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Psicologia social

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PSICOLOGIA SOCIAL I
ASPECTOS ÉTICOS DA INTERVENÇÃO 
SOCIAL
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Olá!
Através desta aula, você irá:
1- Entender a importância da compreensão das diferenças nas pessoas;
2- Reconhecer a função política da Psicologia Social;
3- Compreender a noção de justiça na Psicologia Social.
Nesta aula, abordaremos os diversos desafios da Psicologia Social, relativos à sociedade contemporânea, a qual
se encontra em constante transformação. Veremos como um dos principais desafios nesta área consiste na
necessidade de reinventar novos modos de produção de conhecimento.
Portanto, todo psicólogo social, ao se deparar com uma problemática qualquer de um grupo específico, ou
confrontado pelas injustiças e desigualdades sociais, em uma determinada situação, precisa questionar o
referencial que orienta as suas decisões em função do que é certo e do que é errado.
Será compreendido também o estudo da justiça como fenômeno psicossocial, complexo e multifacetado, que
outorga significado a inúmeras manifestações grupais ou individuais e marca a vida das pessoas em sociedade.
Assim, entenderemos como a chamada Psicologia Social da justiça se preocupa em demonstrar o papel crucial
que os sentimentos, os valores e as crenças têm sobre o que é justo ou injusto nas ações e relações humanas.
Multiplicidade de Psicologia Social
A Psicologia Social deve ser considerada em sua elaboração de conhecimentos como complexa, pois sua
multiplicidade de campos de saber, de abordagens e de práticas é tão grande que, talvez, nunca possamos
esperar uma “identidade” para ela.
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Entendemos que uma ciência de construção plural deste porte, que considere os direitos fundamentais do ser
humano e que seja, ao mesmo tempo, promotor de inclusão social, deve passar, necessariamente, pelo
entendimento das diferenças.
Na Psicologia Social, deve persistir a lógica de concepção de sujeito constituído pela sua pluralidade e
diversidade. Ao pensar nos sujeitos a partir de suas diferenças estamos entrando, inevitavelmente, em questões
políticas marcadas por diversas características como gênero, raça, diversidade sexual, realidades sociais, entre
muitas outras.
Esta questão deve permear inclusive as definições e os pressupostos de saúde, educação, trabalho e demais
necessidades. Todos os direitos básicos que permitem o desenvolvimento da cidadania e da democracia devem
estar fundamentados na compreensão das diferenças e na pluralidade de realidades.
Sujeito e sociedade para a Psicologia
É um desafio, também da Psicologia, articular as questões de paradigmas e da ética em suas implementações
práticas. Afinal de contas, precisamos entender qual é a concepção de sujeito e de sociedade pressuposta nas
bases de toda e qualquer prática psicológica.
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Precisamos sempre de uma compreensão complexa e profunda que, pelo menos, permita indagar questões da
atualidade relativas às práticas psicológicas nos campos da educação, trabalho, saúde, entre outros.
Portanto, todo psicólogo social, ao que se deparar com uma problemática qualquer de um grupo específico, ou
confrontado pelas injustiças e desigualdades sociais em uma determinada situação, precisa questionar o
referencial que orienta as suas decisões em função do que é certo e do que é errado; do que deve ser
transformado ou não; do que é justo e aceitável e do que não é.
Objetivo da Psicologia Social
A sociedade contemporânea se encontra em constante transformação, e este fato coloca diversos desafios para a
Psicologia Social na atualidade. Desta forma, podemos dizer que um dos principais desafios nesta área consiste
na necessidade de reinventar continuamente novos modos de produção de conhecimento.
Entendemos que o objeto da Psicologia Social está representado pelos modos de produção de experiência
subjetiva. Em outras palavras, a forma pela qual um determinado conjunto de práticas sociais gera uma forma
específica de relação do sujeito consigo mesmo e com os outros.
Sendo assim, nosso objeto de estudo se encontra em permanente transformação e precisa de um
questionamento contínuo tanto das estratégias de conhecimento como dos valores que dirigem nossas
intervenções.
Portanto, temos que destacar que a Psicologia Social contemporânea tem na verdade uma função
eminentemente política, colocando em questão o que somos e o que seria este mundo atual no qual vivemos. É
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justamente esta dimensão política da Psicologia Social que nos permite entender a relação existente entre o
conceito de ética e os diversos paradigmas relacionados.
Ética e paradigmas
Vamos entender primeiro a noção de paradigma...
De forma abrangente, podemos dizer que, todo paradigma refere-se a uma determinada estratégia de produção
de conhecimento que é socialmente compartilhada.
