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Direito Alternativo
O direito alternativo como um campo de estudo dentro da sociologia do direito não aparece inicialmente em função de uma discussão mais acadêmica, na verdade todas as pesquisas sobre o direito alternativo no campo da sociologia do direito estão dialogando muito mais precisamente com aquilo que podemos chamar de uma prática profissional da magistratura brasileira, particularmente a prática profissional de um grupo de magistrados do Rio Grande do Sul ao longo da década de 80. Não é propriamente uma analise teórica, sobre questões conceituais, tem haver com prática profissional.
Em um segundo momento, essa análise em termos das praticas profissionais evoluiu para um discurso mais acadêmico, para um discurso mais teórico conceitual que foi absorvido e elaborado no programa de pós-graduação da UFSC. Esse tema do direito alternativo será apresentado em dois momentos baseados na obra do Lédio Rosa “introdução ao direito alternativo brasileiro” capitulo 2, também na obra do Miguel Pressburguer e na obra do Amilton Bueno de Carvalho:
Origem e conceitos:
Como se origina, qual a relação dessa prática profissional e o debate acadêmico. Com base nos textos do Lédio Rosa de Andrade e do Miguel Pressburguer.
 Perspectiva histórica
A história do movimento, como ele se constitui, como se torna visível, conhecido.
O Lédio procura mostrar que em termos de visibilidade, as práticas profissionais desse grupo de magistrados do Rio Grande do Sul, eram praticamente invisíveis do ponto de vista mais geral do Brasil. Elas vão ganhar certa visibilidade a partir do inicio da década de 90, quando no jornal de São Paulo chamado “A Folha da Tarde” é publica o artigo por meio de um jornalista que tinha o nome “juízes gaúchos colocam o direito acima da lei”. O conteúdo do artigo procura ridicularizar e fazer uma crítica da atuação profissional desses magistrados. É evidente que o jornalista toma como pressuposto a atuação do magistrado sendo de aplicar a lei, um pressuposto positivista. Esse artigo estava apontando para tais praticas que ele questiona e que estavam sendo mais ou menos estabelecidas, uma determinada forma de julgar, entorno de um grupo de juízes que tinham uma perspectiva de reunião e encontros permanentes para um debate sobre a ciência jurídica, numa perspectiva crítica. Ou seja, abordar a questão do direito como uns dos mecanismos pelos quais a dominação e a exploração se estrutura na sociedade. eles se reuniam também para fazer uma reflexão sobre formas de aplicação do direito dentro das praticas profissionais daquele grupo. Ou seja, formas de pensar e atos de julgar. Vejam como de certa maneira os dois grandes eixos que estruturavam essas reuniões. Um eixo era o acadêmico e outro prático profissional. Ou seja, o acadêmico era uma discussão sobre ciência jurídica com uma perspectiva crítica, e outro mais vinculado à prática profissional. O que o Lédio procura mostrar é que este artigo fez com que este grupo, ou essas práticas tivessem uma repercussão. Ou seja, esse artigo fez com que esse movimento fosse conhecido nacionalmente e consequentemente entorno disso se começou tanto dentro da magistratura, como no mundo acadêmico, certa curiosidade. Do ponto de vista da origem, não foi uma prática que buscou por meio das suas atuações, uma articulação com outras proporções. De repente em função desse artigo, o movimento foi colocado no foco de discussão. A partir daí surgiu o interesse do campo da magistratura e do setor acadêmico.
 
O desdobramento disso em termos de academia se dá em torno de um ano depois da publicação desse artigo, vai ser organizado na UFSC o primeiro congresso internacional de direito alternativo. Foi então o lócus de repercussão desse tema. Um juiz particularmente que participava do grupo inicial de discussão do tema, o Amilton Bueno de Carvalho, não era propriamente um líder do movimento, mas era a figura de maior importância. Ao longo da década de 80 a sociedade brasileira passa por um processo de democratização, já que antes estava configurada uma ditadura militar. Do ponto de vista jurídico esse processo culmina com a elaboração de uma nova constituição. Veja como a pratica desses juízes vai sendo gestada no que diz respeito de uma visão sobre o direito, uma visão mais progressista e democrática da função do papel do direito ao longo desse processo de transição democrática. 
