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Adolf Loos 
SOBRE UM POBRE HOMEM RICO 
(1890) 
 
 
 
 
 
 Quero lhes contar de um pobre homem rico. Tinha dinheiro e bens, uma 
mulher fiel que, com um beijo na testa, lhe livrava das preocupações que traziam 
os negócios, de um bando de filhos, que teria causado a inveja do mais pobre 
dos seus trabalhadores. Seus amigos o adoravam, pois tudo o que empreendia 
prosperava. Mas, hoje a situação é muito, muito diferente. E assim aconteceu: 
 
 Um dia, disse este homem a si mesmo: “Você tem dinheiro e bens, uma 
mulher fiel e filhos, pelos quais lhe invejaria o trabalhador mais pobre. Mas, você 
é feliz? Sabe que há pessoas que necessitam tudo o que lhe invejam. Mas as 
preocupações deles são afugentadas por uma grande fada, a arte. E o que é a 
arte para você? Nem sequer de nome a conhece. Qualquer adventício pode 
apresentar o cartão de visita e o seu mordomo lhe abrirá de par em par. Mas 
você ainda não recebeu a arte em sua casa. Sei bem que ela não virá. Mas vou 
a sua procura. Ela deve se instalar e habitar minha casa como um rei.” 
 
 Era um homem de muito vigor, o que pegava, o fazia com energia. Era 
costumeiro nos seus negócios. Assim, neste mesmo dia recorreu a um famoso 
arquiteto, dizendo a ele: “O senhor me ponha arte, arte entre minhas quatro 
paredes. O gasto não importa.” 
 
 O arquiteto não deixou que o dissessem duas vezes. Foi à casa do 
homem rico, jogou fora todos os seus móveis, fez vir um exército de 
assentadores de parquê, estucadores, envernizadores, pedreiros, pintores de 
paredes, entalhadores, encanadores, instaladores, tapeceiros, pintores e 
escultores, e zás!, sem se notar se havia prendido, empacotado, bem guardado 
a arte entre as quatro paredes do homem rico. 
 
 O homem rico era mais do que feliz. Mais do que feliz passeava pelos 
novos cômodos. Onde quer que olhasse havia arte, arte em tudo e por tudo. 
Pegava arte quando pegava a maçaneta, sentava-se sobre arte quando se 
sentava em uma poltrona, apoiava sua cabeça em arte quando cansado a 
apoiava nas almofadas, seu pé se afundava em arte quando andava pelos 
tapetes. Se deleitava com a arte com enorme fervor. Desde que seu prato 
também havia sido decorado com motivos artísticos, cortava o seu boeuf à 
l’oignon com energia redobrada. 
 
 Lhe elogiavam, lhe invejavam. As revistas de arte glorificavam o seu 
nome como um dos primeiros no reino dos mecenas, seus cômodos foram 
retratados, comentados e explicados para servir de modelo às cópias. 
 
 E o mereciam. Cada recinto constituía uma determinada sinfonia de 
cores. Parede, móveis e tecidos estavam combinados da maneira mais refinada. 
Cada objeto tinha seu lugar adequado e estava ligado aos demais por umas 
combinações maravilhosas. 
 
 O arquiteto não tinha esquecido de nada, absolutamente nada. Cinzeiros, 
talheres, interruptores, tudo, tudo havia sido combinado por ele. E não se tratava 
das artes arquitetônicas vulgares, não, em cada ornamento, em cada forma, em 
cada prego estava expressa a individualidade do proprietário. (Um trabalho 
psicológico cuja dificuldade qualquer um reconhecerá). 
 
 O arquiteto, no entanto, recusava todos os elogios modestamente. 
Porque, dizia ele, estes ambientes não são meus. Lá na frente, no canto, há 
uma estátua de Charpentier. E, assim como eu censuraria qualquer um que 
afirmasse ter desenhado uma sala tendo usado apenas uma das minhas 
maçanetas, do mesmo modo eu não posso dizer que estes ambientes tenham 
sido concebidos por mim. Estas eram palavras nobres e conseqüentes. Certo 
entalhador, que talvez empapelara sua sala com papel pintado por Walter Crane 
e que, apesar disto, se atribuía os móveis que aí se encontravam por tê-los 
projetado e executado ele mesmo, se avergonhava até o fundo da sua negra 
alma ao inteirar-se destas palavras. 
 
