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Aula I - Preliminar

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CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA 
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
 
CURSO: Geografia DISCIPLINA: Mundo Contemporâneo I 
 
CONTEUDISTA: Gabriel Siqueira Corrêa 
 
AULA 1 – A construção de visões de mundo a partir da Geografia: 
 
 
META da aula: 
Apresentar ao estudante a importância da disciplina como forma de combater 
as representações eurocêntricas dominantes sobre as diferentes regiões do 
mundo. 
Objetivos: 
1 – Que o estudante entenda a importância de refletir sobre as visões de 
mundo que possui, em especial sobre as regiões do sul geográfico; 
2 – Identificar alguns elementos e conteúdos que constroem a trajetória do 
ensino de geografia sobre o mundo. 
PRÉ-REQUISITOS: 
- Dominar o conceito de região e sua leitura como ferramenta de análise da 
realidade 
Introdução 
Você já deve ter percebido durante seu ensino básico que a Geografia 
representa de forma geral uma disciplina que apresenta diversos espaços 
diferentes pelo mundo. Nesses espaços existem temas ou abordagens 
escolhidas para apresentar aspectos físicos e populacionais, além de questões 
vinculadas às transformações territoriais. 
Nessa apresentação você passa a conhecer parte de cada país, sua população 
e seus aspectos políticos e econômicos. De certa forma você acaba adquirindo 
uma visão sobre cada espaço, cuja representação vai sendo somada a um 
repertório de imagens e assuntos que você conhece. 
É diante deste cenário que podemos considerar que a ciência geográfica 
constrói visões de mundo e sobre o mundo, que ganham importância crucial ao 
tratarmos questões vinculadas a esta disciplina. 
Dessa forma, nesta primeira aula, foi adotado um caminho que busca a) 
Produzir reflexão sobre as visões de mundo; b) problematizar a nossa leitura 
no ensino de geografia em relação a estes temas; c) e apresentar algumas 
noções importantes no desenvolvimento do curso, como a ideia de 
eurocentrismo. 
 
1 – Representações e visões de mundo: perspectivas iniciais. 
Quando falamos de mundo, ou melhor, do mundo, a imagem mais 
comum que se forma em nossas mentes é a do mapa-múndi. Esta imagem que 
na verdade é uma representação, se faz na forma da terra como sendo um 
conjunto de continentes divididos em países. Normalmente o formato desta 
imagem hegemônica da terra é o da projeção de Mercator (fig. 1), que traz uma 
noção de tamanho e centralidade que privilegia alguns países em detrimento 
de outros. Assim a imagem assimilada do planeta já o traz como sendo um 
conjunto de superfícies divididas na forma de países correspondentes a uma 
estrutura de poder com as fronteiras bem demarcadas e fixas. 
Fig 1- Mapa político do mundo. 
 
Retirado:de:http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/mapas_pdf/mundo_pla
nisferio_politico_a3.pdf 
Box explicativo: Diferenças entre projeções: 
Todos os mapas são representações gráficas e planas da superfície, porém, 
apresentam características diferentes conforme a técnica utilizada. 
Historicamente o mapa mais utilizado é retratado a partir da projeção de 
Mercator, que mantém alto índice de acerto entre a distância dos continentes, 
mas deforma a área. Apesar de ser muito utilizado no ensino de Geografia, ele 
contém em si um uso político, visto que nele o Hemisfério Norte aumenta 
significativamente, e a forma como é representado coloca a Europa no centro. 
Se distinguindo dessa projeção, a de Peters, ainda que não mantenha a forma, 
mantém a área do continente, sendo utilizado como forma de crítica ao 
Eurocentrismo, valorizando a dimensão dos continentes do Sul. 
 
Fonte:https://www.google.com.br/search?q=peters+e+mercator&source=lnms&tbm=isc
h&sa=X&ved=0ahUKEwi60Mun2P3YAhWIk5AKHR6pAzkQ_AUICigB&biw=1360&bih=
588#imgrc=ve_KjGMdL9g6pM: 
 
Esta imagem, construída em nossas representações, nos leva a 
naturalizar a ideia de que o mundo é um conjunto de países e regiões, sem 
refletirmos criticamente sobre os processos históricos e espaciais de criação e 
difusão imposta desta forma de organização social, marcada por fronteiras 
fixas. Afinal você já se perguntou quais foram os processos que levaram a essa 
formação? Ou ainda, como foram decididos os limites territoriais de cada país? 
Um olhar mais atento a esse fato nos leva a observar que a 
consolidação de vários Estados-Nações pelo mundo, criados não só ocupando 
uma posição na estrutura de poder definida (de divisão do mercado 
internacional de trabalho), mas também uma divisão populacional que é étnico-
racial, se deu através de um longo movimento histórico de violência e criação 
de desigualdades e estigmatizações sobre “os outros” da Europa, que com o 
tempo consolidou um repertório de representações moldando visões de mundo 
sobre cada uma das regiões. 
Uma pergunta que podemos fazer é se ao olhar este mapa somos 
capazes de traçar um conjunto de características sobre as regiões e as 
populações que a ocupam. Será que entre as respostas vão aparecer ideias 
como: “terroristas”, “extremistas”, “evoluídos”, “atrasados”, ou ainda “área de 
fome”, “continente das doenças”? 
A construção dessas visões, produzidas em diferentes momentos, não 
esta associada apenas a trajetórias individuais que cada um de nós adquire 
com o passar do tempo. As representações que evocamos estão presentes em 
um conjunto de símbolos compartilhados por todos, à medida que são 
difundidos por mecanismos coletivos. A origem desse repertório envolve um 
acervo de arquivo e imagens construídos através de jornais, novelas, filmes, 
romances, que apresentam uma dada realidade, que é frequentemente 
repetida, e incorporada ao senso comum. 
Um exemplo simples é o da região do Nordeste. Muitas vezes associa-
se essa região a uma série de imagens e informações como “seca” e 
“pobreza”, “povo batalhador e sofrido”, ou até mesmo, no atual momento 
político vivido, uma leitura associada ao preconceito de origem, tratando a 
população como algo único, e não uma pluralidade. Esse conjunto de 
informações direcionam uma atitude e reduzem uma pluralidade regional a uma 
realidade, que passa a compor a geografia imaginária sobre este espaço e a 
população que o ocupa. Ela está presente não apenas em inúmeras novelas, 
mas também em outros programas que apresentam essa região ora como foco 
de problemas, ora como paraíso tropical com suas praias. 
BOX Multimídia: Entrevista com Durval Muniz de Albuequerque: autor da 
invenção do Nordeste 
 
