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Isadora C. Sampaio A parede do intestino delgado é composta PELA mucosa, tela submucosa, túnica muscular e túnica serosa. A túnica mucosa é composta de uma camada epitelial, lâmina própria e lâmina muscular da mucosa. A camada epitelial da túnica mucosa do intestino delgado é composta por epitélio colunar simples que contém muitos tipos de células. As células absortivas do epitélio liberam enzimas que digerem o alimento e contêm microvilosidades que absorvem os nutrientes no quimo do intestino delgado. As células caliciformes também são encontradas no epitélio, secretando muco. A túnica mucosa do intestino delgado contém muitas fendas profundas revestidas com epitélio glandular. As células que revestem as fendas formam as glândulas intestinais ou criptas de Lieberkühn, e secretam suco intestinal. Além das células absortivas e células caliciformes, as glândulas intestinais também contêm células de Paneth e células enteroendócrinas. As células de Paneth secretam lisozima, uma enzima bactericida, e são capazes de realizar fagocitose. Estas células podem atuar na regulação da população microbiana do intestino delgado. São encontrados três tipos de células enteroendócrinas nas glândulas do intestino delgado: células S, células CCK e células K, que secretam os hormônios secretina, colecistocinina (CCK) e polipeptídio inibidor gástrico (PIG), respectivamente. APG 4 “ERA PRA PROTEGER MAS PREJUDICA” DOENÇAS AUTO-IMUNES INTESTINAIS Isadora C. Sampaio A tela submucosa do duodeno contém glândulas duodenais que secretam um muco alcalino que ajuda a neutralizar o ácido gástrico no quimo. A túnica muscular do intestino delgado é constituída por duas camadas de músculo liso. No intestino delgado também há vilosidades, que são projeções digitiformes da túnica mucosa. Numerosas vilosidades (20 a 40 por mm2 ) aumentam muito a área de superfície do epitélio disponível para a absorção e digestão. A parede do intestino grosso contém: túnica mucosa, tela submucosa, túnica muscular e túnica serosa. A túnica mucosa é composta por epitélio colunar simples, lâmina própria (tecido conjuntivo areolar) e lâmina muscular da mucosa (músculo liso). O epitélio contém principalmente células absortivas e caliciformes. As células absortivas atuam principalmente na absorção de água; as células caliciformes secretam muco, que lubrifica a passagem do conteúdo do colo. Tanto as células absortivas quanto as caliciformes estão localizadas em glândulas intestinais tubulares longas e retas, que se estendem por toda a espessura da túnica mucosa. Nódulos linfáticos solitários são também encontrados na lâmina própria da mucosa e podem se estender através da lâmina muscular da mucosa até a tela submucosa. Em comparação com o intestino delgado, a túnica mucosa do intestino grosso não tem tantas adaptações estruturais que aumentem a área de superfície. Não há pregas circulares nem vilosidades. A tela submucosa do intestino grosso é constituída por tecido conjuntivo areolar. A túnica muscular consiste em uma camada externa de músculo liso longitudinal e uma camada interna de músculo liso circular. A tênias do colo são separadas por trechos de parede com pouco ou nenhum músculo longitudinal. As contrações tônicas das bandas unem o colo em várias bolsas chamadas saculações do colo, que dão ao colo uma aparência enrugada. Uma única camada de músculo liso circular situa-se entre as tênias do colo. A túnica serosa do intestino grosso é parte do peritônio visceral. Pequenas bolsas de peritônio visceral cheias de gordura estão associadas às tênias do colo e são chamadas apêndices omentais do colo. Isadora C. Sampaio FISIOLOGIA DO INTESTINO No intestino delgado, ocorre a maior parte da digestão e absorção dos nutrientes. Esse órgão divide-se em: duodeno, jejuno e íleo. O quimo ao chegar ao duodeno estimula os hormônios secretina e colecistocinina que atuam na secreção do suco pancreático pelo pâncreas e da bile pelo fígado, respectivamente. A bile, sintetizada pelo fígado e armazenada na vesícula biliar, auxilia na emulsificação da gordura (lipídios). Já o suco pancreático possui várias enzimas como a amilase pancreática que digere