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6 Classificações da Posse

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CLASSIFICAÇÕES DA POSSE
Ela pode ser classificada através de diversos critérios:
Quanto à presença de título
- Formal/Natural/Sem título (jus possessionis) 
Não há uma causa representativa da transmissão do domínio fático. Não possui um título que a valide (não é o caso do contrato de gaveta), como acontece na posse decorrente da propriedade. Assim, é autônoma, pois nasce por si só, não deriva de outra situação, como a propriedade. Trata-se de uma situação fática que gera um direito. Deriva do simples direito de possuir. Detém o direito de possuir todo aquele que é possuidor, como proprietário, usufrutuário e locatário.
Por exemplo, caso alguém, de maneira mansa e pacífica, se instala em um imóvel por um prazo razoável, sem que lhe seja oferecida qualquer resistência, já está configurada a circunstância de posse. Havendo resistência, a posse torna-se clandestina e injusta, de modo que não mais gerará direitos como a usucapião.
 É tutelada através de uma ação possessória, na qual o autor é possuidor e pretende exercer o direito de posse (jus possessionis).
- Causal/titulada/jurídica/civil/com título (jus possidendi) 
É o direito à posse garantido ao portador de um título devidamente transcrito (proprietário) ou ao titular de outros direitos reais (como os direitos reais de garantia – hipoteca, penhor e anticrese). Há uma causa representativa da transmissão da posse, um documento escrito, como ocorre na vigência de um contrato de locação ou de comodato. Ela não é autônoma, pois é dependente de direito de propriedade. 
É tutelada através de uma ação petitória, na qual o proprietário intenta ver respeitado o seu direito de possuir (jus possidendi). São exemplos a imissão na posse e a reivindicação de propriedade.
Quanto ao número de possuidores
- Posse exclusiva X 
Se configura quando apenas uma pessoa possui a coisa.
- Posse comum/composse
Se configura quando duas ou mais pessoas são possuidoras da mesma coisa. É o exercício simultâneo da posse. Para sua configuração não é necessário que todos os compossuidores tenham ciência da posse dos demais.
Pode ser:
- Pro divisio/coisa divisa
A coisa pode ser dividida, há uma delimitação da propriedade de cada um, de modo que os compossuidores exercem poderes apenas sobre a parte definida da coisa que lhe foi atribuída. 
Cada um pode utilizar interditos no caso do outro atentar contra o exercício da posse.
- Pro indiviso/coisa indivisível
A coisa não pode ser dividida, não há um espaço delimitado, de modo que os possuidores exercem simultaneamente os poderes de fato sobre a coisa. É exemplo a sociedade conjugal. 
A composse é comum em condomínios (horizontais, verticais, ou rurais), pois todos os condôminos são proprietários. 
É comum que eles representem um única imóvel, consubstanciado de uma única matrícula, em razão de o terreno ter área menor que aquela exigida para a individualização do imóvel. Assim, haverá composse, pois todos os condôminos serão proprietários de um único imóvel. 
Para saber se esta composse é pro divisio ou pro indivisio é preciso analisar se cada cota parte está individualizada na respectiva matrícula, através da menção à sua área/extensão (por exemplo, “Lote X, com área de Xm², de propriedade de Fulano”), será pro divisio. Já, se todos apenas constarem como proprietários (“São proprietários Fulano, Beltrano e Ciclano...”), sem menção a que cota parte pertence a cada um, sera pro indivisio.
Além disso, é comum que os condomínios possuam áreas comuns, aléns das partes individualizadas, mesmo que informalmente. Num condomínio horizontal, por exemplo, caso esta delimitação não conste da matrícula, haverá composse pro divisio em relação aos apartamentos/quitinetes e composse pro indivisio em relação às áreas comuns (como piscina, salão de festas e corredores). Caso haja a individualização na matrícula, só haverá composse em relação às comuns, havendo posse exclusiva em relação aos apartamentos. O mesmo ocorre com casas de férias que componham um condomínio rural, nos quais a composse pro indivisio é mais comum.