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Assim, podemos entender paradigma como uma produção científica que, contendo métodos e valores, passa a
ser identificada como um modelo representando um padrão a ser seguido.
Sendo assim, todo paradigma tem uma dimensão ética implícita, pois representa valores compartilhados por um
grupo. E desta forma, todo paradigma tem uma função política, pois ele representa um determinado processo de
subjetivação.
Segundo Guareschi (2008) são três os paradigmas que fundamentam os valores éticos também implicados na
Psicologia Social. O primeiro é denominado “lei natural”, o segundo denomina-se “lei positiva” e o terceiro “ética
como instância crítica”. A seguir, veremos cada um deles.
Lei natural
Conforme o próprio nome indica o referencial do paradigma da “lei natural” é a natureza, ou seja, esse
referencial pretende dizer que a partir da atenção dada à natureza é possível estruturar uma ética que governe
os povos em todas as épocas.
Este paradigma também retrata uma fonte possível para a ética diferente dos costumes ou instituições de
determinados povos ou nações.
Podemos incluir aqui a visão centrada na ideia de um Criador, em uma ordem imutável estabelecida por Deus.
Ou seja, a natureza como produto de um Deus Criador, representando um ente exterior que fundamenta a ordem
de todas as coisas.
O segundo paradigma, chamado de , é marcado como uma reação ao paradigma da lei natural, ou“lei positiva”
seja, há uma rejeição ideológica e epistemológica do apelo a uma ordem natural como referencial ético. Em
outras palavras, este paradigma se opõe à ideia de que existem leis universais e absolutas.
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O paradigma da “lei positiva” se fundamenta no relativismo cultural refutando as leis ditas naturais, universais e
transculturais. Este paradigma representa uma manifestação ideológica contra a história de abuso dos poderes
religiosos e civis que apelaram pela prevalência de leis naturais usadas para reprimir minorias que se opunham
a determinados regimes.
Portanto, todo psicólogo social, ao se deparar com uma problemática qualquer de um grupo específico, ou
confrontado pelas injustiças e desigualdades sociais em uma determinada situação, precisa questionar o
referencial que orienta as suas decisões em função do que é certo e do que é errado; do que deve ser
transformado ou não; do que é justo e aceitável e do que não é.
Ética como instância crítica
Por último, temos a proposta do Guareschi nomeada "ética como instância crítica". A partir dos dois paradigmas
anteriores, podemos destacar que, com as limitações apresentadas por ambos, em relação à fundamentação ética
das ações e relações, encontramos pistas importantes que nos orientam frente a novas possibilidades.
Segundo Guareschi (2008), a dimensão crítica da ética nos revela que esta não pode ser considerada como algo
pronto ou mesmo acabado. Na verdade, a ética está sempre por se fazer, se reinventando. Ao mesmo tempo, ela
está presente nas relações humanas existentes. Ao se atualizar, a ética padece de suas próprias contradições e
por isso mesmo deve ser questionada e criticada.
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É necessário destacar, que ao falar de Ética, na verdade, não estamos, em momento algum, fazendo referência a
umaMoral. Em outras palavras, ética não se refere a um conjunto de regras que determinam padrões de
comportamento considerados como certo ou errado.
O termo Ética refere-se aqui ao Éthos; como diriam os existencialistas, "uma boa morada", ou seja, uma forma de
habitar o mundo apontando para uma atitude de crítica permanente de nossa história e de nossos valores.
A relação entre ética e paradigmas nos conduz a uma discussão da própria função política da Psicologia Social
contemporânea. Precisamos pensar aqui o que somos e quais são os valores que caracterizam a história da
atualidade. Na verdade, tais valores representam um determinado modo de subjetivação e perpassam os
próprios paradigmas.
Portanto, podemos afirmar que os paradigmas não são neutros, assim como também não podem ser
considerados inofensivos.
A noção de justiça em Psicologia Social
A chamada Psicologia Social da justiça se preocupa em demonstrar o papel crucial que os sentimentos, os valores
e as crenças têm sobre o que é justo ou injusto nas ações e relações humanas.
Como poderíamos relacionar justiça e ética?
Segundo Aristóteles, em podemos afirmar que a justiça é a virtude central da ética, pois elaÉtica a Nicômaco
comanda os atos de todas as virtudes. É possível reconhecer a relação intrínseca entre essas duas concepções.
Figura 1 - Busto de Aristóteles
Significado de justiça
Vejamos o significado de justiça: o termo provem de jus, que no latim quer dizer direito.
