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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O abdome agudo não traumático é uma das condições mais prevalentes em pacientes que procuram serviço médico de urgência. Abdome agudo -> síndrome clínica caracterizada por dor abdominal, de início súbito ou com progressão rápida, que necessita de tratamento clínico/cirúrgico rapidamente. ❖ Os sintomas clínicos associados podem incluir vômitos, diarreia, distensão abdominal, letargia, inapetência e choque. Investigar detalhadamente a dor tem importância fundamental na abordagem, sobretudo porque pode ser o único sintoma e usualmente é o que induz o paciente a procurar assistência médica. ❖ A caracterização da dor, incluindo tempo de início, intensidade, localização, ritmo, tipo de dor, bem como fatores que agravam ou atenuam, auxiliam a definição diagnóstica e orientam a escolha de exames laboratoriais e de imagem na propedêutica complementar. A maioria dos pacientes tem uma etiologia benigna e/ou autolimitada, e o objetivo inicial da avaliação é identificar os pacientes que apresentam uma etiologia grave e podem necessitar de intervenção imediata. São 5 os tipos de abdome agudo: ❖ Inflamatório. ❖ Obstrutivo. ❖ Perfurativo. ❖ Hemorrágico. ❖ Isquêmico/vascular. EPIDEMIOLOGIA A dor abdominal representa 5-10% dos atendimentos no departamento de emergência. Apesar do avanço nos recursos diagnósticos, a dor abdominal indiferenciada é o diagnóstico de cerca de 25% dos pacientes que receberam alta médica e de 35 a 41% dos pacientes internados. Pacientes idosos com dor abdominal têm aumento de 6-8x na mortalidade, quando comparados com pacientes mais jovens. Dentre os tipos de abdome agudo, o inflamatório é o mais prevalente de todos. Tendo como principais diagnóstico a apendicite, colecistite e pancreatite. Apesar disso, o tipo obstrutivo representa cerca de 20% das internações em serviços de cirurgia e tem seu pico de incidência na quinta década de vida. O abdome agudo do tipo perfurativo é a terceira causa mais comum. Tem uma mortalidade de 10%. O hemorrágico é considerado raro, com uma taxa de 2% apenas de pacientes que procuram o serviço de urgência. Entretanto, ele possui uma maior taxa de mortalidade, 40-100%. O tipo isquêmico/vascular é o menos comum de ser encontrado em emergências abdominais. Porém, também apresenta alta mortalidade, principalmente quando o diagnóstico acontece tardiamente. ETIOLOGIA 8 doenças respondem por cerca de 90% dos pacientes que procuram serviço de urgência em enfermaria cirúrgica queixando- se de dor abdominal aguda: apendicite aguda, colecistite aguda, obstrução intestinal, cólica nefrítica, úlcera péptica perfurada, pancreatite aguda, doença diverticular complicada e dor abdominal não cirúrgica inespecífica, como constipação e dispepsia. Endócrinas e metabólicas -> uremia, crises diabéticas, crises addissonianas, porfiria intermitente aguda, hiperlipoproteinemia aguda, febre hereditária do Mediterrâneo. Hematológicas -> crise falciforme, leucemia aguda, outras discarias sanguíneas. Toxinas e medicamentos -> intoxicação por chumbo, intoxicação por outros metais pesados, abstinência de narcóticos, envenenamento por aranha viúva-negra. Infecções e distúrbios inflamatórios -> tabes dorsalis, herpes-zoster, febre reumática aguda, púrpura de Henoch-Shonlein, LES, poliartrite nodosa. Dor referida -> região torácica (IAM, pneumonia, pericardite aguda, empiema, pleurisia, embolia pulmonar), quadril e dorso. Existem, ainda, as etiologias de acordo com o tipo de abdome agudo: ❖ Obstrutivo -> obstruções mecânicas, que podem ser por estenoses, obstrução, compressão extrínseca, vasculares, primárias e secundárias. E as de causas paralítica/funcional. ❖ Perfurativo -> processos inflamatórios como úlceras pépticas, DII, neoplasias, infecções do aparelho digestivo por