O historiador Durval Muniz de Albuquerque escreveu em 1994 sua tese 
chamada a invenção do Nordeste que deu origem ao Livro do mesmo nome. 
Nesse livro o autor aborda as características mobilizadas na construção de 
uma leitura sobre o Nordeste, construída principalmente através de romances, 
novelas e filmes. No link abaixo é possível acessar a entrevista com o autor, 
em que ele conta um pouco mais sobre como ocorreu o que ele chamou de 
“invenção do Nordeste”. 
https://www.youtube.com/watch?v=t_Z_e-EK19Y 
 
Porém, essas visões não são construídas unicamente pelos jornais, 
internet, ou filmes. O acervo de imagens e discursos pode ser encontrado 
também em outros lugares, indo além das padronizações que vocês já devem 
ter percebido através de filmes lançados em escala mundial, ou novelas de 
alcance nacional que ditam uma leitura sobre os espaços. Estamos falando 
aqui sobre os materiais didáticos, distribuídos em todas as escolas da rede 
publica do Brasil, construindo um acervo de imagens e conteúdos sobre as 
mais diferentes regiões e realidades, não só do Brasil, mas também do mundo, 
reproduzindo certas ideologias geográficas (MORAES, 1991). 
Quanto ao conceito de ideologias geográficas vale uma leitura mais 
profunda, pois ele está associado aos debates que vamos fazer ao longo da 
disciplina. MORAES (1991, 2008) propõem uma forma interessante de 
olharmos a produção do pensamento geográfico. Ele expressa a geografia 
enquanto pensamento realizado através de representaçõesespaciais que pode 
ser enxergada em três níveis, o do “horizonte geográfico”, o do “pensamento 
geográfico”, o das “ideologias geográficas”. (MORAES, pág. 12, 2008) 
A primeira são as geografias espontâneas, os raciocínios que utilizamos 
a todo o momento a partir do espaço, as geografias do cotidiano, do senso 
comum, que não devem ser confundidas com as problematizações acerca do 
espaço. São aqueles raciocínios que você mobiliza ao pensar o caminho ao 
sair de casa, ao traçar uma viagem refletindo sobre lugares para ir, condições 
necessárias de acesso, entre outras coisas. 
Na leitura do autor, a geografia institucionalizada e de caráter acadêmico 
faz parte do pensamento geográfico. Porém, o pensamento geográfico não se 
reduz a geografia acadêmica. No pensamento geográfico é possível encontrar 
também outros conhecimentos sistematizados por viajantes, cientistas, 
literários, jornalistas que pensaram os lugares sob uma ótica espacial, ou seja, 
as sistematizações que apresentam de alguma forma a representação de 
determinado espaço. Isso se estende a um variado campo de discursos que 
dizem respeito sobre o espaço (descrevendo-o ou caracterizando sua 
população), atuando em inúmeras escalas (representações locais até as 
nacionais). Constitui um acerco histórico amplo, que forma visões de diferentes 
grupos, que como já indicamos “(...) emergem em diferentes contextos 
discursivos, na imprensa, na literatura, no pensamento político, na ensaística, 
na pesquisa científica etc.” (MORAES, 1991, pág. 32) A partir delas observam-
se manifestações de determinadas visões que difundem valores positivos ou 
negativos sobre esse ou aquele espaço. Como indica Moraes “Enfim, vai sendo 
gestado um senso comum a respeito do espaço. Uma mentalidade acerca de 
seus temas. Um horizonte espacial, coletivo. (MORAES, 1991, pág. 32)”. 
A abordagem exposta como pensamento geográfico é importante e rica, 
visto que ela não é limitada a disciplina de geografia, mas coloca a imprensa, a 
literatura, o pensamento político ensaísta dentre outros, que criam e difundem 
visões de mundo e de Brasil, e ainda ajudam a entender as representações 
espaciais da sua época, que passam a constituir os lugares e suas histórias. 
Ao não limitarmos o pensamento geográfico a geografia acadêmica, 
estendemos o campo possível para se pensar geografia, não deixando de 
problematizar a vasta literatura sobre a formação do território, em que o 
simbólico e material são mutuamente constituídos. 
 Essa abordagem tem sua importância ainda mais destacada no terceiro 
e último horizonte, as ideologias geográficas, um conjunto de discursos dentro 
do pensamento geográfico, porém, em uma classe mais restrita de discursos 
que tem como principal ponto de distinção, serem interligados por interesses 
políticos, principalmente aqueles que criavam/difundiam – e ainda 
criam/difundem – uma visão de determinado território e/ou grupo. Essas 
representações são dotadas de relações de poder, construindo verdadeiros 
modos de pensar/imaginar determinada área ou sujeito. Fala-se da vinculação 
com o sentido político aqui de forma essencial, pois ele vai percorrer vários 
campos do conhecimento, estabelecer projetos e inclusive inculcar valores e 
subjetividades. São invenções permanentes de sentidos e intenções, são 
ideologias justificadas por representações geográficas e políticas territoriais do 
Estado. 
Dessa forma, livros de literatura, informações jornalísticas ou acervos 
sobre o passado, podem ganhar uma dimensão política, ou tornarem-se 
ferramentas políticas, justificando ou estimulando intervenções. As ideologias 
geográficas também são apropriadas por populações que passam a se 
identificar sob-rótulos, e representações difundidas. 
Portanto essas ideologias são elementos ativos na formação, 
identificação e transformação do espaço, seja para a exploração ou para a 
liberdade. Segundo o autor supracitado a geografia acadêmica, poderia 
“constituir também um veículo específico de diferenciadas ideologias.” 
(MORAES, 2008, pág. 14). Diante isso, a pergunta que devemos fazer é: o 
ensino de geografia faz parte desse campo das ideologias geográficas? 
Nossas visões de mundo são influenciadas por leituras com intenções 
políticas? 
2. Representações e ensino de Geografia 
Assim, cabe analisar como essas representações são construídas na 
geografia, principalmente no ensino básico, que pode ser um mecanismo de 
problematização ou legitimação do que é visto nos jornais, televisões e cinema. 
Infelizmente, no período mais recente é comum que os materiais didáticos 
apresentem uma leitura linear e natural da formação do mundo, que naturaliza 
uma visão sobre como a atual configuração de poder e de desigualdade foi 
formada em escala mundial. 
Isso pode ser visto ao lermos de forma mais atenta estes materiais em 
que é possível perceber a existência de uma determinada narrativa que tende a 
se repetir a partir de uma sequência de temas: primeiro há o feudalismo, depois 
as grandes navegações, e como conseqüência a chegada dos europeus a 
América. Prosseguindo nos conteúdos apresenta-se a criação de um sistema 
de colonização e uma divisão internacional do trabalho, marcada pela relação 
colônia e metrópole. Nesse caminho estrutura-se uma narrativa que parte do 
europeu para os outros espaços do mundo. Os habitantes que vivem na 
América são vistos e denominados de primitivos, sem religião, higiene e 
organização social. O contato com a África é apresentado já sob o prisma da 
relação econômica, e do vazio cultural, quando aparece. De qualquer forma, a 
leitura induz a pensarmos que ambos os continentes passam a servir 
unicamente como reserva de mão de obra escravizada e fonte de matéria 
prima, o que mobiliza a sua ocupação e expropriação. Não há formas de 
resistência, apenas invasão, e devido a uma dita superioridade, há o domínio 
quase total. 
Em relação a este domínio apresentado, é interessante notar como 
algumas justificativas que foram utilizadas em contextos passados parecem 
continuar povoando o imaginário e a própria leitura acadêmica acerca do tema, 
que o aceitam de forma natural. Resultando em uma dificuldade em seguir 
outros caminhos e conteúdos que não sejam os das sequências apresentadas. 
Essa naturalização acaba resultando na aceitação de teorias 
pseudocientíficas utilizadas para justificar esses processos de invasão. A mais 
comum é que a América e a África foram colonizadas devido à existência de 
“povos sem escrita e sem história”, sendo necessário um projeto civilizatório 
para os povos do sul geográfico. Outros falaram de “fardo do homem branco”, 
como uma missão que deve ser incorporada pelos europeus e estadunidenses. 
Mudam-se os tempos e essas terminologias são adaptadas, como as 
intervenções em povos “sem desenvolvimento”, “sem democracia”, ”sem 
cultura” etc. Os conteúdos ensinados atualmente parecem ter pouco poder 
frente aos materiais didáticos que naturalizam essa ideia, ao apresentarem a 
ocupação e expansão europeia de forma natural. 
BOXE EXPLICATIVO: O fardo do homem branco 
No final do século XIX, em 1899, o poeta inglês Rudiyard Kipling, publicou um 
controverso poema chamado “O fardo do homem branco”. Publicado dentro do 
contexto de interiorização da ocupação na África e Ásia pelos europeus, e da 
intensa ocupação Estadunidense nas Américas, o poema passava uma 
mensagem da importância e necessidade de levar a “civilização” a “povos sem 
cultura”, justificando a invasão e processos imperialistas, ocultando toda 
brutalidade que envolveu esse processo. 
 
