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tese-geane-09

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 
ESCOLA DE VETERINÁRIA 
Colegiado dos Cursos de Pós-Graduação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lesões decorrentes de obstruções experimentais no jejuno de eqüinos 
tratados com glutamina ou associação de succinato sódico de 
hidrocortisona, dimetilsulfóxido, pentoxifilina 
e ácido ascórbico 
 
Geane Maciel Pagliosa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
Escola de Veterinária – UFMG 
2009 
 1
Geane Maciel Pagliosa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lesões decorrentes de obstruções experimentais no jejuno de eqüinos 
tratados com glutamina ou associação de succinato sódico de 
hidrocortisona, dimetilsulfóxido, pentoxifilina 
e ácido ascórbico 
 
 
 
 
 
 
 
Tese apresentada à Escola de Veterinária da 
Universidade Federal de Minas Gerais como requisito 
parcial para a obtenção do grau de Doutora em Ciência 
Animal. 
Área de Concentração: Clínica e Cirurgia Veterinárias. 
Orientador: Prof. Dr. Geraldo Eleno Silveira Alves 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
Escola de Veterinária – UFMG 
2009 
 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
P1381 Pagliosa, Geane Maciel, 1974- 
Lesões decorrentes de obstruções experimentais no jejuno de eqüinos tratados 
com glutamina ou associação de succinato sódico de hidrocortisona, dimetilsulfóxido, 
pentoxifilina e ácido ascórbico / Geane Maciel Pagliosa. – 2009. 
66p. : il. 
 
Orientador: Geraldo Eleno Silveira Alves 
Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de
Veterinária 
Inclui bibliografia 
 
1. Eqüino – Cirurgia – Teses. 2. Intestino – Cirurgia – Teses. 3. Intestino – 
Doenças – Tratamento - Teses. I. Alves, Geraldo Eleno Silveira. II. Universidade 
Federal de Minas Gerais. Escola de Veterinária. III. Título. 
 
CDD – 636.108 971 
 
 
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AGRADECIMENTOS 
 
Ao meu orientador, Prof. Dr. Geraldo Eleno Silveira Alves, um sábio educador e amigo pela oportunidade 
e diretriz de meu aprendizado humano e técnico e pelas conquistas, que com certeza não são só minhas, 
mas nossas, ao longo de sete anos de convivência. 
 
Ao Prof. Dr. Rafael Resende Faleiros pela co-orientação e preocupação com meu aprendizado pessoal e 
melhoria como ser humano, tanto quanto ou acima do profissional. 
 
Ao Pr. Dr. Anílton Vasconcelos pelo exemplo de simplicidade, profissionalismo e caráter e pela co-
orientação da tese. 
 
À Profa. Dra. Danielle de Souza pela receptividade sempre atenciosa, pelo auxílio no esclarecimento de 
dúvidas e por aceitar compor minha banca de pré-defesa. 
 
Ao Prof. Dr. Renato de Lima Santos pelas orientações nas análises e interpretação dos mediadores 
inflamatórios e pelo exemplo de profissional e pesquisador, bem como pela concessão do uso do 
laboratório. 
 
Aos professores e colegas Jorge Rio Tinto e Ciryl Alexandre de Marval pela companhia sempre agradável 
e pelo auxílio na logística para a realização do experimento. 
 
Ao Prof. Mauro Teixeira do laboratório de Imunofarmacologia do ICB-UFMG pela orientação e 
consentimento de uso do laboratório para realização das análises bioquímicas. 
À Profa. Dra. Márcia Bersane Torres pela disponibilização do laboratório de Patologia da UFPR-Campus 
Palotina para o preparo do material para histopatologia, pelo exemplo profissional e convivência humana 
em dois anos de trabalho em conjunto. 
 
Ao Prof. Dr. Humberto Pereira Oliveira pela convivência agradável e por tantos ensinamentos. 
 
Aos bolsistas Tiago Alves e Heloísa Maria Falcão Mendes pela agradável companhia e o indispensável 
auxílio e dedicação na realização das análises bioquímicas e dos mediadores inflamatórios. 
 
A acadêmica e bolsista de iniciação científica Renata Costa pelo auxílio nas análises paramétricas 
intestinais. 
 
A “amigaça” Priscila Fantini por tudo ao longo de sete anos de convivência. 
 
À amiga Rachel Baeta por todo o apoio e estímulo e por toda a ajuda em todos os momentos de minha 
estada em Belo Horizonte. 
 
À Luciana Camillo pela amizade, apoio e estímulo nos bons e maus momentos de meus primeiros meses 
no Paraná. 
 
Aos professores Vinícius Cunha Barcelos e Betina Pereira, diretor e coordenadora do curso de Medicina 
Veterinária da UFPR-Campus Palotina e colegas do Hospital Veterinário pelo apoio e viabilização de 
minhas saídas para o cumprimento das atividades do doutorado. 
 
À FAPEMIG pelo apoio financeiro que viabilizou a realização desse experimento. 
 
 
 
 
 
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“A sabedoria consiste em conseguir enxergar além 
da superfície dos fatos que ocorrem em nossa 
vida e das atitudes das pessoas que nos cercam” 
 7
 