Eram juízes de 1ª instância, logo pessoas mais novas que estavam ingressando no poder judiciário exatamente no meio do processo de democratização das instituições brasileiras. Ou seja, eles já pegaram um poder judiciário que não era controlado por uma ditadura militar. O debate do mensalão hoje que está colocando a questão se o supremo pode estabelecer a perda do mandato parlamentar dos condenados. O Joaquim Barbosa já disse que pode, mas o presidente da câmara dos deputados disse que não, pois isso é uma prerrogativa do próprio congresso. Na verdade o que de certa maneira o dispositivo constitucional procurava salvar/guardar era que nós tivemos uma prática grande ao longo da ditadura de parlamentares que foram caçados por atos do poder judiciário. Ou seja, nós tivemos uma série de mandatos que foram caçados em função de possíveis crimes políticos que eram de certa maneira entendidos pelo qual pelo poder judiciário. A constituição federal de 88 no âmbito dessa democratização tem a tensão para que somente o congresso possa deliberar em uma possível situação de perda de mandato e não o poder judiciário. Então vejam que na época tinha-se certa desconfiança do poder judiciário. Porque a sua cúpula era ainda acostumada às práticas de um poder judiciário tutelado por um poder da ditadura militar. 
Vejam que de certa maneira tudo aquilo que envolve os juízes de primeira instância, a entrada desses novos juízes, é aquele espaço que nesse momento pode ser configurado como espaço de maior oxigenação de poder judiciário. Esse grupo de juízes surge ao longo da década de 80 pensando no direito, questionando certas práticas ligadas a uma estrutura ou referência de exploração, dominação dentro do direito. 
Perspectiva ideológica
Não podemos desvincular a constituição desse grupo de magistrados de uma perspectiva ideológica. Podemos ver isso na obra de Miguel Pressburger.
Se esses juízes se encontravam para discutir a ciência do direito do ponto de vista crítico, essas práticas profissionais ligadas ao ato de julgar. É importante notar que do ponto de vista ideológico existia claramente uma vinculação do movimento, isso obviamente uma construção posterior, com aquilo que seria uma abordagem marxista. Então de um ponto de vista da compreensão das relações sociais e de certa maneira é um ponto de vista ideológico. Existe uma filiação desse grupo de juízes a uma determinada tradição de compreensão das relações sociais de uma leitura marxista. Ainda dentro do marxismo, já que existem várias tendências dentro do marxismo, a vinculação do movimento se fez, sobretudo ligada a uma leitura do direito feita por juristas franceses do movimento crítico do direito. Que fazia toda uma leitura do direito com base no estruturalismo. O importante que a referência central reivindicada como tal pelo próprio movimento do direito alternativo enquanto movimento de juízes, é uma referência que leva a uma leitura das relações sociais com base no marxismo.
	Para fins daquilo que é a compreensão do que podemos chamar ainda de uma perspectiva ideológica, existe toda um envolvimento desse movimento com aquilo que de um ponto de vista político, colocando de uma maneira bem ampla, por parte desse grupo de juízes que é um comprometimento com o socialismo. Ou seja, esses juízes se posicionavam politicamente a favor de uma determinada concepção de organização social que estou chamando aqui de uma maneira bem ampla de socialismo. 
	A terceira perspectiva ideológica é a função do magistrado não se esgota no ato de julgar, ou seja, eles concebem a atuação profissional da magistratura como sendo também uma atuação militante. No sentido deque o magistrado tem que se posicionar, tem que militar, tem que fazer parte das associações profissionais da magistratura, tem visões e opiniões sobre o momento político brasileiro, etc., ou seja, ser magistrado não é somente julgar processos, é também estar no cenário político institucional, se posicionando em questões que obviamente tem haver com o direito, mas que impactam outras esferas da vida social. 
Perspectiva conceitual
Para além da histórica e uma ideologia, eles estão defendendo certas posições de compreensão do direito que envolvem certos conceitos. 
