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RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA SP 1.3 – NÃO ME TOQUE! – DOR NOCIPLÁSTICA MÓDULO DE DOR 1. CARACTERIZAR A DOR PROFUNDA (PROPEDÊUTICA DA DOR) Dor somática ou profunda: • Com distúrbios agudos de articulações: dor em agulhada, queimante ou pulsátil. • Com distúrbios crônicos de articulações: dor em facada. • Se houver comprometimento ósseo: dor em pontada profunda; caso haja inflamação, adquire qualidade pulsátil. • Se houver comprometimento muscular: dor surda ou em cãibra. Dor nociplástica: dor relacionada a nocicepção alterada a despeito da clara evidência de que não há dano tecidual real ou potencial causando ativação dos nociceptores periféricos ou evidências de lesão no sistema somatossensorial. Decorre de plasticidade nociceptiva, que reflete mudança na função das vias nociceptivas. Hipotetizada como resultado de desregulação neuronal persistente. Exemplos: fibromialgia, enxaqueca e síndrome do cólon irritável. A dor nociplástica é ligada à sensibilização central (SC) da dor, que é a amplificação da sinalização dos neurônios nociceptivos no sistema nervoso central à entrada somatossensorial aferente. Ocorre por alterações neuroplásticas associadas à atividade nervosa espontânea, campos receptivos expandidos e aumento da resposta neural na medula espinhal. Do ponto de vista neurobiológico, há um desequilíbrio entre neurotransmissores nociceptivos (substância P, glutamato) e antinociceptivos (serotonina, noradrenalina). Estudos funcionais de imagem cerebral demonstram atividade cerebral aumentada em áreas envolvidas na percepção da dor (ínsula, córtex cingulado anterior e córtex pré-frontal) e regiões não relacionadas à dor (núcleos do tronco cerebral, córtex frontal dorsolateral e córtex parietal). As principais características das síndromes nociplásticas são: • Predominância no sexo feminino; • Agregação familiar; • Longo tempo de evolução de dor multifocal; • Hiperalgesia; • Alodinia; • Coexistência de várias condições de dor crônica; • Alta frequência de comorbidades; • Presença de sensibilizadores psicológicos; • Pouca ou nenhuma resposta a tratamentos com ação periférica (anti-inflamatórios não esteroidais, glicocorticoides, injeções e cirurgias). Três aspectos clínicos são importantes na discriminação da dor centralizada: 1. acometimento difuso, sem território neuroanatômico específico; 2. intensidade desproporcional à natureza da lesão ou doença; 3. hipersensibilidade dos sentidos não relacionada ao sistema musculoesquelético. Entretanto, a presença de estímulo nociceptivo persistente, como pontos-gatilho miofascial ou doença que causa dor crônica como osteoartrite e artrite reumatoide, bem como existência de lesão neuropática, podem perpetuar o mecanismo de sensibilização central. O tratamento inclui medidas não farmacológicas (exercícios físicos, terapia cognitivo- comportamental, acupuntura) e farmacológicas (inibidores da recaptação de serotonina/noradrenalina, gabapentinoides, antidepressivos tricíclicos, tramadol, naltrexona). Fonte: Revista Paulista de Reumatologia 2. CONCEITUAR FIBROMIALGIA RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA A fibromialgia (FM) é uma síndrome de dor crônica difusa de manifestação clínica complexa, por estar associada a uma constelação de sintomas que persistem por mais de 10 anos. É geralmente associada à fadiga persistente, rigidez, sono leve não reparador, estresse emocional e vários outros sintomas. Não há um a patologia de tecido específico, e as queixas incluem dor articular, lesão muscular, inflamação e dor visceral. A fisiopatologia é incerta; admite-se ser devida à hipoatividade serotoninérgica, à hiperatividade p- érgica e às anormalidades funcionais hipotalâmicas. O diagnóstico é clínico e baseado no critério de classificação do Colégio Americano de Reumatologia. Os exames laboratoriais convencionais são normais. A terapêutica é multiponto, multimodal, consistindo no emprego de fármacos, como psicotrópicos, miorrelaxantes, analgésicos, e não- fármacos, com o medicina física, terapia cognitivo- comportamental, programa educativo e outros. A FM carece de cura, assim como tem etiologia incerta, embora haja várias hipóteses etiológicas. Vários modelos conceituais buscam compreender a presença constante da dor difusa. PROPEDEUTICA DA DOR: 2. ENTENDER A FISIOPATOLOGIA DA FIBROMIALGIA (MODULAÇÃO) Inúmeras anormalidades laboratoriais evidenciadas na SFM e os avanços no estudo da neurobiologia da dor crônica permite compreender a fisiopatologia da dor nessa síndrome. ANORMALIDADES