 Voltemos depois desta divagação ao nosso homem rico. Já disse quão 
feliz era ele. Uma grande parte do seu tempo dedicou desde então só ao estudo 
da sua casa. Logo se deu conta de que devia estudá-la. Havia muito o que 
memorizar. Cada objeto tinha seu lugar preciso. O arquiteto tinha agido bem 
com ele. Tinha pensado em tudo antecipadamente. Para a menor caixinha havia 
um lugar definido, feito intencionalmente para ela. 
 
 A casa era cômoda mas, para a cabeça, esgotante demais. Por isso, nas 
primeiras semanas, o arquiteto vigiou a forma como atuavam para que não 
incorressem em nenhum erro. O homem rico se esforçava. Mas aconteceu que, 
distraidamente, deixou um livro que tinha na mão na gaveta destinada aos 
jornais. Ou que bateu a cinza do charuto naquele buraco da mesa destinado ao 
candelabro. Quando apanhado um objeto, o adivinhar e buscar o antigo lugar 
que lhe correspondia não tinha fim e certa ocasião teve o arquiteto que consultar 
os desenhos dos detalhes para voltar a encontrar o lugar de uma caixa de 
fósforos. 
 
 Onde as artes aplicadas tinham conseguido tais triunfos, não podia ficar 
atrás a música aplicada. Esta idéia preocupava demais o homem rico. Fez uma 
solicitação à companhia de bondes, pela qual tentava que seus veículos 
utilizassem o motivo de sinos de Parsifal no lugar de sons sem sentido. Na 
companhia não lhe deram a mínima. Ainda não davam suficiente acolhida a 
idéias modernas. De quebra, lhe permitiram pavimentar, por sua conta, a área 
em frente à sua casa de modo que cada veículo estivesse obrigado a passar 
diante dela ao ritmo da Marcha de Radetzky. As campainhas elétricas das suas 
salas também foram providas de trechos de Wagner e Beethoven e todos os 
profissionais da crítica de arte elogiavam sobremaneira o homem que havia 
aberto um novo domínio para “a arte nos artigos de uso.” 
 
 Como se pode imaginar, todas estas melhorias fizeram ao homem ainda 
mais feliz. 
 
 Mas não se pode esconder que ele procurava passar o menor tempo 
possível em casa. É que, de vez em quando, se quer descansar um pouco de 
tanta arte. Ou você poderia viver em uma galeria? Ou estar sentado meses 
inteiros em ‘Tristão e Isolda’? Enfim, quem lhe censuraria por acudir novamente 
ao café, ao restaurante ou aos amigos e conhecidos para reunir forças para 
estar em sua casa? Imaginara outra coisa. Mas, a arte requer sacrifícios. Já 
havia feito tantos. Os olhos se umedeciam. Pensava em muitas coisas velhas 
pelas quais tinha tido tanto carinho e que, de vez em quando, davam saudade. A 
poltrona grande! Seu pai sempre descansara nela. O velho relógio! E os 
quadros! Mas, a arte o exige! Ante tudo, não esmorecer! 
 
 Uma vez, celebrara seu aniversário. A mulher e os filhos lhe encheram de 
presentes. As coisas lhe agradaram demais e lhe deram uma alegria cordial. 
Logo chegou o arquiteto para comprovar se tudo estava em ordem e dar 
respostas a questões difíceis. Entrou na sala. O dono veio contente ao seu 
encontro pois tinha muitas perguntas a fazer. Mas o arquiteto não percebeu a 
alegria do dono. Tinha descoberto algo muito esquisito e empalideceu: “Mas que 
sapatilhas o senhor está usando!”, exclamou com voz penosa. 
 
 O dono olhou seu calçado bordado. E respirou aliviado. Desta vez se 
sentia totalmente inocente. As sapatilhas tinham sido confeccionadas fielmente 
de acordo com o desenho original do arquiteto. Por isso replicou com ar de 
superioridade: 
 
 “Mas, senhor arquiteto, esqueceu-se? As sapatilhas, o senhor mesmo as 
desenhou!” 
 
 “Certamente!”, trovejou o arquiteto, “mas para o quarto. O senhor está 
estragando todo o ambiente com essas duas horríveis manchas de cor. O 
senhor não se dá conta?” 
 
 O dono da casa compreendeu imediatamente. Tirou rapidamente as 
sapatilhas e se alegrou tremendamente de que o arquiteto não achara 
insuportáveis também suas meias. Dirigiram-se ao quarto onde o homem rico 
pôde voltar a calçar as sapatilhas. 
 
