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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 2 AS ABORDAGENS DO CONCEITO DE PERSONALIDADE ..................... 3 2.1 A teoria psicanalítica clássica de Sigmund Freud .............................. 11 2.2 Teoria analítica de Carl Jung .............................................................. 13 2.3 Teoria de Karen Horney ..................................................................... 18 2.4 Teoria de Alfred Adler......................................................................... 19 2.5 Teoria de Erik Erikson ........................................................................ 20 3 CONCEITOS DE PERSONALIDADE E TEMPERAMENTO ..................... 31 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 43 2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 AS ABORDAGENS DO CONCEITO DE PERSONALIDADE Você sabe como a personalidade se forma? Antes de começarmos os nossos estudos, é importante salientar que a personalidade humana, é entendida de diferentes formas a depender da corrente teórica que a investiga. Assim, diante do amplo panorama de teorias contemporâneas sobre a personalidade, talvez a ação mais adequada não seja escolher qual delas é a melhor, mas compreender como cada uma se posiciona diante do que pretende explicar. Portanto, para estudar a personalidade, você deve conhecer as diversas correntes psicológicas que se dedicaram a ela. Você vai ver que não existe uma definição única e consolidada, considerando que os métodos de pesquisas e teorias desenvolvidas são distintas. Sendo assim, é necessário enfatizar que o conceito de personalidade é central para todas as abordagens teóricas da psicologia. Embora seja definido e enquadrado de forma diferente, é essencial para a compreensão dos sujeitos e para as propostas de intervenção psicológica. Em geral, a personalidade é a forma como cada pessoa é, sendo composta por experiências e características pessoais influenciadas pela sociedade e pela cultura. Algumas teorias sugerem que a personalidade é construída por meio do aprendizado, tanto respondendo a estímulos quanto criando repertórios baseados na percepção e na memória. Outros acreditam que certos conjuntos de recursos podem distinguir ou identificar indivíduos. Há ainda, teorias que sugerem que as experiências da infância, ligadas à bagagem genética, desempenham um papel dominante na formação de uma estrutura de personalidade estável, mas não necessariamente saudável. Portanto, as diferenças entre esses métodos são significativas. A personalidade é uma questão fundamental em psicologia, motivo de inúmeras interrogações e diferentes concepções teóricas. A primeira teoria moderna da personalidade foi desenvolvida por Sigmund Freud (1856-1939) com base em observações de pacientes na prática clínica. Desde essa elaboração, surgiram várias teorias e concorrentes para explicar a diversidade humana e por que as pessoas são como são. A tendência hoje é apresentar teorias baseadas em evidências científicas e não em evidências clínicas, mas a teoria de Freud continua válida, sendo constantemente revisada e atualizada (FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015). 4 A partir disso, pode-se dizer que todas as espécies animais têm diferenças individuais de aparência e comportamento, mas a espécie humana tem as maiores diferenças físicas e psicológicas, já que podemos ser altos ou baixos, quietos ou extrovertidos, calmos ou agitados, loiros, morenos, ruivos, brancos, negros, entre várias outras especificidades. Não é por acaso que a personalidade tem fascinado os autores da psicologia. Tem sido um desafio para as teorias conseguir envolver esse universo de diferenças, porém, elas concordam em uma coisa: a personalidade vem do latim persona, que era a máscara utilizada no teatro romano para diferenciar os papéis dos personagens. Contudo, quando as teorias falam de personalidade, elas denotam a muitas outras características de uma pessoa, além dos papéis (FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015). De acordo com Schultz e Schultz (2021), são três as definições básicas de personalidade nas teorias: O estado de ser uma pessoa; As características e qualidades, que formam o caráter distinto de uma pessoa; A soma de todas as características físicas, mentais, emocionais e sociais de uma pessoa. Os autores também apontam as grandes distinções entre as teorias e as especificidades dos períodos em que foram elaboradas e publicadas, estando entre elas, o fato de serem generalistas. Os autores do século XX partiram das realidades europeia e norte-americana, e na formulação de suas teorias, não consideraram diferenças culturais, sociais e raciais, bem como características relacionadas a idade, orientação sexual, crença religiosa e deficiência (SCHULTZ; SCHULTZ, 2021). É importante pensar ainda, nas mudanças sociais que ocorreram desde então, alterando a realidade das crianças e dos pais até os dias atuais, uma vez que os pais passam mais tempo longe de casa e as crianças iniciam a socialização secundária muito cedo, ou seja, vão para a creche ou escola logo após o nascimento. Esses são fatores de vida que distinguem os indivíduos que são analisados para a construção de grande parte das teorias da personalidade. Para assegurar os seus realinhamentos, os autores continuam trabalhando e atualizando as teorias. De 5 acordo com as teorias, todos temos personalidade, a qual desde muito cedo, determina as nossas experiências e continuará definindo até o fim de nossas vidas. A personalidade pode inibir ou facilitar a experiência e a escolha, pode beneficiar ou limitar a captação de oportunidades, impedir ou agir ativamente para que aconteçam. Ser quem somos, ter a saúde que temos e fazer as escolhas que fazemos são, por exemplo, resultado da nossa personalidade. Muitas vezes as pessoas são julgadas como sem personalidade, sendo apontadas como alguém influenciável, ou de ter uma personalidade forte ou fraca, ou seja, ela é imponente ou flexível. Na realidade, a personalidade se diferencia e caracteriza o indivíduo, no entanto, é inadequado julgá-la como forte, fraca, boa ou mal, entre outros aspectos. Assim, pode- se dizer que a personalidade se assemelha a impressão digital, considerando que todos nós temos e cada uma é única. Segundo Feldman (2015), não importa em qual campo da psicologia a pessoa escolha trabalhar, ela alternará entre uma das cinco grandes perspectivas atuais: neurociência, cognição, comportamento, humanidades e psicodinâmica. Embora existam diferenças significativas entre essas abordagens, existem questões epistemológicas essenciais na psicologia que precisam ser discutidas e respondidas por cada uma das vertentes.Veja o exemplo no quadro 1. Quadro 1 – Questões epistemológicas importantes nas perspectivas da psicologia Fonte: Adaptado de Feldman (2015) 6 Embora tenham argumentos e conceitos diferentes sobre o avanço da personalidade, os ramos da teoria precisam abordar questões-chave e fornecer respostas que unifiquem a psicologia de maneira epistemológica. Essas questões não são exclusivas nem binárias, mas seguem um continuo de orientação teórica. Deve- se enfatizar que a classificação das concepções ou métodos psicológicos apresentados no quadro acima, não seria uma concordância entre os estudiosos. Alguns ainda pensam no tripé clássico como a psicologia de meados do século XX: Psicanálise, Behaviorismo e Gestalt (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2009). Contudo, a especificação proposta por Feldman (2015) tenta novas abordagens que foram se desenvolvendo e moldando o cenário teórico e de pesquisas que temos hoje em dia, basicamente a partir das décadas de 1960 e 1970, como psicologia cognitiva e neurociência. No entanto, as teorias estão divididas em relação à influência geral do ambiente e da genética na formação e desenvolvimento da personalidade. A hereditariedade é um grupo de característica que são herdadas de forma genética, já o ambiente está relacionado ao ambiente criativo, social e familiar. Assim, a predisposição hoje em dia é aceitar que a personalidade e o comportamento, não são motivados por uma única influência. A resposta a essa pergunta está em algum ponto entre esses dois aspectos, embora as escolas continuem diferindo o quanto à prevalência de um sobre o outro pode ser marcante (FELDMAN, 2015). De outro modo, o comportamento consciente ou inconsciente é outro aspecto a ser tratado por psicólogos variadas abordagens teóricas. Os psicólogos psicodinâmicos concordam que a personalidade se desenvolve essencialmente em torno de elementos inconscientes das primeiras experiências da vida. Psicólogos cognitivos acreditam que a personalidade está intimamente relacionada ao funcionamento mental e ao aprendizado. Dessa forma, entra em questão outro aspecto fundamental: processos mentais versus comportamento. O comportamento é perceptível e os processos mentais são invisíveis. A perspectiva comportamental defende o estudo do primeiro, e a cognitiva, por exemplo, do segundo. De acordo com a abordagem cognitiva, é preciso saber o que e como a pessoa pensa, para que se consiga conhecer o comportamento. As abordagens que defendem o livre-arbítrio, protegem a liberdade e a capacidade de uma pessoa decidir por si mesmo. Já a teoria determinística, está voltada para decisões que surgem de fatores alheios ao controle das pessoas. As 7 abordagens variam de posturas extremas para as mais moderadas, sendo que essas ultimas acabam