MUSCULOESQUELÉTICAS O descondicionamento físico é característico dos doentes com fibromialgia e exerce papel importante na expressão dos sintomas, pois os predispõe a microtraumatismos musculares, dor e fadiga crônica. Em alguns doentes, a dor aguda que acompanha traumatismos diretos (acidentes) ou indiretos (lesões por esforços repetitivos, adoção de posturas inadequadas) pode ceder lugar para dor generalizada e gerar vários pontos dolorosos. ➢ Muitas investigações concentraram-se no estudo das possíveis anormalidades musculares como causa da SFM. Entretanto, a histologia dos músculos à microscopia óptica ou eletrônica é normal ou revela alterações inespecíficas. Amiotrofia das fibras tipo II, aspecto de “tecido roído por traça” das fibras do tipo I à histoquímica e à lise miofibrilar e o acúmulo de glicogênio e de mitocôndria à microscopia eletrônica foram evidenciadas em casos de SFM. Drewes e colaboradores (1993) observaram que havia rotura das fibras vermelhas e desintegração da rede de miofibrilas e acúmulo de lipídeos e mitocôndrias e defeito da citocromooxidase nas fibras musculares em doentes com SFM. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA Foi observado à microscopia eletrônica, acúmulo focalizado de glicogênio, lesões nos capilares e desintegração das redes de miofibrilas. O metabolismo muscular é normal apesar de haver redução da oxigenação nos locais dos pontos dolorosos, provavelmente resultantes da falta de condicionamento físico. Estas alterações em vias capilares reduzem o aporte de nutrientes (como o oxigênio) às células provocando uma carência na produção de energia (ATP: adenosina trifosfato) pelo metabolismo oxidativo. A microscopia eletrônica revela anormalidades na estrutura da mitocôndria caracterizada por rotura de cristais, acúmulo de partículas eletrodensas e inclusões paracristalinas constituídas de creatinocinase. Essas alterações nas mitocôndrias poderiam justificar a redução na produção de ATP e de fosfocreatinina (PCr) em pacientes com FM. A produção de energia ocorre prioritariamente pela glicólise (sem a presença de oxigênio) e libera apenas duas moléculas de ATP para cada molécula de glicose, além de dejetos metabólicos, como por exemplo: ácido lático, que pode ser nociceptivo. A predominância do metabolismo glicolítico produziria fadiga e dor. O conjunto destes déficits fisiológicos na produção de ATP pelo metabolismo oxidativo justifica parcialmente a redução da força e da performance muscular, e a capacidade cardiovascular e a redução do vo2 máximo nestes pacientes com dor crônica difusa. O efeito do exercício físico nos pacientes com FM parece diferenciar-se das pessoas sem dores crônicas. Os exercícios musculares de contração isométrica tendem a aumentar o limiar de dor nos pacientes sem dores crônicas, ao contrário dos pacientes com FM, onde há uma redução no limiar de dor a palpação durante a contração isométrica. Pesquisas experimentais com exercícios cardiorrespiratórios demonstram redução da dor em sujeitos sem dor crônica e aumento da dor nos pacientescom FM. _______________________________________ ORIGEM NEUROFISIOLÓGICA O modelo conceitual da FM como um distúrbio no sistema nervoso central (SNC) consiste no mais estudado desde o final da década de 1980. De forma sucinta, cinco modelos principais são propostos como possíveis causas neurofisiológicas ou neuroendócrinas da FM: (a) distúrbio do sono; (b) distúrbios da modulação da dor amplamente estudado desde a década de 1990; (c) causa de origem central como o distúrbio do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHS); (d) distúrbios do sistema nervoso autonômico; (e) desequilíbrio neuroendócrino e no funcionamento neurofisiológico do SNC. Distúrbio do sono O sono é uma necessidade fisiológica que pode ser dividida em duas grandes fases: (a) sono lento sem movimento rápido dos olhos (NREM), que se divide em sono lento leve (estágio 2) e sono lento profundo (estágio 3 e 4). (b) sono paradoxal caracterizado pelos movimentos rápidos dos olhos (REM) e por uma redução do tônus muscular. O sono não regenerador é um sintoma frequente na população com FM. Estima-se que entre 48% e 90% desses pacientes relatam problemas com o sono, sendo este um dos motivos para investigar o sono entre os pacientes com FM. As interrupções nos estágios do sono profundo prejudicam a liberação do hormônio de crescimento. Este hormônio é responsável pela homeostase muscular, ou seja, pelo anabolismo do tecido conjuntivo, dos tendões e dos músculos sendo que aproximadamente 70% de sua síntese ocorre durante a fase profunda do sono. Estes resultados poderiam justificar a baixa concentração do hormônio de crescimento em pacientes com FM, assim como a intensidade da dor, fadiga e rigidez. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA As alterações fisiológicas do sono e suas consequências clínicas de fadiga e dor podem estar associadas aos distúrbios neuroendócrinos no nível do hipotálamo e que poderiam limitar a liberação de hormônio do crescimento e da prolactina durante o sono. Embora o custo seja elevado, alguns pesquisadores propõem a suplementação do precursor do hormônio de crescimento nos pacientes com FM (IGF-1), demonstrando redução na gravidade dos sintomas dolorosos. Em contrapartida, os distúrbios do sono poderiam também ser descritos como uma consequência da dor crônica, pois a dor em si pode ser um considerada um ruído perturbador dos estágios do sono. Esta problemática de causa ou efeito, em relação aos distúrbios do sono - assim como nos modelos anteriores - ainda não é conclusiva. Estratégias para melhora do sono poderiam ser abordadas e inseridas ao tratamento da FM. _______________________________________ DISTÚRBIO NOS MECANISMOS ENDÓGENOS DE MODULAÇÃO DA DOR O distúrbio nos mecanismos de modulação da dor dos pacientes com FM é investigado sobretudo em três diferentes níveis do SNC, ou seja, no nível da medula espinhal, do tronco encefálico e no cérebro. Estes distúrbios são aqueles que mais se aproximam da explicação da variabilidade de sintomas e complexa manifestação clínica da FM. Medula espinhal A sensibilização central é um processo fisiológico em resposta a um estímulo nociceptivo repetido no tempo (somação temporal). No entanto, este fenômeno de sensibilização pode ser facilitado, cujo efeito aumentaria a percepção de dor em situações nociceptivas (hiperalgesia) e não nociceptivas (alodínea). A dor em pacientes com FM é relatada mesmo em resposta a estímulos não nociceptivos repetidos no tempo. Ou seja, estímulos com intensidade abaixo do limiar de dor, repetidos no tempo, podem produzir dor em pacientes com FM, ao contrário do efeito observado em sujeitos saudáveis, onde não há sensibilização central em resposta a estímulos não nociceptivos. Este fenômeno pode ser explicado pelo excesso de estimulação nociceptiva no corno posterior da medula espinhal. A excitabilidade das aferências em consequência a este "bombardeio" de informação nociceptiva" o corno posterior da medula espinhal pelo aumento na disponibilidade de aminoácidos excitatórios que ativam os receptores NMDN. Além disso, os pacientes com FM apresentam um aumento na concentração de substância P no líquor cefalorraquidiano (LCR). Tronco encefálico O distúrbio no Sistema Inibitório Descendente da Dor ou Controle Inibitório Descendente Nociceptivo (CIDN) é proposto para explicar a manifestação da dor difusa nos pacientes com FM72. Os pacientes com FM não apresentam resposta efetiva do CIDN após teste de dor experimental de somação espacial ou de modulação condicionada da dor (CPM), ao contrário de pessoas saudáveis e pacientes com lombalgia crônica, que demonstram inibição da percepção da dor após estímulo temporal e espacial no membro superior. Algumas características bioquímicas dos pacientes com FM complementam estes achados. A liberação de encefalinas no corno posterior da medula espinhal é desencadeada pela liberação de serotonina e noradrenalina no tronco cerebral: • Os pacientes com FM se caracterizam pela baixa concentração de serotonina e de betaendorfinas • O desequilíbrio neuroendócrino na FM também ocorre pela baixa concentração de noradrenalina no LCR Do ponto de vista clínico, o distúrbio no CIDN facilita a compreensão da manutenção da dor nos pacientes com FM, cuja alteração possa ser induzida por um desequilíbrio neuroendócrino e justifica a necessidade de antidepressivos para atenuar o sintoma. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA CONTRADIÇÃO: Embora a FM esteja associada ao déficit na inibição da dor, ela não estaria presente em todos os pacientes: um subgrupo de pacientes apresenta resposta eficaz de inibição da dor em protocolo de CPM. A proporção dos pacientes com esta alteração no CIDN/CPM seria de 42%, enquanto 21% dos saudáveis também apresentariam um certo déficit na inibição da dor. Cérebro A complexidade dos mecanismos de controle da dor que agem no cérebro são muito exploradas, detecta-se atividade em córtex, sistema límbico, tálamo, entre outros. No caso da FM, inúmeros estudos destacam o sistema límbico e sua associação com emoção e expectativas. Tendo em vista a atividade da dopamina como analgésico