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Tutoria (SP-7)

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Isabela G. Campos 
1 
 
TUTORIA (UC XIV) 
SP-7 
1) SOBRE O ABDOME AGUDO, ENTENDA: 
a) Definição. 
A expressão “abdome agudo” refere-se habitualmente ao sinal e sintoma de dor e 
hipersensibilidade na região abdominal, isto é, apresenta-se com dor abdominal súbita, 
espontânea, não traumática e intensa, caracteristicamente com evolução inferior a 24 horas. 
Essa manifestação clínica, em geral, requer tratamento cirúrgico de emergência. 
O quadro de abdome agudo requer diagnóstico rápido e específico, uma vez que diversas 
etiologias demandam intervenção cirúrgica urgente. Como frequentemente há um distúrbio intra-
abdominal progressivo subjacente, o atraso indevido no diagnóstico e no tratamento pode afetar a 
evolução de maneira negativa. 
Ademais, pode ser dividido em síndromes, sendo cada uma delas caracterizada por diferentes 
formas de instalação e progressão a depender da sua etiologia. O que todas as etiologias têm em 
comum é a necessidade de definição diagnóstica imediata, para determinar a terapêutica adequada 
e necessidade de intervenção cirúrgica, reduzindo a morbidade e a mortalidade. 
ATENÇÃO: Muitas doenças, algumas das quais não são cirúrgicas ou nem mesmo abdominais, 
podem produzir dor abdominal aguda. Portanto, todo esforço deve ser feito para se ter o diagnóstico 
correto a fim de que o tratamento escolhido, em geral por laparoscopia ou laparotomia, seja 
apropriado. 
Apesar das melhoras nos estudos laboratoriais e imaginológicos, o exame físico e a história 
clínica continuam sendo os pilares na determinação do diagnóstico correto e do início da terapia 
adequada e em tempo hábil. 
Obs. A maioria das doenças cirúrgicas associadas a abdome agudo está relacionada com 
infecção, isquemia, obstrução ou perfuração de uma víscera. 
 
EXTRA -> Causa mais comum. 
O diagnóstico associado de abdome agudo varia conforme a idade e o sexo. 
 
As causas mais comuns de abdome agudo são infecção, isquemia, obstrução ou perfuração. 
 
Isabela G. Campos 
2 
 
B) Tipos/ causas (fisiopatologia). 
 
 
Os quadros de abdome agudo podem ser classificados em uma das seguintes síndromes: 
inflamatória, obstrutiva, perfurativa, vascular e hemorrágica. 
 Por síndrome, entende-se um grupo de sinais e sintomas que evoluem em conjunto, 
provocados por um mesmo mecanismo e dependentes de causas diversas. 
Alguns autores, por exemplo, entendem que as perfurações do tubo digestivo estariam 
incluídas no grupo do abdome agudo inflamatório. 
 
I. Abdome Agudo INFLAMATÓRIO: 
O abdome agudo inflamatório pode ser definido como quadro de dor abdominal súbito e 
inesperado, originado de um processo inflamatório e/ou infeccioso localizado na cavidade 
abdominal, órgãos ou estruturas adjacentes. 
Costuma cursar com manifestações de peritonite e alterações de ritmo intestinal. Caracteriza-
se por dor de início insidioso e intensidade progressiva. 
 Sobre a peritonite: é uma inflamação da serosa que recobre as paredes internas e as 
vísceras abdominais, independente da causa, intensidade ou extensão. Pode ocorrer 
por infecção, substâncias químicas irritantes ou presença de corpos estranhos. Alguns 
sinais de peritonite são: sensibilidade abdominal, distensão/rigidez muscular, náuseas 
e vômitos. 
Pode ser causado por um processo agudo ou pela agudização de uma doença crônica 
Isabela G. Campos 
3 
 
Suas principais etiologias são: Apendicite aguda, 
colecistite aguda, pancreatite aguda, diverticulite, doença 
inflamatória pélvica, abscessos intra-abdominais (Abscesso 
hepático, Abscesso diverticular, Abscesso do psoas), peritonites 
primárias e secundárias, Divertículo de Meckel. 
Obs. A síndrome inflamatória mais frequente é a 
apendicite aguda. 
 
 Fisiopatologia 
A dor abdominal pode ser de origem somática ou 
visceral, referida ou irradiada, ou originada a partir de 
mediadores inflamatórios que estimulam as terminações nervosas resultando em dor localizada. 
 Dor visceral: A dor visceral é geralmente descrita como profunda, mal delimitada ou difusa. 
É provocada por distensão, tração, isquemia e inflamação do peritônio visceral. O espasmo da 
musculatura lisa das estruturas tubulares intra-abdominais também causa dor. Fibras aferentes 
do sistema nervoso autônomo – principalmente do simpático – conduzem esses estímulos 
dolorosos; por exemplo, na dor periumbilical da fase inicial da apendicite aguda. 
 Dor parietal: A dor parietal manifesta-se com maior intensidade do que a dor visceral e tem 
localização bem-definida, sendo sentida no local de irritação do peritônio parietal. Surge 
pelo estímulo doloroso do peritônio parietal que segue pelas fibras aferentes do sistema nervoso 
cerebrospinal localizadas nos seis últimos nervos intercostais. Como esses nervos são os 
responsáveis pela motricidade dos músculos abdominais, explica-se por que a irritação do 
peritônio parietal é seguida de contratura muscular; por exemplo, na dor em fossa ilíaca direita 
na apendicite aguda. 
 Dor referida: A dor referida é percebida em local distante daquele onde se originou o 
estímulo. São exemplos dor no ombro decorrente de irritação do peritônio diafragmático 
homolateral (úlcera péptica perfurada), dor na bolsa escrotal provocada por cálculo ureteral 
homolateral e dor escapular direita na cólica biliar. 
A fisiopatologia baseia-se, sobretudo, na extensão do processo inflamatório/infeccioso ao 
peritônio e às modificações do funcionamento do trânsito intestinal. 
– Quando o processo inflamatório e/ou infeccioso atinge o peritônio visceral, ocorre paralisia da 
musculatura lisa envolvida, gerando Íleo paralítico: 
→ Inervação pelas fibras autonômicas; 
→ Distensão e contração viscerais; 
→ Dor difusa e mal localizada. 
– Quando a inflamação se estende ao peritônio parietal ocorre contratura muscular abdominal 
localizada ou difusa: 
→ Inervação ocorre pelas fibras somáticas cerebroespinais; 
→ Dor localizada, contínua e intensa. 
Isabela G. Campos 
4 
 
 
Ao se instalar o processo de peritonite, a deterioração clínica do indivíduo pode ocorrer 
rapidamente e constitui-se um sinal de gravidade e mau prognóstico. A peritonite pode ser 
classificada da seguinte forma: 
– Fases iniciais → Transudativa e exsudativa: horas de evolução. 
– Fases tardias → Fibrinopurulenta e presença de abscesso: dias de evolução. 
Nas fases iniciais há ainda pouca atividade inflamatória com aumento da efusão peritoneal e 
quimiotaxia de células inflamatórias. Já nas fases tardias existe uma exuberante resposta inflamatória 
com formação de fibrina, aderências, pus, e, por fim, fibrose. 
 
II. Abdome Agudo OBSTRUTIVO: 
Síndrome caracterizada por sinais e sintomas de obstrução em TGI, como náuseas, vômitos, 
distensão abdominal, parada de eliminação de flatos e fezes. Tem caráter evolutivo e a dor costuma 
ser em cólica, geralmente periumbilical. 
Na síndrome obstrutiva, ocorre um tipo especial de dor visceral conhecida como dor 
espasmódica, caracterizada por surgir repentinamente, de modo intenso, difuso ou com predomínio 
na porção central do abdome, que aumenta até gradualmente desaparecer, retornando após um 
período de acalmia de duração variável. Esse tipo de dor é causado por espasmos da musculatura lisa 
dos segmentos intestinais proximais ao sítio da obstrução. 
Nas obstruções intestinais altas (proximais), as crises de dor são mais frequentes, assim 
como os vômitos, que são precoces e de aspecto entérico. Nas obstruções baixas (distais), as crises 
de dor são mais espaçadas, e os vômitos têm aspecto fecaloide. 
Pode apresentar causa mecânica, por obliteração parcial ou total do lúmen, ou funcional. 
Suas principais etiologias 
são: Aderências e bridas, 
hérnias, neoplasias, volvos, 
intussuscepções, estenoses 
inflamatórias, corpo estranho. 
Obs. No chamado “íleo 
biliar”, há obstrução intestinal determinada por cálculo biliar que migrou da vesícula biliar para o 
tubo digestivo por meio de uma fístula colecistoentérica (geralmente com o duodeno). Nessecaso, 
combinam-se os elementos inflamatório (colecistite) e obstrutivo. 
 Fisiopatologia 
Independente da etiologia a interrupção do trânsito intestinal origina eventos que culminarão 
habitualmente com quadro obstrutivo. 
Isabela G. Campos 
5 
 
