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Kamilla Galiza / 6º P 1 O HPV (papiloma vírus humano) é a etiologia mais comum do câncer de colo de útero. Há mais de 100 subtipos. Os de alto risco são os considerados oncogênicos, sendo os mais importantes: 16, 18, 31, 33 e 35. É altamente prevalente na população. Alguns estudos mostram que quase metade dos jovens adultos será infectada por algum tipo de HPV ao longo da vida. Mas há uma alta chance de clareamento viral pelo nosso sistema imunológico. Os subtipos 6 e 11 são os mais associados ao condiloma acuminado (lesão benigna - "verrugas"). Transmissão A transmissão principal ocorre por via sexual ou por contato de mucosas (oral-genital e genital-genital). Rastreamento para o CA de colo de útero Realizado por meio do exame citopatológico de colo de útero, também conhecido como colpocitologia oncótica ou exame de Papanicolau. Por que fazer o rastreamento? As lesões precursoras pré-malignas são geralmente assintomáticas e o tempo de progressão de uma lesão pré- maligna para o câncer invasivo é de aproximadamente 8 a 10 anos. É nesse intervalo que podemos atuar na prevenção secundária, pois elas são curáveis na quase totalidade dos casos. Quem deve fazer? § Mulheres que já tiveram relação sexual. § Idade - 25 a 64 anos. § Após dois exames anuais consecutivos normais → Trienal § § § § § § § § § § § § § § § § § Após os 64 anos, não deve ser mais realizado (mulheres sem história prévia de doença neoplásica pré-invasiva e com dois exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos). Por que não iniciar antes dos 25 anos? A incidência do câncer até essa idade é muito baixa e o rastreamento é menos eficiente para detectá-lo. Além disso, o início mais precoce aumentaria o diagnóstico de lesões de baixo grau (que apresentam grande probabilidade de regressão espontânea) e resultariam em aumento significativo de colposcopias e na possibilidade de sobre tratamento, acarretando maior risco de morbidade obstétrica (já que o tratamento envolveria ressecção de uma porção do colo uterino) e associada a uma futura gestação. Como colher? Idealmente, devem ser obtidas amostras da ectocérvice (com espátula de Ayre) e endocérvice (com escova endocervical). Adequabilidade da amostra Podem estar presentes células representativas dos epitélios do colo do útero: § Células escamosas. § Células glandulares (não inclui o epitélio endometrial). § Células metaplásicas (da zona de transformação). A zona de transformação (ZT) é a região de maior atividade mitótica no colo, sendo, portanto, o local de maior incidência de lesões neoplásicas. Esfregaços normais somente com células escamosas em mulheres com colo do útero presente devem ser repetidos com intervalo de um ano e, com dois exames normais anuais consecutivos, o intervalo passará a ser de três anos. E em gestantes? O rastreamento em gestantes deve seguir as recomendações de periodicidade e a faixa etária das demais mulheres. Mulheres na pós-menopausa Mulheres na pós-menopausa devem ser rastreadas de acordo com as orientações para as demais mulheres. Pode haver resultados falso-positivos causados pela atrofia Kamilla Galiza / 6º P 2 secundária ao hipoestrogenismo. Se necessário, proceder à estrogenização previamente à realização da coleta. Histerectomizadas Mulheres submetidas à histerectomia total por lesões benignas, sem história prévia de diagnóstico, lesões cervicais de alto grau, podem ser excluídas do rastreamento. Imunossuprimidas HIV, transplante de órgãos sólidos, tratamentos de câncer e usuárias crônicas de corticosteroides. Intervalos semestrais no primeiro ano e, se normais, manter seguimento anual enquanto se mantiver o fator de imunossupressão. Mulheres HIV+ com menos de 200 linfócitos CD4+/mm3 devem ter priorizada a correção dos níveis de CD4+ e, enquanto isso, devem ter o rastreamento citológico a cada seis meses. Vacinação É prevenção primária! Partículas de vírus produzidas em células de levedura por meio de tecnologia DNA recombinante (mais especificamente, antígenos do capsídeo viral), vacina tipo VLP1. Não administrar em gestantes! Por se tratar de vacina relativamente nova, ainda não dispomos de estudos comprovando segurança nesta população. Ministério da saúde Vacina tetravalente - atua contra os HPV tipo 6, 11, 16 e 18. População-alvo: § Meninas de 9 a 14 anos (2 doses: 0 e 6 meses). § Meninos de 11 a 14 anos (2 doses: 0 e 6 meses). § Mulheres HIV+ de 9 a 26 anos (3 doses: 0, 2 e 6 meses). § Oncológicos em QT/RT ou transplantados (3 doses: 0, 2 e 6 meses). Alterações do exame citopatológico do colo de útero A maior parte das lesões regride espontaneamente e a minoria progride para câncer. O local mais comum para a displasia cervical é a zona de transformação (ZT). Com relação a ZT, existem 3 tipos: Colposcopia Exame para avaliar o colo e a ZT de forma magnificada (6 a 40 vezes). Para ser considerada satisfatória, deve-se visualizar a ZT. Indicada para algumas