Buscar

Cartas do Solitário: Reflexões sobre o Estado Brasileiro

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

‎08/01/2013
· Cartas do Solitário – Aureliano Cândido Tavares Bastos Carvalho (São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1863)
Tavares bastos pertencia a uma elite brasileira, era bacharel em direito. Era representante da elite carioca do seu tempo. Ele representava um ponto de vista dentro desse momento político, não talvez uma influência portuguesa como os outros pensadores da época. ele era alguém que polarizava tanto as referencias francesas quanto referencias inglesas. Ele consegue produzir uma síntese a partir da noção do utilitarismo de Bentham ou de Stuart Mill com algumas reflexões que Rousseau havia iluminado a revolução francesa. Tem como elemento de reflexão a promessa da revolução francesa de liberdade, igualdade e fraternidade, e a justificativa da relação que faz do Estado brasileiro, no período monárquico de regência. Durante esse período, quem havia tomado conta do poder do império eram de alguma forma os militares. Então podemos imaginar que a história brasileira é muito centrada nesse poder do Estado, nessa presença do Estado anterior da própria sociedade.
É interessante conceituar a relação do Estado sociedade do Brasil de forma bastante clara, o Estado é necessário para que os homens vivam em paz. O exercício que estou fazendo para vocês aprenderem a reivindicar dentro das regras e não reivindicar sobre o que se acha que certo. Porque essa é a forma que vamos enfrentar o Estado. A partir do momento em que desvendamos esse Estado, podemos modificá-lo. O que Tavares Bastos fazia era denunciar esse Estado hobbesiano, esse Estado que havia se construído por um grupo de homens para manter a vida e através da força garantir a liberdade.
Tavares bastos tentava modificar o Estado nos moldes franceses. O Estado de Rousseau não nasce da força, não nasce de um contrato, nasce de uma vontade geral. A dinâmica em relação ao Estado, é que para Hobbes o Estado deveria ser forte necessariamente para garantir a liberdade, e para Rousseau também deveria ser forte, mas por conta do desejo geral de todos para garantir a melhor vida e para garantir a igualdade, com a reforma agrária.
O autor nessas cartas discute no primeiro momento a ideia das províncias, a organização administrativa, ele esta preocupado em imaginar essa monarquia que sucede o período colonial e como ela pode produzir mais igualdade, não exclusivamente do ponto de vista do Rio de Janeiro que é uma cidade nesse momento de cerca de 200 mil habitantes que de 1870 até a virada da república em 1890 passa para mais de 500 mil habitantes. O Rio de Janeiro já é uma cidade grande que tem uma serie de problemas. Só que o Brasil já era formado por províncias tão diferentes do Rio, tal como é hoje. Portanto, a ideia de discutir a organização administrativa, ele defendia que o que aconteceu nos Estados Unidos é que o modelo federativo norte americano, o republicanismo é o que melhor se adéqua ao Brasil. Ele está fazendo uma junção extremamente criativa de três valores que a gente já viu nos outros textos. Ele pegou de alguma maneira, esse Estado Roussoniano que tinha como objetivo por fim da desigualdade, e ao olhar para Rousseau ele esta olhando um estado unitário, aonde segundo o pensamento de Montesquieu, a nação francesa no território francês podia efetivamente se constituir enquanto uma república. A nação era homogênea, o território era pequeno então a república podia estar baseada no principio democrático da igualdade. Todos os franceses pensados nesse momento eram capazes de entender claramente os desejos dessa vontade geral que Rousseau falava. O Estado era representativo dessa vontade geral de todos os franceses, e esse Estado de alguma forma era unitário.
Tavares Bastos disse que era possível pensar um Estado que tende a superar a desigualdade. Do ponto de vista da Inglaterra, o autor interpreta a ideia do utilitarismo como sendo o objetivo da maior felicidade possível. Ou seja, a ideia do utilitarismo de Bentham era que o Estado deveria garantir a maior felicidade. Que seria calculado entre prazer menos sofrimento.
