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Termos desconhecidos: 1. Diarreia (aguda, crônica, persistente): 2. Borda da lesão violácea: 3. Sinal de irritação peritoneal: 4. ASCA: 5. pANCA: 6. Pioderma gangrenoso: 7. Lâmina direta nas fezes: 8. Coprocultura: 9. Calprotectina fecal: 10. Desvio à esquerda dos leucócitos: 11. Granulações tóxicas: 12. Piócitos: Tutoria 3 – Módulo 2 DII 13. Serpinginosas: 14. Granulomas não caseosos: 15. Uveíte: 16. Adalimumabe: 17. Mesalazina: Atividades para casa: 1. Dor tipo cólica - intermitente ou não (menstrual, biliar...): 2. Quando a perda de peso é importante e tem que ser investigada? 3. Como calcular carga tabágica? 4. Toda presença de pus é indicação de infecção bacteriana? 5. Paciente imunodeprimidos têm menor risco de apresentar abscesso/pus? 6. Valores normais de Hb, Ht, leucócitos? 7. Anatomia do intestino (válvulas ileococal) Objetivos: 1. Explicar a fisiopatologia, quadro clínico e epidemiologia das DII’s: Introdução: Doença inflamatória intestinal (DII) é um termo amplo que designa a doença de Chron (DC) e a retocolite ulcerativa (RCU), caracterizadas pela inflamação crônica do intestino. Essas doenças diferem quanto a localização e ao comprometimento das camadas do intestino, mas também pela fisiopatogenia. A doença inflamatória intestinal (DII) é uma condição crônica resultante da complexa interação entre a microbiota intestinal e a resposta imune do hospedeiro em indivíduos geneticamente predispostos, que leva à ativação imune inadequada da mucosa. A DII compreende duas entidades principais, a doença de Crohn e a colite ulcerativa. A distinção entre a colite ulcerativa e a doença de Crohn baseia-se, em grande parte, na distribuição dos locais afetados e na expressão morfológica da doença nesses locais. colite ulcerativa está limitada ao cólon e reto, e estende-se apenas pela mucosa e submucosa. Em contrapartida, a doença de Crohn, que também foi chamada enterite regional (devido ao envolvimento ileal frequente), pode envolver qualquer área do trato gastrointestinal e, frequentemente, é transmural. Figura 1. Distribuição das lesões na doença inflamatória intestinal. A distinção entre doença de Chron e colite ulcerativa baseia-se principalmente na morfologia. 0 Etiologia: Embora as causas precisas ainda não estejam definidas, a maioria dos pesquisadores acredita que a DII é causada por efeitos combinados de alterações nas interações do hospedeiro com a microbiota intestinal, disfunção epitelial intestinal, respostas imunes mucosas aberrantes e composição alterada do microbioma intestinal. o Genética: O risco de doença é aumentado quando há um membro da família acometido, e, na doença de Crohn, a taxa de concordância para gêmeos monozigóticos é de aproximadamente 50%. Em contrapartida, a concordância de gêmeos monozigóticos para a colite ulcerativa é de apenas 16%, sugerindo que fatores genéticos são menos dominantes nessa forma de DII. Cerca de 15% dos indivíduos com doença inflamatória intestinal têm um familiar de primeiro grau com a doença. A contribuição de fatores genéticos é mais importante na doença de Crohn do que na colite ulcerativa. Em 10% dos pacientes com doença de Crohn, são encontradas mutações no gene NOD2. O produto desse gene (e de outros com função semelhante de controlar infecções intracelulares, como os genes ATG16L1 e IRGM) atua como receptor intracelular para bactérias e monta, junto com outras moléculas, plataformas no citosol chamadas inflamassomos, que envolvem ativação do NFκB, estimulador de genes pró-inflamatórios. Inativação do gene pode favorecer a persistência de microrganismos no interior das células, gerando estímulo inflamatório prolongado. No entanto, apenas pequena parcela dos indivíduos com defeitos no gene NOD2 desenvolve a doença. o Respostas imunes da mucosa: Embora os mecanismos pelos quais a imunidade da mucosa contribui para a patogenia da colite ulcerativa e doença de Crohn ainda estejam sendo investigados, os agentes imunossupressores e imunomoduladores permanecem como pilares do tratamento da DII. A polarização de células T auxiliares para o tipo de TH1 é bem reconhecida na doença de Crohn, e dados sugerem que as células T TH17 também contribuem