reconhecendo que alguns comportamentos podem ser determinados pelo passado, enquanto outros podem ser naturais e controláveis (SCHULTZ; SCHULTZ, 2021). Diferentes posições afetam diretamente a compreensão das funções mentais, transtornos e modalidades de intervenção. Por exemplo, alguns psicólogos acreditam que pessoas mentalmente vulneráveis ou doentes em um determinado momento podem ser responsabilizadas por suas ações, enquanto outros acreditam que precisam ser protegidas. A suposta discordância entre as distinções individuais e princípios universais é outra importante questão epistemológica, ou seja, o quanto o comportamento é determinado por características individuais e o quanto reflete a cultura e a sociedade em que vivemos. A primeira opção é individual e a segunda é universal entre os humanos. Por exemplo, os neurocientistas tendem a defender a universalidade porque o comportamento depende da função cerebral. Assim, as suas pesquisas visam estabelecer padrões. Por outro lado, os psicólogos humanistas, acreditam na expressão autêntica e genuína de cada indivíduo (FELDMAN, 2015). A psicologia como ciência tem, ao longo de sua história, produzido teorias que usam conceitos e métodos inspirados em diferentes visões da natureza humana para compreender a função mental, o comportamento e a vida psíquica. Porém, todas elas propõem o estudo da personalidade, como o elemento central para o conhecimento do sujeito. O quadro 2, apresenta a posição de cada abordagem que desenvolveu teorias da personalidade, em relação às questões-chave da ciência psicológica. Quadro 2 – Múltiplas perspectivas da personalidade Abordagem teórica e principais autores Determinantes da personalidade conscientes versus inconscientes Natureza (fatores hereditários) versus criação (fatores ambientais) Livre arbítrio versus determinismo Estabilidade versus modificabilidade Psicodinâmica Sigmund Freud, Carl Jung, Dá ênfase ao inconsciente. Enfatiza a estrutura inata, herdada da Enfatiza o determinismo, a visão de que Enfatiza a estabilidade das 8 Karen Horney e Alfred Adler (1860 – atualidade) personalidade, valorizando a importância da experiência infantil o comportamento é direcionado e causado por fatores externos ao próprio controle. características durante a vida Traços Gordon Allport, Raymond Cattell e Hans Eysenck (1904 – 1960) Desconsidera o consciente e o inconsciente. As abordagens variam. Enfatiza o determinismo, a visão de que o comportamento é direcionado e causado por fatores externos ao próprio controle. Enfatiza a estabilidade das características durante a vida. Aprendizagem Frederic Skinner e Albert Bandura (1870 – atualidade) Desconsidera o consciente e o inconsciente Centra-se no ambiente. Enfatiza o determinismo, a visão de que o comportamento é direcionado e causado por fatores externos ao próprio controle. Enfatiza que a personalidade permanece flexível e resiliente durante a vida. 9 Abordagem teórica e principais autores Determinantes da personalidade conscientes versus inconscientes Natureza (fatores hereditários) versus criação (fatores ambientais) Livre arbítrio versus determinismo Estabilidade versus modificabilidade Biológica e evolucionista Therese Tellegen (1980 – atualidade) Desconsidera o consciente e o inconsciente. Enfatiza os determinantes inatos, herdados da personalidade. Enfatiza o determinismo, a visão de que o comportamento é direcionado e causado por fatores externos ao próprio controle. Enfatiza a estabilidade das características durante a vida. Humanista: Carl Rogers e Abraham Maslow (1960 – atualidade) Enfatiza o consciente mais do que o inconsciente. Enfatiza a interação entre a natureza e a criação. Enfatiza a liberdade de os indivíduos fazerem as próprias escolhas. Enfatiza que a personalidade permanece flexível e resiliente durante a vida Fonte: Adaptado de Feldman (2015). As concepções ou abordagens, lançadas no quadro 2 são essenciais para olhar a psicologia como ciência, pois as teorias necessitam responder às questões epistemológicas levantadas pela ciência para serem consideradas sustentáveis do ponto de vista acadêmico. Nem todas as abordagens existentes propõem uma teoria da personalidade, daí a diferença entre os quadros 1 e 2. Por isso, os métodos e teorias da personalidade assumem diferentes posições em questões epistemológicas 10 da psicologia, sendo esta discussão fundamental para estabelecer as concepções de personalidade, bem como ela é formada, desenvolvida e manifestada. Desta forma, podemos concluir que, embora não haja uma definição única, mas compreendida de diferentes maneiras de acordo com as correntes teóricas que a estudam, a personalidade é um padrão relativamente permanente de traços e aspectosúnicos e que dão a veracidade e individualidade ao comportamento de uma pessoa (ROBERTS; MROCZEK, 2008). Os traços influenciam as diferenças individuais em relação ao comportamento, bem como para consistência do comportamento ao longo do tempo, possibilitando a estabilidade em diferentes situações. Essas características, ou seja, os traços podem ser únicos, comuns a algum grupo ou compartilhados pela espécie inteira, porém, seu padrão é diferente em cada indivíduo. Cada pessoa então, embora semelhantes aos outros em alguns aspectos, têm uma personalidade única. Traços são, portanto, qualidades exclusivas de um indivíduo e incluem atributos como temperamento, caráter e inteligência, sendo importante considerar as diferenças entre personalidade, temperamento, caráter e traços. Podemos então, entender a personalidade como um padrão de comportamento que estabelece o modo de vida e os valores de uma pessoa, como por exemplo o jeito de ser, a forma de se expressar e de ser reconhecido no meio em que vive. O temperamento é uma parte inata da personalidade, e o caráter é o temperamento que foi modificado e inserido no meio. Temperamento e caráter são, dessa forma, parte desse vasto conceito de personalidade. A personalidade também possui traços mais ou menos dominantes, que são padrões de percepção e relação com o ambiente, pois podem variar ou mudar dependendo do contexto em que estamos. É necessário ressaltar que o estudo dos traços de personalidade teve início no início do século XX, originando-se na psicologia americana, baseou-se na aplicabilidade dos conhecimentos. Posteriormente, outros autores, como Allport (1897– 1967) e Eysenck (1916 – 1997), propuseram teorias com outros objetivos. Assim, no próximo tópico, você vai compreender sobre as abordagens que concebem a personalidade motivada por forças e conflitos internos pouco conscientes e controláveis. O pioneiro dessa corrente foi Sigmund Freud, posteriormente seguido e criticado por Carl Jung, Karen Horney, Alfred Adler, Erik Erikson. Você também vai 11 conhecer a teoria e as contribuições de Gordon Allport, Hans Eysenck e Raymond Cattell para o entendimento da teoria dos traços de personalidade 2.1 A teoria psicanalítica clássica de Sigmund Freud Sigmund Freud, médico e psicanalista, nasceu na Morávia em 6 de maio de 1856 e morreu em Londres, em 23 de setembro de 1939. Foi um teórico essencial para a ciência psicológica, marcando as bases do conhecimento do mundo ocidental para destacar as marcas psicológicas singulares de cada indivíduo (MARIANO, 2018). Ao propor a narrativa de histórias de vida como prática efetiva de saúde, ele estabeleceu as bases clínicas através da escuta que era a maneira em que conseguia colocar em prática a sua escuta interventiva. Assim, ao desenvolver um referencial teórico para o desenvolvimento infantil no âmbito familiar, desbravou um campo de pesquisa que valorizava a subjetividade e a variabilidade de cada pessoa. Portanto, cavou fundo e plantou uma forte raiz, com muitos micélios, para que pensemos na personalidade com demora e com distinção (FELDMAN, 2015). De acordo com o psicanalista, a maior parte do comportamento humano é influenciada pelo inconsciente (impulsos, pulsões, desejos, vontades, necessidades) com partes conscientes e inconscientes. Em sua segunda teoria do aparelho mental, introduziu os termos id, ego e superego para se referir às estruturas da personalidade. É uma estrutura dinâmica com interações internas e externas, com forças e instintos que motivam o comportamento (FELDMAN, 2015). O id é uma manifestação subconsciente, localizado em um reservatório de energias psíquicas que são chamadas de pulsões, instintos e desejos. São impulsos com fluxo ilimitado de energia que exercem pressão constante sobre as personalidades. Seu foco é a satisfação imediata para que diminua a tensão, porque é impulsionado pelo princípio do prazer. Neste contexto, a realidade impede essa descarga. Dessa forma, pode-se dizer que o id está presente desde o nascimento. A realidade é representada pelo ego, que tenta equilibrar as demandas do id com as demandas da realidade do mundo externo e os ditames do superego. Este é um caso que visa preservar a segurança do indivíduo e ajudar na integração na sociedade. O ego é regido pelo princípio da realidade porque é um regulador cujas principais funções são a percepção, memória, sentimento e pensamento. O ego 12 representa a personalidade, que é o Eu do indivíduo, que toma decisões e dirige ações, levando em consideração as condições objetivas da sociedade. Também se desenvolve desde o nascimento (FELDMAN, 2015). Na infância, desenvolve-se outra manifestação da personalidade: o superego. Ela surge da internalização de proibições, restrições e mandatos impostos por pais e professores de acordo com a realidade. Uma