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151 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL Unidade III 7 A CRISE SUCESSÓRIA E OS GOVERNOS DE JK E JÂNIO QUADROS 7.1 Crise sucessória – 1954‑1956 O vice‑presidente Café Filho assumiu a presidência. Ele procurou promover um governo de direita com medidas liberais. E assim se foi o ano de 1954. Em 3 de outubro de 1955, foi realizada a eleição presidencial. Uma aliança entre PSD e PTB formou a chapa de Juscelino Kubitschek (JK) para presidente e João Goulart (Jango) para vice. Com 3.591.409 votos (36%), JK venceu. Juarez Távora, candidato da UDN, ficou com 30% dos votos, Adhemar de Barros, do PSP, ficou com 26% e Plínio Salgado, pelo PRP, ficou com 8%. Figura 51 – Café Filho assumiu a presidência do Brasil após Getúlio Vargas Disponível em: https://bit.ly/3ENxECG. Acesso em: 3 fev. 2016. Houve muita oposição conservadora à vitória eleitoral de JK. Dizia‑se que ele não tinha a maioria dos votos (apenas a maioria simples), o que a Constituição não proibia, e que teria sido apoiado diretamente pelas forças esquerdistas do país associadas a Jango. Em 8 de novembro de 1955, Café Filho deixou a presidência, alegando doença, e passou o poder, de acordo com a Constituição, para Carlos Luz. Lopez e Mota (2015, p. 739) argumentam que: “Café Filho, amedrontado e oportunista, simula um infarto e passa o governo ao udenista mineiro Carlos Luz”. No entanto, Café Filho deixara no Ministério da Guerra o general Teixeira Lott, homem fiel aos princípios da Constituição. Quando Carlos Luz procurou articular um golpe, foi a vez de Lott agir: 152 Unidade III impediu a continuidade de Carlos Luz e também o retorno de Café Filho (também contrário à posse de JK) conduzindo ao poder o vice do Senado Nereu Ramos, em 11 de novembro de 1955. Era o chamado “duplo impedimento”. O país ficou em estado de sítio até a posse de JK. Mais uma vez, escancarava‑se a participação militar no país, muito além de suas funções. Dizem alguns que parte do acordo de Lott para a proteção do futuro governo de JK estava ligado ao apoio do presidente eleito à campanha de Lott para 1960. 7.2 Governo JK – 1956‑1961 Juscelino Kubitschek de Oliveira nasceu em Diamantina, Minas Gerais, em 12 de setembro de 1902. Formou‑se em medicina e como médico atuou até 1940. Foi um político com larga experiência antes de alcançar a presidência (deputado federal, prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Gerais). Figura 52 – Juscelino Kubitschek, presidente do país entre 1956 e 1961 Disponível em: https://bit.ly/3EGQ1c8. Acesso em: 3 fev. 2016. Seu discurso de posse tinha como base a declaração da importância da democracia, agradecendo Nereu Ramos pela transmissão do cargo: Senhor Presidente, Agradeço a honra imensa do gesto protocolar de Vossa Excelência transmitindo‑me a faixa da presidência da República. A sua passagem por esta casa ficará assinalada nos anais da História do Brasil como um dos instantes mais altos da vida cívica deste país. A sua tradição ficará 153 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL imorredoura nos fatos da vida política do Brasil como uma hora solar para a democracia e para as liberdades em nossa pátria. Congratulando‑me com o Brasil por este ato em que se consolida definitivamente a democracia em nossa pátria, quero, senhor presidente, trazer‑lhe neste instante a palavra de agradecimento de milhões de brasileiros que viram na sua atuação a garantia mais eficaz para a consolidação da paz, da liberdade e da democracia (BONAVIDES; AMARAL, 2002d, p. 31). Seu governo foi, para muitos, uma verdadeira “era de ouro do país”. Foi o último presidente a entrar e sair democraticamente transmitindo seu poder até Fernando Henrique Cardoso. Ainda que com certas agitações políticas, foi hábil em unir diferentes grupos e tendências. Um clima de otimismo, de realização de sonhos, de metas até então consideradas inatingíveis, passou a tomar conta de muitos cidadãos brasileiros. O Brasil conquistou, em 1958, o primeiro título mundial de futebol em um esquadrão com a presença do melhor jogador de todos os tempos, Pelé. Figura 53 – A Seleção Brasileira de Futebol, campeã da Copa do Mundo de 1958 Disponível em: https://bit.ly/3OMog6I. Acesso em: 3 fev. 2016. Juscelino também ficou conhecido como “Presidente Bossa‑Nova”, já que a música ganhava projeção nesse contexto. Como explica Jairo Severiano: “Mas, além de nomear um gênero musical, ou melhor, um tipo de samba, a bossa nova é principalmente, como o choro, um estilo, uma maneira de tocar, harmonizar ou cantar qualquer canção” (SEVERIANO, 2013, p. 330). Incluía nomes como Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Moraes e Nara Leão. Apesar de sua curta duração, o movimento esteve presente entre 1958 e 1963, estava associado ao cool‑jazz norte americano e, inegavelmente, influenciava o agito dos jovens. Ao mesmo tempo, rapidamente, passou a estar associado ao consumismo e à modernidade do período. 154 Unidade III Figura 54 – No governo JK cresceu consideravelmente o desenvolvimento dos eletrodomésticos no país. A propaganda da enceradeira, na revista O Cruzeiro, de 11 de julho de 1959, revela o quanto, naquela sociedade, o serviço doméstico estava associado às mulheres Disponível em: https://bit.ly/3OMltdO. Acesso em: 3 fev. 2016. A palavra‑chave de todo o governo de JK foi desenvolvimentismo, associado diretamente ao crescimento industrial, daí seu slogan de campanha tão famoso: 50 Anos de Progresso em 5 Anos de Governo. Para que tal ambição fosse possível, criou o Plano de Metas. Eram 31 objetivos, divididos em seis áreas de atuação: energia, transportes, alimentação, indústria de base, educação e a construção de Brasília (a metassíntese). O alicerce era o que chamou de “capitalismo associado” (ou também chamado de nacional‑desenvolvimentismo), ou seja, o Estado deveria intervir no desenvolvimento da indústria de base, sobretudo em siderúrgica, estradas e energia, ao passo que as empresas privadas (nacionais ou estrangeiras), por sua vez, deveriam ter condições de promover a indústria de bens de consumo, principalmente automóveis, eletrodomésticos e telefonia. Para Juscelino, “o que interessava era ‘onde está a fábrica’ e não ‘onde mora o acionista’”, como comentou seu economista Roberto Campos (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 422). Não é à toa que JK é associado ao entreguismo liberal, pois facilitou a chegada das multinacionais para o País, ainda que com certas ações semelhantes ao nacionalismo getulista. Para garantir o desenvolvimento econômico, utilizou largamente a instrução 113 da Superintendência da Moeda e Crédito (Sumoc), já baixada no governo de Café Filho, favorecendo a importação de equipamentos industriais para garantir os maquinários e a entrada de capital estrangeiro em busca de um rápido crescimento do setor. Em 1959, rompeu com o FMI, que exigia, cada vez mais, o controle dos gastos públicos. O desenvolvimentismo era pensado até mesmo para o problema crônico da seca no Nordeste – em 1959 criou a Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Na prática: O Plano de Metas viabilizou as condições para o ingresso do Brasil num estágio avançado de industrialização, mas sem criar condições reais para isso. Na pressa de mudar o patamar de desenvolvimento do país, em apenas cinco anos, Kubitschek improvisou: investiu