Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Paula Perin Vicentini Rita de Cássia Gallego Vivian Batista da Silva 8AVALIAÇÃO EM SALA DE AULA Licenciatura em ciências · USP/ Univesp Di dá tic a 37Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 Didática Conto um caso exemplar [...]. Passou-se no [Colégio] Pedro II, nos seus melhores tempos, segundo quem contou. Antes da aula de um professor de Matemática (de resto, conhecidíssimo), a primeira do dia, os alunos introduziram por um portão de trás do pátio do colégio, um burro. Conseguiram a custo colocá-lo no centro da sala de aula, no círculo que abriram com o empurrar de carteiras. Ficaram espiando os acontecimentos futuros pelas frestas de janelas fechadas. O professor veio, viu o que havia. Se se espantou, disfarçou. Fez a chamada como de costume, escreveu no quadro negro a síntese da matéria e deu a aula inteira, palavra por palavra. Terminada, virou-se para o atento animal a quem dirigiu o ensino, todo o tempo, e disse: “agora você vai e avisa aos seus colegas que a aula de hoje é matéria para a prova de amanhã” (Brandão, 2009, p. 115). Iniciamos esta aula de Didática com o “caso exemplar”. Quantos de nós também não somos capazes de contar histórias como essa? Quantos de nós não fomos surpreendidos com uma prova inesperada? Quantos de nós não guardamos a lembrança de uma nota baixa, resultado do castigo dado por um professor? Nosso intuito é discutir avaliação em sala de aula e acreditamos que a história do burro trazido pelos estudantes possa ser útil. Ela termina justamente com o aviso da prova, na verdade, uma sentença do professor diante da traquinagem dos seus alunos. A partir dessa história, podemos pensar sobre relações que professores e alunos vivem quando o tema é avaliação e a utilidade dessa prática. Esse é o nosso ponto de partida para uma reflexão sobre como podemos ajudar os alunos a aprenderem e os professores a ensinarem melhor. Em nossa época de alunos, pudemos notar o peso das provas e dos planos de estudos. As escolas avançam os tópicos do programa num ritmo cujo objetivo é cobrir todo o planejamento. Sabemos bem que, a cada novo tópico do programa, alunos ficam à beira do caminho, pois uma parte deles não consegue acompanhar os conteúdos. A lógica é a de que o programa seja ensinado e a avaliação meça o quanto esse objetivo foi atingido. Importa mais, em grande parte das vezes, dar conta do planejamento do que ter os conteúdos assimilados pela maioria dos alunos. Aos estudantes que não aprenderam restam alternativas como a mudança de classe, a reprovação ou mesmo a progressão para as séries seguintes, sempre na esperança de que, algum dia, por sorte ou por uma felicidade qualquer, eles aprendam e preencham as lacunas do programa (Perrenoud, 1999). Essa prática é tão comum que acabou se naturalizando e sendo vista como algo inevitável. Os planos de estudos, seus temas e seus ritmos raramente são questionados. A rigidez no 38 8 Avaliação em sala de aula Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 programa, no calendário escolar e nas regras da sala de aula impede, muitas vezes, que se pergunte sobre a utilidade de determinados conteúdos e provas. Se o ponto de partida for outro, ou seja, se a preocupação maior recair sobre as aprendizagens e não sobre o cumprimento dos programas, também muda a lógica do ensino e da avaliação. Diante de um conteúdo mal compreendido, não importa cumprir o programa, importa antes entender em que ponto as instruções do professor não foram compreendidas pelos alunos, retomar os problemas com a turma, modificar o planejamento. Aqui, a avaliação é mais do que medir e quantificar o que foi aprendido, ela pode ser instrumento para saber quais foram as dificuldades dos estudantes e buscar caminhos para superá-las. Por isso, retomaremos aqui um modelo de análise proposto por Philippe Perrenoud (1999), que evidencia o quanto: 1. Os programas e as provas se relacionam com a organização curricular das escolas e o modo como os alunos são distribuídos