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Guilherme Rios – Módulo III – p5 HISTOPLASMOSE 1. CITAR AS PRINCIPAIS HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS PARA O CASO: → Tuberculose: ○ A clínica e o aspecto radiográfico são sugestivos de tuberculose pulmonar, que é o principal diagnóstico diferencial e pode estar associada com histoplasmose. → Outras causas de pneumonia atípica também entram como diagnóstico diferencial. → Blastomicose pulmonar aguda é a mais complicada de diferenciar da histoplasmose por conta das áreas endêmicas serem semelhantes. → Tumores no pulmão (devido ao histoplasmoma). → Sarcoidose. → CAUSAS INFECCIOSAS DE LESÕES PULMONARES CAVITÁRIAS: ○ ORGANISMOS AERÓBIOS: Burkholderia pseudomallei, Klebsiella pneumonia, Nocardia, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus, Streptococcus milleri entre outros estreptococos. ○ ORGANISMOS ANAERÓBIOS: Actinomyces, Bacteroides, Clostridium, Fusobacterium, Peptostreptococcus e Prevotella. ○ FUNGOS: Aspergillus (aspergilose), Blastomyces dermatitidis (blastomicose), Coccidioides immitis (coccidioidomicose), Cryptococcus neoformans (criptococose), Pneumocystis jirovecii (pneumonia por P. jirovecii ), Rhizomucor (mucormicose), Rhizopus (mucormicose), Sporothrix schenckii (esporotricose). ○ MICOBACTÉRIAS: Mycobacterium avium-cellulare, Mycobacterium kansasii e Mycobacterium tuberculosis (tuberculose). OBJETIVOS: 1. Citar as principais hipóteses diagnósticas para o caso. 2. Descrever a etiologia e os principais aspectos epidemiológicos da histoplasmose. 3. Definir a fisiopatologia da histoplasmose. 4. Descrever as principais apresentações clínicas da doença, em especial a histoplasmose pulmonar. 5. Discutir o diagnóstico e os tratamentos da histoplasmose. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/fungos/aspergilose https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/fungos/blastomicose https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/fungos/coccidioidomicose https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/fungos/criptococose https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/pneumonia/pneumonia-por-pneumocystis-jirovecii https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/pneumonia/pneumonia-por-pneumocystis-jirovecii https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/fungos/mucormicose https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/fungos/mucormicose https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/fungos/esporotricose https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/micobact%C3%A9rias/tuberculose-tb Guilherme Rios – Módulo III – p5 ○ PARASITOS: Entamoeba histolytica (amebiase), Echinococcus granulosus (equinococose), Echinococcus multilocularis (equinococose) e Paragonimus westermani (paragonimiase). 2. DESCREVER A ETIOLOGIA E OS PRINCIPAIS ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA HISTOPLASMOSE: DEFINIÇÃO: → A histoplasmose é uma doença endêmica ou oportunista causada pelo fungo Histoplasma capsulatum. → É uma micose sistêmica. ETIOLOGIA: → Fungo Histoplasma capsulatum. → As variedades desse agente são responsáveis por três tipos de doenças, sendo que duas delas acometem a espécie humana. ○ Histoplasmose clássica: • Mais prevalente. • Causa lesão pulmonar ou disseminada. • Tem como agente etiológico o H. capsulatum variedade capsulatum. • É um fungo dimórfico da família Onygenaceae, classe Ascomycetes. • Apresenta-se nos tecidos parasitados como levedura ovalada com 2 a 5 μm de diâmetro, com um único brotamento na extremidade. • Em vida saprofítica (vive na matéria orgânica em decomposição) ou cultivado à temperatura ambiente desenvolve-se como micélio esbranquiçado composto de filamentos finos e septados. OBS: O micélio é nome que se dá ao conjunto de hifas de fungos multicelulares. Cada hifa é um filamento microscópico. • Na parede lateral e na extremidade do filamento formam-se os conídios (esporo assexual) que propagam o fungo: Macroconídios tuberculados (8 a 15 μm) e microconídios (2 a 5 μm), estes últimos mais infectantes para a espécie humana. OBS: São termodimórficos (mudam a forma conforme a temperatura). ○ Histoplasmose africana: • Causada por H. capsulatum variedade duboisii. • Acomete homens e macacos. • As lesões acometem a pele, subcutâneo, linfonodos e ossos, principalmente. ○ Linfangite epizoótica: • Causada por H. capsulatum variedade farciminosum. • Atinge equinos. EPIDEMIOLOGIA: → O diagnóstico de histoplasmose era incomum até meados do século 20. