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Insuficiência Adrenal SUMÁRIO 1. Definição ............................................................................................................3 2. Fisiologia ............................................................................................................3 3. Fisiopatologia .....................................................................................................5 4. Epidemiologia .....................................................................................................8 5. Etiologia .............................................................................................................8 6. Quadro clínico ..................................................................................................11 Insuficiência adrenal primária ................................................................................... 11 Insuficiência adrenal secundária ............................................................................... 13 Insuficiência adrenal aguda ou crise addisoniana ................................................... 13 7. Diagnóstico ......................................................................................................15 Teste da cortrosina .................................................................................................... 16 Teste de tolerância à insulina .................................................................................... 17 Outros exames............................................................................................................ 17 Diagnóstico diferencial .............................................................................................. 17 8. Tratamento da insuficiência adrenal crônica .....................................................18 Reposição de glicocorticoides .................................................................................. 18 Reposição de mineralocorticoides ............................................................................ 19 Reposição de androgênios ........................................................................................ 20 9. Tratamento da insuficiência adrenal aguda (crise addisoniana) ........................21 Prevenção da crise addisoniana ............................................................................... 21 Referências ..................................................................................................................... 23 Insuficiência Adrenal 3 1. DEFINIÇÃO A insuficiência adrenal é uma síndrome clínica decorrente da deficiência de pro- dução de cortisol. Pode ser classificada em primária ou secundária de acordo sua origem. A insuficiência adrenal primária ocasiona a deficiência de glicocorticoides, mineralocorticoides e andrógenos, sendo oriunda de patologias que destroem o córtex adrenal, que alteram o seu desenvolvimento ou que interferem na síntese de esteroides adrenais. Na insuficiência adrenal secundária, a deficiência é apenas de glicocorticoides e ocorre devido uma produção reduzida do hormônio adrenocortico- trófico (ACTH), resultante de uma patologia hipofisária ou hipotalâmica. 