amido, carboxipeptidase quebra peptídeos, lipase que digere lipídios dentre outros. Essas secreções se juntam com o suco entérico, produzido pela mucosa intestinal, que possui outras enzimas que participam na digestão de lipídios, proteínas e carboidratos. No jejuno e íleo, o suco intestinal é composto por várias enzimas que atuam nas etapas finais da digestão, como por exemplo, a maltase e sacarase. Nessa região, a maioria dos nutrientes é absorvido pelo sangue e, com isso, nutrindo todas as células do organismo. O que não foi absorvido, como água e a massa contendo principalmente as fibras, é direcionado para o intestino grosso. No intestino grosso, encontram-se algumas bactérias que habitam a flora intestinal que fermentam, decompondo o alimento que geram gases e outros produtos como a vitamina K absorvidas pelo corpo. O material que não foi digerido forma as fezes, que se acumulam no reto e são eliminadas para fora do ânus. Doenças auto imunes do intestino (Doença intestinal inflamatória DII) O termo doença intestinal inflamatória (DII) é usado para designar dois distúrbios intestinais inflamatórios semelhantes: doença de Crohn e colite ulcerativa. Estima-se que a condição esteja presente em mais de um milhão de pessoas nos EUA, e em 2,5 milhões de pessoas na Europa. Atualmente, a prevalência de DII no mundo occidental é de até 0,5% da população geral.64 Embora essas duas doenças tenham diferenças expressivas que viabilizam sua diferenciação, ambas têm algumas manifestações clínicas em comum. As duas condições causam inflamação intestinal, não têm evidência confirmatória de um agente etiológico Isadora C. Sampaio comprovado, não seguem um padrão de ocorrência familiar e podem ser acompanhadas de manifestações sistêmicas. A doença de Crohn acomete mais comumente os segmentos distais do intestino delgado e o cólon proximal, mas pode afetar qualquer área do sistema digestório desde o esôfago até o ânus; por outro lado, a colite ulcerativa limita-se ao cólon e ao reto. Etiologia e patogênese Um aspecto notável do sistema digestório é que o sistema imune da mucosa sempre está pronto para reagir aos patógenos ingeridos, mas não reage à microflora intestinal normal. De acordo com a hipótese vigente, esse estado homeostático normal é perdido na DII, o que acarreta reações imunes exageradas e desreguladas. A questão ainda não resolvida é se a resposta é um mecanismo de defesa apropriado a um patógeno, ou se o sistema imune responde de maneira anormal. Por essa razão, como também ocorre com muitas outras doenças autoimunes, a patogênese da doença de Crohn e da colite ulcerativa inclui anormalidade da regulação imune, predisposição genética e fator ambiental desencadeante, especialmente a flora microbiana. Predisposição genética Há muito tempo, existe a suspeita de uma base genética para a DII. Parentes de primeiro grau de pessoas com diagnóstico de DII apresentam uma incidência 30 a 100 vezes maior de DII. Estudos de associação genômica ampla já identificaram 163 loci distintos que conferem risco de (ou proteção contra o) desenvolvimento de doença de Crohn ou colite ulcerativa, com uma porção substancial desses loci comuns às duas doenças. A taxa de concordância em gêmeos monozigóticos é de 30 a 35% para doença de Crohn em comparação com apenas 10 a 15% para colite ulcerativa. Não obstante, a história familiar ainda é o fator preditivo mais forte de DII, embora apenas 10% das pessoas tenham um parente em primeiro grau com a doença. Essas relações indicam claramente que a predisposição genética desempenha um papel importante na patogênese da DII. A DII não pode ser atribuída a um único gene.Numerosos genes implicados estão reconhecidamente associados e é possível que contribuam para o desenvolvimento da doença. Isso inclui associações com os antígenos leucocitários humanos (HLA). Evidências crescentes também sugerem que a doença de Crohn e a colite ulcerativa estejam associadas a profundas anomalias da imunidade da mucosa. A proteína 2 contendo domínio de oligomerização ligadora de nucleotídio (NOD2), também conhecida como proteína 15 contendo domínio de recrutamento de caspase (CARD15) ou proteína 1 da doença intestinal inflamatória (IBD1), é uma proteína