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História das Relações Internacionais no Brasil e o Direito Internacional O que é política externa? ● Campo amplo das relações internacionais é constituído basicamente por três grandes subáreas: política internacional (grandes discussões da geopolítica, relação de poder entre dois ou mais Estados); relações transnacionais (todas aquelas que ocorrem entre um Estado e uma Organização não estatal/não governamental); política externa (busca compreender quais são as forças que condicionam a decisão dos países sobre como se relacionar com outros países). ● A política internacional pensa o macro – as grandes questões externas. ● A política externa pensa o interno, as dinâmicas políticas que nos levam a determinadas decisões no plano internacional. ● Busca compreender as motivações, as correlações de força e o processo que leva um país a se relacionar com outros países do mundo. ● O Estado não é uma entidade coerente. ● Representa a projeção dos interesses do Estado no plano internacional. ● Interesses do Estado? Interesse brasileiro/nacional? ● O que é interesse nacional? o Teorias de RI e como definem o interesse nacional: O Realismo político: Maquiavel, Thomas Hobbes. Teoria que diz que os Estados estão em permanente busca pelo poder. E que, essa busca se justifica pelo fato de que todo Estado quer sobreviver nesse sistema internacional, no qual estão permanentemente sob risco de ser engolido pelos outros. Hobbes – estado permanente de guerra de todos contra todos. O Estado precisa acumular algum tipo de poder para continuar existindo. Esse poder se traduz em três grandes pontos: poder militar (exército, bomba, poder nuclear; o poder militar é o que guia o relacionamento entre os Estados); poder econômico; soft Power – toda e qualquer manifestação de poder no campo da cultura, da ideologia. Não é um poder coercitivo, mas de sedução do outro. Ex: copa do mundo no Catar. o Liberalismo: defende que a relação de um Estado com outros Estados dependerá dos grupos de interesse dominantes dentro de um determinado momento da história. Exemplo: Coreia do Norte – a cúpula do poder é formada por militares, e é esse grupo que vai definir a maneira como o país lida com os outros. Analisa quem está no poder e qual o momento, para a partir disso tentar entender quais são as prioridades de política externa dos grupos que estão no poder. Tenta entender o Estado como uma correlação de forças que se alternam no poder. o Marxismo: reduz tudo ao fenômeno do capitalismo. A política externa não seria feita por Estados, mas pela burguesia de um determinado país, cujo interesse é o lucro. Ideia de que a política externa de um país é controlada pelas grandes empresas, pelo ganho de capital, pelo capital financeiro. *acaba sendo uma leitura muito reducionista sobre o que motiva um país a fazer política externa. o Construtivismo: tende a entender a política externa, o interesse nacional como o reflexo de certas identidades ou de certas questões culturais ou ideológicas que um país tem num determinado momento. Explica por que alguns países têm mais afinidade com outros, por questões culturais, políticas e de religião. ● Política externa se dedica a olhar o processo decisório por trás das decisões efetivas que acontecem no plano internacional. ● Política externa é a área particular da ação política dos governos de Russell (1990). Cada governo terá suas razões para fazer política externa. Não existe uma linearidade de Estado, muda conforme cada governo. ● Dentro dessa esfera existem três dimensões que se articulam: a diplomacia, a defesa militar estratégica, e dimensão do comércio e investimentos (econômica). ● O produto da decisão de um governo na área de política externa vai se projetar tanto sobre outros países (ex. política externa do Brasil para os EUA), mas também é possível falar em política externa para direitos humanos, para mudança climática (políticas externa para temas, normalmente, discutidos na ONU ou outras organizações). ● A política externa envolve uma rede complexa de relações. ● Política externa como produto de um governo. A política externa é uma política pública. Para fazer política externa é preciso lidar com dois interlocutores um de dentro e outro de fora. A demandas domésticas s]ao tão importantes quanto o país com quem está se relacionando. ● Singularidade do caso brasileiro: história da política externa brasileira peculiaridades: 1. Não existe a dimensão doméstica