natural, de ação no córtex cingulado anterior e na ínsula, e considerando a baixa concentração deste neurotransmissor na população de FM, propôs-se que a exacerbação do sintoma dor em um contexto de estresse poderia ser compreendida pela baixa liberação de dopamina no núcleo accumben70, pois o estresse crônico favorece a supressão das funções dopaminérgicas no sistema límbico. Nesse contexto, a prescrição de fármacos com propriedades agonistas da dopamina poderiam favorecer a redução da dor e fadiga em pacientes com FM. Resultados favoráveis foram descritos pela administração de cetaminas aos pacientes com FM. Estima-se que estes efeitos terapêuticos observados em alguns pacientes com FM possam ser resultado da interação e afinidade com receptores dopaminérgicos, e ao efeito antagonista sob os receptores NMDA que participam da sensibilização central. A modulação do sinal nociceptivo é influenciada pelas expectativas dos indivíduos, ou seja, além da transdução e transmissão do sinal nociceptivo, a modulação e percepção da dor dependem também das experiências anteriores dos indivíduos e do contexto onde estão inseridos. Por exemplo, um estímulo verbal pode influenciar a modulação da dor, tendo efeito nocebo (hiperalgesia) ou placebo (analgesia) para um mesmo estímulo nociceptivo. Embora ocorram em centros superiores, as expectativas influenciam os mecanismos de modulação da dor; ascendentes e descendentes, em sujeitos saudáveis. A modulação da dor por indução de expectativas de algias ouanalgesia pode influenciar a eficácia/atividade do CIDN e da teoria da comporta em sujeitos saudáveis. Neste caso, induzir a hipoalgesia pode aumentar a atividade do CIDN, e vice-versa. Um estudo similar foi conduzido por Goffaux et ai. com indução de expectativa de analgesia e confirmação da expectativa de dor para determinado protocolo de dor experimental em mulheres com diagnóstico de FM. Os autores observaram a ineficácia do CIDN, mesmo naquelas com expectativa de analgesia durante o experimento.85. Estes resultados repercutem na prática clínica, onde expectativas de hiperalgesia devam ser moduladas por seu efeito nocivo à percepção da dor. Assim como na FM, outras populações também foram investigadas, por exemplo: estima-se a que a intensidade da dor pós-operatória de cirurgias abdominais possa ser proporcional ao nível de dramatização da dor no pré-operatório07. Além disso, expectativas sobre hiperalgesia poderiam prejudicar diretamente o efeito terapêutico28 e o controle dos sintomas de pacientes em tratamento farmacológico, psicológico, fisioterapêutico, entre outros. 3. ESTUDAR O QUADRO CLÍNICO/DIAGNÓSTICO DA FIBROMIALGIA QUADRO CLÍNICO A dor crônica generalizada é o sintoma cardinal da SFM. Pode ser moderada ou intensa. É referida nos músculos, ligamentos e tendões de várias regiões do corpo. Cefaléias crônicas, geralmente diárias, muitas vezes intensas e frequentemente relacionadas à tensão emocional ocorrem em mais de 40% dos doentes. Rigidez articular ocorre em cerca de 80% dos casos. A rigidez articular e a artralgia simulam condições artríticas e apresentam magnitude variada; costumam ser mais intensas pela manhã e ao anoitecer, e podem ser agravadas pelo excesso de atividade física, infecções sistêmicas, lesão de tecidos moles, privação do sono, RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA exposição ao frio, umidade e estresses psicológicos. Podem com prometer a realização das atividades de vida diária, serviços domésticos e laborais, alterar o humor, o sono e a qualidade de vida. Fadiga generalizada traduzida por sensação de falta de energia, exaustão, fatigabilidade durante a execução de exercícios físicos triviais, esforço mental e mediante estressores psicológicos foi relatada por 85% dos doentes; se expressa durante todo o dia, pode melhorar pela manhã ou manifestar-se com o cansaço extenuante com o passar das horas durante o dia. Parestesias e adormecimento, principalmente nas extremidades e, às vezes, no couro cabeludo, sem padrão dermatomérico e na ausência de anormalidades ao exame neurológico são referidos por 50 a 75% dos doentes; no teste eletrodiagnóstico, apresentam-se normais em 90% dos casos. Sensação de inchaço e edema nas mãos, pés e tornozelos também são sintomas frequentes. Dificuldade para a instalação do sono, despertares frequentes durante a noite, dificuldade para retomada do sono, sono agitado e superficial e despertar precoce ocorrem em aproximadamente 65% dos doentes. E com um a queixa do sono não-reparador; o paciente acorda cansado e com dor no corpo. Estudos de polissonografia