vez internalizadas essas exigências sociais e culturais, ninguém precisa mais ‘dizer não’, pois a proibição já está no indivíduo, o que gera muitos conflitos internos (FELDMAN, 2015). Para Bock, Furtado e Teixeira (2001, p. 101): [...] o ego e, posteriormente, o superego são diferenciações do id, o que demonstra uma interdependência entre estes três sistemas, retirando a ideia de sistemas separados. O id refere-se ao inconsciente, mas o ego e o superego têm, também, aspectos ou ‘partes’ inconscientes. Esses casos contêm as experiências pessoais de cada pessoa e expressam seu desenvolvimento atual. Com isso, o psicólogo examina a história pessoal em relação à história de familiares e outros grupos sociais, que também se inscrevem nos valores e crenças da sociedade. Para Freud, a personalidade se desenvolve em cinco estágios: oral, anal, fálico, latente e genital. Nessas fases, a criança enfrenta conflitos decorrentes das exigências da sociedade e de seus próprios impulsos sexuais, pois nessas fases a sexualidade está relacionada à vivência do prazer, e não ao gozo da relação sexual da genital. Se estes conflitos não forem resolvidos numa determinada fase, implicam uma fixação na fase que persiste até à idade adulta. Assim, entender e conhecer essa estrutura com as vivências e dificuldades dessas fases pode apontar traços específicos na personalidade adulta. A dinâmica e os conflitos no desenvolvimento da personalidade geram ansiedade. Para explicar esse desconforto e insatisfação, ou seja, o desprazer, Freud atribuiu esse processo aos mecanismos de defesa utilizados pelo ego, que excluem da consciência conteúdos indesejados e protegem o aparelho psíquico. O ego usa esses meios para suprimir ou mascarar a percepção do perigo interno e reduzir a ansiedade por meio de estratégias inconscientes de defesa. Dessa maneira, muda a percepção da realidade e mascara a fonte da ansiedade do indivíduo. Os mecanismos utilizados são: repressão, regressão, deslocamento, racionalização, negação, 13 projeção, sublimação e formação reativa, que podem ser utilizados de diversas formas para proteção contra a ansiedade. Os mecanismos são os nossos meios de defesa que em algum momento ou situação, iremos aciona-los, de outro modo quando os mesmos se tornam excessivos, passa-se a esconder e recanalizar em forma de impulsos inconcebíveis, podendo até mesmo desenvolver transtornos mentais, produzidos pela ansiedade, sendo denominada por Freud como neurose (FELDMAN, 2015). A teoria de Freud foi refutada por psicólogos da época (1900) e ainda hoje sofre críticas por não ter sido comprovada cientifica, considerando que as primeiras teorias psicanalíticas de Freud não são cientificas, pois, ela não contava com um programa de pesquisa experimental, como ocorre na psicologia científica e a neurociência cognitiva. Segundo Feldman (2015, p. 391), “ a ênfase de Freud no inconsciente foi parcialmente apoiada pela pesquisa atual sobre os sonhos e a memória implícita,sendo os avanços na neurociência compatíveis com alguns de seus argumentos”. Além do mais, “ os psicólogos cognitivos e sociais encontraram evidências crescentes de que os processos inconscientes nos ajudam a pensar e avaliar nosso mundo, estabelecer metas e escolher cursos de ação” (FELDMAN, 2015, p. 391). Neste tópico, você aprendeu sobre a formação da personalidade de acordo com a Psicanálise de Freud. Você pôde compreender também, a relação da personalidade com os principais conceitos estabelecidos pelo autor: o Id, ego e superego. 2.2 Teoria analítica de Carl Jung O psiquiatra suíço Carl Jung (1875-1961) foi discípulo de Freud de 1907-1913. Jung foi um dos principais membros dos estágios iniciais do movimento psicanalítico, o primeiro presidente da Associação Psicanalítica Internacional (International Psychoanalytical Association — IPA). O psicanalista era especialista em "psicose" e era fascinado pelo orientalismo. Graças à sua experiência, iniciou um estudo aprofundado sobre esquizofrenia, autoerotismo e autismo om Freud e Breuer (1901- 1939). Jung encontrou a confirmação de sua pesquisa sobre o subconsciente, associações verbais e complexos na obra de Freud. A psicologia analítica, que é a 14 base da psicoterapia, surgiu do movimento junguiano. De acordo com a teoria da personalidade de Jung, a personalidade total ou estrutura da psique é composta de vários sistemas diferentes, mas interativos. Os mais importantes são o ego, o inconsciente pessoal e seus complexos, o inconsciente coletivo e seus arquétipos, a anima e o animus, sombras e personas. Além desses sistemas interdependentes, estão as atitudes introvertidas e extrovertidas e as funções de pensamento, sentimento, sensação e intuição. Finalmente, existe o self, que é o centro de toda personalidade. Veja exemplos de construção de personalidade de Carl Jung, na figura 1 abaixo. Figura 1. Construção da personalidade segundo Carl Jung. Fonte: bit.ly/3x7t3YQ Conforme Roudinesco e Plon (1998, p. 423) os arquétipos constituem o inconsciente coletivo, base da psique, estrutura imutável, espécie de patrimônio simbólico próprio de toda a humanidade. Essa representação da psique é complementada por “tipos psicológicos”, isto é, características individuais articuladas em torno da alternância introversão/ extroversão, e por um processo de individuação, que conduz o ser humano à unidade de sua personalidade através de uma série de metamorfoses (os estádios freudianos). A criança emerge, assim, do inconsciente coletivo, para ir até a individuação, assumindo a anima e o animus. Conforme a imagem da construção da personalidade, Carl Jung vai descrever as estruturas da seguinte maneira: 15 A Persona: a persona é uma máscara adotada pela pessoa em resposta às demandas das convenções e das tradições sociais e às suas próprias necessidades arquetípicas internas (JUNG, 1953). É o papel atribuído a alguém pela sociedade, em que a sociedade espera que a pessoa desempenhe na vida. O propósito da máscara é causar uma impressão definida nos outros, embora muitas vezes, não necessariamente, oculta a verdadeira natureza da pessoa. A persona é a personalidade pública, aqueles aspectos que apresentamos ao mundo ou que a opinião pública impõe ao indivíduo, em contraste com a personalidade privada existente por trás da fachada social. O núcleo do qual a persona se desenvolve é um arquétipo. Esse arquétipo, como todos os arquétipos, origina-se das experiências da raça. Nesse caso, as experiências consistem em interações sociais em que a assunção de um papel social teve um propósito útil para os humanos ao longo de sua história, como animais sociais. A persona é parecida com o superego de Freud em alguns aspectos. O Ego: A mente consciente é composta de percepções, memórias, pensamentos e sentimentos, e é responsável por nosso senso de identidade e continuidade, e de uma perspectiva humana é o centro da consciência. A Sombra: os arquétipos das sombras consistem em instintos animais que os humanos desenvolveram a partir de formas de vida inferiores (JUNG, 1948). Portanto, a sombra representa o lado animal da natureza humana. Como o arquétipo, a sombra é a fonte de nossa noção de pecado original, quando projetada para fora torna-se o inimigo (JUNG, 1960). O arquétipo da sombra também é responsável por trazer à consciência pensamentos, sentimentos e ações desagradáveis e socialmente censuráveis, que a pessoa pode então esconder da visão pública pela persona ou reprimir em seu subconsciente pessoal. Assim, o lado obscuro da personalidade derivado do arquétipo, ou seja, um arquétipo que transpassa pelos aspectos privados do ego e também um grande segmento do conteúdo do inconsciente pessoal. A sombra, com seus instintos animais vitais e apaixonados, confere à personalidade uma qualidade volumosa ou tridimensional, ou seja, ajuda a completar a pessoa como um todo. Então você deve ter notado uma semelhança entre a sombra e o conceito freudiano do id (JUNG, 1960). 16 Inconsciente pessoal: é uma área adjacente ao ego, composta de experiências que antes eram conscientes, mas agora são reprimidas, esquecidas, anuladas ou desconhecidas e em experiências que inicialmente eram fracas demais para causar uma impressão consciente na pessoa. Os conteúdos do inconsciente pessoal, como os do material pré-consciente de Freud, são acessíveis à mente consciente, e há um grande trânsito de mão dupla entre o inconsciente pessoal e o ego (JUNG, 1960). Os complexos: é um grupo organizado ou uma constelação de sentimentos, pensamentos, percepções e memórias, que existem no inconsciente pessoal. Contudo, existe um núcleo que age como uma espécie de magneto que atrai ou ‘constela’ várias experiências (JUNG, 1960). Inconsciente coletivo: o conceito de um inconsciente coletivo, ou transpessoal, é um dos aspectos mais originais e controversos da teoria de Jung da personalidade, pois, é o sistema mais poderoso e influente da psique e, em casos patológicos, domina o ego e o inconsciente pessoal (JUNG, 1959). O inconsciente coletivo é o depósito dos vestígios de memória latentes deixados por nossos ancestrais, que inclui não apenas a história racial dos seres humanos como uma espécie distinta, mas também a história de seus ancestrais pré- humanos ou animais. Portanto, o inconsciente coletivo é o resquício psicológico do desenvolvimento evolutivo do ser humano, o acúmulo de experiências repetidas de várias gerações. Pode-se dizer que é quase completamente independente de todas as coisas pessoais da vida do indivíduo e provavelmente universal. Assim, todos os seres humanos, têm mais ou menos o mesmo inconsciente coletivo (JUNG, 1959). O Self: Para Jung (1953), o conceito fundamental da psicologia completamente unificada é o Self. O self é o ponto essencial da personalidade em torno do qual todos os outros sistemas estão constelados, assim, os mantém unidos e a personalidade desenvolve a estabilidade e o equilíbrio. “Se imaginarmos a mente consciente com o ego como seu centro, como estando oposto ao inconsciente, e acrescentarmos agora ao nosso quadro mental o processo de assimilar o inconsciente, podemos pensar nessa assimilação como uma espécie de aproximação do consciente e do inconsciente, em que o centro da personalidade total já́ não coincide com o ego, mas com um ponto médio entre o consciente e o inconsciente. Esse seria o ponto de um novo equilíbrio, um novo centra- mento da personalidade total, um centro virtual que, devido à sua posição focal entre o consciente e o inconsciente, garante uma fundação nova e mais sólida para a personalidade. ” (JUNG, 1953, p. 219). 