Ou seja, se conseguisse produzir maior bem estar para o maior número de pessoa, teria assim um Estado justo. Se tivesse um Estado aonde um pequeno grupo de pessoas tivesse boas condições de vida, de bem estar, mas a maioria da população estivesse em más condições de vida, não seria um Estado justo. Nesse momento no Brasil, no ponto de vista da cidadania, em 1860 o Brasil tinha mais da metade da população de escravos, ou seja, o autor está pensando no que fazer com o regime escravocrata. Mas nesses textos ele ainda não vai muito contra a ideia da escravidão de forma clara. Ele está preocupado com outra situação, digamos, jurídica em termos de cidadania porque o negro liberto do ponto de vista daquele momento ainda não é considerado um cidadão. O negro liberto não tem os mesmos direitos do que o branco português (o colonizador) tem. Em 1850 aconteceu a lei de terras. Lembrando-se do espírito roussoniano da vontade geral, da presença do Estado em relação a propriedade estabelecia claramente que deveria haver uma reforma agrária para todos aqueles que fossem indivíduos. Os indivíduos seriam aqueles que, pelo código napoleônico, seriam capazes de contratar, ser proprietário e dispor de si mesmo. Para essas três potências do indivíduo aparecem a noção de propriedade como vinculado a um principio de igualdade na revolução francesa. Para todo serem iguais, todos tem que ser proprietários porque lá no principio da desigualdade de Rousseau é que no momento diz ser dono se algo é que se estabeleceu a desigualdade, a ideia da propriedade está relacionada com a ideia de igualdade.
Em 1850 o modelo da lei de terras tinha estabelecido a desigualdade. Só podem ser proprietários aqueles que tiveram sesmarias em seus nomes e que estivessem trabalhando sobre a terra. Trabalhando sobre a terra é bom, pois ninguém pode ser latifundiário com terras improdutivas, senão voltavam para as mãos do Rei, do Estado. O interessante é o estabelecimento da desigualdade no Brasil, pois não foi a posse que foi transformada em propriedade, não foi quem estava trabalhando na terra, que seria o fundamento da propriedade inglesa (Locke – “o trabalho que legitima a propriedade”). Desde o direito romano, posse e propriedade são instrumentos jurídicos distintos. Até hoje esses dois temas estão em discussão no direito brasileiro. O que precede a posse ou a propriedade? Nós temos algumas legislações como o usucapião que é normalmente aceito se houver outra figura jurídica que é o animus domini. Então, pra você ter direito à usucapião, ou seja, para sua posse ser transformada em propriedade você tem que ter o desejo ou a efetivação de ser proprietário. Porque alguém que ser proprietário e não ter a posse? A propriedade tem três potencias desde o direito romano que são: usar, gozar e dispor. O posseiro só tem uma: usar. O posseiro não pode dispor, não pode exaurir aquela terra. Por exemplo, como posseiro você não pode queimar toda a plantação e principalmente, o proprietário pode vender da forma que ele melhor entender. O posseiro faz uma venda que não é juridicamente aceita, não terá registro em cartório. Então, não poder exercer essas três potências é não poder sair da terra. O proprietário pode alugar a terra para um meeiro, tem um contrato de trabalho. Porque ai inventou-se a ideia do animus domini. Esse meeiro que planta, toma conta do gado, que mora lá, não tem animus de ser proprietário, não o animus de transferir a propriedade, nem de exaurir a propriedade. Ele só tem o animus de usar a propriedade.
Esse processo que o autor chama atenção é que o negro liberto em 1850 estava trabalhando na terra, portanto, essa terra que ele estava trabalhando não era sesmaria de ninguém pela lei, já que era ele que estava produzindo. Mas ele não foi levado à proprietário e assim foi feito o processo de ratificação da desigualdade no Brasil. Ou seja, nesta sociedade havia alguns que puderam se tornar proprietários e outros não. No norte do espírito santo há outra históriaa ser contada sobre a fundamentação da propriedade. Lá era o lugar das terras que se chamaram de terras devolutas. O que aconteceu então quando as terras que haviam sido doadas em sesmarias pelo colonizador e não estavam sendo usadas, não foram registradas como propriedade de alguém, voltaram para o império. A monarquia passou a ser a sucessora de todo o patrimônio fundiário que não passou para o sistema de terras.