alterações de CCO. Utiliza-se ácido acético 5% (cora células com núcleo com grande quantidade de proteínas - células jovens em sua maioria com bastante carga viral HPV) e lugol (cora células maduras ricas em glicogênio e não cora células jovens que não tiveram tempo de armazenar glicogênio). Quando há alteração após o ácido acético, chamamos de lesão acetorreagente ou acetobranca. Com lugol, dizemos que é iodo-negativa ou Schiller positivo. Com as alterações ("if it is white, take a bite"), a biópsia pode ser realizada. Kamilla Galiza / 6º P 3 Progressão da doença A doença intraepitelial cervical não é um processo contínuo, mas sim um sistema de duas doenças descontínuas: lesões intraepiteliais de baixo grau (LSIL ou LIEBG) e lesões intraepiteliais de alto grau (HSIL Ou LIEAG). A lesão de baixo grau é de menor risco de progressão para carcinoma invasivo, diferentemente das lesões intraepiteliais de alto grau, causadas por tipos de HPV oncogênicos, tendo comportamento de lesão precursora. A neoplasia intraepitelial cervical é caracterizada pela perda da diferenciação e maturação da camada basal do epitélio escamoso ("de baixo para cima"). NIC I: representa a expressão citomorfológica de uma infecção transitória pelo HPV e tem alta probabilidade de regredir → não é considerada lesão precursora do câncer do colo do útero. ASC-US Atenção! ASC-US (atypical squamous cells - undetermined sianificance, provavelmente não neoplásica) representa a atipia citológica mais comum no CCO. Pode ocorrer pela presença de inflamações inespecíficas, como corrimentos genitais, ou mesmo pela atrofia epitelial pós-menopausa. Devemos sempre procurar tratar esses fatores antes da próxima coleta. Recomendações: § ≥ 30 anos → repetir em 6 meses § 25 a 29 anos → repetir em 12 meses § < 25 anos repetir em 3 anos § Imunossuprimidas / HIV → Colposcopia § Gestantes = mulher normal ASC-H ASC-H (atipias de significado indeterminado em células escamosas não podendo se excluir lesão de alto grau) = colposcopia. Não tem que pensar muito! Se não pode afastar alto grau, tem que ir para colposcopia. AGC AGC (atypical glandular cells - atipias de células glandulares) = colposcopia. Como a alteração é glandular, se ≥ 35 anos, deve-se realizar USGTV para avaliar endométrio. LSIL / LIEBG 2ª atipia citológica mais comum no CCO. LSIL representa a manifestação citológica da infecção causada pelo HPV → potencial de regressão frequente. § ≥ 25 anos › repetir em 6 meses. Kamilla Galiza / 6º P 4 § < 25 anos → repetir em 3 anos (ou quando completar 25 anos). HSIL HSIL = colposcopia, inaceitável repetir CCO. Se na colposcopia houver um achado anormal: Ver e tratar (tratamento excisional ambulatorial - exérese da zona de transformação - EZT). §‹ 25 anos → colposcopia com biópsia (sem EZT). § Gestantes - realizar a biópsia e em caso de NIC ⅔ → reavaliar 90 dias pós-parto. Lesão intraepitelial de alto grau não podendo excluir micro invasão ou carcinoma epidermoide invasor Colposcopia. Se houver suspeita de invasão na colposcopia → biópsia. Se não houver suspeita → EZT. Adenocarcinoma in situ e invasor AIS = colposcopia Se ≥ 35 anos, avaliar cavidade endometrial. NIC 2 e NIC 3 Kamilla Galiza / 6º P 5 Essas foram as condutas frente aos principais achados de Papanicolau (Citologia). E se a paciente já chegar com o resultado da Biópsia de Colo Uterino (Histologia)? Os mais comuns de serem abordados são os diagnósticos de NIC 2 e NIC 3 (Neoplasia Intraepitelial Escamosa). Lembre-se de que não são câncer, mas sim lesões pré-neoplásicas. A conduta padrão para as pacientes com NIC2/3 e idade maior que 25 anos é preferencialmente a cirurgia. A Conização pode ser realizada com bisturi de lâmina fria (cone clássico), CAF (cirurgia de alta frequência e até o Laser de CO2. Condiloma acuminado As lesões da infecção pelo HPV são polimórficas, sendo as lesões pontiagudas denominadas condilomas acuminados. São as famosas verrugas genitais. O tamanho pode variar de milímetros, até centímetros. Costumam ser únicas ou múltiplas, achatadas ou papulosas, mas sempre papiloma- tosas. Por essa razão, a superfície apresenta-se fosca, aveludada ou semelhante à da couve-flor. Apresentam-se da cor da pele, eritematosas ou hiperpigmentadas. Em geral, são assintomáticas, mas podem ser pruriginosas, dolorosas, friáveis ou sangrantes. As verrugas anogenitais resultam quase exclusivamente de tipos não oncogênicos de HPV (os mais comuns são o 6 e o 11). No homem, as lesões ocorrem mais frequentemente no folheto interno do prepúcio, no sulco bálano-prepucial ou na glande. Podem acometer ainda, a pele do pênis e/ou do escroto. Na mulher costumam ser observadas na vulva, vagina e/ou cérvice. Em ambos, podem ser encontradas regiões inguinais ou perianais. Diagnóstico O diagnóstico das verrugas anogenitais é tipicamente clínico. Em situações especiais, há indicação de biópsia para estudo histopatológico: § Dúvida diagnóstica, suspeita de neoplasias ou outras