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- -1 COMPORTAMENTO E SOCIEDADE CONCEITOS SOCIOLÓGICOS: UMA BREVE INTRODUÇÃO Flávia Cristina Soares - -2 Olá! Você está na unidade . Conheça aqui a contextualização dosConceitos Sociológicos: uma breve introdução fundamentos sociológicos e seus principais conceitos: controle social, crime e desvio, formação de grupos e a constituição de identidades e, por último, a família e o sistema de parentesco. Para tanto, foi utilizado um autor considerado como um dos fundadores da Sociologia: Émile Durkheim e seus pensamentos a partir dos conceitos tratados nessa unidade. Logo, enunciamos a importância da Escola de Chicago e a Teoria da Rotulação proposta por Howard Becker, juntamente com o Estigma descrito por Erving Goffman. Por conseguinte, a explanação sobre o processo de formação dos grupos juvenis nas grandes metrópoles brasileiras e a discussão sobre a identidade e tribos urbanas foram expostos com o objetivo de refletirmos sobre a realidade brasileira. Por último, destacaremos os sistemas de parentesco e o tabu do incesto. Bons estudos! - -3 1 Breve Histórico do Surgimento da Sociologia Nesse tópico, apresentaremos um breve histórico do surgimento da sociologia, a partir da leitura do James Samuel Coleman sobre a transição das sociedades feudais para as sociedades capitalistas. O autor demonstrará como esse processo de transição acarretou profundas transformações sociais das quais modificaram as formas , o e a .de organização familiar controle social solidariedade - -4 1.1 A transição das sociedades tradicionais para as modernas Entre os anos de 1970 e 1980, o sociólogo James Samuel Coleman construiu o seu pensamento ressaltando o quanto a no interior das organizações possibilitou o surgimento do ,solidariedade social controle social inovando em relação aos clássicos da sociologia – Marx, Durkheim e Weber – através do conceito denominado de capital social. Para o melhor entendimento, pode-se dizer que a se constitui pela formaçãosolidariedade social dos laços ou vínculos estabelecidos entre as pessoas, formando uma consciência coletiva. Tal consciência possibilita a construção dos valores e das normas estabelecidas em cada sociedade. Assim sendo, o coletiva (formal ou informal) seria uma forma de garantir a ordem social para àqueles que descumpremcontrole social as normas, sendo passíveis de sanções ou punições. Dentro dessa perspectiva, o autor ressalta que as e foram consideradas osRevoluções Francesa Industrial marcos fundamentais em relação ao processo de transição das sociedades tradicionais para as modernas. A sociedade feudal se caracterizou pelo “sistema político e social baseado na tradição, privilégios herdados e caprichos pessoais” (COLEMAN, 1993, p. 2). Com a Revolução Industrial e o modo de produção capitalista, o desenvolvimento das cidades foi um símbolo importante para se refletir sobre as sociedades modernas (COLEMAN, 1993, p.2). Por outro lado, a Revolução Francesa possibilitou a construção de uma sociedade baseada na racionalidade. Esses dois acontecimentos foram de extrema magnitude para a constituição da modernidade. Isto posto, o declínio do feudalismo e a ascensão do capitalismo implicaram em uma série de transformações políticas, sociais e econômicas, fato que modificou a concepção dos pesquisadores em relação à sociedade. Nessa transição, destaca-se que as atividades econômicas foram se distanciando da agricultura e atraindo as pessoas para o interior das cidades. Sendo assim, pode-se dizer que a estrutura interna das organizações feudais se baseavam nas relações pessoais (COLEMAN, 1997, p. 7), enquanto na modernidade, as organizações são baseadas nas posições ou ofícios dos quais as pessoas ocupam. Isto quer dizer que essas pessoas constroem normas ou direitos que são desenvolvidos por parte dos ocupantes dos cargos. Nesse ínterim, os conflitos são solucionados no interior da própria corporação que possui legitimidade para solucionar essas divergências. Neste caso, não há qualquer intervenção do sistema legal externo, ou seja, da justiça ou instituições que são considerados os principais dispositivos que exercem a função de mediar ou solucionar conflitos. Seguindo os pensamentos de James Samuel Coleman, o autor se refere ao controle social exercido nas sociedades feudalista e capitalista. No feudalismo, o controle social era realizado através das “normas sociais, ,status reputação e força moral” (COLEMAN, 1993, p. 9). De outro lado, no capitalismo, o controle social é realizado através de regras, leis, incentivos formais e sanções produzidas pelos próprios indivíduos (COLEMAN, 1993). - -5 Desse modo, o controle social no feudalismo é exercido pela família e no capitalismo pelos diretores ou gerentes de empresas que possui autoridade para demitir um empregado, caso ele viole as regras da instituição. - -6 1.2 Alguns estudos sociológicos A partir dessas mudanças estruturais, ressalta-se que Auguste Comte foi um dos primeiros teóricos a consagrar a Sociologia enquanto ciência através do “Curso de Filosofia Positiva” no ano 1840. Em seguida, a obra de Karl Marx em 1859, intitulada “Contribuição para a crítica da economia política”, foi uma resposta à essas mudanças sociais e econômicas. Em 1893, Émile Durkheim publica “Da divisão do trabalho social”, discutindo a estrutura da produção econômica. Logo, Max Weber com “Burocracia” (1921/1922) demonstrou o crescimento da sociedade racional. Além destes, Toennies (1887), Park e seus alunos da Escola de Chicago (1915 a 1929), entre outros autores e estudos procuraram demonstrar o nascimento e a consolidação da ciência sociológica em função das transformações estruturais (COLEMAN, 1993). Aqui, cabe destacar