na aceleração do crescimento sem avaliar o financiamento do processo. E optou pelo atalho, facilitando a entrada de capitais externos no país por meio da concessão de 155 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL privilégios fiscais e econômicos, e aceitando depender de financiamentos internacionais para acelerar o crescimento industrial. Os atalhos acarretaram em três tipos de prejuízo. O primeiro foi a relativa facilidade com que empresas estrangeiras assumiram o controle de setores do desenvolvimento econômico brasileiro. O segundo veio com o aumento constante dos déficits da balança de pagamentos, seguido da consequente ampliação da dívida externa. O terceiro resultouda decisão de crescer com inflação (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 423). O setor de alimentação foi deixado de lado porque envolvia a reforma agrária, e o presidente percebeu que o Congresso podia não aprovar o Plano de Metas em virtude histórica contrária à permissão de mudança nas relações do campo no país. A solução foi então abrir um novo espaço para as questões do campo: As mobilizações dos trabalhadores rurais reivindicavam terras e direitos. A administração de JK, por sua vez, via no campo a parte atrasada e tradicional do Brasil, não apresentava solução para a questão agrária e considerava como alternativa deslocar populações da área rural e absorvê‑las nas cidades. O descompasso era grande e de difícil solução. Ainda em 1956, Juscelino recorreu ao Plano de Metas e fez da construção de Brasília a metassíntese: uma cidade inteiramente planejada, que pretendia representar o esforço de afirmação da nacionalidade e o desejo de integração do interior ao centro, do país ao mundo, da tradição ao moderno. A construção de Brasília forneceu ao governo de Kubitschek e ao Plano de Metas um símbolo compreensível pela população (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 426). Esse símbolo de modernidade e integração teve seu projeto arquitetônico planejado por Oscar Niemeyer e seu projeto urbanístico, por Lúcio Costa. Figura 55 – JK com os arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer discutindo o projeto de Brasília Disponível em: https://bit.ly/3EQQcld. Acesso em: 3 fev. 2016. 156 Unidade III Na realidade, a promessa de se construir uma capital planejada no interior do país já estava estabelecida na Constituição de 1891: “Art. 3º – Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela estabelecer‑se a futura Capital federal” (BRASIL, 1891). Inegavelmente, nesse sentido, JK foi muito corajoso e ambicioso ao estabelecer tão grande sonho a ser efetuado em seu governo. Não era uma demanda popular ou mesmo objeto de debate político. Para agilizar a burocracia, criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), com sua chamada “administração paralela”, sob a direção de Israel Pinheiro. Saiba mais Para saber mais sobre todo o processo e discussão acerca de Brasília, leia: VESENTINI, J. W. A capital da geopolítica. São Paulo: Ática, 1986. A capital no interior do país atendia a três questões centrais. Na área militar, conferia maior segurança contra ameaças externas. No plano econômico, seria capaz de drenar parte da população sofrida do Nordeste e promover o desenvolvimento econômico do Centro‑oeste, já que a capital traria uma grande necessidade de serviços por lá. Por fim, na política, impediria que as pressões políticas do Sudeste alcançassem facilmente o governo federal, atrapalhando a governabilidade. Figura 56 – Brasília, a capital planejada no interior, foi o grande símbolo do desenvolvimento proposto por JK Disponível em: https://bit.ly/3invYIt. Acesso em: 3 fev. 2016. Finalmente, em 21 de abril de 1960, era inaugurada Brasília. O discurso de JK evidenciava a façanha do pouco tempo para uma obra de tamanha envergadura, ao mesmo tempo que a importância dos candangos (trabalhadores migrantes do Nordeste) para a materialização do projeto: Meus amigos e companheiros de lutas, soldados da epopeia da construção de Brasília, recebo, profundamente emocionado, a chave simbólica da cidade filha do nosso esforço, da nossa crença, de nosso amor a este país. Sou apenas 157 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL o guardião desta chave. Ela é tão minha quanto vossa, quanto de todos os brasileiros. Falei em epopeia, e retomo a palavra para vos dizer que ela marcará, sem dúvida, uma época, isto é, “o lugar do céu em que um astro atinge o seu apogeu”. Chegamos hoje, realmente, ao ponto alto da nossa obra. Criando‑a, oferecemos ao mundo uma prova do muito que somos capazes de realizar e a nós próprios nos damos uma extraordinária demonstração de energia, e mais conscientes nos tornamos das nossas possibilidades de ação. [...] Brasília só pode estar aí, como a vemos, e já deixando entender o que será amanhã, porque a fé em Deus e no Brasil nos sustentou a todos nós, a esta família aqui reunida, a vós todos, Candangos, a que me orgulho de pertencer. Viestes, alguns de Minas Gerais, outros de Estados limítrofes, a maioria do Nordeste. Caminhaste de qualquer maneira até aqui, por estradas largas e ásperas, porque ouviste, de longe, a mensagem de Brasília; porque vos contaram que uma estrela nova iria acrescentar‑se às outras vinte e uma da bandeira da pátria. Reconheço e proclamo, neste momento, que sois expressão da força propulsora do Brasil. Tínheis fome e sede de trabalho num país em que tudo estava e está ainda por fazer. Os que duvidaram desta vitória; os que nos procuraram impedir a ação; os que se desmandaram em palavras contra esta cidade da esperança, desconheciam que o impulso, o ânimo, a fé que nos sustentavam eram mais fortes do que os desejos de obstrução que os instigavam, do que a visão estreita que não lhes permitia alcançar além das ruas citadinas em que transitam. Mas deixemos entregues ao esquecimento e ao juízo da história os que não compreenderam e não amaram a obra. Deixemos de lado as dificuldades, as canseiras, as incompreensões, os interesses contrariados, alguns de puro egoísmo, outros compreensíveis; deixemos de lado a tendência do imobilismo, as injustiças, até os desumanos ataques. A hora é de emoção. Atingimos o porto para onde se dirigiam as nossas esperanças. As peripécias da viagem e este mar de trabalho, esta extensão de tarefas que parecia infinita, verificamos hoje como foi rápido vencê‑los todos. Quatro anos somente são transcorridos desde o dia em que dormi aqui numa tenda, em plena solidão do Brasil, no sertão sem fim, vendo rondar o meu acampamento a ameaçadora presença de animais selvagens. Nestes quatro anos, com que febre vos atiraste ao trabalho! À vossa frente se punha esse capitão da Epopeia, esse incansável Israel Pinheiro, que abandonou o conforto, a posição política, para dedicar‑se, de corpo e alma, ao que parecia uma aventura, ao que ontem constituía um risco, e hoje é um triunfo (BONAVIDES; AMARAL, 2002d, p. 145‑150). Não foi só de Brasília que JK colheu frutos. Ao longo do seu governo, o crescimento do PIB se manteve a uma taxa anual de 7%, muito em função do enorme aumento da produção industrial que, entre seus cinco anos de governo, foi expandida em 80%. Além disso, o crescimento era tanto que também surgiu a rodovia Belém‑Brasília, ou ainda o projeto da universidade de Brasília. 