na patogenia da doença. Assim, determinados polimorfismos do receptor de IL-23 conferem proteção contra a doença de Crohn e colite ulcerativa (IL-23 está envolvida no desenvolvimento e na manutenção de células TH17). No entanto, os agentes que bloqueiam IL-17 ou o seu receptor não proporcionaram nenhum benefício, enquanto um anticorpo que inibe as citocinas indutoras, tanto de TH1 como TH17, é eficaz, sugerindo que os dois subconjuntos de células T podem ter um papel sinérgico na doença. Alguns dados sugerem que a produção mucosa da citocina IL-13 derivada de TH2 está aumentada na colite ulcerativa e, em menor grau, na doença de Crohn. Os defeitos nas células T reguladoras, especialmente no subconjunto de produtores de IL-10, são considerados subjacentes à inflamação, especialmente na doença de Crohn. As mutações no receptor de IL-10 estão associadas à colite grave e de início precoce. Assim, alguma combinação de ativação imune excessiva por microrganismos intestinais e regulação imune defeituosa provavelmente é responsável pela inflamação crônica em ambas as formas de DII. o Defeitos epiteliais: ma variedade de defeitos epiteliais foi descrita na doença de Crohn, colite ulcerativa ou em ambas. Por exemplo, os defeitos na função da junção tipo tight da barreira epitelial ocorrem em pacientes com doença de Crohn e em um subconjunto de seus parentes de primeiro grau saudáveis. Essa disfunção da barreira cossegrega polimorfismos específicos de NOD2 associados à doença, e modelos experimentais demonstram que a disfunção da barreira pode ativar a imunidade inata e adaptativa da mucosa e sensibilizar os indivíduos à doença. Curiosamente, os grânulos da célula de Paneth, que contêm peptídeos antimicrobianos que podem afetar a composição da microbiota luminal, estão anormais em pacientes com doença de Crohn portadores de mutações de ATG16L1, proporcionando assim um potencial mecanismo em que uma alça de feedback defeituosa entre o epitélio e a microbiota poderia contribuir na patogenia da doença. o Microbiota: A quantidade de microrganismos no lúmen gastrointestinal é enorme, totalizando até 1012 microrganismos/mL de material fecal no cólon (50% da massa fecal). Há uma variação interindividual significativa na composição dessa população microbiana, que é modificada por dieta e doença. Estudos de transferência microbiana são capazes de promover ou reduzir doenças em modelos animais de DII, e ensaios clínicos sugerem que as bactérias probióticas (ou benéficas) ou mesmo transplantes de microrganismos fecais de indivíduos saudáveis poderiam beneficiar os pacientes com DII. A microbiota intestinal tem papel importante no desencadeamento e na manutenção das lesões intestinais. Modelos experimentais de inflamação intestinal em roedores mostram que animais isentos de germes não desenvolvem colite e que a inflamação surge rapidamente quando os animais são colonizados por bactérias comensais. Estudos experimentais mostram boa correlação com observações clínicas. Na doença inflamatória intestinal humana, o grau de atividade da inflamação é maior nos locais do intestino com maior densidade de colonização bacteriana, como o reto e o ceco. Por outro lado, estes são os locais de maior estase fecal, o que possibilita maior tempo de contato do conteúdo luminal com a mucosa. O contato direto das células epiteliais com bactérias ou seus produtos pode aumentar a permeabilidade da mucosa, que parece ser evento crítico naorigem e na manutenção dos estímulos à inflamação. Estudos de doença inflamatória intestinal mostram maior densidade de bactérias aderentes à mucosa e microrganismos no interior das células epiteliais do cólon. Figura 2. Modelo da patogenia da doença intestinal inflamatória (DII). Aspectos da doença de Crohn e da colite ulcerativa são mostrados. Um modelo que unifica as funções da microbiota intestinal, função epitelial e imunidade da mucosa sugere um ciclo pelo qual o fluxo transepitelial de componentes bacterianos luminais ativa respostas imunes inatas e adaptativas. Em um hospedeiro geneticamente suscetível, a liberação subsequente de TNF e outros sinais imunes levam o epitélio a aumentar a permeabilidade da junção do tipo tight, o que aumenta ainda mais