SUMÁRIO 
LISTA DE TABELAS ………………………………………………………………………….. 8 
LISTA DE FIGURAS …………………………………………………………………………... 9 
LISTA DE ANEXOS …………………………………………………………………………… 11 
LISTA DE ABREVIATURAS …………………………………………………………............. 11 
RESUMO ……………………………………………………………………………………....... 13 
ABSTRACT ……………………………………………………………………………………... 14 
1. INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………………. 15 
2. REVISÃO DE LITERATURA ……………………………………………………………… 15 
 2.1. Obstruções intestinais e mecanismos de lesão tecidual .................................................. 15 
 2.1.1. Alterações vasculares e celulares decorrentes das obstruções não estrangulativas ...... 15 
 2.1.2. Alterações vasculares e celulares decorrentes das obstruções estrangulativas ............. 16 
 2.1.3. Patofisiologia das obstruções intestinais ....................................................................... 16 
 2.2. Mecanismos de lesão tecidual nas obstruções intestinais em eqüinos .......................... 21 
 2.3. Lesões à distância decorrentes das obstruções intestinais .............................................. 21 
 2.4. Terapêutica das lesões de isquemia e reperfusão ............................................................ 23 
3. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................................... 25 
 3.1. Animais e anestesia ............................................................................................................ 25 
 3.2. Lesão experimental ............................................................................................................ 25 
 3.3. Grupos experimentais ........................................................................................................ 26 
 3.4. Colheita e processamento das amostras ........................................................................... 26 
 3.5. Análises histológicas ........................................................................................................... 27 
 3.6. Análise ultra-estrutural e mensuração da área, perímetro e número de vilosidades 
por mm2 .......................................................................................................................................... 
29 
 3.7. Determinação da atividade de mieloperoxidase .............................................................. 29 
 3.8. Reação de transcrição da polimerase reversa em cadeia em tempo real (RT-PCR) ... 29 
 3.9. Tratamento estatístico dos dados ..................................................................................... 30 
4. RESULTADOS ......................................................................................................................... 30 
 4.1. Anestesia ............................................................................................................................. 30 
 4.2. Alterações macroscópicas .................................................................................................. 31 
 4.3. Análise histopatológica ...................................................................................................... 31 
 4.3.1. Amostras intestinais ......................................................................................................31 
 4.3.2. Demais órgãos ............................................................................................................... 39 
 4.4. Análise ultra-estrutural e mensuração da área, perímetro e número de vilosidades 
 por mm2 ...................................................................................................................................... 
40 
 4.5. Atividade de mieloperoxidase (MPO) .............................................................................. 41 
 4.6. Mediadores inflamatórios ................................................................................................. 41 
5. DISCUSSÃO .............................................................................................................................. 49 
 5.1. Anestesia ............................................................................................................................. 49 
 5.2. Alterações macroscópicas .................................................................................................. 49 
 5.3. Alterações microscópicas e atividade de mieloperoxidase ............................................. 49 
 5.3.1. Amostras intestinais ...................................................................................................... 49 
 5.3.2. Demais órgãos ............................................................................................................... 52 
 5.4. Análise ultra-estrutural e medidas das vilosidades ......................................................... 53 
 5.5. Mediadores inflamatórios ................................................................................................. 53 
 5.6. Tratamentos ....................................................................................................................... 54 
 5.6.1. Glutamina ...................................................................................................................... 54 
 5.6.2. Associação de succinato sódico de hidrocortisona, pentoxifilina, ácido ascórbico e 
 dimetilsulfóxido .................................................................................................... 
55 
 5.7. Considerações sobre o desenvolvimento das lesões teciduais e terapêutica em 
 Eqüinos ....................................................................................................................................... 
57 
6. CONCLUSÕES ......................................................................................................................... 58 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 58 
 8 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1. Origem e mecanismo de ação das moléculas sinalizadoras acionadas durante o processo 
inflamatório gerado pela hipóxia e reoxigenação 19 
Tabela 2. Grupos experimentais e tratamentos em 18 eqüinos submetidos a duas horas isquemia 
por distensão intraluminal e isquemia venosa completa de jejuno seguida de 12 horas de 
reperfusão 
27 
Tabela 3. Escore para erosão de mucosa do jejuno de eqüinos submetidos a isquemia e reperfusão 
por distensão intraluminal e isquemia venosa completa 28 
Tabela 4. Escore para edema, hemorragia e presença neutrófilos polimorfonucleares nas camadas 
intestinais do jejuno de eqüinos submetidos à isquemia e reperfusão por distensão intraluminal e 
isquemia venosa completa 
28 
Tabela 5. Escore para dilatação de vasos linfáticos e desprendimento de células mesoteliais na 
serosa do jejuno de eqüinos submetidos a isquemia e reperfusão por modelo de distensão 
intraluminal do jejuno e isquemia venosa completa de jejuno 
28 
Tabela 6. Escore para deposição de fibrina na serosa do jejuno de eqüinos submetidos à isquemia e 
reperfusão por modelo de distensão intraluminal do jejuno e isquemia venosa completa de jejuno 28 
Tabela. 7. Escores para lesão de tecido laminar nos dígitos torácicos em 18 eqüinos submetidos a 
isquemia e reperfusão por obstrução venosa completa e distensão intraluminal de jejuno 28 
Tabela 8. Seqüência gênica dos primers da espécie eqüina utilizados para quantificar o TNF-σ e 
GCP-2 (CXCL6) por PCR em tempo real em eqüinos com obstrução intestinal 30 
Tabela 9. Média (M) e desvio padrão (SD) de escores para degeneração do jejuno submetido 
isquemia venosa completa no tempo basal (T0), após 2h de isquemia, 2 e 12h de reperfusão e no 
segmento distante após 12h de reperfusão em 18 eqüinos divididos nos grupos controle (C), 
glutamina (T1) e multimodal (T2) constituído da associação de succinato sódico de hidrocortisona, 
pentoxifilina, ácido ascórbico e dimetil sulfóxido 
33 
Tabela 10. Média (M) e desvio padrão (SD) de escores para degeneração do jejuno submetido a 
distensão intraluminal no tempo basal (T0), após 2h de isquemia, 2 e 12h de reperfusão e no 
segmento distante após 12h de reperfusão em 18 eqüinos divididos nos grupos controle (C), 
glutamina (T1) e multimodal (T2) constituído da associação de succinato sódico de hidrocortisona, 
pentoxifilina, ácido ascórbico e dimetil sulfóxido. 
34 
Tabela 11. Média e desvio padrão (DP) dos escores de lesão do tecido laminar dos cascos dos 
membros torácicos esquerdo (CAS AD) e direito (CAS AE) após 12h de reperfusão em 18 eqüinos 
submetidos simultaneamente a distensão intraluminal e obstrução venosa de jejuno e divididos nos 
grupos controle, glutamina e multimodal constituído da associação de ácido ascórbico, 
dimetilsulfóxido, pentoxifilina e succinato sódico de hidrocortisona. 
40 
Tabela 12. Média (M) e desvio padrão (SD) da atividade de mieloperoxidase (MPO) do jejuno 
submetido à isquemia venosa e distensão intraluminal de 18 eqüinos divididos nos grupos 
controle, glutamina e multimodal constituído de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, pentoxifilina e 
succinato sódico de hidrocortisona de amostras basal (T0), com 2h de isquemia (I2) e 2 e 12h de 
reperfusão (R2 e R12) e em segmento distante à lesão após 12h de reperfusão (R12L). 
45 
Tabela 13. Média (M) e desvio padrão (SD) da atividade de mieloperoxidase (MPO) das camadas 
mucosa e submucosa e muscular e serosa do jejuno submetido a distensão intraluminal de 18 
eqüinos divididos nos grupos controle, glutamina e multimodal constituído de ácido ascórbico, 
dimetilsulfóxido, pentoxifilina e succinato sódico de hidrocortisona de amostras basal (T0), com 
2h de isquemia (I2) e 2 e 12h de reperfusão (R2 e R12). 
45 
Tabela 14. Valores médios e desvio padrão da atividade de mieloperoxidase (MPO) no tecido 
laminar dos cascos direito (CAS AD) e esquerdo (CAS AE), pulmão (PUL), pâncreas (PAN), 
coração (COR), rim (RIM) e fígado(FIG) em 18 eqüinos submetidos simultaneamente à isquemia 
por distensão intraluminal e obstrução venosa de jejuno e divididos nos grupos controle, glutamina 
e multimodal constituído da associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, pentoxifilina e 
succinato sódico de hidrocortisona. 
48 
 9
LISTA DE FIGURAS 
Figura 1. Esquema de eventos bioquímicos e celulares subseqüentes à hipóxia. 17 
Figura 2. Períodos de isquemia e reperfusão e tratamentos realizados em 18 eqüinos submetidos a 
duas horas de isquemia por distensão intraluminal e isquemia venosa completa de jejuno seguida 
de 12 horas de reperfusão 
27 
Figura 3. Alterações macroscópicas do jejuno após de 2h de isquemia induzida. 2A - A serosa do 
segmento sob distensão intraluminal encontra-se hiperêmica e com os vasos mais evidentes. 2B - 
No segmento sob isquemia venosa completa a coloração da serosa é vermelha escura. 2C – 
Distensão e hiperemia das artérias e veias jejunais e hemorragia na serosa e mesentério do 
segmento sob isquemia venosa completa. Eqüino do grupo controle 
32 
Figura. 4. Média e desvio padrão dos escores de lesão (A) e hemorragia (B) de mucosa do jejuno 
sob isquemia venosa completa (IVC) em 18 eqüinos divididos nos grupos controle, glutaminae 
multimodal constituído da associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, pentoxifilina e 
succinato sódico de hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 2h de 
reperfusão; R12: 12h de reperfusão; R12L: 12h de reperfusão em segmento distante da lesão. 
Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si nos tempos. Médias seguidas de 
mesma letra maiúscula não diferem entre si entre grupos. P<0,05 
35 
Figura. 5. Média e desvio padrão dos escores de hemorragia das camadas submucosa (A) e 
muscular (B) do jejuno sob isquemia venosa completa (IVC) em 18 eqüinos divididos nos grupos 
controle, glutamina e multimodal constituído da associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, 
pentoxifilina e succinato sódico de hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 
2h de reperfusão; R12: 12h de reperfusão; R12L: 12h de reperfusão em segmento distante da 
lesão. Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si nos tempos. Médias 
seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si entre grupos. P<0,05 
36 
Figura. 6. Média e desvio padrão dos escores de hemorragia da serosa do jejuno sob isquemia 
venosa completa (IVC) em 18 eqüinos divididos nos grupos controle, glutamina e multimodal 
constituído da associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, pentoxifilina e succinato sódico de 
hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 2h de reperfusão; R12: 12h de 
reperfusão; R12L: 12h de reperfusão em segmento distante da lesão. Médias seguidas de mesma 
letra minúscula não diferem entre si nos tempos. Médias seguidas de mesma letra maiúscula não 
diferem entre si entre grupos. P<0,05 
37 
Figura. 7. Média e desvio padrão dos escores do infiltrado de neutrófilos da serosa do jejuno sob 
isquemia venosa completa (IVC) em 18 eqüinos divididos nos grupos controle, glutamina e 
multimodal constituído da associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, pentoxifilina e 
succinato sódico de hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 2h de 
reperfusão; R12: 12h de reperfusão; R12L: 12h de reperfusão em segmento distante da lesão. 
Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si nos tempos. Médias seguidas de 
mesma letra maiúscula não diferem entre si entre grupos. P<0,05 
37 
Figura. 8. Média e desvio padrão dos escores de infiltrado de neutrófilos da camada muscular do 
jejuno sob isquemia venosa completa (IVC) em 18 eqüinos divididos nos grupos controle, 
glutamina e multimodal constituído da associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, 
pentoxifilina e succinato sódico de hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 
2h de reperfusão; R12: 12h de reperfusão; R12L: 12h de reperfusão em segmento distante da 
lesão. Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si nos tempos. Médias 
seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si entre grupos. P<0,05. 
38 
Figura. 9. Média e desvio padrão dos escores de edema de submucosa do jejuno sob isquemia 
venosa completa (IVC) em 18 eqüinos divididos nos grupos controle, glutamina e multimodal 
constituído da associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, pentoxifilina e succinato sódico de 
hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 2h de reperfusão; R12: 12h de 
reperfusão; R12L: 12h de reperfusão em segmento distante da lesão. Médias seguidas de mesma 
letra minúscula não diferem entre si nos tempos. Médias seguidas de mesma letra maiúscula não 
diferem entre si entre grupos. P<0,05. 
38 
 10 
Figura. 10. Média e desvio padrão dos escores de infiltrado de neutrófilos na camada serosa do 
jejuno sob distensão intraluminal (DIL) em 18 eqüinos divididos nos grupos controle, glutamina e 
multimodal constituído da associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, pentoxifilina e 
succinato sódico de hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 2h de 
reperfusão; R12: 12h de reperfusão; R12L: 12h de reperfusão em segmento distante da lesão. 
Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si nos tempos. Médias seguidas de 
mesma letra maiúscula não diferem entre si entre grupos. P<0,05. 
39 
Figura. 11. Média e desvio padrão dos escores de descamação de células mesoteliais na camada 
serosa do jejuno sob distensão intraluminal (DIL) em 18 eqüinos divididos nos grupos controle, 
glutamina e multimodal constituído da associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, 
pentoxifilina e succinato sódico de hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 
2h de reperfusão; R12: 12h de reperfusão; R12L: 12h de reperfusão em segmento distante da 
lesão. Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si nos tempos. Médias 
seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si entre grupos. P<0,05. 
39 
Figura 12. Microfotografia de corte histológico do tecido laminar do dígito de eqüino do grupo 
controle com escore de lesão 1,5 após 12h de reperfusão em segmentos de jejuno submetidos 
simultaneamente a distensão intraluminal e isquemia venosa completa. A - Lâminas epidérmicas 
secundárias (Les) estreitas e ausência das lâminas dérmicas primárias (Ldp) entre as Les (*). 
H&E, Ob. 10x. Núcleo das células basais arredondados (seta) e próximos à membrana basal (seta) 
(B) H&E, Ob. 40x. 
40 
Figura 13 – Microfotografia de corte histológico de tecido pulmonar após 12h de reperfusão em 
segmentos de jejuno submetidos simultaneamente à distensão intraluminal e isquemia venosa 
completa. (A) Presença de eosinófilos (setas) e (B) exsudato bronquiolar com presença de 
neutrófilos característicos de lesão prévia. (C) Infiltrado de neutrófilos discreto no parênquima 
pulmonar (setas) indicativo de lesão pulmonar decorrente de reperfusão intestinal (C). H&E, Ob. 
40x. 
41 
Figura 14 - Microfotografia evidenciando a progressão da erosão de mucosa pela microscopia 
óptica (A, B, C, D) e imagens de microscopia eletrônica de varredura (A’, B’, C’,D’). A, A’ – 
Escore 0 (tempo 0): mucosa íntegra (A - H&E, 31,2x e A’ - 150x). B. B’ - Escore 3 (2h de 
isquemia): exposição da lâmina própria até a metade da extensão das vilosidades (B - H&E, 75x e 
B’ – 150x). C, C’ - Escore 4 (2h de reperfusão): exposição da lâmina própria até a base das 
vilosidades (C – H&E, 75x e C’ – 150x). D, D’ - Vilosidades curtas, mas com recobrimento de 
células epiteliais (12h de reperfusão) (D – H&E, 100x e D’ – 150x). Eqüino do Grupo Controle. 
42 
Figura 15. Imagens de microscopia eletrônica de varredura evidenciando aspectos das vilosidades 
do jejuno sob distensão intraluminal. Aspecto normal das vilosidades com rugosidades 
características no tempo 0 (A). Após 2h de isquemia, as rugosidades das vilosidades são menos 
evidentes (B). Às 2h de reperfusão as rugosidades são ainda menos evidentes e as vilosidades 
encontram-se levemente achatadas (C). Após 12h de reperfusão, as vilosidades encontram-se 
visivelmente retraídas (D). Eqüino grupo controle. Escore zero (0) para erosão de mucosa à 
histopatologia. 150x. 
43 
Figura 16. Valores médios e desvio padrão da área das vilosidades do jejuno sob distensão 
intraluminal em 18 eqüinos divididos nos grupos controle, glutamina e multimodal constituído da 
associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, pentoxifilina e succinato sódico de 
hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 2h de reperfusão; R12: 12h de 
reperfusão. Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si nos tempos. Médias 
seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si entre grupos P<0,05. 
43 
Figura 17. Valores médios e desvio padrão do perímetro das vilosidades do jejuno sob distensão 
intraluminal em 18 eqüinos divididos nos grupos controle, glutamina e multimodal constituído da 
associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, pentoxifilina e succinato sódico de 
hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 2h de reperfusão; R12: 12h de 
reperfusão. Médias seguidas de mesma letra minúsculanão diferem entre si nos tempos. Médias 
seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si entre grupos. P<0,05. 
44 
 11
Figura 18. Valores médios e desvio padrão do número das vilosidades do jejuno sob distensão 
intraluminal em 18 eqüinos divididos nos grupos controle, glutamina e multimodal constituído da 
associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, pentoxifilina e succinato sódico de 
hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 2h de reperfusão; R12: 12h de 
reperfusão. Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si nos tempos. Médias 
seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si entre grupos. P<0,05. 
44 
Figura 19. Média e desvio padrão da atividade de mieloperoxidase (MPO) do jejuno sob distensão 
intraluminal (DIL) (A) e isquemia venosa completa (IVC) (B) em 18 eqüinos divididos nos grupos 
controle, glutamina e multimodal constituído da associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, 
pentoxifilina e succinato sódico de hidrocortisona. T0: antes da isquemia; I2: 2h de isquemia; R2: 
2h de reperfusão; R12: 12h de reperfusão; R12L: 12h de reperfusão em segmento distante da 
lesão. Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si no mesmo tempo. Médias seguidas de 
mesma letra maiúscula não diferem entre si entre grupos. P < 0,05. 
46 
Figura 20. Média e desvio padrão da atividade de mieloperoxidase (MPO) no jejuno sob distensão 
nas camadas mucosa e submucosa (A) e nas camadas muscular e serosa (B) às 2h de isquemia (I2) 
e 2 e 12h de reperfusão (R2 e R12, respectivamente), nos 18 eqüinos dos grupos controle, 
glutamina e multimodal constituído da associação de ácido ascórbico, dimetilsulfóxido, 
pentoxifilina e succinato sódico de hidrocortisona. Médias seguidas de mesma letra minúscula não 
diferem entre si no mesmo tempo. Médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si 
entre grupos. P < 0,05. 
47 
Figura 21. Valores médios da variação da expressão de mRNA para o fator de necrose tumoral 
alfa (TNF-σ) nos segmentos de jejuno sob distensão intraluminal (DIL) e isquemia venosa 
completa (IVC) do grupo controle às 2h de isquemia (I2), e as 2 e 12h de reperfusão (R2 e R12, 
respectivamente), em relação ao tempo basal considerado igual a um (1). 
48 
Figura 22. Valores médios da variação da expressão de mRNA para a proteína quimiotáxica de 
granulócitos 2 (GCP-2) nos segmentos de jejuno sob isquemia venosa completa (IVC) e distensão 
intraluminal (DIL) do grupo controle às 2h de isquemia (I2), e as 2 e 12h de reperfusão (R2 e R12, 
respectivamente), em relação ao tempo basal considerado igual a um (1). 
48 
 