158 Unidade III Lembrete A palavra‑chave de todo o governo de JK foi desenvolvimentismo, associado diretamente ao crescimento industrial, daí seu slogan de campanha tão famoso: 50 Anos de Progresso em 5 Anos de Governo. O maior exemplo desse grande salto industrial, de qualquer forma, foram as indústrias automobilísticas multinacionais, instaladas no ABC Paulista (Santo André, São Bernardo e São Caetano), como a Willys Overland, a Ford, a Volkswagen e a General Motors. Já em 1960, essas quatro grandes empresas produziram 78% dos 133 mil veículos da frota do país. Figura 57 – A produção automobilística do país foi associada diretamente a JK. Na foto, uma linha de montagem na cidade de São Bernardo do Campo, do ABC Paulista, em 1958 Disponível em: https://bit.ly/3AUk4MB. Acesso em: 3 fev. 2016. Unid.: 1.000 veículos 1.000 500 0 1955 1960 1965 1970 1975 Figura 58 – Produção de Veículos Automotores 1957‑1974 – Anfavea Disponível em: https://bit.ly/3EPlCbH. Acesso em: 3 fev. 2016. 159 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL No entanto, nem tudo eram flores. Muito pelo contrário. Efeitos negativos também ficaram evidentes no balanço do governo de JK. O excesso de gastos do governo fez com que o déficit orçamentário crescesse de menos de 1% do PIB em 1954‑55 para 2% em 1956 e 4% em 1957. O índice dainflação, por sua vez, atingiu 39,5% em função do aumento dos gastos com o funcionalismo público, das novas relações de câmbio, da emissão de moeda e da facilidade de concessão de crédito. Por fim, era enorme o aumento da dívida externa. A era de ouro de JK inegavelmente trouxe crescimento, mas, ao mesmo tempo, alguém deveria pagar a conta – que não era barata. Nas eleições de 3 de outubro de 1960, JK apoiou o general Lott (“o candidato da espada”) com o trabalhista Jango, na chapa PSD‑PTB. Ademar de Barros participou pelo PSP. Jânio Quadros, ex‑vereador, ex‑professor, ex‑deputado, ex‑prefeito e ex‑governador de São Paulo, foi “o candidato da vassoura”, criticando a corrupção do país e a desordem nos valores financeiros no grupo UDN‑PL‑PTN‑PDC. Seu vice era Milton Campos. Sem ter um programa definido e desprezando os partidos políticos, atraía o povo com sua figura popularesca e ameaçadora que prometia castigo implacável aos beneficiários de negociatas e de qualquer tipo de corrupção. Ele estava longe do figurino bem‑comportado da UDN, mas ao mesmo tempo incorporava a seu modo algo do discurso udenista. Representava, sobretudo, uma grande oportunidade de o partido chegar afinal ao poder, embora por um atalho desconhecido (FAUSTO, 2004, p. 436). Figura 59 – Jânio Quadros: o candidato da vassoura nas eleições de 1960 Disponível em: https://bit.ly/3iqKrDh. Acesso em: 3 fev. 2016. 160 Unidade III Enquanto Jânio era bastante carismático, demagogo, populista, conseguia, pelo partido, reunir as esperanças da elite antigetulistas e aglutinava a classe média e os populares pelo discurso de moralização política. Lott, por seu turno, não conseguia se expressar bem e era criticado por seus projetos, como o voto para analfabetos. Jânio venceu com 5.636.623 votos (48%), contra apenas 28% para Lott e 23% para Ademar. Como a eleição não era obrigatoriamente unida entre presidente e vice, Jango venceu como vice. Era a dupla “Jan‑Jan”. 7.3 Governo Jânio Quadros – 1961 Jânio da Silva Quadros nasceu em Campo Grande, em 25 de janeiro de 1917. Era um político de carreira desde 1948, pois foi vereador, deputado, prefeito e governador por São Paulo (onde sempre manteve sua carreira política). Apesar de sua forte experiência, seu governo mostrou‑se desastroso do começo ao fim. Logo de início, exaltava a chegada ao poder pela oposição, como demonstra seu discurso de posse: Senhor presidente, Srs. Ministros, Muitos são os caminhos para a conquista do Poder. Viciosos, porém, se me afiguram todos aqueles que se apartam do voto do povo, deitado nas urnas soberanas. [...] Nesta hora em que países e povos secularmente dominados se levantam e se libertam da opressão colonialista, minha eleição para a presidência tem um aspecto que merece destaque na História: a oposição chega ao governo em obediência à vontade popular expressa no pleito (BONAVIDES; AMARAL, 2002d, p. 187‑188). Não demorou muito tempo para estampar sua excentricidade com medidas bastante impopulares em nome de sua moralidade. Proibiu o uso de biquínis, as brigas de galo e também o uso de lança perfumes. Ele entendia que todas essas questões atrapalhavam o país da moral real e eficiente do trabalho, da dedicação e do esforço. Assim, de político populista passava, em pouco tempo, por autoritário. No entanto, ainda que já com perda de parte de seu eleitorado, o pior estava por vir. Em apenas sete meses de governo, Jânio conseguiu desagradar a esquerda e a direita com suas diretrizes políticas e econômicas. 161 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL Figura 60 – Jânio Quadros em uma típica imagem popular Disponível em: https://bit.ly/3AW70WT. Acesso em: 3 fev. 2016. É verdade que a situação econômica do país não estava nada fácil. A inflação estava na casa dos 30% ao ano, o déficit orçamentário só crescia e a dívida externa estava na casa dos 3,8 bilhões de dólares, sendo que só em 1961 venciam 600 milhões. Para enfrentar o quadro desolador, Jânio criou uma política de austeridade. Seu plano anti‑inflacionário era caracterizado pela desvalorização cambial e diminuição dos gastos públicos, incluindo o corte nos subsídios de produtos considerados estratégicos. Isso afetaria diretamente o preço do trigo e do petróleo. Em pouco tempo, os combustíveis e o pão aumentaram 100%. O presidente justificava esses aumentos pela necessidade de adequar a contenção de gastos para obter apoio estrangeiro. E, inegavelmente, nesse ponto, conseguiu obter o apoio do FMI. Assim, alcançou o benefício de um reescalonamento da dívida do país em 1961. No entanto, a esquerda, pelo aumento do custo de vida no país, rapidamente ficou contra Jânio. Lembrete Jânio Quadros ficou conhecido como “o candidato da vassoura”, criticando a corrupção do país e a desordem. O problema com a direita, por sua vez, foi a política externa. O presidente desejava criar uma política externa independente, dentro dos moldes propostos pela Conferência de Bandung, em 1955. A perspectiva era do não alinhamento, ou seja, não tomar partido nem do lado socialista, nem do capitalista. Fortalecia‑se, assim, em torno do “Terceiro Mundo”. Foi assim que pediu o restabelecimento das relações diplomáticas com a URSS em um simples bilhetinho para seu ministro das relações exteriores, Afonso Arinos: “Excelência, Solicito de V. Exa. as providências necessárias ao restabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética. 27 julho 1961” (BONAVIDES; AMARAL, 2002d, p. 222). 