Outro problema foi a ideia das províncias. Nessa federação que o autor olhava, há uma possibilidade de uma igualdade entre o governo central e as províncias? Todo o patrimônio fundiário, como sendo elemento interessante de promoção da igualdade, está na mão do Rei. Como as províncias podem estabelecer critérios de igualdade na sua jurisdição? Esse pré-sistema republicano, esse sistema federativo que o autor defende, aconteceu de forma incompleta na proclamação da república, mas na primeira constituição brasileira de 1891 o sistema federativo é de uma forma totalmente diferente do sistema federativo que vivemos hoje. Podemos ver nessa constituição que o sistema federativo que está implícito naquela constituição é um sistema federativo norte americano. É um sistema que dá muito mais poder, muito mais autonomia às províncias e aos estados do que o que temos hoje. Essa crise que eu chamei atenção, que vai ter que ser resolvida pelo supremo, pelo executivo, pelo legislativo e pelo judiciário até o dia 10 do fundo de participação dos estados, é o que pensava na constituição de 1891. Ou seja, esse Estado arrecada tudo, a união arrecada tudo e ela é que vai promover a possibilidade de harmonizar as diferenças sociais, econômicas, etc. é o Estado central que continua olhando tudo. É uma outra visão que também vem da Inglaterra no século XIX, a ideia de que se o Estado deve promover maior felicidade, a ideia desse utilitarismo para poder ser efetivo, é preciso que o Estado veja tudo. E olhando tudo, deve conseguir promover maior felicidade para o maior número de cidadãos brasileiros.
Podemos pensar esse Estado como produtor da igualdade. Mas não é o que acontece, pois quem acha que a lei é igual para todos ou que todos são iguais perante a lei? Mas é claro que não é assim. O que está sendo chamada atenção, é como produzimos situações jurídicas extremamente complicadas e desiguais. Esse Estado que imagina que vai fazer todas as ações, que vai promover todas as igualdades, essa imersão dessa organização é pensarmos: será que naquele vade mecum produzido pelo Estado estão os instrumentos de promoção de igualdade de todo o território nacional? Para todas as situações sociais que existem no Brasil? Ou talvez um monte de “vade mequinhos”, um de cada estado brasileiro mais próximo às realidades sociais, não produzissem mais igualdade? Essa é uma discussão que está lá colocada na segunda metade do século XIX e na 1ª república. Vamos entender a revolução de 30 de outra forma. Entender como outra maneira de pensar a nossa federação.
· Os Bestializados, O Rio de Janeiro e a República que não foi– José Murilo de Carvalho
Ele quer dizer com “os bestializados” pensando de alguma forma na gente, nos cidadãos. Até onde nos sentimos capazes de influenciar uma lei? Ate onde nos sentimos capazes efetivamente de impedir um candidato de ficha suja de ser eleito? As ideias dos bestializados que o José Murilo trás é essa imagem da cidadania da época. Houve alguma movimentação popular pela república? A libertação dos escravos teve algo haver com a vontade da elite brasileira de trabalhar? Conforme Tocquerville, Weber haviam descrito com a ética protestante, o trabalho como elemento de purificação. Logo depois da libertação, houve um grande numero de imigrantes brancos. A cidadania nesse momento estava bestializada, estava simplesmente deixando as coisas acontecerem e sem ter ideia do que realmente estava acontecendo.
1- O Rio de Janeiro e a República
a. República, Federalismo
b. História Regional , História Central
c. Liberdade, liberdades
d. Organização do poder
e. Reformas urbanas, controle da cidade e dos cidadãos
2- República e cidadanias
3- Cidadãos Inativos – a abstenção eleitoral
4- Cidadãos Ativos – a Revolta da Vacina
5- Bestializados ou Bilontras
Conclusão
Ele trabalha primeiramente com a cidade do Rio de Janeiro, o papel da cidade na proclamação da repúbica e a cara de quem, teve essa república. Brasília não tem a cara do Brasil. Brasília não consegue ser a cara do Brasil nem ter a cara do Brasil. Não consegue recolher essa pluralidade de brasis que existem. Nem com seu ar moderno. O Brasil não é assim. Essa ideia dos bestializados está relacionada com a nossa intervenção, a nossa atuação. Até que ponto nós podemos mudar alguns processos históricos?