LISTA DE ANEXOS 
Anexo 1. Curvas de RT-PCR (reação de transcrição da polimerase reversa em cadeia em tempo 
real) para fator de necrose tumoral alfa (TNF-σ) indicando o número de ciclos (Ct – “cycle 
threshold”) de uma amostra individual (A) e de todas as amostras (B) de jejuno sob isquemia 
venosa completa dos eqüinos do grupo controle 
65 
Anexo 2. Curvas de RT PCR (reação de transcrição da polimerase reversa em cadeia em tempo 
real) para fator de necrose tumoral alfa (TNF-σ) indicando a temperatura de fusão (Tm – “melting 
curve”) de uma amostra individual (A) e de todas as amostras (B) de jejuno sob isquemia venosa 
completa dos eqüinos do grupo controle 
66 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
AA – ácido ascórbico 
ATP – trifosfato de adenosina 
AMP – monofosfato de adenosina 
AMPc – AMP cíclico 
cDNA – ácido desoxidoribonucleico complementar 
cmH2O – centímetros de água 
COX-2 – ciclooxigenase 2 
DIL – distensão intraluminal 
DMSO – dimetilsulfóxido 
GCP-2 – proteína quimiotáxia de granulócitos 2 
h – hora 
IAVC – isquemia arterio-venosa completa 
 12 
IFN-γ – interferon gama 
Iκβ – fator de inibição kappabeta 
IL- 1 – interleucina 1 
IL- 6 - interleucina 6 
IL- 8 – interleucina 8 
iNOS- óxido nítrico sintase indutível 
IRAK-4 – interleucin-1receptor associated kinase 
I/R – isquemia e reperfusão 
IVC – isquemia venosa completa 
K+ - íon potássio 
kV - quilovolts 
LBP – proteína ligante de lipopolissacarídeo 
Ldp – lâmina dérmica primária 
Lds – lâmina dérmica secundária 
Lep – lâmina epidérmica primária 
Les – lâmina epidérmica secundária 
LPS – lipopolissacarídeo 
M - média 
mA – miliampere 
MEV – microscopia eletrônica de varredura 
MODS – síndrome da disfunção de múltiplos órgãos 
MPO – mieloperoxidase 
Na+ - íon sódio 
NADPH - adenina dinucleotídeo nicotina fosfato hidrogenase 
NF-κβ – fator nuclear kappa beta 
nM – nanomoles 
NO – óxido nítrico 
NOi – óxido nítrico indutível 
Nt – neutrófilos 
O2 – oxigênio 
OAV- obstrução arteriovenosa 
OVC – obstrução venosa completa 
PAF – fator de agregação plaquetária 
PLA2 – fosfolipase A2 
PTX – pentoxifilina 
RNA – ácido ribonucleico 
RLO – radicais livres de oxigênio 
RT-PCR – reação da polimerase reversa em cadeia em tempo real 
SD – desvio padrão 
SIRS – síndrome da resposta inflamatória sistêmica 
SSH – succinato sódico de hidrocortisona 
TB – translocação bacteriana 
TLR-4 – receptor do tipo Toll (Toll-like receptor) 
TNF-σ – fator de necrose tumoral alfa 
XDH – xantina desidrogenase 
XO – xantina oxidase 
 
 13
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Sob anestesia geral e com controle da pressão arterial, 18 eqüinos foram submetidos simultaneamente a 
modelos de isquemia venosa completa e distensão intraluminal de segmentos do jejuno por 2h seguidos 
de 12h de reperfusão. Seis eqüinos (grupo T1) foram tratados com glutamina a 2% (50mg/Kg), seis 
(grupo T2) com a associação de succinato sódico de hidrocortisona (4mg/Kg), pentoxifilina (8mg/Kg), 
ácido ascórbico (50mg/Kg) e dimetilsulfóxido (20mg/Kg) e seis (grupo C) com solução de ringer lactato 
por via intravenosa. Os tratamentos foram realizados 1h após o início da isquemia, sendo que a glutamina 
foi também administrada na sexta hora de reperfusão, momento no qual os animais dos demais grupos 
receberam solução de ringer lactato. Foram colhidas amostras intestinais antes e com 2h de isquemia e 
com 2 e 12h de reperfusão, sendo neste último tempo também colhidas amostras de pulmão, fígado, rim, 
pâncreas, coração, e cório laminar dos membros torácicos para avaliações histológica e da atividade de 
mieloperoxidase (MPO). Nos intestinos também se realizou análise ultraestrutural, mensuração do 
número, área e perímetro das vilosidades e avaliação da expressão do fator de necrose tumoral alfa 
(TNF-σ), da interleucina 8 (IL-8) e da proteína quimiotáxica de granulócitos 2 (GCP-2). Para nenhuma 
das variáveis houve diferença estatística entre grupos, no entanto, nos grupos T1 e T2 houve diminuição 
significativa da erosão de mucosa após 12h de reperfusão e da hemorragia de mucosa após 2h de 
reperfusão no segmento submetido à isquemia venosa completa, sinalizando uma tendência de reparo 
mais precoce e menor intensidade de alterações vasculares. Os tratamentos avaliados, nas condições em 
que foram empregados neste experimento, atenuam a erosão e a hemorragia de mucosa no jejuno 
submetido a isquemia e reperfusão por obstrução venosa completa em eqüinos. 
 
Palavras-chave: eqüino, obstrução intestinal, hidrocortisona, pentoxifilna, dimetilsulfóxido, ácido 
ascórbico, glutamina. 
 
 14 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Under general anesthesia and arterial pressure control, eighteen horses were submitted simultaneously to 
distension and complete venous ischemia of jejune for two hours, followed by twelve hours of 
reperfusion. Six horses (T1 group) were treated with intravenous 2% glutamine (50mg/Kg), six horses 
(T2 group) were treated with an association of hydrocortisone succinate (4mg/Kg), pentoxifylline 
(8mg/Kg), ascorbic acid (50mg/Kg) and dimetylsulfoxide (20mg/Kg), and six horses (group C) were 
treated with ringer lactate solution in same volume. The treatments were performed at 1h after the 
beginning of ischemia and glutamine was also administred at 6h after reperfusion, when the other groups 
received ringer lacatate solution. Intestinal samples were collected before the onset of ischemiaand at 2h 
of ischemia and, in at 2 and 12h of reperfusion for histopatological analyses, ultrastructural examination, 
measurement of area and number of villus per mm2, myeloperoxidases activity and tumor necrosis factor 
alpha (TNF-σ) and granulocytes chimiotaxic protein 2 (GCP-2) expression analysis. After 12h of 
reperfusion samples of lungs, kidney, spleen, heart, pancreas, liver and lamellar corium tissue were also 
collected for histopatological and MPO evaluation. There were no statistical differences between groups, 
therefore, along the time in groups T1 and T2 in venous ischemia segment, the mucosal erosion at 12 of 
reperfusion and hemorrhage at 2h of reperfusion were statistical lower. It was concluded that the 
treatments attenuated the mucosal erosion and hemorrhage caused by ischemia and reperfusion in jejune 
under complete venous obstruction in equine. 
 
Keywords: equine, intestinal obstruction, hydrocortisone, pentoxifylline, dimetylsulfoxide, ascorbic acid, 
glutamine. 
 