162 Unidade III No entanto, para ele, o principal símbolo dessa política era “Che”, líder guerrilheiro que, juntamente com Fidel Castro, tomaram o poder em Cuba, acabando com a ditadura de Fulgêncio Batista e, em um primeiro momento, estabelecendo um governo de base nacionalista e anti‑imperialista na ilha. Porém, em 1961, após a tentativa fracassada dos anticastristas (o chamado Desembarque da Baía dos Porcos), ajudados e treinados pela CIA, de retomarem o poder, declarou a implantação do regime socialista apoiado pelos soviéticos. E foi assim que no “quintal americano”, em pouco tempo, o socialismo chegou, e, com ele, uma enorme tensão em torno de sua propagação no continente. Para Jânio, por sua vez, tudo continuava tranquilo nas relações americanas. Por isso, foi contra o pedido americano de expulsão de Cuba da OEA (Organização dos Estados Americanos) e também pôde reatar relações com a URSS e com a China. Inclusive, com essa última, mandar seu vice, Jango, ir ao país e garantir acordos comerciais. Em 18 de agosto sua cartada final na força dessa política independente: decidiu condecorar Ernesto “Che” Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul, a maior honraria do país. Figura 61 – Jânio e Che Guevara Disponível em: https://bit.ly/3VDJru4. Acesso em: 3 fev. 2016. Na realidade, a política de Jânio foi muito infeliz. Um homem de longa carreira em cargos do Executivo e do Legislativo, Jânio era político de província. Conhecia mal as lideranças partidárias nacionais, e desdenhou da possibilidade de montar uma base parlamentar própria, embora seu governo não tivesse maioria no Congresso. Tampouco estava preocupado em negociar com o campo oposicionista; foi um mestre em exacerbar o atrito. Bateu de frente com o Congresso, com a imprensa, com o funcionalismo, com o vice‑presidente da República. E acabou rompendo com a própria UDN, injuriada com os rumos da política externa – que, em tempos de Guerra Fria, o partido entendia como uma guinada do governo para a esquerda. Em alguns meses, Jânio Quadros conseguiu confundir o ambiente político nacional, subestimar seus aliados e se isolar na Presidência (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 431). 163 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL No dia 24 de agosto, após um encontro com o presidente, Carlos Lacerda escreve uma denúncia acusando Jânio de preparar um golpe no país: Entendi de meu dever, esta noite, trazer ao conhecimento do povo do meu país, muito especialmente, é claro, ao povo do Estado da Guanabara,mas também aos nossos irmãos de todo o Brasil, as razões pelas quais havia tomado a decisão de renunciar ao governo e à vida pública. E as razões pelas quais, atendendo a apelos que partem de todos os cantos da vida brasileira, apelos que me tocaram profundamente a consciência e o coração, resolvi aqui ficar até o fim. [...] Esta altura, meus patrícios, é tempo de dizermos que reconheço a necessidade de certas reformas, que reconheço as deficiências do Congresso e os insucessos dos partidos, nascidos, é certo, de tal ou qual obsolescência, de um certo anacronismo no processo de elaboração parlamentar, agravados, é certo, pelo isolamento mortífero, letal de Brasília. Estivesse o Congresso num centro populoso, com opinião pública atuante, ele próprio se revigoraria através dos estímulos dessa opinião; isolado, insultado, transformado em clube, ele próprio agrava os seus problemas e faz de uma doença um perigo mortal. Mas daí não se segue que se possa, ou se deva, ou se pretenda introduzir no Brasil certas reformas por via extracongressual. Daí não se segue absolutamente que haja possibilidade ou interesse para a democracia, para a liberdade, para o progresso do país de usar o truque de impor ao centro democrático a ameaça das esquerdas para que ele se submeta ao poder pessoal, sob pena de o poder pessoal buscar nas esquerdas os apoios de que carece para se impor à nação subjugada (BONAVIDES; AMARAL, 2002d, p. 224‑231). Estampava‑se que, em virtude da falta de controle do Congresso, Jânio buscava apoio da esquerda (com sua política externa independente), como criticado fortemente pela direita, e ameaçava dar um golpe contra o Congresso. E, assim, no dia seguinte, dia 25 de agosto, com menos de 7 meses no poder, Jânio Quadros renunciou deixando manifesto à Nação: Fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho‑o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente sem prevenções nem rancores. Mas baldaram‑se os meus esforços para conduzir esta nação pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, o único que possibilitaria progresso efetivo e a justiça social a que tem direito o seu generoso povo. 164 Unidade III Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando neste sonho a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive do exterior. Sinto‑me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam‑se contra mim e me intrigam ou infamam até com a desculpa da colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade ora quebradas e indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio, mesmo, não manteria a própria paz pública. Encerro assim com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes e para os operários, para a grande família do País, esta página de minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia. Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo, e de forma especial às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos, de todos, para cada um. Somente assim serem os dignos da nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos juntos. Há muitas formas de servir nossa pátria. Brasília, 25 de agosto de 1961. Jânio Quadros (BONAVIDES; AMARAL, 2002d, p. 272). Figura 62 – A saída do presidente Jânio Quadros foi capa dos principais jornais do país Disponível em: https://bit.ly/3VklmbM. Acesso em: 3 fev. 2016. 165 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL Essas “forças terríveis” expressas pelo agora ex‑presidente nunca se tornaram mais claras. Muito se especulou sobre sua ação: Há acordo entre os historiadores: seu gesto intencionava causar uma comoção nacional que o trouxesse de volta triunfalmente ao cargo com os poderes presidenciais aumentados – e, de preferência, sem o Congresso para incomodá‑lo. Renunciar era uma forma de sair do palco para não se desgastar, e diversas vezes em sua carreira política ele usara da figura da renúncia como uma arma – sempre brandida com sucesso. A manobra poderia funcionar de novo: o nome de Goulart tinha forte rejeição entre os militares; além disso, ele estava longe, sem condições de articular sua posse (SCHWARCZ; STARLING, 2013, p. 433). 8 CRISE INSTITUCIONAL Se essa versão está correta, o plano minguou completamente. Ninguém pediu para Jânio voltar. No entanto, uma ampla crise política se estabeleceu. Os militares, capitaneados pelos seus ministros, não deixariam Jango assumir. Entendiam que seu passado ligado ao trabalhismo getulista e sua presença na China (mesmo que a mando do até então presidente) eram sinais evidentes de sua esquerdização, o que constituía uma ameaça direta à segurança nacional. Em defesa da democracia, Leonel Brizola, líder mais radical da ala mais à esquerda do PTB, governador do Rio Grande do Sul, cunhado de Jango, lançou a Campanha pela Legalidade. Seu manifesto, de 26 de agosto, dizia: Ao Rio Grande do Sul e ao Brasil. O governo do Estado do Rio Grande cumpre o dever que lhe cabe esta hora grave da vida do país. Cumpre‑nos reafirmar nossa inalterável posição ao lado da legalidade constitucional. Não pactuamos com golpes ou violências contra a ordem constitucional e contra a liberdade pública. Se a atual Constituição não satisfaz, em muitos dos seus aspectos, desejamos o seu aprimoramento e não a sua supressão, o que representaria uma regressão ao obscurantismo. [...] O povo gaúcho tem imorredouras tradições de amor à pátria comum e de defesa dos direitos humanos. E seu governo, instituído pelo voto popular confiem os rio‑grandenses e os nossos irmãos de todo o Brasil, não desmentirá essas tradições e saberá cumprir o seu dever (BONAVIDES; AMARAL, 2002d, p. 331‑332). 