quem convida não é 
um apaixonado, mas um homem atento, interessado 
em ter uma companheira e não uma amante� Ao lado 
dela, realiza o propósito horaciano, aproveitando-se 
24
https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-barroca/barroco/
https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=AwrEeGFG5B1dyi4AbAIf7At.;_ylu=X3oDMTByMjB0aG5zBGNvbG8DYmYxBHBvcwMxBHZ0aWQDBHNlYwNzYw--?p=arte+barroca&fr=yhs-avast-securebrowser&hspart=avast&hsimp=yhs-securebrowser
https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=AwrEeGFG5B1dyi4AbAIf7At.;_ylu=X3oDMTByMjB0aG5zBGNvbG8DYmYxBHBvcwMxBHZ0aWQDBHNlYwNzYw--?p=arte+barroca&fr=yhs-avast-securebrowser&hspart=avast&hsimp=yhs-securebrowser
https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=AwrEeGFG5B1dyi4AbAIf7At.;_ylu=X3oDMTByMjB0aG5zBGNvbG8DYmYxBHBvcwMxBHZ0aWQDBHNlYwNzYw--?p=arte+barroca&fr=yhs-avast-securebrowser&hspart=avast&hsimp=yhs-securebrowser
https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=AwrEeGFG5B1dyi4AbAIf7At.;_ylu=X3oDMTByMjB0aG5zBGNvbG8DYmYxBHBvcwMxBHZ0aWQDBHNlYwNzYw--?p=arte+barroca&fr=yhs-avast-securebrowser&hspart=avast&hsimp=yhs-securebrowser
https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=AwrEeGFG5B1dyi4AbAIf7At.;_ylu=X3oDMTByMjB0aG5zBGNvbG8DYmYxBHBvcwMxBHZ0aWQDBHNlYwNzYw--?p=arte+barroca&fr=yhs-avast-securebrowser&hspart=avast&hsimp=yhs-securebrowser
https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search;_ylt=AwrEeGFG5B1dyi4AbAIf7At.;_ylu=X3oDMTByMjB0aG5zBGNvbG8DYmYxBHBvcwMxBHZ0aWQDBHNlYwNzYw--?p=arte+barroca&fr=yhs-avast-securebrowser&hspart=avast&hsimp=yhs-securebrowser
da beleza dos campos e do abrigo das árvores� A 
natureza é propiciadora do prazer contemplativo, e 
acolhe os indivíduos por meio de suas árvores� Além 
disso, ela é a fiel depositária dos bens do mundo; é 
perfeita, como se nota no último verso, e oposta à 
vida frívola da corte (Deixa louvar da corte a vã gran-
deza), repercutindo nessa passagem os ecos das 
propostas rousseauniana: o homem é naturalmente 
bom; precisa da vida social para desenvolver-se, mas 
esta é cheia de falhas� 
Teoria Expressiva
A teoria expressiva está veiculada ao movimento 
romântico� Nela, o poeta confunde-se com o vate (o 
profeta), cuja sensibilidade lhe permite o acesso às 
verdades primeiras e universais� Contudo, as obras 
são mais reveladoras do artista do que o mundo do 
artista� O mundo tem menos importância do que a 
maneira como o artista o apreende� A imaginação é 
o elemento essencial da criação artística, entrando 
o esforço racional apenas como complemento� A 
alma sofredora do artista é quem ocupa o centro 
da atenção da obra, revelando particularidades de 
seus sentimentos, de suas emoções, suas paixões, 
suas escolhas. Uma das produções mais signifi-
cativas desse período é Os sofrimentos do jovem 
Werther, cujo título condiz plenamente com a teoria 
expressiva�
25
SAIBA MAIS
Estes são os dois parágrafos iniciais de Os sofri-
mentos do jovem Werther:
"Tudo aquilo que me foi dado encontrar na histó-
ria do pobre Werther, eu ajuntei com diligência e 
agora deposito à vossa frente, sabendo que have-
reis de me agradecer por isso� Não podereis negar 
vossa admiração e vosso amor ao seu espírito e 
ao seu caráter, nem esconder vossas lágrimas ao 
seu destino� E tu, boa alma, que sentes o Ímpeto 
da mesma forma que ele o sentiu, busca consolo 
em seu sofrimento e deixa que o livreto seja teu 
amigo se, por fado ou culpa própria, não puderes 
achar outro mais próximo do que ele�"
O romance integral pode ser encontrado em: ht-
tps://lyrics-letra.com/PDF/Johann-Wolfgang-von-
-Goethe/Johann-Wolfgang-von-Goethe-Os-Sofri-
mentos-do-Jovem-Werther.pdf�
Caso você não consiga ler Os sofrimentos do 
jovem Werther, verifique o que se passa com 
o poeta ultrarromântico brasileiro Álvares de 
Azevedo, que revela uma atitude em relação 
à vida semelhante aos de Werther� Alguns de 
seus poemas podem ser encontrados neste 
site: http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/
alvares-de-azevedo-poemas�
26
https://lyrics-letra.com/PDF/Johann-Wolfgang-von-Goethe/Johann-Wolfgang-von-Goethe-Os-Sofrimentos-do-Jovem-Werther.pdf
https://lyrics-letra.com/PDF/Johann-Wolfgang-von-Goethe/Johann-Wolfgang-von-Goethe-Os-Sofrimentos-do-Jovem-Werther.pdf
https://lyrics-letra.com/PDF/Johann-Wolfgang-von-Goethe/Johann-Wolfgang-von-Goethe-Os-Sofrimentos-do-Jovem-Werther.pdf
https://lyrics-letra.com/PDF/Johann-Wolfgang-von-Goethe/Johann-Wolfgang-von-Goethe-Os-Sofrimentos-do-Jovem-Werther.pdf
http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/alvares-de-azevedo-poemas
http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/alvares-de-azevedo-poemas
Teoria Objetiva
A teoria objetiva põe a nu a figura do artista e o pro-
cesso de elaboração da obra de arte� Na segunda 
metade do século 19, na publicação de Parnasse 
contemporain, na França, surgiram duas proposi-
ções artísticas: o Simbolismo, que está vinculado à 
teoria expressiva, e o Parnasianismo, adepto da teo-