citomegalovírus, TB intestinal, Salmonella, ingestão de corpo estranho. ❖ Hemorrágico -> traumatismo abdominal, pós-operatório e procedimentos abdominais diagnósticos. ❖ Isquêmico/vascular -> acontece devido a oclusão de artérias ou veias na região mesentérica. ABDOMINAIS EXTRA-ABDOMINAIS Gastrintestinais Torácicas Pâncreas, fígado e baço Hematológica Peritoneal Neurológica Urológica e Ginecológica Metabólica Retroperitoneal Relacionadas a intoxicações Parede abdominal Etiologia desconhecida APG 14 - ABDOME AGUDO Maria Luiza Sena – Med XIV FASA FISIOPATOLOGIA O peritônio é uma membrana serosa, derivada do mesênquima, que reveste o interior da cavidade abdominal. Sua extensa rede capilar sanguínea e linfática assegura--lhe função protetora por meio da exsudação, absorção e formação de aderências. O peritônio divide o abdome nas cavidades peritoneal e retroperitônio e pode ser dividido topograficamente em peritônio visceral e parietal. A inervação do peritônio visceral provém do SN autônomo, simpático e parassimpático. Já a inervação de seu folheto parietal origina-se do sistema somático, dos 6 últimos nervos intercostais (T6-T12), que também inervam os músculos da parede abdominal. ❖ Isso justifica o fato de a irritação do peritônio parietal ser acompanhada de contratura muscular da parede abdominal. O peritônio propicia superfície de troca de cerca de 1m² e contém aproximadamente 100mL de líquido peritoneal, composto por macrófagos e linfócitos. A introdução de bactérias/irritantes (secreção pancreática, gástrica, urina, bile, sangue etc.) pode provocar extravasamento de líquido da membrana peritoneal. A pressão negativa gerada pelo relaxamento do diafragma causa fluxo ascendente do líquido peritoneal para pequenas fenestrações especializadas do diafragma que possibilitam o acesso ao sistema linfático. Em vigência de infecção, microorganismos e mediadores da defesa do organismo podem atingir rapidamente o sistema venoso através do ducto torácico. ❖ O peritônio responde à inflamação com maior fluxo sanguíneo, maior permeabilidade e formação de exsudato fibrinoso em sua superfície. A lesão tissular leva à degranulação dos mastócitos, liberando histamina, cininas, leucotrienos, prostaciclinas e radicais livres. O processo inflamatório também pode ter repercussões sistêmicas, quando esses mediadores atingem a corrente sanguínea, levando ao aumento da permeabilidade vascular e ao relaxamento da musculatura lisa, podendo resultar em colapso vascular periférico e choque. ❖ O estado fisiológico resultante é conhecido como síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS) e, quando associado à origem bacteriana, origina a sepse. A dor abdominal divide-se em: Dor visceral -> tende a ser vaga e imprecisamente localizada nas regiões do epigástrio, periumbilical ou hipogástrio, dependendo de sua origem no intestino embrionário. ❖ Imprecisa porque as estruturas abdominais contêm sistemas sensitivos pouco desenvolvidos. ❖ É consequência da distensão súbita, estiramento, isquemia, tração ou contração rápida e violenta das vísceras abdominais. Dor parietal -> está relacionada com as raízes nervosas segmentares que inervam o peritônio parietal e tende a ser mais aguda e bem localizada. O exemplo típico é a dor localizada no ponto de McBurney, na apendicite aguda mais avançada. Dor referida -> é a dor percebida em um local distante da fonte de estímulo, como ocorre na irritação do diafragma, que pode produzir dor no ombro. Dor irradiada -> decorre da estimulação direta da raiz posterior de um nervo espinhal e é percebida no dermátomo correspondente à raiz estimulada. Ocorre, por exemplo, na lombociatalgia provocada pela hérnia de disco lombar. CLASSIFICAÇÃO E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Divide-se o abdome agudo em 5 grandes síndromes. Muitas vezes, as características de mais de uma síndrome se sobrepõem durante a evolução de uma doença, à medida queela progride e se complica, mas o quadro inicial predominante em geral permite a classificação etiológica. ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO É o tipo mais comum de abdome agudo. Habitualmente, o processo se inicia com a obstrução mecânica de vísceras ocas normais ou anatomicamente alteradas, originando diversos fenômenos inflamatórios na parede da víscera, com tendência à progressão para infecção e comprometimento da vascularização. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O início do quadro geralmente é insidioso, com sintomas vagos (náuseas, anorexia, vômito, dor abdominal). A dor pode levar de 1 a várias horas para atingir seu pico. Com a evolução da doença e com o acometimento do peritônio parietal adjacente ao órgão afetado, a dor torna-se bem localizada e piora progressivamente. ❖ É comum a presença de massas à palpação do abdome, resultantes da reação do peritônio à agressão, na tentativa de limitar o processo e preservar o restante da cavidade. Apendicite constitui a causa mais comum do abdome agudo cirúrgico -> dor epigástrica/periumbilical, tipo visceral, seguida por anorexia, náuseas e vômitos, e posterior localização em QID. A febre é baixa e a leucocitose é moderada. ❖ US confirma o diagnóstico clínico -> demonstra o apêndice inflamado, visto como estrutura tubular aperistáltica, não compressível, com paredes espessadas. ❖ Tratamento cirúrgico. Recomenda-se antibioticoterapia profilática até a cirurgia. ABDOME AGUDO PERFURATIVO Trata-se de uma das causas mais frequentes de cirurgia abdominal de urgência. A dor tem início súbito, geralmente dramático, já começando de forma intensa, rapidamente atingindo seu pico. Os pacientes costumam precisar a hora exata do início dos sintomas. O problema advém do extravasamento de secreção contida no trato gastrintestinal para a cavidade peritoneal, o que é traduzido por peritonite. A dor tipo somática vem da irritação química do peritônio, e, quanto menor o pH, maior a irritação. Em 12h de evolução do quadro, a peritonite química torna-se bacteriana, aparecendo os sinais de infecção. ❖ Exame clínico -> demonstra silencio abdominal e rigidez muscular (“abdome em tábua”). A temperatura é normal, e náuseas e vômitos podem estar presentes. ❖ Radiografia simples revela penumoperitônio, sendo o exame de imagem de escolha. As perfurações costumam ser divididas em altas (gastroduodenal e delgado proximal) e baixas (delgado distal e cólon). ❖ Perfurações altas -> comportam-se como as gastroduodenais, com dor abdominal intensa e grande irritação peritoneal. ❖ Perfurações baixas -> a dor abdominal é mais discreta, e os sinais de irritação peritoneal são menos exuberantes, mas originam quadros sépticos mais precoces. O tratamento é sempre cirúrgico, sendo o prognóstico pior quanto maior o tempo de perfuração. Devem-se sempre associar antibióticos de largo espectro ao tratamento cirúrgico. Úlcera péptica -> é a causa mais comum de perfuração. Os pacientes idosos são os mais afetados. A dor pode simular apendicite aguda, à medida que migra para o QID. ❖ O paciente procura manter-se imóvel, com restrição respiratória, devido à irritação peritoneal. Penumoperitônio está presente em 80% dos casos. ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO O sintoma cardinal desse tipo de abdome é a cólica intestinal, demonstrando o esforço das alças para vencer o obstáculo que está impedindo o trânsito normal. A dor é visceral, localizada em região periumbilical e hipogástrica, intercalada com períodos livres de dor no início da evolução. ❖ Os episódios de vômito surgem após a crise de dor, inicialmente reflexos, e são progressivos, na tentativa de aliviar a distensão das alças obstruídas. Exame clínico -> peristaltismo aumentado, exacerbado (peristaltismo de luta). Febre normalmente não está presente. A desidratação é acentuada pelas perdas provocadas pelo vômito, sendo pior nas obstruções altas. Quanto mais alta a obstrução, mais precoces, frequentes e intensos serão os vômitos, menor a distensão abdominal e mais tardia a parada de eliminação de gases e fezes. Quanto mais baixa a obstrução, maior distensão abdominal, mais precoce a parada de eliminação de flatos e fezes, e, devido ao supercrescimento bacteriano no segmento obstruído, os vômitos, que são tardios, adquirem aspecto fecalóide. ABDOME AGUDO VASCULAR/ISQUÊMICO Constitui doença grave. A fisiopatologia envolve uma lesão isquêmica inicial, decorrente da redução do fluxo arterial venoso, perpetuada pelo vasoespasmo reflexo da circulação mesentérica e completada pela lesão de reperfusão. A dor abdominal é o sintoma inicial, geralmente muito intensa, fora de proporções com os achados clínicos, que são inespecíficos. Passada a fase inicial de dor abdominal, vem a fase intermediária, caracterizada por peritonite. Na 3ª fase, acentuam-se os sinais abdominais, surgindo a instabilidade hemodinâmica, o choque refratário e óbito. ! Os exames clínicos e laboratoriais são inespecíficos. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA A radiologia convencional afasta outras causas de abdome agudo e pode mostrar espessamento da parede das alças intestinais, alças tubuliformes, fixas e imutáveis, e penumoperitônio, o que indica lesões em fase bem avançada. A US, principalmente com Doppler, pode identificar a obstrução vascular e estudar o fluxo dos vasos mesentéricos, especialmente dos segmentos proximais. A angiotomografia e a angiorressonância podem ser muito úteis. O diagnóstico de certeza é dado pela arteriografia, que é considerada padrão-ouro -> só deve ser realizada no paciente hemodinamicamente estável. ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO Além da dor súbita, chama atenção o rápido comprometimento hemodinâmico, com palidez intensa e hipovolemia acentuada. Não se encontra contratura muscular no hemoperitônio. Os exames mostram queda progressiva dos níveis hematimétricos. A ruptura espontânea de vísceras parenquimatosas e a ruptura vascular não são situações comuns, e o abdome agudo hemorrágico é mais frequentemente associado ao trauma, ao pós-operatório e a complicações pós-procedimentos. DIAGNÓSTICO ANAMNESE Um histórico clínico detalhado e organizado é essencial para formular um diagnóstico diferencial preciso e o esquema de tratamento -> o histórico precisa focalizar não só a investigação das queixas de dor, mas também os problemas antecedentes e os sintomas associados. As perguntas precisam ser abertas sempre que possível e estruturadas para revelar o início, tipo, localização, duração, irradiação e cronologia da dor vivenciada. ❖ “Como você sente a dor?” ❖ “Alguma coisa melhora ou piora a dor?” Frequentemente, pode-se obter mais informação observando como o paciente descreve a dor vivenciada. ❖ A identificação da dor com o dedo, em geral, indica dor muito mais localizada e típica de invervação parietal ou inflamação peritoneal. ❖ A identificação da área de desconforto com a palma da mão é mais típica de desconforto visceral do intestino ou doença de órgão sólido. A intensidade e gravidade da dor relacionam-se com a lesão do tecido subjacente. ❖ O início súbito da dor excruciante sugere condições como perfuração intestinal ou embolização arterial. ❖ A dor que se desenvolve e piora ao longo de horas é típica de condições de inflamação progressiva ou infecção. Da mesma forma que o tipo de dor, sua localização e irradiação também são importantes (dor somática/visceral). ❖ Dor de órgão sólido visceral -> é generalizada no quadrante do órgão envolvido, como dor do fígado através do QSD. ❖ Dor do intestino delgado -> é percebida como dor periumbilical pouco localizada. ❖ Dor do cólon -> é centralizada entre o umbigo e a sínfise pubiana. A dor também pode se estender além do local da doença. O fígado, por exemplo, divide a suainervação com o diafragma e pode criar dor referida no ombro direito mediada pelas raízes nervosas C3 e C5. A dor geniturinária é outra fonte de dor que comumente tem um padrão de irradiação. Atividades que aumenta/aliviam a dor também são importantes: ❖ Comer, em geral, piora a dor da obstrução intestinal, da cólica biliar, da pancreatite, da diverticulite ou da perfuração intestinal. ❖ O alimento pode aliviar a dor da úlcera péptica não perfurada. ❖ Pacientes com inflamação peritoneal evitam qualquer atividade que estique ou empurre o abdome -> descrevem piora da dor com qualquer movimento súbito do corpo e julgam ocorrer menos dor quando flexionam os joelhos. Os sintomas associados podem ser indícios importantes do diagnóstico -> náuseas, vômitos, constipação, diarreia, prurido, melena, hematoquezia ou hematúria podem todos ser sintomas úteis se presentes e reconhecidos. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O histórico clínico do passado pode potencialmente ser mais útil que qualquer outra parte isolada da avaliação. As doenças e diagnósticos anteriores podem aumentar/reduzir bastante a probabilidade de determinadas condições que de outro modo não seriam altamente consideradas. Atentar-se para: ❖ Relato de medicamentos e relato ginecológico (narcóticos, AINEs, agentes imunossupressores, anticoagulantes, drogas reacionais). ❖ Alcoolismo crônico. ❖ Cocaína e metanfetamina. ❖ Saúde ginecológica, probabilidade de gravidez ectópica, DIP, dor entre as menstruações ou endometriose grave. EXAME FÍSICO É a parte-chave da avaliação do paciente e não deve ser minimizada sua importância. Os exames de imagem e laboratoriais podem ser utilizados para confirmação adicional das suspeitas, reordenamento dos diagnósticos diferenciais propostos ou, sugerir possibilidades incomuns. Inspeção -> começa com a inspeção geral do paciente e depois do abdome. Pacientes com irritação peritoneal experimentam piora da dor com qualquer atividade que movimenta/distende o peritônio. Tipicamente, esses pacientes se deitam muito imóveis no leito durante a avaliação, mantendo joelhos e quadris flexionados para reduzir a tensão na parede abdominal anterior. ❖ Outros indícios importantes são palidez, cianose e diaforese, podem também ser observados durante a inspeção geral. A inspeção do abdome direciona-se ao contorno, inclusive se ele parece distendido/escafoide ou se um efeito de massa localizada é observado. Dá-se atenção especial a todas as cicatrizes presentes e, se de natureza cirúrgica, precisam ser correlacionadas com a história cirúrgica pregressa relatada. Ausculta -> ruídos intestinais são tipicamente avaliados quanto à quantidade e qualidade. Um abdome silencioso sugere íleo, enquanto ruídos intestinais hiperativos são encontrados na enterite e no intestino isquêmico precoce. Altura e padrão dos ruídos são também considerados. ❖ Obstrução mecânica caracteriza-se por ruídos “metálicos” em tom alto, que tendem a ocorrer em salvas e associam-se a dor. Distantes, os sons em “eco” em geral estão presentes quando existe distensão luminal significativa. ❖ Sopros ouvidos no abdome refletem fluxo sanguíneo turbulento no sistema vascular. Percussão -> avalia a distensão gasosa do intestino, ar livre intra- abdominal, grau de ascite ou presença de inflamação peritoneal. A hiper-ressonância (timpanismo à percussão), é característica de alças do intestino subjacente cheias de gás. ❖ No quadro de obstrução intestinal/íleo, esse timpanismo é ouvido em todos os quadrantes, exceto no QSD (fígado). ❖ Se for identificada macicez localizada à percussão em qualquer área que não o QSD, considera-se que há uma massa abdominal deslocando o intestino. Detecta-se ascite procurando-se