Imagem que satiriza o poema: retirado de 
https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Fardo_do_Homem_Branco#/media/File:The_whit
e_mans_burden.gif 
Essa leitura que se faz do mundo, traz uma noção em que as relações 
desenvolvidas na Europa eram avançadas, e representavam tudo que as 
outras populações deveriam ser. É construída uma narrativalinear que coloca 
a Europa como padrão, a norma, e o que se distingue da norma é incorreto, e 
deve ser ajustado. Isso acontece nas mais diversas dimensões da vida, na 
linguagem, cultura, valores, saberes, religiosidade etc. 
A Europa surge como um espaço, constituído por uma população 
avançada, desenvolvida, posicionada no centro político e cultural da civilização 
e do conhecimento. As estratégias e as práticas de desterritorialização e 
desigualdade produzidas, a partir da expansão primitiva do capital, como 
aborda o geógrafo David Harvey são silenciadas, colocadas como naturais, 
parte da consequência da relação superioridade/inferioridade. O crescimento 
da Europa parece autogerado nesse caminho, sem uma associação de 
interdependência com outros continentes. 
Assim a partir do século XV a Europa é o futuro, enquanto América e 
África são o passado que deve ser incorporado ao presente. Cria-se o ideário 
de que todos devem buscar alcançar o que existe na Europa. Esse sistema de 
conhecimentos e epistemologias se propõe a apagar as culturas e técnicas 
desenvolvidas em espaços não europeus. As diferenças entre a Europa e a 
“não Europa” são transformadas em assimetrias temporais – os outros são o 
passado, enquanto a Europa é o presente. As experiências sociais de 
diferentes populações, e a própria relação da sociedade com o espaço é 
chamada de primitiva, não desejável, descartável. Segundo o autor português 
Boaventura Santos essa é a lógica que tenta impor uma narrativa universal de 
história e geografia, uma visão eurocêntrica sobre o passado e o presente. 
Esse ideário eurocêntrico que toma conta da nossa forma de ver o 
mundo, e constitui a nossa geografia ensinada se configura como uma 
geopolítica do conhecimento. Assim é preciso um projeto de geografia que 
busque a descolonialidade em sua produção, possibilitando a reabertura para 
outros debates que pouco tem tido visibilidade na Geografia acadêmica 
brasileira, e menos ainda no ensino de Geografia. Ao contrário da 
descolonização, luta pautada pela independência das colônias em relação às 
metrópoles, a descolonialidade envolve tanto um processo pela libertação 
epistêmica, das ciências e conceitos europeus e estadunidenses que 
desconhecem, homogeneízam ou ignoram a realidade do sul geográfico. 
Espaços que tiveram nos últimos cinco séculos uma dinâmica muito particular 
em relação aos países de outros continentes, não podem ser vistos como 
complementos da história européia. Não podem ter suas realidades reduzidas 
a um punhado de definições, e a poucas imagens. 
Essas visões de mundo reducionistas reproduzidas no ensino devem ser 
vista como um problema da Geografia, pois homogeneízam uma série de 
grupos e práticas. Transforma espaços muito diferentes, em realidades 
similares. Edward Said traz uma importante contribuição nesse questionamento 
ao falar das geoculturas como forma de denominação que leva a 
homogeneização. Ele crítica os reducionismo e denominações unificadoras, 
como a existência de “uma” América, de “um” Ocidente, e no caso do seu 
estudo de “um” Oriente. A tendência de simplificar realidades através da 
invenção de identidades coletivas que representam indivíduos com práticas 
distintas deve ser combatida, através de informações mais precisas, a partir de 
falas localizadas, não restritas a uma única fonte. 
Em seu trabalho Said aprofunda um exemplo clássico dessa 
homogeneização, que tem espaço nos conteúdos ensinados pela Geografia. O 
autor constrói o conceito de Orientalismo, como a invenção do Oriente pelos 
europeus, um discurso que tem a força de criar “um outro” para a Europa. O 
oriente é o místico, o exotismo, o atraso, descrito em relatos e romances. 
Esses relatos e descrições ganham contornos de realidade, são explicados e 
ensinados, produzindo uma geografia imaginativa sobre o que é o Oriente. Este 
vira uma entidade geográfica, que evoca uma série de associações. O 
orientalismo é um sistema de conhecimento da Europa e posteriormente dos 
Estados Unidos, sobre o oriente. 
 