como uma dimensão relevante da nossa política externa (Brasil Império); 2. Nossa política externa historicamente evitou fazer uso da dimensão militar nas relações com os vizinhos (depois da Proclamação da República nunca mais foi feita uma guerra); 3. A nossa dimensão econômico comercial tão pouco foi prioridade na nossa política externa por muito tempo. ● Criou-se um monopólio da diplomacia. A política externa só se envolvia com a dimensão da política diplomática. ● Virtual monopólio do MRE sobre o campo da política externa. ● O Brasil é fruto de três tratados: Tratado de Tordesilhas, Tratado de Petrópolis 1903 (a capital do Acre é Rio Branco em homenagem ao Barão do Rio Branco, que participou da feitura desse tratado). ● Tese do Uti Possidetis – usucapião do direito internacional. Terras que haviam sido ocupadas pelos portugueses, e que não foram reivindicadas pelos espanhóis passam, de efeito imediato, a ser território português. Conceito de insulamento burocrático: é uma expressão utilizada quando se faz referência a um ministério ou a uma burocracia que se distanciam do processo político do dia a dia, e viram uma espécie de torre de marfim da tecnocracia. Exemplo: Itamaraty se descolou da política do dia a dia. ● Efeitos do insulamento burocrático do Itamaraty: ao longo dos últimos 100 anos o Brasil construiu uma política externa terrivelmente previsível e coerente. Não teve nenhuma grande quebra ou inflexão. ● Objetivos (busca por reconhecimento, desde o Império. “somos grandes demais para não sermos notados, mas não grande o suficiente para sermos levados a sério”), princípios (são os mesmos desde de Barão do Rio do Branco, defesa da soberania, resolução coletiva dos problemas, solução pacífica de controvérsias – diplomacia e pacifismo) e estratégias (americanismo – projetar-se no mundo a partir de relações privilegiadas com os EUA; universalismo – Jânio Quadros – política externa independente) da política externa brasileira. ● O Brasil buscou prestígio (soft power) antes de buscar as condições objetivas para ter poder. ● Política externa não pode ser um fim nela própria. Só funciona e só é bom se proporcionar desenvolvimento para o país. Nova República: ● Primeiro projeto liberal democrático do Brasil ● Redemocratização ● Brasil mais aberto politicamente e que precisa se inserir num mundo mais aberto economicamente. Estrutura da política externa brasileira: ● Hoje o presidente faz política externa à viagens para o exterior. O prestígio presidencial se sobrepôs ao prestígio nacional. ● Não é mais possível distinguir as duas coisas no dia a dia. ● Como se compreende a ideia de desenvolvimento. Promover o desenvolvimento envolve questões mais complexas. ● Princípios: autonomia (não é mais uma soberania rígida); multilateralismo; pacifismo; universalismo (era uma estratégia de PE e passou a ser um princípio/um valor). Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. ● Estratégia: integraçãoregional; participação (ser ativo nos debates sobre meio ambiente, direitos humanos, não proliferação nuclear); diversificação (ampliar o leque de parceiros bilaterais). ● Integração regional: criação do Mercosul – governo Fernando Henrique. Diversificação – governo Lula estabeleceu parcerias estratégicas com países longínquos do Brasil. Ampliou as relações do Brasil Governo Lula (2003-2010): ● A política externa do governo Lula foi maior do que o país era capaz de manter no longo prazo. ● O mundo estava animado com o fato de ter o brasil como uma potência emergente. ● Condições globais e domésticas: o Internamente: período de longa estabilidade política; políticas econômicas bem-sucedidas; grande aliança de classes (todos estavam ganhando dinheiro). o Externamente: o mundo estava muito propício à ascensão do Brasil. ● A política externa do Lula foi baseada em três D’s: diversificação (no plano bilateral; relação Estado-Estado; aumentou em 50% o número de embaixadas abertas no mundo); Desenvolvimento (no plano regional para evitar oposição entre os países da região era importante investir na integração regional; Paymaster *é o país que viabiliza economicamente a integração*); Democratização (plano multilateral). Governo Dilma (2011-2016) ● A política externa sumiu, e o Brasil sumiu do mapa das negociações internacionais. ● Condições globais e domésticas: o Internamente: protestos em massa; instabilidade política na coalizão governista; operação lava-jato e descoberta de esquemas de corrupção. Início da recessão