Um exemplo disso, é que o Estado, logo, os cidadãos estão financiando a construção do porto do Açu onde estão retirando a areia do fundo do mar e aterrando a região de Barra de São João. Com isso o lençol freático está salinizando e a terra ficando improdutiva. Então os impactos de médio a longo prazo será sem precedentes para a região. A ideia dos bestializados então está relacionada com a impotência. Metade da área do porto pertence há uma empresa estatal. O Estado não deveria estar lá para proteger os moradores de Barra de São João? O que podemos imaginar que somos potentes de fazer?
Podemos pensar o quanto a organização política limita ou não uma cidade. O quanto, por exemplo, o Rio de Janeiro era a cara da monarquia e teve que se transformar na cara da república. O quanto à transformação urbana do Rio de Janeiro acompanha claramente a evolução, a construção e os desafios da construção da república. Ele mostra como o espaço da cidade, a movimentação dos habitantes da cidade, vai sendo dirigido num determinado sentido de você construir o público através da modificação da cidade.
O nível da atividade econômica brasileira, da renda que é gerada se concentra nas regiões sul e sudeste e não circula para o resto do país, pois a nossa república e singular, mas a cidadania é plural. Mesmo que a república seja uma só, ela não se trata de apenas uma cidadania nem dentro da própria cidade. Quer dizer que o Rio de Janeiro foi utilizado como a imagem da republica. Então nós temos uma republica que não vê o cidadão como potente. Vê o cidadão como inativo. Todo o processo de instalação da república no Rio de Janeiro foi feito sem nenhuma oposição. E tudo foi feito em uma única direção: melhorar o nível de vida e sociabilidade de uma determinada classe e afastar as classes menos favorecidas.
O que o autor chama de cidadãos inativos é o grau da nossa abstenção eleitoral. Naquela época, mais do que hoje, a eleição era censitária, nem todos votavam, ou seja, essa eleição já segmentava grande parte cidadãos. Ele chama atenção do alto grau de abstenção da época. quando você não vota você passa a mensagem de que isso não te interessa. Quando você vota em branco, quer dizer que tanto faz o resultado. Quando você vota nulo, quer dizer que não está de acordo. Quando você vota em algum candidato, você está participando do processo. O que ele chama de abstenção eleitoral é uma despreocupação com as coisas da política. Ou seja, a república nesse momento não havia sensibilizado o cidadão. O cidadão continuava olhando com uma ideia do poder monárquico que não é um poder no qual você interfere
O autor chama atenção sobre a revolta da vacina em 1920. Oswaldo Cruz institui a vacina obrigatória, então o que acontece do ponto de vista do Estado, uma intervenção na esfera da vida privada. A vacina se tornou obrigatória. Hoje, a lei não te obriga, mas há uma serie de instrumentos que fazem com que você faça. O que ele chama atenção, é que nessa revolta houve certa uniformidade na aceitação. Outra coisa interessante da época era a questão do corpo, da proteção da intimidade, e para tomar a vacina era preciso expor o corpo. Nesse momento, mesmo numa monarquia, foi à república que invadiu a sua casa. Então a revolta da vacina foi uma revolta contra o Estado. O Estado comoinvasor da privacidade. A sua indignação moral é ultrapassada pelo limite do Estado. Nessa revolta o cidadão se tornou ativo, mesmo que desordenado.
A última questão que o autor coloca é sobre bestializados ou bilontras. Bilontra é como se fosse o espertalhão. Ou seja, nesse processo republicano, do fim da escravidão, alguém recebe o benefício desses processos, e ai essa figura do bilontra. É aquele que não esta na linha de frente.
O desafio é como a gente pode mudar essa história, ou será que a gente está amarrado a ela. Será que temos chance de não nos enquadrar? Ate que ponto o Estado pode ser pensado de formas diferentes? Até que ponto a gente pode pensar que o Estado será o resultado daquilo que nós culminarmos?