166 Unidade III Evocava, assim, um dito “amor à pátria comum” dos gaúchos, de tradição de defesa da ordem, ainda que reconhecesse que a Constituição poderia ser revista em alguns pontos. Figura 63 – Leonel Brizola foi o condutor da Campanha pela Legalidade Disponível em: https://bit.ly/3AREVA4. Acesso em: 3 fev. 2016. No dia seguinte, o marechal Lott também defende a manutenção da ordem constitucional e evidencia a ação dos militares: Tomei conhecimento, nesta data, da decisão do Sr. Ministro da Guerra marechal Odílio Denys, manifestada ao governador do Rio Grande do Sul, através do deputado Rui Ramos, no Palácio do Planalto, em Brasília, de não permitir que o atual presidente da República, Dr. João Goulart, entre no exercício de suas funções e, ainda, de detê‑lo no momento em que pise o território nacional. Mediante ligação telefônica, tentei demover aquele eminente colega da prática de semelhante violência, sem obter resultado. Embora afastado das atividades militares, mantenho compromisso de honra com a minha classe, com a minha pátria e com as instituições democráticas e constitucionais. E, por isso, sinto‑me no indeclinável dever de manifestar o meu repúdio à solução anormal e arbitrária que se pretende impor à nação. Dentro desta orientação, conclamo todas as forças vivas da nação, as forças da produção e do pensamento, dos estudantes e intelectuais, operários e o povo em geral, para tomar posição decisiva e energética pelo respeito à Constituição e preservação integral do regime democrático brasileiro, certo ainda de que os meus nobres camaradas das Forças Armadas saberão portar‑se à altura das tradições legalistas que marcam a sua história nos destinos da pátria. A partir daqui, cada vez mais crescia o grupo daqueles que eram a favor da manutenção da Legalidade. O governador Mauro Borges, de Goiás, declarou completo apoio a Jango (inclusive com suas forças armadas).Daí se seguiram greves, manifestações da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) ou mesmo da UNE. Declarados favoráveis ao golpe eram Carlos Lacerda e o jornal O Estado de São Paulo. 167 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL Alguns dias depois, no entanto, o Congresso conseguiu chegar a um meio‑termo. No dia 2 de setembro de 1961, o país declarava a introdução do Parlamentarismo no país: A ementa que hoje se vai promulgar, fruto daquele projeto, foi o instrumento a que recorreu o Congresso como ponto de partida para uma fórmula que, afinal, veio a ser aceita pela maioria, superior a 2/3 das duas Casas, tendente a possibilitar o salvamento das instituições fundamentais da democracia em que vivemos e a restabelecer no país um clima de harmonia e de paz social. Muitos votaram‑na porque ideologicamente eram parlamentaristas. Muitos, entretanto – e quanto nós o sabemos – , votaram‑na como quem estivesse votando a paz social do nosso país. (Palmas) [...] Saímos de uma crise graças à solução que acabamos de tomar. O sistema parlamentar de governo serve agora para resolvermos uma crise. E esta é uma das suas grandes virtudes. Não é a única; é uma das suas muitas e grandes virtudes. E, quando outra não tivesse, bastaria esta a recomendá‑lo. Mas não só o sistema parlamentar resolve pacificamente todas as crises. Resolve, por uma simples queda de gabinete, o que, nos países presidencialistas, leva, muitas vezes, à revolução ou ao golpe de Estado. O sistema parlamentar não só resolve as crises que se manifestam, e todo regime está sujeito a tê‑las, mas também evita muitas delas (BONAVIDES; AMARAL, 2002d, p. 462‑468). Figura 64 – A resolução do Parlamentarismo permitiu uma solução política para o impasse gerado pela renúncia de Jânio Quadros Disponível em: https://bit.ly/3UcfFLK. Acesso em: 3 fev. 2016. 168 Unidade III Com isso, inclusive, já no processo de discussão final, Jango chegou a Porto Alegre no dia 1º de setembro. De qualquer forma, mesmo à revelia de Brizola, decidiu aceitar o acordo. Seria presidente, mas com poderes, consideravelmente, diminuídos. 8.1 Jango – 1961‑1964 É possível que a aceitação de João Goulart do regime parlamentarista estivesse associada, diretamente, ao interesse em, aos poucos, promover manobras políticas a fim de recuperar a plenitude de seus poderes como presidente. Dentro de sua lógica, tentou demostrar‑se capaz de evidenciar que não era comunista, ao mesmo tempo que, através de um programa chamado Reformas de Base (naquele momento com propostas bastante abertas), contava com o apoio da esquerda. Figura 65 – A figura de Jango foi bastante discutida, defendida ou criticada, ao longo de 1961‑1964 Disponível em: https://bit.ly/3OKih2r. Acesso em: 3 fev. 2016. Há de se ter claro que: O recurso ao sistema parlamentarista como solução para a crise política foi produto de uma longa campanha de um pequeno grupo de entusiastas desse sistema. O grupo era encabeçado por Raul Pilla, incansável reformista constitucional. Havia muito tempo que Pilla atribuía os males do Brasil ao “corrupto” sistema presidencialista, que em sua opinião representava um desvio desastroso da tradição parlamentarista do Império. Mas a repentina aprovação do parlamentarismo pelo Congresso (um gabinete de ministros nomeado pelo presidente, mas à disposição da Câmara dos Deputados) foi pouco mais que a desesperada busca de uma solução conciliatória para a crise produzida pelo veto dos ministros militares à posse de Jango (SKIDMORE, 2010, p. 255). Tancredo Neves foi o primeiro‑ministro estabelecido pelo Congresso. Dele foi o discurso da declaração da introdução do sistema parlamentar. Sua defesa da manutenção da ordem e da democracia eram 169 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL evidentes. Depois que renunciou ao cargo, em julho de 1962, vários outros assumiram a posição política, todos em geral por pouco tempo. Uma das demonstrações da moderação de Jango nesse período foi a sua viagem para os Estados Unidos em abril de 1962. Ali passou bastante tempo com o presidente Kennedy, a ponto de declarar‑se abertamente contrário ao regime cubano de Fidel Castro. E mais: demonstrava preocupação com as empresas estrangeiras no país para que tivesse certo tratamento respeitoso. Finalmente, em 3 de janeiro de 1963, com cerca de 80% do apoio do eleitorado, foi autorizado o retorno à democracia no país. Era evidente que o Brasil da década de 1960 estava ancorado no radicalismo. No campo, o movimento das Ligas Camponesas estabelecia luta política no mundo agrário. De início, orientavam‑se pela disputa jurídica, mas, já em 1962, alguns dissidentes passaram a preparar guerrilheiros para a luta. A Igreja Católica também tinha uma ala mais radical, de defesa da proximidade direta com os oprimidos. A UNE, por sua vez, era um espaço de defesa de mudanças no país. Greves cresciam frente a um cenário econômico de baixo crescimento e aumento da inflação. As taxas de inflação e o crescimento do Produto Interno Bruto 0 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 20 40 60 80 Ta xa d e in fla çã o (% ) Cr es ci m en to d o PI B 100 120 PIB Inflação Figura 66 – É possível notar o quanto os anos de 1963‑1964 foram particularmente difíceis para a economia do país Disponível em: https://bit.ly/3uaMvC5. Acesso em: 3 fev. 2016. E não era só no Brasil que a década de 1960 adquiriram um caráter extremo. A Guerra Fria atingiu o seu momento mais tenso com a Crise dos Mísseis em 1962. Os americanos estavam extremamente preocupados de que o exemplo cubano se alastrasse para outras áreas do continente e declaravam que não poderiam permitir. Pelo contrário, passariam a apoiar regimes militares de direita para garantir a defesa contra a ameaça vermelha. 