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Contabilidade teoria

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TEORIA DA CONTABILIDADE
ERNANI OTT
EDITORA UNISINOS
2012
APRESENTAÇÃO
Este livro está organizado em sete capítulos, são tratados sete temas sob o
enfoque da Teoria da Contabilidade.
No primeiro capítulo, apresenta-se o surgimento e desenvolvimento das escolas
de pensamento contábil (italiana, norte-americana e alemã), dando ênfase aos pontos
básicos sobre os quais foram concebidas e às suas contribuições para o entendimento
da contabilidade.
O segundo capítulo trata do conceito e objetivos da contabilidade, apresentando-
se: conceito de contabilidade, objetivos da contabilidade, usuários e as suas
necessidades de informação, campo de atuação da contabilidade, estrutura conceitual
da contabilidade, horizontes da contabilidade e futuro do profissional contábil.
No terceiro capítulo são abordados os conceitos e critérios para avaliação de
ativos nas entidades e são examinadas as exigibilidades considerando as suas várias
formas. Também é apresentada uma abordagem sobre o patrimônio líquido e as suas
teorias, assim como são conceituadas as receitas, os ganhos, as despesas e as perdas.
O quarto capítulo tem seu foco no ativo intangível, cuja característica é não
possuir substância física. Quando não identificado esse ativo, é denominado de
goodwill. Na medida em que são identificados esses ativos, são tratados como capital
intelectual, composto pelo capital humano, capital relacional e capital estrutural.
No quinto capítulo são tratados os temas relacionados com a responsabilidade
social das empresas, enfatizando a questão da sustentabilidade empresarial. Também
são tratadas as demonstrações contábeis denominadas de balanço social e
demonstração do valor adicionado.
No sexto capítulo, examina-se a gestão ambiental, enfocando o comportamento
ambiental reativo e o comportamento ético-ambiental nas empresas. Também são
examinadas, nesse capítulo, a auditoria e a contabilidade ambiental, além da
evidenciação de informações de caráter ambiental
No último capítulo, aborda-se a evidenciação (disclosure) contábil, os elementos
que a influenciam e as diversas formas que podem ser utilizadas pelas entidades para a
sua consecução. Também são apresentadas considerações acerca das evidenciações
voluntárias ou espontâneas.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 – EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO CONTÁBIL
1.1 Introdução
1.2 Escolas italianas de contabilidade
1.3 Escola norte-americana de contabilidade
1.4 Escola alemã de contabilidade
CAPÍTULO 2 – CONCEITO, OBJETIVOS, CAMPO DE ATUAÇÃO E
ESTRUTURA CONCEITUAL DA CONTABILIDADE
2.1 Conceito de contabilidade
2.2 Objetivos da contabilidade
2.3 Usuários e as suas necessidades de informação
2.4 Campo de atuação da contabilidade
2.5 Estrutura conceitual para a elaboração e apresentação das demonstrações
contábeis
2.6 Características qualitativas da informação contábil-financeira
2.7 Horizontes da contabilidade e o futuro do profissional contábil
CAPÍTULO 3 – DEFINIÇÃO E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO ATIVO,
PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO. RECEITAS, GANHOS, DESPESAS E
PERDAS
3.1 Conceituação de ativo
3.2 Avaliação do ativo
3.3 Passivos (exigibilidades)
3.4 Patrimônio líquido
3.5 Receitas, ganhos, despesas e perdas
CAPÍTULO 4 – ATIVO INTANGÍVEL / GOODWILL / CAPITAL INTELECTUAL
4.1 Ativo intangível
4.2 Goodwill
4.3 Capital intelectual
CAPÍTULO 5 – RESPONSABILIDADE SOCIAL, BALANÇO SOCIAL E
DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO
5.1 Responsabilidade social
5.2 Dimensões da responsabilidade social das empresas
5.3 Responsabilidade social e sustentabilidade
5.4 Indutores de responsabilidade social empresarial
5.5 Relatório de sustentabilidade
5.6 Balanço social
5.7 Demonstração do valor adicionado
CAPÍTULO 6 – GESTÃO E CONTABILIDADE AMBIENTAL
6.1 Gestão ambiental
6.2 Avaliação dos custos ambientais
6.3 Auditorias ambientais
6.4 Contabilidade ambiental
6.5 Evidenciação de informações ambientais
CAPÍTULO 7 – EVIDENCIAÇÃO (DISCLOSURE) E OS OBJETIVOS DA
CONTABILIDADE
7.1 Introdução
7.2 Elementos que influenciam na evidenciação
7.3 Resistência em aumentar a evidenciação contábil
7.4 Formas (métodos) de evidenciação
7.5 Evidenciações voluntárias ou espontâneas
CAPÍTULO 1
EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO CONTÁBIL
 
Este capítulo trata do surgimento e desenvolvimento das escolas de pensamento
contábil (italiana, norte-americana e alemã), enfocando os pontos básicos sobre os quais
foram concebidas, destacando os seus principais pensadores e as suas contribuições para
o entendimento da contabilidade.
 
1.1 Introdução
Schmidt (2000) relata que os primeiros sinais objetivos da existência da
contabilidade, segundo alguns pesquisadores, foram observados por volta do ano
4.000 a.C., na civilização Sumério-Babilonense, coincidindo com a invenção da escrita.
As primeiras anotações eram feitas em termos físicos, pois, na época, somente havia
trocas, o que fez com que a sua evolução fosse bastante lenta. Este quadro se alterou
por ocasião do surgimento da moeda, em 1.100 a.C. Há informações de que os
primeiros rudimentos de balanço surgiram no ano de 1.300, em Florença, Itália.
Entre os séculos XIII e XVII, a contabilidade se distinguiu como uma disciplina
adulta, justamente pelo fato de que, neste período, a atividade mercantil, econômica e
cultural era muito importante, o que revela que a evolução da contabilidade sempre
está associada ao desenvolvimento da sociedade como um todo, justificando-a como
pertencente ao ramo da ciência social (factual). A intensidade das atividades mercantis,
econômicas e culturais determinou o surgimento e o domínio das escolas de
contabilidade, notadamente na Itália.
1.2 Escolas italianas de contabilidade
Com o surgimento do Método de Partidas Dobradas, no século XIII, e sua
divulgação através da obra La summa de arithmetica, geometria, proportioni et
proportionalitá, de autoria do Frei Luca Pacioli, publicada em Veneza em 10 de
novembro 1494 (1ª edição), a escola italiana ganhou um grande impulso, espalhando-
se por toda a Europa. Várias correntes de pensamento contábil se desenvolveram
dentro da escola italiana, sendo as mais relevantes: o contismo, o personalismo, o
neocontismo, o controlismo, o aziendalismo e o patrimonialismo (SCHMIDT, 2000).
1.2.1 Escola contista
Constituiu-se na primeira corrente de pensamento contábil (1494). Schmidt
(2000) menciona que os defensores dessa corrente adotaram como ideia básica o
mecanismo das contas, centrando sua preocupação no seu funcionamento,
esquecendo-se que a conta é apenas consequência das operações que acontecem numa
entidade, e que essas operações devem merecer a máxima atenção da contabilidade. O
objetivo das contas era sempre o de registrar uma dívida a receber ou a pagar,
coincidindo com a origem do crédito nas relações comerciais.
Com o início do regime socioeconômico, no qual os meios de produção passaram
a pertencer a qualquer pessoa que possuísse capital, as relações de crédito entre
compradores e vendedores experimentaram um grande crescimento, fazendo com que
as contas contábeis se constituíssem num dos mais hábeis instrumentos para o
registro dessas relações.
A escola contista teve um grande impulso com os trabalhos de pesquisadores
franceses, entre os quais Degranges, que em 1795 divulgou a chamada Teoria das
Cinco Contas, baseada em estudo realizado em 1675, por Jacques Savary, sobre a
teoria geral das contas. Para Degranges, o comércio tinha cinco objetivos (contas)
principais que permanentemente lhe serviam de meio de troca, sendo este fato a base
de sua teoria. As cinco contas eram: (1) mercadorias; (2) dinheiro; (3) contas a receber;
(4) contas a pagar; e (5) lucros e perdas (SCHMIDT, 2000).
Em 1796, Jones apresentou o modelo inglês de registro baseado em dois livros
principais: o diário e o razão, e dois livros auxiliares: caixa e armazém (existências).
Esse autor teve o mérito de ser o primeiro a admitir a necessidade de realizar-se um
controle numérico entre os livros principais, somando-se separadamente o diário e o
razão para verificar a igualdade de ambas as somas.
Mais tarde, com o surgimento dassociedades com mais de um capitalista, criou-
se a conta capital, considerada pelos contistas como uma dívida da empresa para com
o capitalista, o que mais tarde, com o surgimento do conceito de entidade, deixou de
ser assim considerada.
Os principais personagens do contismo foram: Fibonacci, Pegolotti, Pietra, Flori
e Degranges, e os mais destacados foram: Cotrugli e Frei Luca Pacioli.
1.2.2 Escola personalista
Schmidt (2000) menciona que esta escola surgiu como uma reação ao contismo,
durante a segunda metade do século XIX (1867), dando personalidade às contas para
poder explicar as relações de direitos e obrigações. A personificação das contas já
existia desde os primeiros expositores do método de partidas dobradas, porém, esta
personificação não constituía uma teoria científica, e sim um artifício usado pelos
autores para explicar o mecanismo das contas. Para os teóricos do personalismo, as
contas deveriam ser abertas tanto para pessoas físicas como jurídicas (pessoas
verdadeiras), e o dever e haver representavam débitos e créditos das pessoas a quem
as contas foram abertas.
