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Autor: Prof. Guilherme Juliani de Carvalho Colaboradores: Profa. Sandra Castilho Prof. Mauro Kiehn Responsabilidade Social nas Organizações Professor conteudista: Guilherme Juliani de Carvalho Doutorando em Administração pela UNIP, mestre em Administração de Empresas – Gestão Estratégica de Organizações pela Universidade Fumec (2013), graduando em Ciências Contábeis pela UNIP e graduado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Senac/SP (2016) e em Comunicação Social – Relações Públicas pelo Centro Universitário Newton Paiva (2009). Possui especialização em Planejamento, Gestão e Implementação da Educação a Distância pela Universidade Federal Fluminense (2015), MBA em Gestão de Marketing pelo Centro Universitário UNA (2010) e em Gestão de Negócios pela mesma instituição (2010). Atua como docente universitário desde 2010 nas áreas de gestão, marketing, projetos e empreendedorismo. É coordenador de graduação e pós-graduação com publicações em diversos congressos, anais e revistas científicas, além de capítulos de livros. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C331r Carvalho, Guilherme Juliani de. Responsabilidade Social nas Organizações / Guilherme Juliani de Carvalho. – São Paulo: Editora Sol, 2023. 156 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Responsabilidade social. 2. Sustentabilidade. 3. Normas. I. Título. CDU 658.114.8 U517.18 – 22 Profa. Sandra Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora das Unidades Universitárias Profa. Silvia Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Souza Luiza Gomyde Sumário Responsabilidade Social nas Organizações APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 COMPREENSÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL .............................................................................. 11 1.1 Conceitos e definições........................................................................................................................ 11 1.2 Evolução e aplicação das práticas de responsabilidade social .......................................... 17 1.3 Crescimento econômico, desenvolvimento econômico e desenvolvimento sustentável .................................................................................................................................................... 24 1.3.1 Agenda 2030 e objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU ................................. 27 1.4 Responsabilidade social corporativa: responsabilidade social empresarial e responsabilidade social ambiental ........................................................................................................ 30 2 PRINCÍPIOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL ...................................................................................... 33 2.1 Formas de atuação em responsabilidade social ....................................................................... 33 2.2 Responsabilidade social corporativa e cidadania empresarial ........................................... 35 2.3 FNQ, Instituto Ethos e seus indicadores ...................................................................................... 38 3 TERCEIRO SETOR .............................................................................................................................................. 46 3.1 A construção do terceiro setor ....................................................................................................... 50 3.2 O terceiro setor e seu papel na sociedade ................................................................................. 52 4 SUSTENTABILIDADE ........................................................................................................................................ 53 4.1 Pilares da sustentabilidade ............................................................................................................... 59 4.2 A sustentabilidade e a responsabilidade social ........................................................................ 62 4.3 Sistema de Gestão Ambiental (SGA) ............................................................................................ 63 4.4 Agenda ambiental ................................................................................................................................ 66 4.5 Pegada ambiental ................................................................................................................................. 68 Unidade II 5 CONTABILIDADE AMBIENTAL E BALANÇO SOCIAL ............................................................................. 76 5.1 Contabilidade ambiental ................................................................................................................... 76 5.2 Balanço social e relatório de sustentabilidade ......................................................................... 77 5.3 Incentivos fiscais para prática de responsabilidade social .................................................. 80 5.4 Greenwashing ........................................................................................................................................ 83 6 NORMAS E CERTIFICAÇÕES EM RESPONSABILIDADE SOCIAL ...................................................... 88 6.1 Qualidade ................................................................................................................................................. 89 6.2 Ambiental ................................................................................................................................................ 90 6.3 Saúde e segurança ............................................................................................................................... 90 6.4 Sustentabilidade e responsabilidade social ............................................................................... 91 6.5 ISO 26000 ................................................................................................................................................ 94 Unidade III 7 RESPONSABILIDADE SOCIAL SOB A ÓTICA DE DIFERENTES PÚBLICOS ...................................101 7.1 Diferentes públicos envolvidos na prática de responsabilidade social .........................101 7.2 Responsabilidade social na esfera pública ...............................................................................104 7.3 Accountability ......................................................................................................................................1067.4 Ética empresarial ................................................................................................................................107 7.5 Boas práticas de responsabilidade social ..................................................................................110 7.6 Marketing social .................................................................................................................................115 8 PRÁTICAS CONTEMPORÂNEAS EM RESPONSABILIDADE SOCIAL ..............................................120 8.1 Princípios da sustentabilidade associados ao desenvolvimento social e à gestão padrão ESG ................................................................................................................................120 8.2 Envolvimento das empresas com o desenvolvimento social: da filantropia à gestão socialmente responsável ......................................................................................................126 8.3 Design sustentável .............................................................................................................................129 8.4 Economia circular ...............................................................................................................................132 7 APRESENTAÇÃO Esta disciplina trata do significado da responsabilidade social organizacional e dos seus princípios e práticas desejadas. Aborda também a avaliação das práticas de responsabilidade social e de seus resultados, bem como dos seus novos desafios nas organizações. Objetivando saber os princípios e as práticas desejados e como avaliar sua aplicação e seus resultados, a disciplina Responsabilidade Social nas Organizações busca apresentar aos alunos a visão crítica da gestão socialmente responsável. Nela, discutiremos desde os conceitos e evolução da responsabilidade social até os mais recentes temas da área. Ao longo da discussão o aluno poderá compreender a importância da responsabilidade social nas organizações, as ferramentas de práticas de gestão socialmente responsável, a legislação que incide sobre este assunto e, por fim, a prática ESG, modelo de gestão socialmente responsável de emergente importância para as empresas em todo o mundo. O discente compreenderá também acerca das principais certificações e prêmios setoriais, assim como entenderá as relações do tema com diversos públicos e os incentivos fiscais dados às organizações que adotam práticas sustentáveis. Ao final desta disciplina, o aluno deverá estar apto a desenvolver projetos sustentáveis em suas organizações, bem como atuar junto ao terceiro setor e entender a responsividade das companhias na sociedade em que atua. Espera-se que ele desenvolva competências, senso crítico e capacidade de contextualização, visão estratégica, pensamento sistêmico, orientação para processos, orientação para resultados, consciência ética e social, além de solução de problemas no que diz respeito às práticas de sustentabilidade e responsabilidade social das empresas. INTRODUÇÃO A responsabilidade social nos negócios, também conhecida como responsabilidade social das organizações, refere-se a pessoas e organizações que se comportam e conduzem negócios de forma ética e com sensibilidade em relação a questões sociais, culturais, econômicas e ambientais. Esforçar-se pela responsabilidade social ajuda indivíduos, organizações e governos a ter um impacto positivo no desenvolvimento dos negócios e na sociedade. Decisões de negócios inteligentes não são apenas uma questão de contar valores monetários em curto prazo. Tomadores de decisão sábios consideram o impacto futuro das escolhas de hoje nas pessoas, na comunidade e nos clientes, bem como em suas opiniões. Embora os resultados de negócios, o investimento, a livre iniciativa e outras forças econômicas tradicionais continuem a impulsionar a indústria, a reputação das organizações e sua capacidade de competir efetivamente em todo o mundo dependem da integração dos esforços de responsabilidade social na tomada de decisões e na melhoria do desempenho. 