Qualquer um dos possuidores pode usar dos remédios possessórios frente a terceiros: Art. 1.199 – “Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores”. Assim, por exemplo, se um dos cônjuges proprietários de um imóvel está viajando enquanto o outro está no bem, este pode defender a posse caso haja eventual esbulho ou turbação.
Cabe observar alguns entendimentos da jurisprudência sobre o tema:
Caracteriza-se a composse de casal unido sob o regime da comunhão parcial em relação ao imóvel que lhe serve de moradia, ainda que pertença exclusivamente a um deles (tendo sido adquirido antes do casamento). Assim, se o dono falecer, o outro cônjuge tem direito a ser mantido no imóvel, valendo-se de interditos possessórios contra, por exemplo, um filho de outro casamento que, não morava no local, venha a reivindicá-lo. O cônjuge sobrevivente não está esbulhando a posse do filho. 
Neste caso, a filha ingressou com a ação incorreta, pois nunca esteve na posse do imóvel, motivo pelo qual não pode nela ser reintegrada. Sendo apenas proprietária e não possuidora direta, ela não pode valer-se de ações possessórias, pois nelas não podem ser discutidas questões relativas à propriedade, restando-lhe ingressar com ação petitória. Por fim, também é preciso pensar na dignidade da viúva – pois o imóvel pode lhe significar a garantia de seu direito a um mínimo civilizatório. Caso a filha não ingressasse com a ação, a posse da viúva seria mansa e pacífica, o que possibilita a usucapião, que poderá ser facilitada em razão da função social.
Ainda, cabe mencionar que a companheira tem justo título na posse de bens comuns do casal, quando do falecimento do companheiro, mesmo que estejam apenas em nome do falecido, visto que adquiridos na constância da união estável.
É possível a tutela entre copossuidores. É cabível ação possessória intentada por copossuidor para combater turbação ou esbulho praticado por outro copossuidor, cercando fração da gleba comum. É exemplo caso em condomínio rural o compossuidor cerque área de uso comum para criar animais próprios ou, em condomínio urbano, o compossuidor utiliza de forma permanente para guardar seu veículo, a garagem de uso comum reservada para uso temporário por eventuais visitantes dos compossuidores. Veja-se a ementa da decisão:
Por fim, existe composse entre co-herdeiros. O patrimônio do falecido até a partilha é um todo unitário, uma universalidade de direito, visto como indivisível. Ainda, trata-se de uma universalidade imobilizada, de modo que todos os bens que a compõem são vistos como imóveis, mesmo que sejam, de fato, móveis. Assim, há composse pro indiviso entre os herdeiros, podendo tutelar esta posse. Assim, caso um herdeiro já morasse no imóvel e outro não, este último poderá valer-se dos meios para defender sua posse através dos interditos possessórios. Porém, isto se dá em relação à universalidade e não de um ou outro bem individuado motivo pelo qual não confere o direito à imediata apreensão material dos bens em si que compõem o acervo, o que só ocorrerá com a partilha. Também não resta autorizado o desforço imediato contra o herdeiro que ocupa o imóvel (REsp 1244118 / SC, 2013).
Direta X Indireta
- Direta 
Domínio material sobre a coisa. A possui, por exemplo, o locatário.
Art. 1.197 - A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.
- Indireta
Possibilidade de exercer direitos sobre a coisa. A possui, por exemplo, o locador. 
Havendo sublocação (que precisa ser autorizada no contrato, o locador e o locatário serão possuidores indiretos, enquanto o sublocatário será possuidor direto.
Enunciado 76, I Jornada de Direito Civil - “O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra o indireto, e este, contra aquele”.Isto não é possível caso o título jurídico que autorizava o desdobramento da posse não estiver mais vigente, visto que então a posse será ilegítima, e o possuidor ilegítimo só pode se defender de atos de terceiros, não do legitimo possuidor.
Quanto aos efeitos
- Ad interdicta
Regra geral, é aquela que pode ser defendida pelas ações possessórias diretas ou interditos possessórios. Por exemplo, tanto o locador quanto o locatário podem defender a posse de uma turbação ou esbulho praticado por um terceiro. Essa posse não conduz à usucapião.