 “Ontem”, começou timidamente, “comemorei meu aniversário. Os meus 
me encheram de presentes. Mandei lhe chamar, querido senhor arquiteto, para 
que nos aconselhe sobre qual é a melhor maneira de dispor os objetos.” 
 
 A cara do arquiteto se alargava visivelmente. Então estalou: 
 
 “Comolhe ocorre deixar-se presentear alguma coisa!. Eu não lhe 
desenhei tudo? Eu não pensei em tudo? O senhor não precisa de mais nada. O 
senhor está completo.” 
 
 “Mas”, permitiu se replicar o dono da casa, “ainda vou poder comprar-me 
alguma coisa!” 
 
 “Não, o senhor não pode! Nunca mais e nada mais! Só me faltava esta. 
Coisas que não foram desenhadas por mim. Não fiz o bastante permitindo o 
Charpentier? A estátua que rouba toda a fama do meu trabalho! Não, o senhor 
não pode comprar nada mais!” 
 
 “E se meu neto me der um trabalho do jardim de infância?” 
 
 “Pois o senhor não pode aceitá-lo!” 
 
 O dono da casa estava estupefato. Mas ainda não se dava por perdido. 
Uma idéia, já a tinha, uma idéia!: 
 
 “E se quisesse comprar-me um quadro da Secessão?”, perguntou 
triunfante. 
 
 “Experimente pendurá-lo em algum lugar. O senhor não vê que não há 
lugar para mais nada? O senhor não vê que, para cada quadro que eu lhe 
pendurei, eu compus uma moldura na parede, no muro? Não pode deslocar um 
só quadro. Experimente o senhor colocar um novo quadro.” 
 
 Então produziu-se uma mudança no homem rico. O homem feliz se sentiu 
de repente profunda, profundamente desgraçado. Viu sua vida futura. Ninguém 
podia proporcionar-lhe alegria. Deveria passar sem desejos diante das lojas da 
cidade. Para ele já não se criava mais nada. Nenhum dos seus podia lhe dar seu 
retrato, para ele já não existia mais pintores, mais ofícios manuais. Estava 
podado do futuro viver e respirar, devir e desejar. Ele sentia: Agora devo 
aprender a vagar com meu próprio cadáver. Certo: Completo! Acabado! 
 
 
 
Adolf Loos 
O PRINCÍPIO DO REVESTIMENTO 
(1898) 
 
 
 
 
 
 Para o artista, todos os materiais são igualmente valiosos, mas não são 
igualmente adequados a todos os fins. A solidez e a produção exigem materiais 
que, com freqüência, não estão de acordo com a finalidade própria do edifício. 
Estabeleçamos que o arquiteto tenha a missão de fazer um espaço 
aconchegante e cômodo. Os tapetes são aconchegantes e cômodos. Este 
espaço poderia ser resolvido colocando-se um deles no chão e pendurando 
outros quatro de modo que formassem as quatro paredes. Mas, com tapetes não 
se pode construir uma casa. Tanto o tapete como a tapeçaria requerem uma 
armação construtiva que os mantenha sempre na posição adequada. Conceber 
esta armação é a segunda missão do arquiteto. 
 
 Este é o caminho correto, lógico e real que se deve seguir na arte de 
construir. A humanidade também aprendeu a construir nesta mesma ordem. 
Primeiro foi o revestimento. O homem buscava abrigo das inclemências do 
tempo, proteção e calor durante o sono. Buscava cobrir-se. A manta é o detalhe 
arquitetônico mais antigo. A princípio era feita de peles ou de produtos da arte 
textil. Esta coberta devia ser estirada em algum lugar se quisessem abrigar toda 
uma família. Logo apareceram também as paredes, para dar proteção lateral. E 
nesta ordem se desenvolveu o pensamento arquitetônico, tanto na humanidade 
como no indivíduo. 
 
 Há arquitetos que trabalham de outro modo. Sua fantasia não forma os 
espaços, mas as paredes. O que ficar entre as paredes são os espaços. E, para 
estes espaços, escolhem depois alguma forma de revestimento que lhes pareça 
adequada. Isso é arte pelo caminho empírico. 
 