17 O self é um objetivo na vida pelo qual as pessoas lutam constantemente, mas raramente alcançam. Os componentes individuais da personalidade devem estar totalmentedesenvolvidos e específicos, antes que o self possa emergir. É por isso que os arquétipos do self não aparecem até a meia-idade do indivíduo (JUNG, 1953). Nessa época, ela começa a fazer um sério esforço para mudar o centro da personalidade do ego consciente para um que esteja a meio caminho entre a consciência e a inconsciência. Essa região intermediaria é a província do self. O conceito de self provavelmente é a descoberta psicológica, mais importante de Jung, e representa a culminação de seus estudos intensivos dos arquétipos (JUNG, 1953). Arquétipos: são componentes estruturais do inconsciente coletivo que recebem vários nomes: arquétipos, dominantes, imagens primordiais, imagos, imagens mitológicas e padrões de comportamento (JUNG, 1953). Um arquétipo é uma forma universal de pensamento/ideia, que contém um grande elemento de emoção. Essa forma de pensamento, cria imagens ou visões que correspondem na vida normal de vigília a algum aspecto da situação consciente. Anima e o animus: é bastante reconhecido e aceito que o ser humano é essencialmente um animal bissexual. Em um nível fisiológico, o macho secreta tanto hormônios masculinos, quanto femininos assim como a fêmea. No nível psicológico, as características masculinas e as femininas, são encontradas em ambos os sexos. A homossexualidade é apenas uma das condições, mas talvez a mais notável, que deu origem à concepção de bissexualidade humana. Jung atribuiu o lado feminino da personalidade do homem e o lado masculino da personalidade da mulher a arquétipos. O arquétipo feminino no homem é chamado de anima, e o arquétipo masculino na mulher é chamado de animus (JUNG, 1954). Esses arquétipos, embora possam ser condicionados pelos cromossomos sexuais e pelas glândulas sexuais, são os produtos das experiências raciais do homem com a mulher e da mulher com o homem. Em outras palavras, ao viver com a mulher ao longo das épocas, o homem se feminizou, ao passo que a mulher, por viver com o homem, se masculinizou (JUNG, 1954). Tais arquétipos não só fazem com que cada sexo manifeste características do sexo oposto, mas também agem como imagens coletivas, que motivam cada sexo a responder aos membros do outro sexo e a compreendê-los. O homem apreende a 18 natureza da mulher por meio de sua anima, assim como a mulher apreende a natureza do homem por meio de seu animus (JUNG, 1954). Mas a anima e o animus também podem levar ao desentendimento e à discórdia se a imagem arquetípica, for projetada sem consideração pelo caráter real do parceiro. Isto é, se um homem tentar identificar sua imagem idealizada de mulher com uma mulher real e não levar em conta as discrepâncias, entre o ideal e o real, ele pode sofrer um amargo desapontamento, quando perceber que as duas não são idênticas. Tem de haver um compromisso entre as necessidades do inconsciente coletivo e as realidades do mundo externo para que a pessoa seja razoavelmente bem-ajustada (JUNG, 1954). Dessa forma, vimos que, ao investigar a complexidade da psique humana, Jung se deparou com a noção de inconsciente coletivo e seus arquétipos. O aspecto mais relevante da teoria da personalidade de Jung, está voltado para a sua ênfase no caráter progressista do desenvolvimento da personalidade, diante do inconsciente coletivo e seus arquétipos. Pois, ele acreditava que os humanos estão constantemente progredindo ou tentando progredir de um estágio de desenvolvimento menos completo para um mais completo. Além disso, ele também acreditava que a humanidade, como espécie, está constantemente desenvolvendo novas formas de existência. Assim, Jung chamou a personalidade de psique, pois, compreendia os aspectos conscientes e inconscientes formando um todo, o que contrariava a visão freudiana de uma personalidade fragmentada. Para Jung, nós já nascemos inteiros, e nos cabe apenas compreender essa totalidade (JUNG, 1954). Nesta seção, você se inteirou sobre a estrutura da personalidade de Carl Jung, dessa forma, foi apresentado os principais conceitos como: arquétipos, self, sombra, persona, anima, animus, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. Portanto, através desses conceitos, Carl Jung tem como objetivo maior a psicologia analítica, pois, proporciona a compreensão de aspectos da personalidade humana. 2.3 Teoria de Karen Horney Karen Horney (1885–1952), orientou-se para o culturalismo, procurando fundamentar a psicologia da mulher, sobre uma identidade própria. Segundo Feldman (2015) refere-se a ela, como a primeira psicóloga feminista. De acordo com seus 19 estudos, Horney sugeriu que a personalidade se desenvolve no contexto das relações sociais e depende particularmente da relação entre os pais e os filhos e do quanto as necessidades da criança, são atendidas (FELDMAN, 2015). A psicóloga feminista, entendia que as influências maiores na personalidade se davam, por meio, de ocorrências sociais na infância. Assim, a mente consciente teria um papel na personalidade humana, apresentando uma visão holística e humanista da psique individual, dando ênfase as diferenças culturais e sociais ao redor do mundo. Ademais, atribuiu o sentimento de inferioridade experimentado por algumas mulheres a fatores sociais (FELDMAN, 2015). É necessário ressaltar que Horney foi uma das primeiras a enfatizar a importância dos fatores culturais na determinação da personalidade. Por exemplo, ela propôs que os rígidos papéis de gênero da sociedade para as mulheres levaram-nas a experimentar ambivalência quanto ao sucesso, porque temiam fazer inimigos se tiverem muito sucesso (FELDMAN, 2015). Compreende-se nesse tópico, que Horney como psicóloga feminista contribuiu apresentando os principais fatores que influenciam a personalidade, como as relações sociais e as diferenças culturais. 2.4 Teoria de Alfred Adler Alfred Adler (1870–1937) também foi discípulo de Freud, de quem se distanciou por discordar da superestimação do fator sexual, sendo além disso, o fundador da psicologia do desenvolvimento individual. Conforme Adler, o ambiente social e a obsessão incessante do indivíduo em atingir metas preestabelecidas, são os determinantes do comportamento humano, envolvendo a sede pelo poder e pela fama, formando a personalidade através desses determinantes (DAINEZ; SMOLKA, 2014). Segundo Dainez e Smolka (2014) na psicologia individual de Adler, cada pessoa é concebida como uma totalidade integrada dentro de um sistema social. A personalidade então, corresponde a uma unidade e o seu estudo se orienta para a luta que ela realiza para se desenvolver e exprimir. Os mais importantes determinantes da estrutura da vida da personalidade, se originam nos primeiros tempos da infância sendo que o propósito específico e o efeito particular da vida 20 psíquica, não se fundem sobre uma realidade objetiva, mas sobre a impressão subjetiva que o indivíduo teve dos acontecimentos da vida. Sendo assim, cada indivíduo se organiza em função de sua percepção subjetiva do mundo social. Como você viu, em uma breve explicação da contribuição de Adler, entendemos que a personalidade e o comportamento, são expressões do psiquismo humano, que estão interligadas e são estudadas por diferentes perspectivas, como a psicologia behaviorista com o estudo do comportamento, a cognitivista, que demonstra evidências crescentes de que os processos inconscientes ajudam os indivíduos a pensar sobre o mundo e avaliá-lo, a definir objetivos e escolher uma rota de ação, bem como, os estudos da neurociência que tem apoiado a existência do inconsciente, pela pesquisa atual sobre os sonhos e a memória implícita (FELDMAN, 2015). 2.5 Teoria de Erik Erikson Erikson tinha uma orientação teórica em psicanálise, mas propôs algumas modificações na construção da personalidade. Segundo Bee (2003), uma das principais diferenças era queErikson não ressaltava a sexualidade como eixo central do desenvolvimento da personalidade. Para ele a identidade se forma gradualmente e sua totalidade, não se completa ao final da puberdade, ou seja, da adolescência. O desenvolvimento se dá em estágios e cada um envolve o que Erikson chamou de crise na personalidade. Como consequência, Erikson (ERIKSON, 1972) afirmou que o desenvolvimento da personalidade é contínuo e formulou sua própria teoria do desenvolvimento, conhecida até hoje como PSICOSSOCIAL e não psicossexual como a de Freud. Para que você possa identificar melhor as fases pelas quais uma pessoa passa, conforme a teoria de Erik Erikson sobre os “estágios do desenvolvimento”, observe a tabela 1 abaixo: Período Qualidade de Ego a ser desenvolvida Algumas tarefas e atividades do estágio Virtude Nascimento aos 12-18 meses. Confiança básica versus O bebê desenvolve o sendo de Esperança. 