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/protozo%C3%A1rios-e-microspor%C3%ADdios-intestinais/ameb%C3%ADase https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/cest%C3%B3deos-vermes-em-fita/equinococose https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/cest%C3%B3deos-vermes-em-fita/equinococose https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/tremat%C3%B3deos-vermes/paragonim%C3%ADase Guilherme Rios – Módulo III – p5 → Apesar de presente em todos os continentes do mundo, a maior prevalência da histoplasmose clássica está nas Américas do Norte e Sul. → No Brasil, casos dessa doença fúngica foram descritos em todas as grandes regiões, espacialmente Sul e Sudeste. ○ Testes realizados em pessoas saudáveis em todo território nacional evidenciaram um alto percentual de reatores à histoplasmina aplicada por via intradérmica, o que reforça que a presença de H. capsulatum no território brasileiro é elevada. OBS: Histoplasmina é o extrato antigénico do Histoplasma capsulatum, utilizado em testes imunológicos de diagnóstico da histoplasmose. → Nas últimas décadas houve grande aumento na incidência dessa doença fúngica motivado pelo aumento do número de pacientes imunossuprimidos, principalmente aqueles com síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS). ○ As formas disseminadas progressivas geralmente ocorrem em indivíduos com deficiência da imunidade (p. ex., HIV+, transplantados, usuários de corticoesteroides, extremos de idade e etc). → Ocorrência em ambos os sexos, com prevalência de desenvolvimento da doença no sexo masculino. → Geralmente, afetam os extremos de idade. CONDIÇÕES E GRUPOS DE RISCO: → Profissões como agricultores (que manipulam fertilizantes orgânicos), bombeiros, espeleólogos e arqueólogos são as categorias mais expostas a H. capsulatum. → Trabalhos que exijam contato direto com o solo (p. ex., jardineiros, mineradores), especialmente sem uso de EPI ou utilizando-os de forma incorreta. → Passeios em grutas e cavernas. → Varredura e limpeza de galinheiros. → Passeios em áreas arborizadas e habitadas por pássaros. → Construções abandonadas. → Limpeza de sótãos e forros. → Pacientes imunossuprimidos (p. ex., AIDS, quimioterapia, linfoma, transplantados e etc). → Manipulação de H. capsulatum em laboratório. → Relaciona-se, também, com uma pesada ou repetida aspiração de microconídios, tabagismo, doença pulmonar prévia ou etilismo. 3. DEFINIR A FISIOPATOLOGIA DA HISTOPLASMOSE: CARACTERÍSTICAS DA INFECÇÃO: → A infecção fúngica acontece pela aspiração de conídios (microconídios) de H. capsulatum, que tem vida saprofítica abaixo da superfície do solo. ○ O fungo é identificado principalmente em locais com grande concentração de fezes de pombos e morcegos, como cavernas, construções abandonadas e madeiras em decomposição. Guilherme Rios – Módulo III – p5 → O crescimento do fungo é favorecido quando há umidade e alto conteúdo de nitrogênio (proporcionado principalmente pela decomposição de dejetos de aves e de morcego). → Os microconídios do fungo são facilmente destacados do micélio e podem ser transportados a longas distâncias. → Não há transmissão inter-humana da histoplasmose.PATOGÊNESE E PATOLOGIA: → Após aspiração dos microconídios de H. capsulatum, eles são fagocitados por macrófagos e neutrófilos (imunidade inata). → Após esse primeiro contato, novas células são recrutadas, formando-se um ou mais focos inflamatórios inespecíficos no pulmão. → Os conídios transformam-se em leveduras e, protegidos por componentes de sua parede, sobrevivem à fagocitose e começam o processo de multiplicação no interior das células