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FIBROMIALGIA A fibromialgia é uma síndrome de dor crônica difusa de manifestação clinica complexa, por estar associada a uma constelação de sintomas que persistem por mais de 10 anos. A dor é a principal característica da FM e queixa principal dos pacientes. ETIOLOGIA Origem muscular • A dor relatada pelas pessoas com FM era considerada uma consequência a inflamação no tecido conjuntivo e muscular. • Essa inflamação justifica-se pela somação e micro lesões musculares, onde o tempo de repouso e recuperação não havia sido respeitado. • As hipóteses de lesão em tecido muscular na FM justificam a presença da dor e fatiga relatada pelos pacientes, pelo distúrbio do metabolismo oxidativo. • Estas alterações em vias capilares reduzem o aporte de nutrientes (com o oxigênio) às células provocando uma carência na produção de energia pelo metabolismo oxidativo. • A predominância do metabolismo glicolítico produziria fadiga e dor. • O conjunto desses déficits fisiológicos na produção de ATP pelo metabolismo oxidativo justifica parcialmente a redução da força e da performance muscular, e a capacidade cardiovascular e a redução do VO máximos nestes pacientes com dor crônica difusa. ORIGEM PSICOLOGICA • A dor crônica é descrita pelos pacientes como uma sensação que invade e influencia sua capacidade física, emocional e qualidade de vida. • Tendo em vista esse aspecto emotivo da dor, a FM pode ser estudada sob o enfoque de um distúrbio psicológico, seja pela hiper vigilância dos pacientes ou classificada dentro do aspecto de síndromes motivo-afetivas. HIPERVIGILANCIA DESENCADEADA POR UM EVENTO TRAUMÁTICO A hipervigilnacia pode ser a consequência da exposição a um trauma físico ou psicológico, ao estresse urbano ou aos conflitos de guerra. • O estresse expõe os cidadãos ao medo de uma situação de perigo potencial e os predispõem a um estado de hiper vigilância que amplifica a percepção dos estímulos. • Esta situação de medo persistente poderia também explicar o desenvolvimento de distúrbios psicológicos, como a ansiedade. • As exposições a eventos traumáticos ao longo da vida poderiam representar um fator de risco às dores crônicas e este, por sua vez, aumentaria a vulnerabilidade corporal. • Nos pacientes FM, a hipervigilancia caracteriza- se por um aumento da atenção a todo estímulo externo que poderia potencialmente provocar algum tipo de dor. ORIGEM GENÉTICA A prevalência da FM em uma mesma família foi investigada. Prevalência da síndrome está entre 6,4% e 18,5% entre familiares de um paciente com FM. ORIGEM NEUROFISIOLOGICA Cinco modelos principais são propostas como causas: Distúrbios do sono ➔ O sono é uma necessidade fisiológica que pode ser dividida em duas grandes fases: a) Sono lento sem movimento rápido dos olhos b) Sono paradoxal caracterizado pelo movimento rápido dos olhos O sono não regenerador é um sintoma frequente na população com FM. Os pacientes com FM apresentam um sono vigília • As perturbações no sono profundo estão correlacionadas coma a gravidade da dor, e não coma síndrome de dor em si. • As interrupções nos estágios de sono profundo prejudicam a liberação do hormônio de crescimento. • Este hormônio é responsável pela homeostase muscular, ou seja, pelo anabolismo do tecido conjuntivo, dos tendões e músculos. → 70% de sua síntese ocorre durante a fase profunda do sono. • As alterações fisiológicas do sono e suas consequências clinicas de fadiga, dor pode estar associadas aos distúrbios neuroendócrinos no nível do hipotálamo e que poderiam limitar a liberação do hormônio do crescimento e prolactina. Mas também podem ser consequência da dor crônica. Distúrbios da modulação da dor amplamente Em três níveis diferentes do SNC: medula, tronco e cérebro. MEDULA ESPINHAL • A sensibilização central é um processo fisiológico em resposta a um estimulo nociceptivo repetido no tempo. • Este fenômeno pode ser facilitado, cujo efeito aumentaria a percepção de dor em situações nociceptivas e não nociceptivas. • A dor em pacientes com FM é relatada mesmo em resposta a estímulos não nociceptivos repetidos no tempo. • Ou seja, estímulos com intensidade abaixo do limiar de dor, repetidos no tempo, podem produzir dor em pacientes com FM. • Decorre do excesso de informação no corno posterior. TRONCO ENCEFÁLICO O distúrbio inibitório descendente da dor é proposto para explicar a manifestação da dor difusa nos paciente com FM. • Os