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Vitória Boulhosa 
Medicina 4P 
 HIV 
 
A infecção pelo vírus da imunodeficiência 
humana (HIV) é a responsável por causar a 
síndrome da imunodeficiência adquirida (sida 
ou aids). É uma doença que leva a uma redução 
dos linfócitos T CD4+, também chamados de 
linfócitos T auxiliares ou T helper. 
 
Os linfócitos T CD4+ reconhecem antígenos 
que ficam nas superfícies das células 
apresentadoras de antígenos, secretam citocinas 
que estimulam os próprios linfócitos T, os 
linfócitos B e também ativam os macrófagos. 
Esses linfócitos exercem um papel central na 
imunidade adaptativa. A infecção pelo HIV, 
com consequente redução dessas células, leva o 
paciente a uma imunossupressão com risco 
aumentado de diversas infecções. 
 
O valor normal da contagem de linfócitos T 
CD4+ pode variar de 500 a 1.400 células/μL. 
Com o avançar da doença, esse número vai 
caindo e, quando chega abaixo de 200 
ce ́lulas/μL, o paciente já e ́ classificado como 
tendo aids. 
 
A infecção pelo HIV leva a uma ativação imune 
persistente dos linfócitos TCD4+ e TCD8+. 
Como consequência disso, diversos fenômenos 
imunes podem ocorrer, resultando em um 
turnover acelerado dessas células, hiperativação 
dos monócitos, ampliação da apoptose celular, 
aumento da secreção de citocinas, como IL-6, 
entre outros. O paciente pode sofrer um 
envelhecimento precoce decorrente desse 
processo inflamatório crônico. Diversas 
doenças estão associadas a esse processo, como 
as doenças ateroscleróticas, osteopenia, alguns 
tipos de câncer, diabetes, doenças renais, 
hepáticas e neurológicas. 
 
Agente etiológico 
É um vírus que possui uma única fita de RNA 
e possui uma enzima chamada de transcriptase 
reversa. Como seu nome já diz, ela faz uma 
“transcrição” ao contrário, ou seja, transforma 
seu RNA em DNA. Por isso, ele é chamado de 
retrovírus, fazendo parte da família Retroviridae 
e da subfamília lentivírus (vírus com período de 
incubação lento). Essas características fazem 
com que seja difícil curar a infecção, sendo o 
controle da replicação viral o tratamento ideal e 
recomendado até o momento. 
 
Esse DNA do vírus entra no núcleo da célula 
hospedeira e integra-se ao seu DNA. Ou seja, 
esse vírus vira parte do material genético da 
pessoa infectada. A partir daí, ele consegue 
replicar-se e infectar novas células. 
Estruturalmente, encontramos no seu núcleo a 
proteína p24, ela é importante para diagnosticar 
a infecção pelo HIV em alguns testes. 
 
 
Ciclo de replicação 
 
Entender o ciclo de replicação viral facilita o 
entendimento dos antirretrovirais. 
 
Transmissão 
A transmissão do HIV ocorre, principalmente, 
através de uma relação sexual desprotegida. 
Outras formas de contágio seriam através de 
Vitória Boulhosa 
Medicina 4P 
exposição com sangue contaminado ou 
transmissão perinatal. 
Alguns fatores de risco associados a uma maior 
transmissão do HIV são: 
• Carga viral elevada. 
• Comportamento sexual (o tipo de exposição 
sexual, quantidade de parceiros e uso ou não de 
preservativos). 
• Presença de outras infecções sexualmente 
transmissíveis (por exemplo, a presença de 
úlcera genital aumenta cerca de 4 vezes a 
chance de infecção). 
 
Epidemiologia 
Boletim Epidemiológico de HIV/Aids de 2020 do Ministério 
da Saúde. 
No Brasil como um todo, a taxa de detecção de 
aids vem diminuindo em todas as faixas etárias 
desde 2013. Ao analisar as regiões 
separadamente, o Norte, Nordeste e Centro-
Oeste apresentaram uma tendência de 
crescimento dos casos e as regiões Sul e Sudeste 
registraram uma diminuição. Apesar disso, a 
maioria dos casos ainda concentra-se 
principalmente nas regiões Sul e Sudeste. 
 