nas séries e classes; 2. Os programas e as provas estão ligados também aos métodos de ensino usados pelos professores na organização de suas aulas; 3. Os programas e as provas são pensados como formas de controlar os ritmos de aprendizagem, bem como as regras que regem a vida dos estudantes; 4. Os programas e as provas são usados para definir os destinos dos alunos, selecionando-os ou orientando-os para determinadas séries ou modalidades de ensino; 5. Os programas e as provas revelam as expectativas dos professores com relação aos seus alunos; 6. Os programas e as provas são uma das formas pelas quais as famílias conhecem e legitimam o trabalho docente. Esses breves exemplos evidenciam as relações sistemáticas entre todos os elementos da vida escolar. Se olharmos atentamente para cada um desses aspectos elencados, poderemos notar facilmente como essas relações se concretizam. Consideremos de início que, se queremos de fato uma escola onde os alunos aprendam, temos o dever de remediar as dificuldades dos alunos que aprendem de forma mais lenta. 39Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 Didática Tradicionalmente, quando vários estudantes erram uma mesma questão, recebem uma nota baixa porque não acompanharam o programa. A busca pela aprendizagem inverte essa lógica. Nesse caso, quando vários estudantes erram uma mesma questão, cabe interrogar sobre a perti- nência dos planos de estudo, sobre a maneira como os conteúdos foram ensinados e avaliados. Não seria possível priorizarmos as aprendizagens sem uma transformação do ensino, da gestão da aula e do cuidado com os alunos em dificuldade. Aos professores cabe identificar os erros e os funcionamentos do aluno e cabe conhecer também a estrutura e o conteúdo dos conhecimentos e das competências a serem aprendidos. Didaticamente, a afirmação é coerente, embora isso nem sempre seja tarefa fácil. Os verdadeiros obstáculos provêm, antes, da rigidez no horário escolar, no programa, nas regras, nos valores e nas representações dos agentes. Mais que o número de aprendizes, são as normas da organização que obrigam a oferecer constantemente a mesma coisa a todos, mesmo quando for inútil (Perrenoud, 1999, p. 149). Ir em direção a um trabalho pelas aprendizagens transforma as regras do jogo dentro da sala de aula. Isso é difícil não só para os professores como também para os alunos. Geralmente, quem estuda quer ter notas boas ou, pelo menos, suficientes para passar de uma série a outra. Para isso, chega até a fingir ter compreendido as lições, sem contar outras táticas muito usadas pelos alunos como, por exemplo, “colam” para sobreviver na escola (Perrenoud, 1999). Se considerarmos que o contrato didático se baseia antes na obtenção de notas, não podemos acusar os estudantes de desonestos. Na verdade, eles jogam com as regras que conhecem. O que nos parece coerente não é punir os alunos, é mudar as regras do jogo, de modo que se privilegie a aprendizagem. Até mesmo os diálogos entre os pais e a escola precisam ser retomados. Ora, tirar uma boa nota é o que todos esperam dos alunos. Os pais, geralmente, compartilham essa visão porque Para refletir! Em casos como esse, faz-se necessário mexer nos planos de estudos. Será que os itens do programa foram adequadamente trabalhados? Devem-se usar as provas não para classificar apenas, mas, sobretudo, para identificar em que ponto os alunos tiveram mais dificuldade. Será que os enunciados dos exercícios e provas estavam claros? Será que os alunos não conseguiram entender o que foi ensinado? 