Buscar

3 republica nova

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 64 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 64 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 64 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

87
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Unidade II
5 O ESTADO NOVO
Quando Vargas decidiu manter o poder em suas mãos aproveitando‑se da histeria anticomunismo, 
habilmente, estruturou sua ação. Garantiu o total apoio do Exército, a partir dos grandes generais de 
então, além de promover o continuísmo dos ideais que ainda falavam da Revolução de 1930 – mesmo que 
agora a democracia não pudesse mais continuar frente à ameaça interna tão grave. Vargas justificava:
A contingência de tal ordem chegamos, infelizmente, como resultante de 
acontecimentos conhecidos, estranhos à ação governamental, que não os 
provocou nem dispunha de meios adequados para evitá‑los ou remover‑lhes 
as funestas consequências.
Oriundo de um movimento revolucionário de amplitude nacional e mantido 
pelo poder constituinte da nação, o governo continuou, no período legal, a 
tarefa encetada de restauração econômica e financeira e, fiel às convenções 
do regime, procurou criar, pelo alheamento às competições partidárias, 
uma atmosfera de serenidade e confiança, propícia ao desenvolvimento das 
instituições democráticas.
[...]
Os preparativos eleitorais foram substituídos, em alguns estados, pelos 
preparativos militares, agravando os prejuízos que já vinha sofrendo a 
nação, em consequência da incerteza e instabilidade criadas pela agitação 
facciosa. O caudilhismo regional, dissimulado sob aparência de organização 
partidária, armava‑se para impor à nação as suas decisões, constituindo‑se, 
assim, em ameaça ostensiva à unidade nacional.
[...]
Quando as competições políticas ameaçam degenerar em guerra civil, é 
sinal de que o regime constitucional perdeu o seu valor prático, subsistindo, 
apenas, como abstração. A tanto havia chegado o país. A complicada 
máquina de que dispunha para governar‑se não funcionava. Não existiam 
órgãos apropriados através dos quais pudesse exprimir os pronunciamentos 
da sua inteligência e os decretos da sua vontade.
88
Unidade II
Restauremos a nação na sua autoridade e liberdade de ação: na sua 
autoridade, dando‑lhe os instrumentos de poder real e efetivo com que 
possa sobrepor‑se às influências desagregadoras, internas ou externas; na 
sua liberdade, abrindo o plenário do julgamento nacional sobre os meios e 
os fins do governo e deixando‑a construir livremente a sua história e o seu 
destino (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 264‑272).
Figura 29 – O cartaz estampa a criação do Estado Novo. Fica evidente a relação direta do poder de Vargas, mas ainda com uma 
ideia democrática, já que Vargas segura a nova Constituição. No entanto, a Carta Magna de 1937 era extremamente autoritária e 
concentrava o poder completamente na figura do presidente
Disponível em: https://bit.ly/3Un1ELg. Acesso em: 3 fev. 2016.
Praticamente não ocorreu qualquer protesto. Muitos congressistas enviaram mensagens de 
agradecimento ao presidente por não eximir‑se de sua responsabilidade nesse momento sombrio e 
temeroso do país. O coronel Eduardo Gomes foi o militar de destaque em oposição. Dos civis, os paulistas 
Júlio de Mesquita Neto e o governador Armando de Sales Oliveira também foram contrários à ação de 
10 de novembro. O sucesso do golpe estava diretamente associado às variações políticas expressas ao 
longo do tumultuado (e curto) período democrático da década de 1930 no Brasil.
No fim das contas, o golpe de 1937 foi possível porque a classe média, esse 
pequeno, mas importante grupo social, capaz de assegurar o equilíbrio de 
qualquer sistema de eleições livres restrito a eleitores alfabetizados, estava 
confusa e dividida. Alguns eleitores de classe média continuavam leais a 
seu tradicional constitucionalismo liberal, e depositaram suas esperanças 
em Armando de Salles Oliveira na campanha de 1937. Outros, perdida 
a confiança em seu liberalismo original, voltaram‑se para o radicalismo de 
esquerda ou de direita. Ao fazer isso, admitiram na prática que a fórmula 
liberal já não se aplicava ao Brasil e que estavam, portanto, preparados, 
ainda que inconscientemente, a aceitar, quase sem protesto, o tipo especial 
de autoritarismo que Vargas impôs, de súbito, em novembro de 1937. 
89
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
O golpe de novembro de 1937 fechou o sistema político. E todas as questões 
de força eleitoral nas eleições marcadas para janeiro de 1938 se tornaram 
acadêmicas (SKIDMORE, 2010, p. 62).
A Constituição de 1937 recebeu o apelido de “A Polaca”. Era inspirada no autoritarismo da Carta 
Magna da Polônia. No entanto, o nome foi dado pela oposição também porque “era então um termo 
depreciativo aplicado às prostitutas provenientes da Europa do leste” (FAUSTO, 2013, p. 101).
Seu preâmbulo justifica a mudança rápida da formação política do país:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL,
ATENDENDO às legitimas aspirações do povo brasileiro à paz política e 
social, profundamente perturbada por conhecidos fatores de desordem, 
resultantes da crescente a gravação dos dissídios partidários, que, uma, 
notória propaganda demagógica procura desnaturar em luta de classes, e da 
extremação, de conflitos ideológicos, tendentes, pelo seu desenvolvimento 
natural, resolver‑se em termos de violência, colocando a Nação sob a funesta 
iminência da guerra civil;
ATENDENDO ao estado de apreensão criado no País pela infiltração 
comunista, que se torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo 
remédios, de caráter radical e permanente;
ATENDENDO a que, sob as instituições anteriores, não dispunha, o Estado 
de meios normais de preservação e de defesa da paz, da segurança e do 
bem‑estar do povo;
Sem o apoio das forças armadas e cedendo às inspirações da opinião 
nacional, umas e outras justificadamente apreensivas diante dos perigos 
que ameaçam a nossa unidade e da rapidez com que se vem processando a 
decomposição das nossas instituições civis e políticas;
Resolve assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua 
independência, e ao povo brasileiro, sob um regime de paz política e 
social, as condições necessárias à sua segurança, ao seu bem‑estar e à sua 
prosperidade, decretando a seguinte Constituição, que se cumprirá desde 
hoje em todo o País (BRASIL, 1937).
A seguir garantia‑se, sobretudo, o poder completamente voltado à Presidência da República:
Art. 73. o Presidente da República, autoridade suprema do Estado, coordena 
a atividade dos órgãos representativos, de grau superior, dirige a política 
interna e externa, promove ou orienta a política legislativa de interesse 
nacional, e superintende a administração do País.
90
Unidade II
Art. 74. Compete privativamente ao Presidente da República:
a) sancionar, promulgar e fazer publicar as leis e expedir decretos e 
regulamentos para a sua execução;
b) expedir decretos‑leis, nos termos dos arts. 12 e 13;
c) manter relações com os Estados estrangeiros;
d) celebrar convenções e tratados internacionais ad referendum do 
Poder Legislativo;
e) exercer a chefia suprema das forças armadas da União, administradas por 
intermédio dos órgãos do alto comando;
f) decretar a mobilização das forças armadas;
g) declarar a guerra, depois de autorizado pelo Poder Legislativo, e, 
independentemente de autorização, em caso de invasão ou agressão 
estrangeira;
h) fazer a paz ad referendum do Poder Legislativo;
i) permitir, após autorização do Poder Legislativo, a passagem de forças 
estrangeiras pelo território nacional;
j) intervir nos Estados e neles executar a intervenção, nos termos constitucionais;
k) decretar o estado de emergência e o estado de guerra nos termos do 
art. 166;
l) prover os cargos federais, salvo as exceções previstas na Constituição e 
nas leis;
m) autorizar brasileiros a aceitar pensão, emprego ou comissão de 
governo estrangeiro;
n) determinar que entrem provisoriamente em execução, antes de aprovados 
pelo Parlamento, os tratados ou convenções internacionais, se a isto o 
aconselharem os interesses do País.
[...]
Art. 75. São prerrogativas do Presidente da República:
a) indicarum dos candidatos à Presidência da República;
91
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
b) dissolver a Câmara dos Deputados no caso do parágrafo único cio 
art. 167;
c) nomear os Ministros de Estado;
d) designar os membros do Conselho Federal reservados à sua escolha;
e) adiar, prorrogar e convocar o Parlamento;
f) exercer o direito de graça (BRASIL, 1937).
Ficava evidente a força do poder do Executivo – o presidente poderia, e assim o fez, governar o 
país em estado de emergência (o que já foi declarado na própria Constituição, no artigo 186) e sem a 
formação do Poder Legislativo. Seus decretos‑lei perpetuavam sua autoridade, inclusive tendo poder 
para aposentar funcionários civis ou militares. Outro ponto importante foi o direito de instituir os 
interventores federais nos estados. Assim, além da autoridade federal, Vargas poderia garantir suas 
decisões em cada um dos estados do país.
A Constituição de 1937 ainda mantinha, dentro das linhas gerais do populismo de Vargas, as leis 
trabalhistas e a nacionalização dos recursos. No entanto, ficavam proibidas as greves e era instituída a 
pena de morte para aqueles que viessem a tentar subverter a ordem. A ideologia da nova Carta Magna 
foi formulada por Francisco de Campos e misturava o tradicional centralismo de Vargas com o fascismo 
e o nacionalismo. Claro que, ao mesmo tempo, havia algumas interseções liberais, para manter certa 
valorização dos ideais democráticos.
Figura 30 – A charge faz uma crítica aos interesses das elites relacionados ao apoio ao fascismo, como modelo a ser implantado no 
país em virtude da sua forte aceitação na Europa pós‑Primeira Guerra
Disponível em: https://bit.ly/3iplWXh. Acesso em: 3 fev. 2016.
92
Unidade II
Diferente de 1930, Vargas procurou garantir interventores que comtemplassem valores regionais e 
não abrissem espaço para disputas. Assim:
A escolha dos interventores obedeceu a diferentes critérios. Parentes de 
Getúlio (seu genro Amaral Peixoto, no Estado do Rio), militares (o antigo 
tenente Cordeiro de Farias, no Rio Grande do Sul) receberam a designação. 