21 desconfiança básica. perceber se o mundo é um lugar bom e seguro. 12 – 18 meses aos 3 anos. Autonomia versus vergonha, dúvida. A criança desenvolve um equilíbrio de independência e autossuficiência em relação à vergonha e a dúvida. Vontade. 3 aos 6 anos. Iniciativa versus culpa A criança desenvolve a iniciativa quando experimenta novas atividades e não é dominada pela culpa. Propósito. 6 anos á puberdade. Diligência versus inferioridade. A criança deve aprender as habilidades da cultura ou enfrentar sentimentos de incompetência. Habilidade. Puberdade ao adulto jovem. Identidade versus confusão de papéis. O adolescente deve determinar seu próprio senso de eu (quem sou eu?) ou experimentar uma confusão de papéis. Fidelidade. 22 Adulto jovem. Intimidade versus isolamento. A pessoa procura estabelecer compromissos com os outros, se não for bem- sucedida, poderá sofrer isolamento e auto absorção. Amor. Vida adulta intermediária. Generatividade versus estagnação. O adulto maduro preocupa-se em estabelecer e orientar a próxima geração, ou então sente um empobrecimento pessoal. Cuidado. Vida adulta tardia. Integridade do ego versus despero. O adulto maduro preocupa-se em estabelecer e orientar a próxima geração, ou então sente um empobrecimento pessoal. Sabedoria. Fonte: Adaptado de Bee (2003); Papaplia e Feldman (2013). Pode-se observar na tabela acima que Erikson apresenta as qualidades que o ego deve desenvolver, apontando assim, para os extremos. O teórico acredita que, para um desenvolvimento adequado, deve haver um equilíbrio em cada etapa. Para ele, mais importante do que a sexualidade, era a forma como as relações se desenvolviam e os resultados destas relações. Nesse caso, o envolvimento dos pais é essencial para promover esse equilíbrio. 23 O primeiro estágio psicossocial (Confiança básica versus Desconfiança básica), corresponde ao período entre o nascimento e os primeiros 18 meses de vida da criança. Sua atenção está em sua mãe, que satisfaz suas necessidades e desejos em um tempo tolerável e o faz entender que não ficará sozinho. No entanto, é importante mencionar que existem alguns casos em que outra pessoa assume esse papel. Quando um bebê passa por essa fase de forma harmoniosa, recebendo amor e atenção de seu provedor, desenvolve sentimentos de confiança básica, e quando esses desejos não são atendidos satisfatoriamente, o sentimento que surge é de desconfiança básica (RABELLO; PASSOS, 2001). Diferentes autores (BEE, 2003; RABELLO; PASSOS, 2001; PAPALIA; FELDMAN, 2013; CARPIGIANI, 2010) enfatizaram que o autodesenvolvimento saudável requer um equilíbrio entre esses dois sentimentos, e que é importante que a criança experimente alguns momentos de frustração, para entender que é importante desconfiar às vezes, assim como acreditava Erik Erikson. Nessa fase, Papalia e Feldman (2013) evidenciam que as crianças desenvolvem a virtude da esperança ao compreenderem que o querer e o esperar são possíveis. O segundo estágio psicossocial (Autonomia versus Vergonha, dúvida), ocorre entre os primeiros 18 meses de vida e os 03 anos de idade da criança. Nessa fase a criança passa a ter mobilidade e começa a desenvolver uma sensação de independência e/ou autonomia. Este período requer orientação dos pais para evitar que a criança experimente fracassos posteriores, gerando sentimentos de vergonha (raiva de si mesmo) e dúvida, ao invés de autocontrole e autovalor (BEE, 2003). Para Rabello e Passos (2001), nesta fase as crianças começam a absorver as regras sociais, aprendem sobre alguns privilégios, obrigações e limitações, e aprendem a se controlar. Os autores enfatizam novamente a importância de equilibrar experiências positivas e negativas para o autodesenvolvimento saudável do ego. Espera-se que as crianças desenvolvam nessa etapa, a força básica da vontade. O terceiro estágio psicossocial (Iniciativa versus Culpa), ocorre entre 03 e 06 anos, quando as crianças ingressam na escola. Nessa fase, espera-se que a criança tenha desenvolvido a confiança, o controle e a autonomia presentes nas fases anteriores. Ao aliar confiança e autonomia, a criança desenvolve a determinação, que é essencial ao senso de iniciativa. Segundo Rabello e Passos 24 (2001), o crescimento intelectual das crianças é reflexo de sua entrada na escola, que é fundamental para suas habilidades de planejamento e organização e o desenvolvimento do propósito como virtude. Quando seus planos não se concretizam, as crianças tendem a direcionar suas energias para fantasias, buscando compensar, de certa forma, o sentimento de culpa por não os ter realizado. Normalmente esses objetivos se manifestam no nível sexual e na idade adulta essa frustração pode levar a patologias ou se expressar pela somatização de conflitos. A ansiedade sobre atividades futuras também pode surgir quando uma criança se sente culpada. Por isso, Rabello e Passos ressaltam a importância de os pais explicarem aos filhos que determinadas atividades não podem ser desenvolvidas por eles, incentivando também a formação dessas atividades na infância quando puderem (BEE, 2003; PAPALIA; CARPIGIANI, 2010; FELDMAN, 2013). O quarto estágio psicossocial (Diligência versus Inferioridade), corresponde a fase onde o indivíduo se torna adulto e está preparado para unir sua identidade com a de outra pessoa sem se sentir ameaçado. Para isso, é necessário que tenha a sua experiência vivenciada referente as fases anteriores de forma positiva, construindo um ego forte, saudável e autônomo, que aceite conviver com outro ego sem se sentir anulado ou ameaçado. Os indivíduos podem preferir o isolamento à intimidade quando o ego não está suficientemente seguro. O risco nesta fase é que os jovens desenvolvam o elitismo, limitando suas conexões sociais a pessoas com personalidades semelhantes (RABELLO; PASSOS, 2001). Segundo Carpigiani (2010), Erikson entendia que o jovem adulto deve estar preparado para a intimidade, formar vínculos afetivos duradouros, ter força ética suficiente para se manter fiel a esses vínculos, mesmo quando impõe compromissos significativos, e a virtude de desenvolver o amor. Ela enfatiza que o isolamento é importante, já que o jovem adulto tem que suportar tanto estar sozinho quanto estar em um relacionamento. O sétimo estágio psicossocial (Generatividade versus Estagnação), refere- se à idade adulta intermediária e talvez seja o mais longo dos oito estágios. Nesta fase, o dilema existente é entre generatividade e estagnação. Conforme Carpigiani (2010, p. 17), se o desenvolvimento do ego foi saudável nas etapas anteriores, o indivíduo deve ser capaz de "superar desafios, cuidar dos bens adquiridos e manter 25 relações afetivas". Além disso, nesse estágio,ocorre a construção da família, a expansão profissional e a inclusão e formação de uma nova geração, definido como generatividade. No entanto, à medida que o indivíduo envelhece, pode acontecer do mesmo perder seu envolvimento com as novas gerações, criando a sensação de estagnação, por não se sentir mais necessário. O oitavo e último estágio psicossocial (Integridade do Ego versus Desespero), corresponde à idade adulta tardia. Nesse momento da vida, Erikson entendia que as pessoas pensam sobre suas vidas, o que fizeram e o que não fizeram. Rabello e Passos (2001) escrevem que esse processo ocorre de duas maneiras: a pessoa pode ficar angustiada ao ver a morte se aproximando e entender que seu tempo acabou e não tem mais nada a ver com a família e com a sociedade, vivendo a velhice em eterna nostalgia e tristeza ou a pessoa sente que cumpriu seu dever ao experimentar os sentimentos de dignidade e integridade. Carpigiani (2010) enfatiza que esses sentimentos podem ser potencializados ou minimizados conforme a cultura, dependendo do papel que os idosos desempenham em cada sociedade e sua importância. A virtude que se desenvolve nesta fase é a sabedoria. Até aqui, podemos compreender sobre a contribuição da teoria do desenvolvimento da personalidade de Erik Erikson, lembrando que, não devemos entender nenhuma teoria como absoluta, tendo em vista que existe um pouco de cada uma em um determinado aspecto do desenvolvimento da personalidade, contribuindo para o desenvolvimento humano. Contribuições para a teoria dos traços de personalidade: Gordon Allport: Allport (1897–1967) buscou estudar a personalidade em seus aspectos mais singulares e individuais, fundando a psicologia individual. O conceito de personalidade, de acordo com Gordon Allport, advém do aspecto singular do sujeito que é capaz de diferir um indivíduo do outro, apesar das similaridades, sendo a unicidade o que os diferencia. A personalidade vai se maturando ao longo das fases: bebê, adolescente e adulto, provando que não é uma unidade estática. Contudo, nem 26 sempre alcança uma maturidade psicológica, enfrentando, por vezes, dificuldade relacional na vida adulta (CARLETTI, 2022). A teoria dos traços de personalidade é um modelo que busca identificar os principais aspectos da personalidade, como os traços que são evidentes no indivíduo, marcando sua singularidade e as características aprendidas por influências culturais e sociais. Além disso, os