Um dos primeiros idealizadores desta teoria foi Francesco Marchi (1822-1871).
Mas foi Giuseppe Cerboni (1827-1917) o verdadeiro construtor da teoria
personalista. Justificava a personificação das contas por considerar que qualquer
operação administrativa, correspondente à gestão de qualquer entidade, assume
relevância jurídica em virtude do débito e crédito que provoca. No personalismo, a
ciência contábil é considerada o estudo das variações da riqueza em relação à azienda, e
a contabilidade a ciência da administração aziendal.
Uma importante contribuição desta escola à comunicação contábil foi que a
contabilidade passou a ser considerada como um instrumento informacional sobre a
gestão das entidades, em vez de uma mera técnica de registro de transações
econômicas. Portanto, considerada uma disciplina ligada à gestão e ao processo de
tomada de decisão. Os principais personagens desta escola foram: Marchi, Cerboni e
Rossi.
1.2.3 Escola controlista
Ao tratar desta escola, Schmidt (2000) comenta que, para Fabio Besta (1880), a
contabilidade representava a ciência do controle econômico. Este autor considerava
que o controle econômico se compunha de duas partes: uma responsável pelo registro
contábil dos momentos da administração econômica e sua efetivação por meio de
escrituração e a outra representava a revelação por meio das partidas dobradas dos
fatos administrativos, em conexão com os critérios organizacionais articulados de
acordo com os mecanismos de controle inerentes à escrituração contábil.
Na visão dos controlistas, os balanços, as contas, os orçamentos, as
demonstrações de resultados etc. representavam uma forma de controle da riqueza dos
organismos econômicos.
O controle econômico pode ser considerado como uma das finalidades dos
sistemas de escrituração, não abrangendo, contudo, em sua totalidade o objeto da
contabilidade. Aspectos relativos à formação dos custos, realização de receita,
equilíbrio financeiro e outros, que provam variações patrimoniais, sofrem operações
de controle, porém, a contabilidade não se limita unicamente a esses aspectos. O
controle é apenas um instrumento de apoio e não um fim ou objeto da contabilidade.
Os principais personagens dessa escola foram: Besta, Alfieri, Ghidiglia, D’Alvise
e Lorusso.
1.2.4 Escola neocontista
O neocontismo (1914), segundo Schmidt (2000), restituiu à contabilidade o seu
verdadeiro objeto: a riqueza patrimonial, e, em consequência, trouxe grande avanço
para o estudo da análise patrimonial e dos fenômenos decorrentes da gestão
empresarial, tendo surgido como um movimento contrário ao personalismo,
defendendo o valorismo das contas. Para os neocontistas, as contas não deveriam ser
abertas a pessoas ou entidades, nem representavam direitos e obrigações, mas
deveriam refletir os valores dos componentes patrimoniais sujeitos a modificações.
Esta escola foi responsável, também, por atribuir à contabilidade o papel de
colocar em evidência o ativo, o passivo e a situação líquida das unidades econômicas.
Para tanto, seria necessário abrir contas com valores dos ativos (positivas), passivos
(negativas) e diferenciais (abstratas/situação líquida).
As principais regras contábeis são expressas a partir da fórmula do balanço
(A=P+/–SL), sendo que a disposição das contas no balanço deve basear-se, para o
ativo, no seu grau de disponibilidade, e para o passivo, no de exigibilidade. A dinâmica
do balanço era interpretada pelos neocontistas tomando por base os fatos
permutativos e modificativos.
Dentro do que denominavam dinâmica contabilística, afirmavam que num
balanço, em um momento qualquer, a soma das importâncias referentes ao débito é
igual à soma das importâncias referentes ao crédito, o que equivale a dizer que a um
débito corresponde sempre um crédito de igual valor. Nessa concepção, as contas
ativas são debitadas pelo valor inicial e pelos aumentos, e creditadas pelas
diminuições. Em relação às contas passivas, ocorre exatamente o contrário.
A escola neocontista concentrou-se na chamada teoria materialista ou positivista
das contas, pois para a maioria dos seus adeptos, a principal função da contabilidade
se resumia na revelação patrimonial, ocupando-se principalmente dos processos de
classificação e registro das contas, em detrimento dos aspectos econômico-
administrativos dos eventos registrados.
Sem dúvida, a grande contribuição dessa escola à comunicação contábil foi a
separação entre passivo e situação líquida, no balanço. Seus principais expoentes
foram: Besta, Dumarchey, Delaporte, Calmés.
1.2.5 Escola aziendalista
Conforme expõe Schmidt (2000), Cerboni e Besta dirigiram seus estudos ao
campo das aziendas acrescentando a organização, a administração e o controle à parte
científica da contabilidade. Gino Zappa, máximo representante desta escola, colocou
num só plano a gestão, a organização e a contabilidade, não admitindo o estudo
científico da contabilidade sem o conhecimento concomitante das doutrinas que, ao
seu lado, formam a economia aziendal. A doutrina da gestão está voltada para a
definição de um conjunto de princípios destinados a servir de instrumento de auxílio à
ação da gestão. A doutrina da organização está direcionada para o estudo da
constituição e harmonização do organismo pessoal da entidade. A contabilidade tem
como função a demonstração dos resultados da gestão, através da observação
adequada ao estudo quantitativo dos fenômenos empresariais.
Na concepção de Zappa, o resultado é definido como o acréscimo ou decréscimo
sofrido pelo capital em determinado período administrativo, como consequência das
operações da gestão. O resultado e o capital representam duas diferentes visões do
mesmo fenômeno. O capital é a representação do conjunto de elementos do ativo e do
passivo que irão gerar o resultado da entidade, ao passo que o resultado é a
representação das mudanças dos componentes patrimoniais em um determinado
período. Para o autor, a gestão de cada exercício é influenciada positiva ou
negativamente pelos acontecimentos que tiveram lugar em períodos anteriores e pelos
que vierem a ocorrer em períodos subsequentes.
Entendia que tanto a separação exata dos resultados de vários exercícios como a
tentativa de determinar com exatidão os custos de produção são uma utopia, já que
existem operações em curso no fim do exercício e no início do próximo exercício, que
colaboram com a formação do resultado, ou seja, operações que iniciaram em
exercícios anteriores e operações que se encerrarão em períodos posteriores.
1.2.6 Escola patrimonialista
Segundo Schmidt (2000), os teóricos desta escola (1926) definem o patrimônio
como o objeto da contabilidade, pois o mesmo é uma grandeza real que se transforma
com o desenvolvimento das atividades econômicas, cuja contribuição deve ser
conhecida para que se analisem adequadamente os motivos das variações ocorridas no
decorrer de determinado período. Os fundamentos da doutrina patrimonialistase
baseiam nos seguintes princípios: (a) o objeto da contabilidade é o patrimônio
aziendal; (b) os fenômenos patrimoniais são fenômenos contábeis; (c) a contabilidade
é uma ciência social; (d) a contabilidade se divide em três ramos na sua parte teórica:
estática patrimonial, dinâmica patrimonial e revelação patrimonial.
A estática patrimonial se ocupa do patrimônio no seu aspecto estático (equilíbrio
funcional e financeiro dos elementos patrimoniais). A dinâmica patrimonial estuda o
patrimônio na sua condição dinâmica (obtenção e emprego de capitais). A revelação
patrimonial pode ser definida como um conjunto de princípios e de normas que regem
a individuação e a representação qualitativa e quantitativa – especialmente monetária
ou valorativa – do patrimônio, em dado instante e na sucessão de instantes.
Para os patrimonialistas, a contabilidade não é apenas uma disciplina que tem por
objetivo a revelação do patrimônio, ou seja, a representação da vida patrimonial da
entidade, como sugeriram os neocontistas, mas uma ciência, portanto, com leis e
princípios próprios, que estuda e interpreta os fenômenos patrimoniais. O grande
expoente dessa escola foi Vicenzo Masi.
1.3 Escola norte-americana de contabilidade
Schmidt (2000) menciona que o início desta escola, a partir do surgimento das
grandes corporações, no começo do século XX, foi caracterizado pelo aspecto prático
no tratamento de problemas econômico-administrativos com limitadas construções
teóricas, as quais tiveram origem em entidades ligadas a profissionais da área contábil.
Transformou-se em uma das mais importantes e influentes do mundo, ditando regras
para o tratamento de questões ligadas à contabilidade de custos, controladoria, análise
das demonstrações contábeis, gestão financeira, controle orçamentário etc. As
associações profissionais foram as principais propulsoras do desenvolvimento
doutrinário nos Estados Unidos, especialmente da contabilidade financeira.
Entre as principais contribuições dessa corrente ao processo de comunicação
contábil estão: (a) a busca da qualificação da informação contábil como forma de
subsidiar a tomada de decisão dos gestores; (b) a padronização dos procedimentos
utilizados pela contabilidade financeira como forma de aumentar a confiança nas
demonstrações contábeis, tendo em vista a quebra da bolsa de Nova York, em 1929;
(c) o estabelecimento dos princípios de contabilidade geralmente aceitos (US-GAAP),
para garantir que as informações enviadas pela contabilidade aos usuários sejam
confiáveis; (d) o estabelecimento de dois objetivos gerais da contabilidade: fornecer
informações sobre os recursos econômicos e as obrigações da entidade e fornecer
informações sobre as mudanças nos recursos da entidade, pretendendo fomentar a
qualificação das informações aos diversos usuários.
