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1/11 Pares Cranianos Semiologia Pares Cranianos - Semiologia Gabriela Gusmão FAMINAS - MG 2/11 Pares Cranianos Semiologia INTRODUÇÃO Os 12 nervos cranianos (NC) têm origem aparente anterior no tronco encefálico ou se dirigem para ele, com exceção dos dois primeiros, que não têm características morfológicas de nervo, e sim de tecido cerebral, pois representam tratos nervosos exteriorizados do córtex cerebral. O núcleo acessório do XI NC se origina na medula cervical, constituindo outra exceção a essa “regra” dos NC nasceram no tronco cerebral. Os nervos cranianos são mais bem examinados em ordem numérica, exceto pelo agrupamento dos NC III, IV e VI em virtude de suas semelhanças funcionais. NERVO OLFATÓRIO (NC I) As impressões olfatórias são recolhidas pelos receptores da mucosa nasal e conduzidas aos centros corticais da olfação, situados nos hipocampos, após atravessarem os dois lobos frontais. O teste geralmente é omitido, a menos que haja suspeita de doença do lobo frontal inferior (ex., meningioma). No exame da olfação, empregam-se substâncias com odores conhecidos: café, canela, cravo, tabaco, álcool etc. De olhos fechados, o paciente deve reconhecer o aroma que o examinador colocar diante de cada narina. Quando realizar o teste do nervo olfatório, lembrar que cada narina é testada em separado, isto é, ocluímos uma narina e colocamos o cheiro na outra. É necessário afastar as condições que impeçam o reconhecimento do odor como resfriado comum ou atrofia de mucosa. A anosmia unilateral não é decorrente de lesão neurológica, uma vez que existem ligações na comissura branca anterior e das ligações comissurais do hipocampo. OBS: anosmia significa abolição completa do olfato, enquanto hiposmia é sua redução parcial. Hiperosmia é agudização do sentido da olfação. A anosmia ou Parosmia podem ocorrer por rinites agudas, interrupções ou compressões das vias olfatórias secundárias a uma fratura de base de crânio, tumor (meningioma da goteira olfatória ou de glioma frontal), hidrocefalia, meningite, sífilis meningovascular, tabes dorsalis (atrofia dos nervos olfatórios) Existem ainda alterações da olfação por lesões corticais que compreendem os seguintes tipos: 3/11 Pares Cranianos Semiologia • Parosmia: perversão do olfato; • Alucinações olfatórias; • Cacosmia: sensação olfatória desagradável na ausência de qualquer substância capaz de originar odor. Essas manifestações, às vezes referidas durante a anamnese, precisam ser levadas em consideração, pois podem representar verdadeiras crises epilépticas, por lesão do úncus hipocampal (crises uncinadas). NERVO ÓPTICO (NC II) As imagens são recolhidas na retina por meio dos cones e bastonetes, e conduzidas ao centro da visão no lobo occipital, pelos axônios que constituem o nervo, o quiasma e o trato óptico, o corpo geniculado lateral e as radiações ópticas. O nervo óptico é examinado da seguinte maneira: • Acuidade visual Pede-se ao paciente que diga o que vê na sala de exame (na parede, na mesa) ou leia alguma coisa. Pode ser realizado, grosso modo, pedindo para o paciente ler letras de jornais ou revistas. Quando a deficiência visual for importante, pode-se pedir para o paciente dizer a que distância consegue ver os dedos da mão do examinador. Examina-se cada olho em separado. A diminuição da acuidade visual é chamada de ambliopia; quando abolida, constitui-se em amaurose. Ambas podem ser uni ou bilaterais e costumam ser causadas por neurite retrobulbar, neoplasias e hipertensão intracraniana. • Campo visual Sentado, o paciente fixa um ponto na face do examinador, postado à sua frente. O examinador desloca um objeto nos sentidos horizontal e vertical, e o paciente dirá até que ponto está "percebendo" o objeto nas várias posições. Cada olho é examinado separadamente. A isso se denomina avaliação do campo visual ou campimetria. As alterações campimétricas causadas por neoplasias, infecções e desmielinização são anotadas em relação ao campo visual, e não à retina. • Fundoscopia Com o oftalmoscópio, o fundo de olho toma-se perfeitamente visível. Podem ser reconhecidos o tecido nervoso (retina e papila óptica) e os vasos (artérias, veias e capilares), que 4/11 Pares Cranianos Semiologia evidenciam fielmente o