comportamentos se explicam por motivações, ou seja, um estímulo externo pode mobilizar determinado comportamento. A definição de traço segundo Allport (1937), pode desmembrar-se em dois aspectos: os traços individuais e os comuns. O primeiro consiste em disposições pessoais, ou seja, há um traço morfogênico que é singular ao indivíduo, algo que é improvável encontrar em outras pessoas. O segundo aspecto aponta o traço comum a vários indivíduos, como temperamentos e personalidades similares, mas que podem ser internos, que demarcam o indivíduo e determinam de forma consistente o comportamento. De acordo com Hall, Lindzey e Campbell (2000), a personalidade é considerada uma condição humana. Sugere-se que a personalidade seja parte do indivíduo, tanto que, para Allport, a personalidade é o que um homem realmente é (ALLPORT, 1937 apud HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000). Assim, compreende-se que a personalidade consiste nas características da pessoa. Diante da posição de Hall, Lindzey e Campbell (2000), a personalidade é um conceito que define a singularidade do indivíduo, ou seja, apesar das influências culturais, dos laços familiares e dos vínculos socioafetivos, que naturalmente têm influência no modus operandis do sujeito, a personalidade nada mais é do que a essência do indivíduo, o que demarca a condição dele enquanto humano e, por fim, o diferencia dos demais, mesmo que tenha crescido na mesma estrutura e experienciado eventos similares ao longo da sua vida. De acordo com a teoria do traço de Gordon Allport, os traços individuais são chamados de disposições pessoais, ou seja, características que são perceptíveis em cada indivíduo, podendo haver até 10 disposições dominantes ou mais. Quanto aos tipos de disposições, temos as cardinais, centrais e secundárias (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000). Cardinais: trata-se de um traço singular que diferencia um indivíduo do outro. Essas características intrínsecas são evidenciadas no 27 comportamento do sujeito. Um bom exemplo, são os perfis de liderança. Essa característica é inata e, de acordo com a teoria dos traços, hereditária. Centrais: são conjuntos de características que tendem a construir a personalidade do sujeito e que o estruturam a um dado comportamento. Trata-se de um conjunto de traços que demarcam a personalidade do indivíduo. Essas características podem ser percebidas a partir da convivência mais próxima, como perceber por exemplo, que o sujeito é gentil, organizado, amigo, justo e generoso. Secundárias: são aspectos ou traços da personalidade que podem ir mudando ao longo da vida, como características estilísticas que mudam ao longo das fases da vida. Pode-se por exemplo, gostar de usar calças pantalonas quando mais jovem, mas na vida adulta adotar outro estilo. Veja o exemplo no quadro 1 abaixo: Quadro 1. Teoria da personalidade por Gordon Allport Traços cardinais — características únicas do sujeito. Por exemplo, poder, generosidade. Traços centrais — características que definem a personalidade na ausência de um traço cardinal. Por exemplo, honestidade e sociabilidade. Traços secundários — características que são passíveis de mudanças. Por exemplo, estilos, gostos. Fonte: Adaptado de Nunes (2005). Allport (1961) discutiu duas disposições que demarcam a personalidade do sujeito. A primeira é a disposição motivacional que inicia a ação, a qual é sentida com mais intensidade e motiva as necessidades básicas. A segunda é a disposição estilística, que refere-se a um comportamento adaptativo e que se assemelha à ideia de comportamento expressivo de Maslow (1928 - 1970), ou seja, está ligada à aparência do indivíduo. 28 Mas, como exemplificar tais disposições? Em relação à primeira terminologia, pode-se pensar a partir da necessidade de buscar alimentos, água, satisfação sexual, entre outras, por serem essenciais para sobrevivência. Em relação à segunda disposição, pode-se citar a realidade do ambiente de trabalho e o estilo de vestimenta indicado para cada cargo ou área, já que por exemplo, advogados trabalham com trajes formais. No mais, pode-se perceber que a personalidade abarca um campo amplo de discussão e Allport contribuiu de forma contundente para a compreensão da noção de traço, dimensões da personalidade, vislumbrando os comportamentos motivados a partir das experiências e, também, das características singulares. O autor considera as predisposições a responder igualmente ou de um modo semelhante a tipos diferentes de estímulos, ou seja, formas constantes e duradouras de reagir ao ambiente. Portanto, pode-se compreender que Allport trabalha as características da individualidade do sujeito, bem como, a natureza real e a determinação do comportamento, podendo ser passível de demonstração empírica e possuir variações situacionais e inter-relacionais. Raymond B. Cattell: Cattell (1905–1998) foi muito importante nos primeiros anos da psicometria, com sua pesquisa da estrutura psicológica intrapessoal. Nos seus estudos, também explorou as dimensões básicas da personalidade e do temperamento, a variedade de habilidades cognitivas, as dimensões dinâmicas de motivação e emoção, as dimensões clínicas da personalidade anormal, os padrões de sintonia de grupo e o comportamento social, entre outros aspectos. O autor definiu a personalidade como algoque “diz o que um homem irá fazer quando colocado em uma dada situação” (CATTELL, 1965, p. 25) e acrescentou que a personalidade não está somente relacionada com os comportamentos manifestos, mas também com aqueles encobertos. A dedicação de Cattell pela ciência e pelos métodos científicos foi constante em toda a sua vida. Ele elaborou formas sofisticadas para identificar os domínios da personalidade e motivação e, subsequentemente, a moralidade, a partir da adoção de 29 métodos científicos usados pelo seu mentor, Spearman (1863 – 1945), para verificar os mais amplos domínios da inteligência, habilidade e cognição. A teoria da personalidade de Cattell é baseada na análise fatorial na metodologia estatística, onde relaciona a sua ideia em investigar as estruturas do temperamento e motivação, a partir da observação do trabalho de Spearman e posteriormente de Thurstone na descrição da estrutura das habilidades por esse método (CATTELL, 1984). A teoria de Cattell também é reconhecida como teoria do traço, com uma visão abrangente da personalidade, buscando esquematizar empiricamente grandes extensões do domínio da personalidade, o que resultou num grande número de traços dinâmicos. Para Hall, Lindzey e Campbell (20000, p. 257) “muitas das ideias de Cattell, especialmente as relacionadas ao desenvolvimento, estão intimamente ligadas às formulações de Freud e às de autores psicanalíticos que vieram depois” deste último. Para Cattell (1984), a personalidade é uma estrutura complexa e distinta de traços. Veja os principais fatores do teste de personalidade, para Cattel: Ego narcisista versus não assertividade disciplinada, segura Inibição/timidez versus confiança Esperteza maníaca versus passividade Independência versus submissão Comention (conformidade gregária) versus objetividade Exuberância versus refreamento Cortetia (prontidão cortical) versus pathemia Mobilização de energia versus regressão Ansiedade versus ajustamento Realismo versus tensinflexia (tendência psicótica) Autossentimento narcisista versus despretensão Apatia cética versus envolvimento Astenia de superego versus segurança bruta Responsividade sincera versus falta de vontade Impassibilidade versus dissofrustance Prudência versus variabilidade impulsiva Exvia (extroversão) versus invia (introversão) 30 Desânimo (pessimismo) versus atitude alegre Caráter não prático versus caráter prático Sonolência versus excitação Autossentimento versus autossentimento frágil. Neste tópico, foram descritos os principais fatores do teste de personalidade, elaborado por Cattell (1984). De acordo com o autor, o traço de personalidade é uma estrutura mental, como uma inferência realizada através do comportamento observado, para que se explique a regularidade ou a consistência desse comportamento. Hans Eysenck Eysenck (1916–1997) foi psicólogo alemão e, desenvolveu uma teoria fatorial semelhante à de McCrae e Costa (1997), fundamentando-a basicamente na análise fatorial e na biologia. Estabeleceu, porém, somente três dimensões da personalidade: extroversão/ introversão, neuroticismo/estabilidade e psicoticismo/superego. Para Eysenck, as diferenças individuais na personalidade são provenientes de diferenças genéticas, compreendendo estruturas cerebrais, hormônios e neurotransmissores que influenciam os três fatores da personalidade. O psicólogo define traços como disposições importantes semipermanentes da personalidade, que compõem intercorrelações significativas entre diferentes comportamentos habituais (FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015). Segundo Feist, Feist e Roberts (2015) os extrovertidos são caracterizados pela sociabilidade e pela impulsividade, mas também por jocosidade, vivacidade, perspicácia, otimismo e outros traços indicativos de pessoas que são gratificadas pela associação com os outros. Os introvertidos são caracterizados pelos traços opostos aos dos extrovertidos, são quietos, passivos, pouco sociáveis, cuidadosos, reservados e pensativos. Entretanto, as principais diferenças entre extroversão e introversão não são comportamentais, mas de natureza biológica e genética. O neuroticismo/estabilidade é indicado como forte componente hereditário. Assim, a pessoa com escore alto em neuroticismo apresenta disposição para reagir com excesso emocional e dificuldade de retornar ao estado normal depois de uma alteração emocional. No entanto, Eysenck afirma que o neuroticismo não sugere 31 compulsoriamente uma neurose, porém sobre forte estresse pode produzir um transtorno neurótico (Eysenck, 1991 apud FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015). Esses dois fatores, extroversão/introversão e neuroticismo/estabilidade, foram a base da teoria da personalidade de Eysenck (1970), que posteriormente reconheceu o psicotismo/superego, formando as três dimensões. As características das pessoas com escore alto em psicotismo são: egocentrismo, frieza, impulsividade, hostilidade, agressividade, desconfiança, psicopatia e antissociabilidade. Já as pessoas com baixo escorem são mais altruístas, com alta socialização e empatia, cooperativas e mais convencionais. Até aqui você pôde compreender a articulação entre a natureza das teorias da personalidade em uma retrospectiva histórica. Portanto, pode-se notar que dentro do campo de estudos da psicologia, como ciência, muito se produziu sobre esse tema, assim podemos identificar, vários autores que contribuíram de modo fecundo para a produção de nossas reflexões sobre a personalidade. No próximo tópico iremos tratar do tema temperamento e as suas variações. 