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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Olá, Nesta aula, iremos entender os impactos da Ditadura Militar na educação. O golpe militar de 64 foi um acontecimento que teve início em 31 de março de 1964 e encerrou o governo do presidente João Goulart. Este golpe militar foi completado por um golpe parlamentar pelo Congresso Nacional em 2 de abril do mesmo ano. Com esse acontecimento, iniciou-se a ditadura militar, período que durou 21 anos. No contexto do golpe civil militar de 1964 a educação brasileira passou por grandes modificações. Algumas dessas mudanças ocorreram por causa da pressão social, por meio dos movimentos sociais da década de 1960. Bons estudos! AULA 8 – A DITADURA MILITAR E A EDUCAÇÃO Ao final dessa aula, você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Entender resumidamente o que foi o Golpe Militar de 1964; • Identificar o que ocorreu no governo de Jânio Quadros; • Explicar as posições-chave da elite no Brasil na renúncia do governo Goulart; • Compreender como ocorreu a reestruturação da educação brasileira. 8. O GOLPE MILITAR DE 1964 A década de 1960 começou com desafios políticos, econômicos e sociais que levaram à criação da união civil - militar que derrubou João Goulart e chegou ao poder. É fundamental fazer uma retrospectiva de como começou o golpe de 1964 para compreender o contexto da Ditadura Militar. O governo de Juscelino Kubitschek chegou ao fim e a carreira política de Jânio Quadros começou a deslanchar. Com um estilo extremamente populista, ganhou diversas eleições: “Com seu estilo autoritário, moralista e extremamente personalista ” (TRINDADE, 1993). Para surpresa de todos, Jânio Quadros (Imagem 1) renunciou à presidência em agosto de 1961, após apenas 7 meses no cargo. A renúncia foi em certo sentido um movimento político fracassado porque era um plano para consolidar o poder do presidente, pois ele acreditou que a população se mobilizaria contra seu pedido e o Congresso Nacional também rejeitaria essa decisão. Porém, ao contrário das expectativas de JK, nenhum grupo social ou político tentou convencê-lo a permanecer no poder (VICENTINO, 2002). Imagem 1 – Jânio Quadros Fonte: https://descomplica.com.br/artigo/resumo-historia-janio-quadros-joao-goulart/43b/ Quando houve a renúncia de Jânio, o vice-presidente João Goulart estava em missão diplomática na China. Alguns grupos militares e conservadores, assim como alguns políticos da UDN, se incomodavam com o populismo anterior de João Goulart. Estes tentaram impedir sua posse violando a Constituição, razão pela qual Ranieri Mazzili, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu o cargo. Porém, na realidade, os ministros militares comandavam o país na época (TRINDADE, 1993). Uma rede de rádio conhecida como "Rede da Legalidade ", favorável à posse, foi formada no Rio Grande do Sul sob a direção do cunhado de Jango, Leonel Brizola. Quando os golpistas militares e civis resolveram aceitar uma solução de compromisso rapidamente aprovada pelo Congresso: a instauração da regra parlamentarista, Brizola, com o apoio do III Exército, já preparava uma resistência armada. Para evitar o início de uma guerra civil no país, João Goulart, ainda no exterior, aceitou a emenda constitucional proposta pelo parlamentarismo e voltou ao Brasil em 7 de setembro de 1961, tomando posse em Brasília. O sistema parlamentarista reduziu a autoridade do presidente do país e transferiu a governança para o Conselho de Ministros. Contudo, como o sistema parlamentarista foi imposto por um golpe, ele nunca conseguiu a paz política para governar o país. Os três primeiros ministros, com um ano e meio de mandato, foram: Tancredo Neves, Francisco Brochado da Rocha e Hermes Lima (VICENTINO, 2002). A inflação, que reduzia os salários dos trabalhadores, causava grande instabilidade política e social sem que o governo tomasse medidas efetivas para combatê-la. Os trabalhadores urbanos aderiram ao movimento da reforma agrária como única forma de superar sua marginalização no processo produtivo em decorrência dos problemas urbanos, agravados pelo rádio e pelo crescimento populacional. 