que uma quantidade expressiva de pesquisadores e professores formaram um grupo com o objetivo de dedicar os seus estudos em relação aos grandes centros urbanos e a consequente delinquência e criminalidade realizada, primordialmente, por jovens, destacando a Escola de Chicago como uma referência nessas temáticas. Figura 1 - Escola de Chicago Fonte: Jannis Tobias Werner, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: Na imagem, pode-se observar a Universidade de Chicago nos Estados Unidos, conhecida pelos sociólogos como Escola de Chicago. Além destes estudos, os sociólogos continuaram investigando os fenômenos sociais, bem como construindo metodologias ao longo dos anos 1940 e 1960. A partir de 1964, a formulação de políticas sociais para atender a demanda da população passou a ser um desafio para a ciência sociológica, como por exemplo, o controle de drogas, a prevenção à criminalidade, a saúde mental e os mais diversos problemas que foram se tornando - -7 públicos e que demandavam uma intervenção estatal. A elaboração de políticas públicas com o intuito de solucionar esses problemas assinalava, de maneira enfática, para o declínio do feudalismo. Além do movimento populacional das famílias para o interior das cidades e a mudança socioeconômica ocasionadas pelas Revoluções Francesa e Industrial, a presença das mulheres na força de trabalho se destacou como um indicador do enfraquecimento das relações familiares culminando no desmantelamento do feudalismo e a consequente ascensão do capitalismo. Como consequência, o enfraquecimento das relações familiares causou uma diversidade de problemas sociais através do envolvimento das crianças e dos adolescentes com a criminalidade, o uso de álcool e drogas ou as dificuldades de aprendizagem, acarretando em custos para o Estado através das despesas para a manutenção dos órgãos judiciários ou das políticas de assistência social (COLLINS, 2009, p. 153). Além disso, a partir dos anos 1990, Coleman observou que as escolas se transformaram em espaços para relegar as crianças e abandonar (subjetivamente e social) os adolescentes, primordialmente, após a inserção das mulheres no mercado de trabalho. Por trás dessa breve apresentação, o pensamento de Émile Durkheim em relação ao controle sociale as normas a partir do sua tese “Da divisão do trabalho social” serão abordados no próximo tópico. Fique de olho Para saber mais sobre a história da Escola de Chicago, sugere-se a leitura do artigo “A Escola de Chicago”, escrito por Howard Becker, em 1996. - -8 2 O Pensamento de Émile Durkheim Para dar continuidade ao tópico anterior, iremos apresentar os pensamentos propostos por Émile Durkheim. Este autor analisa as sociedades após as Revoluções Francesa e Industrial e observa que a divisão do trabalho se deu em decorrência da ascensão do capitalismo. Essa propiciou o que chamamos de divisão do trabalho no mundo moderno, distinto das sociedades tradicionais. Porém, para que haja asolidariedade social solidariedade social é preciso um conjunto de normas em que os indivíduos estabelecem para viverem em sociedade. Assim sendo, as desordens econômicas, políticas e/ou sociais podem ocasionar um processo de (ausência de leis ou normas). A partir dessa breve contextualização, é possível verificar que àquelesanomia indivíduos que desobedecem as normas constituídas podem sofrer ou em qualquer sociedadesanções punições – tradicional ou moderna. 2.1 Da divisão do trabalho social É importante ressaltar que foi considerado um dos fundadores da sociologia, escrevendo a suaÉmile Durkheim tese de doutorado intitulada (1977). Nesse manuscrito, o autor ressalta a“Da divisão do trabalho social” importância da estrutura de produção econômica na modernidade. Com o declínio do feudalismo e a ascensão do capitalismo, após as Revoluções Francesa e Industrial, as relações econômicas passaram a ser predominantes na sociedade. A e a propiciaram um estado de (ausência deindustrialização divisão do trabalho anomia jurídica leis ou normas) devido às desordens ocasionadas pelo sistema econômico e, consequentemente, as relações estabelecidas entre os indivíduos não se fundamentavam pela ação moral (devido ao enfraquecimento da religião e da família), fato que causou a crise da moralidade e a desagregação social. Com o propósito de compreender essa ideia, Durkheim propôs investigar “a solidariedade social através do sistema das regras jurídicas” (DURKHEIM, 1999, p. XLIX). - -9 2.2 Solidariedade social em Durkheim: normas e sanções Se nas sociedades tradicionais, a família e a religião com os seus respectivos princípios morais e crenças se mantinham “fortes” na consciência coletiva estabelecendo a coesão social, como seria esse processo na modernidade? Durkheim (1999) responde a essa problemática apresentando dois tipos de solidariedade: a e a . A foi preponderante nas sociedades , mecânica orgânica solidariedade mecânica tradicionais . Com a transformação social,caracterizada por atividades de produção pouco diferenciadas (semelhantes) o meio industrial e comercial exigia que o trabalho fosse especializado para cada grupo profissional. Com isso, a solidariedade foi acompanhando as mudanças - principalmente através da diferenciação dos ofícios - nomeada pelo autor de . Diante do exposto, Durkheimrealizados pelos indivíduos solidariedade orgânica constatou que a possuía a função de manter a nas divisão do trabalho coesão social sociedades capitalistas , uma vez que constroem a moral e o direito profissional.modernas O sistema de regras, normas e sanções (moralidade) foram instituídas pela família e pela religião nas sociedades tradicionais. As transformações ocasionadas após as revoluções, modificaram também a concepção