Conceito de lei e de sua aplicação:
A grande referência que esse grupo tem no que diz respeito da lei é a de que ela representa uma vontade geral. Que se impõe às vontades dos particulares porque implica com um direito de todos. Não é a toa que temos uma série de ideias que mostram como quando estou diante de uma norma que representa o interesse de uma coletividade e ela se impõe à vontade das partes. Exemplo clássico disso é a ideia de uma diferença entre as relações próprias no âmbito do direito civil e no âmbito do direito administrativo: eu quero comprar um terreno para construir um centro de pesquisa, só será feito o negócio caso as partes entrem em acordo, porque estamos diante de interesses individuais. Uma coisa diferente é quando essa relação não se dá mais no âmbito de interesses individuais e opõe um interesse individual e um interesse coletivo. Vamos supor que esse mesmo terreno que pertence a uma pessoa, tenha um projeto feito pela prefeitura aonde será construído um metrô e então esse terreno vai ser objeto de desapropriação para a construção. Então o dono do terreno não pode se opor àquele ato, pode apenas recorrer ao judiciário sobre o valor da indenização, mas um ato de desapropriação é um ato unilateral, pois é a vontade da coletividade. É uma coisa que se regula entorno de um direito administrativo e consequentemente, um direito público, uma norma, uma lei que se impõe independentemente da pessoa concordar ou não. 
O movimento vai falar que esse conceito de lei não é verdadeiro. A lei não é esse bloco monolítico representativo de uma vontade geral, a lei na verdade é a cristalização de um conflito de interesses. Consequentemente, na tradição marxista, são conflitos de interesses de classes sociais. Ou seja, quando uma lei começa a vigorar, na verdade ela cristaliza um processo de embates de interesses que privilegia uns em detrimentos de outros. Logo a lei no seu processo de elaboração é perpassada por conflitos de interesses. A lei expressa a cristalização de certas contradições, de certos conflitos. Então nós temos nesse processo em função de certas situações, não o interesse da coletividade, mas interesses de grupos que conseguem em determinado momento cristalizar no ponto de vista da norma em detrimento de outros interesses. Ou seja, o ordenamento normativo não é uma coisa que possa ser identificada como algo próprio de um interesse coletivo, um bloco monolítico harmonioso que contempla o interesse de todos, mas ele é a cristalização de uma série de disputas de interesses que são perpassados por contradições. Já que não estou diante de algo que representa uma coletividade, mas algo que cristaliza alguns direitos em detrimentos de outros.
 Se a lei cristaliza um conflito de interesses, a aplicação da lei nunca pode ser pensada a partir de uma neutralidade do juiz. Ou seja, se eu admito que esse único sentido da lei que é dado em interesse coletivo, não existe porque a lei é perpassada por contradições, o ato de julgar necessariamente é um ato político porque você se posiciona. Não existe juiz ou ato de julgar que seja neutro, não significa dizer que seja parcial. O ato de julgar implica em um posicionamento, logo um ato valorativo. O que significa dizer que é um ato político. Porque diante dessas contradições, conflitos e disputas, quando eu julgo, eu estou me posicionando. Dizer que o ato de julgar é neutro, é uma perspectiva ideológica, pois ela esconde a partir de um possível tecnicismo, ou formalismo desse ato, aquilo que efetivamente corresponde a pratica profissional do magistrado que é se posicionar o tempo inteiro. 
Imparcialidade e neutralidade são duas coisas diferentes. O juiz ou o ato de julgar pode e deve ser imparcial, o que significa não se posicionar a favor de uma das partes. Exemplo: se para constituir um possível direito no que diz respeito a um recebimento de uma hora extra, eu tenho que comprovar a materialidade daquele trabalho. Então o juiz diante de uma possível demanda de um empregado com relação ao empregador para receber um valor em função de horas extras trabalhadas, ele tem que comprovar essa materialidade. Não é porque ele é socialista, ou porque tem com concepção favorável aos trabalhadores que ele independentemente de prova, vai julgar àquela hora extra. Ai ele está sendo parcial, ou seja, imparcialidade é ter um não posicionamento favorável a uma das partes no sentido de como se organiza o processo. Por exemplo, se o magistrado conhece uma das partes ele tem que se declarar impedido de julgar porque na verdade uma de suas condições constitutivas para julgar é a imparcialidade. Isso não significa dizer que se você é imparcial, você é neutro. Porque neutralidade do ponto de vista constitutivo do ato de julgar é impossível. A pessoa sempre vai interpretar o ordenamento normativo, o direito, e consequentemente ele vai estar se posicionando. 
Veja como aqui temos duas contraposições, uma com o conceito de lei como sendo representativo de um interesse coletivo que o direito alternativo diz não haver isso, e outra sobre a ideia de que a aplicação da lei é decorrente de um ato neutro, de uma atuação meramente técnica formalista, e o direito alternativo vai dizer que isso também não se configura na prática profissional, já que o juiz é sempre representante de uma determinada pratica que envolve um ato político, um posicionamento valorativo.