8.1 As forças Armadas Em maio de 1962, em plena crise, Jango apresenta uma ideia de um amplo programa de reformas que incluía reformas agrária, tributária, eleitoral e educacional, as chamadas "Reformas de Base". Para implementar as reformas, ele precisaria recuperar o poder perdido com o parlamentarismo batalhando por um referendo marcado para 1964, em que o povo decidiria se o parlamentarismo permaneceria ou não. O plebiscito, esperado adiantado para janeiro de 1963, derrotou o parlamentarismo, demonstrando a confiança dos brasileiros de que a presidência lhes permitiria realizar as desejadas reformas sociais e econômicas (TRINDADE, 1993). As posições-chave da elite no Brasil levaram à renúncia do governo Goulart, os militares reorganizaram a nação depois de todas as revoltas que fizeram deliberadamente para expandir seu poder. As Forças Armadas implementaram um programa de governo denominado “ordem” para promover o desenvolvimento e segurança nacional, por meio do qual foram utilizadas medidas repressivas e coercitivas diretas para manter o novo regime e alcançar os objetivos “oferecidos” ao povo brasileiro (ROSA, 2006). Como resultado desse golpe, parte das forças armadas se rebelou contra o governo Goulart em 31 de março de 1964. O movimento golpista começou em Minas Gerais com a mobilização de soldados liderados pelo general Olímpio Mourão Filho, apoiados pelo governador mineiro Magalhães Pinto, um ferrenho opositor de João Goulart. Conforme aponta Rosa (2006): A administração de João Goulart era considerada nacional-reformista, o que ficava claro em suas propostas distributivas. Entre as medidas de cunho nacionalista tomadas pelo Presidente, estava o estabelecimento de restrições a remessa de lucros das empresas multinacionais brasileiras às suas matrizes no estrangeiro. Resoluções dessa natureza abalaram as corporações político-ideológicas contra o governo. A principal estratégia era denegrir a imagem e aos planos de João Goulart, para que, em um segundo momento, o presidente fosse deposto e essa elite tomasse efetivamente o Estado (ROSA, 2006). Rapidamente, várias unidades militares em São Paulo e no Rio de Janeiro decidiram pelo golpe. Goulart não conseguiu responder ao golpe e em 1º de abril de 1964 foi embora de Brasília partindo para o Rio Grande do Sul e depois, como político exilado, para o Uruguai (COTRIN, 1999). De acordo com Rosa (2006): A deposição do presidente João Goulart significou o fim de um período democrático e o início do mais longo período ditatorial da história brasileira. Em termos econômicos, a ditadura militar adotou um modelo de desenvolvimento dependente, que subordinou o Brasil aos interesses do capital estrangeiro, decretando, assim, a derrota do projeto nacionalista desenvolvimentista. Foi em 31 de março de 1964; tropas militares de Minas Gerais e São Paulo saíram ás ruas do país e tomaram o controle do Estado em nome de um entendimento de democracia, liberdade, segurança e desenvolvimento nacional. O movimento marcou o (re) início de um regime ditatorial no país, que então, duraria vinte e um anos, e se caracterizaria, entre outras coisas, por um revezamento dos militares no poder central da sociedade brasileira; portanto, um poder hegemônico de classe, que acabou registrado e conhecido historicamente como uma Ditadura Militar (ROSA, 2006, p.33). Vicentino (2002) aponta que, logo após o golpe de 1964, o Congresso elegeu o Marechal Humberto Castello Branco como Presidente da República sob pressão dos militares. Em decorrência do significativo apoio dos Estados Unidos e de empresas multinacionais, o governo de Castelo Branco passou a tomar posições que privilegiavam os interessesdo capital internacional, principalmente dos Estados Unidos. A partir desse cenário a anulação de direitos sociais coletivos e individuais levou a inúmeras prisões arbitrárias, desaparecimento de pessoas, torturas e assassinatos, atitudes que fizeram parte do cotidiano da sociedade brasileira. Diversas manifestações artísticas, culturais e outras foram proibidas durante a ditadura, assim como qualquer tipo de protesto contra o governo. Ou seja, a censura foi um dos suportes mais fortes desse período. No que diz respeito ao setor educacional, o Ato Institucional nº 1 (AI-I) fortaleceu as leis e as tornou mais rígidas desde o início (GHIRALDELLI, 2000). Por meio de pressão, a justiça militar julgou civis por supostos delitos políticos usando veredictos arbitrários para que o presidente agisse da maneira que fosse melhor para a segurança e o desenvolvimento do país. Naturalmente, muitos desses métodos de punição não estavam na Constituição. A fim de facilitar a atuação dos militares, gradualmente foram introduzidos os chamados Atos Institucionais (ROSA, 2006). 