revelam padrão anormal de ondas a durante os estágios 2, 3 e 4 do sono não-REM em doentes com SFM. Entretanto, esse achado não é específico para SFM. Quando esse padrão é induzido em indivíduos saudáveis, sintomas semelhantes aos da fibromialgia são reproduzidos. Ainda não se sabe se essa anormalidade do sono é causadora ou consequência da dor crônica. A síndrome do cólon irritável caracterizada por dor e distensão abdominal, e alteração do hábito intestinal (obstipação, diarreia ou alternância) que melhoram com a evacuação é observada em cerca de 20% dos indivíduos da população geral e em 60% dos doentes com SFM. A síndrome da bexiga irritável, caracterizada por desconforto suprapúbico, urgência para esvaziam entovesical e, frequentem ente, por disúria, é referida por 40 a 60% dos doentes. A síndrome das pernas ou braços inquietos, atualmente considerados disfunção com movimentos periódicos dos membros (mioclonia noturna) e caracterizada com o parestesias, adormecimento, latejamento, prurido e alentecimento dos movimentos nos membros está intimamente relacionada às anormalidades do sono, manifesta-se em 31% dos casos de SFM e em apenas 2% da população geral. A intolerância ao frio é referida por cerca de 30% dos doentes. Alguns desenvolvem fenômeno de Raynaud, que pode simular lúpus eritematoso sistêmico (LES) ou esclerodermia. Doentes com SFM queixam-se de dificuldades para recordar eventos, processar informações e realizar tarefas. Tontura é queixa comum nos doentes com SFM. A etiologia das tonturas é clara: pode ser relacionada à ocorrência de pontos-gatilho miofasciais no músculo esternocleidomastóideo, comprometendo a propriocepção da região cefálica e cervical e de outros músculos cervicais descondicionados, hipotensão arterial e efeitos adversos de medicamentos. Hipotensão arterial ocorre em 60% dos casos; é uma variante menor da síncope “neurocardiogênica” que resulta de um reflexo paradoxal: quando há redução do retorno venoso ao ventrículo direito, há elevação inadequada da secreção de catecolaminas, que ocasiona contração vigorosa do ventrículo depletado em sangue e induz hiperestimulação de mecanorreceptores ventriculares, que sinalizam o encéfalo a reduzir o tônus neurovegetativo simpático e a aumentar o tônus vagai, do que resulta a instalação de síncopes ou présíncopes. Pode manifestar-se também devido à fadiga após exercícios ou ortostatismo prolongado ou como reação a estresses. A depressão é um dos sintomas que apresenta a maior divergência entre os resultados dos estudos investigados. A comorbidade da FM com a depressão varia entre 29% e 90%. No entanto, os critérios para acessar a presença do sintoma não estão exaustivamente elucidados a fim de tomar- se uma decisão precisa sobre a associação de ambos. Há elevada prevalência de casos falso- positivos de depressão quando a coleta de dados é realizada por autorrelato93. Por outro lado, o diagnóstico de depressão não é sempre coerente entre a opinião do paciente vs. a do avaliador: RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA estima-se que até 2/3 dos pacientes discordam do diagnóstico de depressão. _______________________________________ DIANÓSTICO O primeiro para a padronização e classificação da FM proposto pelo Colégio Americano de Reumatologia (ACR) data de 1990. 1. História clínica: dor generalizada localizada no hemicorpo direito e esquerdo, acima e abaixo da cintura, além do eixo axial (região cervical, face anterior do tórax, dorso e região lombar) com duração superior a três meses. 2. Exame físico: dor à palpação digital com 4 kg/cm em áreas denominadas pontos dolorosos (tender points) em 11 ou mais dos seguintes pontos (bilateralmente): • Inserção dos músculos suboccipitais na nuca • Ligamentos dos processos transversos da quinta à sétima vértebra cervical • Bordo rostral do trapézio • Músculo supra-espinal • Junção do músculo peitoral com a articulação costocondral da segunda costela • Dois centímetros abaixo do epicôndilo lateral do cotovelo • Quadrante látero-superior da região glútea, abaixo da espinha ilíaca • Inserções musculares no trocanter femoral • Dois centímetros rostralmente à linha articular do côndilo medial do fêmur Quando o número de pontos dolorosos é inferior a 11, mas há concomitância de outros sintomas e sinais, o diagnóstico de fibromialgia também pode ser realizado. Contudo, alguns limites e a baixa especificidade conduzem a diversas reflexões científicas sobre a real importância dos pontos de sensibilidade para o diagnóstico, assim como os critérios utilizados para considerá-lospositivos ou não. Após a