Em relação ao sexo, desde 2007 vem 
ocorrendo um aumento na detecção em 
homens e diminuição em mulheres (aumento 
da razão entre os sexos). Esse aumento entre os 
homens ocorre na faixa etária dos 20 aos 29 
anos. Entre os homens, aqueles que são homo 
ou bissexuais são os que predominam dentre as 
categorias de exposição, superando os 
heterossexuais. 
Em gestantes, a taxa de detecção da infecção 
pelo HIV no Brasil vem aumentando nos 
últimos anos. Em toda a série histórica, as 
maiores taxas de detecção são aquelas dos 
estados do Sul (Rio Grande do Sul e Santa 
Catarina). Acredita-se que seja pela ampliação e 
incremento dos testes rápidos usados no 
período do pré-natal. Todas as outras regiões 
do Brasil (Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-
Oeste) também têm essa tendência de aumento. 
A respeito da mortalidade por aids no Brasil, de 
2009 a 2019 houve uma queda no coeficiente 
de mortalidade, porém, alguns estados da 
região Norte (Acre, Pará e Amapá) e da região 
Nordeste (Maranhão, Rio Grande do Norte e 
Paraíba) registraram um aumento desse 
coeficiente. As principais causas de morte nos 
pacientes infectados pelo HIV são, em primeiro 
lugar, as doenças definidoras de aids 
(tuberculose liderando a lista de causas) e, em 
seguida, as neoplasias, como o linfoma não-
Hodgkin. 
 
História natural da doença 
Quando uma pessoa se infecta com o HIV, 
caso o tratamento não seja iniciado, a doença 
segue seu curso. O paciente pode encontrar-se 
em uma dessas três fases: 
1. Infecção aguda, ou fase sintomática inicial, ou 
síndrome retroviral aguda (SRA). 
2. Fase de latência clínica. 
3. Síndrome da imunodeficiência adquirida 
(AIDS). 
 
 
Manifestações clínicas 
• Infecção aguda: Essa infecção ocorre 
nas primeiras semanas após a contágio e alguns 
pacientes podem apresentar o que chamamos 
de síndrome retroviral aguda (SRA). Seus 
principais achados são febre, cefaleia, astenia, 
linfadenopatia, faringite, exantema e mialgia, 
mas também podem estar presentes perda de 
peso, náuseas, vômitos e diarreia. O paciente 
Vitória Boulhosa 
Medicina 4P 
com HIV pode apresentar artralgia, mas 
geralmente é autolimitada. A maioria desses 
sinais e sintomas desaparece ao longo de 3 a 4 
semanas. 
A SRA é uma doença mono-like, ou seja, 
semelhante à mononucleose, e deve ser 
investigada em pacientes com suspeita de 
mononucleose (aqueles com febre, faringite, 
linfadenopatia e esplenomegalia). 
 
Diagnósticos diferenciais: Mononucleose, 
toxoplasmose, rubéola, sífilis, hepatite viral. 
 
• Fase de latência clínica: Após a 
infecção aguda, o sistema imune do paciente 
consegue um “controle parcial” da infecção e a 
carga viral cai. Nessa fase, o paciente é 
geralmente assintomático, exceto pela 
linfadenopatia, que pode persistir após a 
infecção aguda. Esse período pode durar meses 
a anos e, com o passar do tempo e uma queda 
progressiva dos linfócitos, o paciente pode 
começar a apresentar alguns episódios de 
infecções bacterianas com mais frequência, 
como sinusites e pneumonia. 
A candidíase oral pode aparecer nessa fase e é 
um marcador precoce de imunossupressão. Ela 
está associada ao subsequente desenvolvimento 
da pneumocistose. 
 