8 Ser uma empresa socialmente responsável pode reforçar a imagem de uma instituição e construir sua marca. A responsabilidade social capacita os funcionários a alavancar os recursos corporativos à sua disposição para fazer o bem. Programas formais de responsabilidade social corporativa podem aumentar o moral dos funcionários e levar a uma maior produtividade na força de trabalho. Nos últimos anos tem-se visto o crescimento de danos ambientais, sociais e econômicos com consequências irreversíveis causadas pela falta de atuação socialmente responsável das organizações. Em 2015, ocorreu o rompimento da barragem em Mariana, no subdistrito de Bento Rodrigues, Minas Gerais. Em 2019, a cidade atingida foi Brumadinho, também em Minas Gerais, em que o rompimento de outra barragem de uma mineradora devastou florestas, rios, a população ribeirinha e cessou 270 vidas (PASSARINHO, 2019). Vejam que esses acidentes geraram danos não apenas ambientais, mas sociais, econômicos e cuja recuperação poderá levar décadas. Figura 1 – Área devastada pelo rompimento da barragem em Brumadinho Disponível em: https://bit.ly/3Shbqh7. Acesso em: 3 out. 2022. Kaplan (2016) apontou que se continuarmos produzindo (e não descartando adequadamente) plásticos nas taxas atuais, a quantidade deles no oceano superará a de peixes em 2050. Existe um instrumento chamado pegada ecológica, que é a única métrica utilizada na medição de quanta natureza temos e quanta natureza usamos. Conforme a World Population Review (2021), a pegada ecológica média mundial foi de 2,75 hectares globais por pessoa (22,6 bilhões no total) e a biocapacidade média foi de 1,63 hectares globais em 2021. Isso mostra que estamos consumindo mais do planeta do que ele consegue regenerar. 9 Veja no mapa a seguir que os países mais desenvolvidos são aqueles que têm maior déficit de regeneração ambiental: 2.00 4.00 6.00 8.00 Pegada ecológica (per capita) 10.00 12.00 14.00 16.000.00 Figura 2 – Pegada ecológica 2021 Adaptado de: https://cutt.ly/mMO6AYW. Acesso em: 3 out. 2022. O meio ambiente não é o único a sofrer o impacto das organizações: a sociedade, de forma ampla, também é impactada. A escravidão moderna é infligida a milhões de pessoas em todo o mundo, mas muitas vezes possui outra denominação, fazendo com que muitos não saibam de sua existência. No Brasil, a Agência Brasil apontou que 942 trabalhadores foram resgatados em 2020 em situação análoga à escravidão. De acordo com o instituto, as pessoas que foram resgatadas do trabalho escravo atuavam nas seguintes áreas: 17% estavam em atividades de produção florestal; 15% no cultivo do café e 10% na criação de bovinos (PASSOS, 2021). Além disso, é importante destacar que a responsabilidade social das organizações deve voltar-se aos consumidores. Processos limpos de produção, cumprimento de prazos, qualidade de produtos e serviços fazem parte do que é entregue ao consumidor por uma empresa socialmente responsável. E assim se faz o grande desafio das organizações contemporâneas. Muito além da gestão de custos, gestão de operações, aumento de mercado e outros fatores decisivos para sobrevivência das empresas, é necessário que os gestores estejam atentos à pressão dos diferentes públicos – governo, consumidores, funcionários, sociedade, entidades não governamentais – para uma atuação mais responsável, minimizando os impactos negativos de suas operações. Manter a responsabilidade social em uma empresa garante que a integridade da sociedade e o meio ambiente sejam protegidos. Muitas 10 vezes, as implicações éticas de uma decisão/ação são negligenciadas para ganho pessoal e os benefícios são geralmente materiais. Todavia, isso não pode mais ser a predominância nas organizações. As práticas de negócios socialmente responsáveis referem-se às atividades corporativas cujo objetivo principal é beneficiar indivíduos, uma comunidadeou o meio ambiente. Eles incluem patrocínio, subsídios, doação de produtos, voluntariado corporativo, envolvimento da comunidade etc. Assim, entender a responsabilidade social é fundamental para que o futuro profissional de Administração compreenda como uma organização é responsável pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento transparente e ético que contribui para o desenvolvimento sustentável, incluindo a saúde e o bem-estar de todos. Sustentado pelos principais autores da área e pelos mais recentes artigos e dados publicados, este livro-texto busca contribuir para a formação de gestores socialmente responsáveis, com amplo conhecimento sobre as práticas, certificações, incentivos e benefícios da responsabilidade social. Na unidade I serão discutidos os conceitos de responsabilidade social, desenvolvimento sustentável e crescimento econômico. O estudante ainda irá aprender sobre sustentabilidade e seus pilares, o terceiro setor e sua formação e contribuição social, bem como a Fundação Nacional de Qualidade e o Instituto Ethos. Na unidade II, por sua vez, estarão os conteúdos sobre contabilidade e balanço ambiental, assim como as certificações concedidas às empresas que praticam responsabilidade social. Por fim, na unidade III, o discente aprenderá sobre os diferentes públicos envolvidos na prática de responsabilidade social e as mais contemporâneas discussões da área, como gestão ESG, economia circular e design sustentável. Bons estudos! 11 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES Unidade I 1 COMPREENSÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL 1.1 Conceitos e definições Há muito tempo temos visto que a relação das organizações com a sociedade tem mudado. Muito além de aumentar a margem de lucro, ganhar mais mercado ou abrir filiais, as empresas passaram a entender que suas ações geram impactos na sociedade, e esses, por sua vez, nem sempre são positivos. Até recentemente, a maioria das grandes empresas era conduzida quase exclusivamente com um objetivo em mente: lucro. A maximização dos lucros estava no centro de todas as ações ou iniciativas adotadas. Começaram a surgir, então, pressões de várias frentes da sociedade: consumidores, governo, investidores, organizações não governamentais e outros, que fizeram com que as companhias passassem a adotar práticas de responsabilidade social em sua gestão, e assim, nas últimas décadas, mais líderes empresariais reconheceram que têm a responsabilidade de fazer mais do que simplesmente maximizar os lucros para acionistas e executivos. Em vez disso, buscam não apenas o melhor para suas instituições, mas para as pessoas, o planeta e a sociedade em geral. Há vários benefícios em adicionar iniciativas de responsabilidade social em uma organização: eles abrangem desde o aumento da produtividade até a atração dos melhores talentos. Permitem ainda que a empresa melhore a sua reputação geral, o que pode abrir portas para novas oportunidades. Escolher qual iniciativa é mais apropriada requer uma consideração cuidadosa, mas antes de falarmos sobre iniciativas de responsabilidade social nas organizações (RSO), definiremos o motivo de tal tema ser tão caro aos gestores. A responsabilidade social é uma filosofia de gestão na qual indivíduos ou empresas são responsáveis por cumprir seu dever cívico e tomar ações que beneficiem a sociedade como um todo. Se uma empresa ou pessoa estiver pensando em realizar algo que possa prejudicar o meio ambiente ou a sociedade, ela é considerada socialmente irresponsável. De acordo com esse conceito, os gestores devem tomar decisões que não apenas maximizem os lucros, mas protejam os interesses da comunidade e da sociedade. Vejamos alguns exemplos na sequência: A ideia de responsabilidade social empresarial parte do princípio de que as empresas têm responsabilidade direta sobre muitos problemas que abalam a sociedade, e, com isso, têm condições e o dever de colaborar para que haja um desenvolvimento equilibrado. De acordo com essa premissa, as ações realizadas pelas empresas através de suas técnicas e recursos visando atingir seus objetivos materiais podem também colaborar para resolução de problemas sociais (PASSOS; BORGES, 2021, p. 240). 