2. FISIOLOGIA O córtex da glândula suprarrenal produz três classes de hormônios corticosteroi- des: os glicocorticoides (cortisol, por exemplo), os mineralocorticoides (aldosterona, por exemplo) e os precursores androgênicos suprarrenais (desidroepiandrosterona - DHEA). Os glicocorticoides e os mineralocorticoides atuam por meio de receptores nucleares específicos, que regulam aspectos da resposta fisiológica ao estresse, bem como a pressão arterial e a homeostase dos eletrólitos. Já os precursores an- drogênicos suprarrenais são convertidos nas gônadas e nas células-alvo periféricas em esteroides sexuais, que atuam por meio de receptores nucleares de androgênios e de estrogênios. Figura 1: Zonas da glândula suprarrenal. Fonte: ilusmedical Insuficiência Adrenal 4 O córtex da adrenal apresenta três camadas distintas. A zona glomerulosa é cons- tituída por uma camada de células localizadas imediatamente abaixo da cápsula que envolve a adrenal. Essas células são capazes de secretar quantidade significativa de aldosterona. A zona fasciculada é a camada do meio e a mais larga. Ela secreta os glicocorticoides cortisol e corticosterona principalmente. A camada mais profun- da é a zona reticular, responsável pela secreção dos androgênios adrenais DHEA e androstenediona. A produção dos glicocorticoides e dos androgênios suprarrenais encontra-se sob o controle do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHSR), enquanto os mineralocor- ticoides são regulados pelo sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). A síntese de glicocorticoides é controlada de maneira inibitória por meio de re- troalimentação do hipotálamo e da hipófise. A liberação hipotalâmica do hormônio de liberação da corticotrofina (CRH) ocorre em resposta ao estresse endógeno ou exógeno. O CRH estimula a clivagem da pró-opiomelanocortina (POMC) por enzima específica, o que resulta na produção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). O ACTH é, então, liberado pelas células corticotróficas da adeno-hipófise e atua como regulador central da síntese de cortisol, com efeitos adicionais de curto prazo sobre a síntese de mineralocorticoides e de androgênios suprarrenais. A liberação de CRH e, subsequentemente, de ACTH, ocorre de modo pulsátil, se- guindo o ritmo circadiano sob controle do hipotálamo, mais especificamente de seu núcleo supraquiasmático (NSQ), com regulação adicional por uma rede de genes circadianos específicos de suas células. Refletindo o padrão de secreção do ACTH, a secreção suprarrenal de cortisol exibe um ritmo circadiano distinto, com níveis máxi- mos pela manhã e baixos no final da tarde. Insuficiência Adrenal 5 Figura 2: Fisiologia do Eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal. Fonte: Sakurra 3. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da insuficiência adrenal primária é marcada por destruição de mais de 90% do córtex da adrenal, cursando com queda de glicocorticoides, mine- ralocorticoides e andrógenos. Pela falta do feedback destes hormônios com seus reguladores, ocorre consequente aumento do ACTH e da renina na tentativa de es- timular a produção adrenal de cortisol e aldosterona, respectivamente. O déficit de aldosterona ainda reflete sobre a retenção de potássio e excreção de sódio. Efeitos patológicos de podem ocasionar hipercalemia grave e depleção de fluidos. Insuficiência Adrenal 6 Situação fisiológica Rim Hipotálamo CRH Patologia Hipófise Suprarrenal ACTH Cortisol AI, II ReninaAldosterona Excreção de K Retenção de Na Retenção de fluidos Rim Hipotálamo CRH ↑ Hipófise Suprarrenal ACTH ↑ Cortisol ↓ AI, II Renina ↑Aldosterona ↓ ↑ Excreção de K ↑ Retenção de Na ↑ Retenção de fluidos Na insuficiência adrenal secundária há a redução da produção de ACTH e/ou de hormônio liberador de corticotrofina (CRH) devido a patologias do eixo hipotálamo- -hipofisário, que são frequentemente associadas ao uso crônico de glicocorticoides. O déficit crônico de ACTH gera atrofia das camadas fasciculada (produtoras de cor- tisol) e reticulada (produtora de andrógenos), mas a camada glomerulosa (produtora de aldosterona), por