Conceito de justiça
Existe dentro do direito, mesmo que isso não implicasse em um impacto muito grande do ponto de vista prático, mas existe uma determinada visão na discussão de justiça que seria ligada a uma grande abstração. Então você trabalha a justiça a partir de valores muito abstratos (é justo ser correto, é justo ser uma boa referência), ou seja esses valores mais gerais e mais abstratos. A primeira crítica que eles vão fazer em relação a esse conceito de justiça é dizendo que não existe justiça que possa ser pensada a partir de grandes abstrações, significa dizer que eles fazem aqui de certa maneira, uma critica a uma filosofia mais especulativa. Eles dizem que a justiça só pode ser pensada quando aplicada ao caso concreto. Vejam que eles querem dizer que não existe uma justiça que se vincule a discussões mais gerais e abstratas, e só se pode fazer essa discussão de justo ou injusto quando estiver relacionada ao caso concreto. Ou seja, a justiça nesse caso é uma justiça muito menos baseada numa filosofia especulativa, mas se eu estou falando que existe uma referência do justo que possa ser aplicada ao caso concreto, eles estão falando muito mais de uma justiça redistributiva. O justo tem menos uma referencia geral e normativa orientadora das ações, mas é muito mais voltada para o caso concreto, logo a discussão é muito mais de redistribuição e menos especulativa.
Com relação a essa justiça relacionada ao caso concreto e consequentemente a essa perspectiva de redistribuição de bens, eles tem duas posições: primeiro eles dizem que se existem interesses que são contraditórios, perpassados por conflitos, a justiça na verdade se organiza entorno de classes que são dominantes, ou aquilo que pode ser uma justiça propriamente da classe dos dominados. Ou seja, se eu mobilizo valores, se eu me posiciono ao julgar e de certa maneira para alem do referencial legal, eu posso fazer a justiça quando estou diante de um caso concreto, ou bem vou estar me posicionando com relação a um tipo de referência do justo que seja mais favorável a um determinado grupo dapopulação que é chamado de classe dominante, ou bem vou estar me posicionando, ou seja, redistribuindo bens, para um tipo de grupo que eles chamam aqui de oprimidos ou dominados. 
Essa discussão é um pouco simplista, entretanto esse movimento está trazendo para dentro da reflexão sobre o direito um tema que por muito tempo ficou fora dessa discussão. Que é o tema da justiça. Durante muito tempo essa questão do justo não era trabalhada nos cursos de direito nas práticas profissionais, pois o direito se resumia a lei. Então eles estão trazendo essa questão de volta não mais em termos especulativos, mas uma justiça voltada para o caso concreto, uma justiça redistributiva, ou seja, redistribuição de bens na sociedade e que basicamente está atrelada a duas posições, ou atrelada aos interesses das classes dominantes ou dominadas. 
 
Conceito de juiz
Eles vão trazer para dentro daquilo que é uma representação da identidade profissional desse grupo, uma referência que é tirada de um intelectual marxista italiano que é o Gramsci que pensou essa referência a partir de um intelectual orgânico, e eles vão trazer essa ideia pra compreender aquilo que é a identidade do grupo deles. Então o que seria isso, um juiz orgânico. Eles vão dizer que todo o processo de recrutamento da magistratura, diferentemente daquilo que é o processo de recrutamento dos membros do poder legislativo que se dá por eleição, que é feito basicamente em cima de concursos públicos. O que eles vão sustentar é que historicamente esse recrutamento vai ser feito em cima das classes média e alta. Significa dizer que aqueles que entram no corpo profissional da magistratura são basicamente de uma classe mais ou menos homogênea. Logo não corresponde ao perfil geral da sociedade brasileira. Consequentemente, mesmo que de maneira inconsciente, a tendência é que eles tenham certa representação de mundo na medida em que eles foram socializados em certos valores que são favoráveis aos interesses dessas classes mais abastadas. Significa dizer que o juiz tende a ser um representante de classe mesmo que inconsciente porque como ele se posiciona valorativamente o tempo todo, como o ato de julgar é um ato político, ele sempre vai estar se posicionando a partir de determinados valores. 
O juiz orgânico seria aquele que não obstante o fato de ser advindo de uma classe social vai defender os interesses de outra classe. Ou seja, o juiz orgânico, o qual eles vão se reconhecer como identidade, é aquele juiz que reconhece o seu vínculo enquanto constituição, enquanto socialização, enquanto escolarização, formação universitária, etc., num extrato que é o das classes médias e altas. Não obstante isso, eles vão estar se posicionando o tempo todo de maneira favorável a outra classe social da qual eles não pertencem. 