12 Unidade I Responsabilidade social corporativa relaciona-se principalmente à obtenção de resultados de decisões organizacionais relativas às questões ou problemas específicos que (por algum padrão normativo) têm efeitos benéficos, e não adversos, efeitos sobre as partes interessadas corporativas pertinentes. A correção normativa dos produtos da ação corporativa tem sido o foco principal da responsabilidade social corporativa (EPSTEIN, 1987, p. 104). Domingos (2007, p. 81) define que a RSO “compreende ações concretas expostas publicamente para anunciar uma nova postura dos dirigentes dos sistemas de produção frente às contradições e às tensões provocadas pelo capitalismo na sociedade”. Responsabilidade social nas organizações é a ideia de que uma empresa tem responsabilidade com a sociedade que existe ao seu redor. As instituições que adotam a responsabilidade social corporativa geralmente são organizadas de maneira que as capacita a ser e agir de maneira socialmente responsável. Trata-se de uma forma de autorregulação que pode ser expressa em iniciativas ou estratégias, dependendo dos objetivos de uma organização (YEVDOKIMOVA et al., 2018). De forma geral, pode-se entendê-la como a prática que além de maximizar o valor para o acionista, deve agir de forma a beneficiar a sociedade. As empresas socialmente responsáveis precisam seguir políticas que promovam o bem-estar da sociedade e do meio ambiente, ao mesmo tempo que diminuem os impactos negativos sobre eles. Lembrete Responsabilidade social não é cumprir a lei ou fazer ações isoladas que não estejam alinhadas aos reais valores da organização. Cumprir a lei é obrigação da organização e práticas de responsabilidade social são aquelas conforme os princípios, valores, missão e visão da empresa. O Banco Mundial, em 2003, definiu responsabilidade social como o compromisso das empresas em contribuir para o desenvolvimento econômico sustentável, trabalhando com os funcionários, suas famílias, a comunidade local e a sociedade em geral para melhorar a qualidade de vida, de maneira que seja boa para os negócios e o desenvolvimento (PETKOSKI; TWOSE, 2003). Exatamente o que significa “socialmente responsável” varia de uma organização para outra. As empresas geralmente são guiadas por um conceito conhecido como triple bottom line (TBL), que determina que uma companhia deve se comprometer a medir seu impacto social e ambiental, bem como seus lucros. O ditado “lucro, pessoas, planeta” é frequentemente usado para resumir a força motriz por trás do referido conceito. Ao adotar o TBL, a organização passa a levar em conta as questões econômicas, sociais e ambientais em suas tomadas de decisões. A definição dos conceitos do TBL, de acordo com a Fundação Nacional da Qualidade (2018) abrange: 13 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES • Responsabilidade ambiental: crê que as organizações devem se comportar da maneira mais ecológica possível. É uma das formas mais comuns de responsabilidade social corporativa. Algumas empresas usam o termo “gestão ambiental” para se referir a tais iniciativas. As instituições que buscam adotar a responsabilidade ambiental podem fazê-lo de várias maneiras: — redução da poluição, das emissões de gases de efeito estufa, do uso de plásticos descartáveis, do consumo de água e do lixo em geral; — aumento da dependência de energia renovável, de recursos sustentáveis e materiais reciclados ou parcialmente reciclados; — compensação do impacto ambiental negativo, por exemplo, plantando árvores, financiando pesquisas e doando para causas relacionadas. Figura 3 – Responsabilidade ambiental Disponível em:: https://bit.ly/3rGqfyS. Disponível em: 3 out. 2022. • Responsabilidade ética: preocupa-seem garantir que uma organização opere de maneira justa e ética. Aquelas que adotam a responsabilidade ética visam obter um tratamento justo de todas as partes interessadas, incluindo liderança, investidores, funcionários, fornecedores e clientes. 14 Unidade I Por meio dessa prática de responsabilidade ética, o que as organizações podem fazer é atuar com a ética de distintas formas, por exemplo, definir um salário mínimo além do piso determinado. Ainda nesta conduta uma empresa pode trabalhar unicamente com fornecedores que entreguem produtos, ingredientes, materiais ou componentes que sejam adquiridos de acordo com os padrões de livre-comércio. Consequentemente, muitas corporações contam com processos para garantir que não estejam comprando produtos resultantes de trabalho escravo ou infantil. • Responsabilidade filantrópica: refere-se ao objetivo de uma empresa de tornar ativamente o mundo e a sociedade um lugar melhor. Além de agir da forma mais ética e ambientalmente amigável possível, as organizações movidas pela responsabilidade filantrópica geralmente dedicam uma parte de seus ganhos. Enquanto muitas delas doam para instituições de caridade e organizações sem fins lucrativos que se alinham com suas missões orientadoras, outras doam para causas nobres que não se relacionam diretamente com seus negócios. Há ainda aquelas que criam seu próprio fundo ou organização de caridade para retribuir. • Responsabilidade econômica: trata-se da prática de uma empresa apoiar todas as suas decisões financeiras em seu compromisso de fazer o bem nas áreas listadas anteriormente. O objetivo final não é simplesmente maximizar os lucros, mas impactar positivamente o meio ambiente, as pessoas e a sociedade. Portanto, com as definições dadas, pode-se definir a RSO como as metas organizacionais alinhadas com sustentabilidade e preservação de recursos para as próximas gerações e com respeito às pessoas em sua diversidade, focando na redução de desigualdades. De forma geral, trata-se de uma prática que, se adotada por todas as organizações, poderá gerar um planeta com menos poluição, lixo, exploração de mão de obra, entre outros. A ideia de responsabilidade social nas organizações é tema de discussão desde a década de 1950. No entanto, foi apenas mais tarde que as pessoas começaram a entender seu significado e impacto. Um marco na discussão do assunto foi a publicação da pirâmide da responsabilidade social corporativa de Archie Carroll, em 1991. Sua simplicidade, mas capacidade de descrever a ideia de responsabilidade social com quatro áreas, tornou a pirâmide uma das teorias corporativas de RSC mais aceitas desde então. A pirâmide de Carroll sugere que a empresa tem total responsabilidade em quatro níveis: econômico, jurídico, ético e filantrópico. 15 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES Responsabilidade econômica: ser lucrativa, pois antes de atingir as outras responsabilidades, uma empresa deve ter a capacidade de arcar com seus compromissos financeiros RSO Responsabilidade legal: seguir a lei, uma vez que ela é codificação da sociedade do certo e do errado Responsabilidade ética: obrigar-se a fazer o que é certo, justo, combater a corrupção e agir de forma transparente Responsabilidade filantrópica: ser uma empresa cidadã e desenvolver práticas de melhoras na qualidade de vida Figura 4 – Pirâmide de Carroll Adaptado de: Appio, Madruga e Frizon (2018). Conforme os autores da figura acima, as definições de cada pilar da pirâmide são: • Responsabilidade econômica: produzir bens e serviços que a sociedade necessita e lucrar com eles. As empresas têm acionistas que esperam e exigem um retorno razoável de seus investimentos, funcionários que desejam fazer seu trabalho com segurança e justiça, bem como clientes que querem produtos de qualidade por preços justos. Trata-se da base da pirâmide sobre a qual todas as outras camadas repousam. A responsabilidade econômica na RSE é a obrigação de ser lucrativo e a única maneira de uma empresa sobreviver e apoiar a sociedade a longo prazo. • Responsabilidade legal: obedecer a lei é o segundo nível da pirâmide e obrigação legal da empresa. Esta é a responsabilidade mais importante dos quatro níveis, pois mostrará como ela conduz seus negócios no mercado. As leis trabalhistas, a concorrência com outras corporações, os regulamentos tributários e a saúde e segurança dos funcionários são alguns exemplos das responsabilidades legais que uma instituição deve cumprir. Deixar de ser legalmente responsável pode ser muito ruim para as companhias. • Responsabilidade ética: fazer a coisa certa, ser justo em todas as situações e evitar danos. Uma empresa não deve apenas obedecer à lei, mas precisa fazer seus negócios de forma ética. Ao contrário dos dois primeiros níveis, trata-se de algo que ela não é obrigada a fazer. No entanto, é melhor que a corporação seja ética, pois isso não apenas mostra a seus stakeholders que eles 16 Unidade I são morais e justos, como também as pessoas se sentirão mais confortáveis comprando seus bens/serviços. Ser ecologicamente correto e tratar fornecedores/funcionários adequadamente são alguns exemplos de responsabilidade ética. • Responsabilidade filantrópica: no topo da pirâmide, ocupando o menor espaço está a filantropia. As empresas são criticadas há muito tempo por sua pegada de carbono, sua participação na poluição, seu uso de recursos naturais e muito mais. Para contrabalançar esses negativos, elas devem “retribuir” à comunidade de onde tiram. Embora este seja o nível mais alto de RSC, ele não deve ser menosprezado, pois muitas pessoas gostariam de fazer negócios com instituições que retribuem à sociedade. A responsabilidade filantrópica é mais do que apenas fazer o que é certo, significa algo que se mantém fiel aos valores da companhia. • Responsabilidade social nas organizações (RSO): segundo a pirâmide de Carroll, negócio responsável é aquele que qualifica todos os níveis de responsabilidade antes de assumir a filantropia. Sem cumprir as outras responsabilidades, um negócio não pode se sustentar. Lembrete Para atingir a responsabilidade social nas organizações (topo da pirâmide), a empresa deve cumprir todos os seus pilares anteriores: econômica, legal, filantrópica. Em suma, a definição de quatro partes de responsabilidade social e a pirâmide de Carroll oferecem uma estrutura conceitual para organizações que consiste nas responsabilidades econômica, legal, ética e filantrópica ou discricionária. A responsabilidade econômica para obter lucro é esperada por seus acionistas, já a responsabilidade ética é aguardada pela sociedade. A responsabilidade filantrópica ou discricionária das corporações é esperada e desejada pela sociedade. Com o tempo, as definições para cada uma das quatro categorias podem mudar ou evoluir. Observação A responsabilidade social nas organizações não pode ser confundida com caridade: a caridade tem fins assistenciais e é um mero paliativo para graves problemas sociais, enquanto a responsabilidade social é uma prática institucionalizada na empresa. Existe uma longa e variada discussão associada à evolução do conceito de responsabilidade social. A crença atual de que as corporações têm responsabilidade para com a sociedade não é nova. De fato, é possível traçar a preocupação da empresa com a sociedade há vários séculos (AGUDELO; JÓHANNSDÓTTIR; DAVÍDSDÓTTIR, 2019). No entanto, apenas nas décadas de 1930 e 1940 que o papel dos executivos e o desempenho social das corporações começaram a aparecer na literatura e autores começaram a discutir quais eram as responsabilidades sociais específicas das empresas. Nas décadas 17 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES seguintes as expectativas sociais em relação ao comportamento empresarial mudaram, assim como o conceito de responsabilidade social empresarial (RSE). 