estar sob o comando principal do SRAA e não do ACTH, se man- tém intacta. Observam-se, geralmente, baixos níveis de cortisol e DHEA, com renina e aldosterona normais nos casos de insuficiência adrenal secundária. FISIOPATOLOGIA DA INSUFICIÊNCIA ADRENAL Insuficiência Adrenal 7 Situação fisiológica - HHS Hipotálamo CRH Hipófise Suprarrenal ACTH Cortisol Situação de insuficiência hormonal hipofisária Hipotálamo CRH ↑ Hipófise Suprarrenal ACTH ↓ Cortisol ↓ Situação de insuficiência hormonal hipotalâmica CRH ↓ ACTH ↓ Cortisol ↓ Obs: O setor mineralocorticóide é preservado na ISR secundária FISIOPATOLOGIA DA INSUFICIÊNCIA ADRENAL SECUNDÁRIA InsuficiênciaAdrenal 8 4. EPIDEMIOLOGIA A insuficiência adrenal primária (40% dos casos) possui prevalência estimada entre 100 a 140 casos por milhão de habitantes e incidência de 4 por milhão ao ano, sendo considerada uma condição incomum. É predominante no sexo feminino, na proporção de 2,6:1, sendo habitualmente diagnosticada entre a terceira e a quin- ta década de vida. Apesar de incomum, deve-se estar atento ao seu diagnóstico, já que se trata de uma condição potencialmente fatal, cujos sintomas são geralmente inespecíficos e frequentemente encontrados em outras condições comuns, como infecções virais, fadiga crônica e depressão. Já a insuficiência adrenal secundária corresponde a 60% dos casos, apresentando uma prevalência de 150 a 280 casos por milhão. É mais comum seu diagnóstico na sexta década de vida. 5. ETIOLOGIA A insuficiência adrenal primária é mais comumente causada por adrenalite au- toimune. A adrenalite autoimune isolada (Doença de Addison) responde por 30 a 40% dos casos, enquanto 60 a 70% desenvolvem insuficiência adrenal como parte das síndromes poliglandulares autoimunes (SPA). Duas SPA são particularmente importantes nesse contexto. A SPA do tipo 1 é herdada como padrão autossômico recessivo e resulta de mutações no gene AIRE. É uma síndrome rara, manifestan- do-se, habitualmente na infância (90% dos casos), porém também pode ocorrer na vida adulta (10% dos casos). A proporção mulheres:homens varia entre 0,8:1 a 2,4:1 e pode ocorrer de forma esporádica ou familial. Também é denominada poliendo- crinopatia autoimune-candidíase-distrofia ectodérmica (APECED), uma vez que se caracteriza pela tríade de hipoparatireoidismo (HPT), doença de Addison (DA) e candidíase mucocutânea crônica (CMC), além de ceratoconjuntivite, distrofia ungue- al e formação defeituosa do esmalte dentário. A candidíase é a manifestação inicial na maioria das vezes. Outras manifestações autoimunes vistas na SPA-1 são hipo- gonadismo primário, doenças tireoidianas, diabetes mellitus tipo 1 (DM 1), anemia perniciosa, hepatite crônica ativa, síndrome de má absorção, queratite e lipodistrofia generalizada. A SPA do tipo 2, também conhecida como síndrome de Schmidt, é herdada de forma autossômica dominante, com penetrância incompleta. Tem prevalência de 1,4 a 2,0 por 100.000 habitantes e predomina do sexo feminino na proporção de 2 a 3,7:1. Ocorre sobretudo em adultos em geral entre 20 a 40 anos, sendo rara na infân- cia. Os três principais componentes são doença de Addison (DA) (ocorrem em 100% dos casos), doença autoimune tireoidiana (DAT) (75 a 83% dos casos) e diabetes mellitus tipo 1 (28 a 50% dos casos). Esses distúrbios tendem a se manifestar em Insuficiência Adrenal 9 uma ordem específica. O DM1 geralmente precede a doença de Addison, enquanto a tireoidite de Hashimoto, ou menos comumente, a doença de Graves (DAT) desenvol- ve-se, antes, concomitante ou após a doença de Addison. Ainda sobre a insuficiência adrenal primária vale a pena destacar as etiologias in- fecciosas. Uma variedade