Direito alternativo
Toda a prática da magistratura pensada pelo direito alternativo tem haver com uma perspectiva do positivismo de combate, ou seja, tentar dar concretização aquilo que já é instituído, mas é sonegado; como também é uma pratica de alargar para grupos menos favorecidos o campo de aplicação de normas que já são efetivas e que são chamadas de uso instituído reinterpretado; por fim o direito alternativo propriamente dito ou stricto sensu.
Positivismo de combate
Instituído sonegado. O que eles querem dizer com isso? Temos na constituição de 88, uma série de direitos que podem ser mobilizados para fins de favorecimento concreto dessas classes de trabalhadores, ou seja, direitos que já foram formalmente incorporados na ordem normativa brasileira, entretanto eles não têm efetividade, não se aplicam na pratica. Exemplo: os direitos sociais que foram reconhecidos de maneira programática pela constituição de 88, como o direito a saúde. Consequentemente há necessidade de implementação de políticas públicas para que esse direito constitucionalmente garantido a todos, seja efetivo. A questão então do positivismo de combate: o positivismo se calca pela aplicação exegética da norma, ou seja, eles então vão trabalhar com essa ideia positivista e revertê-la para um combate no sentido de que essas normas efetivamente venham a ter uma existência concreta. Porque esse plano que já está instituído, ou seja, já existe dentro daquilo que o positivismo diz que é o direito, está sendo sonegado à maior parte da população brasileira. Significa dizer que quando o cidadão entra com uma ação na justiça para a obtenção, por exemplo, de medicamento. Então a postura do juiz deve ser de pensar do ponto de vista do orçamento, dizendo que a administração pública não tem dinheiro pra isso, ou agir de acordo com um positivismo de combate. Ou seja, atuar a favor de que o poder publico efetivamente implemente aquela referência mais geral e abstrata do direito social. Então aí está a justiça no caso concreto, e não apenas colocada em um direito social não efetivo. Logo, deve condenar o hospital público à fornecer o medicamento sob pena de multa, sentenciando o poder público por não estar cumprindo uma norma constitucional. Essa é a ideia de um positivismo de combate, lutar na prática profissional para que uma norma que já existe, mas é sonegada, não é efetiva, para que ela se aplique.
Uso alternativo do direito
O que podemos chamar de um instituído reinterpretado. Dentro dessa referência, eles continuam a trabalhar, não com algo que esteja fora do direito compreendido como ordem normativa, mas dentro dos marcos legais. Ou seja, existe já aqui uma lei regulando determinada matéria, entretanto como essa lei se posiciona com relação a uma determinada interpretação normativa que é voltada para um sentido mais restrito a determinados grupos sociais, eu posso dentro desse instituído, reinterpretar no sentido de abarcar um número maior de pessoas que não estariam sendo contempladas com a aplicação daquela lei. Ou seja, e fazer um uso alternativo de um direito que já se efetiva. É uma ordem normativa que não carece de efetivação como a anterior, entretanto é uma efetividade restrita. Ao reinterpretar essa lei, há um alargamento no campo de aplicação, ou seja, de efetividade daquela norma para que possa contemplar também, setores ou grupos que são marginalizados, que são oprimidos. É sempre essa ideia, o posicionamento valorativo com relação a essas relações de dominação. Exemplo disso: até pouco tempo havia uma interpretação da norma constitucional no sentido de que a proteção que era garantida constitucionalmente para casais que vivessem a partir de uma união estável, que veio a ser reconhecida pela constituição de 88, apenas para casais heterossexuais. Consequentemente era um dispositivo que já tinha efetividade. Alguns juízes começaram a dar uma interpretação a esse dispositivo constitucional no sentido de que quando a constituição estabelece que a união estável pode ser aplicada aos casais heterossexuais, essa referência da constituição não é exaustiva, ela é meramente ilustrativa. Ou seja, a constituição não diz que pode ser aplicada somente aos casais heterossexuais. Ela ilustra, ela não esta exaurindo o campo de aplicação, ou se efetividade da união estável. Logo começaram a aplicar essa lei para casais homossexuais também. Essa questão pode ser pensada como uso alternativo do direito. Não está se mobilizando algo fora do direito, mas sim o próprio dispositivo legal, o uso instituído do direito que será reinterpretado.