ria objetiva� Enquanto o Simbolismo voltou-se para o 
diáfano, o indizível, o inalcançável, o Parnasianismo 
primou-se pelo preciosismo, pela objetividade, pelo 
processo de elaboração poética� 
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, no silêncio e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica, mas sóbria, como um templo grego�
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre� E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
27
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade�
(BILAC, 1994; P�385)
O poema de Bilac (1865-1918) registra um modo de 
composição literária em que tanto aspecto criativo, 
como as particularidades de artista não aparecem, 
mas devem ser evitados (“Não se mostre na fábrica o 
suplício do mestre”)� A criação poética é semelhante 
ao trabalho do escultor ou do arquiteto, produzindo 
uma estátua (“Trabalha e teima, e lima, e sofre, e 
sua”) ou um templo grego, e o processo de criação 
deve ser realizado “longe do turbilhão da rua”� Esse 
verso, iniciando o poema, já informa ao leitor que a 
elaboração de um poema requer calma, reflexão e 
afastamento da vida social. A obra, resultado final 
desse esforço dirigido, vale por si só e deve reunir 
três elementos capitais: Beleza, Verdade e Arte, cuja 
disposição no verso as transforma em sinônimos: 
o que é belo = o que é verdadeiro = produto artístico
Numa proposta poética similar a essa de Bilac, mas 
muito mais sutil, é o poema Autopsicografia do poe-
ta modernista Fernando Pessoa (1888-1935)� Esse 
título já traduz sua postura, pois psicografia é um 
termo da doutrina espírita que implica na captação e 
transcrição de mensagens do além por um médium� 
Neste poema, o poeta psicografa a si mesmo:
28
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente�E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm�
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração�
O poeta coloca-se numa postura de ator, aquele que 
finge um determinado papel, assumindo a persona-
lidade da personagem, com quem se identifica no 
decorrer do espetáculo� Após sua apresentação, o 
ator volta a ser quem é na vida comum� No poema, 
o poeta atua em dois campos: enquanto poeta, pode 
fingir uma dor; enquanto indivíduo, sente essa dor 
de verdade� A dor que transmite, utilizando-se da 
composição literária, é a “dor lida”, ou seja, a dor 
“fingida”, aquela que os leitores não possuem por 
29
não saberem expressá-la� Além disso, esses leitores 
sentem prazer em contemplar essa dor (“Na dor lida 
sentem bem”)� A última estrofe faz uma separação 
bastante precisa entre aquilo que provoca o entre-
tenimento, o coração, e aquilo que aprecia, a razão, 
como uma maneira de explicar o que se passa no 
processo de criação poética�
SAIBA MAIS
Fernando Pessoa (1888 – 1945), poeta moder-
nista português, produziu obra extensa e muito 
complexa� Escreveu sob diversos pseudônimos 
a que denominou de heterônimos� Pseudôni-
mo significa “nome falso”; e heterônimo, “outro 
nome”� Caso você queira conhecer mais desse 
poeta, consulte, por exemplo, o site https://mun-
doeducacao.bol.uol.com.br/ literatura/fernando-
-pessoa.htm.
30
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/%20literatura/fernando-pessoa.htm
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/%20literatura/fernando-pessoa.htm
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/%20literatura/fernando-pessoa.htm
PARTICULARIDADES DO 
DISCURSO LITERÁRIO
Toda e qualquer ciência acaba por exigir uma nomen-
clatura específica para designar alguns fenômenos 
que lhe são comuns� No estudo da literatura não 
seria diferente� Algumas noções são fundamentais 
para compreender o que se passa na poesia e no 
romance� Nas páginas seguintes, você vai se deparar 
com as funções da linguagem, signo linguístico, de-
notação e conotação; ambiguidade; imagem; figuras 
de linguagem, e, dentre elas, metáfora e metonímia� 
Com o domínio desses termos, o ensino da literatura 
torna-se mais fácil�
31
AS FUNÇÕES DA 
LINGUAGEM
Jakobson (1896-1982), um teórico russo, considerou 
a linguagem humana sob dois aspetos fundamentais, 
que denominou de eixos: há o eixo de seleção de 
vocabulário; e outro de ordenação desse vocabulário�
Para que isso fique claro, pense numa frase simples 
como esta: O menino atravessou a rua� Nela, houve 
uma seleção de vocabulário� Em vez de menino, po-
deríamos ter dito “criança”, “guri”; no lugar de rua, 
poderia ter sido “alameda”, “avenida”; e, em vez de 
atravessou, “cruzou”� Mas esta frase Atravessou rua 
menino a o, ainda que tenha os mesmos ingredientes 
da anterior, não faz sentido algum� É um amontoado 
de palavras e não uma frase� 
Para que haja entendimento, há necessidade de uma or-
dem. A escolha do vocabulário implica o eixo de seleção; a 
ordem que submete esse vocabulário corresponde ao eixo 
da estrutura. Além disso, Jakobson destacou seis funções 
para a linguagem, a partir de um esquema básico do pro-
cesso de comunicação. 