▶ Obstrução do intestino delgado: 
o O intestino delgado possui função secretória e absortiva, sendo que 
20% da água corporal total são provenientes desse processo. 
Interferências nessa dinâmica podem levar à depleção 
hidroeletrolítica significativa. 
o À jusante do ponto obstrutivo há absorção e eliminação de gás e 
fluidos pela mucosa intestinal, causando colapso desse segmento, já 
à montante haverá distensão devido ao acúmulo desses 
componentes. 
o O gás responsável pela distensão intestinal nos estágios iniciais da 
obstrução é composto majoritariamente pelo ar ingerido (70%), 
tendo o nitrogênio como principal componente cuja absorção é 
pequena → Com o tempo há aumento dos gases provenientes da 
fermentação pelas bactérias intestinais (hidrogênio, metano, amônia) o que aumenta sobremaneira 
a distensão além de reduzir a pressão parcial de nitrogênio favorecendo o deslocamento de fluidos 
isotônicos do compartimento celular para o lúmen intestinal. 
o Devido à estase do intestino delgado há supercrescimento bacteriano cuja fermentação resulta no 
odor fétido do conteúdo intestinal presente nos vômitos, evento frequente nessa condição. 
o A perda de sódio e água para o lúmen intestinal aumenta progressivamente enquanto a função 
absortiva permanece comprometida, ocasionando depleção do volume intravascular efetivo e 
acionamento de mecanismos mantenedores da volemia → redução da excreção urinária de sal e 
água resultando em oligúria e deslocamento de água do espaço extracelular para o intravascular. 
o Vômitos frequentes exacerbam o distúrbio hidroeletrolítico resultando em hipocalemia e 
hipovolemia graves, podendo levar ao óbito ou a complicações cirúrgicas. 
o A distensão progressiva do segmento acometido ocasiona aumento da pressão luminal 
comprometendo a drenagem venosa com aumento do influxo de água e eletrólitos para o lúmen, 
além de perda através da camada serosa para a superfície peritoneal. 
o Inicialmente pode haver aumento significativo da peristalse a fim de vencer o fator obstrutivo, 
evoluindo posteriormente para fadiga da musculatura lisa com parada dos movimentos intestinais. 
▶ Obstrução do intestino grosso: 
o A competência da válvula ileocecal (VIC) determina o comportamento da obstrução no intestino 
grosso. 
o Em cerca de 20 a 30% dos pacientes a VIC torna-se incompetente o que consegue amenizar a pressão 
no interior do lúmen colônico através do refluxo do conteúdo desse para o íleo. 
o Existirá obstrução em “alça fechada” - entre a VIC e o ponto de obstrução – caso a válvula permaneça 
competente → Isso levará à dilatação progressiva do cólon com posterior comprometimento 
vascular, podendo gerar necrose e perfuração do segmento acometido. 
o O ceco é o local mais vulnerável à perfuração, uma vez que sua parede é mais delgada que a do cólon 
esquerdo → Quando o diâmetro cecal alcança 15cm há risco iminente de perfuração caso não seja 
realizada nenhuma manobra de descompressão. 
o Vólvulo intestinal, habitualmente o sigmoide, é uma importante causa de obstrução em alça fechada, 
uma vez que o segmento rotaciona sobre o mesentério, podendo levar a sofrimento vascular → pode 
ser primário (malformação congênita) ou secundário (rotação através de um estoma ou de uma 
aderência). 
Isabela G. Campos 
6 
 
✓ Caso haja estrangulamento de alça intestinal por aderência ou 
por angulação pode haver comprometimento vascular grave 
secundário ao aumento da pressão na parede intestinal 
resultando em redução da drenagem venosa e mais tardiamente 
necrose por ausência do suprimentoarterial → Pode haver 
translocação bacteriana através da parede intestinal danificada 
gerando peritonite localizada ou difusa. 
 
 
 
 
▶ Obstrução funcional: 
o Distúrbios metabólicos e/ou hidroeletrolíticos podem ocasionar 
obstrução intestinal sem fator mecânico existente, a exemplo de hipocalemia, uremia ou diabetes 
descompensado. 
o Outra condição descrita é a síndrome de Ogilvie na qual há pseudoobstrução intestinal com distensão 
colônica – ascendente e transverso – por disautonomia nervosa, sem fator mecânico. Pode levar a 
sofrimento vascular e isquemia intestinal. 
 
III. Abdome Agudo PERFURATIVO: 
A principal característica dessa síndrome clínica é a dor abdominal, não traumática, de início 
súbito. Diferentemente do abdome agudo inflamatório, ocorre por perfuração de uma víscera oca. 
A terceira síndrome abdominal aguda mais frequente. 
A evolução natural da síndrome se dá por inflamação química inicial com posterior invasão 
bacteriana, agravando o quadro. 
A síndrome perfurativa típica é aquela comumente vista na úlcera duodenal perfurada. A 
sequência de eventos observada nos casos não tratados é a seguinte: 
 Dor da doença ulcerosa péptica, causando dor epigástrica leve/moderada e mal-localizada 
(dor visceral); 
 Perfuração, provocando dor epigástrica intensa e bem-localizada (dor parietal); 
 Descida da secreção gastroduodenal ao longo da goteira parietocólica direita até a fossa 
ilíaca direita; 
 Irritação do peritônio parietal local, causando dor em flanco e fossa ilíaca direita (dor 
parietal). 
As perfurações podem ainda ser classificadas como altas ou baixas, tendo como referência o 
Ligamento de Treitz. Nas perfurações altas geralmente se inicia por uma peritonite química, por 
liberação de sucos digestivos, que culmina com proliferação bacteriana e posterior processo 
infeccioso. Nas perfurações baixas, é esperado início por peritonite 
infecciosa de região já colonizada com evolução para um quadro 
sistêmico, podendo manifestar sinais de septicemia. 
Suas principais etiologias são: Perfurações gastroduodenais 
(úlceras pépticas, tumores) e intestinais (diverticulite, tumores, 
sofrimento vascular, febre tifoide, Síndrome de Boerhaave. 
Isabela G. Campos 
7 
 
 Fisiopatologia 
A perfuração pode ser decorrente de processos inflamatórios, como úlceras pépticas e 
doenças inflamatórias intestinais, processos neoplásicos, obstrutivos e infecciosos (como infecções 
por Salmonella tiphy, citomegalovírus, tuberculose intestinal etc). 
Inicialmente, com o extravasamento de secreção luminal na 
cavidade temos uma inflamação peritoneal de natureza química de 
intensidade variável, seguida de invasão bacteriana secundária e 
progressivo processo infeccioso, com repercussões locais e 
sistêmicas. As bactérias comumente encontradas são: Pseudomonas 
aeruginosa, Klebisiella sp, E. coli. 
o No estômago e duodeno, as úlceras agudas e crônicas são as etiologias mais comum. A perfuração 
nestes casos geralmente está associada a ingestão de álcool, corticoides e AINES. Outras causas 
importantes são neoplasias e corpos estranhos. 
o No intestino delgado, as perfurações proximais geram peritonite química inicialmente, já que há 
extravasamento de enzimas ativas, e as perfurações mais distais são acompanhadas de peritonite 
bacteriana. 
o No intestino grosso, a peritonite é bacteriana desde o início. Além disso, a perfuração no colón 
direito é mais grave que a do esquerdo, devido à alta virulência dos germes e pela consistência 
líquida das fezes. 
 
IV. Abdome Agudo VASCULAR: 
Síndrome clínica caracterizada por dor abdominal, não traumática, de início súbito ou 
intermitente, de intensidade variável, representado pela isquemia mesentérica ou intestinal 
resultante de um fornecimento inadequado de oxigênio para o intestino, que necessita de 
intervenção médica imediata por ser potencialmente fatal. Ou seja, é uma dor abdominal intensa de 
origem vascular, sendo uma urgência não-traumática grave por redução súbita do fluxo sanguíneo 
intestinal. 
Quando o quadro é mais arrastado, a intensidade pode se apresentar diminuída pela 
circulação colateral. A dor é difusae mal definida, apresentando desproporção entre a dor e o exame 
físico. 
Patologia mais comum em idosos, associado a aterosclerose. A isquemia mesentérica crônica 
é mais comum em mulheres. 
O abdome agudo de origem vascular tem apresentação variável. Nos casos de oclusão aguda 
da artéria mesentérica, como na embolia, a dor é intensa, súbita e difusa. Já na oclusão trombótica, 
a dor pode manifestar-se de modo menos abrupto, com progressiva distensão intestinal seguida de 
peritonite e choque séptico. Na ruptura de aneurisma de aorta abdominal, a dor é intensa e 
irradiada para a região lombar, acompanhada de sinais de hipovolemia (taquicardia, hipotensão, 
sudorese e choque). 
Suas principais etiologias são: Oclusões arteriais (trombose, embolia, vasculites) ou venosas 
(trombose) envolvendo os vasos mesentéricos, ruptura de aneurismas (aorta ou artérias viscerais). 
-> Exemplos: Doença de Buerger; Trombose/embolia mesentérica; Torção ovariana; 
Colite isquêmica; Torção testicular e; Hérnias estranguladas. 
Obs. Nos pacientes com falência cardiovascular acompanhada de baixo fluxo sanguíneo 
intestinal, pode ocorrer a chamada isquemia não oclusiva, com potencial lesão tecidual. 
Isabela G. Campos 
8 
 
 Fisiopatologia 
A isquemia mesentérica pode ser aguda ou crônica, mesentérica (acomete o intestino 
delgado) ou colônica (acomete o intestino grosso). As três principais síndromes de isquemia intestinal 
são: 
1. Isquemia colônica (70-75%) 
2. Isquemia mesentérica aguda (20-25%) 
3. Isquemia mesentérica crônica (5%) 
As regiões mais propensas à isquemia são as áreas pobres em circulação colateral, como a 
flexura esplênica e junção retossigmoide. A lesão intestinal se dá por dois mecanismos: 
1. Hipoperfusão com hipóxia: o comprometimento da oferta de oxigênio se dá com uma 
redução do fluxo intestinal maior que 50%. 
2. Reperfusão: devido a ação de espécie reativas do oxigênio. 
De uma forma geral, o intestino consegue compensar até 75% de hipoperfusão por até 12h 
sem dano substancial, pelo aumento da extração de oxigênio e circulação colateral. 
• Se houver manutenção da hipoperfusão, temos: vasoconstricção e redução do fluxo 
colateral 
• Em alguns casos, mesmo após restauração do fluxo a vasoconstricção é mantida. 
A sequência de eventos está resumida no fluxograma abaixo: 
 
 
V. Abdome Agudo HEMORRÁGICO: 
Causado pela presença de sangue em cavidade abdominal. São mais raros e geralmente 
acometem faixas etárias mais avançadas. 
No abdome agudo hemorrágico, as características da dor e o modo de instalação dos sinais 
de hipovolemia variam conforme a velocidade do sangramento. Ou seja, apresenta-se com dor 
intensa, com rigidez e sinais de hipovolemia, tais como hipotensão, taquicardia, palidez e sudorese. 
Como há sangramento, a depender do volume e a velocidade de instalação do quadro, pode 
haver prejuízo neurológico e a intervenção deve ser rápida. 
ATENÇÃO: Em mulheres, sempre investigar ciclo menstrual e possibilidade de gravidez. 
Suas principais etiologias são: Gravidez ectópica rota, ruptura de folículo ovariano com 
sangramento, ruptura hepática espontânea (fim da gestação ou puerpério). As rupturas de 
aneurismas de aorta ou artérias viscerais também podem figurar nessa classificação. 
-> Exemplos: Trauma de órgãos sólidos; Fístula ou ruptura de aneurisma arterial; 
Divertículo gastrointestinal com sangramento; Malformação arteriovenosa do trato 
gastrointestinal; Ulceração intestinal; Fístula aortoduodenal após o enxerto vascular 
Isabela G. Campos 
9 
 
aórtico; Pancreatite hemorrágica; Síndrome de Mallory-Weiss; Ruptura espontânea do 
baço. 
ATENÇÃO: Doenças extra-abdominais que simulam abdome agudo – Pneumonia basal, 
embolia pulmonar, infarto do miocárdio (parede diafragmática), pericardite, herpes-zóster, 
radiculite, distúrbios metabólicos e outros (cetoacidose diabética, porfiria, crises de anemia 
falciforme, hematoma de parede abdominal, insuficiência suprarrenal aguda). 
 