de moralidade no mundo moderno. Assim, Durkheim apresenta uma nova forma de conceber a modernidade, dado que suas argumentações apontam que os grupos profissionais podem instituir tanto a coesão como a coerção social. Nas sociedades tradicionais assim como nas modernas, os atos considerados como criminoso (matar ou roubar, por exemplo) são reprovados pelos indivíduos de ambas as corporações. Além disso, os criminosos geram sentimentos coletivos de hostilidade ou vingança contra ele, fato do qual aplica-se a pena ao ofensor (àquele que violou as regras estabelecidas pela sociedade). Nos , o objetivo da pena é a (por isso,povos primitivos punição o caráter repressivo). Já, na , a finalidade da sanção é a . Assim,modernidade restauração ao dano causado cada sociedade constitui e modifica a regra, porém é preciso que os indivíduos legitimem as sanções. Para Durkheim, qualquer contrato só possui validade se a sociedade o reconhecer como tal. A compreensão do direito nessas sociedades revela que “a moralidade consiste em ser solidário de um grupo e varia de acordo com essa solidariedade” (DURKHEIM, 1999, p. 421). Assim, a divisão do trabalho passa a ser um requisito primordial para a solidariedade na modernidade, bem como da sua integração social. A questão que se coloca está situada na mudança rápida e profunda do sistema feudalista para o capitalista, fato que a moral (entende-se por doutrinas e costumes) nas sociedades tradicionais não acompanhou a rapidez dessa transformação no sistema social (DURKHEIM, 1999, p. 431). Isto implica em um estado de anomia (ausência de leis ou regras) provocado pelas funções econômicas. - -10 Com o propósito de compreender melhor os argumentos de Durkheim, ressalta-se que a modernização provocou a diferenciação dos ofícios tanto na indústria quanto no comércio. Isto possibilitou o agrupamento dos indivíduos de acordo com as suas profissões, ou seja, a partir das “ideias, interesses, sentimentos, ocupações” (DURKHEIM, 1999, p. XXI) em comum. Ao se constituírem enquanto grupos profissionais, eles elaboraram regras morais para viverem juntos construindo o direito profissional. Por outro lado, a família estabelecia o direito doméstico (DURKHEIM, 1999, p. XXV). Para a consolidação desse direito profissional, foi necessário formular “um órgão apropriado, que a exprima e regularize seu funcionamento” (DURKHEIM, 1999, p. XXXII), uma vez que a diversificação do trabalho propiciou indivíduos mais autônomos e interdependentes, pois as passaram a ser reguladas pelo relações econômicas . Dessa forma, as regras foram aplicadas às corporações modernas, possibilitando a construção daEstado moralidade no interior dos grupos profissionais - uma forma de manifestar a coletividade através do sentimento de solidariedade devido à “homogeneidade intelectual e moral” (DURKHEIM, 1999, p. XXXV). Com a ascensão do capitalismo, as organizações passaram a ocupar um espaço cada vez mais central na sociedade e, consequentemente, a solidariedade social se transformou de ( ) para mecânica sociedades tradicionais ( ).orgânica sociedades modernas Durkheim conclui que o caráter moral de qualquer sociedade molda a solidariedade social (seja através da família e religião ou das corporações). Dessa forma, a integração social faz parte da consciência coletiva e qualquer ofensa à essa consciência pode acarretar na desintegração da sociedade (DURKHEIM, 1999). Neste caso, as regras morais devem combater qualquer desordem ocasionada no sistema social. É esta a importância da na modernidade, uma vez que a sua especialização possui como principal objetivodivisão do trabalho social manter a da sociedade, ou seja, equilibrar as relações sociais permeadas pela indústria e pelo comércio.coesão Como Durkheim aponta que a divisão do trabalho propiciou o estabelecimento de um novo sistema de regras com a finalidade de garantir a integração social, Coleman (1993) avança nessa perspectiva ressaltando a importância dos sociólogos em se atentarem para um novo desenho institucional (através de políticas sociais) para intervir diretamente nos problemas sociais causado pelas relações econômicas. - -11 3 Crime e Desvio Dando prosseguimento aos pensamentos de Durkheim, é preciso contextualizar como as sociedades modernas respondem ao estado de , primordialmente, no que tange à e aos indivíduosanomia criminalidade considerados como através da intervenção do poder estatal: polícia militar, polícia civil, defensoriadesviantespública, ministério público e juizado. Para tanto, abordaremos nesse tópico a formuladaTeoria da Rotulação por e o descrito por , ressaltando que o Howard Becker Estigma Erving Goffman crime ou desvio seria uma .decorrência da interação entre indivíduo e a sociedade - -12 3.1 Teoria da rotulação É possível afirmar que Durkheim influenciou os estudos sobre o interacionismo, tendo Becker e Goffman como seus principais representantes. De acordo com BENDER (2019, p. 22) A anomia social, proposta inicialmente por Durkheim, influenciou diversos estudos posteriormente ao seu falecimento. Da mesma forma, o desvio de normas continuou sendo debatido, ganhando destaque em pesquisas empíricas nos Estados Unidos, formando a denominada Escola de Chicago. Howard Saul Becker e Erving Goffman, principais representantes desta escola, procedem o estudo de Durkheim sobre os desvios de normas analisados a partir de modelos sociais, porém, através de uma ênfase inovadora voltada para a microssociologia. Deste modo, pesquisas sobre imigração, relações étnicas, delinquência e drogas, temas que permeavam o contexto social da cidade, eram analisados de maneira recorrente através de pequenos grupos de indivíduos, com o objetivo de entender a própria sociedade. Em