doenças; § Lesões atípicas ou que não respondam adequadamente aos tratamentos; § Lesões suspeitas em pessoas com imunodeficiências - incluindo a infecção pelo HIV, cânceres e/ou uso de drogas imunossupressoras -, caso em que esse procedimento deve ser considerado com mais frequência e precocidade. Tratamento Como é uma doença em geral autolimitada, devem ser evitados tratamentos que gerem cicatrizes desfigurantes. Todos os tratamentos exigem cuidado em sua realização, pois podem produzir bolhas, úlceras e cicatrizes. Dividem-se os tratamentos em domiciliares (realizados pelo próprio paciente) e ambulatoriais (realizados pelos profissionais de saúde). Tratamento domiciliar É bastante conveniente por ser autoaplicado, dispensando visitas ao serviço de saúde. São imprescindíveis instruções detalhadas sobre a forma de aplicação e as potenciais complicações. Como autotratamentos já incorporados ao SUS, há o imiquimode e a podofilotoxina. O imiquimode apresenta menos efeitos locais que a podofilotoxina, mas implica maior tempo de tratamento (quatro meses vs. quatro semanas). Não há diferença entre as taxas de abandono. § Imiquimode 50 mg/g creme: é um modulador da resposta imunológica pela indução do interferon alfa e de outras citocinas. O imiquimode não destrói o vírus, mas auxilia na eliminação da verruga. Portanto, novas verrugas podem aparecer durante o tratamento. A exposição da pele à luz solar (inclusive ao bronzeamento artificial) durante o tratamento deve ser evitada, em razão do aumento da sensibilidade cutânea a queimaduras. A inflamação provocada pelo imiquimode é o seu mecanismo de ação terapêutico; portanto, será observada uma irritação e eritema no local do tratamento. É destinado apenas para uso externo, não dever ser usado na uretra, vagina, colo do útero ou na parte interna do ânus. Para as verrugas externas genitais/anais, as aplicações devem ser realizadas em dias alternados (três vezes por semana); por exemplo, às segundas, quartas e sextas, ou às terças, quintas e sábados. O tratamento com imiquimode deve ser mantido até o desaparecimento das verrugas ou por um período máximo de 16 semanas a cada episódio de verrugas. § Podofilotoxina: é a forma purificada da podofilina e possui propriedades antimitóticas. A absorção sistêmica após a aplicação tópica é muito baixa. A aplicação de podofilotoxina deve ser feita duas vezes ao dia, pela manhã e à noite, por três dias consecutivos (dias 1, 2 e 3), seguida por um período de quatro dias sem aplicação (um ciclo de tratamento). Caso haja qualquer verruga remanescente após sete dias de aplicação, outro ciclo de tratamento pode ser feito. Recomenda-se, no máximo, quatro ciclos de tratamento. Tratamento ambulatorial § Ácido tricloroacético (ATA) 80% a 90% em solução: agente cáustico que promove destruição das condilomas pela coagulação química de seu conteúdo proteico. Aplicar uma pequena quantidade com um aplicador de algodão, adequado ao tamanho das lesões. Deve-se evitar o contato com a mucosa normal e permitir que a solução seque - é observado um branqueamento semeIhante à porcelana. A frequência e o número de sessões devem variar conforme a resposta, sendo adequado iniciar com aplicações semanais. E um tratamento que pode ser utilizado durante a gestação. Não deve ser prescrito para uso domiciliar, frente ao potencial dano aos tecidos e suas complicações. § Podofilina 10%-25% (solução): derivada de plantas (Podophylum peltatum ou Podophylum emodi), tem ação antimitótica, podendo trazer dano ao tecido lesado e ao tecido normal. Aplicar a podofilina sobre as verrugas e aguardar a secagem, evitando o contato com o tecido são. A frequência e o número de sessões variam conforme a resposta ao tratamento, sendo adequado iniciar com aplicações semanais. Em cada sessão, limitar o volume utilizado a 0,5 mL e a área tratada a 10 cm2. Além de irritação local, a absorção de Kamilla Galiza / 6º P 6 grande quantidade da substância pode acarretar cardio, neuro e nefrotoxicidade. É contraindicada na gestação. § Eletrocauterização: exige equipamento específico e anestesia local. É apropriada para o caso de lesões exofíticas, pedunculadas e volumosas. Como vantagem, permite a destruição de todas as lesões em uma sessão. Os resultados dependem da experiência do operador; o uso inadequado da técnica pode resultar em cicatrizes desfigurantes e, excepcionalmente, estenose ou fístulas em estruturas tubulares, como uretra, canal anal e vaginal. § Exérese cirúrgica: requer anestesia local. A exérese tangencial (shaving) com tesoura delicada ou lâmina é um excelente método, uma vez que, além da remoção completa das lesões, permite o estudo histopatológico dos fragmentos. É adequada para lesões volumosas, especialmente as pedunculadas. Em geral, não é necessário realizar sutura ou procedimento para hemostasia, sendo suficiente a compressão do local operado. § Crioterapia: o nitrogênio líquido é atualmente a substância mais usada no