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Memoriais Furto Atipicidade Princípio da Insignificância

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE CIDADE - UF
 
 
 
 
 
Autos nº Número do Processo
 
 
 
 
 
Nome Completo, já devidamente qualificado nos autos do processo acima declinado, por seu procurador infra-assinado, ora nomeado pela DEFENSORIA PÚBLICA, conforme ofício, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar
MEMORIAIS
com fulcro no artigo 403, § 3º, do Código Processo Penal, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:
BREVE HISTÓRICO PROCESSUAL
O Acusado foi denunciado como incurso nas sanções do artigo 155, “caput” do Código Penal.
 
O Ministério Público, através de denuncia subscrita pelo Ilustre Promotor de Justiça, imputa-lhe a prática deste crime, sob o argumento de que no dia 09 de fevereiro de 2017, por volta das 16hrs00min, na Informação Omitida, munido de animus furandi, o denunciado subtraiu, para si, coisa alheia móvel, consistente na quantia de R$ 300,00 (trezentos reais), pertencente a sua avó, Sra. Informação Omitida.
 
Em síntese apertada, são os fatos.
DO MÉRITO
1. DA ATIPICIDADE MATERIAL - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
O nobre representante Ministerial pugnou pela condenação do acusado nos termos da denúncia, data vênia entendermos não ser a mais correta está visão ministerial. Preliminarmente, cumpre asseverar ser o fato atípico, conforme se depreende:
 
O crime, sob a égide do conceito analítico, constitui-se de três elementos fundamentais. A ausência de qualquer desses institutos desconfiguram o ato delituoso, afastando de imediato a aplicabilidade do jus puniendi estatal.
 
A definição de crime, nada mais é do que a verificação de que a conduta se trata de fato típico, antijurídico e culpável. Diante do fato ora em análise, atenta-se para a tipicidade e sua bipartição em tipicidade formal e a tipicidade material.
 
A tipicidade formal, na lição de Rogério Greco, “é a adequação perfeita da conduta do agente ao modelo abstrato (tipo), previsto na lei penal” (GRECO, Rogério, Curso de Direito Penal, Parte Geral, Editora Impetus, 2004, Pág. 70), e esse elemento se faz presente ao caso em tela. 
 
O mesmo não pode ser dito quanto à tipicidade material. Ao se falar em tal tipicidade, constata-se que a conduta do agente não possui relevância jurídica, o que afasta a ingerência da tutela penal, em face do princípio da intervenção mínima.
 
Importa asseverar que ao criar o tipo penal incriminador, o legislador exprimiu a vontade de proteger bens juridicamente relevantes para a sociedade, de maneira que fosse justificável a atividade persecutória estatal. Amparadas pelo princípio da intervenção mínima, poucas são as condutas criminalizadas, e não poderia ser de outra forma num Estado de Direito que se supõe sustentado pelos mais elevados princípios e garantias fundamentais.
 
Nas palavras de Julio Fabbrini Mirabete:
 
“A intervenção do Direito Penal é requisitada por uma necessidade mais elevada de proteção à coletividade, o direito deve consubstanciar em um injusto mais grave e revelar uma culpabilidade mais elevada; deve ser uma infração que merece sanção penal. O desvalor do resultado, o desvalor da ação e a reprovabilidade da atitude interna do autor é que convertem o fato em um “exemplo insuportável”, que seria um mau precedente se o Estado não o reprimisse.” (Mirabete, Julio Fabbrini, Manual de Direito Penal – 22ª. Ed. – São Paulo: Atlas, 2005.)
 
Ao selecionar os bens a serem protegidos pelo direito penal, seria impossível ao legislador antever todas as possíveis situações fáticas. Imperativo então a existência de um mecanismo próprio ao juízo para verificar a relevância social do fato concreto mesmo que formalmente criminoso.
 
Do acima exposto, conclui-se a importância fundamental da tipicidade material como um dos elementos formadores do tipo penal incriminador. A espécie em questão cumpre função complementar a do legislador, explicitando no caso concreto a vontade desde em limitar a atuação do Direito Penal. Portanto, constatada a ausência de tal elemento, não há que se falar em conduta criminosa.
 
Diante do exposto, verifica-se a ausência da tipicidade material no fato em análise. Tal princípio deve ser invocado sempre que o comportamento do autor for considerado irrelevante para o Direito Penal, não justificando o movimento da máquina estatal a fim de iniciar ou manter a persecução penal.
 
Dessa feita, utilizamos recente julgado do pretório excelso para facilitar a compreensão de que estamos diante de uma situação que exige aplicação do referido princípio:
 
DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. ANTECEDENTES CRIMINAIS. ORDEM CONCEDIDA.
A questão de direito tratada neste writ, consoante a tese exposta pela impetrante na petição inicial, é a suposta atipicidade da conduta realizada pelo paciente com base no princípio da insignificância. 2. Considero, na linha do pensamento jurisprudencial mais atualizado que, não ocorrendo ofensa ao bem jurídico tutelado pela norma penal, por ser mínima (ou nenhuma) a lesão, há de ser reconhecida a excludente de atipicidade representada pela aplicação do princípio da insignificância. O comportamento passa a ser considerado irrelevante sob a perspectiva do Direito Penal diante da ausência de ofensa do bem jurídico protegido. 3. Como já analisou o Min. Celso de Mello, o princípio da insignificância tem como vetores a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada (HC 84.412/SP). 4. No presente caso, considero que tais vetores se fazem simultaneamente presentes. Consoante o critério da tipicidade material (e não apenas formal), excluem-se os fatos e comportamentos reconhecidos como de bagatela, nos quais têm perfeita aplicação o princípio da insignificância. O critério da tipicidade material deverá levar em consideração a importância do bem jurídico possivelmente atingido no caso concreto. 5. Não há que se ponderar o aspecto subjetivo para a configuração do princípío da insignificância. Precedentes. 6. Habeas Corpus concedido. (HC 102080/MS, Segunda Turma, Supremo Tribunal Federal, Relator: Min. ELLEN GRACIE, julgado em 05/10/2010). (grifos nossos).
 
HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. AUSÊNCIA DA TIPICIDADE MATERIAL. INEXPRESSIVA LESÃO AO BEM JURÍDICO TUTELADO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
A intervenção do Direito Penal apenas de justifica quando o bem jurídico tutelado tenha sido exposto a um dano com relevante lesividade. Inocorrência de tipicidade material, mais apenas a formal, quando a conduta não possui relevância jurídica, afastando-se, por consequência, a ingerência da tutela penal, em face do postulado da intervenção mínima. É o chamado princípio da insignificância.
Reconhece-se a aplicação do referido princípio quando verificadas “(a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada” (HC 84.412/SP, Ministro Celso de Mello, Supremo Tribunal Federal, DJ de 19/11/04).No caso, não há como deixar de reconhecer a mínima ofensividade do comportamento do paciente, quje subtraiu bens cujo valor de aproxima de R$ 100,00 (cem reais), sendo de rigor o reconhecimento da atipicidade da conduta. Segundo a jurisprudência consolidada nesta Corte e também  no Supremo Tribunal Federal, a existência de condições pessoais desfavoráveis, tais como maus antecedentes, reincidência ou ações penais em curso, não impedem a aplicação do princípio da insignificância. Ordem concedida a fim de, aplicando o princípio da insignificância, absolver o paciente com base no art. 386, III do CPP, do crime de que cuida a Ação Penal nº. 0476.06.004137-5, que tramitou perante a Vara Criminal da Comarca de Passa Quatro/MG. De ofício, estendo os efeitos desta decisão ao corréu Thiago Mota. (HC 171020/MG, Min. RelatorOG FERNANDES, Sexta Turma, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, julgado em 31/08/2010). (grifos nossos)
 
Verifica-se que a decisão do STJ ampara-se em precedente do STF, e coaduna com a linha de raciocínio da defesa. Ademais, observa-se também que os ilustres ministros elencaram vetores necessários para a constatação da atipicidade material e a consequente aplicação do princípio da insignificância, quais sejam: mínima ofensividade da conduta do agente; nenhuma periculosidade social da ação; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; inexpressividade da lesão jurídica provocada. Com efeito, observa-se que os citados pressupostos restaram preenchidos na espécie.
 
Assim, por mais que o acusado tenha supostamente preenchido o modelo abstrato do tipo penal, há de ser levado em conta que a conduta criminosa em questão não foi significativa à ótica social, nem se revestiu de uma reprovabilidade exacerbada. Há também de ser considerado o pequeno valor do bem, conforme denúncia, de R$ 300,00 adquiridos de sua AVÓ.
 
Vejamos a respeito:
 
“Atualmente, são dois os principais critérios usados na aferição do “pequeno valor”: a) Refere-se ao prejuízo. B) É relativo ao valor da coisa e não ao prejuízo. Quanto à quantidade que se considera como “pequeno valor”, tem-se em vista, geralmente, valor igual ou inferior ao salário mínimo... (Celso Dalmato, Código Penal Comentado, p. 299). 
 
Esse valor por si só já configura quantia ínfima para a preocupação do direito penal que deveria cuidar de questões mais relevantes deixando esses problemas para outras searas do direito, logo, observa-se que este valor final perfaz aquém do salário mínimo vigente nos dias atuais o que revela a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
 
Vale ressaltar que pelo que consta nos autos o bem supostamente furtado a muito tempo já teria sido restituído ao dono demonstrando que a vítima não teve qualquer prejuízo com o fato narrado na denúncia.
 
Neste sentido, patrocinado pelos requisitos supracitados e pela doutrina tradicional e dominante, pugna-se pelo reconhecimento do princípio ora revelado, qual seja o da insignificância, uma vez que no caso em tela, verifica-se perfeitamente apropriada tal pretensão.
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer a Vossa Excelência, ilustre e culto Magistrado, o quanto segue:
 
a) ABSOLVIÇÃO do acusado, nos termos do artigo 386, III, do CPP, pelo fato não constituir infração penal, uma vez que possui tipicidade material – princípio da insignificância;
 
b) Caso ainda não seja esse o entendimento requer, subsidiariamente, Aplicação da atenuante da confissão espontânea, artigo 65, inciso III, alínea “d” do Código Penal.
 
c) Ademais, pleiteia, em face da primariedade, pela aplicação do benefício previsto no § 2º., do artigo 155 do Código Penal, levando em consideração o pequeno valor da coisa subtraída.
 
d) Considerando a primariedade do Acusado e a colaboração com a Justiça, tanto na fase policial, como na judicial, a defesa requer a V.Exa. à aplicação da Pena no mínimo legal, com a diminuição da pena em grau máximo, considerando as circunstâncias judiciais favoráveis, conforme artigo 59 do Código Penal.
 
e) Finalmente, caso Vossa Excelência entenda pela condenação do acusado, requer-se a conversão da pena privativa de liberdade, pela restritiva de direitos, frente ao preenchimento dos requisitos do artigo 44 do Código Penal, assim como, possa o acusado aguardar o recurso em liberdade.
 
Termos em que,
Pede Deferimento.
 
 
Cidade, Data.
 
Nome do Advogado
OAB/UF N.º

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