• Fase sintomática e fase AIDS: Com a 
evolução da doença em um paciente sem 
tratamento, chega um momento em que a carga 
viral volta a subir e seus linfócitos T CD4+ caem 
bastante. Algumas doenças oportunistas 
também começam a aparecer. Com isso, 
podemos dizer que o paciente está com aids. 
Definimos que o paciente está nessa fase da 
síndrome da imunodeficiência adquirida caso 
ele tenha linfócitos TCD4+ < 200 células/ mm3 
ou alguma doença definidora de aids, como 
você pode ver na tabela: 
 
*As doenças definidoras de aids mais cobradas 
em provas são aquelas grifadas em negrito na 
tabela. 
 
 
 
 
A maioria das doenças definidoras de aids é 
decorrente de infecções oportunistas, porém 
algumas podem ser decorrentes do próprioHIV, como a nefropatia, que será abordada no 
livro da nefrologia, e a encefalopatia associada 
ao HIV. A encefalopatia já foi cobrada em 
provas. Ela é uma doença demencial, que se 
caracteriza por um acometimento da memória 
e da psicomotricidade, sintomas depressivos e 
desordens motoras. No estudo do líquor, é 
comum o encontro de proteínas elevadas com 
uma carga viral do HIV também com níveis 
aumentados. 
 
Diagnóstico 
Com o objetivo de detectar precocemente o 
HIV, devemos oferecer a testagem para o HIV 
e outras infecções sexualmente transmissíveis 
(IST) a todas as pessoas com vida sexual ativa 
quando comparecerem em consultas de rotina, 
independentemente da presença de sintomas. 
Além disso, todo paciente com diagnóstico de 
tuberculose deve ser testado para HIV, afinal 
ela é a principal causa de óbito em pessoas 
vivendo com HIV/aids e o diagnóstico precoce 
tem um impacto positivo na evolução das duas 
doenças. 
 
Uma vez indicada a investigação da infecção 
pelo HIV, o diagnóstico é bem simples. Como 
essa doença traz um impacto grande na vida do 
paciente, devemos minimizar erros, afinal, 
resultados falso-positivos podem acontecer na 
presença de alguma doença autoimune ou na 
gestação. Como fazemos para reduzir o risco 
Vitória Boulhosa 
Medicina 4P 
desses resultados falso-reagentes? Pedindo 
sempre dois testes consecutivos. 
 
• Testes rápidos: são testes simples, que 
de forma visual demonstram a ligação do 
antígeno (que fica grudado na placa) com o 
anticorpo (que pode estar presente na amostra). 
Esses exames fornecem o resultado em até 30 
minutos. Podem ser realizados fora do 
ambiente laboratorial, com amostra de sangue 
obtida por punção digital ou fluido oral. Esses 
testes ajudaram bastante a ampliar o diagnóstico 
da infecção pelo HIV, por causa da facilidade 
de obtenção da amostra. Eles possuem uma 
janela imunológica que pode variar de 1 a 3 
meses, portanto, não são muito sensíveis para 
detecção de infecção aguda. 
• Imunoensaios: são testes que também 
detectam a formação da ligação antígeno-
anticorpo. No caso do HIV, o teste pode fazer 
a busca tanto de anticorpos na amostra quanto 
de antígenos e, se houver ligação entre eles, 
dizemos que o teste é reagente. Um exemplo 
desse teste é o ELISA (do inglês “enzyme- 
linked immunosorbent assay”), que usa uma 
enzima que muda a cor da solução do teste, 
caso haja a ligação antígeno-anticorpo. 
Esses imunoensaios foram se aperfeiçoando ao 
longo do tempo e através de “gerações”. 
Atualmente usamos os imunoensaios de 3a e 4a 
geração, pois são mais sensíveis e específicos. 
Os testes de 1a e 2a geração somente 
detectavam anticorpos da classe IgG. O teste de 
3a geração passou a detectar o IgM e o teste de 
4a geração, além de detectar anticorpos, detecta 
simultaneamente o antígeno p24 (aquele que 
fica no núcleo do vírus, lembra?), reduzindo a 
janela imunológica para, em média, 15 dias. 
Esses testes demoram cerca de 4h para serem 
realizados. 
 