A escola norte-americana contribuiu decisivamente para a contabilidade gerencial,
e seus principais personagens foram: Sprague, Hatfield, Paton, Littleton, Moonitz.
1.4 Escola alemã de contabilidade
O desenvolvimento da escola alemã, segundo Schmidt (2000), assim como o
próprio desenvolvimento doutrinário da contabilidade ocorrido no final do século XIX
e início do século XX, deveu-se, em parte, às crescentes necessidades dos usuários das
informações contábeis nos vários setores da sociedade.
As correntes doutrinárias surgidas na Alemanha estavam direcionadas para a
análise da gestão e da organização das entidades, buscando a sistematização dos
conhecimentos relativos à vida econômica das empresas, assim como a formulação dos
princípios que presidem a organização e a gestão das mesmas.
Diversos tratadistas alemães desenvolveram teorias sobre balanços, como forma
de dar mais qualidade à informação contábil, merecendo destaque a teoria estática, a
teoria orgânica e a teoria dinâmica.
Para os defensores da teoria estática ou monista, o balanço patrimonial é o
instrumento responsável pela demonstração da situação patrimonial da entidade. O
resultado de um período deve ser apurado a partir do confronto entre o valor
patrimonial inicial e final deste período. De acordo com a teoria orgânica ou dualista, o
balanço patrimonial pode fornecer não somente o estado patrimonial, mas os reais
resultados do exercício. A teoria dinâmica foi, sem dúvida, a de maior destaque no
doutrinamento alemão, tendo como expoente máximo Eugen Schmalenbach.
O desenvolvimento das ideias de Schmidt (outro expoente da escola), sobre a
contabilidade a valores correntes, especialmente na forma de publicação das
demonstrações contábeis como decorrência das altas taxas de inflação na Alemanha no
início do século (pós-guerra), significou, entre outras, uma importante contribuição da
escola alemã ao processo de comunicação contábil. Os personagens mais importantes
dessa escola foram: Schmalenbach, Schmidt, Gomberg, Schar e Gutenberg.
Para complementação de estudos
Conhecer as razões do surgimento e do desenvolvimento da contabilidade ao longo dos séculos é
fundamental para a compreensão do seu estágio atual. Este desenvolvimento é consequência do
desenvolvimento da própria sociedade, fato que ajuda a compreender por que as ciências contábeis
pertencem à grande área de conhecimento ciências sociais aplicadas. Para complementar os estudos
relacionados a este capítulo, leia o artigo Contabilidade: aspectos relevantes da epopeia de sua
evolução, de autoria dos professores Sérgio de Iudícibus, Eliseu Martins e Luiz Nelson Carvalho,
publicado na revista Contabilidade & Finanças, editada pela Universidade de São Paulo (USP), nº 38,
mai./ago., p. 7-19, 2005.
TERMOS-CHAVE
Escola contista – Os defensores dessa escola adotaram como ideia básica o mecanismo das contas,
centrando sua preocupação no seu funcionamento.
Escola personalista – Para os personalistas, as contas deveriam ser abertas tanto para pessoas físicas
como jurídicas (pessoas verdadeiras), e o dever e haver representavam débitos e créditos das pessoas a
quem as contas foram abertas.
Escola controlista – Para Fabio Besta (1880), principal personagem dessa escola, a contabilidade
representava a ciência do controle econômico.
Escola neoconsita – Para os neocontistas, as contas não deveriam ser abertas a pessoas ou entidades,
nem representavam direitos e obrigações, mas deveriam refletir os valores dos componentes
patrimoniais sujeitos a modificações.
Escola aziendalista – Gino Zappa, máximo representante dessa escola, colocou num só plano a
gestão, a organização e a contabilidade.
Escola patrimonialista – Na doutrina patrimonialista, o objeto da contabilidade é o patrimônio
aziendal; os fenômenos patrimoniais são fenômenos contábeis; a contabilidade é uma ciência social; a
contabilidade se divide em três ramos, na sua parte teórica: estática patrimonial, dinâmica patrimonial
e revelação patrimonial.
Escola norte-americana – Nessa escola, tem-se o estabelecimento de dois objetivos gerais da
contabilidade: 1) fornecer informações sobre os recursos econômicos e as obrigações da entidade; 2)
fornecer informações sobre as mudanças nos recursos da entidade.
Escola alemã – Diversos tratadistas alemães desenvolveram teorias sobre balanços, como forma de dar
mais qualidade à informação contábil, merecendo destaque a teoria estática, a teoria orgânica e a teoria
dinâmica.
REFERÊNCIAS
SCHMIDT, Paulo. História do pensamento contábil. Porto Alegre: Bookman, 2000.
CAPÍTULO 2
CONCEITO, OBJETIVOS, CAMPO DE ATUAÇÃO E
ESTRUTURA CONCEITUAL DA CONTABILIDADE
 
Este capítulo trata do conceito e dos objetivos da contabilidade, discutindo o tema a
partir do exame dos seguintes tópicos: conceito de contabilidade, objetivos da
contabilidade, usuários e as suas necessidades de informação, campo de atuação da
contabilidade, estrutura conceitual da contabilidade, horizontes da contabilidade e futuro
do profissional contábil.
 
2.1 Conceito de contabilidade
Macfarland (1957, p. 1) conceitua a contabilidade como “a arte de
sistematicamente registrar, apresentar e interpretar as transações financeiras de uma
empresa”. Paraa American Accounting Association (AAA) (1966, p. 1), a
contabilidade é um “processo de identificação, medição e comunicação de informação
econômica que permite juízos e decisões por parte dos usuários”. Salmonson (1977,
p. 1) observa a contabilidade como um “processo sistemático de mensuração e
evidenciação a vários usuários, de informações financeiras relevantes para os
tomadores de decisões a respeito das atividades econômicas de uma organização ou
entidade”. Este aspecto, relacionado com a relevância das informações para fins de
decisão, é enfatizado por Glautier e Underdown (1986, p. 22), quando mencionam que
“a menos que as demonstrações contábeis tenham o potencial de influenciar decisões e
ações, será difícil justificar os custos de prepará-las”.
Sá (2008, p. 42) argumenta que “a contabilidade é a ciência que estuda os
fenômenos patrimoniais, preocupando-se com a realidade, evidências e
comportamento dos mesmos, em relação à eficácia funcional das células sociais”. Do
ponto de vista científico, trata-se de conhecer as relações existentes entre os
fenômenos patrimoniais que são observados, e de que forma essas relações se
estabelecem. Do ponto de vista tecnológico, a contabilidade assume um compromisso
com a informação e a adequada evidenciação numérica dos fatos patrimoniais.
É possível depreender dos conceitos apresentados que a contabilidade se inscreve
como uma parte integrante de um sistema de informação, deixando de lado o antigo
conceito que a considerava como um elemento destinado a cumprir unicamente
determinadas exigências fiscais.
2.2 Objetivos da contabilidade
O estudo de pesquisa em contabilidade no 1, de acordo como Moonitz (1961
apud HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999), estabelece como objetivo da
contabilidade: (a) a medição dos recursos que uma determinada entidade possui; (b) a
evidenciação dos direitos contra tal entidade e os interesses nela existentes; (c) a
medição das variações ocorridas nesses recursos, direitos e interesses; (d) a atribuição
destas variações a períodos determinados; e (e) a utilização de um denominador
comum (moeda) para exprimir os dados anteriormente tratados.
Por sua estreita relação com os fatos econômico-financeiros, Iudícibus, Martins e
Carvalho (2005) pregam que cabe à contabilidade capturar e processar esses fatos,
valendo-se de uma metodologia adequada e mantendo-se fiel à sua essência. Os autores
reforçam os dois pilares essenciais da contabilidade: mensuração e evidenciação,
entendendo que a contabilidade se encontra habilitada para atender adequadamente
estes dois pilares, buscando apoio em áreas como direito, economia, informática e
métodos quantitativos. Desta forma, independentemente do seu caráter científico, a
contabilidade apresenta uma faceta marcadamente prática, assumindo relevância como
elemento de avaliação da entidade e de seus dirigentes, e de prestação de contas da
gestão realizada, além de fornecer os insumos necessários para que seus usuários,
sejam eles internos ou externos, tenham condições de tomar decisões.
Nesse contexto, os insumos compreendem as informações proporcionadas pela
contabilidade, as quais, de acordo com Iudícibus e Marion (2000), apresentam-se de
forma estruturada, contemplando, primordialmente, elementos de natureza financeira e
econômica e, subsidiariamente, informações de natureza física, de produtividade e
social. As informações de natureza física podem incluir, por exemplo, informações
sobre a quantidade física produzida, quantidade física de produtos vendidos, número
de clientes ativos etc. As informações de produtividade podem incluir, por exemplo,
valor das vendas por cliente, salário médio dos empregados, valor das compras por
fornecedor etc., obtidas pela divisão de valores monetários por elementos físicos. As
informações de natureza social podem incluir, por exemplo, projetos sociais
desenvolvidos pela empresa, nível de escolaridade da força de trabalho, balanço social
etc.