de infecções, tais como: tuberculose, infecções fúngicas como paracoccidioidomicose, histoplasmose, coccidioidomicose e criptococose, além de infecção por citomegalovírus. A tuberculosa constitui, de modo geral, a se- gunda causa mais comum de doença de Addison de causa infecciosa. Apesar disso, na região sudeste, sul e centro-oeste do Brasil são áreas endêmicas para paracocci- dioidomicose, portanto deve-se atentar a esse fato quando se considera causas de insuficiência adrenal primária nessas regiões. Outra importante etiologia infecciosa é a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) em que as adrenais são as glându- las endócrina mais afetadas. Os principais fatores que podem levar à insuficiência adrenal, por hemorragia ou por trombose da veia renal, são meningoccemia, coagulação intravascular dis- seminada (CIVD), síndrome do anticorpo antifosfolípide e trauma ao nascimento. Quando há choque séptico causado por infecção por meningococo configurar-se a síndrome de Waterhouse-Friderichsen. Drogas que inibem a síntese dos esteroides adrenais, como metirapona, mitotano, cetoconazol, etomidato ou drogas que au- mentam a depuração do glicocorticoide, como rifampicina, fenitoína e fenobarbital podem causar insuficiência adrenal primária. No entanto, isso só ocorrerá se admi- nistradas doses elevadas ou na presença de disfunção adrenal parcial devido à pato- logia adrenal subjacente. Neoplasias de mama e pulmão são as que mais frequentemente produzem me- tástases nas adrenais (até 70% dos casos). Porém, linfomas, melanoma, neoplasias de estômago, colón e rim também podem acometer as adrenais e causar insufici- ência adrenal primária quando o comprometimento é extenso e bilateral. Doenças genéticas como adrenoleucodistrofia, hipoplasia adrenal congênita e hiperplasia adrenal congênita também podem ser importantes etiologias no contexto da insufi- ciência adrenal primária. Insuficiência Adrenal 10 SPA-1 AUTOSSÔMICA RECESSIVA CMC INFECCIOSA SPA-2 AUTOSSÔMICA DOMINANTE DOENÇAS GENÉTICAS NEOPLASIAS DROGAS DA HPT DM 1 DAT DA TIREOIDITE DE HASHIMOTO (+ COMUM) DOENÇA DE GRAVES ADRENOLEUCODISTROFIA HIPO/ HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA CITOMEGALOVÍRUS TUBERCULOSE PARACOCCIDIOIDOMICOSE HISTOPLASMOSE CRIPTOCOCOSE SIDA MENIGOCCEMIA CIVD SÍND. ANTICORPO ANTIFOSFOLÍPIDE TRAUMA AO NASCIMENTO METIRAPONA MITOTANO CETOCONAZOL RIFAMPICINA FENITOÍNA MAMA/PULMÃO LINFOMA/MELANOMA ADRENALITE AUTOIMUNE ISOLADA (DA) HEMORRAGIA/ TROMBOSE INSUFICIÊNCIA ADRENAL PRIMÁRIA Insuficiência Adrenal 11 Considerando a insuficiência adrenal secundária, a suspensão abrupta do uso crônico de glicocorticoides exógenos é a principal etiologia. O uso prolongado de glicocorticoides inibe o eixo HHSR com consequente atrofia adrenal. Isso geralmen- te ocorre em indivíduos que ingeriram doses elevadas de glicocorticoide, como por exemplo 30 mg de prednisona ou equivalente por mais de três semanas. Outras cau- sas de insuficiência secundária incluem tumores de hipófise e hipotálamo, cirurgia e irradiação de hipófise, apoplexia hipofisária, doenças granulomatosas, como tubercu- lose e sarcoidose, hipofisite linfocítica e síndrome de Sheehan. Principais etiologias da insuficiência adrenal secundária Iatrogênica: glicocorticoterapia (causa mais comum) Tumores de hipófise e hipotálamo Cirurgia e irradiação de hipófise Apoplexia hipofisária Doenças granulomatosas (Tuberculosse, Sarcoidose) Hipofisite linfocítica Síndrome de Sheehan 6. QUADRO CLÍNICO Insuficiência Adrenal Primária Muitas vezes a instalação dessa patologia é crônica, com sintomas inespecíficos, o que ocasiona retardo no diagnóstico. Os sintomas ocorrem, em