- Ad usucapionem
Exceção, é aquela que se prolonga pelo tempo definido em lei, admitindo-se a aquisição da propriedade pela usucapião, desde que presentes os demais requisitos previstos em lei, como o animus domini. Em outras palavras, é aquela posse com olhos à usucapião (posse usucapível).
Nem sempre a ad interdicta leva à ad usucapionem, pois pode faltar o animus de dono caso haja um contrato de locação, por exemplo. Para que o locatário possa ter a posse ad usucapionem, precisará romper o contrato de locação.
Quanto ao tempo
A posse pode ser nova ou velha.
A posse nova tem duração de mais de um ano e dia. Já a posse velha tem duração superior a um ano e dia. Ou seja, é o prazo pelo qual o possuidor está na posse do bem, tendo efetuado o esbulho. Caso a posse seja viciada ou não seja mansa e pacífica, este prazo já está correndo, ou ele começa a correr a partir da convalidação ou do fim da resistência do dono?
Art. 558, CPC – “Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo [que trata da manutenção e da reintegração de posse] quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial”. Assim, quando a posse for nova, se utilizará o procedimento de manutenção e da reintegração de posse, que autoriza a conceção de medida liminar, de forma mais rápida. 
Único - Passado o prazo referido [...], será comum o procedimento [mais demorado], não perdendo, contudo, o caráter possessório.
O Código Civil não faz distinção de ambas, então cabe ao juiz avaliar a melhor posse, a que não tiver vícios.
Quanto à subjetividade
- Quanto à boa-fé
Art. 1.201 – “É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa”. Assim, ela decorre da consciência de ter adquirido a coisa por meios legítimos. O seu conceito, portanto, funda-se em dados psicológicos, em critério subjetivo. Contudo, não se pode considerar de boa-fé a posse de quem, por erro inescusável ou ignorância grosseira, desconhece o vício que macula a sua posse.
Único – “O possuidor com justo título [como contrato de gaveta] tem por si a presunção de boa-fé [pois acha que é dono, em razão do título – é de se esperar que a pessoa que comprou o bem, assinando contrato e pagando por ele, apenas não o registrando, assumirá que é dono], salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção”. Trata-se de juris tantum, relativa, já que admite prova em contrário.
Para Lenine Nequete, justo título seria todo ato formalmente adequado a transferir o domínio ou o direito real de que trata, mas que deixa de produzir tal efeito em virtude de não ser o transmitente senhor da coisa ou do direito, ou de faltar-lhe o poder de alienar. São exemplos o contrato de gaveta, a escritura pública (tratando-se de bens com valor não superior a 30 salários mínimos – art. 108 CC) de locação ou comodato.
Enunciado 302 da III Jornada de Direito Civil - “Pode ser considerado justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico capaz de transmitir a posse ad usucapionem, observado o disposto no art. 113 do CC”. Para Tartuce o exemplo de título é o compromisso de compra e venda, registrado ou não na matrícula do imóvel, devendo ser observada a boa-fé objetiva, prevista no art. 113. 
Enunciado 303 da III Jornada de Direito Civil - “Considera-se justo título para presunção relativa da boa-fé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse”. Para Tartuce, este enunciado está estabelecendo que a função social da posse é fator fundamental para a determinação da posse de boa-fé e da caracterização do justo título. Sendo assim, a existência de instrumento, seja público ou particular, não é fator essencial. O tecnicismo e o formalismo exagerado são substituídos pela funcionalização do instituto da posse.
Orlando Gomes divide a boa-fé em:
· Real: quando a convicção do possuidor se apoia em elementos objetivos tão evidentes que nenhuma dúvida pode ser suscitada quanto à legitimidade de sua aquisição;
· Presumida: quando o possuidor tem o justo título.
Para Tartuce, são as duas hipóteses para a ocorrência de posse de boa-fé: quando o possuidor ignora os vícios e obstáculos que lhe impedem a aquisição da coisa ou quando tem um justo título que fundamenta a sua posse.