uma perspectiva crítica, Becker e Goffman passaram a trazer uma nova concepção sobre o crime e o desvio que serão descritos nas próximas linhas. Os estudos sobre a sociologia do realizados por , escrito no início dos anos 1960, foi umdesvio Howard Becker dos marcos para a consolidação da nas ciências sociais. O autor se concentrou,teoria da rotulação especificamente, em elucidar o processo de interação entre a sociedade e àqueles indivíduos considerados , por exemplo, os usuários de maconha e músicos de jazz em casas noturnas. Ele procuroucomo desviantes compreender os motivos pelos quais os indivíduos constroem uma “carreira desviante”, uma vez que a ou a estabelecidas provoca uma desobediência violação às normas sociais reação por parte da sociedade em ou classificar determinada pessoa como um .rotular desviante Aos poucos, esta teoria foi avançando por diversas razões. Entre elas, destaca-se que nem todos os indivíduos que transgridem a lei são considerados criminosos, ou seja, para ser um criminoso não basta cometer um crime, mas também, é necessário que O desvio éa sociedade reaja de maneira negativa em relação ao indivíduo. socialmente construído, assim como o desviante é aquela pessoa a cujo rótulo foi aplicado com sucesso, conforme salientou Becker (2008). E, a rotulação de indivíduos como criminosos é o próprio tratamento que lhe é imputado como criminoso possibilitando a construção da sua carreira e transformando o seu socialstatus (CULLEN & AGNEW, 2006). - -13 Para Becker (2008), a aplicação de ou formais através do Estado ou informais pelasanções punições comunidade é o ponto primordial para a do indivíduo enquanto . No entanto, é precisorotulação desviante considerar que a sociedade é quem define qual é o comportamento visto como “normal”. Nesse processo de rotulação, alguns indivíduos considerados como desviantes e, por vezes, criminosos, esse rótulo,internalizam acarretando consequências para sua vida cotidiana como o ou a .isolamento limitação de contatos sociais Como interacionismo, Becker (2008) apresenta o complexo drama de interação entre as pessoas da sociedade, principalmente no que tange ao poder de uma determinada classe em imputar desvio aos demais. Assim, a sociologia do desvio é uma crítica social ao processo de estigmatização dos grupos dominantes em relação àqueles com menor poder dentro da hierarquia social. - -14 3.2 Estigma Nessa tradição de estudos interacionistas sobre o desvio, também foi um pesquisadorErving Goffman importante ao estudar o processo de “marcação” negativa dos indivíduos cujo resultado é a constituição Além disso, Goffman (1975) se concentra na maneira pela qual os indivíduosda “identidade deteriorada”. interagem com a sociedade e com as mais diversas estratégias empregadas pelo estigmatizado para ocultar as suas diferenças físicas ou sociais. De acordo com Werneck (2014, p. 112) Sua grande contribuição à [Teoria da Rotulaçao], entretanto, residiu sobretudo naLabeling Theory descrição de como uma discrepância entre identidades sociais ‘virtuais’ e ‘reais’ imaginadas pelos atores nas interações é experimentada como a construção de selves ‘desacreditados’ (cujos estigmas são claramente identificados e estabelecidos) ou ‘desacreditáveis’ (cujas marcas não são óbvias, gerando reações de confiança. O processo de rotulação da sociedade perante os indivíduos estigmatizados é uma forma de conceber um lugar àqueles considerados como “normais” em detrimento aos “outros”, pois não desejam perder a sua predominância na hierarquia social. Assim, o desviante cumpre o seu papel de legitimar os “normais” como aqueles dignos de construir uma carreira “bem sucedida”. Ou seja, ser um “desacreditado” ou “desacreditável” nas categorias de Goffman, concede um espaço para a legitimidade da sociedade e seus padrões ou comportamentos dominantes (GOFFMAN, 1975). Nesse sentido, o opera segundo as distinções estabelecidas pela sociedade sobre osistema de justiça criminal que é considerado “normal” e “desviante”. Ou seja, os operadores desse sistema atuam regidos pelo que a sociedade, em determinado período histórico, representa sobre quem é o tipo social considerado “criminoso”, “bandido” ou “desviante”. Desde a década de 1980, os estudos brasileiros apontam como a , o , a raça sexo idade e a são atributos (ou estigmas) imprescindíveis para definir os indivíduos como “criminosos”,classe social orientando a prática dos agentes policiais e do poder judiciário. - -15 3.3 O precursor da sociologia do desvio no Brasil O precursor dos estudos sobre a Sociologia do desvio no Brasil foi , um antropólogo, influenciadoGilberto Velho pelos pensamentos de Howard Becker e Erving Goffman. Em 1973, o autor defendeu sua dissertação de mestrado intitulada “A Utopia Urbana” que descreve as relações sociais estabelecidas entre os moradores do bairro de Copacabana no Rio de Janeiro - com alto poder aquisitivo - e dos habitantes de um edifício chamado Estrela, conhecido pela deterioração do seu padrão moral em função do baixo socioeconômico das pessoasstatus residentes neste espaço “nobre” da cidade. Os moradores de Copacabana denominaram o edifício de “balança mas não cai”, uma característica depreciadora, visto que morar em Copacabana é considerado um símbolo de prestígio. Os atributos pejorativos aos moradores do edifício Estrela resultaram em atitudes defensivas, evitando falar qual o seu local de moradia por vergonha de serem rejeitados pelos demais (VELHO, 1973). Em 1974, Gilberto Velho publicou uma coletânea chamada “Desvio e Divergência: uma crítica da patologia social”, reunindo diversos artigos com as teorias de Becker e Goffman como temas centrais do livro (VELHO, 1974). Nesta coletânea, Gilberto Velho