40 8 Avaliação em sala de aula Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 eles mesmos passaram dez, quinze ou vinte anos de sua própria vida na escola. Em sua época de estudantes, eles também se esforçavam para não serem reprovados. Quando acompanham a vida de seus filhos na escola, os pais têm nos boletins a maneira de saber o nível e a progressãodeles. Se uma escola simplesmente abrir mão das notas que vão de zero a dez ou que seguem conceitos como A, B, C, D ou E, os pais perderão seus pontos de referência habituais. Se as avaliações não forem registradas em exercícios, problemas, ditados, testes ou redações, eles se sentirão perdidos (Perrenoud, 1999). Planejar e avaliar são polos importantes do ensino. Primeiramente, estabelecemos o que e como queremos ensinar e depois procuramos saber até que ponto atingimos nossos objetivos. É relativamente fácil sintetizar esse processo; contudo, não podemos esquecer que ele remete para toda a complexidade da vida escolar. Todos nós sabemos como a escola funciona: ...alunos agrupados em classes graduadas, com uma composição homogênea e um número de efetivos pouco variável; professores atuando sempre a título individual, com perfil de generalistas (ensino primário) ou de especialistas (ensino secundário); espaços estruturados de ação escolar, induzindo uma pedagogia centrada essencialmente na sala de aula; horários escolares rigidamente estabelecidos, que põem em prática um controle social do tempo escolar; saberes organizados em disciplinas escolares, que são as referências estruturantes do ensino e do trabalho pedagógico (nóvoa, 1995, p. 27). Além de óbvio, esse modelo pouco muda. Isso pode explicar, em boa parte, a resistência dos professores e de toda a equipe diante de qualquer proposta que possa alterar a sua lógica de trabalho. Não mexa na minha avaliação: provavelmente, esse é o desejo de muitos professores nas escolas. Essa também é uma das frases assinaladas por Philippe Perrenoud (1999) em suas análises sobre as práticas escolares. Em vários de seus trabalhos, o autor defende uma avaliação chamada de formativa, porque ela quer ajudar o aluno a aprender e o professor a ensinar Para continuar motivando nossas reflexões... Será que não poderíamos pensar sobre a pobreza do tipo de comunicação da escola com os pais? Será que as notas podem mesmo representar o que o estudante domina verdadeiramente? Será que podemos continuar tomando as notas como a grande razão de viver a dinâmica escolar? 41Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 Didática (Perrenoud, 1999, p. 145). É esse intuito que nos aproxima do autor e conduz à necessidade de mudanças na escola e, de fato, o tema da avaliação formativa tem sido tratado bastante, ultimamente, entre os educadores. Por ora, convém lembrar o fato de que bem sabemos o quanto as provas escolares privilegiam a seleção, a classificação e até mesmo a punição, em vez de serem instrumentos para construir a aprendizagem. Foi esse modelo de avaliação que muitos de nós conhecemos quando éramos alunos. Foi nessa perspectiva que muitos de nós nos tornamos professores. Mas mudar a avaliação significa mudar toda a dinâmica da escola. As perguntas que fizemos provavelmente causam surpresa e estranhamento. Ora, concebemos a vida escolar na perspectiva de um modelo edificado em várias partes do mundo desde a metade do século XIX (nóvoa, 1995). Podemos chamar a atenção para alguns rituais que muitas vezes acabam tendo fim em si mesmos ou acabam sendo considerados naturais ou óbvios: a chamada, os modos de avaliar, os modos de ensinar, a organização do espaço, os prédios escolares, a idade escolar, a relação idade-série, a obrigatoriedade da frequência, a seriação, a reprovação, os modos de entender a aprendizagem, o currículo, a delimitação de um número de anos para os diferentes níveis de ensino, o ensino simultâneo, a fragmentação do tempo da aula, para citar alguns exemplos. O modelo escolar fixou uma espécie de gramática do ensino, ou seja, regras a partir das quais professores e alunos concebem e estruturam suas atividades. Essas regras são tão fortes, que poucos de nós conseguem ver a instituição de outro modo, sem ao menos fazer um esforço para isso. “A força desse modelo mede-se pela sua capacidade de se definir, não como o melhor sistema, mas como o único aceitável ou mesmo imaginável” (nóvoa, 1995, p. 27, grifos do autor). Quem de nós consegue conceber a instituição sem vislumbrar professores que ensinam simultaneamente o mesmo conteúdo para uma turma de alunos com idade próxima? Uma classe sem as carteiras postas em fileiras, sem a lousa para ser consultada pelos estudantes não nos pareceria estranha? Já imaginaram uma escola sem calendário, onde os alunos pudessem chegar e sair a hora que eles quisessem? Conseguem pensar que é possível aprender a resolver contas de matemática sem fazer exercícios? Aceitariam um professor que ensina o que quer, do modo que lhe agrada? E mais: o que se diria a respeito de uma escola onde ninguém precisa fazer prova? 