 
 15
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A síndrome cólica é uma das afecções de maior 
prevalência em eqüinos podendo acarretar 
prejuízos significativos devido ao custo elevado 
do tratamento e a possibilidade de óbito. As 
cólicas podem ser causadas por vários 
mecanismos, sendo as obstruções responsáveis 
por 56% de sua ocorrência, com taxas de óbito 
de 21 e 76%, quando simples ou estrangulantes, 
respectivamente (White, 1990). As obstruções 
comprometem a circulação intestinal podendo 
acarretar lesões teciduais que se perpetuam 
durante a reperfusão, mesmo em segmentos 
distantes à lesão (Rio Tinto et al., 2000). 
 
As lesões teciduais decorrentes das obstruções 
são iniciadas pela hipóxia, a qual desencadeia 
uma série de eventos fisiopatológicos 
seqüenciais e interdependentes. Com a 
reoxigenação após a correção cirúrgica, as lesões 
geradas pela hipóxia se agravam, aumentando a 
resposta inflamatória inicial, o que pode 
ocasionar uma reação sistêmica e possibilidade 
de disfunção em múltiplos órgãos. Devido à 
complexidade desses eventos, os fármacos mais 
indicados são aqueles que possuem diferentes 
mecanismos de ação ou, ainda, que se faça uso 
de uma associação de fármacos com funções 
distintas ou complementares. Em eqüinos, 
estudos avaliando a eficácia de associações 
terapêuticas são escassos e aqueles avaliando 
agentes isolados apresentaram resultados pouco 
satisfatórios ou limitados (Freeman et al., 1988; 
Horne et al., 1994; Moore et al., 1995; Rio Tinto, 
1999; Abreu, 2003). 
 
Os objetivos gerais deste trabalho foram de 
avaliar os seguintes aspectos: as alterações 
teciduais subseqüentes às obstruções simples e 
estrangulativas no jejuno; a ocorrência de lesões 
em órgãos à distância em decorrência de 
obstruções intestinais e os mediadores 
inflamatórios envolvidos no desenvolvimento 
das lesões intestinais e em órgãos à distância. O 
objetivo específico foi avaliar o efeito da 
glutamina e da associação de succinato sódico 
de hidrocortisona, dimetilsulfóxido, pentoxifilina 
e ácido ascórbico no tratamento das lesões 
decorrentes de obstruções experimentais no 
jejuno de eqüinos. 
 
2. REVISÃO DE LITERATURA 
 
2.1. Obstruções intestinais e mecanismos de 
lesão tecidual 
 
As obstruções intestinais ocasionam um 
comprometimento do fluxo sangüíneo venoso 
e/ou arterial, o que acarreta graus variáveis de 
hipóxia. Tal situação inicia uma complexidade 
de múltiplos eventos simultâneos e 
interdependentes caracterizados por alterações 
vasculares e celulares que culminam em aumento 
da permeabilidade vascular e lesão tecidual com 
morte celular. A magnitude dessas alterações, 
bem como as camadas intestinais mais 
acometidas, varia de acordo com o tipo de 
obstrução concomitante. 
 
2.1.1. Alterações vasculares e celulares 
decorrentes de obstruções intestinais não 
estrangulativas 
 
Nas obstruções não estrangulativas de intestino 
delgado, a irrigação é comprometida pela 
distensão intraluminal (DIL) decorrente, 
principalmente, do acúmulo de líquido e gás 
(Faleiros, 2003). A DIL ocasiona a hipoperfusão 
arterial e venosa nas camadas mais externas do 
intestino e, em menor extensão, na mucosa e 
submucosa, razão pela qual as alterações 
observadas nessas são de intensidade menor 
(Dabareiner et al., 1993). 
 
A distensão experimental de jejuno com pressão 
de 25cm de H2O por duas horas em eqüinos, 
ocasionou uma redução na perfusão das camadas 
seromuscular, com formação de edema, 
infiltrado de neutrófilos na serosa e perda de 
células mesoteliais (Dabareiner et al., 1993). O 
edema ocorre devido ao aumento da pressão 
hidrostática capilar após elevação da pressão 
venosa que colabora para a dilatação de vasos 
linfáticos e colapso da parede das vênulas 
(Granger et al., 1980). Foram observadas 
também alterações morfológicas e separação das 
células endoteliais dos vasos da serosa com 
conseqüente aumento de permeabilidade vascular 
(Debareiner et al., 2001). Normalmente, não são 
observadas alterações no epitélio da mucosa 
intestinal (Faleiros, 2003). 
 
 
 
 16 
O intestino sob distensão intraluminal não possui 
alterações macroscópicas importantes, o que faz 
com que seja mantido no abdômen durante o ato 
operatório (Freeman et al., 1988). No entanto, as 
alterações celulares nas camadas externas do 
intestino podem ser de tal magnitude que levem à 
ocorrência de complicações no pós-operatório, 
como as aderências (Debareiner et al., 2001). 
 
 
2.1.2. Alterações vasculares e celulares decorrentes 
de obstruções intestinais estrangulativas 
 
As obstruções estrangulativas podem acometer a 
circulação venosa, arterial ou ambas. As alterações 
macroscópicas e microscópicas encontradas em 
casos de obstrução de ocorrência natural em 
eqüinos são mais semelhantes às produzidas 
experimentalmente por meio de obstrução venosa 
completa (OVC) do que pela obstrução arterio-
venosa (OAV) (Ruggles et al., 1993). Devido a esse 
fato, considera-se que a OVC possui uma 
importância clínica maior (Moore et al., 1995). 
 
Macroscopicamente, as obstruções estrangulativas 
por OVC ocasionam aumento mais acentuado do 
edema e hemorragia de mucosa, serosa e 
mesentério que a OAV. As alterações no 
mesentério colaboram para a ocorrência de seu 
encurtamento após 42 dias da obstrução (Freeman 
et al., 1988). Com relação às alterações 
microscópicas, as lesões de mucosa na OVC e 
OAV são semelhantes às 2 ou 12h de reperfusão e 
ocorrem predominantemente na extremidade dos 
vilos e, em menor extensão, nas criptas. No entanto, 
o edema e hemorragia na mucosa são mais 
acentuados na OVC (Freeman et al., 1988). 
 
 
2.1.3. Patofisiologia das obstruções intestinais 
 
Independente do tipo de obstrução que acomete o 
segmento intestinal, o resultado é a hipóxia 
(Vasconcelos, 2002). A diminuição da tensão de 
oxigênio inicia as lesões observadas durante a 
isquemia, que são posteriormente agravadas durante 
a reoxigenação subseqüente à correção cirúrgica 
(Fig. 1). Tais lesões são desencadeadas por dois 
eventos interdependetes: a inflamação e o estresse 
oxidativo, ambos presentes tanto na isquemia 
quanto na reperfusão. 
 
O oxigênio (O2) é necessário para a formação de 
trifosfato de adenosina (ATP) através da 
fosforilação oxidativa na mitocôndria. A 
diminuição do O2 cessa a produção de ATP, o que 
ocasiona a diminuição intracelular dessa molécula. 
Para manter a homeostase, a célula utiliza a 
glicólise anaeróbica, uma via alternativa de 
produção de ATP, ativada pelo aumento de 
monofosfato de adenosina (AMP). A glicólise gera 
ácido láctico e fosfatos inorgânicos, os quais 
diminuem o pH intracelular, inibindo a síntese de 
ATP (Moore et al., 1995). 
 
A diminuição de ATP intracelular prejudica o 
transporte ativo através da membrana mediado pela 
bomba de Na+/K+ ATPase, o que acarreta alterações 
na permeabilidade da membrana celular e 
conseqüente influxo de sódio e cálcio e efluxo de 
potássio. O aumento de sódio ocasiona a difusão de 
água para o interior da célula, resultando em edema,desintegração da mitocôndria, do retículo 
endoplasmático e ruptura de lisossomas com a 
liberação de enzimas contidas em seu interior 
(Pinheiro et al., 1999). O aumento de cálcio ativa 
certas enzimas, como as proteases, a fosfolipase A2 
(PLA2) e a calpaína. As proteases resultam lesão 
celular direta através da degradação da membrana 
celular, da cromatina e do citoesqueleto (Rowe e 
White, 2002). A PLA2 é necessária para a síntese 
de mediadores inflamatórios derivados de 
fosfolipídeos de membrana que irão ocasionar 
danos à célula já na isquemia (Pinheiro et al., 
1999). A calpaína realiza a conversão da xantina 
desidrogenase (XDH) em xantina oxidase (XO) 
durante a isquemia, mas a conseqüência desse 
evento nas lesões teciduais se inicia durante o 
período de reoxigenação (Moore et al., 1995). 
 
O aumento do cálcio iônico no citosol promove 
também o fechamento das junções gap, importante 
meio de comunicação intercelular por onde 
pequenas moléculas como o AMPc e o próprio íon 
cálcio transitam livremente. O AMPc é um segundo 
mensageiro em vários eventos celulares, realizando 
a ativação de proteínas responsáveis pela 
fosforilação de moléculas que atuam em eventos 
finais de proliferação, sobrevivência e diferenciação 
celular, assim como no metabolismo da glicose 
(Lodish et al., 2000). O íon cálcio colabora para a 
peristalse intestinal estimulando a contração 
harmônica da musculatura lisa via junções gap. A 
atonia pode ocorrer mesmo quando há aumento 
discreto de cálcio ou quando há queda do pH 
intracelular, ambas situações que ocorrem durante a 
hipóxia (Lodish et al., 2000). 
 
 17
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Esquema de eventos bioquímicos e celulares subseqüentes à hipóxia. 
(ATP – trifosfato de adenosina; XDH – xantina desidrogenase; XO – xantina oxidase; RLO– radical livre 
de oxigênio). 
 
Hipóxia 
ATP 
Glicólise anaeróbica 
↓ pH intracelular 
Inibição da bomba Na+/K+ ATPase 
↑ cálcio intracelular 
Ativação 
Fosfolipase A2 
Fechamento junções 
“gap” 
intercomunicantes 
Ativação 
calpaína 
Atonia intestinal 
Conversão da XDH a 
XO 
Formação de RLO 
após a reperfusão 
Liberação ácido 
araquidônico 
Lisofosfatidilcolina Fator de agregação 
plaquetária 
Prostaglandinas 
Tromboxanos 
Lipoxinas 
Leucotrienos 
Via das 
Ciclooxigenases 
Via das 
Lipoxigenases 
 18 
As células mais precocemente afetadas pela hipóxia 
sejam as células endoteliais e os leucócitos 
(Pinheiro et al., 1999). Quando expostas à hipóxia, 
as células endoteliais alteram seu citoesqueleto e 
suas formas, gerando pequenos poros intercelulares, 
o que determina um aumento da permeabilidade 
local, com conseqüente edema tecidual (Ogawa et 
al., 1990). O endotélio sob hipóxia produz as 
interleucinas 1 e 8 (IL-1 e IL-8), fator de necrose 
tumoral alfa (TNF-σ) e fator de agregação 
plaquetária (PAF), o que favorece a migração, 
adesão e ativação de leucócitos e aumento da 
permeabilidade vascular (Faller, 1999; Michiels et 
al., 2000). A hipóxia também induz a expressão da 
ciclooxigenase-2 (COX-2) via ativação do fator de 
transcrição nuclear kappa beta (NF-κβ) pelas 
células endoteliais (Michiels et al., 2000). A COX-2 
irá gerar tromboxanos e o NF-κβ codifica a 
transcrição de genes que culminam com a formação 
e liberação de citocinas (Tab. 1). 
 