BOX VERBETE: Edward Saíd 
 Imagem retirada de 
https://en.wikipedia.org/wiki/Edward_Said 
Edward Waid Said foi um dos intelectuais 
palestinos mais importantes do século XX, tendo 
publicado diversos livros, dentre eles “O 
orientalismo”, um marco nos estudos pós-
coloniais. Nascido em 1935 em Jerusalém, foi 
para os Estados Unidos terminar seu estudos, onde fez doutorado em Harvey. 
Em 1978 publicou O orientalismo, com uma análise profunda do discurso 
ocidental sobre o Oriente. Mesmo após quase 40 anos de publicação, este livro 
continua sendo um dos marcos para o debate sobre o Oriente no período atual. 
 
Em nossa disciplina, algumas dessas leituras também são marcantes, 
afinal, você já parou para pensar quais são as informações que você possui 
sobre as trajetórias políticas e econômicas de outros continentes e dos países 
que os compõe? 
Sobre as diferentes regiões do globo, você seria, por exemplo, capaz de 
citar o papel de alguns países africanos na economia global?Ou abordar a 
relação deles com o Brasil? Qual foi a última notícia sobre estes países que 
você teve acesso? Ou ainda, seria capaz de responder questões mais gerais, 
por exemplo, “como ocorreu à descolonização no continente africano?” “Qual o 
papel do Pan-Africanismo nesse processo?” Poderíamos fazer as mesmas 
perguntas quando falamos de Ásia, da região do Oriente Médio, e até mesmo 
da América Latina, que raramente aparece no currículo praticado. 
Apesar de sabermos pouco sobre essas realidades, temos um conjunto 
de noções gerais sobre cada uma dessas regiões, constituídos por estigmas 
fáceis de associar. Palavras como pobreza, guerra, fome, colonização, 
escravidão, extremismo, subdesenvolvimento, terceiro mundo, dentre tantas 
outras, fazem parte da nossa gramática que define ou caracteriza 
determinadas regiões do mundo. 
Diante disso, a primeira postura que deve ser adotada é questionar as 
narrativas compostas por características gerais que naturalizam a desigualdade 
nas posições de poder no mundo. Não basta entender que há conflitos 
acontecendo, é preciso entender quais são, o que os motiva, qual o papel deles 
na rede de poder, o que influencia na dinâmica mundial. Evitar cair em 
discursos rasos e fáceis, como “o Islã é uma religião de extremistas” que pouco 
diz sobre os espaços estudados, e a relação deles com as redes mundiais de 
poder. Da mesma forma é preciso entender os processos históricos e 
geográficos que deram origem a estes problemas. 
Atividade 
1) Cite cinco países africanos e o papel de dois deles na economia global. 
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Resposta: O estudante pode citar diversos países africanos. Caso não os 
conheça, basta recorrer a um mapa para identificá-los. Entre os mais 
conhecidos, destacamos: África do Sul, Nigéria, Gana, Angola, Moçambique, 
Camarões, Costa do Marfim entre outros. 
Entre papeis exercidos por estes países temos: 
- A África do Sul possui um papel central na economia africana, somando 
quase 25% de toda renda do continente, e exportando diversas materiais 
primas e tendo um dos portos mais movimentados do mundo. Ademais tem 
participação direta nas relações globais, inclusive fazendo parte do BRICS, por 
sua influência no continente africano. 
- Apesar da crise a Nigéria é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, 
estando em 5º lugar entre os países membros da OPEP que mais produzem 
Petróleo, tendo alianças com países de todos os continentes. 
Comentários adicionais: 
Essa questão tinha como objetivofazer com que o estudante buscasse 
algumas referências sobre a África, partindo do princípio que somos pouco 
estimulados a conhecer a realidade dos países que constituem esse 
continente. 
 
2) Pesquisa notícias vinculadas ao Oriente Médio e comente os resultados 
relacionando-os ao debate sobre visões de mundo apresentado no conteúdo 
anterior. 
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Resposta: 
O estudante pode fazer pesquisas na internet vinculadas a sites jornalísticos, 
ou procurar imagens vinculadas ao Oriente Médio. É provável que a maior 
parte das notícias encontradas estejam associadas a guerras, mortes, conflitos 
e religiosidade, demonstrando a necessidade de intervenção externa de países 
europeus e do próprio Estados Unidos e a falta de controle dos próprios países. 
Ademais, em muitas situações, é possível perceber que o Oriente Médio é 
trabalho como um todo, homogeneizado, de pouca diversidade, ainda que seus 
povos se diferenciem consideravelmente. É importante entender como esse 
repertório de notícias acaba por influenciar nossa leitura sobre o continente, 
fazendo com que nossas associações imediatas estejam ligadas a aspectos 
negativos. 
Comentários adicionais: 
A intenção com essa pergunta é fazer com que o estudante perceba como as 
representações que construímos sobre determinados espaços, são 
influenciadas por notícias amplamente reproduzidas pela mídia, inclusive a 
jornalista. No caso do Oriente Médio há um padrão de notícias que muitas 
vezes associam Oriente Médio a um espaço de guerra e terrorismo, sem abrir 
margem a outras narrativas e outras interpretações sobre este espaço. 
 
3) Define o Orientalismo com suas palavras. 
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Na introdução do seu livro Said expõem diferentes significados sobre o 
Orientalismo. Segundo ele 
 
 - “... tiveram uma longa tradição do que vou chamar Orientalismo, um modo de 
abordar o Oriente que tem como fundamento o lugar especial do Oriente na 
experiência ocidental européia. O Oriente não é apenas adjacente á Europa; é 
também o lugar das maiores, mais ricas e mais antigas colônias europeias, a fonte de 
suas civilizações e línguas, seu rival cultural e uma de suas imagens mais profundas e 
mais recorrentes do Outro. Além disso, o Oriente ajudou a definir a Europa ( ou o 
Ocidente) com sua imagem, ideia, personalidade, experiência contrastantes. Mas nada 
nesse Oriente é meramente imaginativo. O Oriente é uma parte integrante da 
civilização e da cultura material européia. O Orientalismo expressa e representa essa 
parte em termos culturais e mesmo ideológicos, num modo de discurso baseado em 
instituições, vocabulário, erudição, imagens, doutrinas, burocracias e estilos coloniais.” 
(SAID, p. 27-28) 
 