2.3 Usuários e as suas necessidades de informação
Para Atkinson e Waterhouse (1996), os negócios e as relações das organizações
têm se modificado de forma espetacular nos últimos anos, determinando uma atuação
mais cooperativa e participativa, e criando, em consequência, mais dependência em
relação aos distintos grupos de interesse. Um grupo de interesse é formado, portanto,
por “um indivíduo ou um grupo de dentro ou de fora da organização que tem interesse
na mesma, podendo influenciar no seu desempenho” (ATKINSON; WATERHOUSE;
WELLS, 1996, p. 3). Assim, podem ser encontrados diversos grupos de interesse nas
organizações, como clientes, empregados, fornecedores, credores, acionistas e
comunidade. Estes grupos de interesse são os principais usuários das informações
contábeis.
Aquino e Santana (1992) destacam que para a American Accounting Association
(AAA), de uma maneira ampla, o grupo de usuários da informação contábil inclui,
inclusive, aqueles que não recebem essas informações, mas que podem ser afetados
pela ação daqueles que, de alguma maneira, as recebem e as utilizam. Hendriksen e Van
Breda (1999) indagam a respeito de qual é o grupo principal de usuários da informação
contábil, devido à sua variedade, bem como à quantidade e ao tipo de informações a
serem divulgadas, uma vez que isto depende, na maioria das vezes, do usuário a quem
elas se destinam.
Para Gonçalves (2002), além de se conhecer os usuários das informações
contábeis, deve-se, também, obter informações sobre as suas características, a fim de
que as informações fornecidas pela contabilidade levem ao cumprimento do seu
objetivo de subsidiar o processo decisório dos mesmos. Além disso, de acordo com
Dias Filho (2000), é importante que a organização ajuste a linguagem contábil à
capacidade de compreensão do usuário, visto que os significados dos termos
utilizados na contabilidade podem ser de difícil entendimento para aqueles que não
estão familiarizados.
Hendriksen e Van Breda (1999, p. 511) assinalam que os acionistas e os
investidores formam o grupo que dá o foco a ser adotado pela contabilidade. Assim, a
evidenciação das informações contábeis pode ser descrita como “a apresentação de
informações necessárias para o funcionamento ótimo de mercados eficientes de
capital”. Entretanto, o grupo de usuários da informação contábil é mais amplo e
diversificado, conforme revela o Quadro 1.
Quadro 1 – Usuários da informação contábil
Usuários Características
Disciplinadores legais; interessados em informações que sirvam de base
à tributação como receitas e lucros. Usam os relatórios para fins de
Entidades governamentais arrecadação de impostos, bem como para fins estatísticos, no sentido de
redimensionar a economia (IBGE).
Fornecedores e clientes
Ambos têm interesses na continuidade da empresa e na manutenção da
capacidade desta em saldar compromissos e fornecer benefícios passados,
presentes e futuros. Usam os relatórios para analisar a capacidade de
pagamento e de compras dos bens e serviços.
Acionistas e investidores
Interessados no desenvolvimento dos negócios, na manutenção do lucro
por ações, no fluxo de dividendos, entre outros. É através dos relatórios
contábeis que se identifica a situação econômico-financeira da empresa,
e, desta forma, ambos têm como decidir as melhores alternativas para o
investimento.
Financiadores e bancos
Fornecedores de recursos necessários ao desenvolvimento dos
empreendimentos, com direito de regresso, buscam saber a situação real
da empresa, bem como perspectivas futuras. Utilizam os relatórios para
aprovar os empréstimos.
Empregados e sindicatos
Interessados na continuidade da empresa, bem como na geração dos
benefícios. Utilizam os relatórios para, por exemplo, determinar a
produtividade do setor, entre outros.
Administração Controladores e responsáveis pelas boas práticas de manutenção de taxasde retorno aceitáveis e de nível adequado de endividamento.
Outros interessados:
Agentes de mercado de
ações, intermediários,
sociedade, associações de
classe, entre outros.
Buscam constatar a manutenção e o desenvolvimentoda empresa, bem
como a ação no meio a que ela está inserida, como, por exemplo, a
verificação dos benefícios que ela gera para a sociedade.
Fonte: Adaptado de Iudícibus e Marion (2000) e Gonçalves (2002).
O Conselho Federal de Contabilidade emitiu, em 08 de dezembro de 2011, a
Resolução no 1.374/11, que trata da estrutura conceitual para a elaboração e divulgação
de relatório contábil-financeiro (NBC TG – Estrutura Conceitual), acatando o
Pronunciamento Conceitual Básico – Estrutura Conceitual, emitido pelo Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC), criado pelo Conselho Federal de Contabilidade
conforme Resolução no 1.055/05. Nesse documento, são identificados os usuários das
demonstrações contábeis, entre os quais se incluem investidores atuais e potenciais,
empregados, credores por empréstimos, fornecedores e outros credores comerciais,
clientes, governos e suas agências e o público.
Os investidores têm interesse em avaliar os riscos inerentes aos investimentos e o
retorno que estes podem produzir; necessitam de informações para decidir sobre a
compra, manutenção ou venda de investimentos. Os acionistas buscam informações
que lhes permitam, por exemplo, avaliar a capacidade de pagamento de dividendos
pela entidade. Os empregados e sindicatos se interessam por informações que revelem
a estabilidade e a lucratividade da entidade, e que possibilitem uma avaliação sobre a
capacidade desta cumprir com o pagamento de sua remuneração e manutenção dos
seus benefícios de aposentadoria.
Os credores por empréstimos necessitam de informações que lhes auxiliem a
determinar a capacidade de pagamento da entidade, tanto do valor principal dos
empréstimos tomados como dos juros correspondentes. Os fornecedores e outros
credores comerciais também buscam informações sobre a capacidade de a entidade
pagar em dia os valores que lhes são devidos.
Os clientes se interessam por informações acerca da continuidade operacional da
entidade, em especial, nos casos em que têm um relacionamento de negócios de longo
prazo com a mesma ou esta representa um importante fornecedor. O governo e suas
agências têm interesse nas atividades das entidades. Demandam informações com o
fito de regulamentar as atividades das entidades, estabelecer políticas fiscais,
determinar a renda nacional e elaborar estatísticas. O público também é afetado pela
atuação das entidades, na medida em que estas empregam pessoas e se valem de
fornecedores locais. Por meio das demonstrações contábeis, o público obtém
informações acerca do desempenho da entidade e de seus desenvolvimentos recentes.
Os futuros investidores também estão interessados nas condições passadas e
presentes da empresa, e nas tendências de lucros ou prejuízos de suas operações
(MACFARLAND, 1957).
2.4 Campo de atuação da contabilidade
O campo de atuação da contabilidade, ou o seu objeto, é o patrimônio de
qualquer entidade, seja de fins lucrativos ou não, e visa acompanhar a evolução desse
patrimônio, tanto qualitativa como quantitativa (IUDÍCIBUS; MARION, 2000).
Álvarez López e Blanco Ibarra (1993, p. 478), identificam uma série de
elementos no sistema contábil, que na realidade também são observáveis nos demais
sistemas de informação, como: (a) dados de entrada (inputs): estão representados por
fatos econômico-administrativos que ocorreram na organização ao longo de um
determinado período contábil, por exemplo, um mês, um trimestre, um semestre ou
um exercício anual, e que o processo contábil trata de captar, medir, representar e
comunicar; (b) tratamento contábil dos dados de entrada (processo): formam o
“conjunto de sistemas, métodos e procedimentos de cálculo e representação”
realizados pelo sistema contábil para oferecer aos usuários a informação adequada às
suas necessidades; (c) informação obtida (outputs): ao processar os inputs, o sistema
produz informações que refletem tanto a situação patrimonial e financeira da
organização como os resultados obtidos em um determinado período considerado (a
contabilidade financeira proporciona informações como balanço patrimonial,
demonstração do resultado, demonstração de origens e aplicações de recursos,
demonstração dos fluxos de caixa etc.; a contabilidade gerencial proporciona
informações periódicas sobre receitas, custos e resultados analíticos, inventários
permanentes, resultados por seções, desvios etc.; e a retroalimentação informativa
(feedback) ocorre quando toda a informação gerada pelo sistema contábil volta a ser
processada pelo mesmo, produzindo-se novas demonstrações); (e) aplicação de
princípios e normas (controle): para garantir a adequação entre os dados de entrada,
seu tratamento contábil e a informação fornecida pelo sistema, é necessário ater-se aos
princípios e normas estabelecidos, com o propósito de produzir demonstrações que
atendam às características desejadas pelos usuários. A inter-relação entre essas
distintas partes configuram o sistema contábil.
Verifica-se que a contabilidade tem como insumos (entradas) os dados ou
informações provenientes de fontes internas e externas. Tais elementos, por sua vez,
são processados a partir de princípios contábeis e dão origem aos relatórios (saídas)
elaborados de forma a atender às necessidades dos usuários das informações contábeis,
tanto daqueles diretamente interessados nas atividades de uma determinada entidade
quanto daqueles cujos interesses são indiretos. Portanto, os usuários podem atender
às suas necessidades de informação, primordialmente, por meio de relatórios contábeis
gerados pela contabilidade financeira e pela contabilidade gerencial.
A contabilidade financeira, preparada com base nos princípios contábeis, e a
contabilidade gerencial, cuja elaboração prescinde do atendimento de princípios, são
consideradas como dois subsistemas que formam o sistema de informação contábil.
“Se considerarmos estes subsistemas como dois conjuntos, a sua intersecção dará
lugar a um terceiro subsistema de informação: a contabilidade de custos” (IGLESIAS
SÁNCHEZ, 1995, p. 725).