1.2 Evolução e aplicação das práticas de responsabilidade social A responsabilidade social corporativa(RSC) tem sido anunciada como a maneira pela qual as corporações se posicionam. Nos últimos tempos, o escopo da RSE evoluiu além da escola de administração e da retórica empresarial para se tornar um termo reconhecido pela maioria da sociedade. Embora o termo RSC possa fazer parte da linguagem geral, as nuances do conceito escapam a muitas pessoas. Isso pode ser atribuído ao desenvolvimento fluido da ideologia e, de acordo com sua evolução, tem estado em constante fluxo. As discussões sobre RSE avançaram consideravelmente nos últimos anos, tanto que a RSC pode agora ser considerada uma ferramenta estratégica na relação entre empresas, governo e stakeholders. Os estudos de Carroll (2015) apontam que já na década de 1920 os gerentes das organizações, na época, passaram a assumir a responsabilidade de equilibrar a maximização dos lucros com os interesses do mercado e das comunidades. Posteriormente, com o crescimento dos negócios durante a Segunda Guerra Mundial e na década de 1940, as empresas passaram a ser vistas como instituições com responsabilidades sociais e uma discussão mais ampla sobre o tema começou a ocorrer. Apesar de datar de 1920, a responsabilidade social nas organizações somente passou a ser teorizada e discutida na academia na década de 1950, quando Howard Bowen publicou, em 1953 nos Estados Unidos, o livro Responsibilities of the businessman (Responsabilidades sociais do homem de negócios) (CARMO, 2015). Na década de 1970, os estudos sobre responsabilidade social nas organizações iniciaram, então, uma investigação acerca da capacidade de desempenho social das companhias, e pode-se inferir que muito mais que apenas assumir as responsabilidades dos impactos causados na sociedade, as empresas deveriam responder pelos seus atos, e estas respostas seriam dadas através da criação de mecanismos de identificação, mapeamento e ação socialmente responsáveis perante a sociedade. A seguir é apresentada uma visão sobre a discussão de responsabilidade social ao longo das décadas: • Décadas de 1950 e 1960: somente no início da década de 1950 que a noção de quais eram as responsabilidades sociais das organizações foi abordada pela literatura e pôde ser entendida como o começo da moderna construção de definição de responsabilidade social corporativa. Na verdade foi aproximando-se dos anos 1960 que a pesquisa acadêmica e teórica, foco da RSE, concentrou-se no nível social de análise, dando-lhe implicações práticas (CARMO, 2015). • Década de 1970: a responsabilidade social passa, efetivamente, a fazer parte das práticas de gestão organizacional. O sentimento antiguerra, o contexto social geral e um crescente senso de consciência na sociedade durante o final da década de 1960 se traduziram em um baixo nível de confiança nos negócios para atender às necessidades e desejos do público (WATERHOUSE, 2017). De fato, o baixo nível de confiança no setor empresarial atingiu um ponto significativo quando, em 1969, um grande 18 Unidade I derramamento de óleo na costa de Santa Barbara, Califórnia, foi alvo de protestos maciços nos EUA e, eventualmente, resultou na criação do primeiro Dia da Terra, comemorado em 1970. Durante o evento, 20 milhões de pessoas se juntaram a protestos para exigir um ambiente limpo e sustentável, além de lutar contra a poluição causada principalmente por corporações (derramamentos de óleo, lixões tóxicos, fábricas poluidoras e usinas de energia). Esse dia influenciou a agenda política dos EUA de forma tão decisiva que desempenhou um papel significativo na criação da Agência de Proteção Ambiental (EPA) no final de 1970 e foi traduzido em uma nova estrutura regulatória que mais tarde motivaria o comportamento corporativo e criaria responsabilidades adicionais para corporações (AGUDELO; JÓHANNSDÓTTIR; DAVÍDSDÓTTIR, 2019). • Década de 1980: com a implantação da responsabilidade social durante a década de 1970, cresceu o número de legislações que atendiam às preocupações sociais da época e deu um conjunto mais amplo de responsabilidades às corporações. Em contraste, durante a década de 1980, os governos de Reagan (EUA) e Thatcher (Reino Unido) promoveram uma nova linha de pensamento para a política com um forte foco na redução da pressão sobre as empresas e visando reduzir os altos níveis de inflação que ambos os locais enfrentavam. Para Reagan e Thatcher, o crescimento e a força das economias de seus países dependiam de sua capacidade de manter um ambiente de livre-mercado com o mínimo de intervenção estatal possível. Para isso, os principais objetivos econômicos de Reagan centraram-se na redução das regulamentações sobre o setor privado, o que foi complementado com reduções de impostos (AGUDELO; JÓHANNSDÓTTIR; DAVÍDSDÓTTIR, 2019). Durante a década de 1980, com crescimento exponencial da indústria mundial, as práticas de responsabilidade social começaram a ser questionadas pelos governos. • Década de 1990: importantes eventos internacionais influenciaram a perspectiva internacional para responsabilidade e a abordagem do desenvolvimento sustentável. Os mais relevantes incluem a criação do Agência Europeia do Ambiente (1990), a reunião da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, que levou à Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a adoção da Agenda 21 e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) (1992), além da adoção do Protocolo de Quioto (1997). A formação desses organismos e a adoção de acordos internacionais representaram esforços para estabelecer normas no que diz respeito a questões relacionadas ao clima e diretamente ao comportamento corporativo. A década de 1990 retoma o intenso interesse por responsabilidade social nas organizações e, de fato, foi durante ela que o conceito ganhou apelo internacional, talvez como resultado da abordagem internacional para o desenvolvimento sustentável da época combinada à globalização. • Anos 2000: logo no início dos anos 2000 intensifica-se a cobrança pelo reconhecimento e pela implementação da responsabilidade social nas organizações. Nesse período, a discussão estava pautada em dois momentos: o primeiro está focado no reconhecimento e expansão de RSO e sua implementação, enquanto o segundo concentra-se na abordagem estratégica para a RSO fornecida pelas publicações acadêmicas da época. O debate em torno da RSO foi adiantado várias vezes por figuras públicas, como, por exemplo, o presidente Reagan que, com o objetivo de estimular a economia e gerar crescimento econômico no final da década de 1980, apelou ao setor privado para práticas de negócios mais responsáveis e enfatizou que as corporações deveriam 19 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES assumir um papel de liderança na responsabilidade social (CARROLL, 2015). Durante a década de 1990, foi o presidente Clinton quem trouxe a atenção para a noção de cidadania corporativa e responsabilidade social com a criação do Prêmio Ron Brown de Liderança Corporativa para empresas que eram boas cidadãs corporativas (BATTAGELLO, 2013). Observação Classificamos a responsabilidade social não considerando uma nomenclatura. Então, entendam responsabilidade social nas organizações (RSO), responsabilidade social empresarial (RSE) ou responsabilidade social corporativa (RSC) como o mesmo conceito. Ainda nos anos 2000, a abordagem estratégica para RSE passou a ir além da influência institucional e pública na implementação da RSC, e chegaram contribuições relevantes ao conceito por meio da literatura acadêmica. Nos primeiros anos do século XXI, as políticas corporativas mudaram em resposta ao interesse público e, como resultado, muitas vezes tiveram um impacto social positivo. Isso significava que o escopo de responsabilidade social (do ponto de vista empresarial) era agora inclusivo para um conjunto mais amplo de partes interessadas, e uma nova definição de responsabilidade social corporativa (RSC) referia-se às obrigações da instituiçãopara com seus stakeholders – pessoas afetadas pelas políticas corporativas e práticas. Essas obrigações vão além das exigências legais e dos deveres da empresa para com seus acionistas. O cumprimento delas destina-se a minimizar qualquer prejuízo e maximizar o impacto benéfico em longo prazo da firma na sociedade (BATTAGELLO, 2013). • Anos 2010: o conceito de criação de valor compartilhado foi desenvolvido por Porter e Kramer, que o explicaram como um passo necessário na evolução dos negócios e o definiram como: “políticas e práticas operacionais que melhoram a competitividade de uma empresa, ao mesmo tempo que promovem as condições econômicas e sociais das comunidades