tratamento ambulatorial das verrugas. Tem seu ponto de ebulição a - 192°C e promove citólise térmica. Pode ser utilizada por meio de sondas, aplicadores de algodão ou, em sua forma mais prática, em spray, mediante equipamento específico. A crioterapia é atóxica, podendo ser utilizada na gestação. É muito apropriada em caso de lesões isoladas e queratinizadas. Geralmente bem tolerada, pode, excepcionalmente, requerer anestesia. A frequência e o número de sessões variam conforme a resposta ao tratamento, sendo adequado iniciar com aplicações semanais. Seguimento Sabendo-se que o tratamento das verrugas anogenitais não leva à erradicaçãoviral, recorrências são frequentes. O paciente e sua(s) parceria(s) sexual(is) devem retornar ao serviço de saúde caso se identifiquem novas lesões. Testes de detecção viral não são indicados em nenhuma situação, por não trazerem qualquer benefício às pessoas acometidas Gestação O HPV não causa infertilidade. Na gestação, as lesões podem apresentar crescimento rápido, atingir grande volume, tornar-se friáveis e sangrantes. O tratamento das gestantes muitas vezes tem pior resultado. A podofilina e o imiquimode não devem ser usados na gestação. O ácido tricloroacético ou o nitrogênio líquido são boas opções. Por vezes, especialmente no caso de lesões volumosas, a eletrocoagulação ou a exérese tangencial (shaving) são as melhores opções. Não há indicação de parto cesáreo pela presença das lesões, ainda que haja a possibilidade de transmissão destas ao recém-nascido. A indicação seria a obstrução do canal de parto ou sangramento (ocorrências excepcionais) O câncer de colo uterino é o câncer ginecológico mais comum entre as mulheres e o câncer ginecológico com mais mortes relacionadas mundialmente, sendo de maior prevalência em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Por se tratar de enfermidade potencialmente rastreável e tratável em mulheres jovens, devemos focar esforços no seu estudo e tratamento. No Brasil, é esperado o diagnóstico de 16710 novos casos, com uma incidência média de 16,35/100 mil mulheres; mas há diferenças regionais importantes, chegando a ser o tumor mais incidente após os tumores de pele não melanoma na Região Norte, o 2° no Nordeste e o 5° no Sudeste, demonstrando como o acesso ao Serviço de Saúde pública e o rastreamento são elementos fundamentais para o diagnóstico precoce, principalmente no momento das lesões pré-invasivas. Histologia e fisiologia do colo uterino O colo uterino tem a forma cilíndrica e apresenta uma parte interna, que constitui o chamado canal cervical ou endocérvice, e uma parte externa, que mantém contato com a vagina e é identificada como ectocérvice. A endocérvice é revestida por uma camada única de células cilíndricas produtoras de muco, chamada de epitélio colunar simples. Kamilla Galiza / 6º P 7 Já a ectocérvice é revestida por um tecido de várias camadas de células planas, chamado de epitélio escamoso e estratificado. Entre esses dois epitélios, encontra-se a Junção Escamocolunar (JEC), que é uma linha que pode estar tanto na ecto como na endocérvice, dependendo da situação hormonal da mulher. Na infância e no período pós- menopausa, geralmente a JEC situa-se dentro do canal cervical. No período da menacme, fase reprodutiva da mulher, geralmente a JEC situa-se na altura do orifício externo ou para fora desse e recebe o nome de ectopia ou eversão, embora essa denominação só possa ser empregada após uma constatação colposcópica. Nessa situação, o epitélio colunar fica em contato com um ambiente vaginal ácido, hostil a essas células. Assim, células subcilíndricas bipotenciais, de reserva, se transformam por meio de metaplasia em células mais adaptadas (escamosas), dando origem a um novo epitélio situado entre os epitélios originais, chamado de terceira mucosa ou zona de transformação. Nessa região pode ocorrer obstrução dos ductos excretores das glândulas endocervicais subjacentes, dando origem a estruturas císticas sem significado patológico, chamadas de cistos de Naboth. História natural A presença do HPV na quase totalidade dos casos de câncer de colo uterino e as altas medidas de associação demonstradas implicam na maior atribuição de causa específica já relatada para um câncer em humanos. Dessa forma, está determinado que a infecção pelo HPV é causa necessária para o desenvolvimento do câncer de colo do útero. A infecção pelo HPV é muito comum. Estima-se que até 80% das mulheres sexualmente ativas irão adquiri-la ao longo de suas vidas. Entretanto, a comparação desse dado com a incidência anual mundial da malignidade indica que o câncer de colo uterino é um desfecho raro, mesmo na presença da infecção pelo HPV. A dedução é que a infecção pelo HPV é um fator necessário, mas não suficiente para o desenvolvimento do câncer do colo do útero. Na maioria das vezes, a infecção cervical pelo HPV é transitória e regride espontaneamente, entre seis meses a dois anos após a exposição. No