De um modo geral, porém, nos maiores estados algum setor da oligarquia 
regional foi contemplado. Em Minas Gerais, Benedito Valadares permaneceu 
no poder; Agamenon Magalhães foi durante certo tempo interventor em seu 
estado (Pernambuco) e, em São Paulo, o estilo surpreendente dos primeiros 
anos da década de 1930 também não se repetiu. Os três interventores entre 
1937 e 1945 provieram da elite regional, e dois deles tinham sido membros 
do PRP (FAUSTO, 2004, p. 366).
Uma das grandes preocupações do governo foi, justamente, de levar a cabo a força da união nacional 
contra qualquer tipo de dissidência regional. Emblemática, nesse sentido, foi a cerimônia de queima de 
bandeiras promovida ainda em novembro de 1937. Prevista para ocorrer no dia 19, ficou para o dia 27 
em virtude das fortes chuvas sobre o Rio de Janeiro. Vinte e duas jovens levaram as bandeiras regionais 
para a chama e, em um forte discurso de defesa nacional, unitarista, o ministro da Justiça, Francisco 
Campos, se levantou:
Não há lugar para outro pensamento no Brasil, nem espaço para outra 
bandeira que não seja esta hasteada hoje por entre as bênçãos da Igreja e a 
continência das espadas, a veneração do povo e os cânticos da juventude.
[...]
Honrai a vossa bandeira, juventude do Brasil. A vocação da juventude deve ser a 
vocação do soldado. Que cada um, na sua escola, seja um soldado possuído do seu 
dever, obediente à disciplina, sóbrio e vigilante, duro para consigo mesmo. Isto é 
o que o Brasil pedia – e é isto o que o Brasil conquistou (LIRA NETO, 2013, p. 314).
 Lembrete
Há de se destacar que a concepção de Vargas, ao chegar ao poder, 
mudou muito. É bastante provável que ele foi arquitetando suas ações ao 
longo do tempo. Em 1930, quando chegou ao Rio de Janeiro, fez questão 
de demonstrar, com seu traje e cavalo, a força do Rio Grande do Sul e o 
desejo de que o poder federal contemplasse os valores federalistas em busca 
de interesses plurais aos da elite cafeicultora. Com o passar do tempo, no 
entanto, passou a desejar muito mais a unidade nacional, contra qualquer 
regionalismo, que, inclusive, foi o símbolo da oposição paulista pelo país. 
Assim, a cerimônia da queima de bandeiras foi o marco extremamente 
preciso dessa nova visão de Getúlio em torno de seu poder e força na 
ditadura do Estado Novo.
93
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Estruturando, no plano ideológico, a força unitária da Nação, restava ainda angariar meios para 
que a população fizesse parte desse sistema – o alvo maior dessa participação seria um plebiscito 
para garantir a aceitação da Constituição, mas nunca foi posto em prática e nem sequer comentado. 
A roupagem da nova Carta Magna até vestia valores democráticos, porém foram ficando distantes com 
o passar do tempo.
No nível político mais elevado, Vargas contou com os membros mais próximos dele para compor 
seus ministérios. Assim, o apoio de Dutra ao golpe de 1937 o manteve como ministro da Guerra até o fim 
do Estado Novo. Francisco Campos, o ideólogo do Regime, era o ministro da Justiça. Oswaldo Aranha, 
bastante ligado aos EUA, foi mantido no cardo de ministro das Relações Exteriores. No Ministério da 
Educação e Saúde, Gustavo Capanema continuou no cargo e promoveu uma série de ações culturais e 
nacionalistas. E o caso mais interessante ficou por conta do Ministério da Fazenda, nas mãos de Arthur 
de Sousa Costa, desde 1934.
[...] de origem humildade, sem formação universitária, Sousa Costa chegou 
ao ministério passando pelo Banco do Brasil. Visou sempre o equilíbrio das 
contas públicas, fato que não o impediu de conceder generosos créditos aos 
industriais. Ao mesmo tempo, vários órgãos técnicos foram criados como 
canal de aproximação entre o governo e os interesses privados (FAUSTO, 
2013, p. 101).
Quem acreditava que teria participação no novo governo de Vargas eram os integralistas, inclusive, 
pelo apoio de Plínio Salgado a Vargas e à força de um Estado ditatorial. No entanto, Getúlio não 
estava interessado em dividir seu poder com ninguém. E, com isso, em 2 de dezembro de 1937, 
pelo Decreto‑lei n. 37, foram suprimidos todos os partidos políticos, inclusive, qualquer tipo de 
“milícia cívica” para garantir a “paz social”, pois “os partidos até então existentes não possuíam 
conteúdo programático nacional ou esposavam ideologias e doutrinas contrárias aos postulados 
do novo regime” e ainda era “vedado o uso de uniformes, estandartes, distintivos e outros símbolos 
dos partidos políticos e organizações auxiliares”. Boa parte dos integralistas viu nessa decisão um 
ataque direto ao seu grupo.
Os integralistas planejaram, a partir daí, um ataque a Vargas. A tomada de poder à força era a única 
alternativa depois da truculência das leis atingi‑los. A elaboração contou com a participação de militares 
descontentes e também de liberais opositores, como Euclides Figueiredo, Aureliano Leite, Castro Júnior 
ou ainda Otávio Mangabeira e Júlio de Mesquita Filho, todos sob a liderança do tenente Severo Fournier. 
Ajudados pelos militares opositores de Vargas, e até por alguns membros da guarda do palácio, cerca de 
30 homens atacaram, à noite, o Palácio do Catete, no dia 10 de maio de 1938. Era o Putsch Integralista. 
As Forças Armadas demoraram a ir ajudar o presidente. O ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, foi o 
único comandante militar a ir ao local e se deparou com a força de metralhadoras contra a residência 
da Presidência da República. Vargas, por sua vez, com a arma em punho, protegia sua filha Alzira e seu 
filho Maneco e assim ficaram por mais de três horas. Por fim, os rebeldes iam sendo dominados e, muito 
provavelmente, os que não conseguiram fugir foram fuzilados no dia seguinte nos fundos do jardim do 
palácio. Severo Fournier foi preso o condenado a 10 anos de prisão (e lá morreu de tuberculose). Plínio 
Salgado se refugiou em São Paulo, mas, em 1939, foi convidado a se autoexilar. Foipara Portugal.
94
Unidade II
A partir daqui fica evidente que o Estado Novo, apesar de sua forte influência, não era fascista, 
como os de modelo europeu. Vargas não se apoiava em nenhum grupo político, não tinha um partido 
de apoio, mas estruturava em torno dele toda a sua força. Na prática:
[...] todo grupo político significativo tinha sido enganado e suprimido. Os 
comunistas e esquerdistas radicais sofreram a mais brutal repressão. 
Os integralistas desapareceram, em parte por causa da repressão, em parte 
porque a lógica de seu autoritarismo foi enfraquecida pela forma mais 
brasileira da ditadura de Vargas.
Os constitucionalistas liberais foram os que mais perderam. Enquanto os 
comunistas podiam alegar que seu sofrimento demonstrava a dialética da 
história, e esperar que a ditadura de Vargas ajudasse a preparar as massas 
para a revolução, os liberais viram seus ideais de eleições livres, liberdades 
civis e justiça imparcial serem repudiados sem que houvesse protestos 
significativos (SKIDMORE, 2010, p. 64).
Para garantir suas determinações e acompanhar de perto as atuações estaduais, Vargas criou o 
Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), em 30 de julho de 1938. Assim, organizava‑se 
o serviço público, a burocracia estatal, em busca de sua racionalização e controle – um dos seus 
importantes instrumentos foi o uso de concursos para, através do mérito, selecionar os melhores ao 
serviço do país. Além disso, elaborava as planilhas orçamentárias e fiscalizava seus gastos, ainda que, de 
início, o Dasp estivesse bastante atrelado ao Ministério da Fazenda. Seu presidente foi Luís Simões Lopes. 
Estabeleciam‑se as bases da tecnocracia estatal.
Apesar de todos os esforços, nada era mais significativo do que trazer o povo para a aceitação e 
perpetuação do regime. O populismo, faceta central da Era Vargas, precisava demonstrar todos os seus 
aspectos. Assim, foi criado em dezembro de 1939 o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Ligado 
diretamente ao presidente, sob a liderança do jornalista Lourival Fontes, funcionava para garantir apoio 
irrestrito ao Estado Novo através de duas áreas centrais: censura e propaganda oficial. Os seus espaços 
envolviam todos os aspectos culturais do país (rádio, cinema, teatro e imprensa). Procurou explorar, ao 
máximo, todos os valores possíveis para garantir a força do regime. Ou seja, na prática, patrocinava obras 
voltadas à exaltação do Brasil e de suas grandes qualidades. De qualquer forma, não há como negar que os 
novos meios de comunicação acabaram sendo os mais importantes do novo departamento:
Os funcionários do DIP foram especialmente hábeis em aproveitar o 
impacto tecnológico operado pelos novos veículos de comunicação – rádio 
e cinema – e propagandear as ações e iniciativas do governo. O rádio já era, 
na época, um fenômeno de massa: atendia à demanda de entretenimento 
de uma audiência crescente, estava consolidado como veículo publicitário 
e conseguia fazer brotar o sucesso (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 377).
E foi assim que o programa diário A Hora do Brasil passou a fazer parte da vida dos cidadãos. Às 
19 horas, o presidente Vargas falava diretamente, sem a necessidade de jornalistas. E depois o sistema 
foi ampliando suas funções:
95
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Em 1942, a agência ampliou o foco, e tratou de associar a mensagem 
do governo a uma programação humorística e de musicais. Eficiente, ela 
investiu no formidável sucesso dos “programas de auditório”, idealizados 
para tornar a Rádio Nacional uma espécie de casa de teatro acessível à 
população pobre, e onde torcidas – os fã‑clubes – assistiam aos cantores de 
sucesso (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 377).
Figura 31 – A Era do Rádio no Brasil foi habilmente utilizada pelo DIP para garantir a propaganda 
do governo e, aos poucos, trazer programas de entretenimento para boa parte da população
Disponível em: https://bit.ly/3imQaKD. Acesso em: 3 fev. 2016.
Outra área cultural importante, apropriada pelo regime, foi a música popular e o próprio carnaval.