8.2 A educação pós-64 Como resultado do estabelecimento de um estado autoritário a partir de 1964, houve algumas mudanças no setor educacional. Um sistema de educação técnica foi estabelecido para atender às necessidades trazidas pela crescente industrialização, resultado da influência do dinheiro estrangeiro. De acordo com Veiga (1989): O modelo político econômico tinha como característica fundamental um projeto desenvolvimentista que busca acelerar o crescimento sócio- econômico do país. A educação desempenhava importante papel na preparação adequada de recursos humanos necessários à incrementação do crescimento econômico e tecnológico da sociedade de acordo com a concepção economicista de educação (VEIGA, 1989, p.34). Os presidentes militares Humberto Alencar Castello Branco e Arthur da Costa e Silva estabeleceram parceria com os americanos entre os anos de 1964 e 1968 por meio do MEC e realizaram doze acordos com a USAID (United States International for Development), eles garantiram que essa parceria fosse tão importante que influenciou reformas e leis no setor educacional brasileiro. Os acordos entre o MEC e a USAID previam a melhoria do ensino primário, a assistência técnica dos americanos para melhorar o ensino médio, e modernizar a administração e universidades, entre outros setores contemplados pelas ideologias delineadas nos acordos (ROSA,2006). Conforme Romanelli (1978), os acordos entre o MEC e a USAID foram justificados pelo agravamento prolongado da crise no sistema educacional. Os chamados "acordos MEC/USAID" foram ajustado com a AID (Agency for International Development), que daria suporte técnico e financeiro ao sistema educacional brasileiro. Estes acordos provocaram alterações no sistema educacional caracterizado pela influência norte-americana, que apoiou a reforma do ensino superior e depois dos 1º e 2º graus (VEIGA, 1989). Os doze contratos do MEC/USAID foram assinados entre 1964 e 1968, alguns vigoraram até 1971. Assim, a política educacional do Brasil estava ameaçada porque tudo estava de acordo com a decisão dos técnicos americanos (GHIRALDELLI, 2000). O novo modelo educacional desenvolveu um sistema educacional autoritário e domesticador (RIBEIRO, 2000). Segundo Aranha (1996), a política dos Estados Unidos no Brasil se baseia em três pilares ideológicos: educação e desenvolvimento; educação e segurança; educação e comunidade. O objetivo da imparcialidade científica é inspirado nos princípios da racionalidade, eficiência e produtividade. Por meio deles, a divisão do trabalho nas escolas foi colocada com base apenas na produtividade, e a distância entre planejadores e implementadores foi enfatizada. Conforme Pellanda (1986), o objetivo principal foi extrapolado através do desenvolvimento da relação aluno - professor e do engessamento do discurso crítico como método para " limitar " as ciências humanas. Uma perspectiva restrita, limitada e reduzida, segundo a qual a ciência (exata) é o único conhecimento válido, decorre de um suposto foco do sistema educacional no avanço da ciência e da tecnologia. A educação pública tem de ser, pois, reestruturada para contribuir também, como lhe compete para o progresso científico e técnico, para o trabalho produtivo e o desenvolvimento econômico. A reivindicação universal da melhoria das condições de vida, com todas as suas implicações econômicas, sociais e políticas, pode permanecer insensível ou mais ou menos indiferente à educação de todos os graus se nesse ou naquele setor, como no ensino de grau médio e, especialmente, o técnico, a precária situação em que ainda se encontra a educação, está ligada ao estágio de desenvolvimento econômico e industrial, ou por outras palavras, se deste dependem os seus pregressos, é legítimo indagar em que sentido a medida a educação , em geral, e, em particular, a preparação científica e técnica pode ou deve concorrer para a concepção econômica do país. Os povos têm demonstrado que “o seu poder e sua riqueza dependem cada vez mais de sua preparação para alcança- los[...] (GHIRALDELLI, 2000, p.155). O ensino técnico era baseado no racionalismo e visava a eficiência e a organização. O professor era considerado um técnico que era orientado por outros técnicos por meio de instruções. A operacionalização dos objetivos almejados também deve ser planejada e organizada racialmente para que o trabalho educativo se adapte à concepção taylorista, típica da mentalidade tecnocrata empreendedora. Em relação às reformas técnicas, procurou - se implementar um sistema empresarial de inspiração capitalista no setor educacional para atender às demandas de uma sociedade industrializada e tecnológica (PELLANDA, 1986). A desconexão entre teoria e prática é cada vez mais forte na Didática Tecnicista. A educação serve apenas como uma ferramenta e realiza objetivos instrucionais (GHIRALDELLI, 2000). 