o fluxo de material luminal. Esses eventos podem estabelecer um ciclo de autoamplificação em que um estímulo em qualquer local pode ser suficiente para iniciar a DII. Fisiopatologia: Quadro clínico: o Doença de Chron: As manifestações clínicas da doença de Crohn são extremamente variáveis. Na maioria dos pacientes, a doença começa com crises intermitentes de diarreia relativamente leve, febre e dor abdominal (caráter de cólica, intensa e mais presente do que na RCUI. Em algumas ocasiões é caracterizada como cólica periumbilical, pós-prandial, mas geralmente tende a se localizar em quadrante inferior direito, devido à grande frequência do comprometimento do íleo terminal). Aproximadamente 20% dos pacientes apresentam-se agudamente com dor no quadrante inferior direito, febre, que pode mimetizar apendicite aguda ou perfuração intestinal. Pacientes com envolvimento colônico podem apresentar diarreia sanguinolenta e dor abdominal, o que gera a necessidade de um diagnóstico diferencial com algumas infecções colônicas. Períodos de doença ativa tipicamente são interrompidos por intervalos assintomáticos que duram semanas a muitos meses. A reativação da doença pode estar associada a vários gatilhos externos, incluindo estresse físico ou emocional, itens alimentares específicos, uso de AINES e tabagismo. A anemia ferropriva pode se desenvolver em pessoas com doenças colônicas, enquanto a doença extensa do intestino delgado pode resultar em perda de proteína sérica e hipoalbuminemia, má absorção generalizada de nutrientes ou má absorção de vitamina B12 e sais biliares. Constrições fibrosadas, particularmente do íleo terminal, são comuns e requerem ressecção cirúrgica. A doença frequentemente recidiva no local da anastomose, e até 40% dos pacientes necessitam de ressecções adicionais em um período de 10 anos. As fístulas desenvolvem-se entre as alças intestinais e também podem envolver a bexiga urinária, vagina e pele abdominal ou perianal. Perfurações e abcessos peritoneais também podem ocorrer. As manifestações extraintestinais da doença de Crohn incluem uveíte, poliartrite migratória, sacroileíte, espondilite anquilosante, eritema nodoso e baqueteamento digital, sendo que qualquer um deles pode se desenvolver antes de a doença intestinal ser reconhecida. Pericolangite e colangite esclerosante primária também ocorrem na doença de Crohn, mas são mais comuns na colite ulcerativa. Como discutido adiante, há aumento do rico de desenvolvimento de adenocarcinoma colônico em pacientes com doença de Crohn de longa duração. Odinofagia, disfagia, pirose e anorexia estão presente quando há envolvimento do esôfago. As lesões são segmentares e bem demarcadas, havendo áreas lesadas intercaladas com segmentos normais (lesões salteadas). Destruição do epitélio pela inflamação resulta em erosões e úlceras (úlceras aftosas), em geral associadas a folículos linfoides. As úlceras são longitudinais, lineares, profundas e estreitas, coalescem e formam fissuras lineares, tortuosas, muitas vezes atingindo a serosa. As lesões são intercaladas com áreas de mucosa preservada e conferem o aspecto característico de pedra de calçada. O infiltrado inflamatório, que é rico em folículos linfoides com centros germinativos, compromete toda a espessura da parede intestinal (inflamação transmural). Granulomas epitelioides, pequenos e sem necrose são vistos em 35% dos casos. A doença evolui com fibrose, que é máxima na submucosa, tornando o segmento intestinal comprometido estreito e rígido. A serosa tem aspecto granular e frequentemente forma aderências que, juntamente com as úlceras profundas, resultam em fístulas entre alças do intestino delgado ou com o cólon, a bexiga e a vagina; fístulas perianais são comuns. Em correspondência com as fístulas, surgem abscessos na parede intestinal, na cavidade abdominal ou no mesentério. As lesões do cólon são similares às do intestino delgado. Comprometimento da região anal é frequente; ocorrem úlceras, fissuras e fístulas geralmente associadas a lesões no cólon. Em crianças, lesões perianais são comuns. Nos casos de longa duração, a mucosa apresenta alterações na arquitetura das vilosidades do intestino delgado ou das criptas colônicas, que se tornam