A hipóxia também afeta de maneira significativa a 
integridade das células epiteliais que recobrem a 
mucosa intestinal. Essas células possuem uma taxa 
metabólica alta, o que faz com que sejam bastante 
sensíveis à hipóxia (Moore, 1997), sofrendo todas 
as alterações celulares já descritas decorrentes da 
depleção de ATP, as quais ocasionarão a morte 
celular (Rowe e White, 2002). Esse efeito inicia na 
extremidade das vilosidades, progredindo em 
direção às criptas quanto mais prolongado for o 
período de hipóxia. A lesão do epitélio intestinal 
estimula células epiteliais adjacentes a produzir 
citocinas que irão aumentar o recrutamento de 
neutrófilos e a permeabilidade vascular, 
colaborando para a intensificação das lesões 
(Blikslager et al., 2007). 
 
Durante a hipóxia, a ativação da PLA2, além de 
lesar a célula por hidrólise de fosfolipídeos de 
membrana, também libera o ácido araquidônico, um 
constituinte da membrana celular, e regula a 
formação de lisofosfolipídeos como a 
lisofosfatidilcolina e o PAF (Moore et al., 1995) 
(Fig. 1). O ácido araquidônico é um substrato para 
síntese de eicosanóides, substâncias que atuam 
como mediadores inflamatórios. A partir do ácido 
araquidônico, pela via da enzima ciclooxigenase, 
são produzidos prostaglandinas e tromboxanos e, 
pela via da lipoxigenase, as lipoxinas e leucotrienos 
(Tab. 1). Essas substâncias irão ativar plaquetas, 
leucócitos, células endoteliais e moléculas de 
adesão, gerando vários eventos inflamatórios como 
aderência, quimiotaxia e degranulação de 
leucócitos, aumento da permeabilidade vascular, 
agregação plaquetária e produção de radicais livres 
(Rowe e White, 2006). A lisofosfatidilcolina, um 
surfactante de ocorrência natural no intestino, induz 
lesão de mucosa quando em altas concentrações, 
ocasionando aumento da permeabilidade intestinal 
a macromoléculas (Tagesson et al., 1985). O uso de 
inibidores da PLA2 na isquemia intestinal de ratos e 
felinos diminuiu a concentração de 
lisofosfatidilcolina e atenuou as lesões de mucosa 
(Otamiri et al., 1987, Otamiri et al., 1988). 
 
O PAF é derivado de fosfolipídeos de membrana 
pela ativação da PLA2 de vários tipos celulares, 
incluindo células endoteliais, plaquetas, neutrófilos 
e macrófagos. Entre suas ações estão o aumento da 
aderência, degranulação e produção de radicais 
superóxido pelos neutrófilos e aumento da 
permeabilidade vascular (Moore et al., 1995). O uso 
de antagonista da PAF diminuiu a aderência 
leucocitária e a permeabilidade vascular no 
intestino delgado de felinos sob isquemia e 
reperfusão (Kubes et al., 1990). Os leucócitos 
ativados, as plaquetas e as células endoteliais 
também secretam o PAF que, além de contribuir 
para os eventos celulares e circulatórios da 
inflamação, também induz a produção de outros 
mediadores pelas células inflamatórias locais 
(Moore et al., 1995). 
 
Além dos mediadores já citados, as citocinas e 
quimiocinas, outra classe de mediadores 
inflamatórios, também atuam simultaneamente no 
processo (Tab. 1). As citocinas são oriundas de 
leucócitos ativados durante o processo inflamatório, 
células endoteliais sob hipóxia e células epiteliais. 
As principais citocinas envolvidas são interleucina 
1e 6 (IL-1 e IL-6), o TNF-σ e o interferon gama 
(IFN-γ) (Michiels et al., 2000). As quimiocinas são 
estimuladas pelas citocinas e as principais são o IL-
8 e a proteína quimiotáxica para granulócitos 2 
(GCP-2) (CXCL6) (Feniger-Barish et al., 2000). 
Esses mediadores têm ação autócrina, parácrina e 
endócrina e colaboram para a quimiotaxia, 
degranulação e liberação de enzimas lisossômicas e 
radicais livres pelos leucócitos, além de aumento de 
cálcio no citosol nessas células, ativação da PLA2 e 
produção de eicosanóides (Cooper, 2000a) (Tab. 1). 
As citocinas também estimulam a produção da 
enzima óxido nítrico indutível (ONi), que produz o 
óxido nítrico (NO). O NO reage com os RLO 
formando o íon peroxinitrito, que ocasiona a 
peroxidação de lipídios de membrana e disfunção 
mitocondrial, colaborando para aumentar a 
destruição celular (Bellhorn e Macintire, 2004). 
 19
Tabela 1. Origem e mecanismo de ação das moléculas sinalizadoras acionadas durante o processo 
inflamatório gerado pela hipóxia e reoxigenação. 
Molécula Origem Mecanismo deação 
PAF Derivado da membrana 
lipídica de células lesionadas 
Aumento da permeabilidade vascular, agregação 
plaquetária 
PLA2 Aumento de cálcio 
intracelular 
Liberação do ácido araquidônico e formação de PAF e 
lisofosfatidilcolina 
LisofosfatidilcolinaPLA2 sobre os fosfolipídeos 
de membrana 
Lesão direta à membrana celular 
Ácido araquidônico Liberado da membrana 
celular de células endoteliais, 
leucócitos, plaquetas, 
mastócitos e células 
danificadas pelo PLA2 
Origina prostaglandinas e tromboxanos pela via das 
ciclooxigenases e lipoxinas e leucotrienos pela via da 
lipoxigenase 
Prostaglandinas Sintetizadas a partir do ácido 
araquidônico pela via das 
ciclooxigenases 
Principalmente a vasodilatação (prostaglandinas I2 e E2) 
Tromboxanos Sintetizados a partir do ácido 
araquidônico pela via das 
ciclooxigenases 
Agregação plaquetária e aderência de leucócitos ao 
endotélio 
Leucotrienos Sintetizados a partir do ácido 
araquidônico pela via das 
lipoxigenases 
Ativa células endoteliais e leucócito estimulando a 
quimiotaxia, degranulação e produção de RLO 
(especialmente o leucotrieno B4 – LTB4) 
Citocinas Derivadas de leucócitos 
ativados e células endotelias 
sob hipóxia 
Aderência de neutrófilos ao endotélio, proliferação, 
diferenciação e degranulação de neutrófilos (TNF-σ) e 
macrófagos (IFN-γ); aumento do cálcio intracelular em 
leucócitos, com subseqüente ativação de PLA2 e 
produção de eicosanóides; síntese de fibrinogênio e 
proteínas do complemento pelo fígado; proliferação de 
células inflamatórias pela medula. As citocinas mais 
importantes são TNF, IFN, e interleucinas. 
TNF-σ Leucócitos ativados e células 
endoteliais sob hipóxia 
Aderência, proliferação e degranulação de neutrófilos; 
formação de RLO; morte celular por apoptose 
IFN-γ Leucócitos ativados e células 
endoteliais sob hipóxia 
Aderência, proliferação e degranulação de macrófagos e 
formação de RLO 
Interleucinas 
(especialmente IL-1, 
IL-6 e IL-8) 
Leucócitos ativados e células 
endoteliais sob hipóxia 
Aderência, proliferação e degranulação de macrófagos e 
formação de RLO 
Óxido Nítrico Produzidos pela enzima ONi 
estimulada pelas citocinas e 
células endoteliais sob 
hipóxia 
Peroxidação de fosfolipídeos de membrana através do 
íon peroxinitrito gearado da reação do ON com os RLO; 
vasodilatação 
RLO Degranulação de neutrófilos 
e conversão da hipoxantina 
em ácido úrico e água pela 
enzima XO, durante a 
reoxigenação 
Peroxidação de fosfolipídeos de membrana, retículo 
endoplasmático e núcleo celular com subseqüente 
destruição celular; formação do íon peroxinitrito com o 
ON; formação do ácido hipocloroso e hidroxila 
Mieloperoxidase Degranulação de neutrófilos Formação do ácido hipocloroso a partir dos RLO 
COX-2 Células endoteliais sob 
hipóxia, ativação do ácido 
araquidônico em células 
lesionadas 
Síntese de prostaglandinas e tromboxanos 
NF-κβ Células endoteliais sob 
hipóxia 
Transcrição de genes que culminam na síntese e 
liberação de citocinas 
PAF – fator de agregação plaquetária; PLA2 – fosfolipas A2, TNF-σ – fator de necrose tumoral alfa; IFN-γ – interferon gama. TNF-
σ – fator de necrose tumoral alfa; IFN-γ – interferon gama; ONi- óxido nítrico indutivel; IL- interleucina; XO- xantina oxidase. 
RLO – radicais livres de oxigênio; COX-2 – ciclooxigenase 2; NF-κβ – fator de transcrição nuclear kappa beta 
Fonte: Flaherty e Weisfeldt, 1988; Michiels et al., 2000; Lodish et al., 2000; Cooper, 2000a. 
 
 
 
 
 20 
Adicionalmente, leucócitos e plaquetas também 
liberam aminas vasoativas, como histamina e 
serotonina, as quais irão aumentar mais a 
permeabilidade vascular. Leucócitos ativados 
também liberam proteases como as 
metaloproteinases, que destroem a matriz celular. 
As células inflamatórias também geram RLO, 
evento que ocorre durante a fagocitose, a partir 
de uma oxidase ligada a NADPH e o NO 
estimuladas pelas citocinas IL-1, TNF e IFN-γ. 
Os RLO produzidos pelos leucócitos podem 
gerar outros agentes oxidantes, como o ácido 
hipocloroso, cuja formação é mediada pela 
enzima mieloperoxidase em neutrófilos, ou 
radicais hidroxila, via reação de Haber-Weis, em 
macrófagos. O ácido hipocloroso, ao reagir com 
os RLO também forma o íon peroxinitrito, 
aumentando a destruição celular (Jones et al. 
1997) (Tab. 1). 
 