Durante o Estado Novo, o samba – embora causasse algumas inquietações 
ao regime devido à sua irreverência, origem boêmia e ao elogio que fazia 
à malandragem com sua suposta vocação para a indisciplina e insubmissão – 
acabou sendo eleito o gênero musical brasileiro por excelência. Mesmo 
assim, se viu às voltas com a censura e o padrão ético buscado pelo 
regime para formar o cidadão trabalhador. Seus compositores tiveram que 
se submeter e fazer adaptações nas letras de suas composições para que 
ficassem conforme as exigências do DIP. [...] As palavras de ordem no samba 
deveriam ser as de moral, trabalho e exaltação da natureza e das tradições 
cívico‑patrióticas brasileiras. O mesmo se passou com as marchinhas e 
músicas de Carnaval, compostas para aquela que se tornaria a festa mais 
popular do país, oficializada e regulada pelo DIP, através do serviço de 
turismo (DUTRA, 2013, p. 263‑264).
96
Unidade II
Um dos exemplos mais significativos da ação do DIP em torno da doutrinação do país, afetando 
diretamente a produção cultural, foi a canção “O bonde de São Januário” de Wilson Batista. A letra 
original e a nova versão são muito diferentes, pois o DIP determinou que a letra fosse reescrita, já que 
fazia uma associação negativa à imagem do trabalhador:
O Bonde de São Januário
O bonde de São Januário
Leva mais um sócio otário
Só eu não vou trabalhar
O Bonde de São Januário
Quem trabalha
É quem tem razão
Eu digo
E não tenho medo
De errar Quem trabalha...
O Bonde de São Januário
Leva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar
O Bonde de São Januário...
Antigamente eu não tinha juízo
Mas hoje eu penso melhor no futuro
Graças a Deus
Sou feliz, vivo muito bem
A boemia não dá camisa a ninguém
Passe bem!
Fonte: Batista (1940).
O serviço ideológico do DIP cumpria, desse modo, enormes funções caracterizadas pela doutrinação 
em várias áreas culturais, mas também havia uma enorme formação doutrinária para outras áreas, como 
as esportivas. Em torno de um amplo arcabouço de preconceito, o futebol era visto como um espaço 
de dedicação para o homem e como algo longe das “funções naturais” para as mulheres. Como analisa:
À mulher caberia, entre outras obrigações, contribuir de forma decisiva 
com o fortalecimento da nação e o depuramento da raça gerando filhos 
saudáveis, algo que, pensava‑se, só seria alcançado se a mulher preservasse 
sua própria saúde. Se esta condição não excluía a prática de esporte, é certo 
que nem todo esporte a ela se adequava.
O futebol feminino, portanto, só poderia mesmo representar um “desvio de 
conduta” inadmissível aos olhos do Estado Novo e da sociedade brasileira 
do período, pois abria possibilidades outras além daquelas consagradas 
pelo estereótipo da “rainha do lar”, que incensava a “boa mãe” e a “boa 
esposa” (de preferência seguindo os padrões hollywoodianos de beleza), 
principalmente, restrita ao espaço doméstico. Desvio tão inadmissível que 
a Subdivisão de Medicina Especializada recomendava que se fizesse uma 
“campanha de propaganda mostrando os malefícios causados pelo futebol 
97
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
praticado pelas mulheres, a fim de evitar lamentáveis consequências 
enquanto se aguarde medidas tendentes a permitir a interferência dos 
Poderes Públicos em tais questões, medidas estas que muito bem poderiam 
constar na Regulamentação dos Desportos, presentemente em estudos 
(FRANZINI, 2005, p. 321‑322).
E assim, foi criado o Conselho Nacional de Desportos (CND), em abril de 1941, que garantia que
[...] às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com 
as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional 
de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do 
país (FRANZINI, 2005, p. 322).
Evidencia‑se, portanto, que o arcabouço ideológico do Estado Novo permeava a sociedade na mais 
variada gama de valores imprimindo preconceitos que,muitas vezes, se perpetuaram no país. Mais do 
que isso, cristalizou valores considerados até hoje, para boa parcela tradicional da população, “naturais” 
e longe de uma mudança de paradigma.
 Observação
A História é uma fantástica disciplina para demonstrar que existem 
formulações que se perpetuam na sociedade que são pura construção 
ideológica. O futebol ser coisa “para homem” como muitos ainda entendem 
no país, precisa ser colocado sob uma perspectiva histórica produzida a 
partir do Estado Novo.
Até hoje o futebol feminino é incomparavelmente pouco valorizado no 
chamado “país do futebol”. A liga não consegue patrocínios eficientes e os 
resultados obtidos pelas jogadoras são, muito mais, frutos da habilidade 
excepcional de algumas atletas brasileiras, do que da capacidade desenvolvida 
nos treinos etc.
Assim, o professor de História adquire uma função extremamente 
importante: de mostrar os processos históricos que se formam e se 
perpetuam com enorme facilidade, em alguns casos. E, com isso, é 
capaz de problematizar o aluno para o respeito e tolerância nos mais 
variados aspectos.
Um último exemplo de ação, ainda no campo cultural, foi o continuísmo da política reformista da 
educação, iniciada com Francisco Campos e que, no Estado Novo, se manteve com Gustavo Capanema. 
Em 9 de abril de 1942, foi criada a Lei Orgânica do Ensino Secundário, também conhecida como 
“Reforma Capanema”. Estabelecia‑se o ensino secundário com quatro anos de duração, o famoso 
“ginásio”, e depois um ciclo de três anos com opção de escolha entre o clássico e o científico, o 
também famoso “colegial”.
98
Unidade II
O caráter elitista do ensino secundário de formação geral foi escancaradamente 
explicitado na lei. Haveria uma adolescência (diga‑se da classe burguesa) 
predestinada à condução da sociedade e que teria acesso a um ensino 
específico, que não se limitasse ao simples desenvolvimento dos atributos 
naturais do ser humano, mas que tivesse a força de ir além dos estudos de 
mera informação literária, científica ou filosófica, que fosse capaz de dar 
aos adolescentes uma concepção de homem e do ideal de vida humana, 
formando assim as individualidades dirigentes, esclarecidas de sua missão 
social e patriótica, sendo eles os responsáveis pela divulgação ideológica 
desses princípios ao povo. Dessa forma, a estrutura da sociedade capitalista 
que se consolidava, sob o comando da ditadura do Estado Novo, reproduzia 
a dicotomia da estrutura de classes também na educação. Permitia, em 
contrapartida, a “ascensão dos menos favorecidos através do ensino 
profissionalizante” (ZOTTI, 2004, p. 108).
Do Manifesto dos Pioneiros, a Reforma trazia o ideal de valorização da ciência. Ao mesmo tempo, 
trazia a obrigatoriedade da educação militar aos homens, a continuidade do ensino religioso como 
facultativo e a obrigatoriedade da educação moral e cívica. Nesse último aspecto, vale destacar o 
quanto o ensino profissional estava relacionado aos valores da pátria e do desenvolvimento propiciado 
por Getúlio Vargas.
Não é à toa, portanto, que Vargas não perdeu de vista sua política trabalhista: “[...] a partir de 1937, 
ganharam maiores proporções as iniciativas materiais do governo em favor das massas, seguidas da 
construção da figura de Vargas como grande protetor dos trabalhadores” (FAUSTO, 2013, p. 102).
A relação do regime do Estado Novo com o fascismo ficou evidente com o retorno da unicidade 
sindical e com a proibição de greves, pois tudo girava em torno da subordinação direta ao Estado. 
O imposto sindical foi estabelecido em 1940. Daí surgiu o famoso peleguismo na política sindical:
A expressão deriva de um de seus significados. “Pelego” é uma cobertura 
de pano ou couro colocada sob a sela de um animal de montaria para 
amortecer o choque produzido pelo movimento do animal no corpo do 
cavaleiro. A ideia de amortecedor se mostrou bastante adequada. “Pelego” 
passou a ser o dirigente sindical que na direção do sindicato atua mais no 
interesse próprio e do Estado do que no interesse dos trabalhadores, agindo 
como amortecedor de atritos. Sua existência foi facilitada na medida em 
que não precisava atrair ao sindicato uma grande massa de trabalhadores. 
O imposto garantia a sobrevivência da organização, sendo o número de 
sindicalizados, sob esse aspecto, um fator de grande importância secundária 
(FAUSTO, 2004, p. 374).
99
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Foi também assim que Vargas garantiu a formação de um salário mínimo:
O Presidente da República, considerando o que expõe o Ministro do Trabalho, 
Indústria e Comércio em cumprimento ao art. 12 da Lei n° 185, de 14 de 
Janeiro de 1946 e 45 do Decreto‑lei n° 399, de 30 de abril de 1938, e usando 
da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, resolve:
Art. 1° Fica instituído em todo país, o salário mínimo a que tem direito, pelo 
serviço prestado, todo trabalhador sem distinção de sexo, por dia normal 
de serviço, como capaz de satisfazer, na época atual e nos pontos do país 
determinado na tabela anexa, às suas necessidades normais de alimentação, 
habilitação, vestuário, higiene, e transporte.
O salário mínimo será pago na conformidade da tabela a que se refere o 
artigo anterior e que vigorará pelo os três anos, podendo ser modificado 
ou confirmado por novo triênio e assim, seguidamente, salva a hipótese do 
artigo (BRASIL, 1940).
Há de se destacar que a ideia de um “salário mínimo” não significa, como alguns patrões passaram 
a promover, que aquele deve ser o valor adotado de salário. Na verdade, a ideia seria do mínimo 
necessário para a vida não impedindo a atribuição de salários maiores e, ao mesmo tempo, garantindo 
as necessidades básicas de “alimentação, habilitação, vestuário, higiene e transporte”. No entanto, na 
lógica burguesa, para que oferecer um salário maior se o trabalhador consegue viver com aquele? E não 
é à toa que o valor do salário mínimo foi se perdendo ao longo de nossa história.
Para garantir a força do “pai dos trabalhadores do Brasil”, Vargas, ano a ano, passou a fazer 
célebres discursos na comemoração do dia 1º de maio, no estádio de São Januário – o maior estádio 
do Rio de Janeiro até então, a partir de 1939. No entanto, antes desse ano já realizava inflamados 
discursos, como em 1938:
Operários do Brasil: No momento em que festeja o “Dia do Trabalho”, não 
desejei que esta comemoração se limitasse a palavras, mas que fosse traduzida 
em fatos e atos que constituíssem marcos imperecíveis, assinalando pontos 
luminosos na marcha e na evolução das leis sociais do Brasil.