curtas, irregulares, ramificadas e atróficas. Pode haver metaplasia pilórica ou de células de Paneth. o Retoculite ulcerativa: A colite ulcerativa é uma doença recidivante caracterizada por crises de diarreia sanguinolenta com expulsão de material viscoso e mucoide, dor abdominal inferior e cólicas que são aliviadas temporariamente pela defecação. Esses sintomas podem persistir por dias, semanas ou meses antes de desaparecer e, ocasionalmente, o ataque inicial pode ser grave o suficiente para constituir uma emergência médico-cirúrgica. Mais de metade dos pacientes apresenta doença leve e quase todos sofrem pelo menos uma recidiva durante um período de 10 anos. A colectomia cura a doença intestinal, mas manifestações extraintestinais podem persistir. Os fatores que desencadeiam a colite ulcerativa são desconhecidos; a enterite infecciosa precede o início da doença em alguns casos. O início dos sintomas pode ocorrer logo após a cessação do tabagismo em alguns pacientes, e o tabagismo pode aliviar parcialmente os sintomas. Infelizmente, os estudos com a nicotina como agente terapêutico foram desapontadores. Colite ulcerativa é doença recidivante caracterizada por surtos de diarreia com muco, sangue e pus e acompanhada de cólicas abdominais, desidratação, perda de eletrólitos, alterações da motilidade intestinal e desnutrição. A gravidade do quadro correlaciona-se com a extensão do comprometimento intestinal e com a intensidade do processo inflamatório. Em metade dos casos, a doença é discreta, restrita ao reto ou ao sigmoide distal. Cerca de 40% dos pacientes apresenta doença moderada, comprometendo o hemicólon esquerdo. Em 10% dos casos, a doença é grave ou fulminante e caracterizada por comprometimento inflamatório de todo o cólon (pancolite). Megacólon tóxico é complicação grave e potencialmente fatal, pelo risco de perfuração intestinal pela inflamação da parede muscular que leva a dilatação do órgão. A doença evolui de modo recorrente, podendo as manifestações clínicas ser precedidas de episódios de estresse. Os sinais e sintomas extraintestinais são similares aos da doença de Crohn e incluem eritema nodoso, uveíte, uretrite, espondilite anquilosante, poliartrite migratória, colangite esclerosante e pancreatite autoimune tipo 2. Pacientes com colite ulcerativa têm maior risco de câncer do cólon. A duração da doença (superior a 10 anos), a sua extensão no cólon e a existência de displasia são os principais fatores de risco de malignização. O quadro macroscópico é variável e depende da intensidade e da fase da doença. À endoscopia, a mucosa é hiperêmica, granular, friável, sangra com facilidade e pode apresentar pontos hemorrágicos, que se tornam purulentos e formam úlceras. Pseudopólipos, que correspondem a ilhas da mucosa não destruída entre as ulcerações, sãofrequentes, múltiplos e sésseis (Figura 22.49 A). Histologicamente, encontram-se inflamação limitada à mucosa e à submucosa, microabscessos nas criptas (Figura 22.49 B) e redução de células caliciformes. As úlceras têm tamanhos variados e tendem a dispor-se ao longo do eixo do cólon. Nos períodos de remissão ou quando há cura, ocorre regeneração da mucosa e fibrose na submucosa, que é menos intensa do que na doença de Crohn e não acomete a serosa. Na fase quiescente, a mucosa é atrófica e mostra fusão de criptas. O epitélio que reveste as criptas pode apresentar displasia, que é marcador de risco para câncer. Epidemiologia: Tanto a apresentação da doença de Crohn como da colite ulcerativa são mais comuns durante a adolescência ou em adultos jovens, embora alguns estudos sugiram um segundo pico de incidência de ambas as doenças na quinta década de vida. Em países industrializados ocidentais, a DII é mais comum entre os brancos e, nos Estados Unidos ocorre 3 a 5 vezes mais frequentemente entre judeus do leste europeu (Asquenazi). Essa predileção é pelo menos parcialmente causada por fatores genéticos, como discutido a seguir. A distribuição geográfica da DII é altamente variável, mas é mais prevalente na América do Norte, norte da Europa e Austrália. A incidência mundial de DII está em ascensão e está se tornando mais comum em regiões nas quais a prevalência era historicamente baixa. A