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“Alguém é justo quando estabelece relações com outros seres que sejam justos. Em outras palavras,
alguém sozinho não pode ser justo. Alguém sozinho pode ser alto, branco, simpático e etc., pois isso
não implica relação, isto é, não implica em outros. Agora, justo, ele não consegue ser sozinho, pois a
justiça, ou a injustiça, só entra em cena no momento em que alguém se relaciona com outros. Isso
quer dizer que é só à relação que se pode aplicar o adjetivo justo”. (Guareschi et al, 2008 in Biblioteca
Virtual de Ciência Humanística e Paradigmas da Psicologia Social).
Existe justiça quando os direitos das pessoas envolvidas são respeitados. Da mesma forma ocorre com a
concepção de ética.
Ao afirmar que ética é relação ou mesmo que ela só é aplicável às relações, isto quer dizer que ninguém é ético a
partir de si mesmo. Portanto, as pessoas não são éticas como um adjetivo individual, na verdade, a partir deste
pensamento, a ética está nas relações com o outro e não no indivíduo.
Estudos
O estudo da justiça como fenômeno psicossocial, complexo e multifacetado, outorga significado a inúmeras
manifestações grupais ou individuais marcando a vida das pessoas em sociedade.
Os estudos sociopsicológicos vêm revelando que os julgamentos sobre o que é merecido; sobre deveres e
direitos; sobre errado e certo, estão na base dos sentimentos e atitudes das pessoas em suas interações com os
outros.
O psicólogo social lida com a realidade social tal como ela é percebida pelos indivíduos que a integram. Assim
sendo, a justiça não é encarada, ou mesmo avaliada, pelo cientista social como uma entidade abstrata, uma regra
de conduta válida e correta em si mesma; em verdade, interessa saber como as pessoas interpretam as situações
sociais em termos do que é justo e injusto. E assim, conferem-lhes significados cognitivos e afetivos respondendo
de forma socialmente apropriada ou inapropriada.
Justiça distributiva
No desenvolvimento da teoria e da pesquisa sobre justiça é importante destacar a ênfase na justiça das
distribuições de recursos, compreendidos como bens, salários, serviços, promoções, entre outros. Esta é a
chamada justiça distributiva que analisa as situações sociais em dois grandes grupos:
A percepção de justiça
A percepção de justiça pesquisa como as pessoas concebem a justiça e como decidem o que é uma justa
distribuição de recursos, tanto para elas mesmas quanto para os outros ou entre ambos.
Os esforços depositados pelos sujeitos em benefício das relações sociais podem ser concebidos como
investimentos para os quais os indivíduos esperam algo em troca.
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Em outras palavras, as pessoas não participam em relações sociais sem alguma expectativa, considerando que o
tempo e os recursos que foram investidos nessas relações tenham retorno de alguma maneira.
A reação à injustiça
A reação à injustiça estuda como as pessoas se comportam diante de situações em que se reconhecem como
injustamente tratadas por outros.
Assume-se que os indivíduos exigem justiça nas suas relações sociais e essa percepção sobre a justiça é obtida
pela observação do que as outras pessoas obtêm de tais relações.
Desta maneira, quando há igualdade relativa entre resultados e investimentos da troca de ambas as partes é
possível que resulte em satisfação.
Abordagem unidimensional e a teoria da equidade
Dentro da justiça distributiva existem duas abordagens conhecidas como unidimensional e multidimensional.
A primeira é representada pela Teoria da Equidade.
Esta teoria propõe que o justo é o proporcional. Sendo assim, a justiça é feita sempre quando aquele que mais
contribuiu para uma tarefa recebe uma recompensa maior do que aqueles que contribuíram menos.
Primeira formulação
Devemos destacar que a primeira formulação da Teoria da Equidade foi realizada por Homans (1961). Este
autor, em 1974, apresentou o resultado de uma pesquisa na qual demonstra o funcionamento da regra da justiça
distributiva.
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A relevância da contribuição ou investimento e dos resultados é, na verdade, uma questão de percepção.
Unicamente, o próprio sujeito pode realmente dizer quanto de valor foi investido e quanto de benefício foi obtido.
O estudo resultado da pesquisa apontou para dois grupos de funcionários de um mesmo departamento. O
primeiro deles percebia-se como injustamente remunerado ao se comparar ao outro grupo. Muito embora, seu
salário estar compatível com o mercado, e, portanto, justo em termos absolutos, esse grupo passou a reivindicar
um aumento da sua remuneração. Este fato estava associado às características que o outro grupo apresentava.
Ele era menos exigido e precisava de menos experiência embora recebesse o mesmo salário.
Este é um caso de privação relativa, a recompensa de um grupo está em desigualdade com a importância
percebida de seus investimentos e custos, quando o sujeito se compara em relação aos outros.