geral, quando há destruição de mais de 90% da glândula. Inicialmente, ocorre uma resposta anormal às situações de estresse, como na presença de trauma e infecções. Em seguida há uma progressão da destruição do córtex e as manifestações surgem mesmo na ausência de situações de estresse. Os sintomas mais comuns relacionados à defi- ciência de glicocorticoides são: fadiga, fraqueza, anorexia, perda de peso, tontura, náusea e vômito. Nas mulheres, amenorreia pode estar presente entre as queixas, principalmente se houver perda de peso importante ou associação com ooforite autoimune. Dentre as manifestações mais específicas de falência adrenal primária está a hiperpigmentação cutânea, ocasionada pelo aumento da concentração plasmática Insuficiência Adrenal 12 de ACTH e MSH, ambos compostos derivados da molécula de POMC, que possuem afinidade pelo receptor MC1 na pele e estimulam a produção de melanina. Mais fre- quentemente, a hiperpigmentação é observada em áreas expostas ao sol, nos pon- tos de pressão, dobras cutâneas e mucosa oral. A deficiência de mineralocorticoide resulta em hipovolemia, desidratação, hipo- tensão postural e avidez por sal. Em mulheres, a deficiência de andrógenos provoca diminuição de pelosaxilares e pubianos, além de perda de libido. Figura 3: Hiperpigmentação cutânea Fonte: Lorna Roberts Insuficiência Adrenal 13 Insuficiência Adrenal Secundária Diferente da falência primária, as manifestações da insuficiência adrenal secundá- ria não apresentam hiperpigmentação cutaneomucosa, e como não há deficiência de mineralocorticoide, não se observam depleção de volume, desidratação, avidez por sal e hipercalemia. As manifestações gastrintestinais e a crise adrenal são menos comuns. Podem ser observados sintomas relacionados à deficiência de outros hor- mônios hipofisários, como LH, FSH, TSH e GH. Insuficiência Adrenal Aguda ou Crise Addisoniana A crise addisoniana é bem mais comum na insuficiência adrenal primária do que na secundária e é considerada uma emergência médica. Pode ser resultado de situ- ações de estresse em pacientes com insuficiência adrenal crônica, na presença ou não de tratamento, ou ainda de acometimento agudo da função adrenal, como nos casos de hemorragia adrenal bilateral relacionada à septicemia, uso de anticoagu- lantes ou trauma. Caracteriza-se pelo agravamento dos sintomas específicos, como náuseas, vômitos, anorexia, fraqueza, febre e dor abdominal, podendo até simular um quadro de abdome agudo e frequentemente é acompanhada por hipotensão, hi- percalemia, convulsões e colapso circulatório. Insuficiência Adrenal 14 CRISE ADDISONIANADEFICIÊNCIA DE GLICOCORTICOIDE HIPOTENSÃO PRIMÁRIA SECUNDÁRIA CHOQUE HIPOVOLÊMICO DOR ABDOMINAL VÔMITO FEBRE CONVULSÕES POR HIPOGLICEMIA SINTOMAS RELACIONADOS À DEFICIÊNCIA DE OUTROS HORMÔNIOS HIPOFISÁRIOS INSUFICIÊNCIA ADRENAL FADIGA FRAQUEZA PERDA DE PESO TONTURA NÁUSEA VÔMITO AMENORREIA HIPERPIGMENTAÇÃO CUTÂNEA HIPOVOLEMIA DESIDRATAÇÃO HIPOTENSÃO POSTURAL HIPONATREMIA DIMINUIÇÃO DE PELOS AXILARES/PUBIANOS PERDA DE LIBIDO AVIDEZ POR SAL DEFICIÊNCIA DE MINERALOCORTICOIDE DEFICIÊNCIA DE ANDROGÊNIOS MULHERES Insuficiência Adrenal 15 7. DIAGNÓSTICO O cortisol sérico basal, coletado entre 8 e 9h, deve ser o primeiro exame a ser solicitado. Valores menores ou igual a 3 mg/dL confirmam o diagnóstico de insufi- ciência adrenal, assim como valores acima de 18 mg/dL praticamente excluem este diagnóstico. O valor normal do cortisol sérico é de 5 a 25 mg/dL. No entanto, muitas vezes, o cortisol sérico basal está entre esses valores, o que não permite um diag- nóstico conclusivo. Nessa situação, é recomendado o teste de estímulo com ACTH sintético (teste da