tece severas críticas à da patologia social. Em oposição, Gilberto Velho destaca que tanto o crime quanto os criminosos são construídos socialmente a partir da interação entre Ao contemplar uma análise no nível microssociológico, ele constatou que o desvio nãoacusados e acusadores. é algo inerente aos indivíduos posicionados num nível mais baixo da estrutura social e, muito menos, uma qualidade de determinadas pessoas. Até meados da década de 1970, a concepção da patologia social pairava sobre as concepções do crime, criminalidade e criminosos no Brasil. Estas interpretações resultaram na afirmação de que o crime é consequência da pobreza, pois os indivíduos com baixo socioeconômico estavam representadosstatus fortemente nas estatísticas policiais e no sistema penitenciário. Como reação a este pensamento, Edmundo Campos Coelho e Antônio Luiz Paixão demonstraram, através das suas pesquisas, uma nova concepção da criminalidade brasileira,fortemente influenciados pela teoria da rotulação, na década de 1980. O estudo do processo de interação entre o indivíduo e a sociedade no âmbito do sistema de justiça criminal brasileiro marcou o início de uma série de pesquisas sobre a sociologia do desvio no país. Nesse momento, o Brasil já apresentava um número significativo de crimes praticados nas principais metrópoles brasileiras e, consequentemente, uma quantidade expressiva de indivíduos encarcerados advindos de classes com baixo status socioeconômico, bem como negros e moradores de vilas e favelas. A hipótese concebida entre o crime e a pobreza se justificava pela “estratégia de sobrevivência” desses indivíduos em função da sua condição social. O principal argumento do consistia em Edmundo Campos Coelho desmistificar a associação entre o crime e a Ele afirmou que o Estado através dos mecanismos de poder e coerção apreendem os indivíduos pobrespobreza. - -16 e, como resultado, estas classes estigmatizadas são as mais propensas a serem rotuladas pelos policiais em suas operações rotineiras de vigilância (CAMPOS COELHO, 1980). A arbitrariedade do trabalho policial tomando como pressuposto que o crime é a consequência da pobreza nas grandes cidades brasileiras pode ser constatada pela análise dos dados obtidos comparando os crimes contra o patrimônio e o estelionato. Os resultados sugerem que os crimes contra o patrimônio são, muitas vezes, praticados por indivíduos pertencentes a classes baixas e, por conseguinte, são tratados com maior pelorigidez sistema de justiça criminal. Em contrapartida, o estelionato realizado por pessoas que possuem maior “capital humano”, ou seja, aqueles pertencentes às classes médias ou altas são ao poder judiciário (CAMPOS“imunes” COELHO, 1980, p. 299). Para exemplificar de maneira adequada essa concepção cultural que relaciona o crime com a pobreza, destaca-se uma categoria de crime denominada ou . Como se sabe, este crime não é objeto“colarinho branco” white colar de estudo nas teorias criminais (SUTHERLAND apud CAMPOS COELHO, 1978, p. 156), visto que essas pessoas não condizem com o estereótipo ou perfil do criminoso construído pela sociedade e as suas práticas não são rotuladas enquanto crimes. Por consequência, estes criminosos de “colarinho branco” não são apreendidos pelos agentes da segurança pública, muito menos, submetidos a processos criminais. Uma possível explicação para esta situação se resume no simples fato de que indivíduos com econômico elevado ocupam cargos destatus prestígio e respeito e, logo não reincidirão com novos comportamentos criminosos. De certo, estes indivíduos estão protegidos dos mecanismos de coerção realizados pelo Estado e, portanto, não são rotulados enquanto criminosos. Assim, observa-se uma distinção no tratamento das pessoas envolvidas com o estelionato e, primordialmente, com os crimes de “colarinho branco” em comparação aos crimes praticados pelos indivíduos das classes subalternas. Essa distinção é justificada pela capacidade operacional das organizações policiais em construir o perfil do criminoso estigmatizado, resultando em atrelar o crime à pobreza. Isto é, o pobre é o estereótipo de alguém que comete crimes e, portanto será o alvo das intervenções policiais. Assim, “(...) as estatísticas oficiais constituem a definição cultural do que seja crime: esta definição é utilizada para diferenciar o criminoso oficial de tantos outros que violam a lei sem se tornarem legalmente criminosos, embora o comportamento de ambos seja o mesmo” (CAMPOS COELHO, 1978, p. 154). A persistência desses indivíduos no que diz respeito ao processo de execução por parte do poder judiciário e o consequente julgamento com mais severidade em relação ao estereótipo do criminoso é denominado de (CAMPOS COELHO, 1978).“criminalização da marginalidade” - -17 4 Formação de Grupos e Identidade No tópico anterior vimos o processo de transição das sociedades tradicionais para as modernas, além de descrever sobre o controle social em ambos os contextos, também destacamos o desvio ou o crime como um produto da interação entre o indivíduo e a sociedade. Sendo assim, nesse tópico destacaremos a formação de e a no contexto urbano. Nesse sentido, salienta-se que a transição dasgrupos constituição de identidades sociedades tradicionais para as modernas culminou no crescimento das cidades, transformando-as em megalópoles. A partir disso, os problemas públicos e sociais começaram a surgir como, por exemplo, a desigualdade, a violência e a formação de grupos juvenis que possuem como objetivo o tráfico ilegal de drogas ou condutas consideradas desviantes diante dos conceitos propostos pela sociologia. - -18 4.1 Formação de grupos Para descrever o processo de , é necessário relembrar que as crianças ainda