2) “o Orientalismo é um estilo de pensamento baseado numa distinção ontológica e 
epistemológica feita entre o “Oriente” e (na maior parte do tempo) o “Ocidente”.” 
(SAÍD, pag. 29) 
3) “Neste ponto chego ao terceiro significado de Orientalismo, cuja definição é mais 
histórica e material que a dos outros dois. Tomando o final do século XVIII como ponto 
de partida aproximado, o Orientalismo pode ser discutido e analisado como a 
instituição autorizada a lidar com o Oriente – fazendo e corroborando afirmações a seu 
respeito, descrevendo-o, ensinando-o, colonizando-o, governando-o: em suma, o 
Orientalismo como um estilo ocidental para dominar, reestruturas e ter autoridade 
sobre o Oriente.” (SAÍD, pág. 29) 
 
O que SAÍD aponta é que o orientalismo é, sobretudo, uma maneira autorizada 
de falar sobre o Oriente, de vinculação diretamente eurocêntrica, e mais 
recentemente com um forte investimento de estudos estadunidenses. Estes 
apresentam valores generalizados, perpetuando estereótipos baseados em 
sistemas de representações. Estes sistemas demonstram como ao longo dos 
últimos séculos diversos grupos falaram sobre o Oriente e foram 
progressivamente construindo um conjunto de ideias sobre ele, se apoderando 
e o desfigurando, aplicando imaginários próprios para pensarem e 
descreverem esse espaço. Imaginários que partiram de interesses políticos e 
sociais que o Ocidente tinha com o Oriente desde o período do imperialismo. 
Dessa forma, o Orientalismo, para Saíd, é a maior narrativa da história, 
contando com investimento de estudos políticos, literários, econômicos, 
construídos por governos e intelectuais franceses e ingleses, e consolidados, 
cada vez mais, por autores norte-americanos. 
Comentários: 
Para um aprofundamento do tema, é sugerido que além da leitura do livro, os 
estudantes procurem resenhas e vídeos do próprio Edward Saíd sobre o tema. 
Entender o Orientalismo é também entender como as representações são 
construídas e podem permanecer por tanto tempo mesmo sem estarem 
apoiadas em bases científicas rigorosas. E, sobretudo, entender que os 
sistemas de representação são construídos a partir de interesses políticos e 
sociais, e não podem ser entendidos foram destes. 
A partir do poema responda as duas questões abaixo: 
O Fardo do Homem Branco 
Tomai o fardo do Homem Branco - 
Envia teus melhores filhos 
Vão, condenem seus filhos ao exílio 
Para servirem aos seus cativos; 
Para esperar, com arreios 
 Com agitadores e selváticos 
Seus cativos, servos obstinados, 
Metade demônio, metade criança. 
 
Tomai o fardo do Homem Branco - 
 Continua pacientemente 
Encubra-se o terror ameaçador 
 E veja o espetáculo do orgulho; 
Pela fala suave e simples 
 Explicando centenas de vezes 
Procura outro lucro 
 E outro ganho do trabalho. 
 
Tomai o fardo do Homem Branco - 
 As guerras selvagens pela paz - 
Encha a boca dos Famintos, 
 E proclama, das doenças, o cessar; 
E quando seu objetivo estiver perto 
 (O fim que todos procuram) 
Olha a indolência e loucura pagã 
 Levando sua esperança ao chão. 
 
Tomai o fardo do Homem Branco - 
 Sem a mão-de-ferro dos reis, 
Mas, sim, servir e limpar - 
 A história dos comuns. 
As portas que não deves entrar 
 As estradas que não deves passar 
Vá, construa-as com a sua vida 
 E marque-as com a sua morte. 
 
Tomai o fardo do homem branco - 
 E colha sua antiga recompensa - 
A culpa de que farias melhor 
O ódio daqueles que você guarda 
O grito dos reféns que você ouve 
 (Ah, devagar!) em direção à luz: 
"Porque nos trouxeste da servidão 
 Nossa amada noite no Egito?" 
 
Tomai o fardo do homem branco - 
Vós, não tenteis impedir - 
Não clamem alto pela Liberdade 
 Para esconderem sua fadiga 
Porque tudo que desejem ou 
sussurrem, 
 Porque serão levados ou farão, 
Os povos silenciosos e calados 
 Seu Deus e tu, medirão. 
 
Tomai o fardo do Homem Branco! 
 Acabaram-se seus dias de criança 
O louro suave e ofertado 
 O louvor fácil e glorioso 
Venha agora, procura sua virilidade 
Através de todos os anos ingratos, 
Frios, afiados com a sabedoria 
amada 
 O julgamento de sua nobreza. 
 Rudyard Kipling 
 
4) Quais são as representações associadas ao “outro” do homem branco 
expressas no texto? 
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Resposta: 
Entre os temos associados ao “outro” do homembranco, os estudantes podem 
citar: selvagens (termo citado mais de uma vez); primitivos (associados à ideia 
de crianças e infância, como atrasada) e demoníacos (pela falta de 
conhecimento, e religiosidade dita pagã); famintos, doentes, indolentes e ainda 
povos desprovidos de paz, com necessidades básicas de conhecimentos 
medicinais para resolução das doenças. 
 