 Mas o artista, o arquiteto, sente primeiro o efeito que quer alcançar e vê 
depois, com seu olho espiritual, os espaços que quer criar. O efeito que quer 
criar sobre o espectador, seja somente medo ou espanto como na prisão, temor 
a Deus como na igreja, respeito ao poder do Estado como no palácio, piedade 
como diante de um monumento fúnebre, sensação de comodidade como em 
uma casa ou alegria como em um bar, este efeito vem dado pelos materiais e 
pela forma. 
 
 Cada material tem sua própria linguagem formal e nenhum deles pode 
assumir a forma de outro. Porque as formas resultam da utilidade e da 
fabricação de cada material, surgiram com o material e através dele. Nenhum 
material permite intromissões em seu rol de formas. Quem ousa faze-lo é 
marcado pelo mundo como falsificador. E a arte não tem nada a ver com a 
falsificação, com a mentira. Seus caminhos são cheios de espinhos, porém 
limpos. 
 
 A torre da catedral de Santo Estevão de Viena podia ser feita de concreto 
e colocada em qualquer outro canto, mas já não seria uma obra de arte. O que 
vale para o campanário de São Estevão vale também para o palácio Pitti, e o 
que vale para o palácio Pitti vale também para o palácio Farnese. E, seguindo 
com estes edifícios, chegaríamos aos nossos dias e nos encontraríamos diante 
da arquitetura do nosso Ring. Um tempo triste para a arte, um tempo triste para 
os poucos artistas que havia entre os arquitetos de então, que eram obrigados a 
prostituir sua arte para favorecer os interesses do populacho. Só a alguns o 
destino permitia encontrar um proprietário que pensasse em coisas grandes e 
outorgasse ao artista a liberdade de trabalhar a seu gosto. O mais feliz de todos 
eles com certeza foi Schmidt. Depois dele veio Hansen, que, quando as coisas 
iam mal, procurava consolo construindo com terracota. Certamente quem teve 
de suportar grandes tormentos foi o pobre Ferstel, que, no último instante, foi 
obrigado a revestir com concreto partes inteiras da fachada da sua universidade. 
Os outros arquitetos desta época, salvo poucas exceções, estavam lilvres de 
tais sentimentos. 
 
 Isto mudou? Dispensem-me de responder esta pergunta. Ainda domina, 
na arquitetura, a imitação e a arte do sucedâneo. Sim, ainda mais que então. 
Nos últimos cinco anos encontra-se inclusive gente que se fez defensora desta 
tendência em arquitetura – um após o outro, anonimamente, já que a coisa não 
lhe parecia suficientemente limpa -, de modo que o arquiteto de sucedâneos já 
não tem mais necessidade de sentir-se discriminado. Hoje já se recobrem as 
fachadas com desembaraço e se penduram as “pedras portantes” com 
justificação artística, sob a cornija principal. Acerquem-se, arautos da imitação, 
produtores da falsa marchetaria, do acochambre-você-mesmo-a-janela-de-sua-
casa, dos cântaros de papier marché! Em Viena está florescendo uma nova 
primavera, o solo está recém adubado! 
 
 Mas, o espaço aconchegante coberto totalmente com tapetes não é uma 
imitação? As paredes não estão feitas de tapetes? Claro que não. Estes tapetes 
só querem ser tapetes e não paredes de pedra, jamais quiseram mostrar-se 
como tais, nem por sua cor nem por seu desenho, apenas querem deixar bem 
claro seu significado como revestimento da superfície da parede. Cumprem sua 
finalidade segundo o princípio do revestimento. 
 
 Como já mencionei no início, o revestimento é mais antigo que a 
construção. As bases do revestimento são diversas. Assim como é proteção 
contra a inclemência do tempo, como a pintura a óleo sobre a madeira, aço ou 
pedra, pode ter motivos higiênicos – o caso das peças esmaltadas no banheiro 
para proteger a superfície da parede, e outras vezes tem uma finalidade 
concreta, como o efeito da pintura colorida das estátuas, das tapeçarias nas 
paredes ou dos painéis de madeira. O princípio do revestimento, termo cunhado 
por Semper, se estende também à natureza. O homem está revestido com uma 
pele, a árvore com uma casca. 
 
 Deste princípio do revestimento eu formulo também uma lei perfeitamente 
determinada que chamo de lei do revestimento. Que ninguém se assuste. As 
leis, dizem, caracterizam uma evolução. Mas, os velhos mestres nunca 
precisaram de leis. Certo. Onde o roubo fosse coisa desconhecida, seria 
desnecessário impor leis que o castigassem. Quando os materiais usados para 
revestir não eram imitações, não fazia falta nenhuma lei contra eles. Mas 
acredito que chegou a hora de estabelecê-la. 
 