flutuação da cavidade abdominal. Uma onda de líquido ou ondulação pode ser gerada por uma compressão firme e rápida do abdome lateral. A onda resultante desloca-se então pela parede abdominal. Peritonite também é avaliada por percussão. Palpação -> principal etapa final do exame do abdome. Revela a gravidade e a localização exata da dor abdominal. Adicionalmente, pode confirmar a presença de peritonite, identificar organomegalia ou uma lesão de massa anormal. Sempre começa suavemente e distante da área de dor relatada. Caso seja induzida dor considerável no início da palpação, o paciente provavelmente se retrairá voluntariamente e continuará a fazê-lo -> esse retraimento involuntário é um sinal de peritonite e precisa ser diferenciado do retraimento voluntário. ❖ Para chegar a isso, o examinador aplica pressão consistente na parede abdominal distante do ponto de dor máxima, enquanto pede ao paciente que inspire lenta e profundamente. No quadro de retraimento voluntário, os músculos abdominais se relaxarão durante a inspiração, enquanto no involuntário os músculos permanecerão espásticos e tensos. Numerosos achados físicos tornam-se associados a condições específicas e são bem descritos como sinais de exame (ex.: sinal de Murphy, sinal de Rosving). Exame digital do reto precisa ser realizado em todos os pacientes com dor abdominal aguda, procurando-se verificar a presença de massa, dor pélvica ou sangue intraluminal. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O exame pélvico é incluído na avaliação de todas as mulheres com quadro de dor localizada abaixo do umbigo -> processos ginecológicos e anexiais são mais bem caracterizados por meio de uma avaliação completa com espéculo e bimanual. EXAMES LABORATORIAIS Vários exames laboratoriais são considerados rotineiros. Eles ajudam a confirmar se uma inflamação ou infecção está presente, e também a eliminar algumas das condições não cirúrgicas mais comuns. ❖ Hemograma completo -> quando há contagem diferencial é valioso porque a maioria do pacientes com abdome agudo tem leucocitose/bandemia. ❖ Dosagem de eletrólitos séricos, ureia sanguínea e creatinina auxilia na avaliação do efeito de fatores como vômito, perdas de fluido para o 3º espaço. ❖ Determinações da amilase e da lipase séricas podem sugerir pancreatite como causa da dor abdominal. EXAMES DE IMAGEM Com o advento de imagens como a TC, resultou em uma correção cirúrgica mais rápida do problema, com menos morbidade e mortalidade, contribuindo para diagnósticos difíceis como apendicite em mulheres jovens e isquemia intestinal em idosos. Radiografia simples -> podem detectar quantidade pequena quanto 1mL d ar injetado na cavidade peritoneal. Em decúbito lateral, podem detectar penumoperitônio em pacientes que não podem ficar de pé – quantidades de 5-10mL de gás podem ser detectadas. Também mostram calcificações anormais. Nas posições em pé e supina, as radiografias simples são úteis na identificação de obstrução da saída gástrica e obstrução do intestino delgado proximal, médio/distal. O cólon obstruído aparece como intestino distendido com as marcas das haustrações. As radiografias também podem sugerir volvo tanto do ceco quanto do cólon sigmoide. O volvo cecal é identificado por uma alça distendida do cólon em forma de vírgula, com a concavidade voltada inferiormente para a direita. O volvo de sigmoide tem como característica a aparência de um tubo interno encurvado, com seu ápice no QSD. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA US abdominal -> é precisa na detecção de cálculos biliares e na avaliação do espessamento da parede da vesícula biliar, e de presença de líquido em torno da vesícula. É boa para determinar o diâmetro dos ductos biliares extra e intra-hepáticos. Também pode detectar líquido intraperitoneal.
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