O elemento subjetivo é relevante no contexto da usucapião, que é o único instituto na qual a teoria subjetiva de Savigni é utilizada. Isto, pois, é a presença de boa-fé que difere a usucapião ordinária – que exige 10 anos (art. 1.242) – da extraordinária – que exige 15 anos (art. 1.238) ou 10, em razão da função social (único). 
Ela também confere ao possuidor, não-proprietário, os frutos provenientes da coisa possuída e o direito de ser beneficiado pelas benfeitorias úteis ou necessárias realizadas na coisa – podendo exercer o direito de retenção até a indenização – bem como exime-o de indenizar a perda ou deterioração do bem em sua posse. Já o possuidor de má-fé, não poderá levantar os frutos da coisa, terá de indenizar a perda ou deterioração do bem em sua posse e só será beneficiado pelas benfeitorias necessárias que realizou, excluindo-se as úteis e voluptuárias.
Quando aliada a outros relevantes elementos, ela cria o domínio, já que o sujeito pode usar, gozar e usufruir da coisa, não podendo apenas dela dispor, já que ausente o registro. Ainda, regulamenta a hipótese de quem, com material próprio, edifica ou planta em terreno alheio. 
A posse de boa-fé pode se transfigurar em posse de má-fé “no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente” (art. 1.202). É o caso do locatário que não deixa a coisa após o fim do contrato (note-se que esta posse também será injusta mas as classificações não se confundem).
- Má-fé
É a posse sem vícios em que o possuidor supõe-na viciada (ele tem direito e acha que não tem); ou a posse viciada em que o possuidor sabe do vício (ele sabe que não tem direito, sabe que a coisa não é dele, mas mesmo assim pretende exercer o domínio fático sobre esta).
A fé da posse é avaliada, portanto, subjetivamente em relação ao possuidor: deve-se ver se ele teve ou não a intenção de agir com maldade. Neste caso, o possuidor nunca possui um justo título. 
De qualquer modo, ainda que de má-fé, esse possuidor não perde o direito de ajuizar a ação possessória competente para proteger-se de um ataque de terceiro.
Todavia, assim como na posse injusta, a posse de má-fé não pode ser considerada posse jurídica e não goza de proteção contra o legítimo possuidor, para quem o possuidor de má-fé não passa de detentor. Porém, este entendimento não é pacífico na doutrina, visto que o art. 1.238 autoriza a usucapião mesmo que ausente a boa-fé. Assim, existem autores como Tepedino que entendem aquele que tem a posse de má-fé, assim como a injusta, não é apenas detentor, mas possuidor de má-fé, podendo usucapir a coisa.
Quanto à presença de vícios
Este caráter é analisado por critério objetivo, ou seja, através dos atos do possuidor. Não se considera a subjetividade, a intenção do possuidor, que é importante para observar se a posse é de boa ou má-fé. 
Esclarece Orlando Gomes que “não há coincidência necessária entre a posse justa e a posse de boa-fé. À primeira vista, toda posse justa deveria ser de boa-fé e toda posse de boa-fé deveriaser justa. Mas a transmissão dos vícios de aquisição permite que um possuidor de boa-fé tenha posse injusta, se a adquiriu de quem a obteve pela violência, pela clandestinidade ou pela precariedade, ignorante da ocorrência; nemo sibi causam possessionis mutare potest. É exemplo clássico desta situação a compra de um bem roubado, sem que se saiba que o bem foi retirado de outrem com violência.
Também é possível que alguém possua de má-fé, embora não tenha posse violenta, clandestina ou precária. É exemplo o locatário que pretende adquirir o bem por usucapião, na vigência do contrato. Outro exemplo é se A, sabendo que não está usufruindo da totalidade de seu terreno em razão de um vizinho B ter aumentado seu terreno ao colocar a cerca de modo a invadir o terreno de A, A muda a cerca enquanto B não está em casa, na clandestinidade. B poderá ingressar com reintegração de posse, na qual o juiz determinará que A volte a cerca para o lugar anterior e depois ingresse com ação de imissão ou reintegração de posse e, se esta for procedente, coloque a cerca no lugar correto.