codificada pelo gene NOD2, localizado no cromossomo 16 humano.A proteína NOD2 está expressa em alguns tipos de leucócitos, bem como nas células epiteliais, e parece atuar como receptor intracelular para os lipopolissacarídios microbianos. Depois de sua ligação aos produtos Isadora C. Sampaio microbianos, essa proteína pode ativar a via do NFkb, resultando na formação de citocinas e outras proteínas envolvidas na defesa imune inata contra microrganismos. As mutações da NOD2 associadas à doença de Crohn podem reduzir a atividade da proteína, resultando na persistência dos microrganismos intracelulares e no prolongamento das respostas imunes. Outra região estudada detalhadamente é a IBD3, no cromossomo 6. Essa área inclui o complexo HLA, que foi relacionado com a doença de Crohn e a colite ulcerativa. Outra área ligada especificamente à doença de Crohn está no cromossomo 5q (IBD5). Essa área abriga muitos genes codificadores de várias citocinas que contribuem para a patogênese da doença. O estudo de associação genética mais recente identificou 163 loci de suscetibilidade para DII, englobando aproximadamente 300 genes candidatos potenciais. Desses 163 loci, 110 conferiam risco para os dois subtipos de DII, enquanto 30 loci eram exclusivos para doença de Crohn e 23 loci eram exclusivos para colite ulcerativa. Fatores ambientais O tabagismo é o fator ambiental mais antigo e mais consistentemente descrito como influenciador da incidência de doença de Crohn e colite ulcerativa. Tabagistas ativos apresentam risco duas vezes maior de doença de Crohn, com uma associação mais modesta em ex-tabagistas. Em contrapartida, o abandono do tabagismo está associado a aumento substancial do risco de colite ulcerativa no primeiro ano após o início da abstinência, enquanto o tabagismo ativo parece ser protetor. O motivo preciso desse efeito divergente ainda não foi elucidado. O tabagismo poderia contribuir para o desenvolvimento de DII por causa de influências no microbioma intestinal porque as pessoas com doença de Crohn que são tabagistas apresentam disbiose em sua microbiota intestinal. já estabeleceram de modo definitivo a importância da flora intestinal na DII. Os locais afetados pela DII, a parte distal do íleo e o cólon, apresentam contagens elevadas de bactérias. O uso de antibióticos em 2 a 5 anos do diagnóstico de DII também foi associado ao risco aumentado de DII de aparecimento no adulto, com efeito crescente concomitante ao aumento do número de ciclos de antibioticoterapia e à exposição mais precoce. Embora seja improvável que a DII seja causada diretamente por micróbios, existe a possibilidade de os microrganismos serem o antígeno deflagrador de uma resposta imune desregulada. Isadora C. Sampaio Manifestações clinicas As manifestações clínicas da doença de Crohn e da colite ulcerativa resultam no final da ativação das células inflamatórias com produção de mediadores inflamatórios, que causam lesão inespecífica dos tecidos. Essas duas doenças caracterizam-se por remissões e exacerbações de diarreia, urgência fecal e emagrecimento. As complicações agudas (p. ex., obstrução intestinal) podem desenvolver-se durante os períodos de doença fulminante. Algumas manifestações sistêmicas são observadas nos pacientes com doença de Crohn e colite ulcerativa. Entre elas, estão artrite axial envolvendo a coluna vertebral e as articulações sacroilíacas, e artrite oligoarticular afetando as grandes articulações dos braços e das pernas; distúrbios inflamatórios dos olhos, geralmente uveíte; lesões cutâneas, especialmente eritema nodoso; estomatite; e anemia autoimune, hipercoagulabilidade sanguínea e colangite esclerosante. Em alguns casos, essas manifestações sistêmicas podem prenunciar a recidiva da doença intestinal. Nas crianças, pode haver atraso do crescimento, principalmente quando os sintomas são persistentes e a ingestão de nutrientes não é satisfatória. Doença de Crohn Doença de Crohn é um tipo de reação inflamatória granulomatosa recidivante que pode afetar qualquer segmento do sistema digestório. Íleo terminal e ceco são as áreas comuns do intestino acometidas pelo processo inflamatório. Trata-se de uma condição de progressão lenta, inexorável e