Importante: Ao contrário de outras doenças 
virais, no caso da infecção pelo HIV, a presença 
do IgM não permite diferenciar uma infecção 
aguda de uma crônica. Isso acontece porque o 
IgM pode reaparecer em outros momentos, de 
forma intermitente, ao longo da infecção. Logo, 
a presença de IgM reagente em um paciente 
infectado não significa, necessariamente, uma 
infecção aguda. 
• Western blot: Esse teste é bastante 
usado para confirmar o diagnóstico da infecção 
pelo HIV, já que é mais específico que os testes 
prévios. Ele detecta a presença de anticorpos 
produzidos contra diferentes partes (antígenos) 
do vírus. 
Ele funciona da seguinte forma: imagine uma 
membrana que está impregnada de proteínas 
do HIV que foram separadas por eletroforese. 
A amostra de soro ou plasma do paciente é 
incubada nessa membrana e, se lá houver algum 
anticorpo contra alguma das proteínas do HIV, 
ocorrerá a ligação antígeno-anticorpo. Essa 
ligação é detectada por anticorpos secundários, 
o que resulta na formação de “bandas” nos 
locais em que os antígenos estão. Dessa forma, 
conseguimos saber exatamente contra que 
antígenos os pacientes apresentam anticorpos. 
 
 
• Teste molecular: Também chamado 
de carga viral, esse exame é o que detecta a 
infecção pelo HIV de forma mais precoce. Ele 
identifica o RNA do vírus, que é o primeiro 
marcador a aparecer. 
É um teste útil para ser usado quando não é 
possível a detecção de anticorpos, como no 
caso do diagnóstico da infecção pelo HIV em 
crianças menores de 18 meses (os anticorpos da 
mãe são adquiridos pelas crianças e podem 
falsear o resultado). 
Vitória Boulhosa 
Medicina 4P 
 
Por causa dos diferentes momentos em que 
esses testes são detectáveis, podemos dividir a 
infecção pelo HIV em alguns estágios. Logo 
após a infecção, o paciente entra no período de 
eclipse. Ele caracteriza-se pela ausência de 
marcadores virais em amostras de sangue e dura 
em média 10 dias. A detecção do RNA já marca 
o início do estágio I, que dura em torno de 7 
dias e ele é o único marcador positivo. O estágio 
II ocorre quando há a detecção de RNA e 
antígeno p24 com anticorpos ausentes, e o 
estágio III é quando esses anticorpos são 
também detectados. Os estágios IV a VI são os 
que dependem do resultado de western-blot 
para classificar. Como nunca caíram em provas 
de Residência, não vale a pena diferenciá-los. 
 
Sabendo dos testes disponíveis e que devemos 
sempre fazer dois exames, podemos fazer as 
seguintes combinações para diagnosticar 
a infecção pelo HIV: 
 
Tratamento: 
 
 
Em gestantes: 
 
Genotipagem: exame para pesquisar resistência 
viral às medicações. 
Falha virológica: Com o uso regular da TARV, 
a carga viral do paciente ficará indetectável em 
até 6 meses. Caso isso não aconteça, dizemos 
que estamos diante de uma falha virológica. 
Além disso, se o paciente estava com uma carga 
viral indetectável e, em seguida, ela passou a ser 
detectável, também podemos caracterizar essa 
situação como falha virológica. 
A causa mais comum de falha virológica é a má 
adesão ao tratamento, logo, a primeira conduta 
a ser feita é orientar essa adesão. Caso o 
paciente permaneça com o uso irregular da 
TARV, os níveis séricos desses remédios ficam 
baixos e são insuficientes para suprimir a 
Vitória Boulhosa 
Medicina 4P 
replicação viral. Isso leva a uma pressão seletiva 
sobre a população viral, com consequente 
aparecimento de subpopulações resistentes, 
inclusive com resistência cruzada a drogas não 
utilizadas previamente. Chamamos isso de 
resistência viral adquirida. 
 
