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Infecções fúngicas do trato respiratório INTRODUÇÃO: Não acomete facilmente a população saudável, porém em imunocomprometidos a incidência vem aumentando ao longo do tempo. As micoses podem ser causadas por agentes de micoses endêmicas ou oportunistas. Quando endêmicas apresentam distribuição geográfica restrita à área do agente etiológico e pode acometer hospedeiros imunocompetentes. Já os agentes de micoses oportunísticas apresentam distribuição geográfica universal e acometem na maioria das vezes paciente com comprometimento da imunidade (doenças infecciosas, degenerativas ou neoplásicas). A paracoccidioidomicose não é uma doença de notificação compulsório, por isso, fica mais difícil avaliar sua prevalência ou incidência. A coccidioidomicose é de ocorrência esporádica no Brasil, em particular no Nordeste, sendo que a maioria dos pacientes são caçadores de tatu. [não há relatos de pacientes com manifestações extrapulmonares de coccidioidomicose no Brasil]. Micoses oportunísticas que tem potencial de afetar o pulmão e que merecem destaque no Brasil é a criptococose, aspergilose e a zigomicose. A criptococose é uma micose invasiva de grande ocorrência no Brasil. [lembrar dos pacientes submetidos a transplante renal, indivíduos com doenças do colágeno e necessidade de uso de corticosteroides, assim como de indivíduos imunocompetentes infectados por C. gattii. Aspergilose pulmonar invasiva é uma complicação frequente em pacientes hematológicos, em particular nos portadores de leucemias agudas e nos transplantados de células-tronco hematopoética. MICOSES PULMONARES ENDÊMICAS: Paracoccidioidomicose A PCM é uma doença granulomatosa sistêmica, de caráter crônico ou subagudo, causada por fungos dimórficos Paracoccidioides brasiliensis e Paracoccidioides lutzii. As principais manifestações são decorrentes do envolvimento pulmonar, tegumentar e de órgãos do sistema reticuloendotelial. O hábitat é exógeno ao homem. Acredita-se que a infecção ocorra ao longo das primeiras décadas de vida, mas a maioria dos pacientes que evoluem com PCM tem entre 30 e 50 anos de idade. Acomete mais homens. Os pacientes normalmente apresentam antecedentes de habitação em zona rural e/ou atividades agrícolas em algum período de suas vidas. Não é uma micose oportunista pois acomete indivíduos previamente hígidos e se manifesta como uma doença sistêmica e grave. É subdividida em duas formas de acometimento bem diferentes que são: • Forma aguda ou juvenil = responsável por 10% dos casos da doença, afetando indivíduos de 0 a 14 anos de idade. Apresenta uma evolução rápida e envolvimento disseminado de órgãos do sistema linfoide. Presença de linfadenomegalia, manifestações digestivas, hepatoesplenomegalia, envolvimento osteoarticular e lesões cutâneas como as principais formas de apresentação na criança. Envolvimento pulmonar é raro. • Forma crônica ou do adulto = ocorre em mais de 90% dos pacientes e principalmente entre os 30 e 60 anos, predominante no sexo masculino. As manifestações pulmonares aqui acontecem em 90% dos casos. É chamada de unifocal quando acomete apenas um órgão. Os pulmões podem ser o único órgão afetado. Geralmente, a doença envolve mais de um órgão simultaneamente (apresentação multifocal), sendo pulmões, mucosa do trato gastrointestinal e pele os sítios mais frequentes. Paracoccidioidomicose pulmonar: o envolvimento pulmonar é a regra na forma crônica da doença e sinais, sintomas e alterações radiológicas podem estar presentes em até 90% dos casos. Os sintomas pulmonares são pouco específicos e incluem tosse, expectoração e dispneia. Os pacientes se queixam de meses de evolução, com dispneia de lenta progressão. A maioria dos pacientes com PCM são tabagistas e isso acaba por retardar o diagnóstico precoce. Os achados radiológicos incluem lesões nodulares, reticulares, infiltrados tipo pneumônico, fibrose e até mesmo cavitações. O achado mais característico é a presença de infiltrados reticulonodulares bilaterais, eventualmente peri-hilares e simétricos, que geralmente poupam ápices e bases. Lesões cavitarias