Nenhum governo, nos dias presentes, pode desempenhar a sua função 
sem satisfazer as justas aspirações das massas trabalhadoras (BONAVIDES; 
AMARAL, 2002b, p. 350).
Em 1939, já elaborou o seu famoso início:
Trabalhadores do Brasil: ouvi com particular agrado a eloquência e expressiva 
saudação que o ministro do Trabalho, em vosso nome e a vosso pedido, acaba 
de me dirigir. Melhor do que em palavras de agradecimento, testemunho‑vos 
100
Unidade II
o meu apreço, compartilhando das vossas comemorações do “Dia do Trabalho”, 
assim reafirmando o sentido de cooperação e confiança mútua que temos 
mantido, inalteravelmente, na solução dos problemas sociais.
Desde 1930, conservamos a mesma linha de ação, e, sempre que surgiram 
obstáculos e dificuldades, os trabalhadores manifestaram ao Governo 
Nacional, de inequívoco, a sua confortadora e espontânea solidariedade, 
numa eficiente atitude de repulsa aos surtos de anarquia e aos golpes 
extremistas (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 402).
Em 1940, visando a perpetuação de sua imagem e a associação direta aos trabalhadores, dizia:
Trabalhadores do Brasil: Aqui estou, como de outras vezes, para compartilhar 
as vossas comemorações e testemunhar o apreço em que tenho o homem 
de trabalho como colaborador direto da obra de reconstrução política e 
econômica da Pátria.
Não distingo, na valorização do esforço construtivo, o operário fabril do 
técnico de direção, do engenheiroespecializado, do médico, do advogado, 
do industrial ou do agricultor. O salário, ou outra forma de remuneração, não 
constitui mais do que um meio próprio a um fim, e esse fim é, objetivamente, 
a criação da riqueza nacional e o surto de maiores possibilidades à nossa 
civilização (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 406).
Nota‑se, evidentemente, a exaltação do trabalhismo, que caminhava de mãos dadas com toda a 
propaganda política produzida pelo DIP. Ao mesmo tempo, a busca constante de associar o regime 
de Vargas ao trabalhador resultaria em conquistas e transformações progressivas. Por fim, é possível 
perceber também que a força da relação de cada um dos trabalhadores coopera, diretamente, para a 
“riqueza nacional e o surto de maiores possibilidades”, evidenciando a relação corporativista de que 
todos contribuem para o progresso da pátria.
E toda essa ideologia foi sintetizada em 1943, quando foi estabelecida a Consolidação das Leis 
Trabalhistas (CLT), que sistematizou as relações entre patrões e empregados e se mantém no país, em 
linhas gerais, até hoje.
Inegavelmente, estava completada a obra de controle sobre os trabalhadores e de seu uso político 
para as lideranças populistas. Em boa medida, as ideias de esquerda perderam enorme força. Por parte 
dos patrões, esse controle ideológico era bem visto para garantir a estabilização da mão de obra barata, 
facilitando novos investimentos.
No Estado Novo, ficou evidente o projeto econômico de Getúlio para o país. Era nacionalista, já 
que defendia que as riquezas nacionais, traduzidas como os recursos do país, precisam ser exploradas 
pelo Estado. Daqui o segundo sentido de suas ações: a intervenção do Estado na economia, baseada na 
101
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
criação de empresas para o setor da indústria pesada. Assim, haveria condições para que, posteriormente, 
fosse possível surgir a produção dos bens de consumos duráveis e não duráveis.
O nacionalismo intervencionista, para o desenvolvimento industrial, foi a principal forma de 
promover o projeto de modernização que Vargas sempre defendeu ao longo de seu governo.
 Observação
Os que defendem Getúlio Vargas como um dos melhores presidentes 
do Brasil de todos os tempos argumentam que dele surgiu um projeto 
de desenvolvimento industrial do país relacionado ao enriquecimento do 
Brasil em uma política de proteção das riquezas nacionais. Nesse sentido, 
criou as principais empresas de recursos estratégicos para o país.
Por outro lado, os que criticam Getúlio, sob o viés econômico, argumentam 
que o excesso de intervenção do Estado na economia criou a burocratização 
do sistema, alimentando a corrupção e impedindo que os capitais estratégicos 
sejam devidamente aplicados para o crescimento do país. Na prática, essa 
visão é proveniente das interpretações assumidas pelo neoliberalismo a partir 
da crise do Estado de Bem‑Estar Social na década de 1970, quando o excesso 
de gastos produzia um constante déficit orçamentário.
Figura 32 – A visão que Vargas procurou associar à modernização do país era a do desenvolvimento industrial
Disponível em: https://bit.ly/3F9vKO3. Acesso em: 3 fev. 2016.
Para concretizar esses seus projetos, Vargas foi criando uma enorme quantidade de organizações de 
controle de áreas consideradas estratégicas:
102
Unidade II
• 1930 – criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.
• 1931 – Conselho Nacional do Café e Instituto do Cacau da Bahia.
• 1932 – Ministério da Educação e Saúde Pública.
• 1933 – Departamento Nacional do Café e Instituto do Açúcar e do Álcool.
• 1934 – Conselho Federal do Comércio Exterior; Instituto Nacional de Estatística; Código de Minas; 
Código de Águas; Plano Geral de Viação Nacional e Instituto de Biologia Animal.
• 1937 – Conselho Brasileiro de Geografia e Conselho Técnico de Economia e Finanças.
• 1938 – Conselho Nacional do Petróleo; Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp); 
Instituto Nacional do Mate e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
• 1940 – Comissão do Plano Siderúrgico Nacional; Comissão de Defesa da Economia Nacional; 
Instituto Nacional do Sal e Fábrica Nacional de Motores.
• 1941 – Companhia Siderúrgica Nacional e Instituto Nacional do Pinho.
• 1942 – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
• 1943 – Coordenação da Mobilização Econômica; Consolidação das Leis de Trabalho; Serviço Social 
da Indústria (Sesi), Plano de Obras e Equipamentos e I Congresso Brasileiro de Economia.
• 1944 – Conselho Nacional de Política de Desenvolvimento Industrial e Comercial e Serviço de 
Expansão do Trigo.
• 1945 – Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc).
É notório que esse amplo conjunto de medidas revela ações para desenvolvimento econômico 
comercial, industrial e áreas afins. Um especial destaque deve ser dado ainda à área de burocracia 
e estatística, considerando que todas essas questões eram fundamentais para o controle e para o 
estabelecimento de um crescimento real de sua tabulação. “Governar com números” era o lema para 
garantir o conhecimento central ao direcionamento das ações econômicas do país. A racionalização 
foi uma temática chave da Era Vargas. Ainda, podem ser mencionados os esforços para renegociar a 
dívida externa. E isso foi refeito em 1940, para que houvesse prestações mais plausíveis na negociação 
conduzida por Oswaldo Aranha nos Estados Unidos.
Claro que, ao mesmo tempo, uma das questões que mais contribuiu para o crescimento industrial do 
país foi o aproveitamento da conjuntura favorável gerada pela Segunda Guerra Mundial (1939‑1945).
103
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
5.1 O Brasil e a Segunda Guerra Mundial
A Segunda Guerra Mundial foi o maior conflito que o homem já viu. Foi uma guerra total em todos 
os seus sentidos. Em todos os continentes havia mobilização e a expectativa de que algum tipo de 
ataque poderia ocorrer a qualquer momento. Houve mais de 50 milhões de mortos, sendo que, pela 
primeira vez na história, mais civis perderam a vida do que militares.
Para alguns historiadores, nunca ocorreram duas guerras, pois a Segunda Guerra Mundial foi 
desdobramento direto da Primeira. Um longo e desgastante conflito estava em seu derradeiro momento, 
em 1918, quando os alemães perceberam que a entrada dos Estados Unidos na guerra havia trazido muitos 
homens e enorme quantidade de suprimentos. E, assim, decidiram assinar o armistício imaginando um 
tratado de paz sem vencedores e nem vencidos, já que nenhum de seus territórios foi invadido nesse 
confronto (ou seja, todas as ações da guerra foram empreendidas pelo avanço alemão). No entanto, não foi 
isso que ocorreu. O Tratado de Versalhes procurava, ao máximo, humilhar a Alemanha, pois garantiu uma 
pesada indenização, a perda de territórios e a desmilitarização do país.
Os problemas econômicos do pós‑guerra acentuados pela crise de 1929, além do nacionalismo 
frustrado, foram os fatores centrais para a formação de regimes totalitários que entendiam que a guerra 
fazia parte da ascensão de seus impérios. Daí a formação do Eixo: Alemanha, Itália e Japão.
Figura 33 – A relação estreita ideológica entre o fascismo italiano e o nazismo alemão levou a uma 
enorme aproximação de Mussolini (à esquerda) com Hitler (à direita), formando o Pacto de Aço
Disponível em: https://bit.ly/3XKAr82. Acesso em: 3 fev. 2016.
Em pouco tempo, o Eixo passou a promover um programa expansionista. Os fascistas italianos 
desejavam o controle do Mediterrâneo e dominaram a Albânia e a Etiópia. Os japoneses, por sua vez, 
partiram para a conquista da Manchúria (região oriental da China), depois avançaram para o interior 
do país. Os nazistas, por fim, remilitarizaram a Renânia, depois avançaram em direção à Áustria e aos 
Sudetos (Tchecoslováquia).
104
Unidade II
A guerra chegou quando a Inglaterra e a França se cansaram de sua política de apaziguamento com 
as pretensões expansionistas de Hitler. Assim, quando efetuou a invasão da Polônia, em 1º de setembro 
de 1939,estava iniciada a Segunda Guerra Mundial. Contra o Eixo, formavam‑se os Aliados, naquele 
momento, liderados por Inglaterra e França.