onde opera. Criação de valor compartilhado concentra-se em identificar e expandir as conexões entre o progresso social e o progresso econômico” (PORTER; KRAMER, 2011, p. 2). • Anos 2020: nos dias de hoje, as organizações passaram a utilizar as práticas de responsabilidade social como instrumento de gestão e tomada de decisões. O surgimento de certificações de qualidade, ambientais, sociais e econômicas inseriram as empresas em uma busca pelas mais sustentáveis práticas de mercado. A responsabilidade social nas organizações abre caminho para uma prática mais incisiva nas companhias: a gestão ESG. Na figura a seguir, temos uma linha do tempo resumindo a evolução da discussão da responsabilidade social das organizações: 20 Unidade I Anos 1960: os empresários têm uma ampla obrigação para com a sociedade em termos de valores econômicos e humanos Anos 2010: Poster discute as práticas de RSO como forma de agregar valor às organizações Anos 2020: as práticas de RSO devem ser institucionalizadas na tomada de decisão e ocorre o surgimento do modelo de gestão ESG Anos 1970: o termo responsabilidade social corporativo tornou-se popular graças ao sentimento antiguerra Anos 2000: há o aumento da pressão nas organizações para implementação de práticas de RSO Anos 1980: existe um recuo nas discurssões sobre RSO devido a alguns governos defenderem menos pressão nas organizações Anos 1990: é apresentada a pirêmide de Carroll, na qual os tipos de responsabilidade são delineados Figura 5 – Linha do tempo da discussão de RSO No Brasil, a discussão sobre responsabilidade social nas organizações iniciou-se bem tardiamente. Somente no início dos anos 1990 a responsabilidade social se disseminou na forma de diretrizes de estratégias empresariais no país. Antes disso, a RSO era vista pelos gestores brasileiros como filantropia e benemerência, atuando com doações e ações de caridade em momentos isolados, visando muito mais a construção de uma imagem empresarial positiva que a responsabilidade social em si. Em meados de 2010, em Genebra, na Suíça, a Organização Internacional de Normalização, visando uma discussão mais generalista sobre responsabilidade social, editou a ISO 26000, cujo objetivo principal era intensificar e padronizar o comportamento ético, transparente e responsável das empresas com foco no desenvolvimento sustentável. A partir dela, o Brasil foi pioneiro em criar sua própria orientação para a RSO e implementou a NBR ISO 16001, em 2012, desenvolvida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Esta NBR tinha o papel principal de normatizar os sistemas de gestão da responsabilidade social e ambiental no país. Assim, com o objetivo de promover a RSE no Brasil, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) propôs um modelo de “balanço social”. A ideia era fornecer o “Selo Balanço Social Ibase/Betinho”, que funcionaria como um marco para a empresa que pretendia ser vista como socialmente responsável. Ele seria concedido a companhias que atuassem de forma responsável com a sociedade e o meio ambiente (DE SINAY et al., 2019). 21 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES O modelo para elaboração de balanços sociais continha informações financeiras sobre desembolsos obrigatórios e discricionários que beneficiam empregados (indicadores sociais internos), sociedade (indicadores sociais externos), meio ambiente (indicadores ambientais), não discriminatório e planejamento de carreira, além de informações acerca da divisão dos benefícios entre os stakeholders e detalhamento do papel de cidadania da corporação. Desde então, muitas empresas brasileiras (Itaú, Natura, Bradesco, Unilever, Ambev, Magazine Luiza, entre outras) têm adotado práticas exitosas de responsabilidade social. Não existe uma lei que as obrigue a fazerem investimento em ações ambientais e sociais no país – por isso, entende-se que as companhias que adotam tais práticas têm como filosofia de gestão não apenas o aumento dos seus lucros, mas também o desenvolvimento sustentável e social (CRISÓSTOMO; FREIRE; PARENTE, 2014). Saiba mais Quer saber mais sobre as práticas de responsabilidade social das organizações? Acesse o link a seguir e conheça os relatórios de resultados econômicos e socioambientais da Natura. NATURA. Relatório Integrado Natura & Co. [s.d.]. Disponível em: https://cutt.ly/vMP4esF. Acesso em: 3 out. 2022. A rede Magazine Luiza, por exemplo, em seu site, dispõe de um espaço para divulgação de suas práticas de responsabilidade social. Sendo os pilares dela os seguintes: funcionários, clientes, fornecedores, meio ambiente e sociedade. A empresa acredita que: valorizar pessoas, promover esforços em torno de causas comuns e investir no cultivo da alma dos seus clientes e colaboradores são atributos reforçados diariamente no Magazine Luiza, que acredita que deve muito do que construiu até hoje à sociedade. Ao estilo democrático de gestão e ao “Jeito Luiza de Ser” adotados pela empresa, está atrelada uma significativa diversidade de ações que visam promover benefícios para todos, quer sejam funcionários, clientes, fornecedores, meio ambiente ou sociedade. Afinal, o Magazine Luiza tem com um dos seus valores a crença de que as pessoas são a força e a vitalidade da organização. Valorizar pessoas também significa valorizar a diversidade, independente de idade, sexo ou origem social, e o Magazine Luiza possui programas específicos para incluir e respeitar as diferenças entre as pessoas, como o programa de inclusão de pessoas com deficiência, o programa de contratação de jovens aprendizes e trainees e o atendimento diferenciado para mulheres que querem crescer na empresa (MAGAZINE LUIZA, s.d.). 22 Unidade I Saiba mais Conheça as práticas de responsabilidade social da rede Magazine Luiza no link a seguir: MAGAZINE LUIZA. Compromisso com a sociedade. Magazine Luiza, Franca, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2rIluoQ. Acesso em: 3 out. 2022. No Brasil é utilizado um ranking de empresas que vem avaliando a reputação das corporações desde o ano 2000 no que diz respeito à responsabilidade social e governança corporativa na Espanha e América Latina, chamado Ranking Merco (Monitor Empresarial de Reputação Corporativa). O estudo e o ranking são realizados pelo Instituto Análisis e Investigación, conforme a Norma ISO 20252 (a norma estabelece os termos, as definições e os requisitos de serviço para prestadores de serviço que realizam pesquisas de mercado, de opinião e social, incluindo insights e análises de dados). De acordo com esse ranking, as empresas mais bem classificadas em responsabilidade e governança são (MERCO, 2019): • Natura. • Ambev. • Grupo Boticário. • Bradesco. • Magazine Luiza. • Itaú Unibanco. • Avon. • Nestlé. • Coca-Cola. • Google. • Renner. • Unilever. 23 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES • Toyota. • Santander. • GPA. • Vivo. • Mercado Livre. • Johnson & Johnson. • Hospital Sírio-Libanês. • Lojas Americanas. • Gerdau. • Porto Seguro. • Banco do Brasil. • McDonald’s. • Amazon. • BRF. • Carrefour. • Netflix. • Petrobras. • Alpargatas. Observação O ranking mencionado não classifica apenas empresas brasileiras, mas também multinacionais que atuam no país. 24 UnidadeI Já o ranking Best for the World, de acordo com a revista Forbes, apontou que 39 empresas brasileiras estão entre as melhores do mundo em práticas de responsabilidade social (39 EMPRESAS…, 2021). Elas oferecem, além do retorno financeiro, impactos positivos para a sociedade e o meio ambiente. Podemos citar como exemplos: YouGreen, Natura, Grupo Gaia e outras. Pode-se perceber, então, que apesar de tardiamente discutida pelos gestores no Brasil, a responsabilidade social tem ganhado força nos últimos anos, e as empresas estão desenvolvendo práticas consolidadas e exitosas em suas gestões. É importante ressaltar que não basta ter uma atividade ou outra de ação social, mas sim um modelo institucionalizado que vise a sustentabilidade econômica da organização e o desenvolvimento ambiental e social. 1.3 Crescimento econômico, desenvolvimento econômico e desenvolvimento sustentável O crescimento econômico é definido como o aumento na produção de bens e serviços em um país. Como ele mede o valor dos bens produzidos, e não apenas a quantidade, métricas como o Produto Interno Bruto (PIB) são frequentemente usadas. Em geral, os aumentos na produção agregada se correlacionam com a elevação da produtividade marginal de cada residente, levando ao crescimento da renda média, maiores gastos do consumidor e melhor padrão de vida (CARVALHO et al., 2015). A Revolução Industrial é um exemplo significativo do crescimento econômico. A montagem automatizada nas fábricas transferiu os trabalhadores para funções mais qualificadas e especializadas, aprimorando a tecnologia. O trabalho qualificado e a tecnologia aprimorada, por sua vez, aumentaram os bens de capital disponíveis, resultando em maior produção e acabaram com as fomes periódicas, levando ao aumento da população (ROLIM; JATOBÁ; BELO, 2014). O crescimento econômico é o aumento do valor dos bens e serviços de uma economia, o que gera mais lucro para as empresas. Como resultado, os preços das ações sobem. Isso dá às companhias capital para investir e contratar mais funcionários (CARVALHO et al., 2015). À medida que mais empregos são criados, a renda aumenta. Os consumidores têm mais dinheiro para comprar produtos e serviços adicionais, e as compras geram um crescimento maior. Por essa razão, todos os países desejam um crescimento econômico positivo. Isso o torna o indicador econômico mais observado (ROLIM; JATOBÁ; BELO, 2014). De acordo com Rolim, Jatobá e Belo (2014, p. 6), Desenvolvimento Econômico, por sua vez, são programas, políticas ou atividades que buscam melhorar o bem-estar econômico e a qualidade de vida de uma comunidade. O que “desenvolvimento econômico” significa para você dependerá da comunidade em que você vive. Cada comunidade tem suas próprias oportunidades, desafios e prioridades. 