Seguimento do paciente com 
HIV/AIDS 
 
Logo após o diagnóstico da infecção pelo HIV, 
devemos iniciar a cascata de cuidado contínuo 
do paciente. O que isso quer dizer? Que 
devemos vincular esse paciente a um serviço de 
saúde e fazer seu seguimento para garantir uma 
boa adesão ao tratamento com consequente 
supressão da carga viral. 
De acordo com o PCDT para Manejo da 
Infecção pelo HIV em adultos, de 2018, do 
Ministério da Saúde, a vinculação é definida da 
seguinte forma: “é o processo que consiste no 
acolhimento, orientação, direcionamento e 
encaminhamento de uma pessoa recém- 
diagnosticada com HIV ao serviço de saúde 
para que ela realize as primeiras consultas e 
exames o mais brevemente possível e 
desenvolva autonomia para o cuidado 
contínuo. O desfecho principal para considerar 
uma PVHIV (pessoa vivendo com HIV/aids) 
vinculada é a realização da 1a consulta no 
serviço de atenção para o qual foi encaminhada 
e, de preferência, seu início de tratamento o 
mais rápido possível”. 
 
• Na primeira consultamédica de um 
paciente com HIV, algumas informações 
específicas devem ser abordadas, como: 
 
- Revisar a data do primeiro exame anti-HIV; 
- Documentação do teste; 
- Tempo provável de soropositividade; 
- Situações de risco para infecção; 
- Presença ou história de doenças oportunistas; 
- Contagem de CD4+ ou carga viral anterior; 
- Uso anterior de TARV e eventos adversos 
prévios; 
- Compreensão sobre a doença (explicar sobre 
transmissão, história natural, significado da 
contagem CD4+, carga viral e TARV). 
 
Complicações: Causadas por infecções 
oportunistas. 
 
1. INFECÇÕES PULMONARES 
Pneumocistose: é uma das principais infecções 
oportunistas que acometem o paciente 
portador de aids. Geralmente, ela manifesta- se 
quando a contagem de linfócitos T CD4+ está 
abaixo de 200 células/μL. 
• Etiologia 
É causada pelo Pneumocystis jirovecii, um 
fungo que geralmente infecta o ser humano na 
infância e pode permanecer latente ao longo da 
vida e reativar em casos de deficiência da 
imunidade celular. A transmissão entre 
indivíduos também pode ocorrer por meio do 
contato com secreções respiratórias de pessoas 
que são colonizadas/infectadas pelo fungo. 
• Quadro clínico 
Clinicamente, o paciente apresenta-se com uma 
tosse seca, febre, dispneia e hipoxemia (anote 
isso, porque é frequente a descrição de 
dessaturação no enunciado das questões sobre 
esse assunto). Nos exames laboratoriais, a 
elevação do lactato desidrogenase (LDH) é 
bem característica. 
 
HIV + dispneia subaguda + hipoxemia = 
pneumocistose. 
 
*É comum a associação de candidíase oral com 
pneumocistose! 
 
Pneumonia bacteriana: A pneumonia adquirida 
na comunidade é bem mais frequente em 
pacientes infectados pelo HIV. Essa frequência 
aumenta com a redução dos linfócitos T CD4+. 
Não é ao acaso que a pneumonia bacteriana de 
repetição (pelo menos dois episódios/ano) é 
uma doença definidora de aids. 
Para pensar em pneumonia bacteriana, você 
deve prestar atenção a algumas dicas que a 
questão vai dar, como o valor dos linfócitos T 
CD4+, que deve estar acima de 200 cel./mm3, 
tosse com expectoração amarelo-esverdeada e 
um quadro de evolução aguda. 
 
Tuberculose: A tuberculose é a doença que tem 
a maior mortalidade dentre os pacientes 
infectados com o HIV. Desde 1998, 
Vitória Boulhosa 
Medicina 4P 
recomenda-se que todas as pessoas 
diagnosticadas com tuberculose devam ser 
testadas para HIV. O contrário também é 
verdadeiro, nos pacientes com HIV, devemos 
investigar TB anualmente, através da prova 
tuberculínica (PT), e, em todas as consultas, 
questionar sobre a presença de febre, sudorese 
noturna, emagrecimento e/ou tosse. 
 