Seis elementos aparecem no esquema de comunicação: 
o emissor 
(quem fala)
a mensagem 
(o que se fala) 
o destinatário 
(a quem se fala)
Estes são os tópicos básicos de uma comunicação� 
Além deles, há três outros: contexto (o que está à 
32
volta da mensagem), contato (elementos de inicia-
ção ou de término de uma mensagem) e código (a 
linguagem empregada)� 
o contexto 
(os elementos a 
que se refere à 
mensagem), 
a contato 
(elemento de ini-
ciação ou término 
da mensagem) 
o código 
(a linguagem 
empregada)
Repare nestes exemplos:
a) Lá faz muito frio�
b) – Alô? É o Sérgio? 
c) – Passe-me a salada, Osvaldo� 
d) Ai como eu sofro! 
e) As preposições são invariáveis�
f) “��� o eco que oco coa”�
33
No primeiro, a frase é muito comum, mas não impre-
cisa. Onde fica “lá”? Se não houver uma indicação 
clara, a mensagem torna-se incompreensível� Se 
estivesse depois de uma determinada informação, 
ficaria mais clara, como em: “Estive no Ártico. Lá 
faz muito frio”� Desse modo, o advérbio “lá” ganhou 
maior precisão� O que se valorizou nesse exemplo 
foi o contexto, ou seja, o que está em torno do texto 
e lhe dá algum tipo de referência� 
Em “b”, trata-se de uma conversa telefônica� Quem 
telefonou, sentiu necessidade de identificar a pessoa 
por quem procurava� O “alô” é o ponto inicial do con-
tato, e em “é o Sérgio?”, busca-se a confirmação. Se a 
pessoa que atendeu ao telefone, depois de algumas 
trocas de informações básicas (por exemplo, “sim, 
é o Sérgio� Quem quer falar com ele?”), for o Sérgio, 
a conversa encaminha-se para seu propósito� Os 
termos destacados “alô” e “é o Sérgio?” não são o 
objetivo dessa chamada telefônica� O que ocorreu 
nesse exemplo foi apenas o contato� Uma vez o con-
tato estabelecido, vem a mensagem principal�
No exemplo “c”, uma pessoa faz um pedido a um 
indivíduo, que se chama Osvaldo e, se for uma pes-
soa educada, entregará o prato de salada a quem lhe 
pediu� Frases como essa, que apresentam o verbo 
no modo imperativo, são dirigidas a um destinatário�
Até agora, identificaram-se outros três elementos do 
processo de comunicação: o contexto, o contato e o 
destinatário� No exemplo “d” a mensagem “Ai como 
eu sofro!” destaca o próprio falante� Quando ele fala, 
34
seu propósito é comunicar alguma coisa própria de si 
mesmo. Dificilmente, quando alguém dá uma marte-
lada no dedo, dirá: “Que desfortunado sou eu; vejam 
onde fui bater com este martelo!” Deixará simples-
mente escapar “Ai!”, cujo conteúdo não é tão claro, 
mas a expressividade é extrema� Neste exemplo, o 
elemento que mais se destaca é o emissor, aquele 
que remete a mensagem�
Em “As preposições são invariáveis�”, a mensagem 
foi utilizada para falar do código, no caso a língua 
portuguesa� Normalmente, os falantes usam a lin-
guagem para se referir ou ao mundo exterior, ou a 
elementos de sua vida mental� Entretanto, quando 
questões relativas ao emprego da língua aparecem, 
ou seja, quando se utiliza a linguagem para tratar 
da própria linguagem, o que se destaca é o código�
Por fim, o verso de Fernando Pessoa “o eco que oco 
coa”� Essa mensagem poderia ser expressa deste 
modo: “no fenômeno do eco, há reverberação do 
som”� Entretanto, o efeito dessa frase não tem a 
graça do verso citado� Há certa musicalidade nas 
palavras, que, por si mesmas, representam o ecoar 
do eco, numa repetição de consoantes, “c”, e de vo-
gais, como o fonema “o”, que se opõe aos outros, a 
saber, o “e” o “a”� O eco, por não ter sido a produção 
original do som, é reduzido em intensidade, “oco”, e 
sua reverberação corresponde a “coa”� Nesse caso, 
a sonoridade das palavras e sua ordem são funda-
mentais para compreender o que se diz� O que esse 
exemplo mostra é o destaque da própria mensagem�
35
FIQUE ATENTO
As seis funções da linguagem aparecem em vá-
rias mensagens� Não é impossível, mas ocorre 
raramente aparecer apenas uma função em uma 
mensagem� Em frases muito banais, como “O 
soldado está usando uma farda azul”, ocorre ape-
nas a função referencial� No uso habitual da lín-
gua, podem ocorrer muitas funções simultâneas� 
Nestes versos de Casimiro de Abreu (1839-1860),
Quando e te fujo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, oh! Bela,
Comigo dizes, suspirando amores:
“Meu Deus! Que gelo, que frieza aquela”
há, naturalmente, a função referencial, pois todas 
as palavras acima são encontradas num dicioná-
rio, e esse sentido primeiro não se perde, mesmo 
estando presentes todos os demais agregados� 
Mas outras funções aí se somam: há um discur-
so em primeira pessoa; quando se dirige a um 
“tu”, surge um “eu” que confessa seus sentimen-
tos em relação à mulher amada, o que marca a 
presença da função emotiva� Acresce o conjunto 
de imagens “luz de fogo” (metáfora), “oh!Bela” 
(sinédoque, pois o atributo de beleza substitui a 
mulher amada), “suspirando amores” (nova siné-
doque: o que a moça suspira implicam ‘amores’, 
mas, aqui, trata-se de um suspiro extraordinário, 
já que esse suspiro se confunde com as próprias 
figuras amorosas); e “gelo”, ainda que explicado 
por “que frieza aquela”, é metáfora, substituindo 
parcialmente a indiferença com que se comporta 
o poeta em relação à mulher amada�
36
Todas estas imagens perfazem a função poética�
Se os exemplos de propaganda acima pertencem 
à função poética, o que os diferencia de um texto 
poético? Essa diferença se encontra na finalidade 
de cada texto� A poesia tem sua independência e ela 
lança mensagens que valem por si mesmas� 
37
NOÇÃO DE IMAGEM & 
QUESTÕES DE RETORICA
O dicionário Houaiss registra várias acepções relati-
vas à imagem, dentre as quais destacamos esta: “(9) 
qualquer maneira particular de expressão literária que 
tem por efeito substituir a representação precisa de 
um fato, situação etc� por uma alegoria, visão, evo-
cação etc�” Desse modo, imagem corresponde a um 
desvio no uso de um termo� O que vem a ser desvio? 