ocorrem em campos médicos dos pulmões e são irregulares, pequenas e podem ser isoladas ou agrupadas. IMPORTANTE: excluir diagnóstico de TB. Com o decorrer do tratamento, as lesões pulmonares tornam-se fibróticas, com áreas de hiperinsuflação pulmonar. Sequelas pulmonares: são comuns em decorrência da própria história natural da doença, assim como pela sua frequente associação com tabagismo e tuberculose. O processo infeccioso resolve-se com fibrose e que na maioria dos casos o paciente apresenta um padrão obstrutivo, que depois modifica para o padrão misto. Hipoxemia e alteração de diferença alveoloarterial estão presentes na maioria dos pacientes em fase mais avançada da doença. Diagnóstico laboratorial: identificar o fungo em pesquisa direta do agente em material biológico, cultura ou exame anatomopatológico. Pode ser identificado em raspado de lesões de pele/mucosas, escarro, lavado broncoalveolar e material purulento de linfonodos. A cultura geralmente é negativa e o exame microscópico direto permite a visualização das formas leveduriformes com múltiplos brotamentos. Exames histopatológicos revelam processo granulomatoso com infiltrado de polimorfonucleares, mononucleares, macrófagos e celular multinucleadas gigantes. Pode ser feita também a pesquisa do agente em cultivo ou material biológico por PCR e dosagem de antígenos específicos do agente em diferentes fluidos biológicos como sangue, lavado broncoalveolar e líquido cefalorraquidiano, por técnica de Elisa. Tratamento: regime terapêutico prolongado para não haver reativação da doença; suspensão precoce (<6 meses) das drogas antifúngicas acarreta altos índices de reativação da doença, contribuindo para o agravamento das sequelas. Anfotericina B = reservada para casos de pacientes com insuficiência respiratória ou doença disseminada com instabilidade clínica significativa. Pacientes com formas leves ou moderadas devem usar a terapia oral. Critérios de cura: acompanhamento periódico e longo dos pacientes em regime ambulatorial. • Critério clínico = desaparecimento de sinais e sintomas da doença; cicatrização das lesões tegumentares; involução das linfadenopatias e recuperação do peso corpora. • Critério micológico = negativação do exame micológico direto e/ou histopatológico em amostras de materiais diversos, colhidas sucessivamente durante o acompanhamento. • Critério radiológico = estabilização do padrão das imagens cicatriciais radiológicas pulmonares em dois telerradiogramas registradas com intervalo de 3 meses. • Critério imunológico = negativação dos títulos de imunodifusão dupla ou estabilização do título em valores baixos, inferiores ou iguais a 1:2 observadas em duas amostras de soro coletadas com intervalo de 3 meses. Histoplasmose É causada pelo Histoplasma capsulatum, fungo dimórfico; possui distribuição geográfica ampla. Esse fungo pode ser encontrado no ar atmosférico de cavernas, solo de galinheiros e solo enriquecido com fezes dessecadas de outros animais. [sempre que o paciente vier de excursões em cavernas, trabalhos em minas ou túneis, reformas de construções antigas, limpeza de porões ou galinheiro deve-se desconfiar e acender o alerta para Histoplasmose]. A porta de entrada provavelmente seja por via respiratória (são inaladas e alcançam os alvéolos pulmonares iniciando a infecção primária). Antes do corpo desenvolver resposta imune, o fungo já afetou o parênquima pulmonar e disseminou-se por via linfática e hematogênica, infectando novos órgãos. O acometimento pode acontecer em pulmões, fígado, baço e medulaóssea. Também pode afetar mucosa oral, intestino, SNC e suprarrenal. A grande maioria dos casos de infecção primária ou reinfecção é oligo ou assintomática (menos de 5% apresentam sintomas que na maioria das vezes são leves e autolimitados). Hospedeiros debilitados podem evoluir com dois tipos de manifestações incomuns: Histoplasmose pulmonar crônica (distúrbios anatômicos de vias respiratórias) e Histoplasmose disseminada (depressão patológica da imunidade celular). A histoplasmose primária apresenta como manifestação clínica uma sintomatologia muito semelhante a um quadro de influenza, eventualmente com gânglios cervicais e axilares. 