25 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES Assim, pode-se definir desenvolvimento econômico como a criação de riqueza a partir da qual os benefícios da comunidade são realizados. É mais do que um programa de emprego: trata-se de um investimento no crescimento da sua economia e na melhoria da prosperidade e qualidade de vida de todos os residentes (ROLIM; JATOBÁ; BELO, 2014). Do ponto de vista público, o desenvolvimento econômico local envolve a alocação de recursos limitados – terra, trabalho, capital e empreendedorismo de forma que tenha um efeito positivo sobre o nível de atividade empresarial, emprego, padrões de distribuição de renda e solvência fiscal. Ele, também conhecido como crescimento ou avanço econômico, refere-se à geração de riqueza que é encontrada em benefício e avanço da sociedade. Não se encontra apenas em projetos de desenvolvimento isolados, mas no avanço geral da economia em relação a fatores como educação, disponibilidade de recursos e padrão de vida. A importância do desenvolvimento econômico está no bem-estar da população. Seu conceito é um fator-chave no processo de tomada de decisão das autoridades soberanas na elaboração de políticas. O desenvolvimento econômico depende fortemente da alocação eficiente de recursos (razão para o lento crescimento das economias de comando). Ele não é encontrado exclusivamente em projetos, mas em abordagens econômicas, como os recursos são alocados para as indústrias que mais precisam deles. O estímulo do comércio por meio de políticas, leis e regulamentações é outra medida de promoção do crescimento econômico (SILVA; NELSON; SILVA, 2018). O termo “desenvolvimento econômico” é comumente associado a conceitos como industrialização e modernização por ser o avanço uma característica-chave dos fundamentos dos conceitos. Se uma nação pode se desenvolver, seus cidadãos devem se tornar mais ricos e, assim, serem capazes de escapar das armadilhas da pobreza. Isso é amplamente verdade, mas não pode ser usado como um quadro de referência isolado por causa dos elementos econômicos que ignora. Os benefícios sociais, políticos e econômicos não são os únicos resultados do crescimento e do avanço; fatores como inflação, custos de vida mais altos e maiores disparidades de riqueza estão todos intimamente associados ao desenvolvimento econômico (SILVA; NELSON; SILVA, 2018). Se uma economia está passando por um desenvolvimento significativo, ela está se expandindo e crescendo naturalmente. Esse crescimento é encontrado em como a força de trabalho, por exemplo, se torna cada vez mais educada. A educação crescente dos trabalhadores faz com que eles recebam salários maiores. Salários maiores significam que eles têm mais poder de compra para sair e adquirir bens e serviços. Por fim, o mais importante dos conceitos: desenvolvimento sustentável. Trata-se do desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de fazê-lo às suas próprias demandas. Ele nasceu como um esforço das nações para promover um modelo de desenvolvimento econômico global compatível com a conservação ambiental e a equidade social (SILVA; NELSON; SILVA, 2018). 26 Unidade I O desenvolvimento sustentável tornou-se um manifesto político a partir do qual cidadãos, organizações civis, empresas e governos se orientam para promover ações voltadas para um objetivo comum: a sustentabilidade. De acordo com o exposto pelos autores (2018, p. 14), o desenvolvimento sustentável baseia-se em três pilares: • desenvolvimento que tenha em conta a satisfação das necessidades das gerações presentes; • desenvolvimento ecologicamente correto; • desenvolvimento que não sacrifica os direitos das gerações futuras. O impulso para o crescimento econômico resultou em problemas como a degradação ambiental e as disparidades sociais. O desenvolvimento sustentável prescreve uma abordagem mais equilibrada ao crescimento que progride o desenvolvimento em três pilares subjacentes: inclusão social, sustentabilidade ambiental e prosperidade econômica (CARVALHO et al., 2015). Todos os países devem atender às suas necessidades básicas de emprego, alimentação, energia, água e saneamento. Para os autores (2015), o sustentável nos estimula a conservar e aprimorar nossos recursos, mudando gradualmente como desenvolvemos e usamos tecnologias. Todos os países devem atender às suas necessidades básicas de emprego, alimentação, energia, água e saneamento. Observação O desenvolvimento sustentável refere-se ao desenvolvimento global da qualidade de vida em uma nação, que inclui o crescimento econômico. Já o desenvolvimento econômico diz respeito ao aumento do crescimento monetário de uma nação em um determinado período. No conceito de desenvolvimento sustentável existe a metodologia 3 Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), que trata de minimizar a quantidade de resíduos que produzimos, reutilizar produtos o máximo que pudermos e reciclar quaisquer materiais que possam ser usados para uma nova finalidade. A Iniciativa 3R visa promover os 3Rs globalmente, de modo a construir uma sociedade de ciclo material sólido por meio do uso eficaz de recursos e materiais.Conforme Andrade (2020, p. 9), O princípio de redução de resíduos, reutilização e reciclagem de recursos e produtos é frequentemente chamado de 3Rs. Reduzir significa optar por usar as coisas com cuidado para reduzir a quantidade de resíduos gerados. A reutilização envolve o uso repetido de itens ou partes de itens que ainda 27 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES possuem aspectos utilizáveis. Reciclagem significa o uso dos próprios resíduos como recursos. A minimização de resíduos pode ser alcançada de maneira eficiente, concentrando-se principalmente no primeiro dos 3Rs, “reduzir”, seguido de “reutilizar” e depois “reciclar”. Reduzir é simplesmente criar menos resíduos. Trata-se do melhor método para manter o ambiente limpo, por isso é o primeiro dos 3 Rs. Ao reduzir, você interrompe o problema na fonte. Fazer menos resíduos significa que há menos itens para limpar. Reutilizar é pegar algo antigo ou indesejado que você poderia jogar fora e encontrar um novo uso. Existem várias maneiras de reutilizar itens para ajudar a reduzir sua pegada de lixo (ANDRADE, 2020). 1.3.1 Agenda 2030 e objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU Ganhando impulso desde a Conferência da ONU de 1972 sobre Meio Ambiente Humano até a Cúpula do Desenvolvimento Sustentável ONU 2015, a Agenda 2030 é o fechamento, após mais de quatro décadas, do diálogo multilateral e debate sobre desafios ambientais, sociais e econômicos enfrentados pela comunidade mundial. Adotado como resultado de extensas negociações entre os Estados membros, a responsabilidade pela implementação da Agenda 2030 depende principalmente dos governos dos grandes países (CARVALHO, 2019). A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável foi lançada por uma cúpula da ONU em Nova York, de 25 a 27 de setembro de 2015, e visava acabar com a pobreza em todas as suas formas. Ela previa um mundo de respeito universal pelos direitos humanos e pela dignidade humana, o Estado de Direito, a justiça, a igualdade e a não discriminação. Baseava-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos tratados internacionais de direitos humanos e enfatizava as responsabilidades de todos os Estados de respeitar, proteger e promover os direitos humanos. Há forte ênfase no empoderamento das mulheres e de grupos vulneráveis, como crianças, jovens, pessoas com deficiência, idosos, refugiados, deslocados internos e migrantes (MOREIRA et al., 2019). Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda e suas 169 metas objetivavam erradicar a pobreza e realizar os direitos humanos de todos, além de alcançar a igualdade de gênero. Ao endossá-la, a comunidade mundial reafirmou seu compromisso com o desenvolvimento sustentável. No acordo, 193 Estados-membros se comprometeram a garantir um crescimento econômico sustentado e inclusivo, com proteção ambiental, e, para isso, pacífico e cooperativo. A Agenda 2030 é universal, transformadora e baseada em direitos. Trata-se de um plano de ação ambicioso para países, o sistema da ONU e todos os outros atores. Ela é o plano mais abrangente até hoje para eliminar a pobreza extrema, reduzir a desigualdade, e proteger o planeta. A Agenda vai além da retórica e estabelece um apelo concreto à ação para pessoas, planeta e prosperidade (CARVALHO, 2019). Os princípios fundamentais que sustentam a Agenda 2030 incorporam o seguinte núcleo de princípios (PNUD, 2016): 28 Unidade I • Universalidade: tem alcance universal e comprometimento de todos os países, a despeito dos níveis e status de rendimento de desenvolvimento, para contribuir a um esforço abrangente de desenvolvimento sustentável. A Agenda é aplicável em todos os países, em quaisquer contextos e sempre. • Não deixando ninguém para trás: visa beneficiar todas as pessoas e compromete-se a não deixar ninguém para trás, estendendo a mão a todas as pessoas necessitadas e carentes, onde quer que elas estejam, de maneira que demonstre seus objetivos, desafios e vulnerabilidades específicos. Isso gera uma demanda sem precedentes por dados desagregados para analisar os resultados e rastrear progressos. • Interconexão e indivisibilidade: baseia-se na interligação e natureza indivisível de seus 17 ODS. É fundamental que todas entidades responsáveis pela implementação dos ODS os tratem em sua totalidade, em vez de abordá-los como uma lista de menus de objetivos. • Inclusão: exige a participação de todos os segmentos da sociedade, independentemente de sua raça, gênero, etnia e identidade para contribuir com a implementação. • Parcerias com várias partes interessadas: requere o estabelecimento de parcerias multissetoriais para mobilizar e compartilhar conhecimento, experiência, tecnologia e recursos financeiros em todos os países. No centro da Agenda 2030 estão cinco dimensões: pessoas, prosperidade, planeta, parceria e paz, também conhecidos como os 5 Ps. Tradicionalmente, eles são vistos através da lente de três elementos centrais: inclusão, crescimento econômico e proteção. O conceito de desenvolvimento sustentável ganhou um significado mais rico com a adoção da Agenda 2030, que se baseia nessa tradicional abordagem adicionando dois componentes críticos: parceria e paz. A sustentabilidade genuína fica no núcleo dessas cinco dimensões (PNUD, 2016). Lembrete A Agenda 2030 afirma que, para pôr o mundo em um caminho sustentável, é preciso tomar medidas ousadas e transformadoras. De acordo com Moreira et al. (2019), a Agenda 2030 deu origem, então, aos 17 ODS, que têm como pilares: respeito à Terra e à vida em toda a sua diversidade; cuidado da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor; construção de sociedades democráticas, justas, participativas, sustentáveis e pacíficas; garantia da generosidade e beleza da Terra para as gerações presentes e futuras. Os objetivos globais e a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável buscam acabar com a pobreza e a fome, realizar os direitos humanos de todos, alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas, além de garantir a proteção duradoura do 29 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES planeta e seus recursos naturais. Tais propósitos estabelecem relação entre eles e, na maioria das vezes, o acerto em um deles será o ponto para o sucesso do outro. São os objetivos: 16 Paz, justiça e instituições eficazes 17 Parcerias e meios de implementação 14 Vida na água 15 Vida terrestre11 Cidades e comunidades sustentáveis 12 Consumo e produção sustentáveis 13 Ação contra a mudança global do clima 3 Saúde e bem-estar 2 Fome zero e agricultura sustentável 4 Educação de qualidade 5 Igualdade de gênero 1 Erradicação da pobreza 6 Água potável e saneamento 7 Energia acessível e limpa 8 Trabalho decente e crescimento econômico 9 Indústria, inovação e infraestrutura 10 Redução das desigualdades Figura 6 – Dezessete objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) Adaptada de: https://bit.ly/3fKgigX. Acesso em: 3 out. 2022. • Objetivo 1: acabar com a pobreza em todas as suas formas e localidades. • Objetivo 2: erradicar a fome e buscar o alcance da segurança alimentar através da melhoria nutricional e da agricultura sustentável. • Objetivo 3: promover a vida saudável através do bem-estar para todos, indiferentemente da faixa etária. • Objetivo 4: estimular a educação inclusiva, equalitária e com qualidade, visando promover oportunidades e aprendizagem. • Objetivo 5: alcançar o fim da desigualdade de gênero com o empoderamento feminino. • Objetivo 6: ter disponibilidade de gestão sustentável dos recursos hídricos e saneamento universal. 30 Unidade I • Objetivo 7: assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos. • Objetivo 8: incentivar o crescimento econômico sustentável, inclusivo e perene, gerando empregos em sua plenitude e condições de trabalho decentes. • Objetivo 9: construir infraestruturas resilientes, bem como a promoção da indústriainclusiva e sustentável, buscando a inovação. • Objetivo 10: reduzir a desigualdade, dentro ou entre os países. • Objetivo 11: transformar cidades com assentamentos humanos em locais inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. • Objetivo 12: tornar a produção e o consumo sustentáveis. • Objetivo 13: buscar ações urgentes e efetivas para combater mudanças climáticas. • Objetivo 14: atentar-se à conservação e ao uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos. • Objetivo 15: impor a proteção, recuperação e promoção para uso sustentável dos ecossistemas terrestres, buscando a sustentabilidade das florestas, combatendo a desertificação e degradação da terra. • Objetivo 16: fomentar as sociedades de forma pacífica e inclusiva para o desenvolvimento sustentável, de modo que todos tenham acesso à justiça, através de instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. • Objetivo 17: fortalecer os meios de implementação e revitalização visando a parceria global para o desenvolvimento sustentável. Os ODS fornecem orientação mundial para encarar os desafios globais enfrentados pela comunidade internacional. Trata-se de proteger melhor os fundamentos naturais da vida e nosso planeta em todos os lugares e para todos, bem como preservar as oportunidades das pessoas de viver com dignidade e prosperidade ao longo de gerações (MOREIRA et al., 2019). 1.4 Responsabilidade social corporativa: responsabilidade social empresarial e responsabilidade social ambiental Até recentemente, a maioria das grandes empresas era conduzida quase exclusivamente com um objetivo em mente: lucro. A maximização dos lucros estava no centro de todas as ações ou iniciativas adotadas. 31 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES Nas últimas décadas, porém, mais líderes empresariais reconheceram que têm a responsabilidade de fazer mais do que simplesmente maximizar os lucros para acionistas e executivos. Em vez disso, eles possuem a responsabilidade social de fazer o melhor não apenas para suas empresas, mas para as pessoas, o planeta e a sociedade em geral (NGUYEN et al., 2020). A responsabilidade social é um conceito de gestão pelo qual as empresas integram preocupações sociais e ambientais em suas operações de negócios e interações com seus stakeholders. Essa percepção levou ao surgimento de instituições que se identificam como socialmente responsáveis. Algumas delas até carregam designações ou selos, como B Corporation (B Corp), sociedades de propósito social (SPCs) e sociedades de responsabilidade limitada (L3Cs) (NGUYEN et al., 2020). Observação Nguyen et al. (2020) classificam as empresas em três tipos: • A certificação B Corp é a designação de que uma empresa está atendendo a altos padrões de desempenho verificado, responsabilidade e transparência em fatores de benefícios de funcionários e doações de caridade para práticas da cadeia de suprimentos e insumos. • A empresa de propósito social é aquela cuja razão de ser duradoura é criar um mundo melhor. Trata-se de um motor do bem, gerando benefícios sociais pelo próprio ato de fazer negócios. Seu crescimento é uma força positiva na sociedade. • A sociedade de responsabilidade limitada (LLP) opera para promover significativamente a realização de um ou mais propósitos beneficentes ou educacionais da organização. As corporações que adotam a responsabilidade social corporativa geralmente são organizadas de maneira que as capacita a ser e agir de maneira socialmente responsável. Trata-se de uma forma de autorregulação que pode ser expressa em iniciativas ou estratégias, dependendo dos objetivos de uma organização (SERAO et al., 2017). Exatamente o que significa “socialmente responsável” varia de uma organização para outra. As empresas geralmente são guiadas por um conceito conhecido como triple bottom line, que determina que elas devem se comprometer a medir seu impacto social e ambiental, bem como seus lucros. As palavras lucro, pessoas e planeta são frequentemente usadas para resumir a força motriz por trás do triple bottom line (NGUYEN et al., 2020). Existem três tipos de responsabilidade social das organizações, que se diferenciam de acordo com as práticas nelas desenvolvidas: responsabilidade social corporativa (RSC), responsabilidade social empresarial (RSE) e responsabilidade social ambiental (RSA). 32 Unidade I A responsabilidade social corporativa refere-se a como a empresa gerencia suas relações com seus funcionários e suas ações para melhoria de vida deles, seus familiares e comunidades em que estão inseridos. A RSC está associada ao compromisso contínuo da companhia em atuar de forma ética, buscando desenvolvimento econômico, mas, também, promover o desenvolvimento da qualidade de vida de sua força de trabalho, da comunidade em que fazem parte (RIBEIRO, 2002). Já a responsabilidade social empresarial está relacionada não apenas com a empresa, mas, principalmente, com todos seus stakeholders. A definição do conceito se aproxima muito à da RSC, mas ao contrário desta, que foca o público interno, a RSE amplia sua atuação para toda a sociedade e stakeholders envolvidos. Além de desenvolver a responsabilidade social para os diretamente envolvidos no negócio, ela aumenta seu campo de atuação (RIBEIRO, 2002). Por fim, temos a responsabilidade social ambiental. A RSA é o tipo mais completo e abrangente de responsabilidade social: além de todas as ações vistas na RSC e RSE. Aqui, são incluídas atitudes que reduzam o impacto negativo no meio ambiente. Uma empresa ao criar um planejamento ambiental tem ações bem claras e específicas para levar benefícios à sociedade e ao meio ambiente (RIBEIRO, 2002). Portanto, os três tipos de responsabilidade social podem ser aplicados em diferentes instituições empresariais, em diversos contextos e com variados objetivos. A responsabilidade social, ainda, pode ser tradicionalmente dividida em quatro categorias (SERAO et al., 2017): • Responsabilidade econômica: apoia todas as suas decisões financeiras em seu compromisso de fazer o bem nas áreas listadas anteriormente. O objetivo final não é simplesmente maximizar os lucros, mas impactar positivamente o meio ambiente, as pessoas e a sociedade. • Responsabilidade legal: significa deveres