que se passa com as estruturas análogas na cavidade craniana. Entre as alterações que podem ser encontradas, destacam-se: a palidez da papila, a qual significa atrofia do nervo óptico; a estase bilateral da papila, que traduz hipertensão intracraniana, e as modificações das arteríolas, que aparecem na hipertensão arterial. NERVOS OCULOMOTOR (NC III), TROCLEAR (NC IV) E ABDUCENTE (NC VI) Esses três nervos são examinados em conjunto, pois inervam os vários músculos que têm por função a motilidade dos globos oculares. O III nervo inerva também a musculatura elevadora da pálpebra superior. A investigação semiológica desses nervos pode ser sistematizada da seguinte maneira: • Motilidade extrínseca A posição do globo ocular é dada pelo funcionamento harmônico dos vários músculos. Caso haja predomínio de um deles (por paresia ou paralisia de seu antagonista), ocorre o que se chama estrabismo (desvio do olho de seu eixo normal), que pode ser horizontal (convergente ou divergente) ou vertical (superior ou inferior). Na presença de estrabismo, pelo menos na fase inicial, o paciente reclama de visão dupla ou diplopia. O exame é feito em cada olho separadamente e, depois, simultaneamente, da seguinte maneira: estando o paciente com a cabeça imóvel, o examinador solicita a ele que desloque os olhos nos sentidos horizontal e vertical. No exame simultâneo, acrescenta-se a prova da convergência ocular, que é feita aproximando gradativamente um objeto dos olhos do paciente. As causas mais frequentes de lesões dos nervos oculomotores são traumatismos, diabetes melito, aneurisma intracraniano, hipertensão intracraniana e neoplasias da região selar. • Motilidade intrínseca O exame da pupila é feito em seguida ao estudo da motilidade extrínseca dos globos oculares. A íris é formada por fibras musculares lisas e apresenta uma camada externa, radiada, inervada pelo simpático cervical, e uma camada interna, circular, que recebe a inervação parassimpática através do III nervo, que constitui a sua via eferente. A via aferente corresponde às fibras pupilomotoras, as quais têm origem na retina e transitam pelo nervo óptico. A pupila é normalmente circular, bem centrada e tem um diâmetro de 2 a 4 mm. A irregularidade do contorno pupilar é chamada discoria; quando o diâmetro se acha aumentado, fala- 5/11 Pares Cranianos Semiologia se em midríase; o contrário, miose; a igualdade de diâmetros denomina-se isocoria; e a desigualdade, anisocoria. Dinamicamente, a pupila é examinada por meio de um feixe luminoso (lanterna de bolso) e pela convergência ocular. O examinador incide o feixe de luz em uma pupila e observa a resposta nos dois lados. Chama-se reflexo fotomotor direto a contração da pupila na qual se fez o estímulo, e de reflexo fotomotor consensual a contração da pupila oposta. Em seguida, aproxima-se dos olhos um objeto, e as pupilas se contrairão normalmente - é o reflexo da acomodação. Os reflexos podem estar normais, diminuídos ou abolidos. Na lesão unilateral do oculomotor a pupila entra em midríase homolateral (predomínio do simpático) e não responde a estímulo algum - é chamada midríase paralítica. A pupila oposta permanece normal. Na lesão bilateral da via aferente os reflexos fotomotor direto ou consensual estão abolidos, enquanto o reflexo de acomodação está preservado. NERVO TRIGÊMEO O trigêmeo é um nervo misto, constituído de várias raízes: Raiz motora: representada pelo nervo mastigador, que inerva os músculos destinados à mastigação (temporal, masseter e pterigoideos lateral e medial). Avalia-sea lesão unilateral da raiz motora pela observação dos seguintes elementos: 1) atrofia das regiões temporais e masseterinas e, até mesmo, fasciculações podem ser visíveis ou palpáveis; 2) a abertura da boca promove desvio da mandíbula para o lado da lesão; 3) ao trincar os dentes, é possível notar, pela palpação, a menor tonicidade dos músculos masseter e temporal do lado acometido. O próprio paciente refere que para mastigar usa mais um lado da boca do que outro, em função da fraqueza muscular do lado afetado. Outra forma de avaliar é pedir ao paciente para morder um abaixador de língua e, após isso, retirá-lo: se nota que é muito mais fácil retirar o abaixador de língua do lado paralisado em relação ao lado normal; 4) há dificuldade do movimento de lateralização da mandíbula. 