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6 Tribunal Penal Internacional

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TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL
Instituída pelo Estatuto de Roma e internalizado pelo Brasil através do Decreto 4.388/02, que expressamente se submeteu à sua jurisdição pela EC 45.
Busca solucionar o problema enfrentado pelo direito internacional no que diz respeito à punição de crimes de guerra ou crimes de guerra, com graves violações a direitos humanos, sem que haja uma mera retaliação ou vingança. Isto, pois, seus antecessores podem ser vistos como vencedores julgando os vencidos, tratava-se de tribunais ad hoc, de exceção, o que viola disposições de direito penal, praticando-se uma justiça de difícil controle. Muitos, inclusive, veem tais julgamentos como uma mera continuação dos atos de guerra. 
Assim, buscou-se instituir um tribunal penal internacional permanente com esta finalidade. Em razão disso, só pode julgar crimes praticados após sua instituição, sem atuação retroativa.
Ainda, só podem ser submetidos à sua jurisdição, os países que assinarem o estatuto, concordarem em colaborar com o TPI. Isto gera certa dificuldade em sua efetividade, visto que países de grande influência, como os EUA, não aderiram a ele, temendo possíveis punições à sua participação em guerras e intervenção em outros países. 
Competência
Artigo 5º
“1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto” quando praticados como uma política de estado. Não se trata de crimes praticados por particulares, de forma isolada. “Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal terá competência para julgar os seguintes crimes”:
a) Crime de genocídio: poderia estar dentro dos crimes contra a humanidade, mas optou-se por tipificá-lo em separado;
b) Crimes contra a humanidade: praticados no quadro de um ataque generalizado ou sistemático à população civil
c) Crimes de guerra;
d) Crime de agressão.
Crítica - disposições inconstitucionais
Muitos apontam disposições do Estatuto de Roma que seriam inconstitucionais, violando cláusulas pétreas que não podem ser alteradas sequer por emenda constitucional, através da qual o país aderiu ao TPI. Uma vez que o TPI só julga pessoas, há especial preocupação com direitos individuais que seriam ofendidos por suas disposições que, logo, seriam inconstitucionais. Estas críticas serão analisadas de forma particularizada:
Relativização da coisa julgada
Artigo 20, 3 – “O Tribunal não poderá julgar uma pessoa que já tenha sido julgada por outro tribunal, por atos também punidos pelos artigos 6o, 7o ou 8o, a menos que o processo nesse outro tribunal [que pode ser um tribunal interno]”:
a) “Tenha tido por objetivo subtrair o acusado à sua responsabilidade criminal por crimes da competência do Tribunal”: teria havido um processo simulado, como se feito para dar errado;
b) “Não tenha sido conduzido de forma independente ou imparcial, em conformidade com as garantias de um processo equitativo reconhecidas pelo direito internacional, ou tenha sido conduzido de uma maneira que, no caso concreto, se revele incompatível com a intenção de submeter a pessoa à ação da justiça”: assim não é necessário verificar a existência da intenção de subtrair o réu da ação da justiça, sendo feita apenas uma análise subjetiva da forma pela qual o processo foi conduzido.
Há a crítica de que isto violaria a vedação constitucional – que faz parte da noção de devido processo legal – de que ninguém pode ser julgado duas vezes pelo mesmo fato.
Desconsideração de imunidades próprias do direito interno
Entende o professor que isto não caracteriza direito individua, direito fundamental, descartando a crítica.
Imprescritibilidade dos crimes
Artigo 29 – “Os crimes da competência do Tribunal não prescrevem”.
Todavia, a regra no direito penal, é a prescritibilidade. Assim, há esta crítica.
Entrega do nacional
A CF veda a extradição de nacionais, permitindo apenas a extradição de estrangeiros e daqueles que adquiriram nacionalidade por naturalização, com alguns requisitos.
Todavia, o artigo 59 prevê que o Estado deve proceder a detenção e a entrega do nacional que seja réu no TPI. Há a crítica de que isto violaria a vedação da extradição.
Alguns autores buscam distinguir a entrega e a extradição: a extradição seria feita em relação a outro Estado, tendo como fundamento a não submissão do Estado brasileiro a outro; a entrega não seria feita a outro país, mas à comunidade internacional, de modo que o Estado brasileiro não estaria se submetendo a outro ao realiza-la, mas colaborando com a comunidade internacional.
Para o professor, porém, a mudança de nome não é suficiente. O fundamento para a constitucionalidade da entrega deve ser outro: a adesão ao Estatuto foi feita por Emenda Constitucional, isto está na CF. Não aceita-la seria condenar as gerações futuras às escolhas do constituinte originário. Ainda, a Assembleia Nacional Constituinte foi votada por maioria, enquanto que a EC foi votada por 3/5 e a iniciativa legislativa foi votada por 1/3, o que afirma a legitimidade do constituinte derivado para acompanhar as mudanças no contexto fático. As cláusulas pétreas devem, assim, ser interpretadas de forma restritiva, de modo a não travar a evolução da sociedade.
Ademais, a adesão ao TPI, apesar de representar uma limitação a direitos individuais por um lado, representa uma otimização destes direitos, por outro lado, ao buscar a proteção de direitos humanos, de populações civis como um todo. 
Prisão perpétua
Artigo 77, 1 – “[...] o Tribunal pode impor à pessoa condenada por um dos crimes previstos no artigo 5o do presente Estatuto uma das seguintes penas: 
b) Pena de prisão perpétua, se o elevado grau de ilicitude do fato e as condições pessoais do condenado o justificarem”,
Isto é mais discutível, vista que a CF expressamente veda a prisão perpétua. Todavia, o professor entende por sua constitucionalidade, entendendo ser possível a relativização – por Emenda Constitucional - das concepções do constituinte originário sobre os direitos humanos frente aos crimes de competência do TPI, pois elas não são necessariamente o melhor entendimento sobre o assunto, absoluto e imutável.
O direito internacional, a colaboração, possui uma lógica própria, sendo necessário renunciar a certos preceitos internos para fazer parte disto, o que é aceitável por se tratar da proteção de direitos humanos.
Ausência de patamares mínimo e máximo de pena
O Estatuto não prevê as penas a serem cominadas a cada crime, apontando apenas, em seu artigo 78, que “na determinação da pena, o Tribunal atenderá, em harmonia com o Regulamento Processual, a fatores tais como a gravidade do crime e as condições pessoais do condenado”.
Há a crítica de que isto viola a taxatividade e legalidade estrita do direito penal. Para o professor, assim como as críticas anteriores, isto pode ser justificado pela proteção de direitos humanos e pela colaboração internacional.
De qualquer forma, a subsidiariedade é um dos princípios do TPI, que só julgará casos em que o direito interno não o fizer, ou o fizer de forma imparcial.

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