170 Unidade III No meio de tudo isso, Jango estabeleceu seu programa de governo das Reformas de Base com uma retórica nacionalista e anti‑imperialista. Claro que, assim, ganhou o apoio da esquerda. Seu programa, no entanto, tinha muito a ver com o continuísmo do populismo de Getúlio Vargas, de quem se constituía o seu maior exemplo político. As transformações estruturais propostas incluíam: reforma agrária, reforma bancária, aumento dos impostos dos ricos, reforma urbana, reforma universitária, diminuição dos gastos públicos, voto para analfabetos, entre outras. Este amplo programa foi apresentado no Comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964: Devo agradecer às organizações sindicais, promotoras desta grande manifestação, devo agradecer ao povo brasileiro por esta demonstração extraordinária a que assistimos emocionados, aqui nesta cidade do Rio de Janeiro. Quero agradecer, também, aos sindicatos que, todos os estados, mobilizaram os seus associados, dirigindo minha saudação a todos os brasileiros, e não apenas aos que conseguiram adquirir instrução nas escolas. Dirijo‑me também aos milhões de irmãos nossos que são ao Brasil mais do que recebem e que pagam em sofrimento, pagam em miséria, pagam em privações, o direito de serem brasileiros e o de trabalhar de sol a sol pela grandeza deste país. Presidente de oitenta milhões de brasileiros, quero que minhas palavras sejam bem entendidas por todos os nossos patrícios. Vou falar em linguagem franca, que pode ser rude, mas é sincera e sem subterfúgios. É também a linguagem da esperança, de quem quer inspirar confiança no futuro, mas de quem tem coragem de enfrentar sem fraquezas a dura realidade que vivemos. Aqui estão os meus amigos trabalhadores, pensando na campanha de terror ideológico e de sabotagem, cuidadosamente organizada para impedir ou perturbar a realização deste memorável encontro entre o povo e o seu presidente, na presença das lideranças populares mais representativas deste país, que se encontram também conosco, nesta festa cívica. Chegou‑se a proclamar, trabalhadores brasileiros, que esta concentração seria um ato atentatório ao regime democrático, como se no Brasil a reação ainda fosse dona dademocracia, ou proprietária das praças e das ruas. Desgraçada democracia a que tiver de ser defendida por esses democratas. Democracia para eles não é o regime da liberdade de reunião para o povo. O que eles querem é uma democracia de um povo emudecido, de um povo abafado nos seus anseios, de um povo abafado nas suas reivindicações. A democracia que eles desejam impingir‑nos é a democracia do antipovo, a democracia da antirreforma, a democracia do antissindicato, ou seja, aquela que melhor atenda aos seus interesses ou aos dos grupos que eles representam. A democracia que pretendem é a democracia dos privilégios, a democracia da intolerância e do ódio. A democracia que eles querem, trabalhadores, é para liquidar com a 171 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL Petrobras, é a democracia dos monopólios, nacionais e internacionais, a democracia que pudesse lutar contra o povo, a democracia que levou o presidente Vargas ao extremo sacrifício. Ainda ontem, eu afirmava no Arsenal de Marinha, envolvido pelo calor dos trabalhadores de lá, que a democracia jamais poderia ser ameaçada pelo povo, quando o povo livremente vem para as praças – as praças que são do povo. Para as ruas – que são do povo. Democracia, trabalhadores, é o que o meu governo vem procurando realizar, como é do meu dever. Não só para interpretar os anseios populares, mas também para conquistá‑los, pelo caminho do entendimento e da paz. Não há ameaça mais séria à democracia do que a democracia que desconhece os direitos do povo. Não há ameaça mais séria à democracia do que tentar estrangular a voz do povo, dos seus legítimos líderes populares, fazendo calar as suas reivindicações (BONAVIDES; AMARAL, 2002d, p. 840‑850). Figura 67 – O Comício da Central do Brasil, no dia 13 de março de 1964, chegou a ter entre 150 e 200 mil pessoas Disponível em: https://bit.ly/3FczfmV. Acesso em: 3 fev. 2016. Como é possível perceber, o discurso inflamou a ideia de que a democracia só existe para melhorar a vida do povo e de que todos os meios necessários deveriam ser utilizados para alcançar tais imperativos. Assim, o presidente assumia uma premissa bastante forte que abria margem para os militares argumentarem que havia perigo no país da quebra da manutenção da ordem, do respeito à hierarquia e também do controle do comunismo. Ali mesmo, assinou decretos de nacionalização de empresas estrangeiras e desapropriação de terras. Mais do que isso, passava a ameaçar modificar a Constituição para obter mais tempo no poder, por meio da autorização de uma reeleição. 172 Unidade III Observação Há de se destacar que, em pouquíssimo tempo, as atitudes de Jango foram compreendidas como uma ação comunista de grande perigo nacional. E foi assim que se formou, menos de uma semana depois, no dia 19 de março de 1964, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu cerca de 500 mil pessoas em São Paulo. Figura 68 – Marcha da Família com Deus pela Liberdade em São Paulo Disponível em: https://bit.ly/3XFLtM3. Acesso em: 3 fev. 2016. A Marcha revelava o apoio da classe média conservadora a uma ação imediata dos militares. O temor de um governo comunista ateu levara milhares às ruas com gritos contra Jango, Brizola e o comunismo. Com certeza da adesão civil ao movimento, os militares passaram à ação. Em 31 de março de 1964, o general Olímpio Mourão Filho iniciou, em Juiz de Fora (MG), uma movimentação de tropas em direção ao Rio de Janeiro. O general Amauri Kruel (SP) deu ordens para que seus tanques se deslocassem para o Rio de Janeiro. No dia seguinte, o presidente deixa o Rio de Janeiro e vai para Brasília. Mais tarde, parte para o Rio Grande do Sul. Muito se especulou a respeito do motivo de o presidente não ter resistido à ação dos militares. A principal resposta atualmente dada é que Jango sabia que não conseguiria apoio suficiente para vencer os revoltosos. Assim, não desejava que através de suas mãos houvesse derramamento de sangue e uma verdadeira guerra civil. Mais de 50 anos depois do golpe, a historiografia tem claro que três forças compactuaram para o movimento do dia 31 de março. A primeira foi o contexto da Guerra Fria. Documentos encontrados recentemente no Congresso americano comprovam a ativa atuação dos americanos na formação ideológica contra Jango e, principalmente, da operação Brother Sam, em que os americanos estavam em nosso litoral com suprimentos e armas de contenção de grandes multidões para garantir que, caso houvesse resistência, o golpe fosse vitorioso. A segunda força foi o próprio desejo dos militares de participar da política. Cada vez mais, entravam no cenário em qualquer crise estabelecida no pós‑1930 – 173 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL ação que, inclusive, não se consumou em 1954 pelo suicídio varguista. A