10% podem ter pericardite, manifestações articulares agudas, eritema nodoso ou outros tipos de rash (isso acontece pela deposição de complexo antígeno- anticorpo). Na maioria dos casos, há resolução dos sintomas em poucos dias mesmo na ausência de terapêutica específica. A histoplasmose disseminada ocorre quando há envolvimento de um ou mais focos extrapulmonares pelo fungo, geralmente ocorre como complicação da infecção primária ou reinfecção (imunodeprimidos -> reativação do foco quiescente -> disseminação tardia). A disseminação pode ser aguda, subaguda ou crônica, na dependência do tempo de instalação da doença e da gravidade dos sinais e sintomas. A histoplasmose pulmonar crônica é muito semelhante a TB. Costuma infectar pacientes com enfisema pulmonar. É de evolução insidiosa com febre, emagrecimento e sintomas respiratórios (radiografia apresenta áreas de fibrose excessiva e cavitações). Pacientes com esse tipo de histoplasmose não apresentam comprometimento de outros órgãos. Diagnóstico = avaliação laboratorial para identificar o agente e avaliar extensão dos órgãos acometidos. Radiografia de tórax é indicada para caracterizar o envolvimento pulmonar. Na histoplasmose disseminada, realize-se hemograma e mielograma, teste de reserva de função córtico-adrenal e a depender da extensão de acometimento e sintomatologia está indicado LCR ou TC de crânio e avaliação radiológica ou endoscópica do TGI. Como pode ocorrer endocardite, deve-se fazer ecocardiografia. É necessário identificar o fungo em fluido biológico ou material de biópsia. Quando na forma disseminada, pode-se fazer cultura de punção de medula óssea ou gânglios. Na forma pulmonar crônica, a cultura de escarro é positiva na metade dos casos. Já na forma aguda, o diagnóstico geralmente é feito pelos dados clínicos e epidemiológicos, radiografia de tórax e títulos de anticorpos específicos (1/32 ou aumento de 4x nos níveis basais). Tratamento = as melhores opções incluem anfotericina B (reservada para hospitalização com comprometimento grave do estado clínico ou gestantes) e itraconazol. O tratamento da forma pulmonar aguda normalmente não é feito por ser autolimitado, embora haja indicação em pacientes com doença pulmonar bilateral e comprometimento de função respiratória, além de pacientes com doença pulmonar localizada, mas que permanecem sintomáticos após 3 a 4 semanas. Anfotericina B convencional (0,7 a 1mg/kg/dia) ou lipossomal (3 a 5mg/kg/dia), junto com metilprednisolona (0,5 a 1mg/kg/dia) por 2 semanas. Após melhora clínica, o paciente pode completar o tratamento com itraconazol de 200 a 400 mg/dia por 12 semanas. Pacientes menos graves do quadro pulmonar podem ser tratados desde o início com itraconazol na mesma dose, porém também associando o uso de corticosteroides para evitar piora da função respiratória após tratamento com antifúngico. Tratamento da forma pulmonar crônica = normalmente acontece muitas recidivas após tratamento do quadro. Para evitar isso, costuma-se fazer ciclos mais prolongados de tratamento. O tratamento é o mesmo da forma aguda e nas mesmas doses, porém por um período de 12 a 24 meses. MICOSES PULMONARES OPORTUNISTAS: Criptococose A criptococose é uma doença causada por leveduras encapsuladas de Criptococcus neoformans e Criptococcus gattii, com distribuição geográfica mundial. Não é uma doença de notificação compulsória. O C. neoformans pode ser isolado em poeiras domésticas até ocos de árvores, hábitat de aves e locais cheios de fezes de pombos e outras aves. Infecta predominantemente imunocomprometidos (aids, linfomas, transplantados e pacientes que usam corticosteroides > 20mg/dia). O C. gattii é mais encontrado no Nordeste e é mais documentado em hospedeiros imunocompetentes. O fungo penetra por via inalatória e dissemina por via hematogênica, chegando frequentemente no SNC (principal manifestação clínica da doença). Acomete também outros órgãos como pulmões, pele, próstata, ossos, globo ocular e adrenal. Quadro clínico: a manifestação clínica mais característica é a de