pequeno número de casos nos quais a infecção persiste e, especialmente, é causada por um tipo viral oncogênico, pode ocorrer o desenvolvimento de lesões precursoras, cuja identificação e tratamento adequado possibilita a prevenção da progressão para o carcinoma cervical invasivo. Além de aspectos relacionados à própria infecção pelo HPV (tipo e carga viral, infecção única ou múltipla), outros fatores ligados à imunidade, à genética e ao comportamento sexual parecem influenciar os mecanismos ainda incertos que determinam a regressão ou a persistência da infecção e a progressão para lesões precursoras ou câncer. A idade também interfere nesse processo, sendo que a maioria das infecções por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, ao passo que acima dessa idade a persistência é mais frequente. O tabagismo aumenta o risco para o desenvolvimento do câncer do colo do útero, proporcionalmente ao número de cigarros fumados por dia e ao início em idade precoce. Vários estudos analisaram a história natural do câncer do colo do útero e suas lesões precursoras, e importantes revisões e metanálises foram realizadas, mas a interpretação dos seus dados deve considerar a possibilidade de viés de seleção e de aferição. Apesar dessas limitações, os estudos sobre história natural indicam que as lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (do inglês Low-grade Squamous Intraepithelial Lesions – LSIL) simplesmente refletem a manifestação citológica da infecção pelo HPV e não representam lesões verdadeiramente precursoras do câncer do colo do útero, regredindo espontaneamente na maior parte dos casos. Em contrapartida, as lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (do inglês High-grade Squamous Intraepithelial Lesions – HSIL) apresentam efetivamente potencial para progressão, tornando sua detecção, o objetivo primordial da prevenção secundária do câncer do colo do útero. As mulheres com câncer identificadas pelo rastreio têm, em média, dez anos de idade a mais que as mulheres com lesões precursoras, indicando que a eventual progressão dessas lesões para câncer ocorre lentamente. Dados do Ministério da Saúde ratificam a evolução natural do câncer de colo uterino e o descrevem como uma afecção iniciada com transformações intraepiteliais progressivas que podem evoluir para uma lesão cancerosa invasora em um prazo de dez a quinze anos. Fatores predisponentes Infecção pelo HPV Consiste no principal fator de risco para o desenvolvimento de atipias na zona de transformação. De modo que a Kamilla Galiza / 6º P 8 presença do HPV é responsável por 99% dos casos de câncer de colo uterino. O HPV consiste em um parasita intracelular, capaz de acelerar a velocidade das mitoses celulares, o que aumenta a chance de desenvolvimento de atipias. Estudos recentes revelaram que o HPV possui proteínas que interagem com os genes supressores de tumor p53 e erb. Os HPV são vírus capazes de infectar a pele ou as mucosas. Existem mais de 150 tipos diferentes de HPV, dos quais 40 podem infectar o trato genital. Destes, 12 são de alto risco e podem provocar câncer (são oncogênicos) e outros podem causar condilomas (verrugas) genitais. O HPV pode ser classificado em tipos de baixo e de alto risco de desenvolver câncer. Como já dito, existem 12 tipos identificados como de alto risco (HPV tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58 e 59) que têm probabilidade maior de persistir e estarem associados a lesões pré-cancerígenas. Os tipos 16 e 18 são responsáveis poraproximadamente 70% de todos os carcinomas cervicais, por serem os mais mitogênicos. Eles também são responsáveis por até 90% dos casos de câncer de ânus, até 60% dos cânceres de vagina e até 50% dos casos de câncer vulvar. § O tipo 16 é o mais prevalente e o mais frequente entre os carcinomas de células escamosas. § O tipo 18 é o responsável por 20% dos tumores e o mais comum entre os adenocarcinomas. § Os HPV de tipo 6 e 11, de baixo risco e encontrados na maioria dos condilomas genitais e papilomas laríngeos, parecem não oferecer nenhum risco de progressão para malignidade. Também são descritos como tipos de baixo risco o 42, 43 e 44. Coitarca ou sexarca precoce É um importante fator de risco. A coitarca precoce (idade menor que 16 anos) deve ser desestimulada nos primeiros dois anos após a menarca. Número de parceiros sexuais Este fator é ainda mais importante que o anterior. Quanto maior o número de parceiros sexuais, maior a chance de um dos parceiros ser portador de um vírus de alto risco e, consequentemente, maior a chance da parceira desenvolver uma lesão de alto grau ou mesmo um câncer invasor. Parceiro sexual Há um risco quatro a cinco vezes maior de câncer de colo em mulheres que tiveram parceiros com câncer de pênis. Além disso, parceiros com início precoce da atividade sexual, com vários episódios prévios de IST, com visitas frequentes a profissionais do sexo e tabagistas aumentam a chance da parceira