pacientes com FM não apresentam resposta efetiva após teste de dor experimental de somação espacial ou de modulação condicionada da dor, ao contrário de pessoas saudáveis que possuem inibição da dor após estimulo no MMSS. • Algumas características bioquímicas dos pacientes com FM complementam estes achados. • A liberação de encefálicas no corno posterior da medula espinhal é desencadeada por liberação de serotonina e noradrenalina no TC. • Estes pacientes apresentam baixa concentração de serotonina e betaendorfinas. • O desequilíbrio neuroendócrino na FM também ocorre também pela baixa concentração de noradrenalina no liquido cefalo raquidiano. • Embora a Fm esteja associada ao déficit na inibição da dor, ela não estaria presente em todos os pacientes: um subgrupo de pacientes apresenta resposta eficaz de inibição da dor. CEREBRO • A complexidade dos mecanismos de controle da dor que agem no cérebro são muito exploradas, detecta-se atividade em córtex, sistema límbico, tálamo entre outros. • No caso da FM, inúmeros estudos destacam o sistema límbico e sua associação com emoção e expectativas. • Tendo em vista a atividade da dopamina como alagesico natural, de ação no córtex cingulado anterior e na ínsula, e considerando a baixa concentração deste neurotransmissor na população de FM, propôs-se que a exacerbação do sintoma dor em um contexto de estresse crônico favorece a supressão das funções dopaminérgicas no sistema límbico. • A prescrição de fármacos com propriedades agonistas da dopamina poderiam favorecer a redução da dor e fadiga em pacientes com FM. • A modulação do sinal nociceptivo é influenciada pelas expectativas dos indivíduos, ou seja, além da transdução e transmissão do sinal nociceptivo, a modulação e percepção da dor dependem das experiencias pessoais. Causa de origem central como distúrbio eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal. • Toda resposta ao estresse é uma reação fisiológica necessária à sobrevivência, independe da condição aguda ou crônica. • A resposta ao estresse, ocorre pelo eixo HHS. • Em uma situação de resposta fisiológica ao estresse exógeno como temperatura, trauma emocional ou físico, hipotálamo libera o hormônio CRH que estimula, por sua vez, a hipófise para a secreção de ACTH, vasopressinas e betaendorfinas. • A ACTH induz a produção de hormônios glicocorticoides e adrenocorticoides, ambos hormônios sintetizados pelo HHS com a função de aumentar o tônus cardiovascular e bloquear o armazenamento de energia e inibir processos não essenciais como a inflamação e o sistema imunológico, a reprodução e crescimento. • Ação sistêmica devido a estimulação do córtex e da glândula suprarrenal para liberação de cortisol. • Em sua situação de estresse crônico pode ocorrer uma grave repercussão sobre a hemóstase fisiológica e psicológica dos indivíduos. • Enquanto em situação normal/fisiológica à resposta ao estresse agudo tem-se o cortisol em presença sistêmica, que progressivamente inibe a liberaçãode CHR e ATCH, por um mecanismo denominado biofeedback negativo. • Os mecanismos compensatórios formam-se com finalidade de tentar encontrar equilíbrio homeostático. • Um estresse crônico desencadeia, como consequências, um excesso de cortisol no corpo, o que pode gerar uma atrofia dos gânglios linfáticos e uma hipertensão, entre outros sintomas. • Estas alterações induzidas pelo estresse crônico conduzem a um desequilíbrio do eixo HHS assim como uma inibição à resposta ao estresse. Distúrbios do sistema nervoso autonômico O SNA é responsável pela homeostase do corpo e também responde a estímulos dolorosos. Apesar desta relação entre dor e atividade do SNS ser descrita inclusive por estudos de imagem e ressonância magnética, os resultados não são sempre consistentes entre a atividade do SNS e os sintomas de dor, fadiga e sono relatados pelos pacientes com FM. O desequilíbrio na atividade do SNA poderia ocorrer por uma predominância na atividade do SNS, por inibição do SNP ou por um desequilíbrio na ativação dos dois ramos. Desequilíbrio neuroendócrino e no funcionamento neurofisiológico do SNC. FISIOPATOLOGIA Alguns mecanismos fisiopatológicos da fibromialgia são postulados. Dentre os mais importantes, está a sensibilização central. • Portadores de fibromialgia estão em um estado de centralização da dor, o que significa que eles sentem mais dor do que o esperado para certo estímulo nociceptivo. • Algumas alterações do sistema nervoso central