Neste exemplo, “nosso zoológico adquiriu um leão”, o 
termo “leão” corresponde a um animal carnívoro, da 
raça dos felinos� Sua pelagem é curta com exceção 
da parte à altura o pescoço, que é coberta por farto 
pelame, denominada de juba�
Compare o exemplo acima, com este: “Sim: ele é 
baixo, magro, mas quando entra em campo é um 
leão”� Nesse caso não se espera que o indivíduo apre-
sentado como “baixo e magro” ganhe uma juba ao 
entrar em campo� O que ocorreu aqui foi um desvio 
da significação habitual da palavra (esse significado 
não perdeu, mas a ele outro foi acrescentado)� A fra-
se acentua o fato de que, dentro do campo, o atleta 
mencionado transforma-se e ele passa apresentar 
uma grande energia e coragem, ao que o autor da 
frase denomina ‘leão’.
Assim, o termo abstraiu-se em sua significação habi-
tual e passou a emprestar ao homem as qualidades 
que costumeiramente pertencem ao “rei das selavas”�
38
A linguagem literária pende à conotação� Nela 
concentram-se vários significados nas palavras. 
Enquanto a linguagem científica prima pela denota-
ção, a linguagem literária, sem abandonar a função 
referencial, acumula outros significados simultane-
amente� O modo como faz isso é o que passamos 
a estudar agora�
39
FIGURAS DE LINGUAGEM
Todo e qualquer termo, ou conjunto de termos que 
se constituem num desvio em seu emprego, pode 
ser denominado de imagem� Os trabalhos da retó-
rica – arte de falar em público, numa conceituação 
simplificada – mais presentes nos tempos antigos, 
procuravam apresentar elementos que melhor enri-
quecessem o discurso� Esse enriquecimento podia 
ser feito pelo menos de duas maneiras:
a) Pela ordenação das palavras na frase, visando a 
um efeito específico. 
b) Pelo enriquecimento da expressão, empregando 
ornamentos, conhecidos como figuras de linguagem. 
40
FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Quando se pensa na ordenação de uma frase ou 
do discurso, empregam-se figuras de construção. 
Denominam-se figuras de construção, a anáfora, o 
hipérbato, a anástrofe, o anacoluto etc� A anáfora 
corresponde à repetição de um termo, ou de alguns 
termos no início da frase, como em:
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus�
Tempo de absoluta depuração�
Tempo em que não se diz mais: meu amor�
Porque o amor resultou inútil�
E os olhos não choram� 
E as mãos tecem apenas o rude trabalho�
E o coração está seco�
[Carlos Drummond de Andrade (2013, p� 74) – Os ombros 
suportam o mundo�]
A repetição do termo tempo no início dos versos dois 
e três pode ser considerada anáfora; nos três últimos 
versos, iniciados pela repetição da conjunção “e”, 
ocorre um polissíndeto (poli= muito; síndeto= con-
junção)� A construção que apresenta orações, uma 
seguida da outra sem qualquer conjunção, denomina-
-se assíndeto (a= não; síndeto= conjunção)� 
No início do hino brasileiro há duas inversões: 
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/ De um 
41
povo heroico o brado retumbante� O termo grifado, 
“do Ipiranga” é um elemento que refere a “margens 
plácidas”� Como já se observou a ordem direta des-
ses versos seria “As margens plácidas do Ipiranga 
ouviram/ o brado retumbante de um povo heroico”� 
Fica mais fácil perceber que os termos grifados fa-
zem referência a “margens” e “brado” respectiva-
mente� Esse tipo de inversão denomina-se hipérbato 
(literalmente, ‘sobrepasso’).
Há um conjunto muito grande de figuras de constru-
ção� Seu emprego implica efeitos de leitura: surpre-
sas, ênfase em pontos específicos do texto, ritmo 
entre outros efeitos. As figuras de linguagem fazem 
com que um discurso se torne mais interessante�
42
FIGURAS DE PENSAMENTO
As denominadas figuras de pensamento lidam com 
o significado das palavras ou de um conjunto de 
palavras� A hipérbole (‘excesso’), por exemplo, cor-
responde a algum tipo de exagero� Se alguém diz 
“eu trouxe um caminhão de sugestões”, ninguém 
espera que tenha chegado ali um grande veículo, 
carregado de propostas, mas que a imagem exage-
rada diz respeito a um número bastante grande de 
“palpites” apresentados por determinada pessoa� 
Nem se espera que alguém que se queixe dizendo 
assim “demoraram um século para me atender” diga 
exatamente a verdade, mas que ele tenha exagerado 
para revelar sua insatisfação com a espera� 
A Ironia (de acordo com Houaiss, do grego eirōneía, 
as ‘ação de interrogar, fingindo não saber’) é uma figu-
ra de pensamento que consiste em expressar certas 
palavras visando a seu efeito contrário� Por exemplo: 
ouve-se uma grande gritaria numa sala� Alguém co-
menta: “Você pretende conversar com o chefe? Ele 
não apresenta o melhor de seus humores hoje”� Ou: 
“Como engenheiro, ele é bom churrasqueiro”� Nesses 
dois casos, desviou-se do que se pretendia dizer� No 
primeiro, o que se dá entender é que o “chefe” está 
com péssimo humor; no segundo, que “ele” não tem 
nenhuma condição de ser engenheiro�
A retórica tradicional destaca um conjunto de ima-
gens como Figuras de Palavras� Elas consistem em 
Comparação, Metáfora, Metonímia, Sinédoque e 
Catacrese� 
43
 A mais simples delas é a catacrese: trata-se de uma 
figura de linguagem que, pelo uso costumeiro, perdeu 
o aspecto fantasioso� Exemplos: cotovelo da rua, 
boca da noite, dente de alho, orelha de livro, mão de 
tinta, braço da cadeira, pé da mesa e tantos outros 
termos semelhantes� Nesses casos, na falta de um 
termo específico, apelou-se para uma imagem me-
tafórica (como “cotovelo da rua”, uma construção 
metafórica, pela semelhança entre um ângulo agudo 
e um cotovelo) ou metonímica (“mão de tinta” – não 
se espera uma medida de tinta, mas um trabalho 
‘manual’ de distribuí-la sobre determinada superfície; 
a mão que executa o trabalho passa a designar o 
próprio trabalho)� 
A metáfora (etimologicamente, esse termo significa 
“transposição”) consiste numa substituição de um 
termo por outro em virtude de uma semelhança� No 
verso camoniano “Amor é fogo que arde sem se ver”, 
estabelece-se a equação “Amor = fogo (que queima 
invisivelmente)”� Ao fazê-lo, Camões destaca uma 
característica do sentimento amoroso, ligada à for-
ça, ao calor, à ardência e tantos outros significados. 