geralmente incapacitante. A doença de Crohn comumente acomete os pacientes entre a segunda e a terceira décadas de vida, afetando as mulheres com uma frequência algo maior que os homens. Um aspecto característico da doença de Crohn são as lesões granulomatosas bem demarcadas e circundadas por mucosa aparentemente normal. Quando existem várias áreas de acometimento, elas comumente são descritas como lesões intercaladas, por se dispersarem entre segmentos de intestino com aspecto normal. Todas as camadas da parede intestinal são afetadas, mas o acometimento é mais acentuado na camada submucosa. A superfície do intestino inflamado geralmente tem aspecto típico em “pedras de calçamento” resultante das fissuras e das fendas que se formam e estão circundadas por áreas com edema da submucosa. Em geral, há preservação relativa das camadas de musculatura lisa do intestino, com alterações inflamatórias e fibróticas acentuadas da submucosa. Depois de algum tempo, a parede intestinal frequentemente se torna espessada e rígida e seu aspecto tem sido comparado ao de um cano de chumbo ou um tubo de borracha. O mesentério adjacente pode estar inflamado e os linfonodos e os canais linfáticos podem estar aumentados. Isadora C. Sampaio Manifestações clínicas A evolução clínica da doença de Crohn é variável. Em muitos casos, ocorrem períodos de exacerbações e remissões com sintomas relacionados com a localização das lesões. Os sinais e sintomas principais, que dependem do segmento intestinal afetado, incluem diarreia, dor abdominal, emagrecimento, distúrbios hidreletrolíticos, mal-estar e febre baixa. Como a doença de Crohn afeta mais gravemente a camada submucosa que a mucosa, os pacientes têm menos diarreia sanguinolenta que os portadores de colite ulcerativa. A ulceração da pele perianal é comum, em grande parte devido à gravidade da diarreia. A superfície absortiva do intestino pode ser destruída e os pacientes têm deficiências nutricionais relacionadas com o segmento intestinal especificamente afetado. Quando a doença de Crohn ocorre na infância, as duas manifestações clínicas principais podem ser atraso do crescimento e desnutrição significativa. As complicações da doença de Crohn incluem formação de fístulas, abscessos abdominais e obstrução intestinal. As fístulas são passagens tubulares que formam conexões entre outras áreas, inclusive bexiga, vagina, uretra e pele. As fístulas perineais que se originam do íleo são relativamente comuns.As fístulas entre segmentos do sistema digestório podem causar má absorção, síndromes de proliferação bacteriana excessiva e diarreia. Além disso, essas fístulas podem ser infectadas e resultar na formação de abscessos. Diagnóstico O diagnóstico da doença de Crohn baseia-se na história clínica e no exame físico detalhados. A sigmoidoscopia é realizada para examinar diretamente as áreas afetadas e obter amostras de biopsia. Também devem ser adotadas medidas para excluir a possibilidade de que agentes infecciosos sejam a causa da doença. Em geral, isso é conseguido com culturas de fezes e examede amostras fecais a fresco em busca de ovos e parasitos. Nos pacientes em que se suspeita de doença de Crohn, radiografias contrastadas possibilitam determinar a extensão do acometimento do intestino delgado e averiguar a existência e o tipo de fístulas. A TC pode ser realizada para detectar massa inflamatória ou abscesso. Tratamento Não existe cura para a doença de Crohn, e a remissão não é possível ou, quando ocorre, não se prolonga. As intervenções terapêuticas visam basicamente suprimir a reação inflamatória e promover a cicatrização; manter a nutrição adequada; e evitar e tratar complicações. Vários fármacos são eficazes para suprimir a reação inflamatória, inclusive corticoides, sulfassalazina, metronidazol, azatioprina, 6-mercaptopurina, metotrexato e infliximabe. Ressecção cirúrgica do intestino afetado, drenagem dos abscessos ou reparo dos trajetos fistulares pode ser necessário. Sulfassalazina é um fármaco tópico com várias ações anti-inflamatórias. Os efeitos benéficos desse fármaco são atribuíveis a um dos seus componentes, o ácido 5-aminossalicílico (5-ASA). Os fármacos que contêm 5- ASA bloqueiam várias etapas do ciclo