Cada um desses subsistemas deve atender às demandas de informação dos
usuários e compreendem (BELKAOUI, 1992 apud IGLESIAS SÁNCHEZ, 1995):
a. Contabilidade financeira: é responsável pelo fornecimento de informações
dirigidas, primeiramente aos usuários externos. A contabilidade financeira é
essencialmente retrospectiva, na medida em que lida com dados históricos ou
eventos que já ocorreram. A determinação da posição patrimonial e financeira
e de resultados constitui o seu foco (WALGENBACH, 1980).
b. Contabilidade de custos: é responsável pela valoração da produção obtida e
pelo controle de custos, com o propósito de minimizá-los. Martins (2003, p.
21) acrescenta que, na função de controle, a contabilidade de custos fornece
dados para a determinação de padrões e de orçamentos, para, “num estágio
imediatamente seguinte, acompanhar o efetivamente acontecido para
comparação com valores anteriormente definidos”.
c. Contabilidade gerencial: é responsável pela geração de informações destinadas
ao processo de tomada de decisão pelos gestores, destinando-se à
maximização dos resultados. Face à natureza estratégica de algumas
informações, estas poderão estar disponíveis somente para os usuários
internos (gestores), e o processo de geração e análise dessas informações
normalmente recebe a denominação de contabilidade gerencial
(WALGENBACH, 1980).
2.5 Estrutura conceitual para a elaboração e apresentação das
demonstrações contábeis
As demonstrações contábeis preparadas segundo a NBC TG, Resolução nº
1.374/11 do Conselho Federal de Contabilidade, normalmente são elaboradas
considerando a premissa de que a entidade está em atividade (going concern
assumption), devendo manter-se em operação por um futuro previsível. Significa que a
entidade não tem a intenção, nem a necessidade de entrar em processo de liquidação ou
de reduzir as suas operações de forma mais acentuada.
2.5.1 Elementos das demonstrações contábeis
As demonstrações contábeis refletem os efeitos financeiros no patrimônio
oriundo dastransações e outros eventos. Os elementos relacionados à mensuração da
posição patrimonial e financeira no balanço patrimonial são os ativos, os passivos e o
patrimônio líquido. Os elementos relacionados com a mensuração do desempenho na
demonstração do resultado são as receitas e as despesas. A demonstração das
mutações na posição financeira retrata os elementos da demonstração do resultado e as
alterações nos elementos do balanço patrimonial.
2.5.2 Performance
O resultado é utilizado normalmente como medida de performance (desempenho)
ou como base para outras medidas (retorno do investimento ou o resultado por ação).
Os elementos relacionados com a mensuração do resultado são as receitas e as
despesas cujo reconhecimento, bem como o resultado, depende, em parte, dos
conceitos de capital e de manutenção de capital adotados pela entidade na elaboração
de suas demonstrações contábeis.
2.5.3 Ajustes para manutenção de capital
A reavaliação ou a atualização de ativos e passivos aumenta ou diminui o
patrimônio líquido. Mesmo que esse aumento ou diminuição se enquadre na definição
de receitas e de despesas, sob certos conceitos de manutenção de capital, ele não é
incluído na demonstração do resultado, e sim no patrimônio líquido como ajuste para
manutenção do capital ou reserva de reavaliação.
2.5.4 Probabilidade de futuros benefícios econômicos
Na Resolução nº 1.374/11 (CFC, 2011), consta que “o conceito de probabilidade
deve ser adotado nos critérios de reconhecimento para determinar o grau de incerteza
com que os benefícios econômicos futuros referentes ao item venham a fluir para a
entidade ou a fluir da entidade”. Este conceito é aderente à incerteza que caracteriza o
ambiente no qual a entidade opera. Quando houver probabilidade de que uma conta a
receber seja paga pelo devedor, esta deve ser reconhecida como ativo. No entanto,
considerando todas as contas a receber, é possível prever algum grau de inadimplência,
reconhecendo-se como despesa a esperada redução nos benefícios econômicos.
2.5.5 Confiabilidade da mensuração
Outro critério para reconhecimento de um item é que ele possua custo ou valor
que possa ser mensurado com confiabilidade. Há situações em que o custo ou valor
precisa ser estimado, o que não prejudica a confiabilidade da demonstração contábil.
No entanto, se não puder ser feita uma estimativa razoável, o item não deve ser
reconhecido no balanço patrimonial ou na demonstração do resultado. É o caso, por
exemplo, de ações judiciais. Sempre há a possibilidade de reconhecimento de itens em
data posterior, quando resultar de circunstâncias ou eventos subsequentes. Em outros
casos, pode haver a divulgação em notas explicativas ou quadros suplementares.
2.5.6 Conceitos de capital e de manutenção de capital
A maioria das entidades adota na elaboração das demonstrações contábeis o
conceito de capital financeiro (ou monetário). De acordo com o conceito de capital
financeiro, o capital é sinônimo de ativos líquidos ou patrimônio líquido da entidade.
Já no conceito de capital físico (capacidade operacional), o capital é considerado como
a capacidade produtiva da entidade baseada, por exemplo, nas unidades de produção
diária.
Os conceitos de capital originam os seguintes conceitos de manutenção de capital
(CFC, 2011):
a. Manutenção do capital financeiro: considera-se como auferido o lucro
somente se o montante financeiro (ou dinheiro) dos ativos líquidos no fim do
período exceder o seu montante financeiro (ou dinheiro) no começo do
período, excluídas possíveis distribuições aos proprietários e aportes de
capital durante o período.
b. Manutenção do capital físico: o lucro é considerado auferido somente se a
capacidade física produtiva (capacidade operacional) da entidade no fim do
período for superior à capacidade física produtiva no início do período,
excluídas possíveis distribuições aos proprietários e aportes de capital
durante o período. O conceito de manutenção do capital físico requer a adoção
do custo corrente como base de mensuração.
Essa estrutura conceitual é aplicável ao elenco de modelos contábeis e fornece
orientação para elaboração e apresentação das demonstrações contábeis elaboradas
conforme o modelo escolhido.
2.6 Características qualitativas da informação contábil-
financeira
As características qualitativas da informação contábil-financeira são:
a. Relevância: uma informação contábil-financeira relevante é aquela que pode
fazer a diferença nas decisões a serem tomadas pelos usuários, mesmo quando
estes decidirem não levá-la em consideração. Para ser relevante, a informação
deve ter valor preditivo, valor confirmatório ou ambos.
b. Materialidade: uma informação é material quando a sua omissão ou divulgação
distorcida influenciar decisões equivocadas dos usuários.
c. Representação fidedigna: uma informação é fidedigna quando representa o
fenômeno que se propõe representar. Deve ser completa, neutra e livre de
erro.
d. Comparabilidade: uma informação será mais útil se puder ser comparada com
informação similar de outras entidades ou da mesma entidade em períodos
diferentes.
e. Verificabilidade: ajuda a assegurar que a informação representa de maneira
fidedigna o fenômeno econômico que se propõe representar.
f. Tempestividade: significa dispor da informação a tempo de poder influenciar
decisões.
g. Compreensibilidade: a informação é compreensível quando é classificada,
caracterizada e apresentada com clareza e concisão.
O Financial Accounting Standards Board (FASB), no Statement of Financial
Accounting Concepts no 2 (FASB, 1980), apresenta uma hierarquia das características
da informação contábil. Nesse conjunto, podem ser destacados dois elementos
principais: a relevância e a confiabilidade, que estão associados à comparabilidade e
subordinados à inteligibilidade e ao critério básico de que os benefícios oriundos das
informações devem ser superiores aos custos para produzi-las (HENDRIKSEN; VAN
BREDA, 1999).
O International Accounting Standards Board (IASB) (1989), também elaborou
uma “Estrutura conceitual para a elaboração e apresentação das demonstrações
contábeis”, com o intuito de atender às necessidades informacionais dos usuários da
contabilidade. Para esse organismo, as principais características qualitativas da
informação contábil são: a compreensibilidade, a relevância, a confiabilidade e a
comparabilidade.
2.7 Horizontes da contabilidade e o futuro do profissional
contábil
A contabilidade tem evoluído de forma a acompanhar as mudanças políticas,
econômicas e sociais que afetam e sociedade e, em consequência, modificam as suas
necessidades informacionais. Estudos relacionados à origem e à evolução da
contabilidade, como o realizado por Schmidt (2000), apontam que sistemas contábeis
têm sido utilizados desde a pré-história, tendo se desenvolvido e aprimorado ao longo
do tempo, sempre com o intuito de melhor atender às demandas de seus usuários.
Conforme Iudícibus, Martins e Carvalho (2005), face à evolução dos tempos e
das organizações, outros interessados nas atividades das entidades foram surgindo, e
suas demandas levaram a contabilidade a se transformar, passando de um engenhoso
sistema de escrituração e elaboração de demonstrações contábeis simplificadas para
um complexo sistema de informação e avaliação cujo objetivo central é satisfazer a
necessidade informacional dos usuários internos e externos à entidade a que se refere.
O surgimento de uma diversidade de usuários tem tornado a consecução desse
objetivo cada vez mais difícil, dadas as suas diferentes características e necessidades,
que devem ser supridas por meio de informações úteis, disponibilizadas com a
qualidade e quantidade adequada. A contabilidade é, então, constantemente desafiada a
desenvolver e aprimorar as técnicas utilizadas no processo de geração e divulgação das
informações requeridas por seus usuários. Nesse processo de evolução voltado ao
atendimento das necessidades da sociedade, observa-se que o desafio não está
relacionado apenas ao processamento e divulgação(disclosure) de informações de
caráter econômico-financeiro. A sociedade, de uma maneira geral, tem se interessado
pela forma como as organizações se relacionam com o ambiente no qual estão
inseridas, o que faz com que a geração de informações de caráter social e ambiental
passe a ser mais uma atribuição da contabilidade.