2. INFECÇÕES DO SNC 
 
 
Neurotoxoplasmose: A toxoplasmose é uma 
infecção causada por um protozoário 
intracelular chamado de Toxoplasma gondii. 
Pacientes imunocompetentes, quando se 
infectam, geralmente não desenvolvem a 
doença, porém, como o protozoário fica 
latente, em casos de imunossupressão, como a 
aids, ele pode reativar-se. A possibilidade de 
reativação pode chegar a até 30% naqueles com 
sorologia positiva, sem profilaxia adequada e 
com linfócitos T CD4+ <100 células/mm3. 
• Quadro clínico 
A toxoplasmose é a doença neurológica 
associada a lesões expansivas cerebrais mais 
comum em pacientes com infecção pelo HIV. 
A apresentação clínica é variada e em geral tem 
um curso subagudo. O paciente pode 
apresentar febre com algumas alterações 
neurológicas, como, por exemplo, convulsões, 
alteração do estado mental e sinais focais, como 
hemiparesia, hemiplegia e disfasia. Isso 
acontece principalmente quando a contagem de 
linfócitos T CD4+ cai para abaixo de 100 
células/mm3. 
 
*Frente a quadro neurológico com 
manifestações como convulsões, alteração do 
estado mental e sinais focais, como 
hemiparesia, hemiplegia e disfasia, em paciente 
com HIV e linfócitos T CD4+ abaixo de 100 
células/mm3, lembre-se da 
NEUROTOXOPLASMOSE. 
 
A suspeita do diagnóstico é feita com a 
tomografia de crânio e o quadro clínico. A 
confirmação ocorre com a prova terapêutica, 
afinal, não devemos sair por aí biopsiando a 
cabeça de todo mundo, né? Se o paciente tiver 
uma melhora clínica e radiológica com o 
tratamento para neurotoxoplasmose, então era 
esse mesmo o diagnóstico. 
 
Neurocriptococose: A neurocriptococose é 
uma doença causada por um fungo chamado 
Cryptococcus neoformans. É a doença fúngica 
invasiva com risco de óbito que mais ocorre 
nesses pacientes. 
Esse fungo é encontrado em solos e nas fezes 
de animais, principalmente dos pombos. Essa 
levedura é inalada e o pulmão é o primeiro 
órgão infectado. Apesar de a infecção começar 
pelo pulmão, em pacientes 
imunocomprometidos o sistema nervoso 
central é o local mais acometido. 
 
Clinicamente, o paciente apresenta sinais e 
sintomas de meningite e hipertensão 
intracraniana, como cefaleia, náuseas e vômitos, 
rigidez de nuca, edema de papila, paralisia do 
VI par craniano (por ter um trajeto longo) e 
confusão mental. 
A hipertensão intracraniana é muito comum e 
bem característica da neurocriptococose. 
 
Linfoma primário de SNC: Em quadro 
sugestivo de neurotoxoplasmose que não 
melhora após 10 a 15 dias de tratamento, 
devemos nos lembrar do LPSNC. O PCR para 
EBV no líquor favorece esse diagnóstico. 
 
Neurosífilis: A neurossífilis é uma doença 
causada pelo Treponema pallidum. 
Ela acomete pacientes com HIV/aids de forma 
mais frequente do que aqueles não infectados. 
As manifestações clínicas neurológicas mais 
comuns são a meningite, neurite óptica, uveíte, 
alteração do estado mental e acidente vascular 
cerebral (a sífilis pode causar uma vasculite). 
Alguns fatores de risco descritos em pessoas 
vivendo com HIV/aids (PVHIV) são: uma 
contagem de linfócitos T CD4+ < 350 
Vitória Boulhosa 
Medicina 4P 
ce ́lulas/μL, um RPR (teste semelhante ao 
VDRL) > 1:128 e ser do sexo masculino. 
 