primeira década da publicação destes critérios de classificação, iniciam-se publicações de análises 100 e outras inclusive recomendando a não utilização dos pontos de sensibilidade na prática clínica. Dentre vários fatores que conduzem a estas reflexões e críticas destaca-se: (a) a presença de pontos de sensibilidades em adultos com insônia, com depressão, e em atletas com privação de fase profunda do sono durante uma semana; RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA (b) necessidade de ajuste do limiar de dor em função do sexo, cujo valor para sexo masculino deveria ser de 6 kgcm2. O foco nos pontos de sensibilidade para a classificação da FM é então trocado pelo foco na constelação de sintomas da manifestação clínica da FM para seu diagnóstico. Baseado na avaliação do índice de dor difusa (WPI), na gravidade dos principais sintomas (SS) e variabilidade de sintomas, em 2010, o ACR publica os critérios diagnósticos preliminares da FM e gravidade dos sintomas no chamado Critérios de Classificação da FW. Os parâmetros para ponto de corte proposto são: • WPI 7 e SS 5 ou WPI>3- 6 e SS 9; • presença da dor difusa por mais de três meses consecutivos; • ausência de outras anormalidades que justifiquem a dor. O diagnóstico da FM é baseado na avaliação clínica, histórico da dor, variabilidade e intensidade dos sintomas. Atualmente, desconhece-se exames laboratoriais ou exames de imagem que possibilitem o diagnóstico clínico da FM, porém, é primordial a investigação de outras patologias que possam ter manifestação clínica similar, como osteoartrites, lúpus eritematoso, doença de Sjõgren, entre outras. 4. ELUCIDAR O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO E NÃO FARMACOLÓGICO O desafio da caracterização e compreensão etiológica da FM reflete-se igualmente na elaboração do plano de tratamento. Discute-se entre ter como alvo do tratamento as queixas dos pacientes vs. as múltiplas hipóteses etiológicas da FM. Independente da justificativa, há um consenso sobre a necessidade de a abordagem terapêutica ser multidisciplinar. Compreende-se que a FM ainda não tem cura identificada, assim como não tem uma proposta de tratamento 'padrão ouro". As estratégias terapêuticas para o tratamento da FM e das dores crônicas em geral focam - cada vez mais - no controle dos sintomas. O tratamento farmacológico para aliviar os sintomas da FM se apresenta sob diversos formatos, ou seja, justifica-se em função da hipótese de causa da FM conceitual. Aqueles que defendem a etiologia dos distúrbios do sono indicam fármacos para melhorar a qualidade do sono. Contudo, grupos que defendem etiologia psicológica ou destacam as alterações neuroendócrinas, defendem o uso de antidepressivos, gabapentina e pregabalina. Desta forma, a variabilidade da FM manifesta-se novamente na discussão do tratamento farmacológico. A avaliação do efeito dos fármacos em ambiente clínico (não de pesquisa clínica) é prejudicada pela variabilidade do efeito terapêutico inter-sujeitos e principalmente pela baixa adesão aos tratamentos farmacológicos; estima-se que 24% dos pacientes com FM esqueçam de medicar-se e 20% abandonam o tratamento quando sentem-se melhor, além dos pacientes que se automedicam. De forma geral, os tratamentos com uso de um único fármaco ou o uso de uma estratégia de tratamento não farmacológica, apresentam efeitos modestos, havendo evidências de superioridade no efeito terapêutico de abordagens não farmacológica sobre os estudos com uso de fármacos para o tratamento da FM. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA O exercício físico é prescrito como opção terapêutica, associada aos fármacos, desde o final da década de 1980. Dentre as modalidades de exercício físico, os cardiorrespiratórios são os mais estudados e recomendados por aumentar, entre outros, a capacidade física e melhorar o humor dos pacientes com FM. Outras abordagens terapêuticas também apresentam resultados satisfatórios e podem auxiliar no alívio da dor e outros sintomas da FM. Dentre elas cita-se a acupuntura, hipnose, meditação, yoga, hidroginástica, Tai Chi, entre outros. Contudo, abordagens unidisciplinares terão efeito clínico modesto, estimulando pesquisadores e clínicos a elaborar e aplicar tratamentos multidisciplinares aos pacientes com FM. Os tratamentos multidisciplinares caracterizam-se pela associação de ao menos duas abordagens terapêuticas complementares, como exercícios associados a encontros de educação do paciente, à psicoterapia ou à meditação, relaxamento. Alguns modelos são mais complexos associando exercício físico, relaxamento, estratégias de manuseio da dor, psicoterapia, alimentação, fármaco, ou encontros com familiares. 