Para Medley (1997), a inserção de elementos ambientais nos estudos contábeis
oportuniza aos contadores demonstrar que são capazes de aceitar novos desafios e
tratar de assuntos contemporâneos. De acordo com o autor, questões ambientais
podem ser contempladas pela contabilidade financeira (elaboração do balanço
ambiental, por exemplo), pela contabilidade de custos (identificação, análise e
gerenciamento dos custos e benefícios ambientais) e pela auditoria. De forma
semelhante, essas áreas da contabilidade também são desafiadas a captar, mensurar e
evidenciar os impactos das ações sociais desenvolvidas pelas entidades.
Adicionalmente, é relevante destacar a demanda por informações relacionadas aos
ativos intangíveis de uma determinada entidade, que tem crescido na medida em que
estes têm se tornado tão críticos ao seu sucesso quanto os ativos físicos e tangíveis. O
desenvolvimento de métodos objetivos de mensuração dos bens intangíveis que
compõem o ativo de uma organização também tem se caracterizado como um desafio
que deve ser superado para que a contabilidade possa atender ao seu objetivo central.
Nesse contexto em que a contabilidade se desenvolve e se aprimora visando o
atendimento de seu objetivo principal, ou seja, a satisfação das necessidades
informacionais dos usuários internos e externos à entidade, verifica-se, também, a
importância do desenvolvimento e aprimoramento das competências dos profissionais
contábeis, que devem ser capazes de desempenhar suas atividades de maneira
adequada, atendendo às expectativas daqueles que demandam seus serviços.
Anteriormente, a contabilidade e, por consequência, os contadores, estavam
focados no processo de registro e elaboração dos relatórios econômico-financeiros,
mas, atualmente, a dinamicidade do ambiente em que as entidades desenvolvem suas
atividades e negociam os seus produtos e a diversidade de players com os quais se
relacionam requerem um contador capaz de prover as informações requeridas pelos
usuários (internos e externos) da contabilidade, sejam elas de natureza econômico-
financeira ou de natureza física, ambiental ou social.
Além disso, o novo ambiente de negócios impõe ao contador o desafio de
participar mais ativamente do processo de gestão da entidade em que atua, pois, na
medida em que os sistemas informatizados se encarregam do registro, processamento e
elaboração dos relatórios contábeis, cabe a este profissional a tarefa de analisá-los, não
apenas para identificar problemas relacionados ao desempenho da empresa, mas
também para contribuir na sua solução.
Para Holtzman (2004), o contador deixou definitivamente de ser o “guarda-
livros” para se tornar um membro estratégico, exercendo a função de consultor
gerencial. Neste sentido, Zarowim (1997) afirma que, nos dias atuais, espera-se que o
contador seja mais que um profissional que se dedica ao registro e elaboração de dados
financeiros e históricos, pois ele deve assumir um papel mais analítico e pró-ativo. O
autor destaca que a informação é vital para as organizações e que, no futuro, os
contadores que esperam participar do processo decisório devem estar preparados para
se tornarem trabalhadores do conhecimento, atuando como parceiros de negócios e
agentes de mudança.
Sharman (2007) chama a atenção para o fato de que a contabilidade vai além da
auditoria, do cálculo de impostos e da elaboração de demonstrações contábeis. O autor
ressalta que a contabilidade é uma profissão completa, que desempenha outros papéis
voltados à promoção do desempenho da empresa, suportando o processo decisório,
desenvolvendo planos de negócios e implementando e administrando os controles
internos, constituindo-se, portanto, em uma carreira completa que envolve um rico e
vibrante conjunto de conhecimentos.
Cabe ao contador empreender ações que permitam que a profissão alcance esse
novo patamar, de forma que a contabilidade seja vista como um elemento-chave na
gestão das organizações. Para tanto, deve assumir o desafio de atuar como “parceiro
de negócio” e não apenas como “guarda-livro”, ou seja, desempenhando atividades que
agregam valor.
Mohamed e Lashine (2003) concordam com os posicionamentos dos demais
autores e apontam uma série de atributos requeridos do profissional contábil pelo
“mercado global”, e que devem ser adquiridos e desenvolvidos por este profissional,
compreendendo:
a. habilidades de comunicação: estão relacionadas à capacidade de comunicar-se
em uma linguagem global comum, bem como às habilidades de negociação e de
trabalho em grupo;
b. habilidades computacionais: dizem respeito às habilidades de utilizar as
tecnologias disponíveis, tanto no processamento quanto na comunicação de
informações;
c. habilidades analíticas: estão relacionadas à capacidade que o profissional deve
possuir de realizar questionamentos pertinentes, de coletar informações
completas e acuradas, de reconhecer a importância das informações e de suas
implicações, e de explicar, através de lógica e da razão, as relações entre
diferentes objetos, eventos, indivíduos ou metodologias;
d. habilidades intelectuais: dizem respeito à habilidade de identificar e antecipar
os problemas e/ou oportunidades e de encontrar possíveis formas de
solucioná-los e/ou aproveitá-los;
e. habilidades multidisciplinares e interdisciplinares: estão relacionadas a outras
áreas de conhecimento, como finanças, tecnologia da informação, economia,
marketing e à compreensão das forças econômicas, sociais, culturais e
psicológicas que afetam as organizações;
f. conhecimentos de assuntos globais: dizem respeito ao conhecimento de temas
internacionais, como, por exemplo, das regulamentações relacionadas à
importação, exportação etc.;
g. qualidades pessoais: são consideradas qualidades pessoais a responsabilidade
ética, a responsabilidade individual, a automotivação, a autoestima, a
sociabilidade, a integridade, as habilidades interpessoais, a capacidade de
delegar tarefas, de motivar e influenciar os demais, de resolver conflitos, de
entender a organização e de resolver dilemas éticos;
h. pensamento crítico: está relacionado à capacidade de buscar, processar e
aplicar as habilidades adquiridas na identificação e solução de problemas.
As competências exigidas de um profissional contábil capacitado a enfrentar os
desafios impostos pelo ambiente de atuação das empresas não se limitam unicamente
aos conhecimentos técnicos. Espera-se que ele deixe de fornecer apenas informações e
passe a interagir com os usuários, desenvolvendo um perfil que lhe permita trabalhar
de forma integrada com as demais áreas organizacionais, entendendo-as e se fazendo
entender, além de dominar as novas tecnologias da informação.
Para complementação de estudos
Para complementar os estudos sobre o que está exposto neste capítulo, acesse o site:
www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_1374.doc, e leia no documento “ Resolução CFC 1.374/11”:
prefácio, introdução, finalidade e status, alcance e Capítulo 1 (OB 1 a OB 21).
TERMOS-CHAVE
Pilares da contabilidade – Os dois pilares essenciais da contabilidade são: mensuração e
evidenciação. Para atender adequadamente estes dois pilares, a contabilidade busca apoio no direito,
economia, informática e métodos quantitativos.
Usuários e suas necessidades de informações – Além de conhecer os usuários das informações
contábeis, deve-se também obter informações sobre as suas características, a fim de que as informações
fornecidas pela contabilidade levem ao cumprimento do seu objetivo de subsidiar o processo decisório
dos mesmos.
Estrutura básica da contabilidade – Segundo a Resolução CFC no 1.121/08, as demonstrações
contábeis têm por objetivo o fornecimento de informações úteis ao processo de decisãoe avaliação dos
usuários em geral, na medida em que procuram atender a maior gama possível de interessados.
http://www.cfc.org.br
Características qualitativas das demonstrações contábeis – Compreensibilidade: as informações
apresentadas nas demonstrações contábeis devem ser entendidas pelos usuários; relevância: é a
informação capaz de influenciar as decisões econômicas dos usuários; materialidade: a informação é
material quando a sua omissão ou distorção puder provocar influência nas decisões econômicas dos
usuários; confiabilidade: a informação deve estar livre de erros ou vieses relevantes, devendo
evidenciar, de forma adequada, aquilo que se propõe representar; comparabilidade: adoção de
procedimentos consistentes de mensuração e apresentação das transações e eventos ao longo de
diversos períodos.
REFERÊNCIAS
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CAPÍTULO 3
DEFINIÇÃO E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO
ATIVO, PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO.
RECEITAS, GANHOS, DESPESAS E PERDAS
 
Neste capítulo são abordados os conceitos e os diversos critérios que podem ser
utilizados para avaliar os ativos nas empresas, e são examinadas as exigibilidades
considerando as suas várias formas, dando ênfase ao passivo ou exigibilidades ocultas.
O patrimônio líquido também é conceituado e são apresentadas as teorias que tratam
desse elemento, assim como são conceituadas as receitas, os ganhos, as despesas e as
perdas.
 
3.1 Conceituação de ativo
Ao procurar conceituar ativo, pode-se usar como exemplo uma mesa cujo tampo
pode ser utilizado para apoiar objetos e para escrever; ela também serve para separar
espaços e como elemento de decoração. Portanto, enquanto estiver em uso, gera
benefícios contínuos ao homem. Isto ocorre, também, com outros objetos, naturais ou
fabricados, que possuem um potencial de utilidade capaz de ser convertido em
benefícios para quem os utiliza (LUSTOSA, 2009).