hipótese higienista, primeiramente aplicada à asma, sugere que a exposição a microrganismos ambientais na infância, e até mesmo na vida pré-natal, redefiniria o sistema imune de forma a evitar reações excessivas. Extrapolado para DII, sugere-se que a frequência reduzida de infecções entéricas, devido à melhora da higiene, resultaria no desenvolvimento inadequado dos processos regulatórios que limitam as respostas imunes mucosas no início da vida. Embora a hipótese seja atraente e comumente declarada, faltam evidências firmes e, portanto, a crescente incidência de DII permanece misteriosa. o Doença de chron: A doença de Crohn existe em todo o mundo e é mais frequente em países desenvolvidos. A doença tem dois picos de incidência: um em adolescentes e adultos jovens, outro na sexta década; é mais prevalente em brancos, europeus e mulheres. Em 40% dos casos, as lesões são restritas ao intestino delgado, onde comprometem tipicamente a porção terminal do íleo. Em 30% dos pacientes, tanto o intestino delgado como o cólon são afetados, em especial o ceco e o cólon ascendente. Comprometimento do cólon direito, mais frequente em pessoas idosas, ocorre sobretudo em populações com maior incidência da doença. Em crianças, 50 a 60% dos casos apresentam ileocolite, sendo incomum lesão isolada no cólon. A doença de Crohn pode comprometer outros locais do trato digestivo, desde a boca até o ânus, embora apresentação isolada nesses locais seja rara. o Retoculite ulcerativa: Colite ulcerativa é mais frequente em caucasianos, judeus e mulheres, com dois picos de incidência: um entre 15 e 30 anos e outro entre 50 e 70 anos. Indivíduos com história familial de doença inflamatória intestinal apresentam alto risco para desenvolver colite ulcerativa. As lesões comprometem o reto e o sigmoide, estendendo-se proximalmente de modo contínuo. Lesão isolada no reto é designada proctite ulcerativa. Nos casos graves, comprometimento inflamatório de todo o cólon recebe o nome de pancolite. 2. Conhecer o diagnóstico, diagnóstico diferencial e fatores de risco das DII’s: Diagnóstico: O diagnóstico de colite ulcerativa ou doença de Crohn baseia-se na correlação de dados clínicos, laboratoriais e anatomopatológicos. O diagnóstico histopatológico é feito pelo exame de biópsias endoscópicas e de peças cirúrgicas. Embora seja possível identificar casos clássicos por suas características distintas, há considerável sobreposição, tanto do ponto de vista clínico como anatomopatológico, de ambas as doenças. Por isso, cerca de 10% dos casos de doença inflamatória intestinal são diagnosticados apenas como colite indeterminada. o Doença de Crohn: Assim como na RCU, o diagnóstico é baseado em uma combinação de achados endoscópicos, histológico e de imagem. A colonoscopia é o principal exame. No entanto, faz-se necessária a investigação complementar do intestino delgado por métodos de imagens como a enterotomografia ou enterorressonância e, em situações especiais, por meio da cápsula endoscópica e enteroscopia assistida por balão. Colonoscopia: A localização do processo inflamatório é acessível pela colonoscopia em cerca de 80% dos casos e caracteriza-se por lesões descontínuas, úlceras profundas e longitudinais, com tendência a não acometer o reto. De maneira geral, observam-se acometimento de cólon, íleo terminal e ileocolônico em 20%, 30% e 30% dos casos, respectivamente. Após a confirmação diagnóstica de DC por colonoscopia, recomenda- se a avaliação do intestino delgado por meio de exames de imagem para quantificar (precisar) a extensão da doença antes do início do tratamento. Enteroscopia com duplo balão: Como a doença de Crohn pode acometer áreas do intestino delgado que não são acessíveis à EDA ou à colonoscopia, algumas vezes há necessidade de complementar a investigação com exame de enteroscopia com duplo- balão ou com balão único,que pode ser realizado por via retrógrada, anterógrada ou ambas, permitindo a visualização de todo o intestino delgado, bem como a realização de biópsias e procedimentos terapêuticos, como dilatações. Esse exame ainda é pouco disponível e de alto custo em nosso meio Cápsula endoscópica: A cápsula endoscópica é um exame bastante sensível, superior à tomografia