Entre amor e fogo, há um ponto comum que pode 
ser simbolizado pela intercessão da dos círculos A e 
B, como no esquema abaixo� Os pontos em comum 
são aqueles que permitem a aproximação de A a B, 
de tal sorte que uma vez que se nomeie B, pensa-se 
em A e vice-versa� No exemplo camoniano, “A” pode-
ria ser amor; “B”, fogo� As noções de ardência, calor, 
força são os pontos em comum entre um elemento 
e outro “C”:
44
A BC
Figura 1: Fonte: Elaboração própria.
A comparação é um tipo de imagem próxima da me-
táfora� A diferença consiste em que a comparação 
deixa evidentes os elementos que estabelecem a 
semelhança entre uma coisa e outra, ao passo que 
a metáfora salta esse ponto� Observe o que sucedeneste poema de Manuel Bandeira:
O Rio
Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite�
Não temer as trevas da noite�
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas�
(BANDEIRA, Manuel� Estrela da vida inteira� 1993, p� 203�)
45
No primeiro verso, Ser como o rio que diflui, o termo 
“como” estabelece uma relação entre o leitor (pois a 
ele o poema se dirige, tal como um conselho dado a 
alguém) e o rio, cujo comportamento serve de exem-
plo para quem o observa; a conjunção comparativa, 
como, é o elemento de ligação� O mesmo acontece 
no sexto verso, Como o rio as nuvens são água, quan-
do se comparam os termos “rio” e “nuvens”� Por que 
se escolheu a noite para apresentar o procedimento 
do rio? Porque a escuridão noturna (“trevas da noite”, 
3º verso) é reveladora do lado sombrio da vida, dos 
momentos de incertezas e dificuldades que o ser 
humano enfrenta� E nesse aconselhamento, o rio 
diflui (isto é, “escorre”) quer haja estrelas nos céus, 
quer haja nuvens� E “pejar”, neste caso, é sinônimo 
de encher, mas com um significado a mais, dado que 
a primeira acepção desse verbo é “pôr obstáculos, 
estorvar, impedir” (cf� o dicionário Houaiss)� Ou seja, 
fica implícito que a presença de nuvens é um obstá-
culo para o movimento do rio, que fica refletindo o 
céu� Este céu corresponde a um elemento positivo, 
as estrelas� As nuvens, apesar de serem um estorvo, 
têm a mesma consistência do rio (Como o rio as 
nuvens são, água), por isso não devem ser rejeita-
das, mas acolhidas “sem mágoa” (7º verso), “nas 
profundidades tranquilas”� Esta última imagem diz 
respeito ao íntimo do ser humano: o poeta aconselha 
o leitor a manter uma atitude estoica, uma espécie 
de indiferença relativa aos fatos da vida, como as 
alternâncias entre prazeres e dores� 
46
SAIBA MAIS
Os estoicos eram adeptos do estoicismo, dou-
trina fundada por Zenão de Cítio (335-264 a�C�) 
e desenvolvida por várias gerações de filósofos, 
que se caracteriza por uma ética em que a im-
perturbabilidade, a extirpação das paixões e a 
aceitação resignada do destino são as marcas 
fundamentais do homem sábio, o único a expe-
rimentar a verdadeira felicidade� O estoicismo 
exerceu profunda influência na ética cristã. (HOU-
AISS, 2001)
Outra imagem importante é a metonímia e/ou siné-
doque (significado aproximado: ‘abrangência’). Há uma 
diferença sutil entre uma imagem e outra, mas para este 
estudo, consideraremos metonímia e sinédoque sinôni-
mas. A metonímia é um processo de substituição basea-
do em contiguidade (ou seja, vizinhança). Por exemplo, 
há um homem que é conhecido por seu bigode, e outro, 
por sua careca. Se alguém disser “Hoje me encontrei na 
praça com o Bigode e o Careca”, estará fazendo uso de 
uma metonímia. 
Diferentemente da metáfora, que se baseia na se-
melhança, a metonímia procura tomar uma coisa 
por outra� Quando alguém chamado Bigode vem nos 
visitar, não se supõe com isso que, ao atendermos 
ao chamado da campainha, estará no lado de fora 
da porta um enorme bigode, mas um homem que 
porta um bigode� Diferente da metáfora, na meto-
nímia parte da coisa simbolizada está presente no 
47
símbolo; é o que sucede como o termo “bigode” que 
ganha um processo de ampliação em seu significa-
do, passando-se pela pessoa que o usa� O mesmo 
raciocínio se estende ao indivíduo denominado de 
Careca� 
SAIBA MAIS
Consulte estes endereços para fixar melhor o 
que são as figuras de linguagem: em https://www.
todamateria.com.br/figuras-de-linguagem você 
encontra não apenas explicações a respeito das 
figuras de linguagem como um conjunto significa-
tivo de exercícios de fixação, algo que você en-
contrará também em https://geekiegames.geekie.
com.br/blog/figuras-de-linguagem. Neste outro, 
https://www.infoescola.com/portugues/figuras-
-de-linguagem, há bastante variado de exemplos 
encontrados na linguagem comum. Observação: 
esses sites são para um público juvenil do ensi-
no médio, mas, por sua simplicidade, são ótimos 
para a fixação de conteúdos.
48
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GÊNEROS LITERÁRIOS
A literatura é um conjunto aleatório de formas? Ou as 
produções literárias se agrupam em conformidade 
com determinadas características? Seria possível 
fazer uma antologia misturando o romance Dom 
Casmurro, de Machado de Assis, ao lado de Meus 
oito anos, poema de Casimiro de Abreu?