terceira força foi a participação e o apoio popular. Não houve resistência à intervenção pelo fim da democracia. A presidência foi declarada vaga com o presidente ainda em território nacional e diversos civis, e, inclusive, a imprensa celebrava o acontecimento, como demonstra o editorial do jornal Correio da Manhã: Até que ponto o presidente da República abusará da paciência da nação? Até que ponto pretende tomar para si, por meio de decretos‑lei, a função do Poder Legislativo? Até que ponto contribuirá para preservar o clima de intranquilidade e insegurança que se verifica presentemente, na classe produtora? Até quando deseja levar ao desespero, por meio da inflação e do aumento do custo de vida, a classe média e a classe operária? Até que ponto quer desagregar as Forças Armadas por meio da indisciplina que se torna cada vez mais incontrolável? [...] Basta de farsa. Basta de guerra psicológica que o próprio governo desencadeou com o objetivo de convulsionar o país e levar avante a sua política continuísta. Basta de demagogia, para que, realmente, se possam fazer as reformas de base. [...] Queremos o respeito à Constituição. Queremos as reformas de base votadas pelo Congresso. Queremos a intocabilidade das liberdades democráticas. Queremos a realização das eleições em 1965. Se o Sr. João Goulart não tem capacidade para exercer a presidência da República e resolver os problemas da nação dentro da legalidade constitucional, não lhe resta outra saída senão entregar o Governo ao seu legítimo sucessor. [...] O Brasil já sofreu demasiado com o governo atual. Agora, basta! (BONAVIDES; AMARAL, 2002d, p. 891‑892). Há de se mencionar ainda o quanto mudou o cenário do país da metade da década de 1940 até 1964. Do sonho democrático para a garantia da segurança nacional contra a eminência de um golpe de esquerda: No vocabulário da época, “redemocratização” tornou‑se a principal palavra de ordem na política. E, logo em seguida e sucessivamente até 1964, as palavras e expressões seriam “mudança”, “combate às resistências à mudança”, “modernização”, “subdesenvolvimento”, “planejamento”. E, por fim, “reforma estrutural”, “pré‑revolução” e “revolução”. Tais mudanças no 174 Unidade III vocabulário, num crescendo irrevogável, traduziam o que se passava nas batalhas pela implantação de um Estado moderno no país. Até que um poderoso sistema civil‑militar impusesse, com o golpe de Estado de 1964, as suas palavras de ordem: “contrarrevolução preventiva” e “segurança e desenvolvimento” (LOPEZ; MOTA, 2015, p. 704). Para muitos historiadores hoje, é notório que Jango era muito mais populista do que socialista. Suas ideias eram bastante semelhantes às de Getúlio e seu nacionalismo. No entanto, na década de 1960, com o aprofundamento das tensões da Guerra Fria, elas foram associadas diretamente ao comunismo. Portanto, a necessidade da “segurança nacional” mais uma vez ficou manifesta. Saiba mais As relações do Brasil no golpe de 1964, com a Guerra Fria e com os Estados Unidos, são analisadas com brilhantismo no documentário: O DIA que durou 21 anos. Direção: Camilo Tavares. Brasil: Pequi Filmes, 2012. 77 min. Essa não era uma relaçãoexclusiva do Brasil. A derrocada do populismo na América Latina estava relacionada ao avanço do imperialismo norte‑americano e com ele suas multinacionais – em completa oposição à defesa do nacionalismo econômico populista. Ao mesmo tempo, crescia a suspeita da esquerdização das massas trabalhadoras. O medo de que o exemplo cubano se propagasse era enorme. Ao mesmo tempo, a dependência do setor primário gerou uma econômica que, ao longo da década de 1950, passou a perder, progressivamente, sua capacidade de importação. A carestia trazia consigo a inflação, o déficit orçamentário, o endividamento externo e o crescimento das tensões sociais no campo e na cidade. Nesse quadro geral, delinearam‑se dois caminhos possíveis. De um lado, a força dos conservadores. Membros das elites associados a liberais desejavam perpetuar as relações socioeconômicas e contavam com o apoio e a ingerência dos Estados Unidos. Eram capitaneados pelos militares – defensores da salvação nacional. De outro lado, o sonho de reformas estruturantes mexia com as emoções da esquerda e do povo. Finalmente, políticos ambicionavam reconfigurar as enormes desigualdades sociais em mudanças reais para o progresso econômico, como a reforma agrária. 175 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL Observação A perspectiva de que os militares podem salvar a nação nos momentos de problemas políticos, muitas vezes atrelados a relações socioeconômicas, mais uma vez, foi vista no Brasil com as manifestações de 2013. Em alguns lugares do Brasil, parte da população saiu às ruas com faixas “queremos os militares novamente no poder”. É a rememoração evidente da relação de salvação nacional perpetuada por aqueles que, pelo serviço militar, entendem que são mais patrióticos que os civis, afinal, estão dispostos a morrer pelo Brasil a qualquer momento. O caminho traçado pela América Latina perpetua sua relação histórica com o militarismo. Desde a formação do Exército profissional, a América Latina teve nos militares os perpetuadores da defesa dos recursos nacionais e os mantenedores da ordem interna – atestando, assim, a incapacidade dos políticos resolverem entre si seus dilemas e projetos. É nesse momento que o caminho da democracia se esvai. Um amplo movimento foi visto. Houve vários golpes em diferentes países: 1954 – Paraguai (Alfredo Stroessner); 1964 – Brasil (Castelo Branco); 1964 – Bolívia (René Barrientos) e 1969 (Candia); 1966 – Argentina (Juan Carlos Onganía); 1968 – Peru (Juan Velasco Alvarado); 1968 – Panamá (Omar Torrijos Herrera); 1972 – Equador (Guillermo Rodriguez Lara); 1973 – Chile (Augusto Pinochet). Um novo capítulo da história do Brasil surgiu e foi estabelecido pelo militarismo, ainda que em nome da defesa da democracia, com um regime de enorme concentração de força e, aos poucos, com o fim dos direitos humanos. 176 Unidade III Resumo O último governo de Getúlio Vargas deixava evidente que o país tinha projetos diferenciados de desenvolvimento. De um lado, o populismo nacionalista apregoando a intervenção direta do Estado e o controle do capital externo. De outro lado, o liberalismo “entreguista”, que defendia a diminuição da interferência estatal e o uso do capital estrangeiro como apoio importante para o desenvolvimento industrial. Juscelino Kubitschek foi o próximo presidente eleito, após certa crise política nos idos de 1954‑55. Para muitos, o período foi considerado como a “era de ouro” do Brasil. O “presidente bossa nova”, como alguns o chamavam, angariava para si a modernização, o desenvolvimento e a realização de sonhos não antes possíveis. Seu programa de governo era o nacional‑desenvolvimentismo associado diretamente com a industrialização. O slogan usado era: “50 anos em 5”. Para conseguir acabar com 50 anos de atraso do país, em seu governo, promoveu o Plano de Metas. A base de sua estruturação era o capitalismo associado, ou seja, o governo deveria intervir em áreas estratégicas, como energia, transportes e siderurgia, e as empresas privadas, nacionais ou multinacionais deveriam ter totais condições de investir na indústria de bens de consumo – nomeadamente, automobilística, eletrodoméstica e telefônica. Utilizou largamente a instrução 113 da Sumoc para facilitar a vinda de maquinário e capital externo. Sua metassíntese, símbolo do progresso, da modernização e da integração nacional, foi a construção de uma capital planejada no interior do país. O projeto já era sonhado pela constituição de 1891, que reservara a área para isso, mas nenhum governante havia ambicionado promover tal façanha. E nem a sociedade estava esperando por isso. Com o auxílio fundamental de trabalhadores nordestinos, os candangos, em busca de melhor condição econômica, Brasília foi construída em pouquíssimos anos a partir do projeto dos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Brasília garantiu o desenvolvimento econômico do Centro‑oeste, inegavelmente. Traria, ao mesmo tempo, maior segurança militar contra as invasões marítimas e ainda afastava o centro de comando do país das grandes pressões político‑sociais das massas urbanas do Sudeste. 