do ácido araquidônico, as quais são essenciais à patogênese da inflamação. A sulfassalazina contém 5-ASA com sulfapiridina acoplada por uma ligação azo. O fármaco não é bem absorvido pelo intestino e a ligação azo é decomposta pela flora bacteriana do íleo e do cólon, liberando 5-ASA. O metronidazol é um antibiótico usado para tratar proliferação bacteriana excessiva no intestino delgado. Uma metanálise recente demonstrou que dois fármacos do grupo das tiopurinas – azatioprina e 6- mercaptopurina – foram eficazes para minimizar as recidivas da doença de Crohn.O tratamento com metotrexato é outra opção para os médicos que preferem utilizá-lo em lugar das tiopurinas, embora existam poucos estudos referentes ao seu uso. Isadora C. Sampaio infliximabe é um anticorpo monoclonal que tem como alvo a destruição do fator de necrose tumoral (TNF), um mediador da resposta inflamatória, cuja expressão está exacerbada nos processos inflamatórios como a doença de Crohn. O infliximabe foi o primeiro fármaco aprovado especificamente para tratar essa doença e é usado no tratamento dos pacientes com doença moderada a grave em atividade, que falharam em obter resposta satisfatória com corticoides ou outros imunomodulares. Subsequentemente, outros dois agentes anti-TNF, adalimumabe e certolizumabe pegol, foram aprovados pela FDA para uso no tratamento da doença de Crohn. O anticorpo monoclonal ustequinumabe parece ser uma opção terapêutica segura que pode ajudar pessoas com formas moderadas e graves da doença de Crohn ativa. A segurança e a efetividade a longo prazo do tratamento com anticorpo monoclonal ainda não são conhecidas. Deficiências nutricionais são comuns nos pacientes com doença de Crohn, em consequência da diarreia, da esteatorreia e de outros distúrbios da absorção. Por isso, recomenda-se uma dieta nutritiva com teores altos de calorias, vitaminas e proteínas. Como as gorduras frequentemente agravam a diarreia, recomenda- se que sejam evitadas. Dietas elementares nutricionalmente balanceadas, mas sem resíduos nem fibras, podem ser administradas durante a fase aguda da doença. Essas dietas são absorvidas em grande parte no jejuno e permitem possível que o intestino inflamado “repouse”. A nutrição parenteral total (i. e., hiperalimentação parenteral) consiste na infusão intravenosa de soluções hipertônicas de glicose, às quais podem ser acrescentados aminoácidos e gorduras. Esse tipo de tratamento nutricional pode ser necessário quando os alimentos não podem ser absorvidos no intestino. Em razão da hipertonicidade dessas soluções, elas devem ser administradas por uma veia central calibrosa. Colite ulcerativa A resposta inflamatória na colite ulcerativa se limita à mucosa e à submucosa e é confinada ao reto e ao cólon, portanto, a colectomia é curativa. A colite ulcerativa pode ocorrer em qualquer grupo etário, com a incidência máxima entre 15 e 25 anos de idade. Em geral, a doença começa no reto e estende-se no sentido proximal afetando basicamente a mucosa, embora possa chegar à submucosa. A extensão do acometimento proximal é variável e a doença pode acometer apenas o reto (proctite ulcerativa), o reto e o cólon sigmoide (proctossigmoidite) ou todo o intestino grosso (pancolite). O processo inflamatório tende a ser confluente e contínuo, em vez de ter áreas intercaladas de tecido normal, como acontece com a doença de Crohn. A causa da colite ulcerativa não é conhecida. As teorias incluem disfunção do sistema imune, genética, alterações das bactérias intestinais normais e fatores ambientais. Um aspecto típico dessa doença são as lesões que se formam nas criptas de Lieberkühn na base da camada mucosa. O processo inflamatório resulta na formação de hemorragias puntiformes da mucosa que, com o tempo, supuram e transformam-se em abscessos das criptas. Essas lesões inflamatórias podem sofrer necrose e ulcerar. Embora as úlceras geralmente sejam superficiais, frequentemente se estendem e formam amplas áreas desnudas. Em consequência do processo inflamatório, a camada mucosa frequentemente desenvolve projeções linguiformes, que se assemelham a pólipos e, por esta razão, são conhecidas como pseudopólipos. A parede intestinal torna-se espessa em