econômica (2015,16 e 17) o Externamente: a questão mundial era completamente diferente. Início da primavera árabe (o Oriente médio era um dos principais investimentos do Brasil em termos de comércio); crise na África. Grande parte da estratégia de diversificação de parcerias que o Lula construiu começou a dar errado. A conjuntura geopolítica e econômica do mundo desfavoreceu o Brasil. ● Estratégia da política externa de Dilma: Desaceleração (em relação aos parceiros); Dogmatismo (principal cavalo de batalha do governo era colocar a Venezuela no Mercosul, mesmo que isso tenha violado as boas práticas das relações diplomáticas); Desprezo (no cenário internacional; falta de preocupação com as questões nacionais). ● Desastre em termos comerciais pela soma de fatores internos e externos, que jogou a economia brasileira na recessão, e detonou as bases do comércio internacional do Brasil. Michel Temer (2016-2018): ● Condições globais e domésticas: o Interna: 2% de aprovação popular e 80% de apoio no Congresso. Crises de corrupção. As reformas feitas garantiram a governabilidade no período. o Externa: foi entregue na mão de políticos (José Serra, Aloysio Nunes). Quem tocou efetivamente a política externa, nas questões relevantes para o governo, foi Henrique Meirelles (Min. Da Fazenda). ● Estratégia política do Temer: base pragmática e pendular (ao invés de focar num lado, ficou transitando entre polos antagônicos dentro dos polos de política externa). China e EUA (relação bilateral); Mercosul; Aliança do Pacífico; OCDE; BRICS; se equilibrou entre polos. Jair Bolsonaro (2019-2023): ● Extrema direita, muito similar ao Trump e que queria seguir o mesmo modelo de governo/comportamento. Ambos se apresentam como antissistema. ● Ruptura com a tradição diplomática. ● Parte da onda populista conservadora que estava varrendo o mundo. ● Condições globais e domésticas: o Internamente: desorganização interna das coalizões (ruralistas, militares, evangélicos, antiglobalistas todos querem coisas diferentes da política externa). Política externa se transformou na projeção de uma Guerra cultural contra os mediadores sociais tradicionais com o objetivo de construir uma imagem de direita. o Externamente: guerra tecnológica entre China e EUA; extrema polarização; crise venezuelana; pandemia. Governo isolado do mundo. ● Política externa populista: governou com apoiadores radicalizados, fazendo política por meio das redes sociais. Forma de comunicação direta, sem intermediários (característica populista). Buscava oferecer soluções fáceis para problemas complexos. Apelo direto às massas – política externa como extensão da política interna. Dinâmica amigo-inimigo à conspiração generalizada contra o Brasil. ● Anticomunismo (deixando de lado a integração); Antiglobalismo (contra a ONU e tudo que era internacional, interrompe as questões multilaterais); Nacionalismo religioso (relações apenas com países que partilhavam do mesmo ideal religioso – EUA (Trump), Israel, Hungria, Polônia, Índia, Rússia. ● Brasil passou a ser considerado como um pária no cenário internacional, principalmente, pela questão ambiental (Amazônia) e a COVID (visão negacionista) Política externa e o cenário eleitoral de 2022 ● Recuperar a imagem do Brasil no exterior. ● Extrema polarização Política externa novo governo Lula: ● Dimensão regional: recuperar os mecanismos de integração regional que foram abandonados. Aproveitar a nova “onda rosa” sul-americana (argentina, Bolívia, Chile e Colômbia) ● Dimensão multilateral: recuperar a liderança brasileira em temas multilaterais – meio ambiente, direitos humanos, saúde global. ● Dimensão global: cenário geopolítico complexo; antagonismo EUA X China, guerra Ucrânia X Rússia. Observações: ● O Estado hobbesiano é uma teoria política proposta pelo filósofo inglês Thomas Hobbes no século XVII. Segundo Hobbes, o estado natural dos seres humanos é caracterizado por uma guerra de todos contra todos, onde não há leis ou autoridades que possam garantir a segurança e a ordem. Para solucionar esse problema, Hobbes defendia a necessidade de um Estado forte e centralizado, que detivesse o monopólio do uso da força e garantisse a paz social através da imposição de leis e da proteção dos direitos dos cidadãos. Para Hobbes, o Estado hobbesiano deveria ser governado por um soberano absoluto, com poderes amplos e irrestritos, que fosse capaz de impor a ordem e a obediência dos cidadãos. Essa teoria do Estado teve grande impacto na política e na