Durante a reoxigenação, no entanto, os 
mecanismos de lesão se ampliam especialmente 
pela formação de RLO mediada pela XO, 
convertida de forma irreversível por meio da 
calpaína a partir da XDH, durante a isquemia 
(Pinheiros et al., 1999). A XDH, normalmente 
presente na célula em homeostase, converte a 
hipoxantina, um subproduto da quebra do ATP, 
em ácido úrico e água para posterior excreção 
renal. A enzima XO também realiza essa 
conversão, no entanto, necessita do oxigênio 
como molécula aceptora de elétrons e, quando 
este é fornecido durante a reperfusão, formam-se 
como subprodutos os RLO, oxidantes com 
grande capacidade de lesão tecidual (Moore et 
al., 1995). Esses RLO gerados a partir da XO, 
além de aumentar a lesão celular também ativam 
a PLA2, estimulam a quimiotaxia de mais células 
inflamatórias, interagindo com seus subprodutos, 
como o NO derivado dos leucócitos (Flaherty e 
Weisfeldt, 1988). 
 
Os RLO envolvidos na lesão de reperfusão são o 
ânion superóxido (O2-), o radical hidroxila (OH-) 
e o peróxido de hidrogênio (H2O2) que, apesar de 
não ser um radical, participa da síntese de O2- e 
OH- (Flaherty e Weisfeldt, 1988; Cotran et. al., 
1994). Os RLO são caracterizados pela presença 
de um elétron não pareado na última órbita, o 
que lhes confere uma capacidade alta de reagir 
com qualquer constituinte bioquímico da célula, 
mas, especialmente, os lipídios do citoplasma e 
membrana celular, as proteínas estruturais ou 
enzimáticas e o ácido nucléico, resultando em 
lesão celular direta e irreversível (Flaherty e 
Weisfeldt, 1988; Pinheiro et al., 1999). A 
peroxidação lipídica gerada pelos RLO também 
promove a ativação da PLA2 durante o período 
de reoxigenação, aumentando ainda mais a 
síntese de eicosanóides, conforme mecanismo já 
exposto (Pinheiro et al., 1999) 
 
Durante a reoxigenação, os leucócitos também 
participam da lesão tecidual por meio das 
substâncias liberadas a partir de sua 
degranulação, muitas das quais são radicais 
livres. Os polimorfonucleares possuem a enzima 
nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato 
oxidase (NADPH-oxidase), capaz de reduzir o 
oxigênio, gerando o ânion superóxido (Pinheiro 
et al., 1999). Essas células também secretam a 
mieloperoxidase, enzima que catalisa a formação 
de ácido hipocloroso (HOCL), a partir da 
oxidação do íon cloro na presença de peróxido de 
hidrogênio (Jones et al., 1997). O HOCL reage 
com aminas, gerando as cloraminas, potentes 
oxidantes (Pinheiro et al., 1999). Os leucócitos 
também produzem enzimas proteolíticas, como 
elastase, colagenase e gelatinase, que participam 
da lesão tecidual e destruição da matrix 
extracelular (Jones et al., 1997). 
 
Adicionalmente, outro efeito já demonstrado 
após um período de hipóxia é a falência de 
reperfusão de determinados segmentos da 
microcirculação, gerando uma heterogeneidade 
na distribuição do fluxo sangüíneo e hipóxia 
tecidual focal. Esse fenômeno, denominado de 
não-reperfusão (no-reflow), constitui em um 
mecanismo de lesão tecidual adicional 
decorrente da reoxigenação (Reffelmann e 
Kloner, 2003). Entre as hipóteses para a 
ocorrência desse fenômeno está a compressão do 
leito capilar pelas células endoteliais e epiteliais, 
edemaciadas durante a isquemia. Também se 
considera a ocorrência da oclusão dos capilares 
por trombos, aglomerados de leucócitos, 
plaquetas ou hemácias, hemoconcentração e 
desequilíbrio entre substâncias vasoconstritoras e 
vasodilatadoras decorrentes do processo 
inflamatório (Pinheiro et al., 1999). 
 
Segundo o exposto, os eventos subseqüentes à 
hipóxia e reoxigenação são interdependentes e 
complementares e compreendem, em última 
análise, a uma resposta inflamatória tão intensa 
quanto maior o tempo de obstrução e o 
comprometimento circulatório decorrente. A 
 21
magnitude da reação inflamatória tecidual pode 
gerar uma inflamação generalizada 
caracterizando a síndrome da resposta 
inflamatória sistêmica(SIRS) que pode 
ocasionar a síndrome da falência de múltiplos 
órgãos (MODS) (Robertson e Coopersmith, 
2006). 
 
2.2. Mecanismos de lesão tecidual nas 
obstruções intestinais em eqüinos 
 
Embora não se conheçam os mecanismos 
responsáveis pela lesão intestinal decorrente das 
obstruções em eqüinos, alguns eventos, em casos 
clínicos e experimentais, já foram documentados. 
Clinicamente, as obstruções estrangulativas 
cursam com maior gravidade de lesões de 
mucosa concomitante à maior produção de TNF-
σ e menor taxa de sobrevida (Morris et al., 
1991). A principal fonte de TNF-σ são os 
leucócitos ativados e as células endoteliais sob 
hipóxia (Tab. 1). No entanto, a participação de 
neutrófilos na obstrução experimental em 
eqüinos possui resultados controversos. 
 
Conforme já exposto, os neutrófilos podem gerar 
citocinas, RLO e liberar enzimas proteolíticas 
durante a resposta inflamatória. No cólon maior 
submetido à isquemia de baixo fluxo em eqüinos, 
observou-se infiltrado de neutrófilos após 3h 
isquemia com aumento após 30min de 
reperfusão, no entanto, sem atividade detectável 
de mieloperoxidase (MPO) (Moore et al., 1994). 
No cólon menor de eqüinos submetidos à OAV 
observou-se aumento moderado de neutrófilos 
durante a isquemia, sem aumentos significativos 
durante a reperfusão (Faleiros, 1997). No cólon 
menor sob DIL, o infiltrado aumentou após a 
reperfusão (Faleiros, 2003). 
 
No jejuno de eqüinos submetido à isquemia 
venosa ou arterio-venosa sem reperfusão, não 
houve aumento no infiltrado de neutrófilos após 
3h (Sullins et al., 1985). No entanto, em modelo 
de isquemia semelhante, observou-se infiltrado 
de neutrófilos após 70min de isquemia com 
aumentos significativos após 60min de 
reperfusão (Dabareiner et al., 2001). Rio Tinto 
(1999) e Abreu (2003) também verificaram 
aumento do infiltrado de neutrófilos em jejuno 
submetido a OV e OAV, especialmente após a 
reperfusão. Em modelos de distensão 
intraluminal de jejuno, observou-se aumento de 
infiltrado de neutrófilos na serosa (Dabareiner et 
al., 2001). 
 
Outro mecanismo de lesão são os RLO que 
podem ser gerados também pela ação da enzima 
XO durante a reoxigenação. Em eqüinos, ocorre 
a conversão da XDH em XO durante a isquemia, 
principalmente no intestino delgado e em 
quantidades mínimas no cólon maior (Prichard et 
al., 1991; Moore et al., 1995). No entanto, ao se 
quantificar o melandialdeído, um marcador de 
lipoperoxidação de membrana, os resultados 
encontrados levam ao questionamento da 
importância dos RLO formados durante a 
reperfusão. Após 90min de isquemia venosa no 
jejuno, houve aumento desse marcador sem 
aumento de seus níveis após 90min de reperfusão 
(Law e Freeman, 1995). Também houve aumento 
do melandialdeído no cólon maior de eqüinos 
após 3h de isquemia concomitante à diminuição 
dos mecanismos antioxidantes (Moore, 1997). 
 
2.3. Lesões à distância decorrentes das 
obstruções intestinais 
 
As lesões à distância decorrentes das obstruções 
intestinais são associadas à ocorrência da 
resposta inflamatória sistêmica (SIRS). Para que 
a SIRS ocorra, é necessária que a resposta 
inflamatória seja de tal magnitude que a 
quantidade de mediadores inflamatórios gerados 
seja capaz de produzir alterações em órgãos à 
distância, podendo predispor à síndrome da 
falência de múltiplos órgãos (MODS) (MacKay, 
2003). Durante as obstruções intestinais ocorre a 
formação de diversos mediadores inflamatórios e 
RLO gerados conjuntamente pelas células 
endoteliais, leucócitos ativados e células 
epiteliais adjacentes à lesão que podem ser 
absorvidos via corrente circulatória ou linfática e 
predispor a SIRS (Robertson e Coopersmith, 
2006). Adicionalmente, a destruição da barreira 
do epitélio intestinal cria condições para a 
passagem de endotoxinas ou translocação 
bacteriana em altas quantidades para o sistema 
circulatório. Tais toxinas também promovem a 
formação de mediadores inflamatórios que irão 
contribuir para a SIRS e MODS (Bellhorn e 
Macintire, 2004). Atualmente, por meio da 
biologia molecular, é possível compreender 
melhor o mecanismo fisiopatológico desses 
eventos. 
 
 22 
A endotoxina, constituída quimicamente por 
lipopolissacarídeos (LPS), é um componente 
estrutural da membrana de bactérias gram-
negativas, normalmente residentes e mantidas no 
lúmen intestinal pela barreira da mucosa 
constituída de células epiteliais e suas secreções, 
além da microbiota residente (Moore e Barton, 
1998). Fisiologicamente, uma quantidade 
mínima de endotoxinas chega à circulação 
sangüínea, mas rapidamente é removida pelas 
células de Kupffer. No entanto, em situações de 
desequilíbrio da microbiota intestinal ou 
destruição das células epiteliais, como nos casos 
de isquemia e reperfusão (I/R) por obstrução 
estrangulativa no intestino, a quantidade de 
endotoxinas que atingem a circulação aumenta 
exponencialmente, gerando uma resposta 
inflamatória sistêmica (Moore e Barton, 1998). 
 