Por fim, a posse pode ser ao mesmo tempo injusta e de má-fé. É exemplo a grilagem, que é a invasão violenta, normalmente de terras públicas, combinada com a falsificação de seu documento (que lhe atribui a má-fé), geralmente em conluio com o cartorário. Trata-se do crime de “usurpação de terra pública dando-lhe aparência de particular”.
Em relação aos efeitos, as posses confrontadas também não se confundem. A posse justa e a injusta geram efeitos quanto às ações possessórias e quanto à usucapião. A posse de boa e a de má-fé geram efeitos quanto aos frutos, às benfeitorias e às responsabilidades dos envolvidos, com a devida análise do caso concreto.
Ela pode ser justa ou injusta:
Art. 1.200 – “É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária”. Ou seja, livre de vícios, visto que estes tornam a posse ilícita. São os vícios que afetam a posse:
- Posse violenta
É obtida por meio de violência. Esta, por sua vez, pode ocorrer mediante:
· Ameaça/coação/violência psíquica: que leva ao interdito proibitório. É válido lembrar que, para verificar se se tratava de coação realmente apta a trazer temor, intimar a vítima, não se utiliza o padrão do homem médio, mas as circunstâncias específicas da vítima (como sexo, idade, condição, saúde e temperamento), conforme prevê o art. 152 do CC, que traz o princípio da concretude, 
· Força física – que leva à manutenção (no caso de turbação) ou reintegração de posse (no caso de esbulho). Ela pode ocorrer contra a pessoa ou contra a coisa. Pode ainda se manifestar na expulsão do legítimo possuidor, sendo ato pelo qual se toma de alguém, abruptamente, a posse de um objeto. Para fins didáticos pode ser associada ao crime de roubo. 
A força pode ser exercida contra a pessoa ou a coisa. É entendimento pacificado na doutrina que quando a violência é utilizada diretamente contra a pessoa, se trata de aquisição violenta da posse. Todavia, não há consenso no que diz respeito a se a violência direcionada apenas indiretamente à pessoa e diretamente a coisa – como através da remoção de obstáculos físicos, a exemplo a destruição de cadeados ou cercas – sem que tenha ocorrido um conflito com alguém, caracterizaria a posse injusta. Em relação a isto, existem duas teorias:
Entende a teoria restritiva (entendimento majoritário, seguido pela professora) que o rol trazido pelo art. 1.200 é taxativo. Assim, só há violência quando o apossamento resulta de uma conduta contrária à vontade do possuidor, pelo fato de a coisa ser arrebatada de alguém que se oponha a isto – por exemplo, através do desforço imediato. Assim, havendo abandono, a posse também não será violenta, pois se pode presumir a oposição por parte de um possuidor que se mostrou inerte ao cuidar daquilo que lhe pertencia. A posse de coisa abandonada, sem resistência, deste modo, caracterizaria mera ocupação. Sem embate físico, não haverá violência no uso da força, razão pela qual a posse será justa.
Uma invasão sempre estará vinculada à violência, enquanto que uma ocupação estará vinculada a uma posse mais mansa. A ocupação acontece quando a coisa está abandonada, e não perdida. Cabe lembrar que as coisas abandonadas (res derelictas) não se confundem com as coisas de ninguém (res nullius – como terras devolutas, bens públicos, animais selvagens, coisas que não se pode pegar), só aquelas podendo ser ocupadas. 
É exemplo quando um movimento popular invade violentamente, removendo e destruindo obstáculos, uma propriedade rural produtiva, que está sendo utilizada pelo proprietário, cumprindo a sua função social. Outro exemplo de posse violenta é quando alguém se apossa de propriedade onde não encontrou ninguém e depois tão somente impede o dono de nela adentrar.
De acordo com teoria ampliativa, porém, o rol trazido pelo art. 1.200 é exemplificativo, que, ao enumerar os vícios da posse, o dispositivo não esgotou as possibilidades pelas quais uma posse se torna viciosa. O que invade, ainda que a céu aberto e sem incorrer em nenhuma das hipóteses do art. 1.200, também estaria adquirindo a posse de forma violenta, contaminando-a em relação ao anterior possuidor/proprietário, que poderá se beneficiar desta condição. 