fagocíticas. → As células fagocíticas contendo os fungos, por via linfática e hematogênica, transportam o H. capsulatum para várias cadeias linfáticas, como os linfonodos mediastinais, e eventualmente para o baço, fígado e outros tecidos distantes. → Após esses eventos, a IMUNIDADE ESPECÍFICA É ATIVADA, desenvolvendo-se: ○ Anticorpos anti-H. capsulatum. ○ Resposta mediada por linfócitos T (principalmente Th1). • Componente do sistema imunológico mais importante para conter o microrganismo. • Depende da liberação de citocinas (IL-12, TNF- α e INF-γ), as quais ativarão macrófagos que serão habilitados a MATAR LEVEDURAS INTRACELULARES. → A inflamação deixa de ser inespecífica e formam-se GRANULOMAS, tendo, no centro, os macrófagos que contêm o microrganismo. ○ Os focos inflamatórios no pulmão e nos linfonodos hilares constituem o complexo primário fúngico. ○ Os granulomas podem apresentar necrose caseosa ou não, evoluindo para fibrose e calcificação. OBS: Os granulomas irão conter os agentes em seu interior, bloqueando a contaminação. (Apesar de não terem enzimas específicas para eliminar o fungo inicialmente, os macrófagos mantêm eles aprisionados em granulomas, entretanto, possuem chance de reativação se houver imunodepressão). → A hipersensibilidade retardada, que sinaliza o surgimento da resposta imune celular adequada, tipo Th1 (contra agentes intracelulares), é percebida depois de 3 a 6 semanas pela positividade do teste intradérmico com antígeno de H. capsulatum. OBS: A maioria das pessoas infectadas desenvolve uma resposta imunológica eficiente e não progride para a doença, pois a imunidade específica se estabelece em 2 a 4 semanas e impede a progressão do quadro. OBS: Em pacientes que aspiram grandes quantidades de microconídios, a infecção primária por H. capsulatum pode ter outra evolução, pois o processo inflamatório é mais intenso, surgindo DOENÇA PULMONAR ou DISSEMINADA. → ALGUNS PERFIS DE PACIENTES: Guilherme Rios – Módulo III – p5 ○ Existe uma tendência a uma progressão disseminada em CRIANÇAS e IMUNODEPRIMIDOS devido à uma dificuldade em organizar uma resposta celular do tipo Th1 (advém das células T CD4, comprometidas na imunodepressão). • Nesses pacientes, os granulomas são formados incompletamente e há grande quantidade de macrófagos e de leveduras nas lesões teciduais. OBS: Os macrófagos parasitados acumulam-se em baço, fígado, linfonodos e medula óssea, relacionando-se com visceromegalias e com prejuízo na formação de hemácias, leucócitos e plaquetas. ○ Pacientes TABAGISTAS e PNEUMOPATAS CRÔNICOS expostos ao H. capsulatum, podem desenvolver doença pulmonar crônica progressiva, com destruição do parênquima, cavitação e fibrose. • Aparentemente, as alterações anteriores da estrutura do tecido pulmonar dificultam o controle da infecção local, persistindo as leveduras de H. capsulatum que estimulam a continuidade do processo inflamatório granulomatoso. OBS: A inflamação crônica nas suprarrenais também pode levar a destruição e fibrose da glândula, comprometendo a produção de hormônios. OBS: Em casos raros, o excesso de inflamação e fibrose mediastinal é uma complicação grave da histoplasmose. → Devido ao fato de as leveduras persistirem no interior de lesões cicatriciais nos pulmões e em outros tecidos, as manifestações clínicas da histoplasmose podem surgir muito tempo após a infecção primária assintomática. ○ Se a imunidade celular é reduzida por doença ou por terapia imunossupressora, o foco infeccioso é reativado, podendo ocorrer histoplasmose focal ou disseminada. OBS: A reativação tardia de lesões cicatriciais deixadas pela infecção primária é aceita como principal mecanismo patogênico da histoplasmose em pacientes com AIDS, neoplasias e os submetidos à imunossupressão medicamentosa, incluindo corticosteroides, substâncias citotóxicas ou terapia anti- TNF-α. Guilherme Rios – Módulo III – p5 4. DESCREVER AS PRINCIPAIS APRESENTAÇÕES CLÍNICAS DA DOENÇA, EM ESPECIAL A HISTOPLASMOSE PULMONAR: → Estudos mostram que a infecção assintomática por H. capsulatum é muito mais frequente do que a progressão