 Tal lei diz assim: a possibilidade de que o material revestido se confunda 
com o revestimento deve ser excluída em todos os casos. Para casos 
particulares, esta frase teria que dizer: pode-se pintar a madeira com qualquer 
cor, menos com uma – cor de madeira. Para umacidade como Viena, cujo 
conselho de exposições decidiu pintar todo o madeiramento do seu pavilhão 
‘como mogno’, no qual a imitação é o único motivo de decoração da madeira, 
esta frase é muito atrevida. Parece que aqui há pessoas que acham isso 
elegante. Já que os bonde, os trens e em geral toda construção de vagões 
provêm da Inglaterra, eles são os únicos objetos de madeira que estampam 
cores puras. Eu me atrevo a dizer que qualquer veículo – sobretudo os da linha 
elétrica – me agrada mais com cores puras que, seguindo os padrões de beleza 
daqui, fossem pintados como mogno. 
 
 Mas, em nosso povo cochila, ainda que funda e enterrada, a verdadeira 
noção do elegante. De outro modo, na companhia de bondes, a primeira e a 
segunda classes não estariam pintadas de verde, já que a terceira é cor de 
madeira. 
 
 Certa vez provei a um colega, de um modo drástico, esta noção 
inconsciente. Em um edifício, no primeiro andar, havia dois apartamentos. Ao 
inquilino de um deles ocorreu pintar, por sua conta, a esquadria das janelas, que 
originalmente eram marrom, de branco. Então fizemos uma aposta de que 
levaríamos um certo número de pessoas diante do edifício e, sem chamar a 
atenção deles para a diferença das janelas, perguntaríamos em qual dos 
apartamentos lhes parecia morar o João e em qual morava o Conde Fulano de 
Tal, ambos inquilinos hipotéticos. Todos apontaram a janela pintada de madeira 
como casa do João. Desde então meu colega só as pinta de branco. 
 
 A imitação da madeira é naturalmente uma invenção do nosso século. Na 
idade média pintavam a madeira, em geral, de vermelho gritante, e no 
Renascimento, de azul, no Barroco e no Rococó, branco por dentro e verde por 
fora. Nossos camponeses, ainda lúcidos, a pintam com cores puras. Quando 
estamos no campo vibramos com o portão ou a cerca verde, ou as treliças 
verdes diante de uma parede recém pintada de branco. É uma pena que em 
alguns lugares se comece a imitar o gosto da nossa comissão de exposições. 
 
 Ainda se lembra da indignação moral da indústria artística do sucedâneo 
quando os primeiros móveis pintados a óleo chegaram da Inglaterra. Mas a 
bronca dessa boa gente não se dirigia à pintura em si. Em Viena, quando se 
utilizava madeiras brancas, elas também recebiam pintura a óleo. Mas que os 
móveis ingleses ousassem luzir suas cores com tanta franqueza e liberdade, em 
vez de imitar madeira nobre, isso sim enfurecia aqueles santos. Viraram a cara e 
davam a impressão de que nunca usáramos a pintura a óleo. Provavelmente 
estes senhores são da opinião de que seus móveis e trabalhos de madeira com 
seus falsos veios eram tidos como de madeira nobre. 
 
 Se, com este ponto de vista, não cito nomes, acho que mereço o 
agradecimento deles. 
 
 Aplicado aos estucadores, o princípio do revestimento diria o seguinte: o 
estuque pode resolver qualquer ornamento menos um – a imitação da 
construção de tijolo aparente. Poderia se pensar que dizer tamanha evidência é 
desnecessário, mas há pouco me chamaram a atenção para um edifício cuja 
parede estucada estava pintada de vermelho e com o desenho de juntas 
brancas. A tão querida decoração de cozinhas imitando pedras também se 
encaixa aqui. E assim, todos os materiais que servem para revestir uma parede, 
como tecidos, papéis, telas, não podem representar nunca nem pedras nem 
tijolos. E daqui também se pode entender por que as meias de malha que usam 
nossas bailarinas têm um efeito tão antiestético. Em uma palavra, a roupa de 
malha pode estar tingida de qualquer cor, menos cor de carne. 
 