3. INFECÇÕES DO TGI 
Candidíase oral e esofágica: A candidíase oral é 
uma doença que acomete principalmente os 
pacientes imunocomprometidos. Pode ocorrer 
em imunocompetentes, porém aqueles com 
algum fator de risco para o desenvolvimento 
dessa doença, como a presença de boca seca 
(xerostomia), uso de dentaduras, uso de 
antibióticos ou corticoide inalatório. Caso não 
haja nenhum desses fatores de risco, devemos 
sempre investigar a infecção pelo HIV. 
 
Clinicamente, a doença manifesta-se com a 
presença de placas esbranquiçadas na cavidade 
oral, que conseguem ser removidas com uma 
espátula. Nos pacientes com candidíase oral 
que apresentem disfagia, pense logo em 
candidíase esofágica, que é a causa mais 
frequente de disfagia nos pacientes com AIDS. 
 
Úlceras esofágicas por herpesvírus ou CMV: O 
agente viral mais associado a úlceras esofágicas 
em pacientes com HIV é o CMV. As úlceras 
são confluentes e lineares ou longitudinais. No 
anatomopatológico, há a identificação de 
células epiteliais com inclusões basófilas no 
citoplasma e eosinofílicas dentro do núcleo, 
formando uma imagem de “olho de coruja”. 
 
As úlceras herpéticas, elas são causadas 
principalmente pelo HSV-1. Decorrem do 
rompimento de vesículas, que coalescem e 
formam úlceras pequenas, geralmente menores 
do que 2 mm. São bem circunscritas e têm a 
aparência de um “vulcão”. 
 
Diarréias: As infecções do trato gastrointestinal 
podem ser causadas por diversos patógenos 
oportunistas, mas também por doenças 
infiltrativas, como o linfoma e sarcoma de 
Kaposi. 
Quanto menor a contagem de linfócitos T 
CD4+, maior o risco de o paciente apresentar 
diarreia por algum patógeno oportunista, que 
geralmente não causa doença nosimunocompetentes. 
 
Pacientes com AIDS e com uma contagem de 
linfócitos geralmente < 100 células/mm3, têm 
risco de apresentar um quadro de diarreia 
crônica por microrganismos oportunistas. 
• Cryptosporidium spp. Ele é um 
protozoário intracelular que pode levar a um 
quadro de diarreia crônica, má absorção, mal 
estar, náuseas, anorexia, dor abdominal e febre 
baixa. 
• Microsporidiose. É uma doença causada por 
microrganismos do filo Microsporidia. 
Geralmente acomete pacientes com aids com 
uma contagem de linfócitos abaixo de 100 
células/mm3. Esses microrganismos eram 
considerados protozoários, mas atualmente 
foram reclassificados como fungos. Podem 
causar uma diarreia crônica líquida que pode 
estar associada à dor abdominal, perda 
ponderal, náuseas, vômitos e disabsorção. 
Febre é rara nesses casos. 
• Doença por Cystoisospora (antigo Isospora) 
belli. É uma doença que leva à diarreia líquida, 
dor abdominal, vômitos e desidratação. 
Geralmente tem um curso crônico em 
pacientes imunocomprometidos. 
• CMV (citomegalovírus). Pacientes com 
imunossupressão grave, principalmente aqueles 
com contagem de linfócitos T CD4+ abaixo de 
50 células/mm3, podem reativar o CMV e 
apresentar um quadro de colite. O paciente 
pode apresentar diarreia líquida crônica, 
anorexia, perda ponderal, dor abdominal e 
febre baixa. Geralmente, o diagnóstico é feito 
através de uma colonoscopia com biópsia. 
• MAC (Mycobacterium avium complex). Esse 
microrganismo pode causar um quadro de uma 
síndrome consumptiva com diarreia crônica. 
 