▶ Causas NÃO CIRÚRGICAS de Abdome Agudo: 
Causas não cirúrgicas de abdome agudo podem ser divididas em três categorias: endócrinas 
e metabólicas, hematológicas e por toxinas ou drogas. 
Causas endócrinas e metabólicas incluem uremia, síndromes hiperglicêmicas, crises 
addisonianas, porfiria intermitente aguda, hiperlipoproteinemia aguda e febre hereditária do 
Mediterrâneo. 
Os distúrbios hematológicos são crises falcêmicas, leucemia aguda e outras discrasias 
sanguíneas. 
Condições ligadas a toxinas e substâncias que provocam abdome agudo incluem 
envenenamento por chumbo e outros metais pesados, abstinência de narcóticos e envenenamento 
por picada da aranha viúva-negra. 
 
 
C) Quadro clínico. 
A principal característica de um quadro de abdome agudo é a dor abdominal. A dor possui 
intensidade e localização variável de acordo com cada etiologia, como veremos durante o módulo. 
Isabela G. Campos 
10 
 
 
A. Abdome Agudo INFLAMATÓRIO: 
A dor abdominal é o sintoma preponderante no AAI, podendo 
ser decorrente de um processo recente, como na apendicite aguda, ou 
crônico agudizado tal qual nos casos de colecistite aguda por litíase 
biliar ou diverticulite por doença diverticular do cólon. Costuma ser 
progressiva e quando evolui com piora progressiva uma conduta 
cirúrgica é necessária na maioria das vezes. 
Náuseas e vômitos podem ocorrer na evolução do AAI, podendo ser resultado do quadro 
álgico intenso ou até mesmo de estase intestinal secundária à irritação do peritônio visceral. 
A febre é um sintoma comumente observado, podendo surgir já nas fases iniciais do processo, 
com temperaturas mais brandas, piorando com a evolução do quadro, sobretudo quando há 
processo supurativo instalado. 
Obstipação comumente ocorre secundária à paralisia das alças intestinais. Entretanto, 
diarreia pode estar presente, sobretudo em casos de abscessos pélvicos. 
OU SEJA, a dor é de início insidioso, com agravamento e localização com o tempo. O 
paciente apresenta sinais sistêmicos, tais como febre e taquicardia. 
 
B. Abdome Agudo OBSTRUTIVO: 
O quadro clínico é variável e depende de alguns fatores, como local e tempo da obstrução; 
presença de complicações, como sofrimento vascular e perfurações; grau de contaminação e status 
clínico do paciente. 
Habitualmente os pacientes com AAO apresentam dor abdominal de início súbito, evoluindo 
com náuseas, vômitos e parada de eliminação de gazes e fezes. A distensão abdominal comumente 
encontra-se disposta centralmente na obstrução do intestino delgado e em flancos ou em abdome 
superior nas obstruções baixas (“em moldura”). 
De forma didática, podem-se dividir os sinais e sintomas de acordo com o sítio da obstrução: 
Isabela G. Campos 
11 
 
 Obstrução intestinal alta (Intestino delgado) 
A parada de eliminação de fezes e gases é um 
sinal que ocorre tardiamente durante a evolução da 
obstrução, uma vez que o conteúdo colônico é esvaziado 
normalmente nas fases iniciais. 
Os RHA podem estar aumentados inicialmente 
na tentativa de vencer o fator obstrutivo, a chamada 
peristalse de luta, apresentando aumento do timbre, 
conhecido caracteristicamente como som metálico, e 
gradualmente podem desaparecer devido à fadiga da 
musculatura lisa. 
Dor constante, de início súbito e com aumento da intensidade pode sugerir 
comprometimento vascular. 
 Obstrução intestinal baixa (transição ileocecal e 
intestino grosso) 
Na obstrução do cólon, normalmente há parada de 
eliminação de fezes e flatos precocemente associada à 
distensão abdominal importante. 
A dilatação severa dos segmentos intestinais pode 
levar a comprometimento vascular com isquemia, necrose e 
perfuração. 
A perfuração ocorre principalmente em pacientes com 
VIC competente (75%), gerando obstrução em “alça fechada”, habitualmente na presença de 
tumores obstrutivos do cólon esquerdo ou sigmoide. 
 
C. Abdome Agudo PERFURATIVO: 
Para discutir a clínica de cada síndrome, precisamos nos ater sempre à classificaçãoprincipal, 
portanto, o sintoma invariável é a dor abdominal. A partir disso, as demais manifestações variam de 
acordo com local em que ocorreu a perfuração, o tempo decorrido entre o início do quadro e 
intervenção médica e o grau de distribuição dos líquidos extravasados. Lembrando que alguns 
pacientes, como idosos e imunosupressos podem ter o quadro mascarado. 
De um modo geral, temos: 
 
A clínica pode ser acompanhada de sinais de sepse, hipotensão ou choque a depender da 
gravidade do caso. O acúmulo de gás pode comprometer a musculatura diafragmática resultando em 
desconforto respiratório. 
A dor pode ser lombar, nos casos de perfurações retroperitoneais, ou irradiarem para os 
ombros nos casos de perfuração em abdome superior que irritam o diafragma. Abdome em tábua é 
Isabela G. Campos 
12 
 
uma contratura involuntária generalizada da parede abdominal por peritonte difusa. No exame físico 
podem encontrar também distensão abdominal e ausência de ruídos hidroaéreos. 
 
Lembrem sempre que os sinais e sintomas típicos ocorrem quando há peritônio livre – 
acometimento de toda cavidade abdominal com dor e peritonite generalizada. Avaliar SEMPRE: se a 
peritonite é química ou bacteriana, nível da perfuração e presença de comprometimento sistêmico. 
OU SEJA, o paciente apresenta dor súbita, de forte intensidade, com difusão rápida 
para todo o abdome; sinais de sepse, hipotensão ou choque frequentemente estão presentes; 
no exame do abdome há sinais evidentes de peritonite, ausência de macicez hepática (sinal 
de Jobert) e de ruídos hidroaéreos. 
 
D. Abdome Agudo VASCULAR: 
Agora falaremos sobre as manifestações de um quadro de abdome agudo isquêmico. As 
formas de apresentação e gravidade dependem dos fatores a seguir: 
 
Pode variar desde um quadro súbito (infartos) a quadros de angina abdominal crônica, além 
de apresentar sintomas variáveis como: 
 
Sangramentos podem ocorrem na isquemia mesentérica crônica e na isquemia colônica, mas 
o principal sintoma presença em todos os casos é a dor abdominal. 
No abdome agudo isquêmico, a principal característica da dor abdominal é a desproporção 
entre a intensidade referida e o exame físico. 
A tríade da isquemia mesentérica crônica consiste em: 
 
Nesse caso, a dor abdominal é bastante variável: 
Isabela G. Campos 
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OU SEJA, sintomas inespecíficos, náuseas, vômitos, diarreia, distensão abdominal e 
constipação. É o tipo de abdome mais difícil de diagnosticar e tratar. 
 
E. Abdome Agudo HEMORRÁGICO: 
Dor intensa, com rigidez e dor a descompressão; há sinais de hipovolemia, tais como 
hipotensão, taquicardia, palidez e sudorese. 
Em mulheres, ciclo menstrual e possibilidade de gravidez. 
 
D) Diagnóstico (anamnese, exame físico, exames complementares). 
 Anamnese 
A anamnese identifica os seguintes aspectos: 
− Características principais da dor – Localização, irradiação, intensidade, tipo, modo de início e 
evolução, fatores desencadeantes, agravantes e atenuantes, correlação com outras 
manifestações; 
− Sintomas gastrintestinais – Anorexia, náuseas, vômitos, evacuações, gases; 
− Doenças associadas ou pregressas; 
− Medicamentos em uso – Corticoides, anticoagulantes, imunossupressores, analgésicos, anti-
inflamatórios e antibióticos exigem especial atenção; 
− Antecedentes ginecológicos – Leucorreia, alterações menstruais, métodos contraceptivos, 
doenças prévias, etc.; 
− Sintomas urinários – Disúria, polaciúria, eliminação de cálculos. 
A correlação da dor abdominal com outras manifestações pode direcionar o diagnóstico. 
o Sobre a dor abdominal: 
A dor é o sintoma mais comum e predominante no quadro de abdome agudo. A avaliação 
cuidadosa de local, intensidade, forma de instalação e de progressão, além do caráter da dor, sugere 
uma lista preliminar de possíveis diagnósticos. 
A. Localização da dor 
A localização da dor serve apenas como guia geral para o diagnóstico; descrições “típicas” 
representam apenas dois terços dos casos. A variabilidade decorre de padrões atípicos de dor, 
deslocamento da intensidade máxima para longe do sítio primário, ou doença avançada ou grave. 
Em pacientes que se apresentam com peritonite difusa, a dor generalizada pode obscurecer 
totalmente o evento desencadeante. A dor restrita ao quadrante superior pode ser avaliada 
anatomicamente em razão dos quadros agudos afetando órgãos subjacentes. 
Isabela G. Campos 
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Devido às complexas redes de nervos sensitivos viscerais e parietais da região abdominal, a 
dor não tem localização tão precisa no abdome quanto nos membros. A sensibilidade visceral é 
mediada principalmente por fibras aferentes tipo C localizadas nas paredes das vísceras ocas e nas 
cápsulas dos órgãos sólidos. Diferentemente da dor cutânea, a dor visceral é desencadeada por 
distensão, inflamação ou isquemia estimulando os neurônios receptores, ou por envolvimento direto 
(p. ex., infiltração maligna) dos nervos sensitivos. A dor visceral é uma sensação percebida em nível 
central, geralmente com instalação lenta, de caráter surdo, mal localizada e prolongada. A dor pode 
ser causada por aumento da tensão da parede ou por distensão luminal ou contração potente da 
musculatura lisa (cólica), produzindo dor difusa e localizada profundamente. 
Na maioria das vezes, a dor visceral é referida à linha média em razão da inervação sensitiva 
bilateral da medula espinal. Como as diferentes estruturas viscerais estão associadas a níveis 
sensitivos distintos na coluna vertebral, a dor visceral pode ser referida às regiões epigástrica, 
periumbilical, abdominal inferior ou dos flancos, dependendo do órgão envolvido. 
 