8.3 Reformas na educação Segundo Aranha (1996), a reestruturação da educação brasileira não ocorreu a mando do país, mas sim como resultado de decisões tomadas pela Agência Norte- Americana para o Desenvolvimento Internacional com os militares e tecnocratas brasileiros. Em síntese, pode-se dizer que os acordos MEC-USAID surgiram em decorrência da crise do sistema educacional dos anos 1960, sendo então um fator a mais na formação direta e efetiva da mão-de-obra para a indústria em crescimento. Com a necessidade de apoio financeiro e técnico a ditadura se apoiou na U.S.A.I.D (United States Agency for International Development). Sutilmente, os acordos visavam apenas algumas áreas da educação e impunham à sociedade um pacote completo de instrumentos ideologicamente doutrinários. Entre junho de 1964 e janeiro de 1968 foram firmados doze acordos MEC- USAID, o que compreendeu a política educacional do país as determinações dos técnicos americanos. A ótica dos acordos MEC-USAID era a mesma vociferada em torno “científico” pelo ministro do Planejamento do governo Castelo Branco, em 1968, no fórum do IPES. O ministro Roberto Campos, em palestra sobre “Educação e Desenvolvimento Econômico”, procurou demonstrar a necessidade de atrelar a escola ao mercado de trabalho. Sugeriu, então, um vestibular mais rigoroso para aquela área de 3º grau não atendentes às demandas do mercado. Para ele, toda a agitação estudantil daqueles anos era devida a um ensino desvinculado do mercado de trabalho, um ensino baseado em generalidades e, segundo suas próprias palavras, um ensino que, “não exigindo praticamente trabalhos de laboratório” deixava “vácuos de lazer”, que estariam sendo preenchidos com “aventuras políticas” (GHIRALDELLI, 2000, p. 169). No Brasil, a educação era voltada para a formação profissional rápida e especializada, de olho no mercado em expansão. Dessa forma, o aluno torna- se o principal alvo do governo para atender às necessidades relacionadas às perspectivas da economia brasileira (GHIRALDELLI, 2000). Se olharmos atentamente para a ideologia da “educação e segurança”, que é considerada polida e patriota; veremos que ela serviu de trampolim para outras ideologias estatais sem que o a sociedade brasileira notasse (PELLANDA, 1986). Havia uma necessidade urgente de formar professores para que pudessem formar mais trabalhadores para a crescente industrialização do Brasil. Os “Cursos de Licenciaturas Curtas” e a atualização de egressos do ensino médio (segundo grau) com um ano adicional de especialização para cumprir o papel de formadores de mão- de-obra nas chamadas escolas polivalentes foram criados como uma solução imediata para satisfazer essas carências (VEIGA,1989). De acordo com Rosa (2006): Essa compreensão revela uma tendência muito forte no ensino durante a Ditadura Militar no Brasil, que foi, fundamentalmente, a ênfase em uma educação de caráter técnico-funcional, ou seja, preocupada estritamente com aspectos específicos e práticos, no jogo do capitalismo internacional, associando a toda uma política econômica em curso (ROSA, 2006, p.50). A maioria das escolas públicas do período pós-64 serviu como centro de formação profissional para os filhos da classe trabalhadora e visavam treiná-las para serem um instrumento econômico do estado. Tornam-se, assim, instituições de ensino de segunda categoria, que deveriam oferecer "educação tecnicista" - tarefa que não requer conhecimentos, mas habilidades práticas e manuais (PELLANDA, 1986). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANHA, M. História da Educação. Moderna, São Paulo, 1996. TRINDADE, V. História: Assim caminha a humanidade. Belo Horizonte, Brasil,1993. VICENTINO, C. Viver a História: ensino fundamental. São Paulo: Scipione, 2002. ROSA, J. As vozes de um mesmo tempo: a educação física institucionalizada no período da Ditadura Militar em Cacequi. Dissertação de Mestrado em Educação/UFSM. Santa Maria: UFSM, 2006. GHIRALDELLI, P. História da Educação. São Paulo: Cortes, 2000. VEIGA, I. Repensando a Didática. Campinas: Papirus,1989. RIBEIRO, M. História da Educação Brasileira: A Organização Escolar. Campinas: Autores Associados, 2000. PELLANDA, N. Ideologia e educação & Repressão no Brasil Pós 64. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.