específicos impostos a uma pessoa para cuidar ou fornecer a outra, incluindo responsabilidade por obrigações pessoais conforme concedidas por meio de uma procuração ou ordem judicial. Como o negócio é uma entidade em si, também deve seguir leis e regras. Cada empresa tem a responsabilidade de operar nos limites estabelecidos pelas leis. • Responsabilidade ética: representa manter – e até mesmo melhorar – seus resultados financeiros, ao mesmo tempo em que estabelece um padrão alto para dar uma contribuição positiva à sociedade. Em parte, os líderes esclarecidos da empresa podem desafiar os gerentes seniores e outros funcionários a estabelecer metas para atividades que vão desde a filantropia comunitária até a excelência ambiental. As responsabilidades éticas representam aquelas normas, padrões ou expectativas que refletem o que funcionários, consumidores e acionistas consideram justo para manter a proteção ou o respeito dos direitos morais das partes interessadas. Elas são importantes para a atuação de maneira consistente com as expectativas das normas sociais e éticas. • Responsabilidade filantrópica: refere-se ao objetivo de uma empresa de tornar ativamente o mundo e a sociedade um lugar melhor. Além de agir da forma mais ética e ambientalmente amigável possível, as organizações movidas pela responsabilidade filantrópica em geral dedicam uma parte de 33 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES seus ganhos. Enquanto muitas companhias doam para instituições de caridade e organizações sem fins lucrativos que se alinham com suas missões orientadoras, outras doam para causas nobres que não se relacionam diretamente com seus negócios. Outros chegam ao ponto de criar seu próprio fundoou organização de caridade para retribuir (SERAO et al., 2017, p. 17). 2 PRINCÍPIOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL 2.1 Formas de atuação em responsabilidade social É inevitável a percepção que nos dias atuais as empresas passaram a entender que deve agir de forma a impactar, positivamente, a comunidade em que estão inseridas. O lucro se tornou uma consequência da boa atuação organizacional (INSTITUTO ETHOS, 2020). A responsabilidade social corporativa, também conhecida como RSE, é o conceito de que uma empresa tem a responsabilidade de fazer o bem. RSE significa que uma empresa deve autorregular suas ações e ser socialmente responsável perante seus clientes, partes interessadas e o mundo em geral. Mas o que isso realmente significa na prática? Tipos de responsabilidade social corporativa A responsabilidade social corporativa é tradicionalmente dividida em quatro categorias: ambiental, ética, filantrópica e econômica. Responsabilidade ambiental A responsabilidade ambiental refere-se à crença de que as organizações devem se comportar da maneira mais ecológica possível. É uma das formas mais comuns. Algumas empresas usam o termo “gestão ambiental” para se referir a tais iniciativas. As corporações que buscam adotar a responsabilidade ambiental podem fazê-la de várias maneiras: • redução da poluição e da emissão de gases que contribuem para intensificação do efeito estufa; • adoção do uso de plásticos biodegradáveis, além do aumento do reaproveitamento da água e reciclagem do lixo gerado pelo sistema produtivo; • potencialização do uso de energia de fonte limpa, recursos sustentáveis e materiais reciclados ou parcialmente reciclados; • criação de ações que busquem compensar o impacto ambiental negativo, por exemplo, plantando árvores, financiando pesquisas e doando para causas relacionadas. As preocupações ambientais regularmente são machetes – seja um problema de longo prazo, como as mudanças climáticas globais, ou um problema mais local, como o derramamento de produtos químicos 34 Unidade I tóxicos. As empresas que se alinham a esses esforços ajudam a minimizar os problemas ambientais tomando medidas como a redução da pegada de carbono geral. Embora as grandes corporações recebam a maior parte da atenção por seus compromissos ambientais – a General Mills se comprometeu com uma redução de 28% nas emissões de gases de efeito estufa, por exemplo – também há muitas oportunidades para pequenas e médias instituições (TENÓRIO, 2015). Muitas ações podem ser desenvolvidas pelas organizações. É possível elaborar programas de reciclagem de resíduos, uso de energia limpas (eólica, por exemplo), redução do uso de produtos químicos. Veja que estes são alguns caminhos, mais simples, para que a companhia possa iniciar sua atuação em responsabilidade ambiental. Tais ações podem, também, ser desenvolvidas em efeito cascata, envolvendo tanto os fornecedores quanto os revendedores de seus produtos, ampliando os compromissos ambientais a toda cadeia de suprimentos (TENÓRIO, 2015). Responsabilidade ética A responsabilidade social é uma teoria ética na qual os indivíduos são responsáveis pelo cumprimento de seu dever cívico, e as ações de um indivíduo devem beneficiar toda a sociedade. Dessa forma, é preciso haver um equilíbrio entre o crescimento econômico e o bem-estar da sociedade e do meio ambiente. Se esse equilíbrio for mantido, a responsabilidade social será cumprida. As empresas desenvolveram um sistema de responsabilidade social adaptado ao seu ambiente. Se a responsabilidade social é mantida em uma corporação, os funcionários e o meio ambiente são considerados iguais à economia dela. Tal manutenção garante que a integridade da sociedade e o meio ambiente sejam protegidos. Muitas vezes, as implicações éticas de uma decisão/ação são negligenciadas para ganho pessoal e os benefícios são em geral materiais. Isso frequentemente se manifesta em empresas que tentam burlar as regulamentações ambientais. A premissa da responsabilidade ética é que como os negócios são agentes que realizam ações que afetam o mundo ao seu redor, eles devem se comportar de maneira que não causem danos, sofrimento, desperdício ou destruição injustificados. Podemos entender a responsabilidade ética em termos de quem ou o que as ações da empresa afetam. As comunidades locais e instituições de caridade sempre precisam de ajuda. Líderes empresariais inteligentes sabem que estar envolvido na comunidade de maneira produtiva também é bom para a empresa. Dê aos funcionários a oportunidade de ajudar uma escola local a plantar árvores ou trabalhar com o conselho da cidade para lidar com os sem-teto na área. Os líderes empresariais têm a oportunidade de escolher onde investir os esforços voluntários para melhor ajudar a área local com a instituição. O importante para as corporações é escolher uma causa e contribuir com seu tempo (TENÓRIO, 2015). Responsabilidade filantrópica A responsabilidade filantrópica refere-se ao objetivo de uma empresa de ativamente tornar o mundo e a sociedade um lugar melhor. Além de agir da forma mais ética e ambientalmente amigável possível, as organizações movidas pela responsabilidade filantrópica geralmente dedicam uma parte de seus 35 RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES ganhos. Ela envolve o ato de promover e melhorar o bem-estar e a boa vontade humana. Isso também pode ser descrito como ser um bom cidadão corporativo. É digno de nota que a pirâmide de Carroll representa uma das primeiras tentativas de mesclar responsabilidades tangíveis e intangíveis que são responsabilidades econômicas e sociais, respectivamente. Ainda conforme Tenório (2015), as maiores empresas possuem diretrizes filantrópicas. Podemos citar como exemplo a Microsoft, que colabora de modo direto com a Fundação Bill e Melinda Gates para levar tecnologia a comunidades em todos os lugares. Ela compreende que seu sucesso requer não apenas inovação contínua, mas a construção de uma próxima geração capaz de entender, empregar e aperfeiçoar a tecnologia. Responsabilidade econômica A responsabilidade econômica é a prática de uma empresa apoiar todas as suas decisões financeiras em seu compromisso de fazer o bem nas áreas listadas anteriormente. O objetivo final não é simplesmente maximizar os lucros, mas impactar positivamente o meio ambiente, as pessoas e a sociedade (TENÓRIO, 2015). 2.2 Responsabilidade social corporativa e cidadania empresarial No mundo de hoje, espera-se cada vez mais que as empresas sejam responsáveis por como suas práticas impactam a sociedade e o meio ambiente. A responsabilidade social corporativa (RSC) não é mais apenas uma prática comercial respeitada ou um diferencial da marca, mas uma demanda social e econômica. Ela define o modelo de negócios e o grau de responsabilidade que as empresas devem manter para ter um impacto positivo no mundo. O modelo de RSC descreve como uma companhia pode ser responsável perante si mesma, sua equipe, seus stakeholders, o público e os ambientes global e local. Todos os negócios têm responsabilidades éticas e legais básicas; no entanto, os negócios mais bem-sucedidos estabelecem uma base sólida de cidadania corporativa, demonstrando um compromisso com o comportamento ético ao criar um equilíbrio entre as necessidades dos acionistas e aquelas da comunidade e do meio ambiente no entorno. Essas práticas ajudam a atrair consumidores e estabelecer fidelidade à marca e à empresa (SALGADO, 2021). A implementação de um modelo de RSC faz mais do que apenas ajudar o meio ambiente e a sociedade, tem um impacto positivo na reputação de uma empresa. À medida que as pessoas estão se tornando mais socialmente conscientes, elas optam por priorizar negócios focados na responsabilidade social. As práticas de RSC também ajudam a aumentar o moral dos funcionários, pois colaboradores e empregadores ganham um maior senso de propósito em seu trabalho. Compreender as formas adequadas de implementar um modelo de RSC tornou-se
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