Por outro lado, a dor parietal é mediada por fibras nervosas dos tipos C e A-δ, esta última 
responsável pela transmissão de sensação dolorosa mais aguda e mais bem localizada. A irritação 
direta do peritônio parietal somaticamente inervado por pus, bile, urina ou secreções gastrintestinais 
leva à dor mais precisamente localizada. A dor parietal é mais facilmente localizada que a visceral 
porque as fibras somáticas aferentes são dirigidas somente a um dos lados do sistema nervoso. A 
distribuição cutânea da dor parietal corresponde às áreas T6 a L1. A dor parietal abdominal é 
convencionalmente descrita como ocorrendo em um dos quatro quadrantes ou na área epigástrica 
ou central do abdome. 
A dor abdominal pode ser referida ou estar deslocada para locais distantes dos órgãos 
principalmente afetados. A expressão “dor referida” denota sensações nocivas (em geral, cutâneas) 
percebidas em local distante daquele do estímulo primário intenso. A distorção da percepção central 
de dor é explicada pela confluência de fibras nervosas aferentes de áreas díspares no interior do 
corno posterior da medula espinal. Por exemplo, a dor por irritação subdiafragmática por ar, líquido 
peritoneal, sangue ou lesão de massa pode ser referida ao ombro mediada pelo nervo da C4 (frênico). 
A dor também pode ser referida ao ombro por lesões supradiafragmáticas, como pleurisia ou 
pneumonia de lobo inferior. Embora mais frequentemente percebida na região escapular direita, a 
dor biliar referida pode ser confundida com angina de peito, caso seja percebida na face anterior do 
tórax ou na área do ombro esquerdo. 
A disseminação ou o deslocamento da dor ocorre em paralelo ao curso da doença subjacente. 
O local da dor à instalação do sintoma deve ser diferenciado do local à apresentação do paciente. A 
cronologia da dor pode ser tão importante quanto a própria localização. Classicamente iniciada no 
epigástrio ou na região periumbilical, a dor visceral inicial da apendicite aguda desloca-se para se 
tornar uma dor parietal mais aguda e localizada no quadrante inferior direito quando o peritônio 
Isabela G. Campos 
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suprajacente se torna diretamente inflamado. Na úlcera péptica perfurada, a dor quase sempre inicia 
no epigástrio, mas à medida que o extravasamento do conteúdo gástrico escorre pela goteira 
paracólica, a dorpode descer para o quadrante inferior direito. 
B. Forma de instalação e progressão da dor 
A forma de instalação da dor reflete a natureza e a gravidade do processo subjacente. A 
instalação pode ser explosiva (em segundos), rapidamente progressiva (ao longo de 1-2 horas) ou 
gradual (ao longo de várias horas). 
Uma dor súbita, excruciante e generalizada sugere catástrofe intra-abdominal, como víscera 
perfurada ou ruptura de aneurisma, gravidez ectópica ou abscesso. Sinais sistêmicos acompanhantes 
(taquicardia, sudorese, taquipneia, choque) logo suplantam os distúrbios abdominais e enfatizam a 
necessidade de reanimação rápida e laparotomia. 
Um quadro clínico menos drástico é o de dor constante e leve que se torna intensamente 
concentrada em uma região bem-definida ao longo de 1 a 2 horas. O quadro é mais característico de 
colecistite, pancreatite aguda, intestino estrangulado, infarto mesentérico, cólica renal ou ureteral e 
obstrução proximal de intestino delgado. 
Por fim, alguns pacientes apresentam, inicialmente, desconforto abdominal leve – às vezes, 
apenas vago – que está presente de maneira transitória e difusa em todo o abdome. Nesses casos, é 
possível que não esteja claro se esses pacientes apresentam, de fato, abdome agudo ou se o quadro 
deve ser acompanhado clinicamente em vez de cirurgicamente. No início, sintomas gastrintestinais 
associados são raros, e não há sintomas sistêmicos. Finalmente, a dor e os achados abdominais 
tornam-se mais evidentes, constantes e localizados em áreas menores. Essa instalação gradual 
conduzindo a uma dor mais localizada pode refletir doença de evolução lenta ou esforços de defesa 
do organismo para impedir um processo agudo. Nessa categoria ampla, estão os quadros de 
apendicite aguda (especialmente com o apêndice em posição retrocecal), hérnias encarceradas, 
obstruções distais de intestino delgado ou grosso, doença ulcerosa péptica não complicada, 
perfurações de parede de víscera (muitas vezes, de natureza maligna), algumas doenças urogenitais 
e ginecológicas, e formas mais leves do grupo de doenças de instalação rápida mencionado no 
primeiro parágrafo. 
C. Caráter da dor 
A natureza, a intensidade e a periodicidade da dor fornecem pistas úteis sobre a doença 
subjacente. A dor pode ser contínua ou intermitente. 
A dor constante é mais comum e frequentemente indica um processo que causa inflamação 
do peritônio. A dor pode ter intensidade constante ou flutuante, mas estará sempre presente. A dor 
constante, aguda e superficial causada por irritação peritoneal é típica de úlcera perfurada ou de 
ruptura de apêndice, cisto ovariano ou gravidez ectópica. 
A dor intermitente tipo cólica pode ocorrer por períodos curtos ou longos, mas é pontuada 
por intervalos livres de dor e é característica de obstrução de víscera oca. Em geral, a dor em aperto 
crescente da obstrução de intestino delgado (e, ocasionalmente, da fase inicial da pancreatite) é 
intermitente, vaga, profundamente localizada e, no início, aumenta de maneira gradual, mas 
evoluindo para se tornar mais aguda, sem remissão e mais bem localizada. 
Diferentemente da dor inquietante, mas suportável, associada à obstrução intestinal, a dor 
causada por lesões obstruindo condutos menores (ductos biliares, tubas uterinas, ureteres) logo se 
torna insuportavelmente intensa. Os intervalos livres de dor refletem a intermitência das contrações 
da musculatura lisa. No sentido estrito, a denominação “cólica biliar” é equivocada porque a dor biliar 
não sofre remissão, já que os ductos biliares não possuem movimentos peristálticos. 
Isabela G. Campos 
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Para qualificar o tipo de sensação dolorosa do paciente, são utilizados determinados 
descritores que podem ser característicos de certas doenças. O “dolorimento” da dor ulcerosa, a dor 
em “facada que suspende a respiração” da pancreatite aguda e do infarto mesentérico, a dor em 
“aperto” da obstrução intestinal e a dor “dilacerante” do aneurisma roto da aorta continuam sendo 
descrições adequadas. Apesar do uso desses termos descritivos, a qualidade da dor visceral não é um 
indicador confiável de sua causa. 
A intensidade da dor mantém relação com a gravidade da lesão. A dor agonizante denota 
doença grave ou avançada. A dor em cólica geralmente é rapidamente aliviada por analgésicos. A dor 
isquêmica por intestino estrangulado ou por trombose mesentérica é apenas ligeiramente mitigada 
até mesmo por opioides. A dor abdominal inespecífica geralmente é leve, mas também é possível 
haver dor leve em quadros de úlcera perfurada que se tornou localizada e de pancreatite aguda leve. 
Ocasionalmente, um paciente negará dor, mas relatará queixa vaga de plenitude abdominal com a 
sensação de que poderia ser aliviada com a evacuação dos intestinos. Essa sensação visceral (sinal de 
bloqueio dos gases) é causada por íleo reflexo induzido por lesão inflamatória contida na cavidade 
peritoneal, como na apendicite retrocecal. 
Episódios passados de dor e fatores que agravam ou aliviam a dor devem ser observados. A 
dor causada por peritonite localizada, especialmente quando afeta órgãos do abdome superior, 
tende a ser agravada por movimentos ou pela respiração profunda. 
A localização, o caráter e a intensidade da dor em relação à duração de sua instalação e a 
presença de sintomas sistêmicos ajudam a distinguir os quadros cirúrgicos rapidamente progressivos 
(p. ex., isquemia intestinal) de outras causas mais indolentes ou de tratamento clínico (p. ex., ruptura 
de cisto ovariano) e permitem o diagnóstico diferencial. 
 