 “A teoria dos gêneros é um princípio 
ordenador: classifica a literatura e a história 
literária não em função da época ou do lugar 
[...], mas sim de tipos especificamente literá-
rios de organização ou de estrutura” (WELLEK; 
WARREN, 1971, p. 286).
Pela tradição, os gêneros se dividem em poesia e 
prosa, sendo a poesia escrita em versos e a prosa 
em linha contínua, caracterização que descreve es-
ses grandes gêneros por fora� Mais adiante, vai-se 
perceber que nem o verso define a poesia, nem a 
linha contínua, a prosa� Além disso, há na poesia 
dois gêneros: a lírica e a épica; a primeira, como 
bem a define Emil Steiger (1969), corresponde à 
“recordação”, traduz o mundo introspectivo ligado 
ao sentimento� A épica, que Steiger caracteriza 
como “a apresentação”, refere-se ao mundo da 
ação de grandes figuras, os heróis� O drama, por 
fim, “a tensão”: são as personagens que ganham 
independência e se digladiam no palco de um teatro�
49
 Outros comentadores, como Karl Viëtor (WELLEK & 
WARREN, op� cit�, pp� 287-8), colocam a poesia lírica 
como o poeta falando de sua própria pessoa� Na 
épica, o poeta é um narrador, apresentando a ação 
das personagens. No drama, a figura do poeta desa-
parece: são as personagens que tomam a palavra� O 
crítico inglês E� S� Dallas (apud WELLEK; WARREN, 
op� cit�, pp� 287-8) considera os gêneros da seguinte 
forma:
Gênero Pessoa Tempo
Drama 2ª pessoa Presente
Épica 3ª pessoa Passado
Lírica 1ª pessoa Futuro/ (ou passado)
Se a lírica é o futuro ou o passado (cf� Steiger, que 
denominou a lírica como “recordação”) é uma ques-
tão complexa, com pouca possibilidade de chegar-se 
a uma conclusão indiscutível�
Até o século 18, os gêneros eram a lírica, a épica e o 
drama, porque todas as obras dessa natureza eram 
escritas em versos� Com o Romantismo, a separação 
rígida que se empunha até então, foi dissolvida� Os 
românticos não apenas abandonaram o verso na 
elaboração de peças teatrais, como “inventaram” a 
tragicomédia, mistura antes considerada inconcebível 
(ainda que Shakespeare já tivesse avançado nesse 
terreno, colocando cenas típicas de comédia no meio 
de algumas de suas tragédias)�
50
Para nossas considerações, o melhor é apresentar 
exemplos claros de cada uma dessas espécies lite-
rárias, a começar pelo gênero lírico�
GAITA DE LATA
Se o amor ainda medrasse,
aqui ficava contigo,
pois gosto da tua face,
desse teu riso de fonte,
e do teu olhar antigo
de estrela sem horizonte�
Como, porém, já não medra,
cada um com a sorte sua!
(Não nascem lírios de lua
pelos corações de pedra���) [Cecília Meireles (1973), p� 233]
Neste poema, domina um tom confessional� Quem 
fala é um “eu”, função expressiva destacada, que 
se queixa da perda amorosa. A figura do amado é 
apresentada pela face, composta do riso e olhar� 
Não são os órgãos, boca e olhos, mas a expressão 
por eles conotada: o riso de fonte, e olhar antigo de 
estrela sem horizonte, ambas as imagens designando 
algo contínuo e ilimitado� Ao que tudo indica, cada 
um segue seu destino (“sorte”), porque o amor não 
cresce ou segue adiante (“já não medra”)� A última 
51
estrofe aparece como uma explicação, e nela, a po-
etisa não acusa a figura amada de indiferença, pois 
aambiguidade do último verso (“pelos corações de 
pedra”) aponta para os corações de pessoas como 
aquela que tem um belo sorriso e um olhar atraente, 
ou quer dizer que tanto um quanto outro, a poetisa e 
o amado, endureceram seus corações? 
O título do texto Gaita de Lata chama a atenção a 
seu oposto “Gaita de Fole”, tendo esta última certo 
caráter solene em sua execução� O termo “lata” de-
signa algo mais vulgar, conotando algo menor, sem 
destaque, apequenando sua situação e sua sorte, que 
a leva à exclusão da pessoa de um contato social, 
destacando-se com isso sua solidão. Enfim, a pro-
posta deste poema implica intimidade, introspecção�
A prosa permanece longe dessa linguagem introspec-
tiva, ainda que o tema sejam os sentimentos, como 
revela este trecho de Machado de Assis (1839-1908):
– Que é que você tem?
– Eu? Nada�
– Nada, não� Você tem alguma coisa�
Quis insistir que nada, mas não achei língua� Todo eu era 
olhos e coração, um coração que desta vez ia sair, com 
certeza, pela boca fora� Não podia tirar os olhos daquela 
criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada 
num vestido de chita, meio desbotado� Os cabelos gros-
sos, feitos em duas tranças, com pontas atadas uma à ou-
tra, à modo do tempo, desciam-lhe pelas costas� Morena, 
olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a 
boca fina e o queixo largo. As mãos, a despeito de alguns 
52
ofícios rudes, eram curadas com amor; não cheiravam 
a sabões finos nem águas de toucador, mas com água 
do poço e sabão comum trazia-as sem mácula� Calçava 
sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera 
alguns pontos� (Dom Casmurro, capítulo XIII)
Ao contrário do poema de Cecília Meireles, que é 
uma reflexão atemporal sobre a perda amorosa, o 
texto machadiano mostra o mundo por fora, mesmo 
sendo um narrador em primeira pessoa� Bentinho 
(o narrador do romance) está diante de Capitu� Ele 
apresenta-a ao leitor, e, ao fazê-lo, revela alguns da-
dos da condição social da moça, que não cheira a 
sabões finos ou a perfumes, mas a sabão comum. 