interpretam esse estímulo como sensações desagradáveis e os traduzem em dor, além de amplificá-los. • As fibras da dor (fibras C desmielinizadas) são estimuladas repetida, rápida e prolongadamente – em um somatório temporal dos impulsos neurais. Isso amplifica os potenciais de ação nos neurônios do corno posterior da medula. • E essa hiperestimulação causa despolarização dos receptores N-metil-D-aspartado (NMDA), gerando alterações da transcrição que afetam o processamento da dor. • Além disso, há uma inibição das vias descendentes inibitórias da dor. • Essas vias modulam a resposta medular aos estímulos dolorosos e estão prejudicadas em portadores de fibromialgia, o que potencializa a sensibilização central. • Os níveis de neurotransimissores estão implicados na percepção da dor pelo indivíduo, facilitando ou dificultando a transmissão do estímulo. • Esses transmissores também controlam o sono, humor, memória e atenção, e por isso pacientes com fibromialgia muito frequentemente também apresentam alterações do padrão do sono, humor, da memória e da atenção, como veremos adiante nas manifestações clínicas. • Além da sensibilização central, na fibromialgia, há alterações musculares. • Foram observadas, por técnicas de imunohistoquímica, atrofia muscular de fibras tipo II, bem como fibras reticulares, maior quantidade de lipídeos e de mitocôndrias. • Essas alterações são secundárias à redução da microcirculação local, causando hipóxia e reduzindo a energia disponível. Como, na contração, há maior necessidade de oxigênio, isso acaba causando hipóxias focais cronicamente. Esse processo ativa os receptores adenosina A2, sensibilizando fibras nervosas não-mielinizadas. Além disso, há desregulação vascular, aumento de substância P nos músculos, de interleucina-1 (IL-1) no tecido cutâneo e fragmentação do DNA de fibras musculares. • Todos esses processos parecem estar implicados também na fisiopatologia da fibromialgia. • Na fibromialgia, há também importantes alterações neuro-hormonais e autonômicas. • A cronicidade da dor e alterações nos mecanismos nociceptivos no SNC geram uma hipersecreção do hormônio ACTH (adrenocorticotropico). Essa hipersecreção ocasiona uma resposta sustentada ao estresse pelo eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHS). Estudos mostram aumento dos níveis de ACTH em nível basal e em estresse, além de níveis elevados de cortisol – particularmente no fim do dia – e de ciclo cicardiano interrompido. • Altos níveis de ACTH aumentam os níveis do hormônio somatostatina, que, por sua vez, inibe o GH. • Este hormônio também é produzido na fase IV do sono, fase esta que é interrompida nos pacientes fibromiálgicos. • Logo, os níveis de GH nesses indivíduos é reduzido, particularmente durante o sono. • Alterações na frequência cardíaca de repouso, diminuição da variabilidade desta ao longo do dia e hipotensão ortostática sugerem uma hiperreatividade persistente ndo sistema nervoso autônomo (SNA) em pacientes com fibromialgia. • Um aumento do tônus simpático durante o sono foi sugerido como possível explicação para a fragmentação do sono, além de pode explicar fadiga, rigidez matinal, distúrbios do sono, ansiedade e irritabilidade nesses pacientes. Com relação às alterações do sono, um aspecto importante do sono desses indivíduos é a presença de sono alfa-delta. Mas o que seria isso? O sono não-REM possui quatro fases. À medida que essas fases progridem e o sono mais profundo é alcançado, a frequência das ondas cerebrais diminui. Na vigília com olhos fechados, as ondas possuem uma frequência entre 8Hz e 13Hz – chamadas de ondas alfa. A fase I é uma transição da vigília e, no eletroencefalograma, se associa a ondas teta (4 a 7Hz); já a fase IV é constituído majoritariamente por ondas delta por ondas delta por ondas delta. QUADRO CLINICO A manifestação clinica da FM vai além dos critérios de classificação estabelecidos. Mesmo com a FM caracterizando-se pela presença de dores crônicas difusas, hiperalgesia e alodinia. Dor difusa crônica, bilateral, acima e abaixo do tronco e no esqueleto axial com duração maior que 3 meses. Outros 1. Fadiga 2. Distúrbios de sono 3. Perda de força muscular 4. Rigidez 5. Desanimo 6. Ansiedade 7. Distúrbios cognitivos/memória 8. Distúrbios da função digestiva DIAGNÓSTICO Baseado na avaliação clínica, histórico da dor, variabilidade e intensidade dos sintomas. • QP: dor disseminada crônica • Migratória • Piora e melhora • Localizada, difusa