Direito alternativo
Seria o plano do instituinte negado. Vejam como no primeiro plano de combate está dentro dos planos legais (já existem, mas não são aplicadas), no uso alternativo do direito também está dentro dos marcos legais (já existem, mas o campo de aplicação será alargado), no direito alternativo vamos fugir do campo do ordenamento legalmente constituído. Ou seja, aqui não se está mais no campo legal, e sim trabalhando numa diferença entre lei e direito. Porque a perspectiva que vai ser trabalhada é de uma possível mobilização de um direito por parte da magistratura que ainda não existe na ordem jurídica legal. É aquilo que podemos chamar de um direitoinsurgente. Ou seja, pratica de grupos sociais, de movimentos sociais, que ainda não são reconhecidas como sendo práticas que funcionem dentro dos marcos legais, às vezes até consideradas ilegais a luz da ordem vigente. Entretanto, estão colocando para a ordem jurídica uma reivindicação, uma necessidade. Consequentemente, no direito alternativo propriamente dito, não temos um uso alternativo de um direito já existente, mas outro direito. 
É um plano que quer se instituir, um plano instituinte que é negado a certos grupos sociais. O magistrado estaria trabalhando em um sentido muito mais forte de não mais mero aplicador de uma norma normativa vigente, mas como sendo um criador de direito. Exemplo claro disso, são ações mobilizadas por grupos sem terra que ocupam espaços, imóveis, etc. e estão reivindicando políticas públicas de moradia, de reforma agrária, etc. A luz do ordenamento vigente é algo ilegal. Entretanto, se podem mobilizar as contradições do próprio ordenamento jurídico para dar decisões favoráveis a essas práticas e, nesse caso, estão entrando no plano de criação do direito. Ou seja, esses juízes afirmam que podem atuar além dos marcos legais. Nesse processo temos uma reconfiguração da separação clássica dos poderes. Um executivo que administra e consequentemente realiza políticas públicas, um legislativo que cria norma, e um poder judiciário que aplica aquela vontade, aquelas diretrizes estabelecidas pelo poder legislativo. Então essas fronteiras poderiam estar hoje relativizadas, não é a toa que nesse processo de judiscialização da política, ou seja, uma política feita por meio do poder judiciário, podemos ver no debate em relação a isso sobre a perda dos mandatos de alguns operadores do mensalão. Está lá o Joaquim Barbosa dizendo que é uma questão que pode ser decidida pelo STJ, e o presidente da câmara vai dizer que não já que isso é uma prerrogativa do congresso. O supremo pode condenar, mas dizer se perde ou não o mandato, do ponto de vista político, é uma competência do congresso nacional. Cada vez mais uma questão que seria relativamente política, vai sendo judiscializada. 
Uma coisa muito comum hoje no cenário político brasileiro, é um conjunto de ações que foi possibilitado pela constituição de 88 no art. 103 que são as ações diretas de inconstitucionalidade. Elas são ações que podem ser propostas pelos partidos políticos, por representações de classes, pela procuradoria geral da república, pela ordem dos advogados do Brasil, ou seja, tem vários órgãos que podem propor essas ações. O que significa dizer que uma norma que foi elaborada pelo parlamento vai ser questionada como norma junto ao supremo tribunal federal. Ou seja, não está se questionando se ela poderia ou não ser elaborada, mas sim se essa norma é ou não constitucional. De certa maneira um controle de vontade da maioria, ou seja, maioria parlamentar que está sendo questionada e isso vai se remeter não a uma discussão do próprio congresso, mas do STF e é obvio que é um julgamento político. Vejam como essas ações são outro instrumento para alem dessas outras práticas, que podem refletir um processo cada vez maior dentro do funcionamento da sociedade brasileira de uma judiscialização da política. 
 
Atuação do judiciário e análise da sentença
Analise em torno da atuação do judiciário, dando a palavra para um magistrado que é considerado a grande figura desse movimento do direito alternativo que na época era um juiz de primeira instância e hoje é um desembargador do TJ do Rio Grande do Sul, que é o Amilton Bueno de Carvalho. Faremos uma analise de como ele percebe a atuação do judiciário e faremos também uma análise de uma sentença, a construção de uma decisão que seria ilustrativa da maneira de conceber o direito a partir dessas referências do direito alternativo.

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