De acordo com Iudícibus e Marion (1999, p. 144), as empresas fazem uso de
seus ativos para manutenção de suas operações visando à geração de receitas capazes
de superar o valor dos ativos sacrificados. Isto significa que “em todas as aplicações,
existe o objetivo e a esperança imediata ou mediata de garantir um fluxo de caixa, no
futuro”. Desta forma, os autores conceituam o ativo como algo que possui em seu
bojo um potencial de serviços para a entidade, que lhe capacita de forma direta ou
indireta, imediata ou no futuro, a gerar fluxos de caixa.
D’Auria (apud IUDÍCIBUS, 1997) conceitua o ativo como “o conjunto de meios
ou a matéria posta à disposição do administrador para que este possa operar de modo
a conseguir os fins que a entidade entregue à sua direção tem em vista”. Segundo
Sprouse e Moonitz (apud IUDÍCIBUS, 1997), no ARS nº 3 do AICPA de 1962
consta que “[…] ativos representam benefícios futuros esperados, direitos que foram
adquiridos pela entidade como resultado de alguma transação corrente ou passada”.
Isso significa que somente podem ser considerados ativos aqueles elementos que
cumprem o que foi acima exposto. Por exemplo, estoques invendáveis não devem
figurar no ativo porque não são capazes de gerar fluxos de caixa futuros. Esse fato está
relacionado intimamente com a continuidade da entidade.
Muitos ativos como máquinas e equipamentos industriais têm substância física.
Entretanto, essa não é essencial à existência de um ativo; as patentes e direitos
autorais, por exemplo, são ativos, desde que deles sejam esperados benefícios
econômicos futuros para a entidade e que eles sejam por ela controlados (Resolução
CFC nº 1.374/11).
3.2 Avaliação do ativo
Em contabilidade, avaliar corresponde ao processo de atribuição de valor
monetário aos elementos contábeis. Tem-se como produto final do processo de
avaliação (valoração) de ativos e demais elementos contábeis um número que significa
quanto vale o ativo em termos monetários, sendo que a grandeza desse número
depende “dos conceitos de mensuração que forem utilizados no seu cálculo”
(LUSTOSA, 2009, p. 89).
Diversos são os métodos ou conceitos de mensuração que podem ser adotados na
avaliação de ativos. Estes são normalmente avaliados por algum tipo de valor de custo
(valor de entrada), considerados mais adequados do que os valores de saída como base
geral de avaliação. Os valores de entrada são:
3.2.1 Custo histórico original
Trata-se do valor original da transação, isto é, o preço pelo qual foi adquirido o
ativo. O custo histórico apresenta uma vantagem que é a sua objetividade. Há
situações em que este ativo perde substância econômica, independentemente de
possíveis variações no poder aquisitivo da moeda, ou, nos casos de variação, sua
avaliação acaba ficando defasada.
Hendriksen (apud IUDÍCIBUS, 1997, p. 133) entende queuma das mais
importantes razões pelas quais se observa a adoção generalizada do custo histórico é a
sua relação estreita com o “conceito de realização da receita na mensuração do lucro.
De fato, um lucro baseado em valores históricos é totalmente realizado, tanto na parte
operacional quanto na dos ganhos”.
3.2.2 Custos prudentes
Para Hendriksen e Van Breda (1999, p. 307), os custos prudentes são “somente
os custos que seriam normalmente pagos pelos ativos por uma administração
razoavelmente prudente”. Os autores sugerem que os custos de produção devem
incluir somente os custos diretos de matéria-prima e mão de obra e os custos indiretos
normais que podem ser alocados aos produtos com base em uma associação lógica,
mas o desperdício anormal de materiais e o tempo ocioso excessivo de trabalho não
são considerados como custos de produção. Também entendem que é difícil diferenciar
o que é um custo excessivo, por depender de juízo de valor ou de algum grau de
arbitrariedade.
3.2.3 Custos-padrão
Considera os níveis desejados de eficiência e de uso da capacidade de produção.
Hendriksen e Van Breda (1999) mencionam que, no caso, são estabelecidas bases
(padrão) de matéria-prima, mão de obra e outros custos de produção, e são estas bases
que servem para a avaliação dos ativos produzidos, desconsiderando-se os custos
excessivos e desnecessários, ou seja, os que extrapolam o padrão preestabelecido.
Os padrões estabelecidos pela empresa podem ter um maior ou menor grau de
aceitação de ineficiências e ociosidades, ou seja, os padrões ideais consideram o custo
mais próximo possível da perfeição; já os padrões correntes aceitam as perdas e
ineficiências de produção consideradas normais. De qualquer forma, os padrões devem
sofrer uma revisão periódica de suas bases.
3.2.4 Custo histórico corrigido
Trata-se de corrigir o custo histórico original por algum índice que reflita a
variação do poder aquisitivo médio geral da moeda. Nos países que enfrentam altas
taxas de inflação, aparece como uma alternativa importante por sua objetividade, pelo
baixo custo do processo de correção e pela relevância da informação.
3.2.5 Custo de reposição
Iudícibus e Marion (1999) entendem que este tipo de custo pode ter várias
conceituações, dependendo da data em que se faz a reposição de um ativo por outro
em estado de novo. Alertam que não é o mesmo que custo corrente.
O custo de reposição: (a) leva em consideração a flutuação específica dos preços;
(b) permite que se tenha uma ideia aproximada de quanto seria preciso investir para
montar uma empresa “fisicamente” equivalente; e (c) permite uma separação no lucro
bruto, na demonstração do resultado do exercício (DRE), da parcela que se refere
puramente a fatores relacionados com a variação do preço específico do ativo, daquela
puramente operacional.
3.2.6 Custo de reposição corrigido
Conceitualmente, não há diferença com o anterior. O que ocorre é uma
homogeneização das demonstrações contábeis em termos de poder aquisitivo de uma
mesma data. Por exemplo: o valor de reposição de um ativo em T0 é $ 1.000 e em T1
é $ 1.500, e a taxa de inflação do período é de 40%. Para que seja possível comparar
T0 com T1, deve-se corrigir o valor de T0 por 40%. Assim, tem-se:
Valor de reposição em T1 $ 1.500
Valor de reposição em T0 corrigido $ 1.400
Valorização real $ 100
3.3 Passivos (exigibilidades)
Os passivos representam sacrifícios futuros decorrentes de obrigações presentes
de uma entidade, determinando a transferência de ativos ou serviços para outras
entidades no futuro, em função de transações ou eventos passados.
Exigibilidade significa uma obrigação da empresa no momento da avaliação, que
pode ser legalmente executável em caso de não pagamento. Decorre normalmente de
práticas comerciais usuais. Segundo Hendriksen (apud IUDÍ-CIBUS, 1997, p. 141),
“o reconhecimento de uma exigibilidade depende do reconhecimento do outro lado da
transação – a incorrência de uma despesa, o reconhecimento de uma perda ou do
recebimento por parte da empresa de um ativo específico”.
É importante distinguir obrigação presente e comprometimento futuro. Assim, se
uma empresa decide adquirir ativos no futuro, não há porque surgir uma exigibilidade
no presente. Esta exigibilidade somente surge quando o ativo for entregue. Existem,
todavia, exigibilidades que somente podem ser mensuradas utilizando-se certo grau de
estimativa. É o caso das denominadas provisões.
3.3.1 Exigível oneroso e não oneroso
Exigível oneroso é aquele que está custando mensalmente à empresa, como juros
e encargos bancários decorrentes de empréstimos, financiamentos etc. As obrigações
que não exigem pagamento de encargos financeiros são denominadas de passivo não
oneroso. É o caso de salários, fornecedores, contas a pagar etc.
3.3.2 Exigível fixo e variável
O exigível fixo se caracteriza por não variar em função do volume de vendas da
empresa, como, por exemplo, aluguéis. Já o variável guarda certa relação com o volume
de vendas, como ICMS a recolher, fornecedores etc.
3.3.3 Passivo oculto
Este tipo de passivo configura suposto dever que poderá se transformar em
obrigações de fato. Pode ser decorrente de atos involuntários ou por negligência. De
acordo com Pereira, Giuntini e Boaventura (2003, p. 5), os atos involuntários são
“ações passíveis de ocorrência independente da vontade dos gestores”, e os atos de
negligência podem ocorrer quanto o gestor tem conhecimento de que suas práticas
operacionais e/ou éticas podem vir a ocasionar dano à sociedade ou meio ambiente e,
mesmo assim, prossegue com suas operações. Pereira, Giuntini e Boaventura (2003,
p. 5-6) apresentam exemplos de atos involuntários e de negligência que podem
ocasionar passivos ocultos:
a. Atos involuntários
São atos que decorrem de acidentes normais de operação causados por
ações da natureza ou terceiros ou, ainda, de situações não deliberadas para as
quais a empresa não conta com gerenciamento, ou seja, ocorrem pelo simples
fato da empresa estar operando e, portanto, sujeita a falhas não propositais.
Também pode redundar do fato da empresa desconhecer o mal causado pelo
uso de seu produto ou serviço.
b. Atos de negligência
Nestes casos, podem surgir, por exemplo, os seguintes passivos:
Passivos operacionais: ausência de manutenção de equipamentos;
treinamento inadequado de operadores; ausência de manutenção das
instalações; estocagem inadequada ou produtos com prazos de
validade vencidos; qualidade da informação prestada ao consumidor;
não utilização de métodos que evitem doenças profissionais.