Quando na corrente circulatória a endotoxina 
liga-se rapidamente a proteínas presentes no 
plasma chamadas de proteínas ligantes de LPS 
(LBP – lipopolysaccharide biding portein), 
sintetizadas pelo fígado, que possuem alta 
afinidade pela porção lipídica A da endotoxina. 
O complexo LBP-endotoxina liga-se ao receptor 
CD14, presente na membrana de monócitos, 
macrófagos e células de Kupffer (Moore e 
Barton, 1998). O CD14 também possui uma 
forma solúvel no plasma que igualmente liga-se 
ao complexo LBP-endotoxina para apresentá-lo a 
células que não possuem o CD14 em sua 
membrana, como as células endoteliais (Moore, 
2003). Após a ligação do complexo LBP-
endotoxina ao receptor CD14, inicia-se uma 
seqüência de eventos de sinalização intracelular 
transmitidos por receptores chamados de TLR 
(Toll-like receptor), dos quais o TLR-4 é o mais 
estudado em caso de endotoxemia (Johnson et 
al., 2004). Esses receptores, envolvidos nos 
eventos gerados pela endotoxemia, também o são 
na SIRS e na MODS (Bryant, 2003). 
 
Os TLR são receptores de membrana existentes 
em macrófagos, neutrófilos e células epiteliais do 
intestino e pulmão, capazes de reconhecer 
padrões moleculares associados à patógenos 
como os lipopolisacarídeos (LPS). Ao 
reconhecer esses padrões, o TLR liga-se a eles 
por meio das proteínas CD14 e MD2, também 
presentes na superfície celular (MacKay, 2003). 
Após a ligação, ocorre a ativação de uma via de 
sinalização intracelular que, via proteínas-kinase 
como a IRAK-4 (interleucin-4 receptor 
assocated kinase), realiza a fosforilação do 
chamado IKB (fator de inibição kappabeta) que 
ativa o fator nuclear kappa beta (NF-κβ). Após a 
ativação do NF-κβ, este migra para o núcleo 
onde será responsável pela ativação de uma 
seqüência de genes que codificam alguns 
mediadores inflamatórios, entre os quais estão o 
TNF-σ, a COX-2, as interleucinas, a 
lisofosfatidilcolina, o PAF e fatores de 
coagulação e fibrinólise (Moore e Barton, 1998; 
Moore, 2003) O TLR-4, também induz a 
produção de oxido nítrico sintase indutível 
(iNOS) (Bryant, 2003). Portanto, após a ativação 
da via de sinalização gerada pela ligação no 
receptor TLR4, ocorre a síntese de mediadores e 
ativação de células inflamatórias, alteração da 
permeabilidade vascular e formação de RLO 
(Robertson e Coopersmith, 2006). 
 
O mecanismo supracitado refere-se ao sistema 
imune inato. O sistema imune adaptativo 
interage e se integra ao inato, o que ocorre por 
meio das citocinas liberadas após a ativação do 
TLR-4. Essas citocinas irão atuar em células 
dendríticas que irão se ligar a antígenos e ativar 
os linfócitos T e B. As células T, depois de 
ativadas, irão gerar mais citocinas, aumentando 
ainda mais a resposta inflamatória. 
 
A SIRS pode desencadear a MODS por meio da 
resposta inflamatória gerada e os subprodutos da 
degranulação de leucócitos. Adicionalmente, as 
lesões remotas e a MODS têm sido associadas à 
ocorrência de morte celular por apoptose 
mediada pelas citocinas e RLO gerados na SIRS 
(Papathanassoglouet al., 2000). 
 
A apoptose mediada pelas citocinas está 
relacionada especialmente ao TNF-σ que dispõe 
de receptores de apoptose em várias células do 
organismo. Os receptores que se ligam ao TNF-σ 
para indução da apoptose chamam-se Fas. Após 
a ligação ao receptor, inicia-se uma seqüência de 
sinalização intracelular que ativa uma série de 
proteínas. A caspase 8, quando ativada, ativa 
outras caspases e realiza a clivagem de uma 
proteína chamada Bid, da família BCL-2. A Bid 
ativada direciona-se à membrana mitocondrial 
rompendo-a e liberando o citocromo C. Esse, 
após liberado no citosol, irá ligar-se à moléculas 
pró-apoptóticas formando o complexo citocromo 
C/apaf-1/Caspase 9. Esse complexo inicia a 
ativação de outras caspases que culminam com a 
apoptose (Papathanassoglou et al., 2000). 
 23
A indução da apoptose a partir dos RLO pode 
ocorrer a partir de sua ação na peroxidação de 
fosfolipídeos de membrana. Os RLO destroem a 
membrana plasmática e também a mitocondrial, 
liberando, assim, o citocoromo C para o citosol, 
o qual irá ativar a apoptose via formação do 
complexo citocromo C/Apaf-1/Caspase 9, 
conforme anteriormente descrito (Cooper, 
2000b). 
 
Adicionalmente, considera-se outra possível via 
para a ocorrência da apoptose no 
desenvolvimento de lesões remotas e MODS. 
Nas células onde o receptor Fas está presente, 
pode haver liberação desse receptor para a 
corrente circulatória formando a chamada FasL 
solúvel. Essa liberação ocorre pela ação de 
metaloproteinases durante o processo 
inflamatório e pode constituir uma via de ação 
parácrina, uma vez que a FasL solúvel também é 
capaz de induzir apoptose à distância 
(Papathanassolglou et al., 2000). 
 
O órgão mais freqüentemente afetado em 
decorrência da SIRS e das alterações 
circulatórias no intestino é o pulmão (Nakagawa 
et al., 2008). Esse órgão é rico em receptores 
TLR e, além da possibilidade de 
desenvolvimento de lesão pela via hematógena, é 
o primeiro a ser exposto à linfa mesentérica, a 
qual pode conter citocinas e endotoxinas 
produzidas durante a I/R intestinal (Bellhorn e 
Macintire, 2004). Em condições experimentais, 
verificou-se que sofre aumento de 
permeabilidade vascular e da concentração de 
MPO após 30 minutos de reperfusão intestinal 
(Souza et al., 2000). Em eqüinos, a lesão 
pulmonar foi documentada 12h após a distensão 
intraluminal experimental de cólon menor com a 
presença de neutrófilos no parênquima pulmonar 
e aumento de MPO (Faleiros et al., 2008). As 
alterações em eqüinos, bem como em outras 
espécies estudadas foram atribuídas, 
especialmente, aos mediadores inflamatórios 
gerados pela I/R intestinal, entre os quais se 
destacam o TNF-σ, LTB4 e PAF (Souza et al., 
2000; MacKay, 2003; Faleiros et al., 2008). 
 
A laminite é uma alteração freqüentemente 
associada à afecções intestinais em eqüinos, 
podendo ter uma prevalência de até 25% em 
cólicas de ocorrência natural (Belknap e Moore, 
1989; Cohen et al., 1994). No entanto, a 
fisiopatologia ainda é controversa, mas 
atualmente, é atribuída especialmente à ativação 
das metaloproteinases do tecido laminar pelas 
citocinas geradas durante o processo inflamatório 
intestinal (Politt, 2007). 
 
2.4. Terapêutica das lesões de isquemia e 
reperfusão 
 
Devido à complexidade da fisiopatologia da 
isquemia e reperfusão, recomenda-se o uso de 
fármacos com várias ações terapêuticas ou, 
então, a terapia multimodal, a qual é constituída 
de agentes que atuam em diferentes mecanismos 
do complexo fisiopatológico (Rowe e White, 
2006). O tratamento deve objetivar a preservação 
da integridade celular e reduzir a formação de 
RLO, o acúmulo e migração de neutrófilos e a 
inflamação (White, 2006). 
 
Alguns agentes com propriedades de inibir a 
formação ou neutralizar os RLO, como o 
alopurinol e a superóxido desmutase, quando 
utilizados isoladamente, foram ineficientes para 
atenuar as lesões decorrentes de I/R em eqüinos 
(Horne et al., 1994; Johnston et al., 1991). No 
entanto, o alopurinol, em associação com outras 
substâncias constituintes de uma solução 
utilizada em transplantes chamada de “Carolina 
Rinse”, auxiliou na atenuação de lesões 
decorrentes de I/R intestinal (Young et al., 2002). 
 
A solução de “Carolina Rinse” é constituída de 
antioxidantes (alopurinol, glutationa e 
desferroxamina), substratos de ATP (glicose e 
frutose), bloqueador de canais de cálcio 
(nicarpidina) e vasodilatador (adenosina) em pH 
6,5. Recentemente, seu uso em isquemia de 
baixo fluxo no jejuno de eqüinos atenuou as 
lesões circulatórias e o infiltrado de neutrófilos 
(Van Hoogmoed et al., 2001; Van Hoogmoed et 
al., 2002). No entanto, foi parcialmente efetiva 
no jejuno submetido à distensão (Young et al., 
2002) e não pode ser administrada 
sistemicamente, o que limita seu uso em lesões 
intestinais extensas (White, 2006). 
 
O dimetil sulfóxido (DMSO) é um 
antiinflamatório com ação de neutralização de 
radicais superóxido, estabilização de membranas 
lisossomais, inibição da quimiotaxia de 
neutrófilos, da agregação plaquetária e da 
proliferação de fibroblastos (Brayton, 1986). 
Apesar de ser empregado amplamente em 
eqüinos com cólica (Moore e Bertone, 1992), o 
 24 
DMSO possui resultados controversos e 
limitados quando avaliado experimentalmente 
em casos de I/R em eqüinos. Na dose 
comumente utilizada, 1g/Kg/IV, possui meia 
vida biológica de até 9h (Plumb, 2002). Nessa 
mesma dose, em modelo experimental de 
isquemia arteriovenosa de jejuno, não atenuou a 
lesão de mucosa (Arden et al., 1990; Horne et al., 
1994). No entanto, recentemente, a 
administração de 20mg/Kg diminuiu a 
ocorrência de aderência pós-operatória em potros 
submetidos a isquemia arteriovenosa em jejuno e 
íleo (Sullins et al., 2004) e atenuou danos à 
microvasculatura, além de diminuir o infiltrado 
de neutrófilos no jejuno submetido à isquemia de 
baixo fluxo (Dabarainer et al., 2005). No entanto, 
nesse último modelo, as alterações de mucosa 
foram ausentes, ocorrendo, apenas, alterações 
vasculares, motivo pelo qual os autores 
sugeriram a avaliação da dose utilizada em 
modelos de isquemia completa, onde os danos ao 
intestino são mais acentuados (Dabarainer et al., 
2005). 
 
A pentoxifilina (PTX) é um derivado da 
metilxantina que possui propriedades 
hemorreológicas caracterizadas por melhorar o 
fluxo sangüíneo e a deformidade eritrociátiria, 
inibir a agregação plaquetária e reduzir a 
viscosidade do sangue em condições patológicas 
(Abreu, 2003). Em situações experimentais, 
verificou-se que a PTX inibe a XO, neutraliza os 
radicais superóxido e hidroxila e a atividade da 
PLA2, o que resultou em diminuição do infiltrado 
de neutrófilos e da produção de TNF-σ (Mandel, 
1995). Adicionalmente, constatou-se que a PTX 
induz a formação endógena de prostanglandina 
E2 (PGE2), para a qual se atribuiu a sua ação 
citoprotetora (Aslan et al., 2001). Em eqüinos, a 
meia vida biológica da PTX é variável (Plumb, 
2002), mas em modelos de obstrução venosa de 
jejuno na espécie, esse agente atenuou a 
hemorragia de mucosa e o edema de submucosa 
e resultou na recuperação mais precoce da 
mucosa após 12h de reperfusão (Abreu, 2003). 
 