meningite ou meningoencefalite subaguda ou crônica, fazendo diagnóstico diferencial com meningoencefalite tuberculosa. O envolvimento pulmonar geralmente é oligossintomático (tosse com pouca expectoração e dor do tipo pleural se tiver envolvimento de serosas). Em pacientes imunocompetentes, os casos podem ser percebidos somente após investigação laboratorial, achados radiológicos de TC. A radiografia pode demonstrar nódulos pulmonares, infiltrados intersticial e alveolar, localizados ou difusos e raramente cavitações. Linfadenomegalia hilar é rara e pode haver derrame pleural. Diagnóstico = avaliação laboratorial para identificar os órgãos acometidos. Exames de imagem na procura de lesões pulmonares ou complicações de meningoencefalite. Pode ser usado o teste da tinta da China, cultura em ágar Sabouraud, teste de aglutinação do látex e/ou exame histopatológico. Também pode-se tentar identificar as leveduras no tecido usando corantes. Tratamento = uso isolado de anfotericina B (0,7 a 1 mg/kg/dia), associação de anfotericina B e 5-fluorocitosina (100 mg/ kg fracionada em quatro doses/dia) ou associação de anfotericina B e fluconazol, uso isolado de fluconazol ou itraconazol. Há evidências de que formulações lipídicas de anfotericina B, em especial a formulação lipossomal (3 a 4 mg/kg/dia), levam à esterilização mais precoce da cultura de LCR e têm menos efeitos adversos. Recomendações para tratamento das formas pulmonares: depende das condições de imunidade do paciente, da presença ou não de manifestações clínica da doença e do grau de envolvimento de outros órgãos. Hospedeiro imunocompetente sem sintomas e sinais extrapulmonares = acompanhamento clínico. Em imunodeprimidos com manifestações extrapulmonares ou com doença pulmonar sintomática ou progressiva é necessário usar antifúngico. Se somente doença pulmonar sem comprometimento da função respiratória = primeira opção fluconazol 400mg/dia por 6 a 12 meses. Se intolerante ou refratário, usar itraconazol ou anfotericina B. A terapêutica deve ser mantida até resolução clínica e radiológica do quadro. Em caso de resposta ruim ao esquema com azólicos, a anfotericina B isoladamente ou em associação com a 5-fluorocitosina deve ser considerada. Nessa situação clínica, preconiza-se a utilização de doses de 0,7 a 1 mg/kg/dia de anfotericina B deoxicolato ou 3 a 5 mg/kg/dia das formulações lipídicas de anfotericina B. Nas formas disseminadas, indica-se iniciar a administração de anfotericina B isoladamente ou associada a 5-fluorcitosina, seguido de consolidação com fluconazol. Aspergilose É um termo utilizado para designar um grupo amplo de doenças causadas por espécies de Aspergillus, incluindo formas de apresentação superficial (p.ex., ceratites), colonizações cavitárias (p.ex., bola fúngica), infecções invasivas (p.ex., pneumonia) e formas alérgicas. Esses fungos são encontrados no ar, no solo, em plantas, na água, em superfícies inanimadas e em alimentos.As espécies com maior relevância clínica são: A. fumigatus, que corresponde à grande maioria dos isolados clínicos; A. flavus; A. terreus e, mais raramente, há casos relatados de infecção causada por A. niger e A. nidulans. A porta de entrada é a via respiratória por inalação de propágulos infectantes. Após a inalação, ocorre colonização de vias aéreas superiores do hospedeiro, então, esses propágulos progridem para a via área inferior, instalando-se nos alvéolos. Uma vez nos alvéolos, os mecanismos de defesa locais (macrófagos alveolares) são capazes de remover os conídios eficientemente. Dependendo do estado imunológico do hospedeiro e dos fatores de virulência do fungo, ele pode desencadear foco infeccioso pulmonar. Os fungos podem invadir vasos sanguíneos, provocando trombose com áreas extensas de infarto e necrose de tecidos (fazem isso pela produção de proteases e elastases). População de risco = neutropenia prolongada (> 3 semanas), corticoterapia (prolongada e em altas doses), TCTH, transplante de órgão sólido (de pulmão), doenças hematológicas (leucemia), quimioterapia e síndrome da imunodeficiência adquirida (contagem de CD4+ < 100 células). Aspergilose