Cortrosina). SUSPEITA CLÍNICA Colher cortisol entre 7-8 h da manhã Teste da cortrosina (ACTH sintético) 3 μg/dL < Cortisol < 18 μg/dL Cortisol ≥ 18 μg/dLCortisol ≤ 3 μg/dL Exclui Insuficiência Suprarrenal Diagnóstico de Insuficiência Suprarrenal Os valores do ACTH plasmático na insuficiência adrenal primária estão elevados e usualmente ultrapassam 100 pg/ ml (valor normal de 10 a 60 pg/mL), podendo in- clusive estar acima de 4.000 pg/mL. Na insuficiência adrenal secundária, tais valores encontram-se baixos ou no limite inferior da normalidade: < 20 pg/mL. Insuficiência Adrenal 16 Teste da Cortrosina Amostras para dosagens de cortisol sérico são coletadas antes e após adminis- tração de 250 mg via IV ou IM de ACTH exógeno, nos tempos 0, 30 ou 60 minutos. Valores de pico de cortisol maiores ou iguais a 18 mg/dL indicam função adrenal normal, enquanto um pico de cortisol menor que 18 mg/dL é indicativo de insuficiên- cia adrenal, porém não discriminado se é primária ou secundária. No entanto o teste da Cortrosina não exclui a presença de insuficiência adrenal secundária parcial ou baixa reserva de ACTH. Nesse caso, o teste de tolerância à insulina deve ser realiza- do se não houver contraindicações clínicas, tais como pacientes com idade avança- da, portadores de doença cardiovascular ou epilepsia. Cortisol basal ≤ 3 ug/dL ou estimulado ≤ 18 ug/dL ≥ 100 pg/mL ACTH (cortrosina) 250 μg ou 1 μg ACTH Glucagon 1 mgInsulina regular 0,05 a 0,15 U/kg nl/baixo Insuficiência adrenal primária Insuficiência adrenal secundária Insuficiência Adrenal 17 Teste de tolerância à insulina É considerado padrão-ouro para o diagnóstico de insuficiência adrenal secundária de início recente, situação em que o teste da Cortrosina pode apresentar resposta normal. O teste baseia-se no fato de que a hipoglicemia é um potente estimulador do eixo HHSR. Consiste na administração de 0,1 unidade/Kg/IV de insulina regular e do- sagens de cortisol nos tempos basal, 60 e 90 minutos. A glicemia deve atingir o valor de 40 mg/dL ou menos para o teste ser considerado efetivo. Considera-se a resposta normal do cortisol um pico maior ou igual a 18 mg/dL. Outros exames • DHEAS: Baixo; • Aldosterona baixa e renina elevada: insuficiência suprarrenal primária; • Investigar doenças autoimunes: TSH, T4L, Vitamina B12, Hemograma, Glicemia, Hb glicada; • Anticorpo anti-21OH: positivo em 85% dos casos de adrenalite autoimune; • Dosagem de ácidos graxos de cadeia longa: investigar adrenoleudistrofia. Diagnóstico diferencial A insuficiência adrenal deve ser diferenciada de todas as condições que produzem hiperpigmentação cutâneas, distúrbios gastrintestinais e fadiga crônica. A hiperpig- mentação da hemocromatose não envolve as membranas mucosas e se caracteriza por hemossiderina nas glândulas sudoríparas. A presença de porfiria cutânea tardia é facilmente reconhecida pela grande quantidade de uroporfirina na urina, nas fezes e no plasma. Metais pesados, como zinco e mercúrio, podem pigmentar a margem gengival, mas não causam pigmentação bucal. Anorexia e perda de peso podem si- mular quadros de anorexia nervosa. Insuficiência Adrenal 18 8. TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA ADRENAL CRÔNICA Reposição de Glicocorticoides O principal objetivo no tratamento da insuficiência adrenal é tentar mimetizar a nossa produção endógena de glicocorticoides, que consiste em cerca de 5 a 10 mg/ m2 de superfície corporal de cortisol ao dia (média de 7 mg/m2 ao dia, geralmente equivalente a algo entre 10 e 25 mg de hidrocortisona/dia). Quando a reposição é feita por via oral, as doses de reposição muitas vezes precisam ser maiores, uma vez que pode haver degradação