possuem umformação de grupos laço forte estabelecido com seus pais, genitores ou responsáveis. Já, na puberdade, além das mudanças físicas, o adolescente constrói uma maneira subjetiva de se distanciar dos pais, genitores ou responsáveis, procurando estabelecer vínculos com os amigos do colégio ou com àqueles que moram próximos à sua residência. Isso propicia a constituição de identidade para cada sujeito em seu âmbito psicológico e/ou social. Por ,identidade entende-se o desejo de um indivíduo de pertencer a um determinado agrupamento dos quais possui afinidades com os demais membros do grupo. Entretanto, vale destacar que a identidade é formada durante a fase da adolescência e/ou juventude. Cabe ressaltar que o conceito de foi cunhado após a II Guerra Mundial com o propósito de constituirjuventude um público consumidor. Como bem ressalta Pierre Bourdieu (1983, p. 112) “a ‘juventude’ é apenas uma palavra”. Isto quer dizer que o termo surgiu na modernidade em detrimento do crescimento das cidades e do capitalismo. Assim sendo, a formação de é uma característica das e se tornou umagrupos juvenis sociedades modernas questão social na medida em que os jovens passaram a se juntar para praticarem atos considerados como desviantes. Cita-se aqui: os traficantes, os pichadores e os torcedores organizados, resguardando as suas devidas particularidades. Um dos autores que dedicou seus estudos para compreender a apropriação do espaço urbano pela juventude foi Magnani (1992a). O autor destacou o como uma categoria primordial para sustentar o seu argumento.“pedaço” Tal categoria foi utilizada para observar como os jovens estabeleciam as suas pelaredes de relações sociais cidade. Assim, de acordo com Magnani (1992a, p. 192) o “pedaço” foi caracterizado por: Uma primeira análise mostrou que a categoria pedaço era formada por dois elementos básicos: um de ordem espacial, físico, sobre o qual se estendia uma determinada rede de relações. O primeiro se configurava um território claramente demarcado: o telefone público, a padaria, este ou aquele bar, o terminal de ônibus, talvez um templo ou terreiro, e outros pontos mais delineavam o seu entorno. Isto quer dizer que a se dá, exclusivamente, pela (oformação de grupos juvenis proximidade de moradia “pedaço”). Qualquer outro grupo formado que não esteja inserido no “pedaço” pode ser considerado como rival ou . Para mais, a rede de relações construída pelos jovens pertencentes aos agrupamentos se mantéminimigo através dos “laços de parentesco, vizinhança, procedência, vínculos definidos por participação em atividades comunitárias e desportivas” (MAGNANI, 1992, p. 192). - -19 Se os agrupamentos se formam durante a devido à com o propósito de juventude proximidade de moradia , é necessário salientar que tais agrupamentos possuem uma funçãoestabelecer uma rede de relações sociais importante para os jovens: a . Para tanto, esses grupos não são estáticos noconstituição de identidades “pedaço”, uma vez que circulam pela metrópole. Um dos possíveis discursos construídos pelos jovens consiste em ressaltar que o grupo significa proteção em meio à uma cidade considerada como violenta.Essa dinâmica da formação de grupos juvenis não é apenas uma característica brasileira. Observam-se agrupamentos de gangues nos Estados Unidos, de galeras na França, dos na Inglaterra, entre outros. Ohooligans atributo espaço urbano e a circulação pela cidade é imprescindível para compreender o processo de formação de grupos juvenis. Como bem explicita Magnani (1984, p. 142), “pertencer ao pedaço significa também poder ser reconhecido em qualquer circunstância, o que implica o cumprimento de determinadas regras de lealdade que, até mesmo os ‘bandidos’ da vila, de alguma forma, acatam”. Figura 2 - Hooligans na Inglaterra Fonte: alberto_girotto, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: Na imagem, pode-se observar os – jovens hooligans fanáticos pelas equipes de futebol na Inglaterra – dispostos a rivalizar com seus inimigos. Aqui, pode-se fazer uma analogia ao controle social abordado no primeiro tópico. Enquanto nas sociedades tradicionais, o controle social era estabelecido pela família e na modernidade pelas corporações, na contemporaneidade, o controle social passa a ser exercido pelos agrupamentos juvenis, dos quais estabelecem um conjunto de regras e normas realizadas por eles e impostas aos jovens de um determinado grupo, moradores - -20 da “pedaço”. Essas peculiaridades podem ser observadas, principalmente, nas comunidades, vilas ou favelas em que a presença do Estado como um dispositivo para garantir o exercício da cidadania e a ordem social encontra- se de maneira precária. Para exemplificar melhor a formação de grupos juvenis, destacam-se dois trabalhos realizados por Soares (2013; 2019). Através de uma pesquisa de campo e entrevistas em profundidade, a autora investigou a trajetória de vida dos jovens pichadores na capital mineira. Com isso, foi possível observar que os membros se inseriam nos grupos em busca de constituir uma identidade. Através das práticas de inscrever as suas assinaturas nos muros juntamente com os nomes dos grupos, eles se tornaram reconhecidos no meio da pichação, além de dedicarem à construção de simbolismos e de um estilo de vida com o propósito de vivenciarem a atividade. Assim, os grupos se formavam nas periferias da metrópole em função de pertencerem ao mesmo “pedaço”, porém para se consagrarem no cenário urbano, eles passaram a construir alianças com outros jovens com o objetivo de adquirir visibilidade social e se tornarem reconhecidos no contexto urbano (SOARES, 2013). Retomando o tópico anterior, nos termos sociológicos, o ato de pichar é considerado como um desvio