Logo, Hitler promoveu uma enorme expansão, dominando a Polônia e dividindo o território com 
a URSS, conforme o acordo secreto de Ribbentrop‑Molotov, através da tática da guerra relâmpago 
blitzkrieg, uma ação coordenada que ataca com todos os meios possíveis um ponto dos inimigos 
para quebrar a linha de defesa e possibilitar, a partir dali, o rápido domínio do adversário. A seguir, 
a Alemanha continuou sua dominação de territórios com a conquista da Noruega, Dinamarca, 
Bélgica e Holanda.
A guerra portanto começou em 1939 como um conflito puramente 
europeu e, de fato, depois que a Alemanha entrou na Polônia, que 
foi derrotada e dividida em três semanas com a agora neutra URSS, 
como uma guerra puramente europeia ocidental de Alemanha contra 
Grã‑Bretanha e França. Na primavera de 1940, a Alemanha levou de 
roldão a Noruega, Dinamarca, Países Baixos, Bélgica e França com 
ridícula facilidade, ocupando os quatro primeiros países e dividindo a 
França numa zona diretamente ocupada e administrada pelos alemães 
vitoriosos, e num governo satélite francês (seus governantes, oriundos 
dos vários setores da reação francesa, não queriam mais chamá‑la de 
república), com capital num balneário provinciano, Vichy.
[...] Para fins práticos, a guerra na Europa acabara (HOBSBAWM, 1995, p. 46).
Logo, no entanto, novos contornos da guerra seriam vistos. Em 22 de junho de 1941, Hitler decidiu 
abrir uma nova frente de confronto com a invasão da URSS (Operassão Barbarossa). Além disso, ajudaram 
seus aliados italianos nos confrontos da África com a Afrika Korps, e ainda havia o apoio do Japão. Aqui, 
os americanos passaram a ficar bastante temerosos:
Os EUA encararam essa extensão do poder do Eixo no Sudeste Asiático 
como intolerável, e aplicaram severa pressão econômica sobre o Japão, cujo 
comércio e abastecimentos dependiam inteiramente das comunicações 
marítimas. Foi esse conflito que levou à guerra entre os dois países. O 
ataque japonês a Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941 tornou a guerra 
mundial. Dentro de poucos meses, os japoneses tinham tomado todo o 
Sudeste Asiático, continental e insular, ameaçando invadir a Índia a partir 
da Birmânia no Oeste, e o vazio Norte da Austrália a partir da Nova Guiné 
(HOBSBAWM, 1995, p. 47‑48).
105
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Figura 34 – O ataque japonês a Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, justificou a entrada dos EUA na guerra
Disponível em: https://bit.ly/3Fd0e1B. Acesso em: 3 fev. 2016.
Antes, propriamente, da entrada dos EUA na guerra já havia uma forte relação ideológica entre, de 
um lado, os defensores da extrema direita nazifascista e, de outro lado, os que se mantinham firmes nas 
ideias democráticas dos aliados, França e Inglaterra, apoiados então pelos Estados Unidos.
Umas das questões interessantes à nossa análise é a criação de uma Política de “Boa Vizinhança” 
na América Latina. Anunciada pelo presidente Franklin Roosevelt, em 1934, antes da Segunda Guerra, 
cresceu em importância com a entrada dos EUA na guerra e o temor de que os alemães pudessem 
garantir algum aliado no continente e trazer o confronto para o território americano.
De início, o projeto era garantir a disseminação da cultura americana, mas logo ganhou ainda maior razão 
de existência com o grande conflito. Nesse sentido, os estúdios Walt Disney passaram a atuar diretamente 
para garantir a simpatia nos países latino‑americanos. No Brasil, a figura criada foi a do Zé Carioca, a partir 
do filme Alô, Amigos, de 1942, em que o brasileiro apresenta ao Pato Donald a cidade do Rio de Janeiro. Foi 
uma produção patrocinada por Rockefeller, grande símbolo das relações entre Brasil e EUA. Trata‑se de uma 
personagem caracterizada pela malandragem, pela preguiça e pela “embriaguez” do samba:
Disney foi um grande colaborador no esforço de guerra. Muitos dos seus 
desenhos animados foram financiados pelo Office de Rockefeller. Ao menos 
dois de seus filmes comerciais envolveram a América Latina. Ambos fazem 
um tour pelo subcontinente, com uma parada mais demorada no Brasil. 
O primeiro foi Alô, Amigos, que entrou em cartaz em 1942 nos cinemas 
das grandes cidades brasileiras. Foi nesse filme que Donald apareceu 
contracenando com Zé Carioca pela primeira vez. Um ano depois, o estúdio 
lançou Os Três Cavaleiros, com vários animais representando regiões da 
América Latina, mas com destaque para Donald e Zé Carioca. Nos dois filmes 
sobre o Brasil, o “nosso esforço de guerra” era reduzido a aulas de manuseio 
de chocalhos, reco‑recos, tamborins e pandeiros.
106
Unidade II
[...]
Se compararmos com o filme analisado a seguir, sobre Donald pagando 
imposto de renda nos Estados Unidos, os que representam o Brasil 
podem ser interpretados como uma forma de “divisão internacional” do 
esforço de guerra. Nós contribuíamos com bens simbólicos que remetiam 
ao prazer, numa espécie de sociologia da preguiça; e eles, com bens 
materiais identificados com o trabalho, com o vigor das fábricas (TOTA, 
2014, p. 132‑133).
Figura 35 – Zé Carioca foi o símbolo central da política norte‑americana 
de criar um símbolo de simpatia dentro do estereótipo do brasileiro
Disponível em: https://bit.ly/3AUCHAa. Acesso em: 3 fev. 2016.
Outra ação cultural importante foi de exportação da cultura brasileira. Isso foi possível a partir da 
figura central de Carmen Miranda:
A celebração da diversidade racial e cultural proporcionou ao país as 
condições para acertar o relógio com a cultura importada dos europeus e 
dos norte‑americanos e colocar a originalidade mestiça no centro de seu 
investimento sociocultural para exportação. Em 1939, o Brasil despachou 
para os Estados Unidos a cantora Carmen Miranda, sua mais bem‑sucedida 
versão internacional. Carmen já havia se transformado na grande estrela 
do disco, do palco e dos cassinos brasileiros, era adorada pelo público, e 
desembarcou em Nova York a convite de produtores norte‑americanos, 
para cantar na revista musical Street of Paris. Reza a lenda que ela levou 
exatos seis minutos para conquistar a Broadway e necessitou de apenas 
um filme, Serenata Tropical, para ganhar fama mundial (SCHWARCZ; 
STARLING, 2015, p. 379).
107
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Figura 36 – Carmem Miranda tornou‑se o grande símbolo da cultura nacional
Disponível em: https://bit.ly/3ubuVhq. Acesso em: 3 fev. 2016.
Vargas, de qualquer forma, se aproveitou ao máximo de tudo que esses anos poderiam lhe proporcionar 
para fazer crescer sua economia industrial. O foco industrial voltado para a guerra (a produção bélica) 
fez com que o país necessitasse suprir uma demanda de, pelo menos, 40%, pois:
[...] tornou‑se difícil importar, não apenas por conta o bloqueio econômico 
britânico, da guerra submarina alemã e da escassez de divisas, mas porque 
o esforço de guerra, em diversas nações, afetou as possibilidades de manter o 
suprimento dos países na periferia da economia mundial (ABREU, 2013, 
p. 192).
 Lembrete
O desenvolvimento industrial do Brasil na Segunda Guerra Mundial 
fez parte da “industrialização por substituição de importação”, típica dos 
períodos de crise na Europa e nos Estados Unidos, e foi de enorme importância, 
não só aqui, mas em outros países da América, como Argentina e México. 
Estabelecia‑se, assim, a industrialização por substituição de importados.
Daí o projeto mais ambicioso de Getúlio começou a ser desenvolvido. A simpatia do presidente com 
o fascismo italiano era evidente e ainda mais clara se fossem observadas as leis do país e suas relações 
políticas. Claro que havia espaço para particularidades aqui produzidas.
De qualquer forma, um conflito na Europa e se propagando para o restante do mundo trazia à tona a 
importância estratégica do Brasil. Seu extenso litoral poderia patrulhar, em grande medida, o Atlântico. 
108
Unidade II
Além disso, as colônias tradicionais de imigrantes,sobretudo italianos e alemães, fomentavam as 
ideias ultradireitistas.
Foi assim que Vargas se aproveitou disso e passou a criar uma política pragmática de jogo duplo. 
Por um lado, parecia apoiar os países do Eixo, pois em janeiro de 1939 oficiais da FAB foram conhecer 
os avanços alemães, sendo recebidos diretamente por Goering e Hitler. Já o ministro Oswaldo Aranha 
foi para os Estados Unidos costurar acordos financeiros com os vizinhos do Norte. Depois foi a vez de 
o Brasil receber visitas. De um lado, Edda Ciano, filha de Mussolini, e, de outro lado, o general Marshall, 
chefe do Estado‑Maior do Exército Norte Americano. Seu projeto mais ambicioso, a construção de uma 
siderúrgica, necessitava de muitos recursos e transferências de tecnologias.
Os militares varguistas que implantaram a Ditadura do Estado Novo 
preocuparam‑se com a industrialização do país e com a produção interna 
de bens de capital, ou seja, de máquinas utilizadas na produção de outras 
máquinas. Para eles, a produção de bens de capital era fator de segurança 
nacional: assim, os militares não dependeriam mais do fortalecimento 
externo para reequipar as Forças Armadas. Além disso, a produção interna 
desses bens daria impulso ao desenvolvimento de outras indústrias e, 
também, condições de autonomia política do país diante das potências 
industrializadas (LOPEZ; MOTA, 2015, p. 666).
Outro exemplo de colaboração com os nazistas foi o caso de Olga Benário. Filha de pais judeus com 
boas posses em Munique, decidiu vir ao Brasil lutar pela revolução socialista. No entanto, a derrocada 
da Intentona Comunista de 1935 fez a militante ser deportada, mesmo grávida. No fim, acabou sendo 
morta em uma câmara de gás.
 Saiba mais
Se você se interessa pela vida de Olga Benário, assista à produção 
cinematográfica a seu respeito:
OLGA. Direção: Jayme Monjardim. Brasil: Europa Filmes; Globo Filmes, 
2004. 141 min.