5) Faça uma pesquisa sobre o poema, e diga em que contexto ele foi utilizado 
nos Estados Unidos. 
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O estudante pode identificar dois contextos relacionados ao uso do poema: 
- O contexto mais geral em que o poema foi escrito, em 1894 e publicado cinco 
anos depois era referente à corrida imperialista, posterior à conferência de 
Berlim e os avanços estadunidenses sobre a América. O fardo do homem 
branco, escrito pelo inglês Kipling, foi uma corroboração ao Imperialismo, 
trazendo todo um imaginário sobre os grupos a serem colonizados, e 
associando o imperialismo a missão civilizatória e o progresso. Dessa forma 
justificava-se a ocupação e anexação de outros territórios, que teriam, na 
verdade, um fundo missionário e de ajuda aos “povos selvagens”. 
- O poema foi utilizado durante processo imperialista americano, principalmente 
de anexação das Filipinas e outras áreas na região da América Central. 
Naquele momento, não era só o Império britânico que teria o “dever” de levar 
“povos atrasados” ao progresso, mas isso também seria feito em Washington. 
Assim, o “Fardo do homem branco” virou material de inspiração, justificação e 
legitimação do processo imperialista americano. 
Comentários adicionais 
É importante notar uma associação ao fardo do homem branco com o 
orientalismo. Na década passada os EUA invadiram o Iraque sem a anuência 
da ONU, usando como justificativa a necessidade de ajudar os iraquianos 
contra a um chefe de governo opressor, na defesa da democracia e na 
perseguição a supostas armas nucleares. Após passarem mais de uma década 
ocupando o Iraque, nenhuma arma foi encontrada, e depois da saída dos 
americanos do país, a crise continuou, deixando o Iraque com uma estrutura 
econômica e social abalada. 
Da mesma forma, há constantes ameaças para invasão de outras áreas, 
principalmente do Oriente Médio, sob a justificativa da defesa da democracia. 
Mas o que se vê, é que há um interesse econômico por trás dessas 
intervenções, que trazem pouco, ou até mesmo nenhum benefício para 
população. 
6) Explique com suas palavras o que é ideologia geográfica: 
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Resposta: 
O aluno deve apresentar elementos que estão presentes no texto e indiquem a 
criação de representações sobre dados espaços a partir de um discurso 
político. Abaixo segue o trecho deste material que explicita essa ideia. 
“Um conjunto de discursos dentro do pensamento geográfico, porém, em uma 
classe mais restrita de discursos que tem como principal ponto de distinção, 
serem interligados por interesses políticos, principalmente aqueles que 
criavam/difundiam – e ainda criam/difundem – uma visão de determinado 
território e/ou grupo. Essas representações são dotadas de relações de poder, 
construindo verdadeiros modos de pensar/imaginar determinada área ou 
sujeito. Fala-se da vinculação com o sentido político aqui de forma essencial, 
pois ele vai percorrer vários campos do conhecimento, estabelecer projetos e 
inclusive inculcar valores e subjetividades. São invenções permanentes de 
sentidos e intenções, são ideologias justificadas por representações 
geográficas e políticas territoriais do Estado.” 
 
3 – Eurocentrismo e o ensino de Geografia 
Na abordagem inicial, falamos um pouco da narrativa européia e sua 
reprodução na leitura da Geografia. Essa breve exposição traz exemplos sobre 
conteúdos, ao mostrar como a geografia que se ensina parte de uma base 
eurocêntrica. Mas por mais que já tenha sido exposto aqui os significados do 
eurocentrismo, como é possível defini-lo de forma mais objetiva, bem como as 
lógicas que ele opera? 
Podemos definir o eurocentrismo como uma visão de mundo que situa a 
Europa em seu centro, definindo a sua experiência, saberes, formas de 
conhecimento, e estruturas societais como corretas e ideais, transformando 
tudo que é diferente em inferior. O eurocentrismo enquanto projeto cognitivo 
atuou junto ao processo de expansão européia sobre o mundo, no período da 
colonização e imperialismo, transformando a perspectiva dos dominados sob 
seu poder. Dessa forma o eurocentrismo passou a ser não apenas a 
perspectiva dos europeus, mas também a perspectiva dos que foram educados 
sob sua hegemonia, como indica Anibal Quijano (2006). É preciso entender 
que o debate sobre o eurocentrismo não visa descaracterizar ou subalternizar o 
papel dos avanços científicos ocorridos na Europa, mas apenas refletir que 
grande parte dessas conquistas não foram autogeradas, mas construídas a 
partir de processos de acúmulo desiguais de poder, sendo os contextos 
favoráveis fruto dos processos de colonialismo e imperialismo. É preciso 
perceber que existem outras formas de conhecer o mundo, bem como outras 
óticas de abordagens construídas a partir de cada lugar. 
Mas retomando ao eurocentrismo, quais são as lógicas que aparecem nesse 
discurso? Como o eurocentrismo é construído no campo das ideias e das 
práticas? Podemos citar aqui alguns exemplos, como: transformação das 
diferenças em hierarquias sejam elas linguísticas, étnico-raciais, culturais, 
religiosas; a transformação de uma história regional em uma história universal, 
que coloca a narrativa dos europeus no centro do que é ensinado, e relega as 
outras a escalas locais; a criação de homogeneizações e reducionismos, que 
agrupam indivíduos diversos sob rótulos como “africanos”, “americanos”, 
“asiáticos”, sempre definidos em comparação ao “europeu”; projeção de um 
valor estético de beleza e ideário a ser seguido; a criação de binarismos e 
separação como razão – emoção, moderno-tradicional, civilizado-primitivo, 
misticismo-científico; a formação de uma linha que coloca experiências 
simultâneas em uma sequência linear da história, ou seja, cria estágios de 
desenvolvimento, que culminam na Europa, articulando diferenças culturais 
em hierarquias cronológicas segundo Edgardo Lander (2006). 
O cientista social peruano, Anibal Quijano indica que o Eurocentrismo se 
baseia em dois mitos fundadores principais. Nesse sentido cabe a leitura de um 
pequeno trecho do seu texto: 
Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. 
(...) 
“De acordo com essa perspectiva, a modernidade e a racionalidade foram 
imaginadas como experiência e produtos exclusivamente europeus. Desse 
ponto de vista, as relações intersubjetivas e culturais entre a Europa, ou, 
melhor dizendo, a Europa Ocidental, e o restante do mundo, foram codificadas 
num jogo inteiro de novas categorias: Oriente-Ocidente, primitivo-civilizado, 
mágico/mítico-científico, irracional-racional, tradicional-moderno. Em suma, 
Europa e não-Europa. Mesmo assim, a ˙única categoria com a devida honra de 
ser reconhecida como o Outro da Europa ou “Ocidente”, foi “Oriente”. Não os 
“Índios” da América, tampouco os “negros” da África. Estes eram simplesmente 
“primitivos”. Sob essa codificação das relações entre europeu/não europeu, 
raça é, sem dúvida, a categoria básica.Essa perspectiva binária, dualista, de 
conhecimento, peculiar ao eurocentrismo, impôs-se como mundialmente 
hegemônica no mesmo fluxo da expansão do domínio colonial da Europa sobre 
o mundo. Não seria possível explicar de outro modo, satisfatoriamente em todo 
caso, a elaboração do eurocentrismo como perspectiva hegemônica de 
conhecimento, da versão eurocêntrica da modernidade e seus dois principais 
mitos fundacionais: um, a ideia-imagem da história da civilização humana como 
uma trajetória que parte de um estado de natureza e culmina na Europa. E 
dois, outorgar sentido ás diferenças entre Europa e não-Europa como 
diferenças de natureza (racial) e não de história do poder. Ambos os mitos 
podem ser reconhecidos, inequivocamente, no fundamento do evolucionismo e 
do dualismo, dois dos elementos nucleares do eurocentrismo. (QUIJANO, 
2006, p. 111, grifos meus)”. 
 