para a doença. → Menos que 1% das pessoas infectadas evoluem para doença sintomática. → As manifestações clínicas dependem da quantidade do inóculo, da história de infecção prévia pelo fungo (se presente, reduz-se a gravidade da doença após uma reexposição), da imunidade do indivíduo e da virulência do fungo. → As apresentações no indivíduo imunocompetente sem exposição prévia variam desde formas assintomáticas até quadros rapidamente progressivos, com insuficiência respiratória. → PRINCIPAIS FORMAS CLÍNICAS: ○ Forma pulmonar (aguda e crônica). ○ Forma disseminada (aguda, subaguda e crônica). • Essa forma é caracterizada por qualquer lesão extratorácica. • Pode apresentar desde lesões focais a generalizadas. OBS: Ainda existem algumas apresentações clínicas menos comuns. HISTOPLASMOSE ASSINTOMÁTICA: → Observação de alterações na radiografia e/ou TC de tórax (p.ex., linfonodomegalias e nódulos pulmonares, com bordas regulares, com ou sem calcificação central ou laminar ou cavitação). → Maior parte das infecções primárias. → Histoplasmina detecta. HISTOPLASMOSE PULMONAR AGUDA: → Os sintomas respiratórios (p. ex, tosse seca*, dor torácica, taquipneia ou dispneia) surgem cerca de 2 semanas após o contato de indivíduos sem imunidade prévia com o H. capsulatum. • A ausculta pulmonar pode detectar alguns estertores. → Junto a esses sintomas, o paciente cursa com febre, calafrios, astenia, cefaleia, mal-estar e ↓ peso. → Alguns casos, podem desenvolver, artrite, artralgia e até eritema nodoso. → A radiografia de tórax geralmente mostra infiltrado focal associado com linfadenomegalia hilar e/ou mediastinal. OBS: Pacientes que foram intensamente expostos ao H. capsulatum • Podem evoluir para dispneia progressiva e hipoxemia. • A radiografia de tórax, nesses pacientes, mostra infiltrado pulmonar difuso e bilateral, micronodular ou reticulonodular (inclusive padrão miliar), além de linfadenomegalia mediastinal. → MANIFESTAÇÕES EXTRAPULMONARES: ○ Nesses casos, estão presentes em cerca de 5 a 10% dos pacientes. Guilherme Rios – Módulo III – p5 ○ Podem surgir tanto pela disseminação fúngica no corpo, quanto pela reação imunológica a seus antígenos. ○ Podem ser encontrados linfadenomegalia cervical ou generalizada, discreta hepatoesplenomegalia, artrite e artralgia, eritema nodoso e eritema multiforme. ○ A pericardite aguda ocorre em 5 a 10% dos casos e parece estar associada à inflamação nas estruturas mediastinais próximas. → As manifestações da histoplasmose pulmonar aguda regridem em 2 a 3 semanas, entretanto, certos casos podem se prolongar por mais de 10 semanas. HISTOPLASMOSE PULMONAR CRÔNICA: → A doença pulmonar progressiva ocasionada pelo H. capsulatum durante meses a anos ocorre principalmente em pessoas com enfisema prévio, tipicamente homens tabagistas com idade > 50 anos. → Assemelha-se à tuberculose reativa. → A sintomatologia consiste em tosse seca ou produtiva, eventual hemoptise, dispneia crescente, febre moderada, inapetência, astenia, sudorese, dor retroesternal e emagrecimento. → Pode aparecer suores noturnos. → ACHADOS RADIOGRÁFICOS: ○ A radiografia de tórax mostra lesão intersticial densa localizada no terço SUPERIOR de um dos pulmões,em muitos casos associada com lesões menos pronunciadas em outras regiões pulmonares. ○ Traves fibrosas e cavitação no lobo superior são observadas na maioria dos pacientes. ○ Consolidações alveolares também podem estar presentes. → Redução volumétrica dos lobos superiores e linfonodomegalias hilares e mediastinais, com ou sem calcificação, são outras alterações possíveis. Guilherme Rios – Módulo III – p5 → A lesão pulmonar aumenta com o tempo, pode se tornar bilateral e o paciente evoluir para óbito por insuficiência respiratória e complicações tais como pneumotórax e infecções bacterianas secundárias. HISTOPLASMOSE DISSEMINADA AGUDA: → É a forma mais grave da doença, podendo o indivíduo evoluir para óbito em poucas semanas ou meses. → Ocorre mais em crianças pequenas e em imunossuprimidos. → Nesses casos, o paciente tende a apresentar febre elevada, adinamia, perda de