 
 Exame Físico 
Isabela G. Campos 
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O exame físico envolve a avaliação do estado geral, sinais vitais, abdome (inspeção, ausculta, 
palpação e percussão), exame ginecológico, toque retal e tórax (inspeção, percussão, ausculta 
pulmonar e cardíaca). 
Antes da percussão e da palpação, deve-se realizar a ausculta abdominal e avaliar a reação do 
paciente ao tossir (dor intensa é indicativa de peritonite). A palpação deve ser iniciada de forma bem 
suave e no local mais distante daquele referido como o mais doloroso. Durante a palpação – e 
particularmente nas manobras de descompressão súbita –, deve-se conversar com o paciente para 
distraí-lo, evitando a defesa voluntária. A inspeção e a palpação devem pesquisar sinais de hérnias 
nas regiões inguinocrurais e na parede abdominal (cicatrizes cirúrgicas e umbilical, epigástrio e linha 
de Spiegel). 
Manobras especiais para pesquisar os sinais do psoas e do obturador podem auxiliar no 
diagnóstico de processos inflamatórios adjacentes a esses músculos. O toque retal é especialmente 
útil quando há suspeita de obstrução intestinal ou processo inflamatório na região pélvica, podendo 
detectar tumores, fecalomas, estenoses, compressões extrínsecas e abaulamentos quentes e 
dolorosos sugestivos de abscesso. A inspeção das fezes na luva também permite detectar a presença 
de sangue, muco ou pus. O exame ginecológico é indispensável nas pacientes com sintomas 
sugestivos de problemas ginecológicos e para o diagnóstico diferencial entre anexite e apendicite 
aguda. Dor intensa à mobilização da cérvice uterina e à palpação bimanual dos anexos é indicativa 
de doença inflamatória pélvica. 
o Sobre o Exame do abdome agudo: 
(a) Inspeção – O abdome deve ser minuciosamente inspecionado antes da palpação. Deve-se 
procurar por cicatrizes, hérnias, evidências de traumatismo, estigmas de doença hepática, massas 
evidentes, distensão e sinais de peritonite. Um abdome tenso e distendido com cicatriz antiga sugere 
a presença e a causa (aderências) de obstrução de intestino delgado. Um abdome escafoide e 
contraído é encontrado em casos de úlcera perfurada; em pacientes magros, é possível identificar 
peristalse visível em caso de obstrução intestinal avançada; e em casos de íleo paralítico inicial ou de 
trombose mesentérica, observa-se plenitude pastosa e mole. 
(b) Ausculta – A ausculta do abdome também deve preceder à palpação. Ondas peristálticas 
sincrônicascom a cólica são audíveis em caso de obstrução do intestino delgado e no início de 
pancreatite aguda. Elas diferem do som mais agudo do peristaltismo aumentado não relacionado 
com dor em cólica observado nos casos de gastrenterite, disenteria e colite ulcerativa fulminante. O 
abdome silencioso, exceto por guinchos raros, caracteriza obstrução intestinal tardia ou peritonite 
difusa. Exceto por esses padrões mais extremos, as muitas variações nos quadros abdominais tornam 
a ausculta, em grande parte, inútil para um diagnóstico específico. 
(c) Tosse para despertar a dor – Deve-se solicitar ao paciente que tussa e aponte para a área com dor 
máxima. A irritação peritoneal assim demonstrada pode ser confirmada posteriormente sem causar 
desconforto desnecessário com manobras para testar a presença de dor à descompressão súbita. 
Essa mesma localização pode ser obtida ao pedir que o paciente bata o pé no chão. Diferentemente 
da dor parietal da peritonite, a cólica é uma dor visceral e raramente se agrava com inspiração 
profunda ou com tosse. 
(d) Percussão – A percussão tem vários objetivos. A dor à percussão é análoga à manobra de 
descompressão rápida: ambas refletem irritação peritoneal e dor parietal. Em caso de víscera 
perfurada, o ar livre acumulado sob o diafragma pode eliminar a macicez normal sobre o fígado. A 
presença de som timpânico próximo da linha média em abdome distendido indica sequestro de ar 
no interior de alças intestinais distendidas. A presença de líquido livre na cavidade peritoneal pode 
ser detectada por meio de macicez de decúbito. 
Isabela G. Campos 
18 
 
(e) Palpação – A palpação deve ser realizada com o paciente confortável em decúbito dorsal. Deve-
se observar se há hérnia incisional e periumbilical. A dor à palpação que indica inflamação localizada 
do peritônio é o achado mais importante em pacientes com abdome agudo. A extensão e a 
intensidade são determinadas primeiramente por meio de palpação com um ou dois dedos, com 
início longe da área apontada como dolorosa com a manobra de tosse para gradualmente avançar 
em sua direção. Em geral, a dor à palpação é bem demarcada nos casos de colecistite aguda, 
apendicite, diverticulite e salpingite aguda. Se houver sensibilidade dolorosa mal-localizada não 
acompanhada por defesa, deve-se suspeitar de gastrenterite ou outro processo inflamatório 
intestinal sem peritonite. Em relação ao grau de dor, a sensibilidade vagamente localizada ou 
inesperadamente fraca à palpação ocorre em casos de obstrução não complicada de víscera oca, 
perfurações de parede visceral localizadas profundamente (p. ex., apendicite retrocecal ou fleimão 
diverticular) e em pacientes muito obesos. A dor intensa desproporcional ao exame indica isquemia 
mesentérica. 
o Sobre os Sinais de Exame Abdominal 
Alguns achados físicos isolados são associados a condições específicas e são descritos como 
“sinais” de exame: 
 
 
Isabela G. Campos 
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 Exames laboratoriais 
Os principais exames são hemograma, glicemia, creatinina sérica e exame qualitativo de urina 
(EQU). Conforme o caso, outros exames devem ser solicitados: 
− Amilasemia – Dores difusas ou abdome superior; 
− Fração β da gonadotrofina coriônica humana (β-hCG, do inglês human chorionic gonadotropin) – 
Mulheres em idade reprodutiva; 
− Eletrólitos – Casos de vômitos, diarreia, desidratação, obstrução intestinal, uso de diuréticos, 
nefropatia; 
− Bilirrubinas, aspartato-aminotransferase (AST), alanino-aminotransferase (ALT), fosfatase 
alcalina (FA) – Casos de doenças hepatobiliares; 
− Provas de coagulação – Suspeitas de coagulopatia; 
− Proteína C-reativa – Pode auxiliar na identificação dos casos mais graves na admissão e servir 
como referência comparativa ao longo do tratamento. 
− Urina I - infecção do trato urinário; litíase renal (hematúria) 
 
 
 Exames de imagem 
− Radiografias planas do abdome: devem incluir uma radiografia em posição supina e outra em 
posição ortostática. Sua maior utilidade é na detecção de corpos estranhos intra-abdominais 
(sensibilidade de 90%) e de obstrução intestinal (sensibilidade de 49%), sendo de pouca utilidade 
no diagnóstico definitivo de causas comuns de dor abdominal como apendicite, pancreatite, 
diverticulite e pielonefrite. Só 10% das radiografias abdominais revelam achados diagnósticos da 
causa da dor. Entretanto, são exames de baixo custo e geralmente disponíveis, sendo solicitados 
na maioria dos casos. O objetivo é avaliar presença de nível líquido, distenção de alças intestinais, 
calcificações. 
− 2. Radiografia de tórax: avaliar presença de pneumo-peritônio e excluir causas intratorácicas de 
dor abdomi-nal (p. ex., pneumonia de lobo inferior). 
− 3. Ultrassonografia (USG): avaliação rápida e de baixo custo de árvore biliar, fígado, pâncreas, 
baço, rins, vias urinárias e órgãos pélvicos. Exame inicial de escolha para o diagnóstico de várias 
patologias abdominais: aneurisma de aorta abdominal (paciente instável), cólica biliar, cole-
cistite, gravidez ectópica, abscesso tubo-ovariano, litíase renal. As USG transvaginal e transretal 
podem ser úteis a identificação de anormalidades pélvicas. A USG com Doppler permite avaliação 
de lesões vasculares, como aneurismas de aorta ou visceral, trombose venosa e anomalias. 
− 4. Tomografia de abdome: é o exame mais versátil para avaliação da dor abdominal. Permite a 
identificação de pneumoperitônio, padrões anormais das alças intestinais e calcificações (como 
Isabela G. Campos 
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na radiografia plana de abdome). Também pode revelar lesões inflamatórias (apendicite, 
diverticulite, pancreatite), neoplásicas, vasculares (aneurisma, trombose portal), traumáticas 
(lesão hepática, esplênica, renal) e hemorragias intra-abdominais e retroperitoneais. Como já 
relatado, em estudos recentes, a tomografia de abdome tem se mostrado um exame com maior 
acurácia no diagnóstico das causas de dor abdominal que a radiografia simples de abdome. Assim, 
deve ser considerada uma alternativa à radiografia como modalidade inicial na avaliação desses 
pacientes em centros que disponibilizem esse tipo de exame. 
− 5. Outros exames de imagem (angiorressonância, colangiorressonância): podem auxiliar no 
esclarecimento do quadro de dor abdominal. Entretanto, são de alto custo e não estão 
disponíveis em grande parte dos serviços. 
 
 REFEÊNCIAS: 
1. Sabiston tratado de cirurgia : a base biológica da prática cirúrgica moderna / Courtney M. Townsend ... [et al.] ; 
tradução GEA ; [colaboração Cary B. Aarons ... [et al.]]. - 20. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2019. 
2. CURRENT cirurgia : diagnóstico e tratamento [recurso eletrônico]/Gerard M. Doherty ... [et al.] ; tradução: Ademar 
Valadares Fonseca ... [et al.] ; revisão técnica: [Cleber Dario Pinto Kruel ... et al.]. – 14. ed. – Porto Alegre : AMGH, 
2017. 
3. Rotinas em cirurgia digestiva [recurso eletrônico] /Organizadores, Luiz Rohde ; Alessandro Bersch Osvaldt. – 3. ed. – 
Porto Alegre : Artmed, 2018. 
4. Clínica médica, volume 4: doenças do aparelho digestivo, nutrição e doenças nutricionais. – 2. ed. – Barueri, SP: 
Manole, 2016. 
5. GAMA-RODRIGUES, J.J.; MACHADO, M.C.C.; RASSLAN, S. Clínica Cirúrgica. Barueri, SP: Manole, 2008. 
 
2) SOBRE APENDICITE AGUDA, ENTENDA. 
A) Conceito 
É um processo inflamatório agudo do apêndice vermiforme, sendo uma das causas mais 
frequentes de abdome agudo inflamatório e de cirurgia de urgência. 
 