Para muitos historiadores, de qualquer forma, é evidente que Vargas, apesar de toda sua simpatia 
ideológica ao Eixo, sabia que não poderia entrar em um conflito contra os Estados Unidos. O tradicional 
avanço americano sobre o continente, expresso desde a doutrina Monroe – América para os 
americanos – fatalmente faria com que, em pouco tempo, a guerra se mostrasse desastrosa para o Brasil.
No entanto, o jogo duplo funcionou como forma central de ameaça para o projeto nacionalizante e 
industrializante, inclusive de jogo estratégico para o país.
109
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Como os brasileiros estavam oferecendo bases vitais para a Batalha do 
Atlântico e para a linha de comunicações do norte da África, o governo 
dos Estados Unidos se prontificou a ajudar o esforço de mobilização de 
Vargas. O governo americano já se comprometera a dar assistência ao 
desenvolvimento econômico básico do Brasil em 1940, disponibilizando 
empréstimos de longo prazo do Export‑Import Bank em troca da garantia 
de uso das bases brasileiras. O primeiro grande comprometimento foi um 
empréstimo de 20 milhões de dólares para a nova Companhia Siderúrgica 
Nacional. Esse apoio para investimentos públicos em indústrias de base 
num país subdesenvolvido refletia uma mescla de motivos do ponto de vista 
dos Estados Unidos. De um lado, demonstrava o desejo da administração 
New Deal, de Roosevelt, de dar substância econômica à Política de Boa 
Vizinhança e ao mesmo tempo representava uma tentativa de concretizar 
antigas ambições americanas de maior penetração econômica na América 
Latina por intermédio da nova e heterodoxa decisão americana de dar ajuda 
a programas de industrialização patrocinados pelo Estado. A disposição 
americana foi, sem dúvida, fortalecida pela informação de que Vargas 
negociara ativamente com a Alemanha nazista em busca de assistência para 
a criação da indústria siderúrgica (SKIDMORE, 2010, p. 77).
Então, com o empréstimo e apoio tecnológico americano, Vargas conseguiu concretizar o projeto de 
criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1942.
Figura 37 – O aço tornou‑se rapidamente o modelo de desenvolvimento industrial proporcionado por Getúlio Vargas
Disponível em: https://bit.ly/3FmjQk9. Acesso em: 3 fev. 2016.
Outra concepção bastante importante desse projeto de desenvolvimento industrial nacionalista 
com intervenção direta do Estado foi a Companhia Vale do Rio Doce, em virtude do contexto mundial 
da guerra.
110
Unidade II
[...] a Companhia Vale do Rio Doce, outra sociedade de economia mista 
emblemática no campo da mineração de ferro, teve origem em decisões 
externas e não em consequência de qualquer visão estratégica do governo 
quanto ao papel das empresas controladas pelo Estado. Preocupações 
britânicas quanto à disponibilidade de minério de ferro de baixo teor de 
fósforo levaram a negociações que redundaram na solução do impasse com 
relação aos direitos de mineração detidos pela Itabira Iron, na obtenção de 
empréstimo norte‑americano para a modernização da ferrovia Vitória‑Minas 
e na criação da CVRD, em 1942 (ABREU, 2013, p. 95).
De qualquer forma, é inegável o quanto a ajuda americana foi crescente nesse contexto, mas, como 
se vê, não foi o único processo em curso para o crescimento industrial de um país essencialmente 
agrário agarrado, há até tão pouco tempo, na riqueza que se esperava ser eterna do café.
Em 1942, o governo americano preparou uma missão de apoio ao país, tendo como chefe Morris 
Llewellyn Cooke, que fez um amplo estudo dos recursos brasileiros e de suas enormes potencialidades, 
tanto de exploração como de investimentos.
Figura 38 – A imagem reproduz o encontro de Roosevelt, Vargas e militares norte‑americanos e brasileiros na base militar 
norte‑americana Parnamirim Field, cedida pelo Brasil, em Natal
Disponível em: https://bit.ly/3XHeKFY. Acesso em: 3 fev. 2016.
Certa relação de proximidade do Brasil com os Estados Unidos, sobretudo a partir de dezembro de 
1941, quando ocorreu o ataque de Pearl Harbor, começou a ser desenhada por Vargas em um telegrama 
ao presidente Roosevelt:
Ao tomar conhecimento da agressão sofrida por parte do Japão, convoquei 
membros do governo e tenho a honra de informar a V. Ex.a que ficou 
resolvido, por unanimidade, que o Brasil se declarasse solidário com os 
Estados Unidos, coerente com as tradições e compromissos na política 
continental (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 427).
111
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Apesar do apoio dado aos americanos e já do recebimento dos benefícios em torno disso, o Brasil 
procurou manter sua neutralidade no conflito até 1942. Em janeiro de 1942, o ministro das Relações 
Exteriores, Oswaldo Aranha, anunciou o rompimento das relações diplomáticas com o Eixo:
As conquistas desta conferência não as poderão apreciar devidamente 
os contemporâneos. As grandes obras só podem ser bem compreendidas 
quando o tempo dá à inteligência a sua perspectiva divina e a sua eterna 
luz. Desde já, porém, podemos afirmar que transformamos uma utopia em 
realidade, e que já esplendem, realizados em sua plenitude, o anseio, o sonho 
e o ideal de nossos maiores.
A paz dos povos e a união das nações na Ásia, na África e na Europa é a 
história mesma de uma sucessão trágica de fracassos e de esforços vãos dos 
homens, em séculos de porfia, de desenganos e de conflitos.
Os povos americanos a realizarem, e nós, seus chanceleres, a confirmamos 
hoje, porque proscrevemos da comunhão continental a violência, o império, o 
predomínio, afim de dar lugar à confiança, à solidariedade, à justiça, colunas 
sobre as quais repousam a igualdade das nações americanas, a independência 
de seus povos e a liberdade de todos nós, cidadãos da América.
[...]
A neutralidade do Brasil foi sempre exemplar, mas nossa solidariedade com a 
América é histórica e tradicional. As decisões da América sempre obrigaram 
o Brasil e, mais ainda, as agressões à América. Essa foi a vossa História, 
essa há de ser a nossa História, porque o curso de tempo não reduziu, 
antes aumentou nos brasileiros, não só a confiança em si mesmos,mas a 
consciência da solidariedade com seus irmãos americanos.
Essa é a razão pela qual, hoje, às 18 horas, de ordem do senhor presidente 
da República, os embaixadores do Brasil em Berlim e Tóquio e o encarregado 
de Negócios do Brasil em Roma passaram nota aos governos junto aos quais 
estão acreditados, comunicando que, em virtude das recomendações da 
III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas 
Americanas, o Brasil rompia suas relações diplomáticas e comerciais com 
a Alemanha, a Itália e o Japão (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 452‑454).
É muito interessante perceber o quanto o discurso envolvia um pan‑americanismo em contraposição 
às relações estabelecidas na Ásia, África e Europa. As relações de defesa seriam iniciadas justamente pelo 
ataque a um dos seus membros, ao mesmo tempo que a decisão da América unida trazia uma força 
muito maior, mais pertinente e, inclusive, de significado simbólico: a união da liberdade, solidariedade, 
justiça e igualdade contra a ditadura e o domínio dos povos.
112
Unidade II
A resposta não demorou a chegar. Em fevereiro, surgiram as notícias do afundamento de navios 
brasileiros por submarinos alemães. Conforme descreve o depoimento do radiotelegrafista Francisco 
Lustosa Nogueira:
Eu, abaixo assinado, Francisco Lustosa Nogueira, 2° radiotelegrafista do S.S. 
Olinda, de propriedade da Companhia de Comércio e Navegação, declaro ao 
senhor cônsul do Brasil em Norfolk o seguinte: mais ou menos às 12:40 hora do 
dia 18 achava‑me eu na estação do rádio, de quarto, quando fui avisado pelo 
Comissário que o submarino se acha na superfície do mar, a uma milha mais 
ou menos do navio, do lado boreste à retaguarda. O submarino emitia sinais 
sonoros em código Morse, telegrafia visual. Incontinente voltei à estação, 
pois tinha deixado a mesma para ver o submarino, para emitir o S.O.S caso 
necessário. Infelizmente um dos projéteis do submarino inutilizou a antena 
do rádio, sendo desse modo impossível qualquer providência por intermédio 
da estação, o submarino já tinha dado uns sete tiros dos quais dois ou três 
acertaram o alvo, na popa, à meia‑nau e na antena. Por ordem do imediato, 
a quem estava designado, ajudei a baixar a baleeira n° 2 e pusemo‑nos ao 
mar, eu e mais uns 21 homens. Nesse ínterim o submarino cessou de ativar 
para dar tempo à tripulação pôr‑se ao mar. A baleeira em que eu me achava 
foi descida em primeiro lugar. Fomos descendo ao sabor das ondas, digo, 
a baleeira com a tripulação e fomos abordados pelo submarino. O capitão 
alemão escolheu‑me para ir a bordo da nave alemã e fez‑me diversas perguntas 
entre as quais: de onde vínhamos, para onde íamos, qual a carga do navio, 
se levávamos material de guerra. Disse‑me depois que queria conversar com 
o comandante do navio brasileiro. Foram depois batidas duas fotografias, 
uma na baleeira com os tripulantes e outra da minha pessoa. Cinco minutos 
depois abordava a baleeira em que se achava o meu comandante. Logo após 
ter conversado com o mesmo e deixado a baleeira seguir o seu rumo, vi o 
submarino recomeçar o seu ataque. Atirou umas 15 vezes mais ou menos 
com três e quatro minutos de intervalo de um tiro para outro. Diversos 
projéteis já tinham atingido o navio, que se incendiava e adernava pouco 
a pouco. A tripulação alemã, prevendo a chegada de um avião americano, 
fez movimentar o submarino, submergindo. Já tínhamos traçado o rumo e 
remávamos. Pouco depois apareceu um avião americano que percorreu os 
arredores. Apareceram, cinco minutos após, mais dois aviões americanos, 
um dos quais, em seguida, nos jogou uma boia com as palavras “vem socorro”. 