gástrica do glicocorticoide. Desse modo, dependendo do tipo de glicocorticoide utilizado, e da forma de administração utilizada, as doses podem ser diferentes, variando conforme a área de superfície corporal do paciente. A hidrocortisona é um hormônio estruturalmente igual e com a mesma potência do cortisol, que é o hormônio naturalmente produzido pelo nosso organismo. Muitas ve- zes, no entanto, pode-se fazer essa reposição com outros tipos de glicocorticoides, ajustando a dose conforme sua potência. Para melhor mimetizar a produção fisio- lógica, deve-se repor a primeira dose de corticoide sempre ao acordar. Os pacientes costumam ter melhora clínica mais significativa quando a dose é mais fracionada. Se liga! A alimentação retarda a absorção do corticoide. Por isso, é importante orientar o paciente a tomá-lo antes das refeições. Modos de repor glicocorticide Para adultos 1) Prednisona 5 mg ao acordar, associada ou não a uma dose de 2,5 mg às 16 h. 2) Hidrocortisona 15 a 25 mg/dia, em 2 ou 3 vezes. Usam-se 20 a 25 mg/dia na insuficiência adrenal primária, e 15 a 20 mg/dia na secundária. Esquemas possíveis: 15/10/5, 15/10/0, 10/10/0, 10/5/5, 10/5/0. 3) Acetato de cortisona manipulada 25 a 50 mg/dia. Esquemas possíveis: 25/12,5/12,5, 25/12, 5/0, 12,5/12,5/0. 4) Dexametasona 0,5 mg 1 vez/dia. Fonte: Sales, P; Halpern, A; Cercato, C. O essencial em endocrinologia. 1. Ed. 2016. Insuficiência Adrenal 19 Modos de repor glicocorticide Para crianças 1) Prednisolona 3 a 5 mg/m2/dia VO. 2) Hidrocortisona 7 a 12 mg/m2/dia IM ou IV ou 10 a 24 mg/m2/dia VO. 3) Acetato de cortisona 9 a 16 mg/m2/dia IM ou IV ou 13,5 a 32 mg/m2/dia VO. 4) Dexametasona 0,5 mg/m2/dia VO. Fonte: Sales, P; Halpern, A; Cercato, C. O essencial em endocrinologia.1. Ed. 2016. Seguimento Clínico • Deve-se atentar para sinais e sintomas de hipercortisolismo (aumento do peso, estrias, fácies cushingoides, diabetes mellitus, HAS, equimoses, osteoporose). Pode-se tentar obter medidas de curva de cortisol (p. ex.: 8 h, 12 h, 18 h) e corti- sol urinário 24 h para verificar se a reposição está sendo excessiva; • Procura-se manter ACTH < 80 mg/dL; • Monitora-se densitometria óssea pelo menos a cada 2 anos; • Observa-se se não há sintomas de déficit de hormônio, como todos os sinais e sintomas de insuficiência adrenal. Reposição de mineralocorticoides A reposição de mineralocorticoide é necessária apenas na insuficiência adrenal primária. Pode-se administrar fludrocortisona 25 a 200 μg/dia, iniciando-se com 50 a 100 μg/dia e ajustando-se a dose de 50/50 μg até encontrar a dose adequada. Seguimento Clínico • Observa-se a pressão arterial. Hipertensão sugere dose excessiva, e hipoten- são postural, com queda > 20 mmHg na PA sistólica ou > 10 mmHg na PA dias- tólica, sugere dose insuficiente. • A avidez por sal sugere necessidade de aumentar a dose. • Sódio e potássio devem se manter normais; na falta de mineralocorticoide ocorre queda do sódio e aumento do potássio. • Edema pode indicar dose excessiva de mineralocorticoide. • O ideal é manter a Atividade Plasmática de Renina (APR) < 5 ng/mL/h em pé. Valores maiores podem indicar dose insuficiente de mineralocorticoide. Insuficiência Adrenal 20 Se liga! Em situações em que o paciente esteja usando dose equi- valente a ≥ 50 mg/dia de hidrocortisona, a reposição de mineralocorticoide torna-se desnecessária, pois o glicocorticoide nessa dose passa a ter efeito no receptor de mineralocorticoide dexametasona e betametasona não têm, entre- tanto, atividade mineralocorticoide. Reposição de androgênios A reposição de androgênios pode ser considerada em pacientes com má quali- dade de vida, humor deprimido, pouca