social. De outro lado, Soares (2019) ao dedicar os seus estudos em relação à juventude e à torcida organizada constatou que quatro amigos – estudantes da mesma escola e moradores do mesmo bairro da capital mineira – foram construindo estratégias para angariar o maior número de membros com o objetivo de transformar uma torcida organizada como reconhecida no cenário nacional. Obviamente, que não se pode comparar os pichadores com os torcedores organizados, enquanto o primeiro inscreve as suas assinaturas pelos muros da cidade, o segundo tem uma relação direta com o pertencimento clubístico. Para tanto, a formação de grupos, resguardando as suas devidas peculiaridades possui uma relação intrínseca com a , , ojuventude a proximidade de moradia estabelecimento de e a .uma rede de relações sociais constituição de identidades Fique de olho Para saber mais sobre o processo de formação de grupos juvenis e a constituição de identidades, veja o filme Hooligans de Lexi Alexander, disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=Jt8hnA_my9w&t=3472s. Acesso em: 11 abr. 2010. Para quem se interessa sobre as torcidas organizadas, sugere-se a leitura do livro “Juventude e estilo de vida: um estudo sobre torcida organizada”, escrito por Flávia Cristina Soares. - -21 4.2 Identidade e tribos urbanas Nesse tópico, o conceito de será discutido a partir das proposições realizadas por em “Aidentidade Stuart Hall identidade cultural na pós-modernidade”, escrito em 2006. O autor ressalta que a identidade do sujeito sociológico está intrinsecamente relacionada com a interação entre os indivíduos, isto é, a identidade “é formada na integração entre o eu e a sociedade” (HALL, 2006, p. 11). Com o advento da pós-modernidade, após 1989, Hall (2006, p. 12) destaca que os indivíduos passaram a constituir “várias identidades, algumas contraditórias ou não- resolvidas”. Retomando os exemplos explicitados no tópico anterior sobre os pichadores e torcedores organizados, durante a pesquisa foi possível constatar que os jovens não se identificam, único e exclusivamente, com esses agrupamentos. Para além disso, eles são trabalhadores, pais de famílias, pertencem a associações esportivas e /ou religiosas (SOARES, 2013; 2019). Cada um constrói um estilo de vida baseado nos seus valores subjetivos, constituindo identidades de acordo com o espaço e tempo. Assim, foi possível perceber que os membros abandonam os agrupamentos (pichação e torcida organizada) após a fase denominada como juventude. Segundo Hall (2006, p. 13): [...] à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente. Com a perspectiva de usufruir dessa discussão sobre a formação de grupos, é necessário salientar o conceito proposto por (2006) em relação às . A transformação das cidades em grandesMichel Maffesolli tribos urbanas metrópoles proporcionou o surgimento do individualismo. Com isso, os jovens se juntaram por afinidades, gostos ou estilos de vida constituindo as tribos urbanas, ou seja, os grupos no contexto das grandes cidades. Apesar do jovem assumir diferentes papéis, as tribos urbanas podem ser designadas por uma estética como um “meio de experimentar, de sentir em comum e é, também, um meio de reconhecer-se” (MAFFESOLLI, 2006, p. 108). Além disso, o autor afirma a “multiplicidade de estilos de vida”, ou seja, um “ ”, podendomulticulturalismo se cruzar e sobrepor uns aos outros (MAFFESOLLI, 2006, p. 125). Nesse sentido, Maffesolli (2006, p. 126) destaca que a pós-modernidade reforçou o “recolhimento no próprio grupo e um aprofundamento das relações no interior desses grupos”. Ao ler os argumentos de Maffesolli, Magnani (1992b, p. 49)) salienta que o conceito de tribos urbanas é utilizado enquanto uma metáfora, dado que: - -22 Sem entrar em detalhes e controvérsias que não cabem nos limites e propósito desta comunicação, pode-se dizer que tribo constitui uma forma de organização mais ampla que vai além das divisões de clã ou linhagem (parentesco) de um lado e da aldeia, de outro. Trata-se de um pacto que aciona lealdades para além dos particularismos de grupos domésticos e locais. - -23 5 Família e Sistemas de Parentesco Ao falar sobre , logo vem à mente, àquela que construímos socialmente em nosso pensamento. Isto querfamília dizer que ainda concebemos a família como um arranjo entre pai, mãe e filho. Entretanto, vamos procurar entender os estudos antropológicos para desconstruir essa representação social. Por Antropologia, entende-se o estudo do desenvolvimento humano. Assim sendo, destacamos um renomado antropólogo conhecido por Claude Lévi-Strauss que viveu entre os anos de 1908 e 2009 na França. Este autor escreveu “As estruturas elementares de parentesco”, publicado em 1949. Diante disso, “o parentesco é um objeto fundamental da Antropologia, próprio da sua constituição como disciplina, porque as sociedades tribais, objeto de seu estudo, eram sociedades sem estado e se regulavam pelo parentesco” (SARTI, 1992, p. 70). Aqui, pode-se notar que o próprio termo tribos urbanas (tratado no tópico anterior) foi angariado dos estudos antropológicos, trazendo à tona os conceitos tratados nas sociedades tribais para o contexto das grandes cidades. Também, é interessante notarque após as Revoluções Francesa e Industrial, o Estado já se encontrava formado como um dispositivo para garantir a ordem social, ou seja, realizar o controle social. Entretanto, para Lévi-Strauss (1949), as sociedades tribais se regulavam a partir das .formas de parentesco Então, destaca-se que o parentesco “não é a mesma coisa que a família” (SARTI, 1992, p. 70). Para o melhor entendimento do estudante, pode-se descrever que o parentesco e família consiste no “nascimento, acasalamento e morte”, porém a distinção