pulmonar = em imunocompetentes há duas apresentações de destaque: aspergilose crônica cavitaria/bola fúngica pulmonar e aspergilose broncopulmonar alérgica. A bola fúngica ou aspergiloma é a forma mais frequente de acometimento pulmonar; é uma massa de micélios, células inflamatórias, fibrina, muco e tecidos necróticos que se desenvolvem em uma cavidade pré-existente. Não é apenas o Aspergillus que pode levar à formação de bola fúngica, porém ele é o agente mais comum. O fator predisponente mais frequente é a presença de cavitação pulmonar secundária a tuberculose, sarcoidose, bronquiectasias, bolhas e cistos brônquicos, neoplasias ou infartos pulmonares decorrentes da drenagem inadequada, que facilita o crescimento do Aspergillus. De modo geral, os casos são assintomáticos, mas pode ter tosse e sangramento, sendo possível ocorrer óbito por hemoptises maciças. Em função da doença pulmonar preexistente, é comum a ocorrência de dispneia e, mais raramente, de fístula broncopleural. A infecção geralmente permanece restrita à cavidade, mas, em pacientes com algum grau de imunodepressão, pode evoluir para casos de aspergilose necrotizante de evolução crônica. A aspergilose broncopulmonar alérgica (ABPA) é uma reação de hipersensibilidade à espécie de Aspergillus, geralmente fumigatus, que ocorre quase exclusivamente em pacientes com asma ou com fibrose cística. A resposta imune é responsável por desencadear obstrução das vias áreas e se não for tratado evolui para bronquiectasia e fibrose pulmonar. Os sinais e sintomas são os da asma, associados à tosse produtiva e febre e anorexia. O diagnóstico é pautado na história e nos métodos de imagem, confirmando por testes dérmicos para a espécie e avaliação dos níveis de IgE e anticorpos específicos para A. fumigatus. O tratamento é com corticoide e para paciente refratário, itraconazol. Diagnóstico = pesquisa direta, cultura e exame anatomopatológico. Pode-se proceder com biópsia de tecido para definir corretamente o diagnóstico. Pesquisa do antígeno galactomanana por Elisa. Aspergilose em imunocompetentes = o diagnóstico é baseado em resultados aparentes da massa fúngica em exames de radiografia, complementados pelo isolamento de Aspergillus em cultura de escarro e/ou presença de anticorpos específicos. Aspergilose crônica cavitária, com o envolvimento progressivo de parênquima pulmonar, leva a formação de áreas de fibrose e cavitação, a exemplo da tuberculose, sendo que 90% dos pacientes apresentam dosagem de anticorpos anti-Aspergillus positiva. Em relação ao diagnóstico de ABPA, geralmente se baseia na presença de asma, reação cutânea imediata ao Aspergillus, precipitinas séricas do A. fumigatus, aumento de IgE e IgG para A. fumigatus, IgE sérica maior que 1.000 ng/mL, infiltrado pulmonar novo ou prévio, bronquiectasia central e eosinofilia periférica (1.000 células/mL). Aspergilose em imunodeprimido = nas populações de risco, deve-se investigar nódulos ou cavitações. Idealmente, o diagnóstico é pautado na cultura e exame anatomopatológico de fragmento pulmonar obtido por broncoscopia ou biópsia a céu aberto (se o paciente não tiver condição clínica infelizmente não faz por ser invasivo). Cultura positiva para Aspergillus em secreção de trato respiratório baixo de pacientes neutropênicos é muito indicativo de aspergilose. Pacientes com nódulo pulmonar com sinal do halo e/ou sinal de crescente de ar são sugestivos da micose. Tratamento = anfotericina B, itraconazol, voriconazol (IV e oral) e equinocandinas. O vorizonazol hoje é a melhor droga para tratar paciente hematológico com aspergilose invasiva e a anfotericina B fica como alternativa. Itraconazol 400 mg/dia também é utilizado como opção terapêutica para pacientes com aspergilose crônica cavitaria. As equinocandinas são uma nova classe de antifúngicos (inibidores da síntese de beta 1,3 glucana – componente da parede celular de fungos Candida e Aspergillus. A caspofungina é a única atualmente liberada para pacientes com aspergilose invasiva refratária ou intolerante a esquemas convencionais de tratamento (70 mg/dia). Nos pacientes portadores