5. COMPREENDER A SÍNDROME MIOFASCIAL (CONCEITO, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLINICO E DIAGNOSTICO) A SDM é uma condição dolorosa do músculo, fáscias e junções ligamentares, caracterizada pela presença de pontos de irritabilidade no músculo esquelético denominados pontos-gatilho (PG). Estes pontos se localizam em bandas tensas musculares e podem estar associados a fenômenos autonômicos, sensitivos e motores. A lesão aguda do músculo ou o esforço repetitivo são as causas mais comuns da SDM, porém, está comumente associada a outras condições dolorosas somáticas e neuropáticas. Alguns autores costumam diferenciar a dor miofascial da SDM quando o quadro doloroso persiste por mais de algumas semanas. Os PG causam dor espontânea em repouso e, quando estimulados, provocam dor referida. Além da dor, muitas vezes incapacitante, a restrição da amplitude de movimento e a fadiga do músculo envolvido podem caracterizar um grande prejuízo funcional para o indivíduo. _______________________________________ FISIOPATOLOGIA DOS PONTOS-GATILHO As alterações fisiopatológicas associadas ao surgimento dos PG parecem estar localizadas no centro do músculo, numa área onde o nervo motor se divide em muitos ramos. Cada ramo se incorpora na superfície da fibra como se fosse uma garra, através do que denominamos placa terminaJ. Cada PG apresenta um feixe neurovascular que contém terminações nervosas motoras e fibras aferentes nociceptivas sensitivas dos grupos III e IV. ESTUDOS HISTOLÓGICOS: A partir de 1951, alguns estudos por biópsia foram realizados a fim de evidenciar o PG do ponto de vista histológico. A secção transversal mostrou algumas fibras musculares mais grossas e de coloração mais escura, e a secção longitudinal mostrou protuberâncias centrais dentro destas fibras onde havia uma parte altamente contraturada, como um nó, esses nós são considerados como um marcador histológico específico para os PG, o que foi confirmado posteriormente com o uso da microscopia eletrônica. O ponto constitui uma degeneração de fibras musculares, com destruição de miofibrilas, aglomeração nuclear e infiltração gordurosa. A presença do PG miofascial é patognomônico da SDM e é definido como um ponto bem localizado e hiper irritável localizado em uma banda tensa palpável no músculo esquelético. A compressão do PG provoca dor local e dor referida ou pode agravar a dor já existente. A localização da região dolorosa condiz com a área de dor referida encontrada na palpação do PG. O grau de irritabilidade, ou seja, de sensibilidade ao estímulo mecânico, está relacionado diretamente com o surgimento da dor referida. O músculo afetado tem a sua capacidade de alongamento RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA diminuída e há fraqueza muscular em função da dor, porém, normalmente, não há atrofia. Podem ocorrer fenômenos autonômicos localizados, como vasoconstrição, piloereção e alteração sudomotora. O espasmo muscular acarretaisquemia local, prejudicando a remoção de catabólitos, perpetuando os sintomas. • Define-se como PG ativo quando há dor espontânea ou deflagrada pelo movimento associado à dor referida. • O PG é latente quando não ocorre a dor espontânea ou quando não é deflagrada nas atividades diárias, porém a sua compressão provoca dor ou desconforto. POR QUE OCORRE OS NÓS? A fisiopatologia da banda tensa a inda não é clara. Foi proposto um mecanismo para a formação da banda tensa: O cálcio intracelular pode ser excessivamente liberado pelo retículo sarcoplasmático de certas fibras musculares, em resposta ao trauma e estresse anormal. Em resposta a um estresse anormal, o cálcio intramuscular é liberado de forma excessiva pelo retículo sarcoplasmático das fibras musculares A liberação anormal do cálcio pode ocasionar encurtamento incontrolável da fibra, pela interação da actina e miosina. A liberação de cálcio ocasiona no encurtamento dessas fibras Consequentemente, ocorre uma contratura local (banda tensa), onde há ativação dos miofilamentos sem controle neurogênico e atividade elétrica. O encurtamento dessas fibras vai gerar um processo chamado de CONTRATURA LOCAL Esta situação gera um aumento do gasto energético. CONSEQUETEMENTE: Este encurtamento impacta na circulação sanguínea local, causando diminuição dos nutrientes e do oxigênio para a região. Forma-se, então, um círculo vicioso, onde há ocorrência de crise energética do músculo e a formação de banda tensa. _______________________________________ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A