Hepatites virais: 
• Coinfecção HIV-HCV: 
Pacientes infectados com HCV e também com 
HIV têm uma evolução muito mais rápida da 
doença hepática. A progressão para cirrose ou 
doença hepática descompensada pode ser até 3 
vezes maior do que naqueles somente com 
hepatite C. Por esse motivo, pacientes 
coinfectados HIV-HCV têm prioridade dentre 
os demais infectados para tratamento do HCV. 
• Coinfecção HIV-HBV 
Vitória Boulhosa 
Medicina 4P 
Assim como na coinfecção com HCV, 
pacientes com HIV-HBV também podem ter 
uma progressão mais rápida para cirrose e até 
mesmo CHC (carcinoma hepatocelular). Além 
disso, quem já tem a infecção pelo HIV e 
desenvolve infecção aguda pelo HBV tem uma 
chance muito maior de tornar-se portador 
crônico em relação às pessoas soronegativas 
para o HIV. 
 
Infecções disseminadas 
O Mycobacterium avium complex (MAC) 
infecta pacientes com AIDS e uma contagem de 
linfócitos T CD4+ < 50 células/mm3. São 
microrganismos encontrados no ambiente, 
como no solo e na água. Geralmente causam 
uma doença disseminada, levando ao 
aparecimento de sintomas como febre, 
sudorese noturna, perda ponderal e diarreia. A 
linfonodomegalia é difusa e frequente. O 
diagnóstico é feito com a detecção da 
micobactéria em culturas e o tratamento é feito 
com etambutol e claritromicina (ou 
azitromicina) por pelo menos 12 meses. 
Para evitar essa doença, todo paciente com aids 
e linfócitos T CD4 ≤50 células/mm3 deve 
receber quimioprofilaxia com azitromicina ou 
claritromicina. 
 
IRIS (síndrome inflamatória da 
reconstituição imune) 
A SIRS é uma condição que pode ocorrer após 
o início do tratamento da infecção pelo HIV. 
Alguns pacientes podem apresentar uma piora 
clínica após o início da TARV, o que pode 
decorrer de infecções que estavam mascaradas 
e, com o retorno da imunidade, se manifestam. 
Reações inflamatórias passam a ocorrer onde 
havia infecção e o paciente pode adoecer por 
conta disso. A SIRS é uma condição 
autolimitada na maioria das vezes, porém, caso 
o paciente tenha alguma infecção subclínica no 
sistema nervoso central, pode falecer ou ter 
sequelas graves. 
Alguns patógenos que podem causar SIRS são, 
por exemplo, Mycobacterium tuberculosis, 
MAC, Cryptococcus neoformans e 
Citomegalovírus. 
Pacientes com linfócitos T CD4+ muito baixos 
no início da TARV ou com uma carga viral 
muito alta têm um risco maior de 
desenvolverem SIRS. Os sintomas tendem a 
apresentar-se dentro de uma semana a alguns 
meses após início da TARV. 
Se você prestou atenção, em algumas doenças 
oportunistas ao longo do livro eu coloquei 
quando devemos iniciar a TARV após o início 
do tratamento de cada uma delas. Isso ocorre 
exatamente para evitarmos uma reconstituição 
imune. As doenças mais graves, que devemos 
aguardar mais tempo para iniciar a TARV, são 
a neurotuberculose e a neurocriptococose, 
afinal, uma reconstituição imune por elas pode 
ser muito grave e o paciente pode evoluir para 
o óbito. 
 
Referências 
I. DE OLIVEIRA MACEDO, Paloma et 
al. Perfil sociodemográfico e determinantes 
sociais da coinfecção tuberculose-HIV no 
Brasil: uma revisão integrativa. 2022. 
 
II. SANTOS, Cairo Jose dos et al. 
Aspectos fisiopatológicos que envolvem a 
infecção do vírus HIV em humanos: um estudo 
cienciométrico. 2021. 
 
III. LUIZ, Taís Oliveira et al. Pacientes 
críticos com HIV/AIDS: fatores associados às 
complicações. 2018. 
 
IV. Protocolo Clínico e Diretrizes 
Terapêuticas (PCDT) para Manejo da Infecção 
pelo HIV em adultos. Ministérioda Saúde 
2018. 
 
V. Manual Técnico para o Diagnóstico da 
Infecção pelo HIV em adultos e Crianças. 
Ministério da Saúde. 2018

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