B) Etiologia 
Apresenta etiologia multifatorial. 
Em cerca de 70% dos casos de inflamacã̧o aguda do apêndice, a obstrucã̧o do lúmen proximal 
do órgão, provocada por fecalito, parasitos, tumores ou corpo estranho, representa o fator 
desencadeante do processo, com consequente proliferacã̧o bacteriana, e, nos 30% restantes, o fator 
desencadeante pode ser a hiperplasia linfoide ou, então, um processo catarral. 
As bactérias mais comumente envolvidas no processo são Escherichia coli, grupo Bacteroides 
fragillis, Peptos-treptococcus e Pseudomonas. 
Alémdisso, estima-se que 3% de helmintos sejam identificados em peças cirúrgicas 
(enterobíase 65%, angiostrongilíase 20%, multiparasitose 5%, teníase 4% e ascaridíase 3%). 
 
C) Epidemiologia 
Apendicite aguda é a principal causa de abdome agudo cirúrgico em todo o mundo, com uma 
prevalência de aproximadamente 7% da população. 
Ocorre com maior frequência entre 10 e 20 anos de idade. 
A doença ocorre predominantemente em crianças e jovens do gênero masculino (2:1 ou 3:2), 
especialmente na segunda e terceira décadas. Pode-se esperar que 8,6% dos homens e 6,7% das 
mulheres desenvolvam apendicite aguda durante a vida. 
Isabela G. Campos 
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Em cerca de 7% dos casos, surge antes de cinco ou após 60 anos de idade. 
O pico de incidência ocorre em adolescentes e adultos jovens; no entanto, um novo aumento 
na incidência de apendicite ocorre na sexta década de vida, e nenhuma faixa etária pode ser excluída. 
A pouca idade é um fator de risco: quase 70% dos pacientes que desenvolvem apendicite 
aguda têm menos de 30 anos. A maior incidência de apendicite no sexo masculino está na faixa etária 
dos 10 aos 14 anos; no sexo feminino, a maior incidência ocorre na faixa dos 15 aos 19 anos. 
Os pacientes das faixas etárias extremas são mais suscetíveis a desenvolver apendicite 
perfurada. De modo geral, a perfuração ocorre em 19,2% dos casos de apendicite aguda; porém, em 
pacientes com menos de 5 anos e com mais de 65 anos, esse índice é significativamente maior. 
 
D) Fisiopatologia 
Os dois principais fatores envolvidos na etiopatogênese de inflamação no apêndice são 
obstrução da luz e invasão bacteriana. 
A verdadeira etiopatogenia da apendicite aguda permanece desconhecida. Tradicionalmente, 
a causa mais comum e a explicação mais aceita para o desenvolvimento da apendicite são a 
obstrução da luz apendicular, mas isso não explica todos os casos. A obstrução da luz apendicular – 
seja por hiperplasia folicular de sua parede, por impactação fecal ou de um fecálito em sua base ou, 
mais raramente, por obstrução por tumor – desencadearia uma série de alterações que culminaria 
com o processo inflamatório. 
As causas da obstrução luminal são muitas e variadas. Estas incluem normalmente estase 
fecal e fecalitos, mas podem também incluir hiperplasia linfoide, neoplasias, materiais de frutas e 
vegetais, bário ingerido e parasitas como áscaris. 
Foi proposta uma sequência de eventos para explicar a apendicite: 
1º A obstrução do apêndice é causada por fecálito, edema da mucosa ou tecido linfoide localizado 
na mucosa e na submucosa da base do apêndice; 
2º A pressão intraluminal aumenta à medida que a mucosa apendicular secreta fluidos com um óstio 
apendicular obstruído; 
3º O aumento da pressão na parede apendicular supera a pressão capilar e causa isquemia da 
mucosa; 
4º O supercrescimento bacteriano intraluminal e a translocação de bactérias através da parede do 
apêndice resultam em inflamação, edema e, em última instância, necrose. Se o apêndice não for 
removido, a perfuração ocorre. 
Entendendo melhor... 
A obstrução do lúmen proximal do apêndice leva a aumento da pressão na porção distal 
devido a secreção mucosa e produção contínua de gás por bactérias do lúmen. Com a distensão 
progressiva do apêndice, a drenagem venosa fica prejudicada, resultando em isquemia da mucosa. 
Com a continuação da obstrução, surge isquemia transmural, que leva finalmente a 
perfuração. 
O supercrescimento bacteriano dentro do apêndice resulta da estase bacteriana distal à 
obstrução. Isso é significativo visto que esse supercrescimento resulta na liberação de um inóculo 
bacteriano maior nos casos de apendicite perfurada. 
Isabela G. Campos 
22 
 
O tempo desde o início da obstrução até a perfuração é 
variável e pode levar desde horas a alguns dias. A apresentação 
após perfuração é também variável. A sequela mais comum é a 
formação de um abscesso na região periapendicular ou pelve. Por 
vezes, no entanto, ocorre perfuração livre, resultando em 
peritonite difusa. 
Uma vez que o apêndice é uma dilatação sacular do ceco, a 
flora dentro do apêndice é semelhante à que se encontra no cólon. 
As infecções associadas com a apendicite devem ser consideradas 
polimicrobiana, e a cobertura antibiótica deve incluir agentes que 
se dirijam às bactérias Gram-negativas e anaeróbias. As bactérias 
mais comuns são a Escherichia coli, Bacteroides fragilis, 
enterococos, Pseudomonas aeruginosa e outras. 
A dor da apendicite tem componentes viscerais e somáticos. A distensão do apêndice é 
responsável pela dor abdominal vaga inicial (visceral) experimentada com frequência pelo paciente 
afetado. A dor geralmente não se localiza no quadrante inferior direito até que a ponta se torne 
inflamada e irrite o peritônio parietal adjacente (somática) ou que ocorra perfuração, resultando em 
peritonite localizada. 
 
 
E) Quadro Clínico. 
Habitualmente, o processo de apendicite inicia-se com dor periumbilical ou epigástrica, com 
posterior localizacã̧o na fossa iliáca direita, piorando com a movimentacã̧o e deambulacã̧o, podendo 
também ser acompanhada de náuseas e desconforto epigástrico. Nessa fase, aparece a constipacã̧o 
intestinal e, pela indefinicã̧o do quadro, é comum a administracã̧o de laxativos, no sentido de aliviar 
os sintomas. 
Isabela G. Campos 
23 
 
Febre moderada, de até 38°C, é também manifestacã̧o tiṕica, e a presenca̧ de temperaturas 
mais elevadas poderá sugerir outros diagnósticos ou, então, perfuracã̧o do apêndice. 
Lamentavelmente, os sinais e sintomas clássicos de apendicite aguda estão muitas vezes 
ausentes. Em algumas situacõ̧es, devido a variações na localizacã̧o do apêndice, as manifestacõ̧es 
clińicas poderão apresentar-se de forma atiṕica. 
Em alguns casos, um apêndice retrocecal pode gerar dor pélvica ou no flanco direito, 
enquanto um cólon mal rotacionado pode dar origem a uma apendicite no quadrante superior 
esquerdo. Assim como acontece com outras causas de inflamação aguda, há também a presença de 
leucocitose neutrofílica. Em alguns casos, a leucocitose periférica pode ser mínima ou, 
alternativamente, tão grande que outras causas são consideradas. 
Obs. O diagnóstico de apendicite aguda em crianças pequenas e idosos é particularmente 
problemático, uma vez que outras causas de emergências abdominais são prevalentes nessas 
populações, e as crianças pequenas e idosos também são mais propensos a mostrarem apresentações 
clínicas atípicas. 
A posicã̧o pélvica provocará sintomas urinários e retais, e, nas grávidas, a manifestacã̧o clińica 
poderá ser no quadrante superior direito ou periumbilical, decorrente do deslocamento do apêndice 
pelo útero grávido. 
Acrescentando... 
A apresentação clássica da apendicite aguda começa com dor abdominal em cólica, 
provavelmente devido à obstrução da luz apendicular. A dor pode ser periumbilical ou epigástrica, 
vaga e difícil de localizar, seguida de anorexia, náuseas e vômitos, que podem ou não estar presentes. 
A seguir, a dor desloca-se para o quadrante inferior direito do abdome, à medida que o processo 
inflamatório avança, com extensão transmural da inflamação, levando à inflamação do peritônio 
parietal adjacente. Isso geralmente ocorre dentro de 12 a 24 horas após o início dos sintomas. O 
movimento ou a manobra de Valsalva frequentemente pioram a dor; em alguns casos, os pacientes 
relatam piora da dor com os solavancos durante o transporte. 
 
 
 