Passivos de consumo: utilização de materiais inadequados; utilização
de componentes nocivos, por ausência de testes; falhas de montagem;
falhas de manipulação; falhas de acondicionamento; publicidade
enganosa; apresentação insuficiente.
Passivos ambientais: ações negligentes que provocam efeitos
climáticos; destruição da camada de ozônio; chuva ácida;
comprometimento da qualidade do ar; danos advindos de metais
pesados; odores resultantes de resíduos orgânicos voláteis; poluição
sonora; vazamentos poluidores.
3.4 Patrimônio líquido
O montante do patrimônio líquido que aparece nas demonstrações contábeis
depende da avaliação e mensuração de ativos e passivos (exigibilidades). Trata-se,
portanto, de um valor residual. As teorias existentes sobre o patrimônio líquido são
(WOLK; TEARNEY, 1997):
3.4.1 Teoria do proprietário
Aplica-se principalmente nas empresas de menor vulto, nas quais há um quotista
absolutamente predominante (teoria do controle predominante). Neste caso, o
patrimônio líquido que resulta da diferença entre ativo e passivo pertence ao
proprietário.
3.4.2 Teoria da entidade
Por esta teoria, o patrimônio dos acionistas ou quotistas, tanto pessoas físicas
como jurídicas, não se confunde com o patrimônio líquido da entidade. Por este
motivo, o lucro líquido apurado no final do exercício não pode ser sumariamente
distribuído aos acionistas, cabendo decisão de assembleia de acionistas. Mesmo assim,
devem ser deduzidas as reservas legais eestatutárias. Por esta teoria, a equação
patrimonial se expressa por: ativo = passivo + patrimônio líquido da entidade.
3.4.3 Teoria dos fundos
De acordo com esta teoria, o ativo resulta da soma das aplicações que foram
efetuadas graças à utilização de recursos obtidos junto a terceiros e de capitais
próprios. Nesse caso, a representação da equação patrimonial é: aplicações = fontes.
A Doar é uma forma de aplicação parcial da teoria dos fundos.
3.4.4 Teoria do comando
De acordo com esta teoria, os administradores podem comandar somente aquela
parcela do patrimônio que pode ser movimentada mediante uma simples orientação da
administração profissional, que não necessite autorização expressa de acionistas ou
conselho de administração.
3.4.5 Manutenção do patrimônio líquido
É desejo de toda administração manter a integridade do poder aquisitivo do
patrimônio líquido da entidade. Na realidade, o que se espera é que o patrimônio
líquido final seja igual ao inicial multiplicado por (1 + p) × (1 + i), onde p é a taxa de
inflação e i é a taxa desejada de retorno.
3.5 Receitas, ganhos, despesas e perdas
3.5.1 Receitas
Segundo Iudícibus e Marion (1999), o estudo do IASB define receita como
“[…] o acréscimo de benefícios econômicos durante o período contábil na
forma de entrada de ativos ou decréscimos de exigibilidades e que redunda
num acréscimo do patrimônio líquido, outro que não o relacionado a ajustes
de capital.”
Uma receita resulta direta (no caso de operacional como vendas) ou indiretamente
(no caso de receitas não operacionais) da atividade da empresa na geração de produtos
ou serviços úteis ao mercado. Significa que não haveria receita operacional se a
empresa não tivesse capacidade de gerar ou produzir, utilizando seus recursos (e
incorrendo em despesas), produtos ou serviços aceitos pelo mercado. Com isso, pode-
se dizer que receita é fluxo de produtos ou serviços durante um determinado período
contábil. O efeito no patrimônio, de acordo com a definição do IASB, é de provocar
aumento de ativo (ou diminuição de passivo), resultando em aumento do patrimônio
líquido.
Como se sabe, o reconhecimento de uma receita não exige necessariamente que o
produto ou serviço tenha sido completamente transferido, embora seja a situação mais
comum. A receita é o resultado da aceitação, pelo mercado, do esforço de produção da
empresa.
3.5.2 Ganhos
Os ganhos são representados por itens denominados de não recorrentes (não
repetitivos) que, no entanto, têm o mesmo efeito sobre o patrimônio líquido, sendo
oriundos da atividade normal da empresa ou não, diferentemente da receita que decorre
da atividade normal. É útil reconhecer-se, na demonstração de resultados, os ganhos
em forma separada, pois este reconhecimento pode ser interessante para decisões
econômicas. Às vezes, os ganhos são apresentados líquidos de suas despesas
relacionadas.
3.5.3 Despesas
Normalmente, conceitua-se despesa como o sacrifício de ativos realizado para
obtenção de receitas. Muitas vezes, esses sacrifícios ocorrem em função de e/ou
diretamente atribuíveis à obtenção de receita específica. Exemplo: despesas de
materiais na execução de serviços de reparos de televisores em empresa que se dedique
a essa atividade. O mesmo pode-se dizer em relação aos salários do pessoal
diretamente relacionado aos serviços de conserto.
Os autores recomendam que, não sendo possível a identificação dos períodos ou
das receitas futuras conectadas a gastos realizados, estes devem ser lançados como
despesa do período.
3.5.4 Perdas
A definição de despesa inclui as perdas. Estas incluem itens que também
impactam o ativo e o patrimônio líquido, da mesma forma como as despesas, podendo
surgir no curso da atividade normal da empresa. Normalmente são imprevisíveis.
As perdas incluem itens como desastres, inundações, fogo etc., ou
desincorporação de ativos imobilizados. As perdas também podem incluir as despesas
não realizadas, como, por exemplo, um acréscimo anormal na taxa de câmbio de uma
moeda estrangeira quando a empresa tem empréstimo naquela moeda.
Para complementação de estudos
Como complementação dos estudos relacionados com este capítulo, recomenda-se a leitura do
artigo O conceito de ativos na contabilidade: um fundamento a ser explorado, de André Moura Cintra
Goulart, publicado na revista Contabilidade & finanças da USP, n. 28, p. 56-65, jan./abr. 2002.
Também pode ser localizado no site: http://www.scielo.br/ pdf/rcf/v13n28/v13n28a04.pdf
http://www.scielo.br/
TERMOS-CHAVE
Conceituação de ativo – O benefício econômico futuro embutido em um ativo é o seu potencial em
contribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou equivalentes de caixa para a entidade.
Avaliação do ativo – Há diversos métodos ou conceitos de mensuração que podem ser adotados na
avaliação de ativos. Esses são normalmente avaliados por algum tipo de valor de custo (valor de
entrada).
Passivos – Representam sacrifícios futuros decorrentes de obrigações presentes de uma entidade,
determinando a transferência de ativos ou serviços para outras entidades, no futuro, em função de
transações ou eventos passados.
Passivos ocultos – Configuram supostos deveres que poderão se transformar em obrigações de fato.
Podem ser decorrentes de atos involuntários ou negligência.
Patrimônio líquido – Trata-se de um valor residual, pois o seu montante depende da avaliação e
mensuração de ativos e passivos (exigibilidades).
Receita – Resulta direta ou indiretamente da atividade da empresa na geração de produtos ou serviços
úteis ao mercado.
Ganho – É representado por itens denominados de não recorrentes, sendo oriundos da atividade
normal da empresa ou não.
Despesa – Sacrifício de ativos realizado para obtenção de receita.
Perda – Surge no curso da atividade normal da empresa e normalmente é imprevisível.
REFERÊNCIAS
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução no 1.374/11 de 08 de dezembro de 2011.
Brasília: CFC, 2011.
HENDRIKSEN, Eldon; VAN BREDA, Michael. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999.
IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da contabilidade. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos. Introdução à teoria da contabilidade. São Paulo:
Atlas, 1999.
LUSTOSA, Paulo Roberto B. Ativo e sua avaliação. In: RIBEIRO FILHO, José Francisco; LOPES,
Jorge; PEDERNEIRAS, Marcleide. Estudando teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2009.
PEREIRA, Anísio C.; GIUNTINI, Norberto; BOAVENTURA, Wilson R. A mensuração dos passivos
ocultos: um desafio para a contabilidade. Anais… X Congresso Brasileiro de Custos. São Paulo:
Fecap, 2003.
WOLK, H. I; TEARNEY, M. G. Accounting theory: a conceptual and institutional approach. 4. th.
Cincinnati, Ohio: South-Western College Publishing, 1997.
CAPÍTULO 4
ATIVO INTANGÍVEL / GOODWILL / CAPITAL
INTELECTUAL
 
Este capítulo trata de um tipo especial de ativo denominado de ativo intangível, que se
caracteriza por não possuir substância física (corpórea). A esse tipo de ativo, quando não
identificado, é atribuída a denominação genérica de goodwill. Diversos desses ativos já
estão sendo identificados, e estão sendo tratados como capital intelectual, composto
pelo capital humano, capital relacional e capital estrutural, tratados em detalhe neste
capítulo.
 
4.1 Ativo intangível
Diariamente, em todo o mundo, organizações são compradas e vendidas por
valores absolutamente distintos (maiores) daqueles existentes nas suas contabilidades.
Empresas com prejuízos acumulados são valorizadas por milhões de dólares.
Rappaport (apud HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999) escreveu que na medida em
que a sociedade é cada vez mais intensiva em informação, o patrimônio contábil está
cada vez mais distante da maneira pela qual o mercado avalia as empresas.
De acordo com a Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, o ativo intangível
compreende direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à
manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de
comércio adquirido.
O Pronunciamento Técnico CPC nº

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