42 8 Avaliação em sala de aula Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 Quando falamos em mudar as práticas de avaliação, não estamos tratando apenas das escalas de notas, dos cálculos de média, do período de provas. Nesse caso, estamos colocando em questão todas as referências que tínhamos acerca da vida escolar. A noção de “referência” é entendida aqui de maneira nostálgica para descrever uma situação passada em que as “referências” pareciam definitivamente estabilizadas para um determinado grupo humano e em que cada um ou cada uma precisava apenas submeter-se a elas ou rejeitá-las (Meirieu, 2005, p. 167). Muitos professores, diretores e até pais de alunos dizem ter saudades de suas antigas referências sobre a escola. Para grande parte das pessoas, no passado os docentes eram respeitados porque os alunos podiam ser punidos ou reprovados. Esse é um exemplo de nostalgia de um tempo em que o modelo tradicional de escola era a referência. E aqui não estamos discutindo a utilidade desse modelo, apenas o fato de que ele se consolidou como a única referência possível de ensino. Fomos acostumados a pensar, por exemplo, que avaliar é dar nota. Por isso, nesta aula, nosso intuito é desnaturalizar a avaliação, possibilitando alternativas mais férteis para o trabalho em sala de aula, principalmente se o que queremos é mexer na avaliação visando à aprendizagem dos alunos. No âmbito da avaliação da aprendizagem, entende-se que a avaliação qualitativa é muito importante para identificar: os conteúdos nos quais os alunos enfrentam maiores dificuldades (levanto-se em conta que conteúdos aqui não são somente os conceituais e factuais!), para que sejam retomados; os alunos que necessitam de aulas de reforço e recuperação; os alunos que aprendem rápido demais e também precisam de atividades extras, alunos esses que são, quase sempre, pouco enfatizados nas propostas legais e também na maioria das escolas. A avaliação é entendida, assim, como possibilidade de superar os problemas durante o próprio processo do aprendizado, numa tentativa de romper com as práticas enraizadas que situam a avaliação somente no final das etapas de ensino. Quando se defende uma avaliação contínua, entende-se que os alunos devem ser avaliados no início, durante e no fim dos vários períodos e subperíodos de ensino. Entretanto, conforme assinalado por Catani e Gallego (2009), é um equívoco pensar que tomamos conhecimento desses processos somente por “observações” dos alunos ao realizarem atividades em sala, observações essas nem sempre registradas ou dirigidas segundo os objetivos das aulas, por exemplo. Questiona-se: 43Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 Didática Como aprimorar o conhecimento de cadeia alimentar, por exemplo, sem realizar atividades, revisões ou correções? A aquisição de novos conhecimentos está atrelada às possibilidades de refazer o que não conseguiu realizar, mas isso se dá com auxílio, na medida em que se conhece o que tem errado e tem condições de voltar aos erros. Do mesmo modo, como saber se os alunos têm domínio e fazem relações entre diferentes fatos históricos se não há atividades nas quais essas habilidades sejam destacadas e depoistrabalhadas? Portanto, é imprescindível que uma espécie de conforto sentido quando se indicam os modos pelos quais são realizadas as avaliações (“contínua”; “processual”; “o tempo todo”, “qualitativa”; “será feita por observações”; “participação dos alunos”; “envolvimento”; “comprometimento”) seja alvo de