libido e pele seca. Parece ajudar em humor, depressão, hostilidade, bem-estar, cognição, memória, libido, pensamentos, desejos e satisfação sexual. A reposição pode ser feita com DHEA 25 a 100 mg, via oral (VO) 1 vez/dia. Geralmente a dose é de 50 mg/dia. Não está disponível no Brasil, mas pode ser im- portada dos EUA. É importante manter DHEA, s-DHEA 24 h após a última dose, tes- tosterona (somente em mulheres), androstenediona e globulina ligadora do hormônio sexual (SHBG) dentro do limite da normalidade. Os principais efeitos colaterais da reposição de DHEA são acne, oleosidade, sudo- rese, aumento de transaminases, pilificação facial, axilar e pubiana, calvície, ganho de peso, rash, aumento de hematócrito, insônia e mastalgia. Insuficiência Adrenal 21 9. TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA ADRENAL AGUDA (CRISE ADDISONIANA) A crise adrenal é uma condição grave e potencialmente fatal. Portanto, o início do tratamento não deve ser adiado para realização de testes diagnósticos, os quais poderão ser feitos após a estabilização do quadro. Veja abaixo as principais condutas: Tratamento da crise addisoniana Hidratação com solução salina Hidrocortisona 100 mg IV, seguida de 25 a 50 mg IV 6/6 h (150 mg/dia). Correção de distúrbios hidroeletrolíticos e hipoglicemia. Tratamento da causa precipitante. Redução da dose da hidrocortisona progressivamente após 2 a 3 dias até atingir a dose fisiológica de reposi- ção (após reversão do quadro agudo). Uso de mineralocorticoides só é necessário na insuficiência adrenal primária e quando a dose de hidrocortiso- na for < 50 mg/dia. Prevenção da Crise Addisoniana Na prevenção de uma crise adrenal, os pacientes devem ser orientados quanto à necessidade de tomar os medicamentos prescritos constantemente e, sobretudo, ao ajuste da dose do glicocorticoide em situações de estresse. É fundamental, também, que levem sempre consigo um bracelete, ou cartão de identificação, com nome, tele- fone de contato, nome e telefone do médico, diagnóstico e fármacos utilizados, a fim de agilizar seu tratamento, caso sejam atendidos em serviços de urgência. Na presença de infecções sistêmicas graves, o paciente deve aumentar a dose habitual de corticoide em 2 a 3 vezes. Em casos de cirurgias eletivas, recomenda-se o uso de hidrocortisona IV, na dose de 100 mg na indução anestésica, seguida de 50 a 100 mg a cada 8h, com redução progressiva a partir do segundo dia, a depender da recuperação do paciente. Insuficiência Adrenal 22 Investigar doença autoimune Diagnóstico Tratamento Quadro Clínico Etiologia Secundária Glicocorticoide em excesso Primária Doença de Addison Infecciosa Medicações Tumores hipofisários Autoimune Náuseas e vômitos Fadiga Mialgia e artralgia Perda ponderal Hiperpigmentação cutânea ↑ TSH Hipercalemia e hiponatremia Reposição glicocorticoide Reposição de aldosterona e DHEAS ↓ Aldosterona ↑ Renina Coleta de cortisol e ACTH 7-8h da manhã DHEAS Definição Comprometimento da síntese dos esteroides adrenais Insuficiência Adrenal 23 REFERÊNCIAS Kasper DL et al. Medicina interna de Harrison. 19. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. Sales P, Halpern A, Cercato C. O essencial em endocrinologia. 1. ed. [S.l.]: Roca, 2016. Villar L. Endocrinologia clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi; Guanabara Koogan, 2016. Martins M de A et al. Clínica médica, volume 5: Doenças Endócrinas, Doenças Osteometabólicas, Doenças Reumatológicas. 2. ed. Barueri: Manole, 2016. sanarflix.com.br Copyright © SanarFlix. Todos os direitos reservados. Sanar Rua Alceu Amoroso Lima, 172, 3º andar, Salvador-BA, 41820-770
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