consequência dos episódios repetidos de colite. Isadora C. Sampaio Manifestações clínicas Nos casos típicos, a colite ulcerativa evidencia-se por uma doença recidivante marcada por episódios de diarreia. A diarreia pode persistir por dias, semanas ou meses, mas depois regride e recomeça apenas depois de um intervalo assintomático de vários meses ou anos, ou até mesmo décadas. Como a colite ulcerativa acomete a camada mucosa do intestino, as fezes geralmente contêm sangue e muco. A diarreia noturna geralmente ocorre quando os sintomas são graves durante o dia. O paciente pode referir cólicas abdominais brandas e incontinência fecal. Anorexia, fraqueza e fadiga aos esforços mínimos são comuns. Com base nos resultados dos exames clínicos e endoscópicos, a doença é classificada com base na extensão de acometimento do cólon e na gravidade da inflamação. A gravidade é definida como branda, moderada, grave ou fulminante. O tipo mais comum da doença é a forma branda, na qual o paciente defeca menos de quatro vezes ao dia (com ou sem sangue), sem manifestações sistêmicas de toxemia e velocidade de hemossedimentação (VHS) normal. Os pacientes com doença moderada defecam mais de quatro vezes ao dia, mas mostram sinais mínimos de toxemia. A doença grave evidencia-se por mais de seis defecações sanguinolentas por dia e indícios de toxemia como febre, taquicardia, anemia e VHS elevada. Os pacientes com doença fulminante têm mais de 10 defecações diárias, sangramento contínuo, febre e outros sinais de toxemia, dor à palpação e distensão do abdome, necessidade de transfusão sanguínea e dilatação do cólon nas radiografias abdominais. Esses pacientes estão sujeitos a desenvolver megacólon tóxico, que se caracteriza por dilatação do intestino grosso e sinais de toxemia sistêmica. Essa complicação é causada pela extensão do processo inflamatório com acometimento das estruturas neurais e vasculares do intestino. Acredita-se que a colite ulcerativa tem origem sistêmica (ou seja, autoimune), de modo que as pessoas podem apresentar comorbidades com manifestações clínicas e complicações extracolônicas. A frequência relatada dessas manifestações extraintestinais varia entre 6 e 47%. As manifestações extraintestinais incluem artrite, uveite, trombose venosa profunda (TVP), colangite esclerosante primária ou espondilite anquilosante. A manifestação extraintestinal mais comum da DII é artrite. Para algumas pessoas, sobretudo aquelas com colangite esclerosante primária ou espondiliteanquilosante, as manifestações extraintestinais são mais problemáticas que a doença intestinal. Isadora C. Sampaio Diagnóstico e tratamento O diagnóstico da colite ulcerativa baseia-se na história e no exame físico. Em geral, o diagnóstico é confirmado por retossigmoidoscopia, colonoscopia, biopsia e exames de fezes negativos para agentes infecciosos ou outras causas. A colonoscopia não deve ser realizada nos pacientes com doença grave, em vista do risco de perfuração, mas pode ser efetuada depois de ocorrer melhora comprovada para determinar a extensão da doença e a necessidade de monitoramento do desenvolvimento de câncer subsequente. O tratamento depende da extensão da doença e da gravidade dos sintomas e inclui medidas para controlar as manifestações agudas da doença e evitar recidivas. Alguns pacientes com sintomas brandos a moderados conseguem controlar seus sintomas simplesmente evitando cafeína, lactose (leite), alimentos muito condimentados e produtos formadores de gases. Suplementos de fibra podem ser administrados para atenuar a diarreia e os sintomas retais. O tratamento cirúrgico (i. e., ressecção do reto e de todo o intestino grosso) com ileostomia ou anastomose ileoanal pode ser necessário para pacientes que não melhoram com fármacos e medidas terapêuticas conservadoras. Os fármacos usados para tratar colite ulcerativa são semelhantes aos utilizados no tratamento da doença de Crohn. Isso inclui preparações de 5-ASA não absorvíveis (p. ex., mesalamina, olsalazina). Os corticoides são usados seletivamente para atenuar a resposta inflamatória aguda. Alguns desses fármacos podem ser administrados por via retal com supositórios ou enemas. Os fármacos imunomoduladores e os agentes