Já se passava mais ou menos 1:00 hora e o nosso navio ainda não tinha 
afundado, embora tivesse adernado bastante. Depois disso afundou pouco 
a pouco de tempo com a quilha fora d´água. Depois desapareceu. Nesse 
interim dois aviões já se tinham ido, ficando aquele que nos jogou a boia, o 
qual também mais tarde desapareceu, depois de fazer o possível para chamar 
a atenção de um outro navio que passava muito longe. Sós, continuamos a 
navegar em direção a costa americana. Já noite, muito frio e com o mar de 
vez em quando invadindo a baleeira, avistamos, mais ou menos às 20:30 
113
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
horas, um holofote. Pensamos imediatamente em um socorro. Imagino que 
fosse um navio de guerra americana que estivesse à nossa procura. O dito 
navio soltou três foguetes luminosos, pois havia muita cerração, tendo ido 
embora sem nos ter visto, continuamos navegando até a madrugada em 
direção à costa quando um vento contra começou a nos levar para o lugar 
de onde tínhamos saído. Mais ou menos às 8:00 horas avistamos um navio 
de pesca, pequeno. Fizemos sinais, mas o barco não nos veio socorrer. Uns 
15 ou 20 minutos depois avistamos um destroier que aproou para o nosso 
lado. Quinze minutos mais tarde e o mesmo destroier nos socorria. Além do 
que expus acima só tenho a acrescentar a boa acolhida que nos foi dada 
pela tripulação do destroier e os elementos da base americana em Norfolk.
Norfolk, 21 de fevereiro de 1942 (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 434‑435).
A guerra chegava ao Atlântico Sul. A ameaça passava a ser real e o temor de novas ações era 
cada vez maior. Quando o Brasil decidiu entrar na guerra ao lado dos Aliados, uma das preocupações 
emergenciais para os suprimentos bélicos era a borracha para os Estados Unidos. A desestruturação do 
mercado mundial reativou a produção na Amazônia. Com isso, o governo brasileiro criou, em 1942, o 
Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (Semta). Todos seriam voluntários 
e grandes cooperadores da causa nacional ao decidir por essa iniciativa econômica de migração. O ciclo da 
borracha da virada do século XIX‑XX durou pouco tempo ali em virtude da competitividade criada pelas 
produções implantadas na Ásia, mas agora dominadas pelos japoneses. Ao mesmo tempo, a esperança 
de uma vida melhor, mais uma vez, gerou um significativo fluxo de migrantes do Nordeste – pelo menos 
55 mil trabalhadores foram recrutados pelo Semta. No entanto, as condições eram extremamente 
precárias. Acredita‑se que mais de 20 mil pessoas perderam a vida no que ficou conhecido como a 
Batalha pela Borracha.
Os nordestinos que foram trabalhar na borracha na esperança de uma vida melhor e contribuir 
para a vitória aliada contra o nazifascismo no mundo sofreram com as mazelas de uma produção que 
se esperava rápida e as péssimas condições ali estabelecidas. Ficaram conhecidos como os “soldados 
da borracha”.
Há de se mencionar que ali morreram muito mais brasileiros do que aqueles que foram com a FEB 
lutar na Itália. Nesse sentido, depois de 70 anos do fim da guerra, o governo brasileiro aprovou uma 
indenização aos sobreviventes e aos descendentes.
114
Unidade II
 Saiba mais
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, leia:
NECES, M. V. A heroica e desprezada batalha da borracha. História Viva, 
[s.l.]. 2014. Disponível em: https://bit.ly/3XHnJHm. Acesso em: 3 fev. 2016.
REIS, L. Após 70 anos, “soldados da borracha” são indenizados. Folha de 
São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3u85MUK. Acesso 
em: 3 fev. 2016.
AGÊNCIA SENADO. Soldados da borracha já recebem indenizações. 
Senado Federal, Brasília, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3EGBu04. 
Acesso em: 3 fev. 2016.
O acordo com os americanos garantiu o estabelecimento de bases navais e aéreas no território 
brasileiro de Natal, Belém, Salvador e Recife. Um dos momentos marcantes foi a visita do presidente 
Roosevelt, quando foi prometido a Vargas um lugar de membro fundador na ONU e, em troca, o 
presidente brasileiro aceitou enviar tropas de combate à Europa.
E, assim, organizava‑se a preparação de tropas do único país da América Latina a enviar exército ao 
conflito. Em novembro de 1943, surgia a Força Expedicionária Brasileira (FEB):
Art. 1° É criada a Força Expedicionária Brasileira, recrutada das Forças 
Armadas Nacionais, destinadaa tomar parte, oportunamente, em operações 
de guerra fora do continente, ao lado dos exércitos dos Estados Unidos da 
América, nas condições reguladas pelos respectivos governos.
Art. 2° A Força Expedicionária Brasileira, que se designará abreviadamente 
“FEB”, compor‑se‑á, inicialmente, de um corpo de exército de três divisões de 
infantaria e dos elementos orgânicos de corpo de Exército, inclusive aviação 
e os órgãos de comando e de serviços (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 462).
Ficava evidente a relação direta do destacamento militar com os Estados Unidos. Além disso, além da 
infantaria, seria formado corpo de aviação e dos mais variados serviços necessários à guerra. O lema dos 
soldados brasileiros surgiu, segundo a tradição, de uma frase comum à época: “o Brasil só irá à guerra 
no dia em que a cobra fumar”. Daí a FEB se apresentar com “A cobra está fumando”.
115
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Figura 39 – O símbolo da FEB com a cobra fumando
Disponível em: https://bit.ly/3GSGNMQ. Acesso em: 3 fev. 2016.
Figura 40 – Senta a Pua – emblema da Força Aérea Brasileira (FAB)
Disponível em: https://bit.ly/3UlNk5E. Acesso em: 3 fev. 2016.
Os brasileiros que formaram o contingente FEB estavam ligados à baixa condição social:
Como em situações anteriores, a maioria dos soldados provinha de camadas 
mais pobres da população. A maioria dos filhos dos setores médios e altos 
da população encontrou meios para evitar a participação na guerra: rapazes 
em idade de serem convocados casavam‑se às pressas, subornavam os 
recrutadores ou conseguiam empregos no governo e eram repentinamente 
requisitados a permanecer no Brasil. O mesmo aconteceu no corpo de 
oficiais (LOPEZ; MOTA, 2015, p. 668‑669).
Ao todo, a FEB contou com 23.334 homens, sendo que, efetivamente, participaram 15.000. 
Concentraram suas ações na Itália, em apoio aos americanos em Monte Castello, maior batalha, ou 
ainda Castelnuovo ou Montese. O comandante foi Mascarenhas Morais. Futuras importantes figuras do 
país participaram, como Celso Furtado, Rubem Braga, Jacob Gorender ou mesmo o professor Eurípedes 
Simões de Paula, da USP.
116
Unidade II
Figura 41 – Mapa das operações com apoio da FEB na Itália
Disponível em: https://bit.ly/3VpwGUk. Acesso em: 3 fev. 2016.
Figura 42 – Campanha de arrecadação de fundos para os aliados
Disponível em: https://bit.ly/3ERjFeO. Acesso em: 3 fev. 2016.
Há de se destacar também que a FEB contava com a participação de mulheres enfermeiras que viram 
e sofreram o horror da guerra, principalmente no transporte de feridos e nos primeiros atendimentos 
em pleno voo.
117
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
A Força Aérea Brasileira (FAB) foi treinada pelos americanos e chegou a contar com 400 homens, 
dentre os quais estava o filho mais velho do presidente, Lutero Vargas. Eles deram suporte às atividades 
dos aliados e defenderam o litoral do Brasil. No total, oito pilotos perderam a vida.
Um dos marcos da participação do Brasil na guerra foi a composição “Canção do Expedicionário 
Brasileiro”:
Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais.
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Do pampa, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios,
Da minha terra natal.
[...]
Nossa Vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil! (ALMEIDA; ROSSI, s.d.).
5.2 Redemocratização
A participação do Brasil na guerra, apesar de todo heroísmo e defesa da pátria tantas vezes atribuída 
aos valorosos soldados da FEB, fez Vargas perder o controle do país. Em pouco tempo, a associação da 
Segunda Guerra Mundial com democracia e contra a ditadura no mundo logo foi também feita no país.
Como os brasileiros lutavam pela liberdade no mundo sem vivê‑la por aqui? O maior documento, 
nesse sentido, foi o manifesto dos mineiros de 24 de agosto de 1943:
Este não é um documento subversivo; não visamos agitar nem pretendemos 
conduzir. Falamos à comunidade mineira sem enxergar divisões ou 
parcialidades, grupos correntes ou homens. Assim como não pretendemos 
conduzir, não temos o propósito de ensinar. Mas ensinar é uma coisa e 
recordar, retomar consciência de um patrimônio moral e espiritual, que seria 
perigoso considerar uma vez por todas como definitivamente adquirido, é 
outra muito diferente.
118
Unidade II
[...]
A democracia não era mais, há alguns anos passados, um bem, 
assegurado. Vivia ameaçada de dentro e de fora das nações, e em muitos 
países falhou completamente.
Em consequência desses acontecimentos, que atingiram várias das maiores 
nações do Ocidente, o povo de Minas Gerais como, afinal, o de todo o Brasil, 
vê‑se forçado a uma atitude de total retraimento e absoluto mutismo.
[...]
Se lutamos contra o fascismo, ao lado das Nações Unidas, para que a 
liberdade e a democracia sejam restituídas a todos os povos, certamente 
não pedimos demais reclamando para nós mesmos os direitos e as garantias 
que as caracterizam. A base moral do fascismo assenta sobre a separação 
entre os governantes e os governados, ao passo que a base moral e cristã 
da democracia reside mútua e confiante aproximação dos filhos de uma 
mesma pátria e na consequente reciprocidade da prática alternada do poder 
e da obediência por parte de todos, indistintamente (BONAVIDES; AMARAL, 
2002b, p. 464‑468).
Os ideais democráticos estavam expressos justamente na oposição ao mal ditatorial da opressão 
causada pelo fascismo. A censura e a propaganda oficial já não conseguiam calar a voz dos anseios por 
uma política com participação popular. Além disso, deve‑se ter claro que já se passavam 8 anos sem 
nenhum tipo de levante comunista para tentar perpetuar, ainda mais, a manutenção de um regime de 
defesa da ordem.