SDM pode ter início insidioso ou resultar de um trauma agudo. ➢ A dor é pobremente localizada e percebida como profunda, dolorida e em queimação. ➢ Geralmente é restrita a um quadrante do corpo e é caracterizada pela presença de PG miofasciais. ➢ A intensidade da dor é muito variável e está diretamente relacionada ao grau de atividade dos PG -quadros de dor intensa podem levar a uma grande incapacidade funcional. ➢ O exercício físico geralmente exacerba os sintomas e nota-se diminuição da amplitude de movimento do músculo afetado. ➢ Ambos os gêneros são afetados. ➢ As informações sobre a posição de dormir e o posicionamento durante o exercício da atividade laborativa devem constar na anamnese, pois podem agravar os PG pelo encurtamento dos músculos afetados. ➢ O exame sensitivo da região pode revelar alodínia, hiperalgesia e parestesia. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA ➢ Manobras de pinçamento, rolamento do tecido subcutâneo e testes de sensibilidade da pele são úteis para identificar a sensibilização dermatomérica que acompanha a SOM. ➢ Os PG ativos podem levar ao desenvolvimento de fenômenos autonômicos como Iacrimejamento, piloereção, trofoedema e extremidades frias. ➢ Além disso, podem afetar a propriocepção, acarretando desequilíbrio, como ocorre quando a musculatura cervical, particularmente o esternocleidomastoídeo, é afetada. ➢ É comum a alteração do sono e do humor. ➢ As alterações motoras observadas na SOM incluem fraqueza, diminuição de amplitude de movimento e da coordenação, além de espasmo em outros músculos. ➢ O exame físico para identificação dos pontos musculares consiste, inicialmente, em solicitar ao paciente que aponte a região da dor. Realiza-se a palpação do músculo com a ponta dos dedos, deslizando-os a fim de encontrar a banda tensa muscular. No meio da banda tensa exerce-se pressão com o dedo, em posição perpendicular às fibras musculares, até que o paciente refira a dor que sente normalmente. É comum que haja um movimento de retirada do membro ou região afetada, caracterizando o que chamamos de sinal do pulo. A compressão do ponto ou mesmo a palpação da banda tensa pode provocar a LTR. Não é necessário que se consiga detectá-la, mas quando for visualizada, tem-se a confirmação do local certo para o tratamento. _______________________________________ DIAGNÓSTICO De acordo com publicação da International Association for the Study of Pain (IASP), existem 3 critérios diagnósticos mínimos (1-3) e seis critérios diagnósticos de confirmação da SDM ( 4- 9): 1. Presença de banda tensa palpável no musculoesquelético; 2. Presença de ponto hipersensível dentro da banda tensa muscular; 3. Reprodução da queixa de dor referida com a estimulação do ponto doloroso; 4. Presença de LTR - Local twicht response (resposta contrátil local rápida) com apalpação da banda tensa; S. Presença do sinal do pulo (o paciente tem reação de retirada ao exame dos pontos); 6. O paciente reconhece que a sua queixa dolorosa é a mesma reproduzida no exame da palpação do PG; 7. A dor referida segue padrões de localização previsíveis; 8. Fraqueza e tensão do músculo; 9. Dor à contração ou alongamento do músculo afetado; 1 0. Os exames laboratoriais podem ser úteis na exclusão de doenças sistêmicas que cursam com a dor miofascial, principalmente as hepatites, o hipotireoidismo e as doenças reumatológicas. É importante também lembrar que alguns fármacos, como a sinvastatina, podem causar mialgia. Os exames de imagem podem mostrar osteoartrite, discopatias vertebrais, compressões nervosas e outras alterações mecânicas associadas. 6. ESTUDAR O MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIDEPRESSIVOS (AINES, ANESTÉSICOS LOCAIS, MECANISMOS DE AÇÃO E EFEITOS ADVERSOS) A. Inibidores seletivos da recaptação de serotonina: Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) representam uma classe quimicamente diversa de agentes cuja principal ação consiste na inibição do transportador de serotonina. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA B. Inibidores da recaptação de serotonina-norepinefrina: Duas classes de antidepressivos atuam como inibidores combinados da recaptação de serotonina e norepinefrina: os inibidores da recaptação de serotonina- norepinefrina (IRSNs) e os antidepressivos tricíclicos - ADTs. C. Moduladores dos receptores 5-HT2: Acredita-se que dois antidepressivos atuem principalmente com antagonistas do receptor 5-HT2: a trazodona e a nefazodona. (manuscrito) 7. INDICAÇÃO, MECANISMO DE AÇÃO, EFEITOS COLATERAIS DOS AINES E ANESTÉSICOS LOCAIS (manuscrito)