A leitura do texto mostra como a criação de uma autoimagem e a naturalização 
das diferenças e hierarquias foram bases para a criação de uma perspectiva 
eurocêntrica. 
 
Livro: A colonialidade do saber Eurocentrismo e ciências sociais 
Para um aprofundamento sobre o debate 
vinculado ao Eurocentrismo indicamos a leitura 
do livro “A colonialidade do saber: 
eurocentrismo e ciências sociais Perspectivas 
latino-americanas”, organizado por Edgardo 
Lander, com textos de autores de várias partes 
da América Latina, e apresentação do Geógrafo 
Carlos Walter Porto-Gonçalves. Segue breve 
trecho da apresentação O livro é resultado de 
reflexões sobre como o eurocentrismo tem 
influenciado na interpretação de realidades 
latino-americanas, a partir de diferentes focos e 
campos disciplinares. É leitura fundamental para 
quem deseja entender melhor quais os 
discursos e conceitos que fundamental e legitimam uma narrativa eurocêntrica nas 
ciências sociais. 
 
Mas como essas perspectivas passam a constituir o ensino de Geografia? 
Primeiro cabe lembrar que a Geografia como ciência, nasce associada a 
aspectos imperialistas, representados em muitos casos pelas sociedades 
geográficas. Estas tiveram um importante papel no século XIX. Já o ensino de 
Geografia esteve muito associado à criação de uma identidade nacional, como 
trabalhou Yves Lacoste no livro “A geografia, isso serve em primeiro lugar para 
fazer a guerra.”. No Brasil, os conteúdos a serem ensinados foram muito 
baseados na geografia francesa, inseridas nos livros didáticos pelo francês 
Delgado de Carvalho. 
Ainda que estes conteúdos tenham mudado ao longo dos últimos 70 anos, 
muito da estrutura ainda permanece A narrativa linear descrita no tópico 
anterior ilustra bem isso. Apesar dos debates sobre “como ensinar”, sugerindo 
outros métodos e novas abordagens no ensino, a reflexão “o que ensinar” em 
algumas situações tem sido deixada em segundo plano. O resultado é que em 
muitas situações estes conteúdos são regulados pelo que está contido nos 
livros didáticos, que pouco mudam sua estrutura curricular de um para o outro, 
e são distribuídos em todo Brasil a partir do Programa Nacional de Livros 
Didáticos. Em uma rápida comparação entre livros, é possível notar que a 
sequência de conteúdos é muito próxima, e apesar de mudanças nos últimos 
anos, devido à inserção da lei 10.639 e da revisão sobre a imagem das 
mulheres nos livros. 
Assim o “marcos zeros”, ou seja, momentos em que os temas ou conteúdos 
são iniciados, quase sempre estão associados ao protagonismo europeu, e 
acabam reproduzindo reducionismos e estigmas sobre outras realidades. 
Assim pouco discutimos os marcos espaciais e formas de organização que não 
estejam relacionados aos Estados Unidos ou Europa. 
Como já foram indicadas anteriormente, essas noções motivam a construção 
dessa disciplina voltada para a compreensão das diferentes espacialidades 
expressas nas regiões localizadas no Sul geográfico, em uma abordagem que 
não se restrinja a estigmas, e apresente as interligações e transformações 
espaciais de realidades a partir de uma ótica diferente da eurocêntrica. 
Atividade 
7) Com suas palavras, e a partir do texto indicada, defina o Eurocentrismo, 
apresentando suas lógicas, e indique suas implicações para o ensino de 
Geografia 
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Sugestões de resposta: 
Nessa resposta o estudante tem que relacionar o eurocentrismo a: 
- Visão de mundo que institui a Europa como centro do mundo, definindo seus 
saberes, experiências, formas de conhecimento e estrutura social como 
correta; 
- Projeto epistêmico-político que se expandiu durante o processo de 
colonização; 
- Constituído por alguns sistemas como: transformação de diferença em 
hierarquia, transformação de uma história regional em uma história universal, 
apagando histórias locais de outros povos, criação de homogeneizações e 
reducionismos (tal qual o orientalismo), projeção de valores que associam 
branquitude a superioridade, formação de binarismos como primitivo-civilizado, 
moderno-tradicional e ainda a criação de uma linha do tempo, que coloca a 
Europa no topo do progresso social, político e econômico. 
- Entre as consequências para o ensino: marcos zeros associados na maioria 
dos casos a uma abordagem que sempre parte da Europa, como no processo 
de expansão das grandes navegações, revoluções industriais, entrada na 
África e na Ásia, entre outros; homogeneização das experiências africanas e 
Asiáticas, dando pouco espaço a estes debates, principalmente a temas que 
não estão associados a intervenções europeias; frágil debate construído sobre 
a América Latina vista quase sempre em associação ao seu processo de 
colonização ou ao imperialismo estadunidense. 
8) O cientista social peruano, Anibal Quijano indica que o Eurocentrismo se 
baseia em dois mitos fundadores principais. Apresente-os, explicando o papel 
de cada um deles. 
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Cabe ao estudante apresentar os dois aspectos presentes no quadro da página 
22: 
1) “a ideia-imagem da história da civilização humana como uma trajetória 
que parte de um estado de natureza e culmina na Europa”. Ou seja, a 
construção de uma teoria da civilização em que, quem estivesse fora 
dos moldes impostos viraria primitivo, e dessa forma não seria capaz de 
se autogovernar. Ademais, também transmite a concepção de que com 
a influência dos europeus os primitivos chegariam a um estado evoluído. 
Esse processo justifica a missão civilizatória. 
2) “E dois, outorgar sentido ás diferenças entre Europa e não-Europa como 
diferenças de natureza (racial) e não de história do poder.” Aqui é 
abordada a construção da diferença de base racial, em que a ideia de 
superior e inferior seria definida por uma teoria racial, e não de 
desigualdade de acesso a mecanismos de poder. 
Sobre a explicação temos que “ambos os mitos podem ser reconhecidos, 
inequivocamente, no fundamento do evolucionismo e do dualismo, dois dos 
elementos nucleares do eurocentrismo.” (QUIJANO, 2006, p. 111,). 
4) Conclusão 
Os conceitos apresentados durante esta aula podem ser utilizados para 
entender como o ensino de Geografia não deve ser visto como um conjunto de 
conteúdos neutros sobre o mundo. A ideia de Orientalismo e Eurocentrismo 
ajudam a entender como o ensino de Geografia deve ser visto como um 
repertóriode representações influenciado por leituras históricas e políticas, que 
mobilizam uma gama de imagens sobre os mais distintos espaços. 
Ter consciência desse processo é fundamental para pensar outras imagens e 
conteúdos sobre os diferentes espaços do mundo, combatendo estigmas fáceis 
de serem ensinados, quando abordamos realidades referentes aos países 
Africanos e Americanos. 
Atividade Final: 
A partir da leitura da aula, apresente no mínimo quatro regiões e/ou países que 
apresentam estereótipos e estigmas. Escolha um deles para pesquisar mais a 
fundo, buscando a origem desses estigmas. 
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Resposta comentada: 
O estudante deve ser capaz de identificar alguns países ou regiões em que há 
um conjunto de informações que estabelecem uma verdade única sobre essas 
realidades. Abaixo vamos indicar alguns desses espaços: 
-As regiões brasileiras que são vistas a partir de um imaginário que define 
características gerais para espaços tão distintos como: nordeste, região de 
seca e sofrimento; Amazônia região de lagos, povos ribeirinhos, sem 
urbanização, e muitas vezes dita como atrasada; região Sudeste, urbanizada e 
verticalizada, com altos índices de violência; Sul, avançado, população branca, 
composta por imigrantes. A região Centro-Oeste normalmente ocupa pouco 
espaço nos materiais didáticos, mas é interessante notar como ela aparece 
sempre como uma área de vazio demográfico. 
A origem desses estigmas está associado ao quadro histórico de cada região, 
bem como os diferentes investimentos feito no século XX, cabe ao estudante 
buscar informações a fundo sobre cada uma delas. Ao longo do texto é citado o 
livro “A invenção do Nordeste”, que dá pistas sobre essa região. Ademais 
podemos procurar o livro “Amazônia, Amazônias” de autoria do professor 
Carlos Walter Porto-Gonçalves, que aborda os estigmas e homogeneizações 
feitas sobre essa região. 
5) Resumo 
Esta aula tinha como objetivo apresentar ao estudante uma série de 
informações fundamentais para a compreensão do que envolve o ensino de 
Geografia quando abordamos o debate contemporâneo representando 
diferentes países. 
No primeiro tópico discutimos algumas ideias associadas à construção de 
visões de mundo, e como os conteúdos da Geografia fazem parte de um 
repertório de representações sobre o espaço, ensinadas e legitimadas dentro 
da sala de aula. Para isso entramos no conceito de ideologias geográficas, 
mostrando como algumas dessas representações são influenciadas por 
discursos políticos que tiveram usos históricos, e fazem parte de um conjunto 
de notícias, imagens e escritos sobre os espaços. 
No segundo tópico, apresentamos um debate associado a que repertório de 
representações aparece no ensino de Geografia. Para tal, recuperamos alguns 
conteúdos ensinados quando falamos de mundo na Geografia, indicando como 
muitos desses conteúdos apresentam estigmatizações, ou partem de uma ideia 
já pronta sobre o outro. 
Para compreender um pouco melhor a origem dessas representações, o 
terceiro tópico problematizou a ideia de eurocentrismo, apresentando algumas 
definições, e lógicas de funcionamento dessa matriz de pensamento, trazendo 
relações com os tópicos anteriores. 
As atividades e exercícios podem ajudar vocês a exercitarem os conteúdos 
aprendidos, trazendo reflexões que vão estar presentes durante toda a etapa 
de andamento do curso. 
 