3 CONCEITOS DE PERSONALIDADE E TEMPERAMENTO Existem muitos conceitos atribuídos à personalidade e ao temperamento. Para a Associação Americana de Psicologia - APA (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002, p. 771), a personalidade consiste em "padrões duradouros relacionados a percepções, relacionamentos e pensamentos sobre o ambiente e sobre si mesmo". O senso comum usa o termo personalidade para se referir aos traços distintivos de uma pessoa e o termo tem muitos significados diferentes, mas geralmente transmite a ideia de uma unidade que inclui a humanidade. Tavares (2006) afirmou que a personalidade pode ser concebida como um conjunto de traços ou características que conferem a cada indivíduo uma identidade única e determinam padrões de pensamento, sentimento e ação. Esses traços são moldados pela interação entre a personalidade natural de um indivíduo e suas experiências de vida. Embora seja relativamente estável ao longo do tempo, possui um grau de flexibilidade que permite que os indivíduos se adaptem bem ao seu ambiente. 32 Ainda de acordo com Tavares (2006) uma forma de distinguir uma pessoa da outra é a personalidade, que é construída a partir das próprias experiências das pessoas em seu meio, levando em consideração aspectos de sua cultura e educação, costumes, crenças, etc. Uma das teorias mais famosas da personalidade é a psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud em 1882, que afirma que as estruturas da personalidade são formadas por volta dos quatro ou cinco anos de idade. Personalidade inclui temperamento e caráter. Delisle (1999) descreve a personalidade como uma forma específica e relativamente estável de organizar os componentes cognitivos, emocionais e comportamentais da experiência de um indivíduo. Como por exemplo, a definição de (cognição) significa a associação de alguém com eventos (comportamentais) e os sentimentos (emocionais) que acompanham esses eventos permanecem relativamente estáveis ao longo do tempo e fornecem um senso de identidade. A personalidade é um senso de si mesmo e o impacto que ele provoca nas outras pessoas. Segundo Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993), a personalidade é concebida como uma interação dinâmica entredimensões de temperamento, componente constitucional herdado, e dimensões de caráter, que são características adquiridas por meio, do aprendizado e da experiência. O temperamento reflete diferenças individuais no aprendizado de hábitos, através, de recompensa e punição e é representado por quatro dimensões: busca de novidades, esquiva ao dano, dependência de gratificação e persistência. De acordo com o modelo de Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993), o caráter é desenvolvido a partir das relações do eu: eu - comigo, eu - com o outro e eu, com o meio, cujo objetivo é adaptar o indivíduo ao meio. As dimensões de caráter são: Autodirecionamento (AD): diz respeito à relação do sujeito consigo próprio e refere-se à força de vontade, autodeterminação, habilidade de controle das situações, adaptação de comportamentos de acordo com as metas estabelecidas e os valores pessoais, ao adiamento de gratificação imediata, à aceitação de suas fraquezas e ao reconhecimento de suas qualidades. 33 Cooperatividade (CO): representa a relação do indivíduo com o outro e envolve empatia, tolerância, aceitação social, prontidão para ajudar e amabilidade. Autotranscendência (AT): refere-se à relação do indivíduo com o meio, isto é, sentir-se parte integrante da natureza, do universo e envolve sentimentos de contemplação, meditação, aceitação espiritual e misticismo. A personalidade é resultado da interação entre temperamento e caráter, que salientam e dão significado a toda experiência (CLONINGER; SVRAKIC; PRZYBECK, 1993). Segundo Cairus e Ribeiro (2005), Hipócrates, por volta de 430 a.C, em seu texto (Da Natureza do homem), propôs quatro tipos de temperamentos da personalidade e são eles: Temperamento sanguíneo Temperamento colérico Temperamento melancólico Temperamento fleumático, (HIPOCRÁTES, 2005). É necessário que você saiba, que todas as pessoas apresentam características conforme os quatros tipos de temperamento, mas somente um ou dois irão se destacar, podendo haver, inclusive, a intensificação de um temperamento e a fraqueza de outro, revelando que essas características podem ser apresentas em graus diferentes. Além disso, os temperamentos têm influência direta em nossas relações pessoais. Agora, você verá as características de cada temperamento de forma mais detalhada, os quais podem se desenvolver no indivíduo por completo, ou, ficarem restritas a certas áreas. Além do mais, o indivíduo pode estar vivendo os seus aspectos positivos, negativos ou ambos. Temperamento sanguíneo: A beleza sanguínea está associada ao sol, como algo brilhante e vibrante. Pessoas com esse tipo de temperamento gostam de ser o centro das atenções, costuma odiar rotina e não têm medo de coisas novas, impulsivas e imprudentes. Sua cor é amarela. De acordo com Hallawell (2010), as características são as seguintes: 34 Suas forças: pessoa extrovertida, muito comunicativa, motivada, automotivada, festiva, cheia de vida e enérgica. Vigorosa e estimulante, interessa-se em coisas novas, produtivas e inovadoras. É uma pessoa espirituosa e rápida, tem a necessidade de marcar presença e no final acaba sendo o centro das atenções. Tem seu trabalho e interage bem com outras pessoas porque gosta da companhia delas e pode simpatizar facilmente. Não gosta de rotina ou de lugares fechados. Tem boa intuição e é espontânea e transparente. Gosta de coisas vistosas, coloridas, luminosas e brilhantes. Suas fraquezas: irregularidade, inconsistência, desorganização e falta de estrutura. Perde o foco facilmente porque tem problemas de concentração e desiste de tarefas sem completá-las. Trata – se de uma pessoa vaidosa, esquecida e geniosa, que pode ter acessos de raiva. Pode variar entre euforia e depressão. Pode ficar estranha, porque sua extroversão é curiosa e barulhenta. Sua impetuosidade pode colocá- la em situações difíceis e seu amor pela aventura e risco os torna imprudentes. Temperamento colérico: A beleza colérica está relacionada ao coração. Transmite força, coragem e determinação. É poderosa, passional e independente. Sua cor é o vermelho. De acordo com Hallawell (2010), as características da pessoa com esta beleza são as seguintes. Suas forças: determinada, persistente, objetiva e explosiva. É passional, emotiva, dramática e intensa. Líder nata, é rápida e busca resultados, sempre motivada pelo desafio. Pessoa leal, fiel e generosa, e detesta traição. Procura o domínio, mas não tem preocupação em ser o centro das atenções. Forte, corajosa e tem facilidade em se concentrar. Pode ser extrovertida, mas geralmente é reservada. Direta e franca, não gosta de rodeios ou insinuações. Apesar de não gostar de 35 ser contrariada, não tem problema em ouvir opiniões divergentes, desde que sejam bem fundamentadas e servirem a seus propósitos. Mesmo sendo temperamental, é uma pessoa que não guarda rancor e gosta de luxo. Suas fraquezas: impaciente, intolerante e autoritária. Pessoa competitiva e batalhador. Essas características, podem levar essa pessoa até a ser violenta, raivosa e explosiva, e nesses momentos de raiva é imprudente. Não tolera a fraqueza dos ouros, sendo muitas vezes insensível, podendo até ser cruel. Procura sempre dominar, mas não controlar e isso pode levá-la a criar atritos e a ser brusca e imperiosa. Tem dificuldade de delegar poderes, sendo centralizadora. Sua fraqueza pode levá-la a ser indelicada e rude. A sutileza não é seu forte, sua postura e expressão frequentemente intimidam os outros. É vaidosa, orgulhosa e dificilmente aceita seus erros publicamente, tendo a tendência de transferir a culpa ou buscar uma desculpa. É bagunceira, mas não desorganizada, mas é desatenta a detalhes. Não suporta ser pressionada ou controlada. Temperamento melancólico: A beleza melancólica é ligada à água, transmite calma e organização. É elegante, charmosa e sofisticada, profunda e artística. Há dois tipos de melancólicos: o artístico, que