Adotando-se a teoria restritiva, presente a violência, a posse não será mansa e pacífica, o que impede o início da contagem de prazo usucapião, visto que para tal o CC exige a ausência de oposição a ela, ou seja, resistência ou oposição do proprietário. A posse violenta pode tornar-se pacífica caso o proprietário deixe de reivindicá-la. Com isto, a posse deixa de ser injusta pela violência e inicia-se a contagem do prazo para usucapião.
Quando um possuidor legítimo (proprietário ou possuidor cuja posse não é viciosa) reage a uma violência, a posse legítima não se transmuda para ilegítima. A reação é válida e protegida pela lei, quando se atua de forma moderada, proporcional, utilizando-se do padrão, do critério do homem médio. Caso, por exemplo, um possuidor esteja ocupando um imóvel de forma justa a alguns anos e o proprietário busque reavê-la de forma violenta, não estará usando do desforço imediato permitido por lei, pois deveria tê-lo feito na ocasião da aquisição da posse, que então seria violenta. Neste caso, se o possuidor reagir com violência, a posse não se tornará injusta, pois estará utilizando-se do desforço imediato frente ao proprietário, também podendo se valer das ações possessórias. O proprietário, neste caso, não podendo utilizar o desforço imediato, deveria ter buscado os meios judiciais para reaver a posse.
- Posse clandestina
É obtida de forma oculta, sorrateiramente. Para fins didáticos pode ser associada ao crime de furto. Caracteriza-se pela atuação às escondidas. A posse lícita/justa precisa ser exteriorizada, publicizada, o dono não precisa se esconder.
É exemplo a invasão de uma fazenda que cumpre sua função social na calada da noite, sem violência.
A posse deixa de ser clandestina quando o possuidor lhe dá publicidade, realizando atos que permitam que as demais pessoas venham a ter conhecimento dela. Não é necessário que o proprietário do bem tome conhecimento da posse para que ela seja entendida como pública, pois a análise dos vícios é objetiva, fundada nos atos do possuidor, independe da subjetividade do proprietário.
- Posse precária
Também denominada esbulho pacífico, é a obtida com abuso de confiança ou de direito, decorre da violação de uma obrigação de restituir. Para fins didáticos pode ser associada ao crime de estelionato ou à apropriação indébita, sendo. 
Ocorre a precariedade da posse no momento em que o possuidor se nega a restituir a posse ao proprietário. É exemplo, a posse do locatário que se recusa a sair do imóvel após o fim do contrato. Durante o contrato, a posse é justa.
- Disposições comuns
Efeitos:
Art. 1.208 – Não autorizam a aquisição da posse “[...] os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”, ou seja, depois da convalidação, depois da inversão docaráter da posse. 
Assim, antes da convalidação, a posse injusta por violência ou clandestinidade não deve ser considerada posse jurídica, não produzindo efeitos contra o legítimo possuidor (para quem esta situação jurídica não passa de detenção), embora o possuidor injusto possa fazer manejo dos interditos possessórios contra atos de terceiros. Isso porque a posse somente é viciada em relação a uma determinada pessoa (inter partes), não tendo o vício efeitos contra todos (erga omnes).
Convalidação/transmutação:
Art. 1.203 – “Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida”. Trata-se do princípio da continuidade do caráter da posse. A posse só será viciada quando o vício estiver presente desde o início. Uma posse que se iniciou sem vícios, não se torna injusta pela sua violência, clandestinidade ou precariedade. Uma exceção a esta regra ocorre quando o locatário – que detinha a posse justa sobre o bem – não devolve o imóvel, situação na qual a posse torna-se injusta em razão da precariedade, pois resulta de abuso de confiança. Neste caso, a posse que era justa não mantém este caráter, tornando-se injusta.
Cessada a violência – através do fim da resistência do proprietário – e a clandestinidade – a posse tornando-se pública e ostensiva – a posse pode ser nova. Contudo, nasce uma questão tormentosa: essa posse é justa ou injusta? Ocorre a convalidação de tais atos?