análises e problematizações. O espaço das reuniões pedagógicas pode consistir, num primeiro momento, de mobilização coletiva para a fragilidade dessa indicação nos planos de ensino ou mesmo na Proposta Pedagógica das escolas. Avaliar o tempo todo é fazer os alunos produzirem constantemente, realizando atividades segundo a natureza dos conteúdos trabalhados ou a serem trabalhados e seus objetivos, de modo a perceber por maneiras diversas como estão aprendendo e o que é necessário fazer no momento, a curto, médio e longo prazo com a turma, com certos alunos ou com um determinado aluno. É discutir suas produções de modo mais global e também individualmente, em casos em que as explicações gerais estiverem muito distantes do que alguns alunos necessitam. É preciso, assim, cautela ao analisar que tipo de instrumento é mais adequado para possibilitar a expressão do que foi aprendido pelos alunos. Além disso, certos instrumentos de avaliação são mais ou menos adequados segundo o momento e a etapa da Educação Básica em que os alunos se encontram. Além disso, é preciso atenção para expressões como “participação dos alunos”; “envolvi- mento”; “comprometimento”, por exemplo, que, como outras tantas, indicam a valorização não apenas de momentos específicos destinados a avaliar, como também do conjunto de comportamentos que os alunos exibem quando estão na escola (Catani, GalleGo, 2009). Como já se destacou, avalia-se sim o tempo todo, mas nem sempre são utilizados critérios claros para nortear o olhar para as produções dos alunos, balizando-o em impressões de cunho 44 8 Avaliação em sala de aula Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 principalmente comportamental, sendo esses julgamentos da pessoa pouco profícuos para que os alunos melhorem o seu desempenho intelectual. À primeira vista, tais menções estão em consonância com a legislação e com os pressupostos teóricos que defendem que a aprendizagem se dá ao longo de um processo. Entretanto, elas só deixarão de significar meros slogans se os educadores não apenas identificarem as apropriações dos educandos de modo a promover a superação das dificuldades apresentadas, mas também favorecerem novas apropriações. Nesse sentido, para tornar possíveis as avaliações mais produtivas, é necessário definir com clareza qual é o padrão de qualidade que se espera dos alunos, após serem submetidos a deter- minada aprendizagem, o que, segundo Luckesi (2002, p. 72-73), significa estabelecer o mínimo necessário a ser aprendido daquilo que se está ensinando. Conforme destaca esse autor, uma vez definido o mínimo necessário, evita-se a variabilidade de julgamento, que quase sempre se dá pelo estado de humor de quem está julgando, o que pode tornar arbitrárias as práticas de avaliação. Vê-se que em muitas escolas houve a substituição de provas por julgar que ela por si só tem um caráter quantitativo, porém, essa leitura é equivocada. Quando se lê na LDB/96: “com prevalência dos aspectos qualitativos e os resultados ao longo do período sobre as eventuais provas finais”, daí se recomendar que tudo na escola seja avaliado de modo contínuo e formal, ou seja, previsto como atividade programada com a utilização de instrumentos elaborados para esse fim, isso não significa, por exemplo, exterminar as provas, sejam elas finais ou em outros momentos. Avaliar qualitativamente, portanto, não é excluir necessariamente a avaliação quantitativa, mas utilizar um instrumento que tinha, quase sempre, o fim de aferição de nota, com outro sentido – a prova também pode oferecer-nos dados expressivos de como os alunos estão se apropriando dos conhecimentos, com as devidas adequações em relação à etapa da Educação Básica, a disciplina e os diferentes conteúdos em jogo. Logo, a mera supressão das provas não garante que ocorram mudanças efetivas nos modos de conceber as avaliações. Trata-se, assim, de estabelecer um acompanhamento efetivo das atividades realizadas e garantindo-se momentos significativos de recuperação ao longo do processo, bem como no