apresentar câncer cervical. Outras infecções sexualmente transmissíveis (ist) A presença de outras infecções sexualmente transmissíveis, como herpes, gonorreia, sífilis ou clamídia, aumenta o risco de câncer de colo uterino. Uso de anticoncepcional combinado oral (ACO) São necessários estudos adicionais para desvendar qual a real participação destes medicamentos na etiopatogenia do câncer de colo uterino. Provavelmente, a relação com o câncer de colo uterino não se deve só aos efeitos da pílula, mas possivelmente ao comportamento sexual deste grupo de mulheres, que se expõem mais a infecções sexualmente transmissíveis ao não utilizarem preservativos rotineiramente. Alguns autores propuseram que o uso de ACO poderia aumentar a incidência de anormalidades glandulares cervicais. No entanto, essa hipótese não apresentou apoio consistente. Assim, são necessários estudos adicionais para concluir qual a real participação dos ACO no desenvolvimento do câncer de colo uterino. Deficiências vitamínicas No colo do útero, a vitamina A parece ser um importante fator na manutenção da integridade do epitélio escamoso. A carência desta vitamina está associada ao aumento da incidência do câncer de colo, e os níveis séricos de vitaminas A e C tendem a ser progressivamente mais baixos à medida que a doença se torna mais avançada. Em estudos recentes, a deficiência de oligoelementos também foi descrita. Entretanto, são necessários estudos adicionais antes que qualquer recomendação nutricional seja empregada na prevenção do câncer de colo uterino. Tabagismo É um importante fator na gênese do câncer de colo. Está diretamente relacionado com a carga tabágica (tempo de consumo e número de cigarros). O mecanismo de ação está relacionado com o efeito carcinogênico direto da nicotina e cotinina no muco cervical e com a redução da resposta imune a partir da menor atividade das células natural killer e da redução de IgG e IgA. Imunidade Pacientes vivendo com HIV (PVHIV), lúpicas, diabéticas, transplantadas em uso de corticoterapia ou quimioterapia e/ou radioterapia apresentam comprometimento da sua imunidade e estão sob maior risco de desenvolver câncer de colo uterino. Cabe aqui a lembrança de que o carcinoma invasor do colo uterino em PVHIV é considerado neoplasia definidora de caso de aids. Deficiências de ALFA-1-ANTITRIPSINA É rara e é a única alteração genética associada ao câncer de colo uterino. É mais comum na raça negra. Baixo nível socioeconômico Todos os fatores de risco são mais prevalentes em mulheres de nível socioeconômico mais baixo, o que, somado às dificuldades de acesso aos meios de diagnóstico e tratamento precoce, confere a esta população uma alta incidência da doença. Outros fatores São também descritos como fatores de risco para o câncer de colo uterino: § Multiparidade; § Desnutrição; § Má higiene genital; § Agentes químicos; § Exposição à radiação ionizante. Kamilla Galiza / 6º P 9 Manifestações clínicas A infecção pelo HPV apresenta-se, na maioria das vezes, de forma assintomática, com lesões subclínicas (inaparentes) visíveis apenas após aplicação de reagentes, como o ácido acético e a solução de Lugol, e por meio de técnicas de magnificação (colposcopia). As lesões clínicas podem ser únicas ou múltiplas, restritas ou difusas, de tamanho variável, planas ou exofíticas, sendo também conhecidas como condiloma acuminado, verruga genital ou crista de galo. As localizações mais frequentes são a vulva, o períneo, a região perianal, a vagina e o colo do útero. Menos comumente podem estar presentes em áreas extragenitais, como conjuntiva, mucosa nasal, oral e laríngea. Dependendo do tamanho e localização anatômica, as lesões podem ser dolorosas, friáveis e/ou pruriginosas. Lesões precursoras As lesões precursoras do câncer do colo do útero são assintomáticas, podendo ser detectadas por meio da realização periódica do exame citopatológico e confirmadas pela colposcopia e exame histopatológico. Câncer de colo uterino No estágio invasor da doença, os principais sintomas são sangramento vaginal (espontâneo, após o coito ou esforço), leucorreia e dor pélvica, que podem estar associados com queixas urinárias ou intestinais nos casos mais avançados. Ao exame especular, podem ser evidenciados sangramento, tumoração, ulceração e necrose no colo do útero. O toque vaginal pode mostrar alterações na forma, tamanho, consistência e mobilidade do colo do útero e estruturas subjacentes. Prevenção primária A prevenção primária do câncer do colo do útero está relacionada à diminuição do risco de contágio pelo HPV. Uso de preservativo A transmissão da infecção pelo HPV ocorre por via sexual, presumidamente por meio de abrasões microscópicas na mucosa ou na pele da região anogenital. Consequentemente, o uso de preservativos (condom) durante a relação sexual com penetração protege parcialmente do contágio pelo HPV, que também pode ocorrer por intermédio do contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal. Vacinas