6/11 Pares Cranianos Semiologia Raízes sensoriais: compreendem os nervos oftálmico, maxilar e mandibular (Figura 1). Fig. 1. Distribuição cutânea dos ramos sensitivos do nervo trigêmeo. Ramos: (I) oftálmico; (lI) maxilar; (III) mandibular. O ângulo da mandíbula é inervado pela segunda raiz cervical (C2). Fonte: google imagens. As raízes sensoriais responsabilizam-se pela sensibilidade geral da metade anterior do segmento cefálico. O exame dessas raízes é semelhante ao da sensibilidade superficial. Para a sensibilidade tátil, utiliza-se o pedaço de algodão ou o pequeno pincel macio, os quais são roçados de leve em várias partes do corpo. A sensibilidade térmica requer dois tubos de ensaio, um com água gelada e outro com água quente, com que se tocam pontos diversos do corpo, alternando-se os tubos. A sensibilidade dolorosa é pesquisada com o estilete rombo, capaz de provocar dor sem ferir o paciente. A diminuição da sensibilidade tátil recebe o nome de hipoestesia; sua abolição, anestesia; e seu aumento, hiperestesia. Tais alterações estão na dependência da lesão das vias das várias modalidades sensoriais. Acrescenta-se também a pesquisa da sensibilidade corneana, feita com uma mecha de algodão que toca suavemente entre a esclerótica e a córnea. O paciente deve estar com os olhos virados para o lado oposto, a fim de perceber o menos possível a prova. A resposta normal é a contração do orbicular das pálpebras, daí a denominação de reflexo córneo-palpebral. As alterações do trigêmeo podem ser consequência de herpes-zóster, traumatismo e neoplasias. Comprometida a raiz sensorial, o paciente vai referir dor, limitada à área correspondente à sua distribuição. Em tais casos, usa-se a designação de neuralgia do trigêmeo ou de trigeminalgia. Cumpre diferenciar a trigeminalgia secundária da essencial ou idiopática. 7/11 Pares Cranianos Semiologia NERVO FACIAL (NC VII) Do ponto de vista semiológico, interessa a parte motora do nervo facial. Inerva todos a musculatura da mímica, com exceção do músculo elevador da pálpebra superior (inervado pelo III NC). Inerva, também, os músculos digástricos (ventro-posterior) e estilo-hióideo. OBS: O nervo facial é responsável pela sensibilidade gustativa de dois terços anteriores da língua. É ainda responsável pela sensibilidade proprioceptiva dos músculos da mímica e pela sensibilidade tátil, térmica e dolorosa da parte do pavilhão auditivo, conduto auditivo externo e tímpano. Cumpre ainda funções vegetativas, de natureza secretório, atuando nas glândulas lacrimais e salivares (submandibular e sublingual). Para fazer o exame do nervo facial, solicita-se ao paciente enrugar a testa, franzir os supercílios, fechar as pálpebras, mostrar os dentes, abrir a boca, assobiar, inflar a boca e contrair o platisma. Na paralisia unilateral, observam-se lagoftalmia (o olho permanece sempre aberto); ausência do ato de piscar; epífora (lacrimejamento); desvio da boca para o lado normal, e incapacidade para contrair o platisma, assobiar e manter a boca inflada. A paralisia da face se chama prosopoplegia e, quando bilateral, fala-se em diplegia facial. Admite-se, atualmente, que essas paralisias sejam provocadas por infecções virais, acompanhadas de reação edematosa do nervo. Outras causas incluem o diabetes melito, as neoplasias, a otite média, os traumatismos, o herpes-zóster e a hanseníase. NERVO VESTIBULOCOCLEAR (NC VIII) É constituído por duas raízes: a coclear, incumbida da audição, e a vestibular, responsável pelo equilíbrio. A raiz coclear é avaliada pelos seguintes dados e manobras: • Diminuição gradativa da intensidade da voz natural • Voz alta ou cochichada, uso de relógios, diapasões. • Atrito suave das polpas digitais próximo ao ouvido • Prova de Rinne: consiste em aplicar o diapasão na região mastoide. Quando o paciente deixar de ouvir a vibração, coloca-se o aparelho próximo ao conduto auditivo. Em condições normais, o paciente acusa a percepção do som (Rinne positivo). Transmissão óssea mais prolongada que a aérea (Rinne negativo) significa deficiência auditiva de condução. 