final, assim, a possibilidade de ir para a etapa seguinte será sustentada não pelas médias/ conceitos, mas pelo crescimento ocorrido, identificado e possibilitado pela escola (Favero, 1995). Mas, que tipos de orientação são necessários para que os professores leiam as atividades de uma maneira mais formativa? Conforme assinalado por Catani e Gallego (2009), novos modos de concretizar as correções podem colaborar para que se preservem as próprias funções 45Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 Didática essenciais da avaliação defendida por vários estudiosos da área, entre as quais as de propiciar a autocompreensão da amplitude e limites vivenciados no processo de aprendizagem; motivar o crescimento mediante a análise qualitativa das respostas dos alunos e explicitar aos educadores e aos educandos a qualidade da sua possível aprendizagem (dePresBiteris, 2002, p. 39). Convém ressaltar a importância dos comentários voltados aos alunos sobre as suas atividades quanto aos resultados obtidos na avaliação, que extrapolam a menção de um número ou mesmo expressões “parabéns”, “ótimo”, “bom”, “regular”, para que os alunos entendam suas próprias formas de pensar, ao compreenderem a natureza do erro cometido, uma vez que podem ter errado por variadas razões: desmotivaram-se e não terminaram a tarefa; distraíram-se; a questão era muito difícil ou não estava bem formulada; não compreenderam o conteúdo... Assim, as correções das avaliações também são questionadas por aqueles que se dedicam ao tema: as meras indicações de marcas como certo e errado ou marcas sem comentários são ineficientes para o aluno compreender aquilo que não entendeu (Catani e GalleGo, 2009). Muitas vezes, a tradução do que os alunos sabem ou são capazes, em valores numéricos fracio- nados, gera uma espécie de bizarra preocupação com pontos e décimos de notas. Sempre se poderia perguntar se notas atribuídas assim correspondem, de fato, ao que os alunos sabem ou àquilo que pode ser considerado efeito significativo da aprendizagem. É preciso reconhecer que as práticas de avaliação devem ser coerentes com as concepções de conhecimento, aprendizagem, ensino, papel do aluno, do professor, da escola etc., as quais devem ser explicitadas na Proposta Pedagógica das escolas de modo a nortear o trabalho reali- zado pela equipe. Parece que um dos entraves a ser superado para que a avaliação funcione bem é justamente alcançar essa coerência entre as várias instâncias e dimensões do processo educa- cional e de aprendizagem. Acrescenta-se a isso o fato de que, no que tange à situação de ensino, em muitas circunstâncias, a avaliação sobrecarrega os professores. Dependendo de fatores como o nível de ensino, o número de alunos por sala e o número de horas de aulas dos professores, é evidente que se alteram as possibilidades de acompanhamento, observação, avaliação e retomada de dificuldades dos estudantes. Esperamos que essas reflexões conduzam a uma compreensão mais acurada acerca do nosso trabalho na escola e inspirem alternativas para as aprendizagens dos nossos alunos. Agora é a sua vez... Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem e realize a(s) atividade(s) proposta(s). 46 8 Avaliação em sala de aula Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 5 Referências Bibliográficas Brandão, C. A turma de trás. In: Morais, r. de (org.) Sala de aula: que espaço é esse? 22. ed. São Paulo: Papirus, 2009, p.105-122. Perrenoud, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed,1999. nóvoa, a. (org.). As organizações escolares em análise. Lisboa: Publicações Dom Quixote /Instituto de Inovação Educacional, 1995. Meirieu, P. Aprender.... sim, mas como? Porto Alegre: Artmed, 1998. Catani, d.; GalleGo, r.C. de. Avaliação. São Paulo: UNESP, 2009. luCkesi, C.C. Avaliação da Aprendizagem Escolar: estudos e proposições. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2002 dePresBiteris, l. Competências, Habilidades e Currículos de Educação Profissional. 3. ed. São Paulo: Senac, 2002.
Compartilhar