e multifocal • Indiciosa e intermitente • persistente ANAMNESE Característica: peso, queimação ou exaustão Local de inicio: nuca, pescoço e ombros Intesidade: moderada a incapacitante Localização: • Articular • Periarticular • Muscular • Ossos • Nervos • Tórax anterior • Mais comum: esqueleto axial e cinturas escapular e pélvica Rigidez matinal → 15 minutos Fatores de risco • Tabagismo • Impacto AVDs • Ocupação EXAME FISICO • Clinicamente bem • Sem doença sistêmica • Sem anormalidades articulares • Pontos dolorosos • Sem déficits neurológicos CRITÉRIOS Tais critérios estão descritos abaixo: • dor difusa (bilateral, acima e abaixo do tronco, acometendo esqueleto axial, por no mínimo 3 meses); • detecção de onze pontos dolorosos à palpação (dentre 18), os chamados tender points. 1) Ligamentos dos processos transversos da quinta à sétima vértebra cervical 2) Bordo rostral do trapézio 3) Músculo supra-espinal 4) Junção do músculo peitoral com a articulação cos-tocondral da segunda costela 5) Dois centímetros abaixo do epicôndilo lateral do cotovelo 6) Quadrante látero-superior da região glútea, abaixo da espinha ilíaca 7) Inserções musculares no trocanter femoral 8) Dois centímetros rostralmente à linha articular do côndilo medial do fêmur DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS A fibromialgia possui também uma ampla gama de diagnósticos diferenciais, principalmenteaqueles que cursam com dor crônica. Dentre os principais, temos: ➔ Osteoartrite ➔ artrite reumatoide ➔ espondiloartrites ➔ hipotireoidismo ➔ deficiência de vitamina D/osteomalácia ➔ polimialgia reumática ➔ miopatias inflamatórias ➔ distrofias musculares ➔ parkinsonismo ➔ hipopotassemia ➔ uso de certos medicamentos (estatinas ➔ bloqueadores de H2) ➔ drogas ilícitas (cocaína, cannabis). TRATAMENTO O desconhecimento da etiopatogenia dificulta o estabe- lecimento de estratégias terapêuticas para doentes com SFM. O tratamento inclui o controle da dor e da fadiga, a melhora do padrão do sono, o controle das anormalidades do humor, a melhora da funcionalidade e a reintegração psicossocial, ou seja, há necessidade de interação interdisciplinar. FARMACOLÓGICO O tratamento farmacológico para aliviar os sintomas se apresenta sob diversos formatos, ou seja, justifica-se em função da hipótese de causa FM. Aqueles que defendem a etiologia dos distúrbios do sono. Embora os antidepressivos tri-cíclicos sejam a pedra angular do tratamento, outros agentes têm se revelado igualmente eficazes, como os analgésicos antiinflamatórios não-hormonais (AINHs), os miorrelaxantes, os ansiolíticos, os sedativos e os opióides. Alguns desses agentes podem ser usados como terapia primária, e outros, com papel adjuvante, corrigindo anormalidades do sono, a ansiedade, a depressão e a fadiga. Não farmacológico tratamento da SFM. Entre os tratamentos não-farma- cológicos, podem-se utilizar os meios físicos, como o calor, a massagem e a eletroterapia; estão incluídos também o condicionamento físico, a acupuntura, as infil- trações dos pontos dolorosos ou dos PGs e a cinesioterapia. A redução de horas de trabalho e a escolha de tarefas compatíveis são essen-ciais para a adequação à limitação da capacitação funcional nos doentes com SFM. Alguns trabalhos revelam que tais procedimentos são eficazes, mas outros afirmam que não. EXERCICIOS • É prescrito como opção terapêutica, associada aos fármacos. • Dentre as modalidades de exercício físico, os cardiorespiratorios são os mais estudados e recomendados. • Os tratamentos multidisciplinares caracterizam-se pela associação de ao menos duas abordagens terapêuticas complementares, como exercícios físicos associados a encontros de educação, psicoterapia ou meditação. • Alguns modelos são mais complexos associando exercício físico, relaxamento, estratégias de manuseio da dor, psicoterapia, alimentação, fármaco entre outros. • As abordagens multidisciplinares recorrem a diferentes estratégias para influenciar a percepção da dor em sua intensidade e em seu aspecto desagradável. • O exercício físico, o relaxamento, psicossocial e a alimentação ajudem no manuseio da dor. • As abordagens multidisciplinares recorrem a diferentes estratégias para influenciar a percepção da dor em sua intensidade e em seu aspecto desagradável. • O exercício físico, o relaxamento, psicossocial e a alimentação podem auxiliar no manuseio da dor sob diversos aspectos.
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