177 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL O sucesso de seu projeto pode ser evidenciado pelo crescimento médio do PIB (7% ao ano), ou ainda o incremento do potencial industrial em 80%. As automobilísticas multinacionais se instalaram em São Paulo, no ABC, e marcaram o advento de um parque industrial. No entanto, muitos deixam de lado os graves problemas econômicos que seu governo deixou. Gastando em demasia, sem nenhum controle, até mesmo rompendo com o FMI, a inflação adquiriu números enormes: 39,5% ao ano. O déficit orçamentário estava em 4% do PIB e a dívida externa, em 3,8 bilhões de dólares. Para varrer a corrupção e a desordem financeira, em uma campanha extremamente populista, Jânio Quadros venceu as eleições de 1960 e assumiu a presidência no ano seguinte. No entanto, se mostrou inapto a agir frente às variadas forças políticas. Seu apelo moral foi desmoronado pelas medidas nada populares de proibir o biquíni, o lança perfume e a briga de galo. Mais do que isso, conseguiu, ao mesmo tempo, desagradar a direita e a esquerda em apenas sete meses de governo. Sua renúncia, talvez um autogolpe, foi mais um ato desastroso. Uma crise institucional seguiu em 1961. Os militares não permitiriam a posse do vice‑presidente, João Goulart, associado ao populismo varguista e, para alguns, ao comunismo também. A solução foi a instituição de um parlamentarismo. Um plebiscito em janeiro de 1963 garantiu o retorno do presidencialismo ao Brasil. Jango, então, assumiu seus plenos poderes e procurou garantir mudanças estruturais no país, a fim de melhorar a vida dos trabalhadores. Eram as suas reformas de base. Anunciava que levaria a cabo seu projeto independentemente do apoio ou não dos políticos e defendia medidas nacionalistas e anti‑imperialistas. O radicalismo cresceu. Os militares, apoiados por amplos setores civis e com a ingerência dos Estados Unidos, decidiram pôr fim ao seu governo com um golpe instaurado em 31 de março de 1964, afirmando que o golpe era em nome da própria democracia. 178 Unidade III Exercícios Questão 1. “Quando nos preparávamos para o banquete que celebraria a queda de Vargas, seu suicídio foi como se tivessem puxado a toalha da mesa”. A frase de Carlos Lacerda, um dos opositores mais ferrenhos de Getúlio expressa a frustração da oposição em virtude: A) Da deposição de Café Filho por João Goulart, que assumiu o governo contando com amplo apoio popular. B) Do desinteresse do capital estrangeiro após o fatídico evento uma vez que o clima de instabilidade política assustou os investidores externos. C) Da sublevação generalizada da população que, alertada com a crescente instabilidade política, impediu que o vice Café Filho assumisse o poder. D) Da súbita comoção generalizada da população que, embora retirasse seu apoio a Vargas em virtudede uma grave crise econômica, lamentou profundamente a morte do “pai dos pobres” e, com isso, o clima político para os udenistas assumirem o poder deixou de ser favorável. E) Do arrependimento moral da oposição liberal que, em momento algum, desejou a morte de Vargas, embora este fosse seu maior adversário. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: João Goulart havia sido ministro de Vargas e assumiu a presidência em 1961 em virtude da renúncia de Jânio Quadros. B) Alternativa incorreta. Justificativa: ao contrário, os investidores externos celebraram a morte de Vargas, mas foram frustrados devido ao clima político desfavorável após o suicídio. C) Alternativa incorreta. Justificativa: Café Filho assumiu imediatamente após a morte de Vargas 179 REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL D) Alternativa correta. Justificativa: a comoção popular foi um entrave para que os udenistas subissem ao poder. Dessa forma, utilizaram Café Filho como um instrumento para a realização de suas políticas. E) Alternativa incorreta. Justificativa: certamente a frustração não aconteceu por causa de um arrependimento moral. Questão 2. “O Plano de Metas viabilizou as condições para o ingresso do Brasil num estágio avançado de industrialização, mas sem criar condições reais para isso. Na pressa de mudar o patamar de desenvolvimento do país, em apenas cinco anos, Kubitschek improvisou: investiu na aceleração do crescimento sem avaliar o financiamento do processo. E optou pelo atalho, facilitando a entrada de capitais externos no país por meio da concessão de privilégios fiscais e econômicos, e aceitando depender de financiamentos internacionais para acelerar o crescimento industrial. Os atalhos acarretaram em três tipos de prejuízo. O primeiro foi a relativa facilidade com que empresas estrangeiras assumiram o controle de setores do desenvolvimento econômico brasileiro. O segundo veio com o aumento constante dos déficits da balança de pagamentos, seguido da consequente ampliação da dívida externa. O terceiro resultou da decisão de crescer com inflação” (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 423). O texto apresentado refere‑se a uma determinada visão de desenvolvimento econômico, chamada pelos economistas de: A) Nacional‑desenvolvimentismo. B) Nacionalismo radical. C) Neoliberal. D) Oligárquica. E) Comunista. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: trata‑se da fusão do capital estatal e do capital privado. B) Alternativa incorreta. Justificativa: trata‑se da participação majoritária do Estado na economia. 180 Unidade III C) Alternativa incorreta. Justificativa: trata‑se da diminuição do papel do Estado na economia, o que não ocorreu no período. D) Alternativa incorreta. Justificativa: seria uma visão em que um determinado grupo político seria privilegiado. E) Alternativa incorreta. Justificativa: trata‑se da divisão equitativa da produção social e ausência de classes e Estado. 181 REFERÊNCIAS Audiovisuais CHATÔ, o Rei do Brasil. Direção: Guilherme Fontes. Brasil: Guilherme Fontes Filmes Ltda., 2015. 102 min. O DIA que durou 21 anos. Direção: Camilo Tavares. Brasil: Pequi Filmes, 2012. 77 min. GETÚLIO. Direção: João Jardim. Brasil: Globo Filmes, 2014. 101 min. OLGA. Direção: Jayme Monjardim. Brasil: Europa Filmes; Globo Filmes, 2004. 141 min. Textuais ABREU, M. de P. O processo econômico. In: SCHWARCZ, L. M. Olhando para dentro: 1930‑1964. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. 4 v. (Coleção História do Brasil Nação: 1808‑2010). AGÊNCIA SENADO. Soldados da borracha já recebem indenizações. Senado Federal, Brasília, 2015. 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