anti-HPV Atualmente, há duas vacinas aprovadas e comercialmente disponíveis no Brasil: a bivalente e a quadrivalente. Ambas são eficazes contra as lesões precursoras do câncer do colo do útero, principalmente se utilizadas antes do contato com o vírus. Ou seja, os benefícios são significativos antes do início da vida sexual. Prevenção secundária De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as estratégias para a detecção precoce são: rastreamento e diagnóstico precoce. Entende-se por rastreamento, a aplicação de um teste ou exame em uma população assintomática, aparentemente saudável, com objetivo de identificar lesões precursoras ou sugestivas de câncer e encaminhá-las para investigação e tratamento. Já o diagnóstico precoce é definido pela abordagem de indivíduos com sinais e/ou sintomas da doença. Diagnóstico precoce Anamnese O câncer de colo do útero é uma doença de crescimento lento e silencioso. A história clínica coletada de maneira criteriosa e detalhada é fundamental para a identificação de fatores de risco. Eles se relacionam aos processos que levam à formação de atipias celulares no colo do útero, ou seja, eles são verdadeiros fatores de agressão à região. A zona de transformação, definida no quadro sobre conceitos fundamentais, está mais suscetível à ação desses agentes. As lesões intraepiteliais cervicais e o câncerde colo uterino em fases iniciais podem ser totalmente assintomáticos ou podem se manifestar por corrimento vaginal, dor e perda sanguínea anormal. Estas queixas são frequentes na clínica ginecológica. Portanto, não há sintomas específicos. A hemorragia vaginal é o sintoma mais comum em pacientes com câncer cervical. A perda sanguínea normalmente não se associa ao período menstrual e ocorre muitas vezes durante ou após o coito (sinusiorragia). Na pós-menopausa, comumente surge como sangramento uterino anormal (metrorragia). Queixas de corrimento vaginal fétido e dor pélvica, geralmente encontradas em estágios mais avançados do câncer de colo uterino, resultam de processos inflamatórios, associados ou não à infecção secundária do tumor. O câncer de colo pode se propagar diretamente – por continuidade/contiguidade (vagina, corpo uterino, paramétrios, paracolpos, bexiga e reto) – e, indiretamente, por via linfática ou hematogênica. Em casos mais avançados, mais detalhes no tópico “Estadiamento”, a extensão para a parede pélvica pode causar dor ciática ou dor lombar associada à hidronefrose. O envolvimento metastático dos linfonodos ilíacos e para- aórticos pode se estender para as raízes nervosas lombossacras e também provocar dor lombar. A invasão retal ou vesical no estágio avançado da doença pode produzir sintomas retais ou urinários (por ex.: hematúria e hematoquezia). Sinais e sintomas As lesões intraepiteliais cervicais e os tumores em fases iniciais são geralmente assintomáticos. Os tumores em estágios mais avançados normalmente apresentam sintomas inespecíficos, como dor, corrimento vaginal e perdas sanguíneas anormais. Exame físico Na prática médica, esta etapa é obrigatória! O acesso ao colo é fácil ao simples exame especular de rotina. § Inspeção cuidadosa da vulva, vagina e colo: deve ser observado o aspecto, a forma, a presença de lesões ou tumores (pólipos, condilomas, papilomas), a aparência, a cor, a fluidez ou a viscosidade das secreções Kamilla Galiza / 6º P 10 cervicovaginais. É importante lembrar que o espéculo deve ser mobilizado, pois pode ocultar lesões. § Toque vaginal: procurar por espessamentos ou irregularidades nas paredes vaginais, que muitas vezes não são visualizadas no exame especular. Investigar a extensão do tumor para os fórnices vaginais. O tamanho do tumor deve ser estimado pelo toque bimanual, que deve ser gentil para minimizar a dor e o sangramento da lesão. O exame deverá ser bimanual para avaliação do útero e dos anexos. § Toque retal: é o exame clínico mais importante na avaliação da infiltração dos paramétrios. Os objetivos deste exame incluem: avaliação do volume do tumor, avaliação da extensão para os paramétrios e, em caso de acometimento dos paramétrios, avaliação da presença de fixação à parede pélvica. Evolução das lesões do colo: § Lesões tipo couve-flor: crescimento com vegetações para a ectocérvice; § Lesões de aspecto nodular: as lesões tornam-se infiltrativas e endurecidas; § Lesões tipo barrel-shaped (formato de barril): as lesões podem se expandir para endocérvice; § Ulcerações: podem estar acompanhadas de necrose e/ou infecção, com odor desagradável característico; § Associação de áreas vegetantes com áreas ulceradas e/ou áreas infiltrativas. Rastreamento Classificação histológica É importante lembrar que o carcinoma epidermoide é o tipo histológico mais frequente dos tumores epiteliais do colo uterino. Responde por 80% dos casos. O adenocarcinoma apresenta incidência crescente nos últimos anos. Estudos recentes revelam que ele responde por 15% dos tumores