8/11 Pares Cranianos Semiologia As alterações auditivas são representadas por sintomas deficitários (hipoacusia) ou de estimulação (zumbido, hiperacusia e alucinações). Afastadas as causas de diminuição ou a abolição da acuidade por transmissão aérea (tamponamento por cerume, otosclerose), as causas mais comuns de lesão da raiz coclear são a rubéola, o neurinoma, a fratura do rochedo, a intoxicação medicamentosa e a síndrome de Méniere. Já os sintomas irritativos (zumbidos) podem estar ou não associados a déficit de audição, ou depender de focos corticais (alucinações), ou, ainda, acompanhar a paralisia facial periférica (hiperacusia). O acometimento da raiz vestibular é reconhecível pela anamnese, quando as queixas do paciente incluem estado vertiginoso, náuseas, vômitos e desequilíbrio. A investigação da raiz vestibular compreende a pesquisa de nistagmo, desvio lateral durante a marcha, desvio postural e sinal de Romberg. As causas de lesões da raiz vestibular são as mesmas que comprometem a coclear. Em algumas situações clínicas, ambos os ramos são comprometidos simultaneamente, como no caso da clássica síndrome de Méniere, a qual consiste em crises de zumbidos, vertigens, desequilíbrio, náuseas e vômitos, além de gradativa hipoacusia que se agrava a cada novo episódio. NERVO GLOSSOFARÍNGEO (NC IX) E NERVO VAGO (NC X) Pelas estreitas ligações quanto à origem, ao trajeto e à distribuição, esses nervos são examinados em conjunto. Algumas funções estão imbricadas entre si; outras, porém, correspondem a um ou a outro nervo especificamente. A lesão unilateral do glossofaríngeo pode exteriorizar-se por distúrbios da gustação do terço posterior da língua (hipogeusia e ageusia); no entanto, esse exame não é habitualmente realizado. Na lesão unilateral do IX e do X nervos, observam-se: desvio do véu palatino para o lado normal, quando o paciente fala as vogais a ou e; desvio da parede posterior da faringe para o lado normal (sinal da cortina);o comprometimento motor de ambos os nervos, pode levar a diminuição ou abolição do reflexo velopalatino. Nas lesões bilaterais (esclerose lateral amiotrófica, neuropatia diftérica), o paciente costuma evoluir com disfagia importante, especialmente para líquidos, sendo frequente regurgitação nasal. 9/11 Pares Cranianos Semiologia A lesão isolada do X nervo, a qual envolve apenas o ramo laríngeo, determina considerável disfonia. A porção autonômica (nervo vago) não é examinada rotineiramente. As causas mais frequentes de lesão dos nervos IX e X, ou de seus ramos, são: neuropatia diftérica, neoplasia do mediastino, esclerose lateral amiotrófica e traumatismo. NERVO ACESSÓRIO (NC XI) Essencialmente motor, interessa aqui o exame do ramo externo, de origem medular cervical, de trajeto ascendente, que penetra na cavidade craniana pelo forame occipital e dela sai pelo forame jugular, juntamente com os nervos IX e X. OBS: o nervoacessório também inerva a diversos músculos da laringe junto com o nervo vago. Inerva os músculos esternocleidomastoideo e a porção superior do trapézio. A lesão do acessório por traumatismo, esclerose lateral amiotrófica ou siringomielia tem como consequência atrofia desses músculos, deficiência na elevação do ombro (trapézio) e na rotação da cabeça para o lado oposto (esternocleidomastóideo) do músculo comprometido. NERVO HIPOGLOSSO (NC XII) Trata-se de um nervo exclusivamente motor, o qual se origina no bulbo e se dirige para os músculos da língua. Investiga-se o hipoglosso pela inspeção da língua - no interior da boca ou exteriorizada -, movimentando-a para todos os lados, forçando-a de modo que vá de encontro à bochecha e, por fim, palpando-a, para avaliação de sua consistência. Nas lesões unilaterais do hipoglosso, observam-se atrofia e fasciculação na metade comprometida. Ao ser exteriorizada, a ponta da língua se desvia para o lado da lesão. Às vezes, ocorre disartria para as consoantes linguais. Nas lesões bilaterais, as manifestações compreendem atrofia, fasciculação, paralisia, acentuada disartria e dificuldade para mastigar e deglutir (a língua auxilia esses atos). 10/11 Pares Cranianos Semiologia REFERÊNCIAS • Porto, Celmo Celeno. Semiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. • Stephen L. Hauser et al. Neurologia clínica de Harrison.18. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. 11/11 Pares Cranianos Semiologia
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