ou à ressonância no diagnóstico da doença de Crohn, de fácil realização e bem tolerada pelo paciente. Entretanto, a cápsula está contraindicada em pacientes com obstrução gastrointestinal, estenoses ou fístulas, marca-passo ou outros dispositivos eletrônicos implantados, e precisa de auxílio por endoscopia para inserção na presença de distúrbios da deglutição. A indicação desse exame está reservada para pacientes com alta suspeita de doença de Crohn, mas sem comprovação diagnóstica com outros exames, como colonoscopia com biópsias, enterotomografia computadorizada (TC) ou enterorressonância magnética (RM) para avaliação de intestino delgado. Também é um procedimento útil no estadiamento da doença, pois permite a avaliação da extensão e atividade inflamatória no intestino delgado. Exames de imagem: Enteromiografia, enterorresonância. Trânsito intestinal (Tide); Ultrassonografia; Exame anatomopatológico; Exames laboratoriais: Os exames laboratoriais incluem: Hemograma: pode identifcar anemia e plaquetose. O padrão da anemia em geral é misto, de doença crônica e deficiência de ferro, mas também pode ocorrer por deficiência de vitamina B12. Provas de atividade inflamatória, como a proteína C-reativa (PCR), velocidade de hemossedimentação (VHS), alfa-1-glicoproteína ácida. Testes microbiológicos para excluir diarreia infecciosa, incluindo a pesquisa das toxinas A e B do Clostridium difficile, Campylobacter sp. e E. coli. Sorologia para HIV. A pesquisa de marcadores sorológicos, como anticorpo citoplasmático antineutrófilo perinuclear (p-ANCA), comum em pacientes com RCU, e anticorpo anti-Saccharomyces cerevisiae (ASCA), mais frequente naqueles com doença de Crohn, não são empregados para diagnóstico das doenças inflamatórias intestinais, mas podem ser úteis nos casos de colite indeterminada. Nos últimos anos, a calprotectina fecal tem auxiliado no diagnóstico e no acompanhamento da DII após início do tratamento, pois valores inferiores a 50 mcg/g de fezes têm uma alta acurácia na diferenciação de doenças inflamatórias e doenças funcionais, como a síndrome do intestino irritável. É um bom marcador para avaliar recidiva das doenças,e é o exame com melhor correlação com a atividade endoscópica. o Retoculite ulcerativa: A colonoscopia com intubação ileal e biópsias seriadas (do íleo ao reto) é a melhor forma de diagnosticar e avaliar a gravidade e extensão da RCU.16 A realização de biópsias seriadas é aconselhada para todos os pacientes, exceto para aqueles com colite grave, nos quais também existe a recomendação de extremo cuidado na realização da colonoscopia, ou preferencialmente a substituição desse exame por retossigmoidoscopia flexível com pouca insuflação e preparo retrógrado, que seja suficiente para o diagnóstico ou exclusão de doença infecciosa. Na RCU o comprometimento da mucosa inicia- -se no reto e pode se estender proximalmente até o ceco de forma contínua (Figura 66.1) e com clara demarcação entre a área doente e normal (Figura 66.2). Observa-se enantema e edema da mucosa, com perda do padrão vascular, friabilidade, erosões ou ulcerações superficiais. No entanto, a definição de friabilidade na endoscopia não é padronizada. O ECCO considera a presença de sangramento após três segundos de pressão da pinça de biópsia fechada sobre a mucosa, mas a maioria das diretrizes define como mucosa friável o sangramento espontâneo ao toque do aparelho. Em pacientes com doença de longa duração, nota-se perda das haustrações e aparência de tunelização do cólon, com atrfia mucosa, estreitamento luminal e presença de pseudopólipos. Na colite grave, há sangramento espontâneo e ulcerações. Os achados histológicos são variáveis, geralmente inespecíficos, auxiliam pouco no diagnóstico e podem ser descritos como ramificações, distorções, depleções e alargamentos das criptas consequente à inflamação crônica da mucosa, assim como a depleção das células caliciformes e a metaplasia das células de Paneth associada à reparação tecidual. A inflamação é evidenciada por infiltrado de plasmócitos, aumento da celularidade da lâmina própria, agregados linfoides e espessamento da muscular da mucosa. A inflamação crônica é considerada o principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer colorretal. Diagnóstico diferencial: O diagnóstico diferencial envolve outras doenças que comprometem o trato digestivo de forma funcional ou orgânica. Dentre as desordens funcionais intestinais, a síndrome do intestino irritável é a que mais se confunde com DII, embora caracteristicamente se diferencie da RCU e DC por não estar associada a febre, perda de peso, sangramento ou manifestações extraintestinais. Outras desordens devem ser excluídas, como colite secundária ao uso de medicações (especialmente anti-inflamatórios não esteroidais – AINEs), doença isquêmica, colite actínica secundária à radiação, colite microscópica, colite neutropênica, colagenoses, tuberculose e o linfoma intestinal. o Doença de chron: Doenças infecciosas, como amebíase, tuberculose intestinal, infecção por Yersinia enterocolitica e Campylobacter jejuni, que têm localização e quadro clinico-morfológico similares aos da doença de Crohn. Lesões que levam a estenose segmentar, como enterites (isquêmica, por radiação e por anti-inflamatórios não esteroides) e linfomas, devem ser consideradas no diagnóstico diferencial. Quando o comprometimento do cólon é isolado, o diagnóstico diferencial mais importante é com colite ulcerativa. Em cerca de 10% dos casos, não é possível distinguir as duas entidades, sendo necessário acompanhar os pacientes para esclarecer a natureza da lesão. o Retoculite ulcerativa: Fatores de risco: o Tabaco: O tabaco constitui um fator de risco importante na DII, diferindo o seu efeito na DC versus CU. Assim verifica-se que o consumo de tabaco está associado a um aumento de 2 vezes de risco de DC (OR 1.76; 95% Intervalo de Confiança (IC) 1.40-2.22) enquanto que na CU é a condição de ex-fumador (OR 1.79; 95% IC 1.37-2.34). O tabagismo ativo tem um efeito protetor no desenvolvimento da CU em comparação com os controlos (OR 0.58; 95% IC, 0.45- 0.75).5 Desta forma, os doentes com CU e que fumam parecem ter um curso mais ligeiro da doença, menor necessidade de corticoterapia e menor necessidade de colectomia, estando a suspensão de hábitos tabágicos associada a incremento da sua atividade, nomeadamente o recrudescimento dos sintomas durante o primeiro ano após cessação. Pelo contrário, na DC, os fumadores necessitam mais frequentemente de terapêutica imunossupressora e de cirurgia, com aumento da recorrência após resseção ileocecal. o Apendicectomia; o Fármacos; o Infecções/higiene; o Dieta: Dieta rica em fibras está associada a menor risco de DC (mas não de CU). 21 Dietas ricas em gorduras saturadas estão associadas a aumento do risco de DII em pequenos estudos caso-controlo mas estudos prospetivos não corroboraram esta associação.2 Também a ingestão de hidratos de carbono, açucares refinados e proteína animal tem evidenciado resultados inconsistentes. Elevados consumos de ácidos gordos poliinsaturados omega-6 e baixos de ácidos gordos poliinsaturados omega-3 estão associados a aumento do risco de DII 3. Identificar os achados dos exames de imagem e das biópsias das DII’s: Enteromiografia: A enterografia por tomografia computadorizada é um exame rápido e bem tolerado; no entanto, implica exposição à radiação, limitando sua indicação em indivíduos jovens com DII, pois provavelmente vão necessitar de avaliações repetidas ao longo da sua vida. Durante o exame, as imagens do intestino delgado e grosso são adquiridas durante uma única pausa respiratória, com baixa interferência de artefatos como o peristaltismo intestinal. A ingestão oral de contraste neutro (polietileno glicol ou manitol), resulta em distensão das alças intestinais e, associado ao contraste intravenoso, permite a avaliação apropriada do intestino. A distensão luminal inadequada pode mimetizar espessamento de parede ou atrapalhar a detecção de lesões da mucosa. Os achados radiológicos são hiper-realce de mucosa, espessamento e estratificação de mucosa, ulceração transmural, proliferação do mesentério, ingurgitamento da vasa recta e estenoses associadas ou não à dilatação de alças a montante. Enteroressonância: As imagens na enterografia por ressonância nuclear magnética (RNM) são geradas em sequências Fast, T1, T2, com uso de contraste venoso e oral (Manitol 7,5% ou