entre as duas terminologias consiste em atribuir a família como um “grupo social concreto” e o parentesco como uma “abstração” (SARTI, 1992, p. 70). Sendo assim, pode-se dizer, de acordo com Sarti (1992, p.71) que o sistemas de parentesco é o resultado das seguintes relações: - -24 5.1 O tabu do incesto A partir dos estudos sobre o parentesco, Lévi-Strauss questiona o motivo pelo qual o incesto – relações sexuais entre parentes próximos – é uma proibição em praticamente todas as sociedades. Para ele, o impedimento das relações entre parentes tem um motivo fundamental para as relações humanas: o estabelecimento de alianças entre famílias. Isto é, o pai ou o irmão entrega a mulher para outro homem com o propósito de estabelecer uma para fora da família. Ou seja, o seria algo construído culturalmente para legitimar os união tabu do incesto entre as famílias e fortalecer o princípio básico da humanidade que estaria fundamentadolaços de afinidades na , conforme exposto por Marcel Mauss, no manuscrito “Ensaio sobre a dádiva” (1925).“troca e reciprocidade” De acordo com Sarti (1992, p. 73) A constituição da família como fato cultural pressupõe a existência prévia de dois grupos que se casam fora de seu próprio grupo, dois grupos exógamos. Isso significa o reconhecimento de que o parentesco envolve relações além da relação de consanguinidade, ou seja, relações de aliança também, de afinidade. Para o conhecimento do estudante, salienta-se que Marcel Mauss é sobrinho de Émile Durkheim – cujo pensamento foi tratado no tópico 2 desta unidade – e é considerado o pai da Antropologia. Para esse autor, o tabu do incesto consiste em uma forma de , introduzindo a com outra famíliaorganização social comunicação através do . Para Sarti (1992, pg. 73)casamento Nos estudos antropológicos, as alianças estabelecidas entre tribos ou famílias como um dos fundamentos da humanidade possui como principal objetivo esquivar dos embates entre as tribos ou famílias. Por isso, que o tabu do incesto possibilita a construção das relações sociais para garantir a comunicação entre os homens. Com a impossibilidade de manter relações sexuais entre os parentes próximos através do tabu do incesto, pode- se dizer que o existe para . Isto quer dizer que o matrimônio possui a função decasamento “legitimar a prole” fundamentar a relação que os pais mantém com os filhos, sem qualquer intenção de estabelecer a relação homem e mulher que independe do casamento. O desafio que nos é posto, através dos estudos antropológicos, tem a ver com os quenovos modelos familiares surgiram na . Nos dias atuais, vivenciamos modelos familiares distintos daquilo que foipós-modernidade imposto socialmente até o presente momento. De acordo com Cechin (2009, p. 116). - -25 A formalização do casamento como instância oficializante da “instituição” matrimônio pelo conceito judiciário – no ritual da burocratização da união como forma legítima de reconhecimento social do casal –, obriga-se a transfigurar seus desdobramentos voltados à consideração e apreciação das diversas formas de arranjo familiar que abarcam a família “pós contemporânea” no Brasil. Tal situação gera polêmicas e desconfortos no seio dos debates que se prestam à análise destas transformações. Os pareceres dos estudiosos dispostos no corpo da obra se investem desde ponderações sobre as necessidades inovadoras e flexibilizadoras da sociedade atual – na qual o texto jurídico seria elemento modificável e acompanhante – até em juízos sobre a ideia de uma crise diante da dissolução dos limites que compunham as bases da família pela oficialização do casamento como institucionalização do matrimônio. A possibilidade para a união estável e o casamento entre homens, mulheres e os mais diversos gêneros abrem um leque de discussão em relação ao campo do Direito, da Sociologia, da Psicologia, entre outras disciplinas. Além do mais, observa-se a adoção de filhos por esses novos modelos familiares que ainda está em debate nos estudos contemporâneos. é isso Aí! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • apreender o surgimento da Sociologia como ciência após as Revoluções Francesa e Industrial; • compreender o significado de controle social nas sociedades tradicionais e modernas; • assimilar o conceito de solidariedade social a partir dos pensamentos de Émile Durkheim; • conceber o desvio e o estigma como um processo de interação entre o indivíduo e a sociedade segundo Becker e Goffman, respectivamente; • constatar como a formação de grupos está intrinsecamente relacionada com a constituição de identidades e com as tribos urbanas; • conhecer os sistemas de parentesco e o tabu do incesto. Referências BECKER, H. S. (1928). . 1.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. estudos de sociologia do desvioOutsiders: BECKER, H. S. A. . . Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 177-188, Out, 1996.Escola de Chicago Mana • • • • • • - -26 BENDER, M. Da regra moral ao desvio: aproximações teóricas de Émile Durkheim nas obras de Erving Goffman e Howard S. 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Olá! 1 Breve Histórico do Surgimento da Sociologia 1.1 A transição das sociedades tradicionais para as modernas 1.2 Alguns estudos sociológicos 2 O Pensamento de Émile Durkheim 2.1 Da divisão do trabalho social Assista aí 2.2 Solidariedade social em Durkheim: normas e sanções Assista aí 3 Crime e Desvio 3.1 Teoria da rotulação 3.2 Estigma 3.3 O precursor da sociologia do desvio no Brasil Assista aí 4 Formação de Grupos e Identidade 4.1 Formação de grupos 4.2 Identidade e tribos urbanas 5 Família e Sistemas de Parentesco 5.1 O tabu do incesto é isso Aí! Referências
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