filosofia ocidental, influenciando diversas correntes de pensamento ao longo dos séculos. ● O soft power é uma expressão utilizada no contexto das relações internacionais para se referir ao poder de influência e persuasão que um país exerce sobre outros por meio de seus valores culturais, ideias, políticas e diplomacia. Diferente do hard power, que se refere à capacidade de um país impor sua vontade pela força militar ou econômica, o soft power busca conquistar a simpatia e cooperação dos demais países pela persuasão e pela atração exercida por sua cultura, ideias e comportamento. O conceito foi criado pelo cientista político Joseph Nye em 1990 e tem sido amplamente utilizado na análise das relações internacionais e na formulação de políticas de diplomacia cultural e pública por governos e organizações internacionais. ● A tese do uti possidetis é uma regra de direito internacional que estabelece que, ao término de um processo de independência ou de mudanças territoriais, as novas fronteiras serão definidas com base nos limites de posse que cada parte ocupava antes da mudança. Isso significa que cada parte ficará com aquilo que já controlava antes da separação ou mudança, a menos que haja um acordo em contrário. Essa tese é aplicada para evitar conflitos e promover a estabilidade na transição de poder e mudanças territoriais. ● O Tratado de Petrópolis foi um acordo assinado em 1903 entre o Brasil e a Bolívia que estabeleceu a transferência do território boliviano do Acre para o Brasil. Em troca, o Brasil concordou em pagar uma indenização financeira à Bolívia e assumiu o compromisso de construir uma ferrovia que ligaria o Acre ao oceano Atlântico. O tratado encerrou uma disputa territorial entre os dois países na região amazônica e abriu caminho para o desenvolvimento econômico da região do Acre, que era rica em borracha na época. ● O Tratado de Assunção é um acordo assinado em 1991 pelos países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguaie Uruguai) que estabeleceu as bases para a integração econômica entre esses países. O tratado prevê a livre circulação de bens, serviços e pessoas entre os países membros, a adoção de uma tarifa externa comum para os produtos importados de países não membros e a coordenação de políticas econômicas e comerciais. O objetivo principal do tratado é promover o desenvolvimento econômico e a competitividade dos países membros por meio da integração regional. Desde então, outros países da região se juntaram ao bloco como membros ou associados. ● A Guerra Cultural, na perspectiva das Relações Internacionais, é uma disputa ideológica e simbólica que ocorre entre Estados, organizações e grupos que buscam influenciar a cultura e os valores de outros países ou regiões. Essa disputa pode se manifestar em diversas áreas, como a arte, a educação, a religião e a mídia, e envolve a promoção de valores, ideias e estilos de vida específicos. Essa disputa pode ter implicações políticas, econômicas e sociais significativas, uma vez que a cultura pode ser usada como um instrumento para promover interesses políticos e econômicos, bem como para fortalecer a identidade nacional e regional. A Guerra Cultural pode ser uma estratégia utilizada para a projeção de soft power e para a construção de narrativas e imagens favoráveis àqueles que buscam influenciar a cultura de outros países. ● A "Nova Onda Rosa" é um termo utilizado para descrever o fenômeno político e social que vem ocorrendo em alguns países da América Latina, caracterizado pela eleição de governos progressistas e de esquerda que se identificam com a cor rosa. Esses governos geralmente se apresentam como defensores dos direitos sociais, da igualdade, da justiça e da participação popular, e tendem a adotar políticas que visam reduzir a desigualdade social e a pobreza, além de promover políticas sociais e programas de inclusão. A Nova Onda Rosa teve início na Venezuela com a eleição de Hugo Chávez em 1998 e se espalhou por outros países da região, como Bolívia, Equador e Argentina. Entretanto, essa tendência não é homogênea e tem enfrentado desafios e críticas em vários países. Indicação de leitura: ● Oswaldo Aranha e a política externa de Getúlio Vargas (1934-1944) - Jônatan Coutinho da Silva de Oliveira ● ASPECTOS DA VERTENTE INTERNACIONAL DO PENSAMENTO POLÍTICO DE RUI BARBOSA - Eugênio Vargas Garcia ● História da Política Exterior do Brasil - Amado Luiz CErvo, Clodoaldo Bueno
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