de colo uterino, seguido pelo carcinoma adenoescamoso 3 a 5%, e em porcentagem ainda menor pelo carcinoma neuroendócrino ou pequenas células. Estadiamento § Procedimentos de estadiamento; § Estadiamento da FIGO. Procedimentos de estadiamento O estadiamento da FIGO baseava-se principalmente no exame clínico, com a recomendação da adição de certos exames de imagem e procedimentos, incluindo a Ressonância Magnética (RM), em casos mais avançados da doença. No entanto, os exames opcionais, como a própria RM, a tomografia por emissão de pósitrons, entre outros, não eram permitidos pela FIGO para modificar o estadiamento clínico. Contudo, no final de 2018, a revisão do estadiamento pelo Comitê de Oncologia Ginecológica da FIGO, passou a permitir que exames de imagem e de patologia estejam designados a definir estadiamento (Tabela 10), quando disponíveis, lembrando que se deve respeitar o tamanho e a extensão do tumor em todos os estádios. Outro ponto reforçado foi o de que a ressonância magnética é o melhor método de avaliação radiológica dos tumores primários maiores que 10 mm. Estadiamento da FIGO Kamilla Galiza / 6º P 11 Vias de disseminação O câncer de colo pode se propagar diretamente, por continuidade (vagina e corpo uterino) e contiguidade (paramétrios, paracolpos, bexiga e reto), e indiretamente, por via linfática ou hemática. § Extensão direta por contiguidade: inicialmente, envolve a região paracervical e parametrial, propagando-se em direção à parede óssea. Pode causar obstrução ureteral, uropatia obstrutiva e hidronefrose. Em seguida, pode invadir a porção superior da vagina (50% dos casos) e, até mesmo, todo o seu restante. A extensão para a parede pélvica pode causar dor ciática ou dor lombar associada à hidronefrose. A disseminação para a bexiga e para o reto é incomum, mas pode acontecer em fases avançadas da doença, levando a achados como hematúria e hematoquezia. § Disseminação linfática: segue um padrão ordenado e razoavelmente previsível. A propagação se faz inicialmente para o grupo primário (linfonodos paracervicais, parametriais, obturadores, ilíacos internos, externos e sacros) e, posteriormente, para o grupo secundário (ilíacos comuns, para-aórticos e inguinais). O envolvimento metastático dos linfonodos ilíacos e para-aórticos pode se estender para as raízes nervosas lombossacras e também provocar dor lombar. § Disseminação hematogênica: pouco comum e tardia (5% dos casos). Os órgãos mais acometidos são: fígado, pulmões, ossos, cavidade peritoneal, linfonodos supraclaviculares e cérebro. Tratamento Como esse tipo de câncer acomete mulheres jovens e que, em estágios iniciais, elas são candidatas a tratamento cirúrgico. Logo, devemos ter em mente os casos que são passíveis de cirurgia de preservação de fertilidade. Com o novo estadiamento FIGO 2018, estágios I são passíveis de cirurgia, enquanto estágios mais avançados são tratados com radioterapia associada à quimioterapia. Histerectomia radical Nesse tipo de histerectomia, removem-se o colo uterino, o corpo do útero, a parte da vagina proximal e os paramétrios bilateralmente. Essa técnica ainda envolve a dissecção de linfonodos pélvicos. Como os ovários não são fator de risco para o câncer de colo uterino, podem ser preservados (exceto nos casos de adenocarcinoma ou células claras, em que os ovários devem ser removidos devido ao maior risco de metástase). Tratamento sistêmico A base do tratamento é a radioterapia propriamente dita, tanto pélvica externa (teleterapia) quanto braquiterapia. A quimioterapia é baseada em cisplatina concomitante à radioterapia e tem como função somente a potencialização do efeito da radioterapia (ter mais ação com menor dose de radiação). Kamilla Galiza / 6º P 12 As principais complicações são derivadas da ionização da vagina (retite e cistite actínica), fístulas e atrofia vaginal, levando à disfunção sexual. Como visto acima, o tratamento sistêmico com intuito curativo é indicado a partir do estágio IB2/ IB3. Nos casos muito avançados (estágio IVB), a quimioterapia passa a ter papel fundamental para controle da doença a distância (realizada como 1ª linha na maioria dos casos: carboplatina + paclitaxel), e a radioterapiapode ser indicada na pelve para controle de sintomas (intuito de conforto/paliação). Mesmo nos casos em que houve indicação cirúrgica, pode haver a necessidade de realização de terapia adjuvante com radioterapia, a depender da avaliação dos critérios de Sedlis. Estes critérios observam o tamanho do tumor, o grau de profundidade da invasão estromal e a presença de invasão angiolinfática; a depender do escore apresentado, pode ser necessária a realização de braquiterapia (risco intermediário) ou QRT (risco alto). Referências § Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. 2a ed. rev. atual. Rio de Janeiro: INCA; 2016. § Ginecologia de Williams. 2ª. Ed. Porto Alegre: McGraw-Hill Artmed; 2013.
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