 Um material de revestimento pode conservar sua cor natural quando o 
material revestido também é desta cor. Desse modo eu posso pintar o aço negro 
com betume, posso cobrir uma madeira com outra (tornejado, marchetaria, etc. ) 
sem ter que colorir a madeira que cobre. Eu posso revestir um metal com outro 
metal através do fogo ou galvanizando-os. Mas o princípio do revestimento 
proíbe que mediante uma pintura se imite o material que há por baixo dela. 
Assim, a aço pode ser betumado, pintado a óleo ou galvanizado, mas nunca 
tapado com cor de bronze, ou seja com uma cor metálica. Também merecem 
ser mencionados aqui as placas de cerâmica refratária e de pedra artificial que, 
por um lado, imitam o pavimento do terraço (mosaico) e, por outro, imitam 
tapetes persas. Sem dúvida há pessoas que acreditam – as fábricas conhecem 
bem sua clientela. 
 
 Mas não, vocês, imitadores e arquitetos de sucedâneos, estão 
equivocados. A alma humana é algo demasiado alto e sublime para que possam 
enganá-la com seus truques e recursos. A oração da pobre camponesa chegará 
com mais força e mais rápido ao céu se é feita em uma igreja construída com 
material autêntico que se feita, com o mesmo fervor, entre paredes de gesso 
pintadas com mármore. Nosso corpo miserável está, é certo, em seu poder. Só 
dispõe de cinco sentidos para diferenciar o autêntico do falso. E lá onde o 
homem, com todos os sentidos, já não alcança mais, começa o seu domínio, lá 
está o seu reino. Mas, uma vez mais, vocês estão equivocados. Pintem no teto 
de madeira bem, bem alto os melhores efeitos: os pobres olhares acreditarão e 
as tomarão como de verdade. Mas a psique divina não acreditará em sua 
falácia. Vê, na melhor marchetaria pintada “como autêntica”, pura pintura a óleo. 
 
 
Adolf Loos 
REGRAS PARA QUEM CONSTRÓI NAS MONTANHAS 
(1913) 
 
 
 
 
 
 Não construa de modo pitoresco. Deixe que os maciços, as montanhas e 
o sol produzam este efeito. O homem que se veste de modo pitoresco não é 
pitoresco, é um palhaço. O camponês não se veste pitorescamente e, no 
entanto, o é. 
 
 Construa tão bem quanto possa. Nem mais, nem menos. Não se 
sobreesforce. Tampouco se submeta intencionalmente a um nível inferior àquele 
que, por sua origem e formação, lhe corresponde. Ainda que seja na montanha. 
Fale com os camponeses na sua língua. O advogado vienês que só fala em 
dialeto com o camponês há de deixar de existir. 
 
 Preste atenção às formas que constrói o camponês, já que são parte da 
substância que advém da sabedoria dos seus antepassados. Mas, busque o 
fundamento da forma. Se os avanços da técnica têm permitido o 
aperfeiçoamento da forma, há que se empregá-la sempre assim: aperfeiçoada. 
O trilho se desprende da trilhadora. 
 
 A planície exige uma disposição arquitetônica vertical. As montanhas, 
horizontal. A obra humana não deve competir com a obra divina. O observatório 
dos Habsburgo estraga o bosque vienês, enquanto o templo dos hússares se 
incorpora à paisagem harmoniosamente. 
 
 Não pense na cobertura, mas sim na chuva e na neve. Assim pensa o 
camponês. E por isso constrói nas montanhas o telhado mais plano que lhe 
permitem seus conhecimentos técnicos. Nas zonas montanhosas a neve não 
deve deslizar-se quando ela quer, e sim quando o camponês o desejar. Por isso 
o camponês tem de subir ao telhado sem que haja o menor perigo à sua vida e, 
então, tirar a neve. Nós também temos que criar a cobertura mais plana possível 
de acordo com nossas condições técnicas. 
 
 Seja sincero. A natureza só pode suportar a sinceridade. Se dá bem com 
pontes treliçadas, mas se distancia dos arcos dos arcos góticos com pináculos e 
seteiras. 
 
 Não tema que lhe pichem por não ser moderno. Só estão permitidas 
aquelas transformações no modo de construir tradicional que signifiquem 
melhorias, do contrário conserve os sistemas tradicionais. Pois a verdade, ainda 
que tenha milhares de anos, se dá melhor com a gente que a mentira que 
caminha ao nosso lado.

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