peso, linfadenomegalia generalizada, hepatoesplenomegalia, anemia, leucopenia e plaquetopenia. → Em pacientes imunossuprimidos, especialmente aqueles com HIV/AIDS, as lesões cutâneas são comuns e múltiplas. ○ Pápulas → nódulos com umbilicação central → úlceras. → Nos exames radiográficos é possível a visualização de infiltrado pulmonar difuso, micronodular ou reticulonodular. ○ Tais achados imaginológicos justificam a tosse e a dispneia que são frequentes nesses pacientes. →Também são achados relativamente comuns as lesões na mucosa oral, em tubo digestivo e em outros órgãos. Guilherme Rios – Módulo III – p5 → Os pacientes podem ir à óbito, também, devido a complicações como a vasculite, coagulação intravascular disseminada (CIVD), disfunção hepática e renal e septicemia bacteriana. HISTOPLASMOSE DISSEMINADA SUBAGUDA: → Em geral, a sintomatologia tende a ser mais branda e lenta do que na fase aguda, entretanto, a febre e hepatoesplenomegalia estão presentes em parte dos pacientes. → A característica desta forma de doença consiste na concomitância de lesões focais em outros órgãos. → SINTOMATOLOGIA: ○ As lesões intestinais, principalmente úlceras na região ileocecal, são frequentes, causando dor abdominal e diarreia e complicações como perfuração ou suboclusão intestinal e sangramento digestivo. ○ A doença de Addison (insuficiência adrenocortical crônica), endocrinopatia rara e potencialmente fatal, é uma sequela funcional em parte dos pacientes. ○ A lesão do SNC é pouco comum e manifesta-se como meningite linfocitária crônica, mielite ou como lesão expansiva cerebral. ○ Endocardite, particularmente nos pacientes com lesão valvular prévia, e infecção do endotélio de vasos, associada com aneurisma e prótese vascular, também são lesões observadas. ○ Podem também estar associadas às lesões viscerais da histoplasmose disseminada subaguda as úlceras na mucosa da orofaringe. HISTOPLASMOSE DISSEMINADA CRÔNICA: → Os pacientes são adultos NÃO imunossuprimidos. → O quadro clínico caracteriza-se por lesões geralmente restritas à mucosa de lábios, boca e laringe. → Ocasionalmente, lesões viscerais compõem o quadro clínico ou manifestam-se isoladamente, como por exemplo meningite, lesões de suprarrenais, osso, articulações, fígado e endocárdio. Guilherme Rios – Módulo III – p5 → Não há comprometimento do estado geral e o curso da doença pode se estender por vários meses a anos. MANIFESTAÇÕES ASSOCIADAS À HIPER-REATIVIDADE DO HOSPEDEIRO: → A histoplasmose, em pacientes hiper-reativos, pode culminar em grande processo inflamatório necrosante nos linfonodos mediastinais. ○ Essa linfonodomegalia pode resultar em compressão da traqueia, esôfago e grandes vasos, culminando em uma condição grave chamada de granulomatose mediastinal. → Mais raramente, a inflamação crônica no mediastino pode evoluir para uma condição grave chamada de mediastinite fibrosante, a qual acomete vias respiratórias e digestivas e vasos pulmonares com aderências e retrações. → É possível o desenvolvimento do histoplasmona (nódulo pulmonar benigno) que aumenta lentamente de tamanho em torno de sucessivas camadas de fibrose ao redor de um antigo granuloma com fungo. → A síndrome de histoplasmose ocular consiste em uveíte (inflamação da camada mediana do globo ocular) ou coroidite posterior de evolução crônica é também atribuída a uma reação imunocelular desproporcionalmente intensa contra antígenos de H. capsulatum. 5. DISCUTIR O DIAGNÓSTICO E OS TRATAMENTOS DA HISTOPLASMOSE: DIAGNÓSTICO: → O examinador deve se atentar caso o paciente relate contato prévio com microambiente propício à transmissão do fungo, a existência de outras pessoas com sintomas respiratórios e expostas ao mesmo local e a presença de linfadenomegalia hilar na radiografia de tórax. → A histoplasmose disseminada aguda, em especial, pode apresentar algumas alterações laboratoriais inespecíficas, destacando-se anemia, leucopenia e/ou plaquetopenia. → São frequentes as elevações discretas de enzimas hepáticas e canaliculares (AST, ALT, FA e gGT) e da desidrogenase láctica (LDH). → O diagnóstico