A roupa apresenta alguns sinais de uso: o vestido 
de chita (um tecido barato) é apertado e “meio des-
botado”, os sapatos, velhos e remendados� As mãos 
tinham enfrentado algum trabalho mais rude, o que 
valoriza sua apresentação limpa� Misturadas a essas 
qualidades estão os dados “alta, forte e cheia”� E o 
que traduz os sentimentos desse narrador por Capitu 
são as frases iniciais, “Todo eu era olhos e coração, 
um coração que desta vez ia sair, com certeza, pela 
boca fora� Não podia tirar os olhos daquela criatura���” 
Ainda que preso a esses sentimentos, a narração não 
perde a objetividade de apresentar a personagem 
Capitu: em momento algum sua imagem é falsifi-
cada� Há uma análise minuciosa da aparência dela, 
não apenas para apresentá-la fisicamente, mas a 
somatória de indícios vai além, fazendo referência 
à situação econômica dessa personagem, que não 
revela nenhum sinal de riqueza� O retrato propiciado 
53
por esse trecho é, em primeira instância, revelador de 
uma determinada realidade tal qual a gente consegue 
entender no cotidiano�
Desse modo, percebe-se que o gênero poesia tende 
a revelar o interior de uma maneira quase que dire-
ta, tomando os sentimentos com que se apresenta 
o mundo de imediato� Já a prosa retrata o mundo 
tal qual nós, leitores, o observamos numa primeira 
instância, para depois sondar sua significação, ainda 
que esse grau de compreensão se dê imediatamente�
No drama, representado por aquilo que se conhe-
ce como teatro, não há um “eu” que sente, ou que 
apresenta: as personagens conduzem diretamente 
a ação� É o que se observa na cena inicial de Mãe, 
peça escrita por de José de Alencar (1829-1977):
Ato Primeiro (Em casa, sala de visitas) Cena primeira: Elisa 
e Gomes�
GOMES – Já estás cosendo, minha filha?
ELISA – Acordei tão cedo��� Não tinha que fazer�
GOMES – Por que me ocultas o teu generoso sacrifício? 
Cuidas que não adivinhei?
ELISA – O que, meu pai?... Que fiz eu?...
GOMES – São as tuas costuras que me têm suprido esta se-
mana nossas despesas� Conheceste que eu não tinha dinhei-
ro para os gastos da casa e não me pediste��� trabalhaste!
ELISA – Não era minha obrigação, meu pai?
54
GOMES – Oh! É preciso que isto tenha um termo!
ELISA – Também hoje é o 3 do mês��� Vm� Receberá o seu 
ordenado� 
GOMES – Meu ordenado? Já o recebi�
ELISA – Ah! Precisou dele para pagar a casa?
No trecho acima, a peça já se inicia com um proble-
ma: a falta de dinheiro, que obriga Elisa a costurar 
para ajudar nas despesas da casa� A indignação 
do pai é evidente, pois desejaria uma sorte melhor 
para a filha. Entretanto, a situação financeira é de 
tal modo flagrante, que é difícil escapar dela; brota 
naturalmente pela simples observação paterna à 
tarefa com que a filha se ocupa. A cena por si só 
faz um rápido retrato daquilo que costumamos de 
“situação dramática”. As peças teatrais dificilmente 
começam “neutras”, mas tendem a revelar nas ce-
nas iniciais um conflito. Esse conflito é convincente 
pela forte presença de pessoas (os atores) no palco� 
Isso faz com que a “ilusão” da obra de arte mais se 
aproxime da realidade comum� O espectador não 
se dá ao trabalho de imaginar como Gomes e Elisa 
estariam conversando a respeito da triste situação 
em que vivem, mas a simples troca de palavras en-
tre um e o outro são reveladores de seu momento 
econômico difícil�
Com esses três exemplos, demos uma “amostra-
gem” daquilo que se conhece como poesia, prosa e 
drama� No decorrer do curso, você vai se defrontar 
55
com outros textos e a repetição poderá facilitar-lhe o 
entendimento� Essa última observação vale para ou-
tras questões que esse módulo apresentou� Teremos 
sempre de recorrer a esses princípios ao considerar 
as obras literárias�
Por fim, a questão da metodologia de análise e de 
interpretação de texto vai sendo apresentada de 
maneira indireta� Ao discutirmos, no próximo mó-
dulo, questões relativas à poesia, assim como mais 
adiante, as relativas à prosa, vamos oferecer a você 
elementos relevantes para a o tratamento do texto�
56
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste módulo, você entrou em contato com a teo-
ria literária, partindo de um conceito bem elástico: 
literatura é arte da palavra� Percebeu que a natureza 
e a função da literatura gira em torno dos valores 
o “útil” e o “agradável”, palavras anunciadas pelo 
poeta Horácio em sua Arte Poética� Mas esse não 
foi o primeiro autor a refletir sobre a literatura no 
mundo ocidental. Platão e Aristóteles já o fizeram 
antes� Platão considerava a arte como falsa cópia 
do mundo; Aristóteles considerava a arte também 
como cópia (mimese), mas da essência do mundo� 
Posteriormente, as reflexões sobre a arte dividiram-se 
em quatro teorias: mimética, pragmática, expressiva 
e objetiva�
A literatura divide-se em gêneros: poesia, drama e 
prosa� Sua linguagem difere-se do uso comum que se 
faz da língua� As funções da linguagem se destacam 
a partir da ênfase num dos elementos da comunica-
ção: remetente, mensagem, destinatário, contato, có-
digo e contexto� A mensagem que destaca a própria 
mensagem é a função poética, que permite vários 
empregos, como o que ocorre na propaganda� Mas é 
na literatura que a função poética é empregada com 
maior destaque, principalmente porque as mensa-
gens literárias não visam a uma finalidade prática, 
tal como ocorre nas mensagens de marketing�
57
Por fim: você, estudante, tirará grande proveito deste 
e dos demais módulos se ler o maior número possível 
de obras literárias, quer de poesia, quer do teatro, 
quer da prosa�
Vamos lá?