As expectativas em relação aos resultados esperados dependem do valor que é atribuído às contribuições feitas
pelo sujeito. Talvez, estas percepções estejam até distantes da realidade objetiva.
E importante considerar o que cada indivíduo avalia sobre as contribuições dadas e os resultados alcançados,
sendo que a comparação entre estes dois aspectos, resultados e contribuições, representa um elemento essencial
para entender as reações dos sujeitos.
Podemos afirmar que a equidade existe quando a relação dos resultados e das contribuições é equivalente para
as duas pessoas envolvidas na troca. Um exemplo que ilustra de forma clara esta troca está na relação entre
empregado e empregador.
Os empregados exibem satisfação no difícil trabalho realizado ainda que eles estejam recebendo muito pouco
por isso, quando os seus colegas de trabalho estão nas mesmas condições.
Estudo Adams
Uma outra pesquisadora, Stacy Adams (1965), desenvolveu e formalizou as ideias de Homans, ampliando o
estudo da justiça distributiva ao enfocar as consequências da falta de equidade nos relacionamentos de troca. A
partir dos desenvolvimentos desta autora podemos inferir a influência da teoria da Dissonância Cognitiva de
Festinger estudada em aulas anteriores.
Entre seus desenvolvimentos em relação a esta teoria, para Adams, a percepção de inequidade gera tensão de
forma análoga a como a percepção de equidade gera satisfação. Esta tensão pode funcionar também como força
motivadora para eliminar ou reduzir a injustiça percebida.
Principais postulados da Teoria da Equidade
Os postulados principais de Teoria da Equidade podem serresumidos em quatro pontos principais:
a percepção da falta de equidade cria tensão na pessoa;
a quantidade de tensão é diretamente proporcional à extensão da percepção da não equidade;
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a tensão criada na pessoa irá motivá-lo a reduzir esta falta de equidade;
a força da motivação para reduzir a falta de equidade é diretamente proporcional à percepção dessa falta de
equidade.
Ainda sendo considerada como uma das mais bem desenvolvidas teorias da justiça, a Teoria da Equidade tem
recebido diversas objeções por diferentes estudiosos do conceito e fenômeno da justiça.
As críticas à esta teoria são de diversos tipos, envolvendo os processos gerais nos quais se fundamenta como os
problemas teóricos que são encontrados na sua formulação.
Segundo Aroldo, Assmar e Jablonski (1993):
"A concepção multidimensional de justiça resultou do movimento crítico surgido entre os psicólogos sociais
diante da pressuposição de que a equidade seria o único princípio válido para a solução de problemas de justiça
que permeiam a vida social. Ao longo da década de 1970, foi intensa a reação aos postulados teóricos e aos
resultados empíricos que até então prevaleciam na literatura especializada, sendo bastante significativa a
produção científica que essa abordagem passou a representar como uma via teórica alternativa para o estudo e o
conhecimento das questões de justiça que afetam o comportamento social". (p. 288)
Um grande representante desta abordagem é o pesquisador M. Deutsch. Segundo este autor, o conceito de justiça
está relacionado com a distribuição de condições e bens que influenciam o bem-estar de cada indivíduo.
Podemos incluir aqui aspectos psicológicos, filosóficos sociais e econômicos. Desta forma, o conceito de justiça
está intimamente ligado, não só ao bem-estar individual, mas também, ao próprio funcionamento da sociedade.
A partir dos estudos de Deutsch (1985), sobre a fenomenologia da injustiça, podemos entender melhor as
críticas que este autor faz aos teóricos da equidade.
Segundo Deutsch, a abordagem da justiça tem sido muito psicológica e insuficientemente sociopsicológica. Em
outras palavras, este autor dá foco ao indivíduo ao invés da interação social na qual a justiça emerge. Para
Deutsch, a justiça nasce do conflito a partir do qual ela passa a ser negociada.
No enfoque multidimensional de justiça são ampliadas as possibilidades de se fazer justiça além do emprego do
princípio da equidade. Neste enfoque, partimos da regra de que outras normas de justiça podem construir os
fundamentos para a repartição de bens e condições sociais que vão além da norma de equidade. Tudo isto
depende também da natureza das relações sociais e dos objetivos que os diferentes grupos sociais pretendem
atingir.
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CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• aprendeu sobre a ética e os paradigmas da Psicologia Social;
• entendeu o caráter político das intervenções na Psicologia Social.
• conheceu as diversas teorias de justiças nas relações sociais.
•
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	Olá!
	
	CONCLUSÃO

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