Com a aproximação da vitória dos Aliados cada vez mais evidente em 1945, já que Hitler estava 
muito perto de ser completamente cercado, após o sucesso nas três frentes de contra‑ataque: Oeste, 
com o desembarque na Normandia (Dia D – 6 de junho de 1944); Sul, com os avanços nas campanhas 
na Itália (das quais o Brasil participava); e Leste (cada vez mais reconquistado por Stalin). Assim, Vargas, 
em pouquíssimo tempo, contemplou o aumento da pressão pela democracia.
Em janeiro de 1945, o Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores declarava a luta por completa 
liberdade de expressão e também eleições livres. Assim, o presidente se viu obrigado a autorizar em 
28 de fevereiro desse ano um Ato Adicional à Constituição de 1937, que previa que em 90 dias sairia 
a data das próximas eleições. Era o princípio da redemocratização. Logo de início, surgiu o primeiro 
candidato para as eleições: o brigadeiro Eduardo Gomes, antigo participante do movimento tenentista, 
mas que não havia defendido o golpe do Estado Novo.
119
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Figura 43 – A propaganda da campanha de Eduardo Gomes rememora que, em 1937, 
o país acabou sofrendo com o golpe do Estado Novo e o fim da democracia
Disponível em: https://bit.ly/3Uh22uP. Acesso em: 3 fev. 2016.
Os estudantes surgiram no cenário político desse contexto com a União Nacional dos Estudantes (UNE), 
que logo fez uma manifestação também em defesa da democracia.
Os partidos políticos passaram a ser estabelecidos. Em 18 de abril foi declarada a autorização 
do pluripartidarismo (regulamentado em 28 de maio). Já nesse primeiro momento surgiu a União 
Democrática Nacional (UDN), que era a reunião de uma oposição liberal que defendia diretamente 
a democracia. Na verdade, defendiam também até algum tipo de golpe contra a perpetuação varguista 
ou qualquer ação golpista do comunismo. Na economia, eram favoráveis ao uso do capital estrangeiro 
“necessário para os empreendimentos da reconstrução nacional”. Escolheram apoiar a candidatura do 
brigadeiro Eduardo Gomes.
Ainda nesse mês, foi estabelecida a anistia dos presos políticos,garantindo, por exemplo, a libertação 
de Luís Carlos Prestes e de seu retorno ao jogo político do país. Sendo assim, surgiu o Partido Comunista 
Brasileiro (PCB), tendo como candidato o engenheiro Yedo Fiuza.
Em maio, de 1945, finalmente saiu a Lei Eleitoral e a data marcada para as eleições: 2 de dezembro 
daquele ano. Em junho, foi criado o Partido Social Democrático (PSD), liderado por Benedito Valadares 
e que se tornaria o maior partido do período. Em agosto, nasceu o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), 
presidido por Vargas e que se colocava como perpetuador de todos os avanços do país de 1930 a 1945, ou 
seja, da indústria, do trabalhismo e do sindicalismo. Em julho, por fim, os integralistas se reorganizaram 
sob a liderança de Plínio Salgado e a fundação do Partido de Representação Popular (PRP).
Nas discussões dos candidatos à Presidência, de início, houve um alvoroço. Não cabia, para muitos, 
a possibilidade de Getúlio se candidatar – afinal, já estava no poder por quinze anos. Em julho, uma 
120
Unidade II
conversa por cartas mostra o apoio de Vargas à candidatura oferecida para um dos homens próximos a 
ele, o general Eurico Gaspar Dutra, apoiado pelo PSD. Em 28 de julho de 1945, Dutra escrevia:
Como Vossa Excelência bem sabe, as delegações credenciadas pelas mais 
expressivas forças do país, reunidas em notável convenção nacional, nesta 
capital, decidiram homologar meu nome para honrosa investidura de 
candidato à presidência da República, nos pleitos que se vão processar em 
2 de dezembro do corrente ano.
Havendo aceito tão nobre quão distinguida prova de confiança das forças 
majoritárias do Brasil, cumpre‑me, em consequência, o dever de iniciar, de 
logo, a campanha de minha candidatura através dos estados da Federação, 
tarefa por demais absorvente, que requererá não apenas todas as minhas 
horas de atividade, como por completo minha identificação com os 
problemas políticos em equação no âmbito de toda a nação, impedindo‑me 
de prosseguir no exercício normal de minhas funções ministeriais.
[...]
Encerrando minha longa gestão ministerial, permita‑me Vossa Excelência 
lhe refirme meus protestos de profunda admiração e de grande e franca 
estima, assegurando‑lhe tudo haver feito, com lealdade e que estivesse 
ao meu alcance, pelo fortalecimento e pelo engrandecimento do Exército, 
dentro aliás, de suas diretrizes governamentais e sob a inspiração de meus 
mais íntimos sentimentos de soldado e cidadão (BONAVIDES; AMARAL, 
2002b, p. 595).
O tom, de todo elogioso, e, ao mesmo tempo, a necessidade da saída do cargo de ministro da Guerra, 
receberam rápida resposta de Getúlio, escrita em 1º de agosto:
Acuso recebimento da sua carta de 28 do corrente, comunicando‑me a 
resolução de deixar as funções de ministro da Guerra, a fim de iniciar a 
campanha da sua candidatura à presidência da República, de acordo com 
as deliberações das forças políticas reunidas há pouco nesta cidade, em 
convenção nacional. Diante dos motivos invocados, só me cabe concordar e 
acatar os nobres propósitos da resolução de apresentar‑se aos sufrágios dos 
seus concidadãos para concorrer a tão alta investidura, para a qual possui, 
sem dúvida, títulos incontestáveis de homem público.
Ao agradecer os grandes serviços que prestou ao meu governo como ministro 
da Guerra, durante um longo período e em momentos graves da vida nacional, 
com toda dedicação às responsabilidades do cargo e aos superiores interesses 
do país, quero formular sinceros votos pelo êxito da campanha que vai 
empreender e na qual estou certo o inspiram sentimentos e ideias de um 
patriotismo esclarecido e construtivo (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 596).
121
REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Claro que, se as condições permitissem, Getúlio gostaria de continuar no poder. Já havia demonstrado, 
e muito, sua forma de ser. Na aparente impossibilidade, respeitar um candidato próximo seria algo 
sensato. No entanto, essa impossibilidade foi, a princípio, muito mais “aparente”. Aos poucos, surgiu o 
movimento queremista.
O populismo varguista, mais uma vez, mostrou sua força na agitação dos populares. Os comunistas 
e os sindicatos levaram os trabalhadores a defender a Assembleia Constituinte com a continuidade de 
Getúlio na política – daí o nome do movimento, “Queremos Getúlio”. Há de se destacar que a determinação 
internacional dos comunistas dizia que todos aqueles que lutaram contra o nazifascismo deveriam ser 
apoiados naquele ano. Isso fez Prestes, mesmo com a perda recente de Olga por Vargas enviá‑la para 
a Alemanha, apoiar Getúlio. E os sindicatos, sob o controle do peleguismo, garantiam o apoio irrestrito 
ao governo, ainda que questões econômicas começassem a dar margem para possibilidades de greves 
no país. As manifestações já eram evidentes em agosto daquele ano. Assim, Vargas, aparentemente 
comovido pelo movimento, discursa em frente a eles:
Ao homem que se aproxima do fim de suas atividades públicas, e que 
outro desejo não tem senão o de recolher‑se à tranquilidade de seu lar, é 
profundamente comovedor e eloquente este movimento a que acabo de 
assistir, do povo da capital da República, símbolo de bravura cívica, de grandeza 
e de entusiasmo. É que eu compreendo o significado desta manifestação. 
Ela constitui uma reação do povo contra as injúrias dos gazeteiros, contra 
aqueles que, cegos pelas paixões políticas, procuram, pela injúria e pela 
facécia, amesquinhar a pessoa do Chefe da Nação. A resposta foi esta: o 
protesto do povo. Estou vingado, porque nenhuma outra vingança desejaria 
exercer.
Eu fiz sempre a política do trabalhador, a política dos homens que trabalham 
e produzem, nos campos e nas cidades, nas oficinas, nos escritórios, nas 
fábricas ou nas estradas de ferro, nos navios, no mar e na terra, nos guichês 
dos bancos e nos estabelecimentos onde trabalha o funcionalismo público, 
em toda parte procurei atender às necessidades dos que trabalham.
[...]
O Brasil adquiriu uma situação invejável de prestigio no conceito internacional, 
pela firmeza com que o governo manteve seus compromissos, junto aos 
aliados, pela cooperação que deu a tudo que lhe foi solicitado e sobretudo 
pela bravura dos seus soldados nos campos de batalha. É preciso, pois, que 
saibamos à altura das circunstâncias e possamos resolver os problemas por 
nós mesmos (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 602‑603).
É emblemática a exaltação do trabalhismo para Vargas, em todas as suas vertentes, com sua defesa 
pelo “protesto do povo”, garantindo que a maior plataforma política dele passasse a ser a relação direta, 
cristalizada e perpetuada, como “pai dos trabalhadores”. Chama a atenção ainda o desejo de que as 
122
Unidade II
relações do país não sejam decididas pelos estrangeiros, mas que a vitória dos Aliados transmita a força 
brasileira para “resolver os problemas por nós mesmos”.
 Observação
O populismo era um elemento extremamente voltado ao nacionalismo. 
Sendo assim, era natural que Getúlio se aproveitasse das relações vitoriosas 
da guerra para que, mesmo em discurso democrático, procurasse se 
perpetuar no poder.
Com a proximidade das eleições, o acordo para a participação de Vargas no pleito era seu licenciamento 
por três meses. O presidente decidiu não ter essa interrupção. Assim, os blocos principais eram, de um 
lado, Eduardo Gomes, da UDN, e de outro lado, Eurico Gaspar Dutra, do PSD – ambos militares, o que 
revela a evidente relação de proximidade, nesse momento, do militarismo com a democracia.
No entanto, o temor de que Vargas preparasse algo contra a disputa democrática se manteve. No 
início de outubro, o presidente conferiu autorização para que também em 2 de dezembro de 1945 
houvesse eleições estaduais – muitos analistas entendiam que trariam grande força a Getúlio.
No dia 25 de outubro, de qualquer forma, a medida mais polêmica de Vargas ganhou corpo: decidiu 
nomear seu irmão Benjamin Vargas chefe de Polícia no Distrito Federal. Estaria o presidente articulando 
para se perpetuar no poder?

Outros materiais