58
Síntese
Teoria 
Literária
a) Particularidades da linguagem literária 
A linguagem literária possui algumas características que a dis-
tinguem da linguagem comum; isso pode ser observado no vo-
cabulário, que costuma ser diferenciado (o que nem sempre 
ocorre, principalmente nos textos modernos), e na alteração da 
ordem habitual das frases. A linguagem da poesia apresentaum 
ritmo mais condizente com a música.
b) A função e natureza da literatura
A literatura pode ser conceituada como arte da palavra. Isso 
coloca a literatura ao lado da dança, da música, da pintura, da 
escultura e das demais modalidades artísticas. Sua natureza e 
função, de acordo com os comentaristas, de Aristóteles até 
nossos dias, permanecem entre dois valores: o útil e o 
agradável. Esses elementos não devem estar desassociados. 
Tolstoi pensa a literatura como uma maneira de devolver o 
homem uma percepção renovada do mundo e uma com-
preensão mais aguda da realidade.
c) Conceito e Surgimento da Teoria Literária
O estudo da literatura a partir de conceitos fundamentais –
iniciou-se com as reflexões de Platão. Ganhou força com a Poética 
de Aristóteles, obra que ainda impacta ainda hoje nas 
considerações sobre o fenômeno literário, e ganhou força no Re-
nascimento. Nas propostas estéticas entre os séculos 16 e 18 
esses conceitos foram tomadas como dogmas indiscutíveis. Com 
o advento do Romantismo no século 19, muitas ideias preconce-
bidas foram desfeitas, como, por exemplo, a questão dos 
gêneros literários. Os românticos misturaram tragédia e comédia, 
subverteram algumas regras e criaram muita coisa nova.
d) Principais correntes da Teoria Literária
Quatro teorias se destacam na compreensão do fenômeno 
literário: a mimética, que entende a arte como imitação e/ou re-
produção da realidade; a pragmática, a arte deve ter algum en-
sinamento (e um propósito moral); a teoria expressiva: maior 
valorização do artista do que parte do mundo objetivo que ele 
possa transmitir; e, finalmente, a objetiva, voltada ao processo 
de criação da obra literária.
e) As funções da linguagem 
A linguagem humana, de acordo com Jakobson, de acordo com 
o esquema de comunicação, possui seis funções. As três primei-
ras, que compreendem respectivamente o emissor, a men-
sagem, o destinatário são respectivamente emotiva, poética, 
conativa, As três outras, voltadas ao contexto, ao contato e a 
linguagem, são referencial, fática e metalinguística. A função 
poética, apesar do nome, não se refere apenas ao discurso 
literário, mas refere-se também a toda mensagem que valoriza 
a si mesma, como o trocadilho e a linguagem da propaganda.
 A função poética se destaca como um modo de compreender 
as particularidades do discurso literário. A noção de desvio – o 
que não segue a norma, mas desvia-se dela – leva às figuras de 
linguagem. As figuras de construção, como o hipérbato percebi-
do logo no início do Hino Nacional; as de pensamento, como a 
ironia; e as figuras de palavras, as mais importantes, destacan-
do-se a metáfora e a metonímia. Estas duas últimas são figuras 
de substituição. A metáfora substitui um termo pelo outro em 
virtude da semelhança entre ambos; a metonímia substitui um 
termo pelo outro, em razão da vizinhança entre eles.
f) Os gêneros literários
Três são os gêneros literários fundamentais: a poesia, a prosa e 
o drama, que estão baseados em alguns pressupostos. Na 
poesia é o poeta quem fala; na prosa ele é apenas um narrador 
do que acontece com os outros; no drama, são as personagens 
que falam por si mesmas.
g) Análise e interpretação de texto
Por fim a análise e interpretação de texto. O curso de Teoria 
Literária vai municiá-lo com noções significativas e um conjunto 
de termos específicos para tratar os textos literários. Entretanto, 
preste bastante atenção no modo como os exemplos de 
poemas, de prosa e de peças de teatro são tratadas no decorrer 
do curso: são exemplos “vivos” de análise e interpretação de 
texto.
Referências
ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO� A poética clás-
sica. São Paulo: Cultrix, 1981.
CÂNDIDO, Antônio. Na sala de aula. 8. ed. São Paulo: 
Ática, 2010. 
EIKTENHBAUM, Boris. et al. Teoria da literatura: for-
malistas russos. Porto Alegre: Globo, 1971.
FABRINO, Ana Maria Junqueira. História da Literatura 
universal. Curitiba: InterSaberes, 2014 (Série 
Literatura em foco).
GOMES, Álvaro C.; VECHI, Carlos. Introdução ao estu-
do da literatura. São Paulo: Atlas, 1990.
JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. São 
Paulo: Cultrix, 1973.
INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS. Dicionário Houaiss 
da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 
MEIRELES, Cecília. Vaga música. Rio de janeiro: 
Civilização Brasileira, 1973.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 2. 
ed. São Paulo: Cultrix, 1978.
STEIGER, Emil. Conceitos fundamentais de poética. 
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969. 
WELLEK, René; WARREN, Austin. Teoria da literatura. 
2. ed. Lisboa: Europa América, 1971.
MICHEL, Alain. Arts poétiques. In: Encyclopedia 
Universalis: Encyclopedia Universalis France S. A., 
1990, p. 106-109.
	INTRODUÇÃO
	ALGUNS ASPECTOS DA LINGUAGEM LITERÁRIA
	CONCEITO DE LITERATURA
	A NATUREZA E A FUNÇÃO DA LITERATURA
	CONCEITO E SURGIMENTO DA TEORIA LITERÁRIA
	PRINCIPAIS CORRENTES DA TEORIA LITERÁRIA
	Teoria Mimética
	Teoria Pragmática
	Teoria Expressiva
	Teoria Objetiva
	PARTICULARIDADES DO DISCURSO LITERÁRIO
	AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM
	NOÇÃO DE IMAGEM & QUESTÕES DE RETORICA
	FIGURAS DE LINGUAGEM
	FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
	FIGURAS DE PENSAMENTO
	GÊNEROS LITERÁRIOS
	CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Síntese

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