anti- TNF podem ser usados para tratar pacientes com colite grave. Câncer do intestino grosso é uma das temidas complicações a longo prazo da colite ulcerativa. Essa doença caracteriza-se por desnaturação do ácido desoxirribonucleico (DNA) com instabilidade dos microssatélites das células da mucosa. Doença celíaca também conhecida como espru celíaco e enteropatia sensível ao glúten – é uma doença mediada por mecanismos imunes, que é desencadeada pela ingestão de grãos contendo glúten (inclusive trigo, cevada e arroz). Até recentemente, a doença celíaca era considerada uma síndrome de má absorção rara, que se evidenciava nos primeiros anos da infância, mas hoje se sabe que é uma das doenças genéticas mais comuns, com prevalência média de 1 a 6% na população geral. A doença celíaca é causada por uma resposta imune anormal dos linfócitos T à alfa-gliadina ingerida (um componente da proteína do glúten) pelos indivíduos geneticamente predispostos. Quase todos os pacientes com essa doença compartilham o alelo HLA-DQ2 ou HLA-DQ8 do complexo de histocompatibilidade de classe II.Esses pacientes têm níveis mais altos de anticorpos contra vários antígenos, inclusive transglutaminase, endomísio e gliadina. A reação imune resultante causa uma reação inflamatória intensa, que resulta na destruição das vilosidades absortivas do intestino delgado. Quando as lesões resultantes são extensivas, podem reduzir a absorção de macronutrientes (i. e., proteínas, carboidratos e gorduras) e micronutrientes (i. e., vitaminas e minerais). O acometimento do intestino delgado é mais acentuado nos segmentos proximais, onde a exposição ao glúten é maior. Algumas populações estão mais sujeitas a desenvolver doença celíaca. Isso inclui pacientes com diabetes melito tipo 1, outras endocrinopatias autoimunes, dermatite herpetiforme, parentes de primeiro e segundo graus de pacientes com doença celíaca e portadores da síndrome de Turner. Várias neoplasias malignas também parecem ser um resultado direto da doença celíaca, porque a incidência aumentada observada nos pacientes com esta doença volta aos patamares da população em geral depois de vários anos em dieta livre Isadora C. Sampaio de glúten. Essas neoplasias malignas incluem carcinomas espinocelulares da cabeça e do pescoço, adenocarcinoma do intestino delgado e linfoma não Hodgkin. A forma clássica da doença celíaca é diagnosticada na lactência e evidencia-se por déficit de crescimento, diarreia, perda de massa muscular, distensão abdominal e, ocasionalmente, desnutrição grave. Depois do período de lactência, as manifestações clínicas tendem a ser menos dramáticas. As crianças maiores podem ter anemia, baixa estatura constitucional, anormalidades do esmalte dentário e constipação intestinal. Nos adultos, os sintomas referidos ao sistema digestório são diarreia, constipação intestinal ou outras queixas de má absorção, inclusive distensão abdominal por gases, flatulência ou eructações. O diagnóstico da doença celíaca baseia-se nas manifestações clínicas apoiadas por exames sorológicos e confirmadas por biopsia do intestino. Com base em suas sensibilidades altas, os melhores exames disponíveis são os testes de imunofluorescência para anticorpos IgA antiendomisiais (EMA) e IgA antitransglutaminase tecidual humana (TTG). As biopsias do intestino delgado proximal estão indicadas para pacientes com teste positivo para anticorpo da doença celíaca. Em geral, outros exames laboratoriais são usados para determinar se a doença causou distúrbios nutricionais, inclusive anemia ferropriva. O tratamento primário da doença celíaca consiste em eliminar o glúten e as proteínas relacionadas da dieta. Glúten é a proteína principal do trigo, da cevada e do arroz. Os produtos à base de aveia, que não são tóxicos, podem ser contaminados com trigo durante o processamento. Existem à venda alguns tipos de pães, cereais, biscoitos e outros produtos sem glúten. Carnes, vegetais, frutas e laticínios não contêm glúten, contanto que não tenham sido contaminados durante o processamento. A eliminação completa do glúten da dieta geralmente possibilita cicatrização rápida e completa da mucosa intestinal.
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