 
-> Cerca de 12h após o começo dos sintomas, a dor migra 
em cerca de 50-60% dos pacientes, se localizando em fossa 
ilíaca direita, no ponto de McBurney, que é localizado no limite 
entre o terço médio e lateral de uma linha traçada da espinha 
ilíaca anterossuperior direita ao umbigo. 
Se a náusea e os vômitos precederem a dor, é mais provável que a causa para os sintomas 
não seja apendicite. Os vômitos, quando presentes, geralmente são limitados na apendicite, o que 
os diferencia dos pacientes com gastrenteriteviral. Diarreia pode ser uma das manifestações. Sua 
ocorrência é explicada pela irritação do intestino (delgado ou grosso) adjacente ao apêndice cecal ou 
mesmo por irritação do intestino pela presença de secreção purulenta adjacente às alças. A 
manifestação de diarreia, da mesma forma que as náuseas e os vômitos, costuma ocorrer depois do 
início da dor; sua presença previamente à dor sugere outra etiologia. 
Às vezes, os pacientes podem apresentar febre baixa, de até 38,3 °C, mas geralmente ocorre 
mais tarde no curso da doença e sinaliza situações mais complexas, como peritonite ou abscesso. 
Temperaturas mais elevadas e tremores devem alertar o cirurgião para outros diagnósticos, como 
Isabela G. Campos 
24 
 
pielonefrite, por exemplo. Quando questionados, os pacientes com apendicite geralmente relatam 
anorexia, sendo esse diagnóstico improvável nos pacientes com o apetite preservado. 
Se não for diagnosticada precocemente, a inflamação do apêndice tende a progredir para 
necrose e, por fim, para perfuração. O tempo de evolução da apendicite para necrose e perfuração 
varia. A taxa média de perfuração na apresentação do quadro está entre 16 e 30%, mas aumenta 
significativamente em pessoas idosas e crianças jovens, em geral devido a um atraso no diagnóstico. 
Cerca de 20% dos pacientes com apendicite perfurada apresentam-se para atendimento menos de 
24 horas após o início dos sintomas. Após as primeiras 36 horas, a taxa média de perfuração está 
entre 16 e 36%, e o risco de perfuração aumenta em 5% para cada período subsequente de 12 horas. 
Embora a perfuração seja uma preocupação quando se avaliam pacientes com sintomas há mais de 
24 horas, a perfuração pode desenvolver-se mais rapidamente e deve ser sempre considerada. 
Os pacientes com apendicite perfurada apresentam-se com quadro agudo, com desidratação 
e anormalidades eletrolíticas importantes, especialmente se febre e vômito estiveram presentes por 
um tempo considerável. Em geral, a dor abdominal tem evolução de 2 dias ou mais; na maioria dos 
casos, localiza-se no quadrante inferior direito, se a perfuração tiver sido bloqueada pelo omento ou 
outras estruturas intra-abdominais, ou pode ser difusa, se ocorreu peritonite generalizada. Muitas 
vezes, ocorrem calafrios e febre. 
A maioria dos pacientes com apendicite perfurada apresenta sintomas relacionados com a 
inflamação do próprio apêndice ou de um abscesso intraperitoneal localizado. No entanto, outras 
formas de apresentação mais raras podem ocorrer, especialmente em pacientes muito jovens ou 
idosos. A perfuração apendicular pode apresentar-se de formas incomuns, como formação de 
abscesso retroperitoneal pela perfuração de apêndice retrocecal ou formação de abscesso hepático 
pela disseminação hematogênica da infecção pelo sistema venoso portal. Febre alta e icterícia podem 
ser vistos com pileflebite (trombose séptica da veia porta), que pode ser confundida com colangite. 
Essas apresentações raras devem alertar o cirurgião para a possibilidade de apendicite como fator 
etiológico. 
 
F) Diagnóstico e Diagnóstico Diferencial. 
O diagnóstico da apendicite aguda é clínico, associando uma boa anamnese e um exame físico 
que inclui a busca dos sinais clínicos já ressaltados. 
Pode-se ter auxílio de alguns exames complementares, sendo que estes não devem atrasar a 
intervenção cirúrgica. Além da cronologia característica: dor abdominal difusa  anorexia, vômito e 
náusea  migração da dor para a fossa ilíaca direita. Outro método adicional de confirmação de 
diagnóstico para casos mais incertos são os escores. 
Vários questionários e escores foram elaborados para tentar auxiliar no diagnóstico de 
apendicite. O mais conhecido deles é o escore de Alvarado, que se baseia em história clínica, achados 
do exame físico e alterações laboratoriais para determinar com menor ou maior probabilidade o risco 
do diagnóstico de apendicite. Entretanto, nenhum método apresenta acurácia adequada, e nenhum 
substitui a impressão diagnóstica de um profissional experiente na avaliação de abdome agudo. Por 
essa razão, esses escores não são usual-mente utilizados na prática clínica. 
O escore de Alvarado, que é baseado em três sintomas, três sinais e dois achados 
laboratoriais. De acordo com Alvarado, um valor no escore maior que cinco ou seis pontos é 
compatível com apendicite e o paciente deve permanecer em observação. Quando o valor é maior 
que sete ou oito pontos indica maior probabilidade de apendicite e valor de nove ou dez pontos é 
Isabela G. Campos 
25 
 
compatível com alta probabilidade da doença. Nos dois últimos casos a laparotomia pode ser 
indicada. 
 
 Diagnóstico CLÍNICO 
O paciente deve ser submetido a um cuidadoso exame físico, incluindo exame retal e, na 
mulheres, ginecológico. 
À inspeção, os pacientes parecem levemente doentes e podem apresentar a temperatura e a 
frequência cardíaca ligeiramente elevadas. 
O exame físico geralmente é o indicador mais confiável de apendicite. Os pacientes com 
apendicite – excluindo crianças, idosos, imunodeprimidos e pacientes com alterações neurológicas – 
apresentam algum grau de sensibilidade à palpação do abdome. 
O cirurgião deve analisar sistematicamente todo o abdome, iniciando pelo quadrante superior 
esquerdo, longe do local onde o paciente descreve a dor. Em geral, a sensibilidade máxima está no 
quadrante inferior direito, ou perto de ponto de McBurney, localizado na união do terço lateral com 
o terço médio da linha entre a espinha ilíaca anterossuperior e a cicatriz umbilical (sensibilidade: 50-
94%; especificidade: 75-86%). Essa sensibilidade está frequentemente associada à rigidez muscular 
localizada e a sinais de inflamação peritoneal. 
A irritação peritoneal pode ser evidenciada no exame físico pela produção de dor à percussão 
e/ou à descompressão do abdome (sinal de Blumberg, quando na fossa ilíaca direita). Qualquer 
movimento, incluindo tosse (sinal de Dunphy), pode causar aumento da dor. No entanto, o indicador 
mais confiável de irritação peritoneal é a defesa involuntária, um reflexo de contração da 
musculatura da parede abdominal que está sobre o peritônio inflamado. A natureza involuntária 
dessa resposta é menos dependente da variação individual observada em resposta a estímulos 
externos. Outros sinais físicos associados à apendicite incluem: 
 Sinal de Rovsing – Dor no quadrante inferior direito durante a palpação do quadrante inferior 
esquerdo, com sensibilidade de 22 a 68% e especificidade de 58 a 96%; 
 Sinal do obturador – Dor na rotação interna da coxa flexionada sobre o quadril, sugerindo 
apêndice pélvico. Tem sensibilidade de 8% e especificidade de 94%; 
 Sinal do psoas – Dor na flexão do membro inferior direito sobre o quadril, típica de apêndice 
retrocecal. A sensibilidade é de 13 a 42%, e a especificidade, de 79 a 97%. 
Isabela G. Campos 
26 
 
A dor no quadrante inferior direito é o mais consistente de todos os sinais de apendicite 
aguda; assim, sua presença deve sempre levantar a suspeita de apendicite, mesmo na ausência de 
outros sinais e sintomas. No entanto, devido às várias localizações anatômicas do apêndice, é possível 
que a dor se manifeste no flanco direito ou no quadrante superior direito, na região suprapúbica, ou 
no quadrante inferior esquerdo. 
No caso de apêndice localizado na pelve, a sensibilidade no exame abdominal pode ser 
mínima, mas esta será evidente no exame retal, com a manipulação do peritônio pélvico. 
Ao exame ginecológico, com a mobilização do colo do útero e a consequente manipulação do 
peritônio pélvico, a sensibilidade será evidente quando o apêndice estiver localizado nessa região. 
Assim, o achado de dor à mobilização do colo do útero não indica necessariamente patologia 
ginecológica, mas é um sinal inespecífico de inflamação na pelve, em que a apendicite deve ser 
considerada. 
 Diagnóstico LABORATORIAL 
O diagnóstico de apendicite aguda é predominantemente clínico; logo, poucos exames 
laboratoriaissão necessários. Não existe exame específico, mas o uso criterioso de alguns exames 
permite a exclusão de outras patologias e fornece evidências adicionais para confirmar o diagnóstico 
clínico de apendicite. 
Além da história e do exame físico, o leucograma talvez seja o teste laboratorial mais útil. 
Na maioria dos pacientes, há leve leucocitose, embora possa estar dentro dos limites da normalidade 
nas fases iniciais do quadro de apendicite. Leucocitose acima de 20.000 leucócitos por mL sugere 
apendicite complicada por necrose ou perfuração. 
A leucocitose, muitas vezes com um “desvio à esquerda” (predomínio de neutrófilos e por 
vezes um aumento nas formas jovens), está presente em 90% dos casos. No entanto, uma contagem 
de leucócitos normal é encontrada em 10% dos casos e não deve ser usada como teste isolado para 
excluir a presença de apendicite. 
A proteína C-reativa (CRP) é um marcador inflamatório, não específico para apendicite; 
porém, níveis elevados (> 7 mg/dL) estão associados a casos de apendicite complicada. Lembrando 
que, não é sensível nem específica para o diagnóstico (ou exclusão) de apendicite. 
Um exame comum de urina pode ser útil para excluir infecção urinária ou nefrolitíase. Piúria, 
bacteriúria ou hematúria podem ser vistos em até 40% dos pacientes, podendo dificultar a 
diferenciação entre apendicite aguda e infecções urinárias. No entanto, pacientes com pielonefrite 
apresentam febre e leucocitose muito mais elevadas que as observadas na apendicite; além disso, 
sintomas de disúria estarão presentes, e a sensibilidade estará mais localizada no flanco ou na região 
do ângulo costovertebral. A infecção urinária, por outro lado, não é incomum em pacientes com 
apendicite; assim, sua presença não exclui o diagnóstico de apendicite aguda, mas deve ser 
identificada e tratada. Ou seja, a análise de urina também é geralmente normal, embora o achado 
de esterase leucocitária ou piúria não seja incomum e exista presumivelmente por causa da 
proximidade do apêndice inflamado com a bexiga ou o ureter. Se a apresentação for fortemente 
sugestiva de apendicite, uma análise de urina “positiva” não deve ser usada como teste isolado para 
refutar o diagnóstico. 
As dosagens de enzimas hepáticas e amilase podem ser úteis no diagnóstico de doenças do 
fígado, da vesícula ou do pâncreas em pacientes com queixa de dor no quadrante superior direito do 
abdome ou no epigástrio. 
Em mulheres em idade fértil, a dosagem urinária da gonadotrofina coriônica humana (hCG) 
está indicada para excluir a possibilidade de gravidez ectópica ou de gravidez simultânea. A gravidez 
Isabela G. Campos 
27 
 