de aspergiloma, deve-se considerar retirar cirurgicamente o foco infeccioso mediante presença de sangramento. Aplica-se inicialmente corticosteroides para induzir a supressão da resposta inflamatória das vias respiratórias, sendo o antifúngico utilizado como coadjuvante (por 3 a 6 meses de tratamento). Mucormicose (zigomicose) É uma doença fúngica potencialmente fatal, causada por fungos Zygomycetes Mucorales. Apresentam distribuição geográfica universal com ampla presença na natureza e tendo como porta de entrada a via respiratória ou trauma e implantação em tecido subcutâneo. Esse fungo tem tropismo por células vasculares, por isso, após infectar o tecido do hospedeiro, ele vai causando áreas de infarto com intensa e rápida destruição de tecidos. É uma micose comum basicamente em pacientes com diabetes, insuficiência renal, doenças hematológicas malignas e nos transplantados em uso de imunossupressores. Mucormicose pulmonar = a infecção se dá pela inalação dos esporos do ambiente. As casuísticas apontam a forma rino- orbitocerebral como forma de apresentação mais comum (até 50%), seguida pela forma cutânea (aproximadamente 15%), pulmonar (10%), disseminada (até 12%) e gastrointestinal (12%). Em pacientes com neoplasias hematológicas, as formas pulmonar e disseminada são as mais comuns. Já em pacientes diabéticos, usualmente, observa-se a forma rino- orbitocerebral, sendo mais rara a apresentação pulmonar. O pulmão é o segundo sítio de localização mais comum nas infecções, sendo mais comuns em pacientes profundamente neutropênicos (leucemias ou transplantados de medula óssea) e em pacientes com uso prolongado de corticosteroides. Existe um predomínio em homens. No pulmão pode-se encontrar nódulos solitários, consolidação segmentar ou lobar, lesões cavitarias e lesões broncopneumônicas. Os pacientes podem ter tosse, febre, hemoptise ou dor torácica. Em pacientes neutropênicos, a doença lembra a aspergilose e pode apresentar febre persistente e infiltrados pulmonares refratários ao tratamento com ATB. A taxa de mortalidade alcança os 100%. O envolvimento pulmonar pode manifestar-se por comprometimento de mucosa endobrônquica. Na maioria das séries de mucormicose endobrônquica, diabete melito responde por 70% das doenças de base. Os sinais de envolvimento endobrônquico incluem rouquidão, hemoptise, atelectasia lobare pneumonia pós-obstrutiva. Essas lesões podem invadir vasos sanguíneos pulmonares, levando à morte por hemoptise massiva. Diagnóstico laboratorial = exames de imagem devem ser solicitados para avaliar o envolvimento pulmonar. É fundamental obter o material biológico para identificar elementos fúngicos no tecido ou no fluido biológico estéril do paciente suspeito. Em alguns casos, a confirmação só se dá por biopsia ou exame direto de material biológico. A visualização dos fungos pode ser obtida na coloração pela hematoxilina-eosina, mas dá- se preferência ao uso de ácido periódico de Schiff (PAS) e prata metanamina (Gomori- Grocott). Tratamento = intervenção cirúrgica para remoção mecânica do foco infeccioso, terapia antifúngica específica e tratamento médico para correção da condução subjacente que predispõe o paciente à doença. O tratamento cirúrgico requer ressecção completa do tecido necrosado, debridamento extenso e drenagem adequada dos pulmões infectados. Em pacientes com diabetes, é importante controlar a acidose e a hiperglicemia, pois ambas as condições dificultam a resposta do hospedeiro à infecção e facilitam o crescimento do fungo nos tecidos infectados. Em pacientes em uso de corticosteroides, vale a pena reduzir a dose ou suspendê-lo. Nos pacientes com neoplasias hematológicas, o controle da doença de base e a recuperação da neutropenia são metas fundamentais para o sucesso terapêutico. A anfotericina B parece ser o único antifúngico que tem atividade significativa contra Mucorales (são resistentes aos demais antifúngicos). A dose de anfotericina B é alta (1 a 1,5mg/kg/dia) e existe a toxicidade renal, busca-se formular anfotericina B lipossomal em doses de 5 a 8 mg/kg.
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