O succinato sódico de hidrocortisona (SSH) é um 
glicocorticóide de rápido início de ação e meia-
vida biológica de aproximadamente 12h, sendo 
30 vezes mais potente que a dexametasona 
(Plumb, 2002). Em modelos de isquemia 
arteriovenosa e venosa de jejuno em eqüinos, 
colaborou para o reparo mais precoce da mucosa, 
mas não reduziu a hemorragia e o infiltrado de 
neutrófilos na mucosa e submucosa e o edema de 
submucosa (Rio Tinto, 1999). No entanto, em 
modelo de distensão de cólon maior, o SSH 
reduziu a hemorragia, o infiltrado de neutrófilos 
e o edema de serosa durante a reperfusão 
(Faleiros, 2003). 
 
O ácido ascórbico (AA) é uma substância 
envolvida no reparo de muito tecidos e na 
formação do colágeno, além da manutenção da 
integridade vascular e da função imune (Plumb, 
2002). Também é um neutralizadorde radicais 
superóxido e peróxido de hidrogênio, auxiliando 
na preservação das concentrações intracelulares 
de glutationa (Lee et al., 2006). Em suínos, o AA 
melhorou a hemodinâmica e diminuiu o estresse 
oxidativo, a inflamação e a fibrose após isquemia 
renal (Chade et al., 2003). Em modelos de 
isquemia e reperfusão intestinal em coelhos, o 
AA atenuou o edema e a hemorragia das 
camadas submucosa e muscular (Byrka-
Owczarek et al., 2004). Em eqüinos, após a 
administração intravenosa, o AA possui ampla 
distribuição sistêmica e uma meia vida biológica 
é de até 17h (Löscher et al., 1984). Na literatura 
consultada não foram encontrados estudos 
avaliando seus efeitos em eqüinos portadores de 
I/R intestinal. 
 
Recentemente, a glutamina tem sido utilizada em 
situações experimentais em cobaias e em 
condições clínicas em humanos com resultados 
satisfatórios na atenuação e recuperação de 
lesões intestinais devido às suas várias ações 
terapêuticas. A glutamina é um aminoácido 
presente em altas concentrações no sangue e nas 
células musculares e intestinais, sendo a 
principal fonte energética para enterócitos 
(Lopes-Paulo, 2005; Thomas et al., 2005). A 
glutamina também participa do crescimento e 
atividade de fibroblastos e linfócitos e modula a 
resposta das células intestinais no estresse 
oxidativo e na inflamação, além de inibir a 
apoptose induzida pelo TNF-σ em enterócitos 
(Fuchs e Bode, 2006). Em pacientes portadores 
de afecções graves, as concentrações de 
glutamina na circulação diminuem devido ao 
aumento da demanda desse nutriente pelos 
tecidos. Nesses pacientes, a diminuição da 
glutamina possui uma correlação positiva com a 
mortalidade, sendo sua suplementação benéfica, 
o que a torna um aminoácido essencial nesses 
casos (Lopes-Paulo, 2005). A suplementação de 
glutamina foi eficaz na restauração da mucosa 
 25
intestinal e na cicatrização cutânea em humanos 
portadores de queimaduras e, em condições 
experimentais, na lesão e reperfusão intestinal, 
hepática e periférica em ratos (Harward et al., 
1994; Peng et al., 2004; Jia et al., 2006; Omata et 
al., 2007; Murphy et al., 2007; Szijártó et al., 
2007). Em eqüinos, é utilizada como suplemento 
nutricional para atletas (Harris et al., 2006). Não 
foi encontrada, na literatura consultada, 
referência de seu uso em animais portadores de 
afecções intestinais. 
 
3. MATERIAL E MÉTODOS 
 
3.1. Animais e anestesia 
 
O presente experimento teve a aprovação do 
Comitê de Ética em Experimentação Animal 
(CETEA) da Universidade Federal de Minas 
Gerais, com protocolo de número no144/2004. 
 
O experimento foi realizado em parceria entre a 
Escola de Veterinária da Universidade Federal de 
Minas Gerais (EV-UFMG) e o Eqüicentro da 
Pontifícia Universidade Católica de Minas 
Gerais (PUC-MG) - Campus Betim. Foram 
utilizados 18 eqüinos, sem raça definida, com 
idade entre 4 e 12 anos, peso corporal médio de 
297,4 ± 32,4Kg e escore entre 3 e 4 (escala de 1 
a 5, segundo Spiers, 1995). Os animais foram 
vermifugados e alimentados por 15 dias com 
feno à vontade e, anterior à cirurgia, pesados e 
avaliados por meio de exames clínicos e 
laboratoriais constituído de hemograma 
completo. 
 
Após jejum de 12h, os eqüinos receberam 
6,6mg/Kg/IV de gentamicina1 e 20.000UI/Kg/IM 
de penicilina procaína2 e foram posteriormente 
pré-medicados com midazolam3 (0,15mg/kg/IV) 
e éter gliceril guaiacol4 (100mg/kg/IV). Após o 
decúbito lateral, os animais foram intubados pelo 
método de rotina. A indução e manutenção 
anestésicas foram feitas com isofluorano5 
volatilizado em 15mL/kg/min de oxigênio via 
 
1 Gentocin. Shering-Plough Saúde Animal Indústria e 
Comércio Ltda. Cotia, SP. 
2 Despacilina 400.000UI. Bristol Myers Squibb S.A. São 
Paulo, SP. 
3 Dormire. Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos 
Ltda. Itapira, SP. 
4 Éter Gliceril Guaiacol. Farmos Comércio e Indústria Ltda. 
Rio de Janeiro, RJ. 
5 Florane. Laboratório Abbott. Rio de Janeiro, RJ. 
sonda orotraqueal através de aparelho de 
anestesia, com vaporizador compensado em 
circuito semifechado. 
 
Como fluidoterapia durante o trans-cirúrgico 
utilizou-se a solução de ringer lactato em 
velocidade de infusão de 10mL/Kg/h, sendo 
aumentada para 12,5mL/Kg/h durante o período 
do tratamento, que iniciou ao final de 1h de 
isquemia e durou até o início da reperfusão. A 
pressão arterial média foi avaliada pelo método 
invasivo com catéter na artéria facial e mantida 
entre 70 e 100mmHg, sendo realizada a 
administração de dobutamina6 (1 a 5mcg/kg/min) 
diluída em solução de ringer lactato, quando 
necessário. A concentração de CO2 ao final da 
expiração (ETCO2) foi avaliada por capnografia 
e mantida entre 35 e 50mmHg por respiração 
controlada. 
 
3.2. Lesão experimental 
 
Sob anestesia geral, foi procedida uma 
celiotomia mediana pré-umbilical de 
aproximadamente 40cm, por onde foi feita a 
exposição do jejuno, onde foram demarcados 
dois segmentos de 40cm cada. O primeiro 
submetido à modelo de obstrução com isquemia 
venosa completa (IVC), localizava-se a um 
metro, em sentido oral, do início da prega íleo 
cecal. O segundo, submetido à modelo de 
obstrução com distensão intraluminal (DIL), 
situava-se um metro distante do primeiro, 
também em sentido oral. 
 
Para instrumentar a IVC no jejuno, foram 
realizadas ligaduras murais nas extremidades dos 
segmentos demarcados, utilizando-se drenos de 
penrose no 3 envolvendo externamente toda a 
circunferência intestinal, com o propósito de 
ocluir a irrigação mural e os vasos paralelos à 
borda mesentérica. Realizaram-se também 
ligaduras nos ramos das veias mesentéricas, 
utilizando-se drenos de penrose no 1 (Rito Tinto, 
1999). Após a instrumentação, a circulação 
arterial adjacente às ligaduras foi avaliada por 
meio de dopplerimetria para assegurar-se de sua 
presença após o preparo do segmento. 
 
Para o segundo modelo, a DIL foi realizada 
infusão intraluminal de solução de NaCl 0,9% 
aquecida a 37ºC em um segmento isolado por 
 
6 Dobutrex. Hipolabor Farmacêutica. Belo Horizonte, MG. 
 26 
ligaduras completas murais, como anteriormente 
descrito. A solução foi injetada via sonda uretral 
nº 8, introduzida no lúmen através de 
enterotomia em segmento adjacente. A sonda foi 
acoplada externamente a um frasco com solução 
de NaCl 0,9% e a um manômetro aneróide por 
meio de uma torneira de três vias. A pressão no 
lúmen intestinal foi mantida em 25cmH2O por 
todo o período de obstrução (Dabareiner et al., 
2001). 
 
Após a instrumentação, os segmentos 
experimentais do jejuno foram mantidos 
obstruídos por 2h quando as ligaduras e sondas 
foram retiradas e os animais mantidos em 
anestesia durante as 2h iniciais de reperfusão 
desses segmentos. Durante todo o período de 
obstrução e reperfusão, os segmentos foram 
mantidos dentro do abdômen. Após esse tempo, 
a anestesia foi interrompida e a recuperação 
anestésica foi permitida. 
 
Imediatamente ao final da anestesia, os animais 
receberam 0,05mg/kg/IV de butorfanol1 a cada 
4h, com intuito de manter a analgesia. Após a 
recuperação anestésica até o período de 12h de 
reperfusão, os eqüinos foram mantidos em baias 
desprovidas de cama, em jejum hídrico e 
alimentar. Doze horas após a desobstrução 
intestinal, os animais foram sedados com 
xilazina2 (1mg/kg/IV) e acepromazina3 
(0,1mg/kg/IV), e induzidos à anestesia geral com 
tiopental4 (3mg/kg/IV), procedendo-se, então, a 
eutanásia por infusão intravenosa de solução 
saturada de sulfato de magnésio. 
 
3.3. Grupos experimentais 
 
Os 18 eqüinos foram distribuídos ao acaso em 
três grupos experimentais – controle (C), 
glutamina5 (T1) e multimodal (T2) constituído 
pela associação de succinato sódico de 
hidrocortisona6, pentoxifilina7, ácido ascórbico8 e 
 
1 Torbugesic. Fort Dodge Saúde Animal. Campinas, SP. 
2 Sedazine. Fort Dodge Saúde Animal. Campinas, SP

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