laboratorial específico da histoplasmose é feito com exames micológicos, histológico e sorológico, dependendo do caso e da disponibilidade dos testes. → MICROSCOPIA: ○ O EXAME MICROSCÓPICO CONVENCIONAL de fluidos, secreções e raspados de úlceras é pouco sensível, em razão do pequeno tamanho e do reduzido número de leveduras nesses materiais. ○ A positividade desse teste aumenta quando se efetua um esfregaço do material e as lâminas são coradas com Giemsa ou pelo método de Gomori/Grocott. → CULTURA MICOLÓGICA: ○ A cultura micológica da expectoração e de amostras biológicas, em geral, é feita em ágar- sabouraud, contendo ou não antibióticos como o cloranfenicol e cicloheximida para inibir o crescimento de outros microrganismos. ○ H. capsulatum leva 2 a 6 semanas em temperatura ambiente para crescer como micélio, sendo identificado pelos macroconídios tuberculados e pela transformação em levedura a 37°C, em meios de cultura enriquecidos com sangue ou cisteína. Guilherme Rios – Módulo III – p5 → HEMOCULTURA: ○ É realizada em pacientes com histoplasmose disseminada aguda e subaguda, particularmente em imunossuprimidos. ○ O H. capsulatum pode ser isolado em frascos de hemocultura para bactérias desde que incubados por 4 semanas, mas a sensibilidade da hemocultura aumenta se for adotado o procedimento de lise- centrifugação antes da cultura. → HISTOPATOLÓGICO: ○ Possui boa resolutividade diagnóstica para histoplasmose. ○ É interessante solicitá-lo quando for possível biopsiar tecido lesado, tal como a pele e linfonodos. ○ É possível identificar H. capsulatum pelo formato ovalado, brotamento único na extremidade e localização no interior de fagócitos, com a coloração HE ou, mais facilmente, com Gomori/Grocott. → SOROLOGIA: ○ Na triagem de casos suspeitos de histoplasmose, os testes sorológicos para pesquisa de anticorpos anti-H. capsulatum tem grande relevância. ○ A técnica mais utilizada é a IMUNODIFUSÃO DUPLA EM GEL, na qual podem ser detectadas as bandas de precipitinas M (indica infecção passada ou doença presente) e H (indica doença ativa pelo fungo). ○ São também sugestivos de histoplasmose-doença: • Títulos ≥ 1:32 na reação de fixação de complemento. • Títulos ≥ 1:8 na contraimunoeletroforese • Títulos elevados de anticorpos IgG e eventual presença de IgM anti-H. capsulatum nos testes ELISA e Western blot. OBS: Ainda que não seja muito disponível no Brasil, os antígenos do fungo podem ser detectados na urina e indicam doença ativa (método Elisa). OBS: Limitações da sorologia • A resposta sorológica só se torna aparente depois de 4 ou 6 semanas da exposição ao fungo. • Os anticorpos anti-H. capsulatum NÃO são detectados em cerca de 40% dos pacientes coinfectados com HIV e AIDS, verificando-se testes falso-negativos também em outrostipos de imunossuprimidos. OBS: A positividade da antigenúria, assim como dos exames micológicos e histopatológico, é maior nos casos de forma disseminada aguda da histoplasmose, alcançando valores superiores a 90% em pacientes com AIDS. → DIAGNÓSTICO POR APRESENTAÇÃO CLÍNICA: Guilherme Rios – Módulo III – p5 ○ ASSINTOMÁTICO: • O diagnóstico é baseado na avaliação histológica e/ou micológica de amostra tecidual obtida por biópsia ou excisão cirúrgica de lesão pulmonar ou extrapulmonar, com identificação de granulomas não-caseosos, estruturas leveduriformes não-encapsuladas e/ou cultura para o fungo positiva. • A sorologia é negativa ou fracamente positiva. ○ FORMA PULMONAR AGUDA: • Avaliação histológica de amostra pulmonar obtida por biópsia ou excisão cirúrgica raramente evidencia granuloma, mas é possível detectar o fungo por pesquisa direta ou cultura. • Pesquisa antigênica é positiva em 75% dos casos. A sorologia só se torna positiva a partir do 2º mês da infecção, sendo diagnóstica quando ocorre elevação dos títulos em pelo menos 4 vezes. ○ FORMA PULMONAR CRÔNICA: • O diagnóstico geralmente é confirmado a partir da avaliação do escarro e do lavado broncoalveolar (pesquisa direta e cultura do fungo) e, se necessário, pela pesquisa micológica em amostra de parênquima pulmonar obtida