age com o coração, e o científico, que age com a razão. Sua cor é o azul. De acordo com Hallawell (2010), as características são as seguintes: Suas forças: ambos os tipos de melancólicos são organizados, disciplinados, detalhistas, pragmáticos e perfeccionistas. São pessoas pacientes, profundas e pensativas. O tipo artístico é sensível, mas não esboça grande exaltação ou emoção, embora seja sentimental e delicado. É uma pessoa com característica confiável e muito competente e está sempre em busca da perfeição. O tipo científico é mais frio do que o tipo artístico. É cerebral e lógico, muito organizado, sistemático e detalhista. Os dois tipos têm grande poder de concentração, disciplina, 36 paciência e persistência, finalizando o que começam. Respeitam os outros, são discretos e procuram nunca ser inconvenientes ou intrometidos. Suas fraquezas: pessoa ansiosa, indecisa e perfeccionista ao extremo. É introvertida, tímida, quieta e retirada. Não gosta de ser o centro das atenções. Tem dificuldade de se impor e de confrontar situações ou pessoas. Pode ser rancorosa e vingativa. Sua falta de emoção pode constranger os outros e fazê-la parecer antipática. Controladora, não sabe lidar bem com o inesperado e o novo, e tem medo do desconhecido. Por isso, segue regras e é conservadora, o que prejudica sua criatividade. Pode ser arrogante, também exige demais de si próprio, desenvolvendo sentimentos de incapacidade e problemas de autoestima. O melancólico é o que mais tem tendência a sofrer de depressão e da síndrome do transtorno obsessivo-compulsivo, por causa da sua ansiedade Temperamento fleumático: A beleza fleumática é serena e espiritualizada. É amigável, meiga e acolhedora, transmite segurança e paz. Sua cor é o roxo. De acordo com Hallawell (2010), as característicassão as seguintes: Suas forças: é um ser diplomático, pacificador, místico e tende a ser ingênuo. Muito amigável e, geralmente, alegre e sorridente. Pessoa extremamente calma e dificilmente se zanga, mas, também, raramente demonstra grandes emoções. Não gosta de confrontos e de desavenças. Procura agradar os outros e fazer com que todos se sintam bem. Não é competitiva. É boa ouvinte. Não apegada a coisas materiais, sendo desprendida e generosa, se contentando com pouco. É constante, paciente, confiável, fiel e leal. É adaptável, embora não goste de mudanças. É motivada somente pela busca de segurança. 37 Suas fraquezas: parece uma pessoa desinteressada, pode ser apática, acomodada e alienada. Apresenta dificuldade de tomar decisões e sempre que pode transfere essa responsabilidade para outra pessoa. Tem pouco entusiasmo e iniciativa. É resistente a mudanças, por ser muito conservadora e acomodada. Sua busca pela segurança a faz fugir de situações de risco e, assim, acaba perdendo muitas oportunidades. É previsível e pouco criativa. Não gosta de assumir posições de responsabilidade ou liderança. Você observou acima, a identificação dos tipos de temperamentos descritos por Hipócrates (2005), dessa maneira a utilização dessa teoria, foi um referencial para o psicólogo Ivan Pavlov, que identificou, experimentalmente os mesmos tipos de temperamentos humanos em animais, mostrando sua relação com o sistema nervoso e fatores bioquímicos. A partir de então, vários estudos baseados em processos neurotransmissores, genéticos, bioquímicos e do sistema nervoso, foram desenvolvidos com a suposição de que esta é a explicação para as diferenças de temperamento (ZUCKERMAN, 1991). É importante ressaltar que existem vários sistemas básicos que tentam explicar a base do temperamento, mas dois se destacam mais. O primeiro, é chamado de sistema humoral, é de interesse histórico e relaciona o estado do organismo com a proporção de fluidos e humores que circulam no organismo. Daí a origem da classificação dos temperamentos sanguíneo, colérico, fleumático e melancólico. O segundo sistema, denominado constitucional, baseia-se nas diferentes compleições do organismo e na sua estrutura física. Esta tipologia representa uma abordagem dos estudos sobre a relação entre características físicas e psicológicas. A palavra temperamento tem sua origem no latim temperamentum = que significa medida e representa o caráter individual e a intensidade dos afetos psicológicos, o humor predominante e a estrutura de motivação. Segundo Breuer (1987) estabelece algumas diferenças de temperamento, mencionando que alguns são mais duradouros, enquanto outros são mais inertes e indiferentes. Como por exemplo, existem pessoas que não conseguem ficar paradas, aquelas que sabem deitar em sofás, as que são mais ágeis, entre outras. Breuer (1987, p. 205) prossegue afirmando que "essas diferenças, que constituem o 38 'temperamento natural' do homem, certamente se baseiam em profundas diferenças em seu sistema nervoso, na medida em que elementos cerebrais em repouso funcional liberam energia". Novais (1977), afirmava que o temperamento está relacionado ao clima químico no qual a personalidade se desenvolve. Já, para Petroviski (1985) o temperamento era entendido como a combinação estabelecida e persistente das propriedades psicodinâmicas de um indivíduo, que se manifestam por meio de suas atividades e comportamentos e, assim, formam sua base orgânica. Ainda seguindo essa ideia, Allport (1966) definiu o temperamento como um fenômeno especial da natureza emocional de um indivíduo, incluindo sua sensibilidade aos estímulos, a intensidade e velocidade das respostas e algumas outras peculiaridades relacionadas à hereditariedade. Conforme Strelau e Angleitner (1987), existem cinco características que distinguem temperamento de personalidade, são elas: O temperamento é biologicamente determinado e a personalidade é um produto do ambiente social. Os traços de temperamento podem ser identificados desde a infância, enquanto a personalidade é formada durante o desenvolvimento infantil. Diferenças individuais em traços de temperamento como ansiedade, extroversão-introversão também são observadas em animais, enquanto a personalidade é uma prerrogativa humana. O temperamento apresenta aspectos estilísticos. A personalidade contém aspectos do comportamento. Ao contrário do temperamento, a personalidade refere-se à função combinada do comportamento humano. A personalidade então, pode ser definida como a organização abrangente de todas as características cognitivas, emocionais e físicas de um indivíduo, manifestadas em diferentes situações e com significado especial para os outros. Assim, em geral, podemos definir personalidade, como um conjunto de elementos de temperamento herdados durante a gravidez e de elementos adquiridos do meio, durante o estágio de desenvolvimento, para formar o mundo psicológico interno de uma pessoa (STRELAU; ANGLEITNER, 1987). 39 Atualmente, se considera que certas características do temperamento são resultado de processos fisiológicos no sistema linfático, bem como os efeitos endócrinos de alguns hormônios na vida psicológica do sujeito. Portanto, é possível explicara interferência do ambiente pela genética e pelas condições biológicas presentes no temperamento de cada pessoa. Por outro lado, podemos entender o temperamento como uma disposição inata e peculiar pela qual o sujeito está disposto a responder aos estímulos ambientais. Nessa perspectiva, o temperamento é a maneira interior de ser e se comportar de uma pessoa; geneticamente determinado, é o aspecto somático da personalidade (NARRAVO, 1999). O temperamento pode ser conduzido de pai para filho, mas não se aprende, nem se ensina, só pode ser suavizado à sua maneira, o que é determinado pelo caráter. Veja a definição de caráter no quadro 2, abaixo. Quadro 2. Definição de caráter. CARÁTER É a soma de traços de personalidade, expressas no modo básico do indivíduo reagir perante a vida, seu estilo pessoal, suas formas de interação social, aptidões, etc. O caráter reflete o temperamento moldado, modificado e inserido no meio familiar e sociocultural. É a resultante, ao longo da história pessoal, da interação constante entre o temperamento e as expectativas e exigências conscientes e inconscientes dos indivíduos que criaram determinada pessoa. O caráter resulta do modo como o indivíduo equacionou, consciente e inconscientemente, o seu temperamento com essas exigências e expectativas. Fonte: bit.ly/3S0fOSp O conceito de caráter emergiu da filosofia e tornou-se objeto de pesquisa científica. O termo caráter vem do grego character e relaciona-se como um sinal, marca, ao instrumento que grava. Quando aplicado à personalidade, este termo denota aqueles aspectos que se inscreveram na psique e no corpo de cada indivíduo durante seu desenvolvimento. 40 Freud (1987) e Abraham (1970) embora não sejam os primeiros, também se dedicaram ao estudo do caráter, deixando uma grande contribuição, bem como vários outros cientistas, seguiram o exemplo nessa direção. Mas, entre eles, o que mais se destacou e conseguiu formar uma teoria coerente sobre o caráter foi Wilhelm Reich. Segundo Reich (1995), o caráter é o conjunto de reações e hábitos de comportamentos específicos de cada pessoa. Estes incluem as atitudes e valores conscientes, o estilo de comportamento (timidez, agressividade e assim por diante) e as atitudes físicas (postura, hábitos de manutenção e movimentação do corpo). Em outras palavras, caráter é a forma como uma pessoa se apresenta ao mundo, com seu temperamento e personalidade, ou seja, é o temperamento e a personalidade expressos através
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