ectópica é outra causa de dor no quadrante inferior direito que requer diagnóstico e tratamento 
imediatos. 
 Diagnóstico por IMAGEM 
Não existe especificidade nos exames de imagens para afirmacã̧o do diagnóstico da 
apendicite aguda, mas deverão ser analisados em conjunto com as manifestacõ̧es clińicas. 
Os exames de imagem são particularmente úteis em alguns grupos de pacientes, incluindo 
crianças, idosos, mulheres em idade fértil e pacientes com comorbidades, como diabetes, 
obesidade e imunossupressão, nos quais há maior ocorrência de apresentação atípica de apendicite. 
Os exames de imagem que potencialmente contribuem para o diagnóstico de apendicite 
aguda incluem a ultrassonografia (US) e a tomografia computadorizada (TC) do abdome. 
A radiografia simples do abdome não é mais utilizada na avaliação do paciente com suspeita 
de apendicite, mas poderia evidenciar um fecálito no quadrante inferior direito. Esse achado é raro 
e, de qualquer forma, não estabelece o diagnóstico de apendicite quando presente. ADEMAIS, os 
raios X simples do abdome poderão mostrar alca̧ intestinal sentinela bloqueando o processo 
apendicular, além do velamento da margem direita do músculo psoas, decorrente do 
comprometimento peritoneal. 
A US do abdome é um método de imagem popular para a avaliação de uma suspeita de 
apendicite aguda. Tem sensibilidade de 75 a 95%, especificidade de 85 a 100%, e acurácia entre 90 e 
96%. Os achados que sugerem apendicite incluem: Espessamento da parede do apêndice; Diâmetro 
total do órgão acima de 6 mm; Perda da compressibilidade da sua parede; Aumento da ecogenicidade 
de gordura periapendicular e líquido pericecal; Visualização de apendicolito. 
Além disso, a US do abdome e a US transvaginal são particularmente úteis na avaliação das 
causas obstétricas e ginecológicas da dor abdominal em mulheres em idade fértil. Se a US evidenciar 
sinais de abscesso tubo-ovariano, torção de ovário ou mesmo complicações raras relacionadas com 
miomas uterinos, então o diagnóstico de apendicite pode ser excluído. 
A TC abdominal e pélvica é outro método de imagem indicado para avaliar uma suspeita de 
apendicite aguda. As vantagens da TC são sua alta precisão diagnóstica para apendicite e a 
visualização ou diagnóstico de muitas outras causas de dor abdominal que fazem parte do 
diagnóstico diferencial. A TC pode diagnosticar apendicite aguda com sensibilidade de 90 a 100%, 
especificidade de 91 a 99%, valor preditivo positivo (VPP) de 95 a 97%, e acurácia global de 90 a 98%. 
Os achados de apendicite na TC incluem: Aumento do diâmetro do órgão: > 6 mm; Aumento da 
espessura da parede do apêndice: > 2 mm; Aumento da densidade do tecido adiposo adjacente, 
sugerindo inflamação; Visualização de apendicolito. 
Obs. Uma grande desvantagem da TC é a utilização de radiação e, às vezes, contraste IV. 
A ressonância magnética (RM) tem sido utilizada na avaliação de apendicite há mais de duas 
décadas. Os principais obstáculos para seu uso são a disponibilidade limitada dos aparelhos em 
instituições de menor porte, o custo do exame, o tempo necessário para sua realização e a pouca 
experiência dos radiologistas com a investigação dessa queixa específica. A RM é particularmente 
adequada em pacientes grávidas em que a US foi inconclusiva e há dúvida diagnóstica. Um apêndice 
cheio de líquido e aumentado (> 7 mm de diâmetro) é considerado um achado anormal, enquanto 
um apêndice com um diâmetro de 6 a 7 mm é considerado um achado inconclusivo. 
 Diagnóstico Diferencial 
A apendicite deve ser considerada em todos os pacientes (que não tenham feito 
apendicectomia) que se apresentem com dor abdominal aguda. O conhecimento dos processos da 
doença que podem ter sintomas e sinais de apresentação semelhantes é essencial para evitar uma 
Isabela G. Campos 
28 
 
operação incorreta e desnecessária. A consideração da idade e gênero do paciente podem ajudar a 
estreitar a lista de possíveis diagnósticos. 
Em crianças, outras patologias devem ser consideradas, tais como adenite mesentérica 
(observada frequentemente após doença viral), gastroenterite aguda, intussuscepção, diverticulite 
de Meckel, doença inflamatória intestinal e, em meninos, torsão testicular. A nefrolitíase e infecção 
do trato urinário podem-se manifestar como dor no quadrante inferior direito em qualquer um dos 
gêneros. 
Nas mulheres em idade fértil, o diagnóstico diferencial expande-se ainda mais. Os problemas 
ginecológicos podem ser confundidos com apendicite e resultar em uma taxa de apendicectomia 
negativa mais elevada do que em homens de idade comparável. Estes incluem ruptura de cistos 
ovarianos, mittelschmerz (dor no meio do ciclo ocorrendo com a ovulação), endometriose, torsão 
ovariana, gravidez ectópica, doença inflamatória pélvica. 
Nos idosos deve ser dada consideração à diverticulite aguda e doença maligna como possíveis 
causas de dor abdominal inferior. 
No paciente neutropênico, a tiflite (também conhecida como enterocolite neutropênica) 
deve também ser considerada no diagnóstico diferencial. 
 
G) Tratamento. 
A melhor maneira de tratar a apendicite aguda é fazê-lo na fase precoce da doença. No 
entanto, como já foi visto, esse objetivo nem sempre é facilmente atingido devido à complexidade 
das manifestações da doença e ao fato de muitos pacientes não procurarematendimento médico 
em tempo hábil. No passado, aceitava-se um número de apendicectomias brancas de até 10%. A 
melhora na realização dos métodos de imagem tem reduzido essa taxa. 
Os pacientes com apendicite aguda exigem hidratação adequada com líquidos IV, correção de 
distúrbios eletrolíticos, medicações sintomáticas e antibióticos perioperatórios. 
Todos os pacientes devem receber antibióticos profiláticos de amplo espectro, que diminuem 
a incidência de infecção da ferida pós-operatória nas apendicites iniciais e diminuem a formação de 
abscesso intra-abdominal nas apendicites complicadas. 
A maioria dos pacientes com apendicite aguda é tratada por remoção cirúrgica imediata do 
apêndice. 
o Apendicite Aguda não Complicada: 
O tratamento adequado para apendicite aguda não complicada é a apendicectomia imediata. O 
paciente deve realizar reanimação hídrica conforme indicado, e a administração de antibióticos de 
amplo espectro dirigidos contra organismos anaeróbios e Gram-negativos deve ser iniciada de 
imediato. 
A administração antibiótica não é continuada além da dose pré-operatória única. 
o Apendicite Perfurada: 
A estratégia operatória para a apendicite perfurada é semelhante à da apendicite não complicada, 
com algumas exceções dignas de nota. Em primeiro lugar, o paciente pode necessitar de uma 
reanimação mais agressiva antes de prosseguir para a sala de operações. Tal como na apendicite não 
complicada, a terapia antibiótica deve ser iniciada de imediato no momento do diagnóstico. 
Tanto a abordagem aberta quanto laparoscópica são aceitáveis para o tratamento da apendicite 
perfurada. 
No pós-operatório, os antibióticos de amplo espectro são continuados por 4 a 7 dias de acordo com 
as diretrizes da IDSA. 
Isabela G. Campos 
29 
 
 
H) Complicações. 
Perfuração é a principal complicação da apendicite; ocorre quando há necrose da parede 
(gangrena) por comprometimento vascular por trombose, edema e compressão por fecálito. A 
parede torna-se cianótica e friável e rompe-se. Perfuração leva a peritonite generalizada ou 
localizada (abscesso periapendicular). 
A perfuracã̧o do apêndice ocorre em cerca de 20% dos casos e devera ́ser sempre considerada 
em casos com evolucã̧o superior a 24 h, além da presenca̧ de dor persistente e contińua, com febre 
elevada e sinais de irritacã̧o peritoneal. A perfuração poderá estar bloqueada, constituindo abscesso 
localizado junto ao apêndice, ou, então, poderá ocorrer a perfuracã̧o livre em cavidade abdominal, 
com consequente processo de peritonite supurativa e concomitante quadro de toxemia 
desencadeado pela sepse. 
Outras complicações da apendicite aguda são pileflebite, trombose da veia porta, abscessos 
hepáticos e bacteriemia. 
Obs. Também pode ocorrer septicemia. 
 
 REFERÊNCIAS 
1. A gastroenterologia no século XXI : manual do residente da Federação Brasileira de Gastroenterologia / Flávio 
Antonio Quilici, Nelma Pereira de Santana, José Galvão-Alves. - 1. ed. - Barueri [SP] : Manole, 2019. 
2. Bogliolo, patologia/Geraldo Brasileiro Filho. – 9. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 
3. Gastroenterologia essencial / Renato Dani, Maria do Carmo Friche Passos. – 4. ed. – [Reimpr.]. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 2018. 
4. Robbins & Cotran, patologia : bases patológicas das doenças / Vinay Kumar, Abul Abbas, Jon Aster ; com ilustrações 
de James A. Perkins. - 9. ed. - [Reimpr.]. - Rio de Janeiro : GEN | Grupo Editorial Nacional. Publicado pelo selo Editora 
Guanabara Koogan Ltda., 2021. 
5. Rotinas em cirurgia digestiva [recurso eletrônico] /Organizadores, Luiz Rohde ; Alessandro Bersch Osvaldt. – 3. ed. – 
Porto Alegre: Artmed, 2018. 
6. Sabiston tratado de cirurgia : a base biológica da prática cirúrgica moderna / Courtney M. Townsend... [et al.] ; 
tradução GEA ; [colaboração Cary B. Aarons ... [et al.]]. - 20. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2019. 
 
	Tutoria (UC XIV)
	1) sobre o abdome agudo, entenda:
	a) Definição.
	EXTRA -> Causa mais comum.
	2) Sobre apendicite AGUDA, ENTENDA.

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