por biópsia. • A pesquisa antigênica tende a ser negativa e a sorologia tem alta positividade. ○ FORMA DISSEMINADA: • Estão indicadas a pesquisa antigênica, a pesquisa direta e a cultura do fungo em sangue e em amostras de locais atingidos (como pele, mucosa, fígado e baço). • Se houver acometimento pulmonar, a avaliação é baseada no lavado broncoalveolar e em material obtido por biópsia transbrôquica ou a céu aberto. TRATAMENTO: → O tratamento não é necessário para os casos assintomáticos e para a maioria das formas agudas, já que muitas vezes há recuperação após 4 a 6 semanas, no momento em que se estabelece a memória específica. → Os antifúngicos mais utilizados no tratamento de pacientes com histoplasmose são ANFOTERICINA B e SUBSTÂNCIAS AZÓLICAS (grupo de agentes fungistáticos sintéticos, com um amplo espectro de atividade antifúngica), p. ex., ITRACONAZOL. → O esquema terapêutico varia com a forma de histoplasmose e pode incluir, além dos antifúngicos, corticosteroides quando o processo inflamatório for prejudicial ao paciente. → FÁRMACOS MAIS UTILIZADOS: ○ ANFOTERECINA B: • Desoxicolato da anfotericina B, utilizado de 0,7 a 1 mg/kg de peso/dia. • Complexo lipídico e lipossomal, utilizado de 3 a 5 mg/kg de peso/dia (é mais cara, entretanto, apresenta menos efeitos adversos e mais eficaz na histoplasmose disseminada aguda). ○ ITRACONAZOL: • Adultos podem utilizar na dose de 600 mg/dia nos três primeiros dias, seguida de 200 a 400 mg/dia ao longo do tratamento (usar doses de 400 a 600 mg/dia durante tempo mais longo em imunossuprimidos), sempre ingerido logo após as refeições. Guilherme Rios – Módulo III – p5 ○ FLUCONAZOL: • Opção secundária, sendo útil por sua formulação para uso intravenoso e pela atuação no sistema nervoso central. ○ SULFAMETOXAZOL-TRIMETOPRIMA: • Foi utilizado com resultados satisfatórios em pacientes brasileiros e pode ser indicado, excepcionalmente, em determinados casos. OBS: Voriconazol e posoconazol têm sido utilizados com eficácia em alguns casos complicados e refratários a outros tratamentos. → ESQUEMA DE TRATAMENTO DAS PRINCIPAIS FORMAS E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA HISTOPLASMOSE: ○ O uso inicial de anfotericina B intravenosa e de corticoterapia é útil em casos graves e com insuficiência respiratória. ○ Pericardite grave relacionada com a forma pulmonar aguda é também controlada com o uso de antifúngico mais anti-inflamatórios ou corticoterapia. ○ A anfotericina B é reservada para pacientes que requerem hospitalização e para casos que não melhoram com o triazólico. Guilherme Rios – Módulo III – p5 ○ Para pacientes com as formas disseminada subaguda e crônica que apresentam doença menos grave recomenda-se o tratamento com o itraconazol, desde poucos meses para a lesão isolada em mucosa oral e vias respiratórias altas até 12 ou mais meses para lesões viscerais. OBS: O histoplasmoma e a fibrose mediastinal, em geral, não requerem terapia antifúngica. OBS: A suspensão da terapia antifúngica deve ser precedida da reavaliação do caso para constatar a cura. OBS: A cura da histoplasmose é verificada quando o paciente não tem mais lesões ativas, os testes sorológicos são negativos ou mostram títulos residuais de anticorpo anti-H. capsulatum e, quando aplicáveis, os exames de imagem revelam apenas lesões cicatriciais. Guilherme Rios – Módulo III – p5 PROGNÓSTICO: → A maioria dos pacientes com histoplasmose conseguem a cura, dependendo do diagnóstico precoce e de tratamento adequado em relação às doses e ao tempo de uso de antifúngicos e da aderência e capacidade de resposta imunológica dos pacientes. LETALIDADE E RECIDIVA → A letalidade associa-se com casos graves e complicados, chegando a 20% na meningite. → As recidivas da histoplasmose são observadas aproximadamente em 15% dos casos, meses ou anos após o final do tratamento antifúngico. → Alguns pacientes têm sequelas ou incapacidade funcional, como, por exemplo, problemas neurológicos após meningite e mielite, insuficiência respiratória e doença de Addison.
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