Polietilenoglicol). A ingestão do contraste oral produz efeito negativo em T1 e positivo em T2, e deve ser precedida de medicamento que reduza o peristaltismo (escopolamina ou glucagon), permitindo a aquisição das imagens. As imagens adquiridas em T2 com supressão de gordura permitem uma melhor avaliação estrutural do intestino, ao passo que os cortes ponderados em T1 com gadolínio avaliam melhor a atividade inflamatória. A enteroRNM tem acurácia diagnóstica similar a enteroTC, sem expor o paciente a radiação ionizante, mas tem limitações pelo alto custo, menor acessibilidade e por ser de difícil realização, já que o grande número de sequências realizadas aumenta o tempo do exame. A RNM de pelve é o procedimento de escolha para identificar fístulas e abscessos perianais e é superior a outros métodos de imagens, mas necessita de contraste por via oral ou retal. 4. Entender o tratamento farmacológico e não farmacológico das DII’s: O tratamento específico depende da localização, extensão e gravidade da doença, Aminossalicilatos: Exemplos: mesalazina (2-4 g/d), sulfasalazina (2-6 g/d). Indicados na indução de remissão e manutenção de casos leves a moderados de retocolite ulcerativa. Seu papel é limitado na indução de remissão e não definido na manutenção da doença de Crohn. Efeitos colaterais são raros e incluem náuseas, dispepsia, queda de cabelo, cefaleia, piora da diarreia e reações de hipersensibilidade. Sulfasalazina interfere na absorção de folato, portanto os pacientes devem receber suplementação comácido fólico. Corticosteroides: Exemplos: budesonida com revestimento entérico (indução com 9 mg/d e manutenção com 6 mg/d), prednisona (1 mg/kg/d), metilprednisolona (40-60 mg/d), hidrocortisona (300 mg/d). Formulações com revestimento entérico (ação tópica) são indicadas para doenças leves a moderadas, enquanto que terapia sistêmica é reservada para indução de remissão em casos moderados a graves. Não são recomendados para manutenção pelos potenciais efeitos colaterais, que incluem retenção hídrica, estrias abdominais, redistribuição de gordura, hiperglicemia, catarata, osteoporose, miopatia e alterações emocionais. Imunomoduladores/imunossupressores: Exemplos: 6-mercaptopurina (1,5 mg/kg/d), azatioprina (2-3 mg/kg/d), metotrexato (indução com 25 mg/sem por 4 meses e manutenção com 15 mg/sem), ciclosporina (2-4 mg/kg/d). Indicados para pacientes que permanecem sintomáticos, apesar do tratamento com aminossalicilatos, nos casos de doença moderada a grave e para pacientes corticodependentes. Ciclosporina é uma alternativa à colectomia na retocolite ulcerativa. Seus potenciais efeitos colaterais são disfunção renal, hipertensão, hiperplasia gengival, hipertricose, parestesias, tremores, cefaleia, distúrbios eletrolíticos e tonteira. Tacrolimus é eficaz em crianças com doença refratária e em adultos com extenso acometimento de intestino delgado, corticodependentes ou refratários. Efeitos colaterais dos análogos de purina (6-mercaptopurina, azatioprina) incluem reações alérgicas, pancreatite, mielossupressão, náuseas, infecções, hepatotoxicidade e aumento do risco de malignidade (especialmente linfoma). Uma desvantagem dessa classe é a resposta clínica lenta em cerca de 3-4 semanas, podendo demorar até 4-6 meses. Terapia imunossupressora aumenta o risco de infecções oportunistas, particularmente Pneumocystis carinni, estando indicada antibioticoprofilaxia. Antibióticos: Exemplos: metronidazol (400 mg 12/12 horas VO por 4-8 semanas) e/ou ciprofloxacino (500 mg 12/12 horas por 4-8 semanas). Usados nas doenças com complicação (exemplo: abscesso perianal). Agentes biológicos: Exemplos: infliximabe (indução com 5 mg/kg nas semanas 0, 2 e 6 e manutenção com 5 mg/kg por 8 semanas), adalimumabe (indução com 160 mg na semana 0 e 80 mg na semana 2 e manutenção com 40 mg/sem), natalizumabe (300 mg por 4 semanas). Indicados para doenças moderadas a graves que não respondem à terapia convencional. Efeitos colaterais incluem aumento do risco de malignidade (principalmente linfoma), infecções (reativação de infecções latentes, infecções oportunistas) e descompensação de insuficiência cardíaca. 5. Referências: https://pebmed.com.br/doenca-inflamatoria-intestinal-como-tratar/