Para primeira posição, adotada por Carvalho Santos cessando os atos de violência e de clandestinidade, há a situação de posse justa. A posse passa a ser útil, como se nunca tivesse sido eivada de tal vício. Ela será revestida de legitimidade/licitude e produzirá seus efeitos jurídicos. Esse possuidor adquire a posse para a usucapião, afinal o art. 1.238, que a regula, exige apenas a ausência de oposição/resistência do proprietário, sem mencionar que a posse precisa ser justa.
Para a segunda posição, conciliando-se o art. 1.208 com o art. 558 do CPC, a posse injusta transforma-se em justa desde que se passe ano e dia de quando cessar a violência ou clandestinidade, pois o proprietário estará todo este tempo sem reclamar a coisa e a posse será mansa e pacífica. É o entendimento majoritário.
Tartuce entende que a análise da cessação dos vícios, e possibilidade de convalidação ou não, dever ser feita à luz da função social da posse, caso a caso. Mesmo que o CPC mantenha a divisão das ações de força nova e velha, acredita Tartuce que seja o momento de rever a utilização do parâmetro objetivo processual para que a posse injusta passe a ser justa. Assim, a alteração do caráter da posse deve ter como parâmetro a sua função social, e não um mero requisito temporal. Todavia, este ainda não é o entendimento majoritário.
Além disto, é preciso observar que enquanto os vícios da violência e da clandestinidade se manifestam no momento da aquisição da posse – a posse é originária – o vício da precariedade surge no final dela – a posse é derivada – é vício a posteriori. Assim, para Tepedino, apenas a violência e a clandestinidade podem ser convalidadas caso o proprietário não reclame a coisa. Já a precariedade não.
Conciliando tudo o que acima foi dito com o art. 1.203, chega-se à conclusão de que a presunção que o dispositivo legal menciona é relativa, violência e clandestinidade são vícios relativos. Diante disso, é possível fazer prova de que cessaram os atos de violência e clandestinidade, transmutando-se o caráter da posse, que deixa de ser viciada.
Uma vez que isto só se aplica à violência e a clandestinidade, mencionados pelo dispositivo, há a discussão sobre se, cessada a precariedade, tais atos podem ser convalidados? A posse passa a ser justa ou continua a ser injusta?
Parte da doutrina entende que a posse precária é vício absoluto, que nunca mudaria seu caráter de injusta para justa, e nunca produziria efeitos jurídicos, de modo a ser apenas detenção. Isto ocorreria pois o dever de restituir a coisa não se extingue. 
Tepedino, porém, não concorda com este entendimento, entendendo que ele deriva de uma confusão conceitual, assimilando-se a noção de posse à posse justa. Entende, assim, que a posse injusta em razão da precariedade ainda é posse, possibilitando a usucapião extraordinária, que não exige a boa-fé, caso o proprietário não reivindique a coisa. Neste sentido é o Enunciado 237 da III Jornada de Direito Civil: “é cabível a modificação do título da posse – interversio possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini.” 
Este entendimento é reforçado pelo texto do art. 1.208, segundo o qual apenas que a posse clandestina ou violenta não é posse, nada falando sobre a precariedade.
Tartuce admite o convalescimento da precariedade em casos, por exemplo, de novação. 
Por fim, entendeu a jurisprudência pela possibilidade da convalidação. No caso, a posse precária derivava do rompimento de um contrato de locação, tendo o locatário parado de pagar o aluguel e permanecido no imóvel por 12 anos, quando buscou a usucapião. Inicialmente a posse era contratual, decorrente do contrato de locação, que não daria ensejo à usucapião; todavia, tal contrato acabou, não foi renovado (o que se demonstra pela ausência de pagamento de aluguéis, cujo pagamento demonstraria a renovação verbal) e não houve tentativa de retomada do imóvel. Com isto, ocorreu a alteração do caráter, do animus da posse, o desdobramento da posse dos autores sobre o imóvel, os possuidores passando a agir como se donos fossem, autorizando a usucapião. 
Rosenvald fala em mudança do ânimo da posse.

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