Ao longo dessa aula alguns textos foram citados, e são fundamentais 
para os estudos. Abaixo seguem os links com as indicações de leituras. 
SANTOS, Boaventura de Sousa, "Para além do Pensamento Abissal: Das linhas 
globais a uma ecologia de saberes", Revista Crítica de Ciências Sociais, 2007 
Disponível em: 
http://www.ces.uc.pt/myces/UserFiles/livros/147_Para%20alem%20do%20pensamento
%20abissal_RCCS78.pdf 
 
 
LANDER, Edgardo. Ciências sociais: saberes coloniais e eurocêntricos. IN:___A 
colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais perspectivas latino-
americanas. Buenos Aires-Clascso, 2005; 
 
MIGNOLO, Walter D. A colonialidade de cabo a rabo: o hemisfério ocidental no 
horizonte conceitual da modernidade IN: LANDER, Edgardo. A colonialidade do saber: 
eurocentrismo e ciências sociais perspectivas latino-americanas. Buenos Aires-
Clascso, 2005; - 
 
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. “Apresentação”. In: Lander, Edgardo (Org.) A 
Colonialidade do saber: Eurocentrismo e Ciências sociais – Perspectivas latino-
americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. 
 
QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. IN 
IN:LANDER, Edgardo. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais 
perspectivas latino-americanas. Buenos Aires-Clascso, 2005; 
 
Os quatro textos estão disponíveis em: 
http://biblioteca.clacso.edu.ar/ar/libros/lander/pt/lander.html 
 
Sugestões de vídeos 
Apresentação de Boaventura dos Santos sobre as epistemologias do sul 
https://www.youtube.com/watch?v=q75xWUBI8aY 
Vídeo sobre o Orientalismo com falas de Edward Said 
https://www.youtube.com/watch?v=W5R2uOoj9K8 
 
Bibliografia 
LACOSTE, Yves. A geografia isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 
Papirus, 2007 
 
LANDER, Edgardo. Ciências sociais: saberes coloniais e eurocêntricos. IN:___A 
colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais perspectivas latino-
americanas. Buenos Aires-Clascso, 2005; 
 
MIGNOLO, Walter D. A colonialidade de cabo a rabo: o hemisfério ocidental no 
horizonte conceitual da modernidade IN: LANDER, Edgardo. A colonialidade do saber: 
eurocentrismo e ciências sociais perspectivas latino-americanas. Buenos Aires-
Clascso, 2005; - 
 
MORAES, Antonio Carlos Robert. Ideologias geográficas: espaço, cultura e política 
no Brasil . Editora Hucitec, São Paulo, 1991 
___ Território e história no Brasil São Paulo, Annablume, 2008. 
 
 
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. “Apresentação”. In: Lander, Edgardo (Org.) A 
Colonialidade do saber: Eurocentrismo e Ciências sociais – Perspectivas latino-
americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. 
 
QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. IN 
LANDER, Edgardo. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais 
perspectivas latino-americanas. Buenos Aires-Clascso, 2005; 
 
SAID, Edward. Orientalismo: o oriente como invenção do Ocidente – São Paulo: 
Companhia das Letras, 2007. 
 
SANTOS, Boaventura de Souza. O fim das descobertas imperiais. In OLIVEIRA, I. B.; 
SGARBI, P. (Orgs.) Redes culturais: diversidade e educação. Rio de Janeiro: DP&A, 
2002.

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