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Desenvolvimento, Autodeterminação e Latino-Americanismo na Política Externa Brasileira (1930-1961)

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60
Unidade II
Unidade II
5 DESENVOLVIMENTO, AUTODETERMINAÇÃO E LATINO‑AMERICANISMO (1930‑1961)
Vargas permaneceu no poder por 15 anos, primeiro como chefe de um governo provisório 
(1930‑1934), depois como presidente eleito pelo voto indireto (1934‑1937) e finalmente como ditador 
(1937‑1945). De 1930 a 1945, Vargas empreendeu uma gestão corporativista, articulando interesses das 
oligarquias, do empresariado industrial e dos militares, e executou uma política externa que, a princípio, 
priorizou a promoção comercial e, posteriormente, diante da Segunda Guerra Mundial, deu ao Brasil a 
oportunidade de barganhar com os Estados Unidos, do que veio a conquista da Usina de Volta Redonda.
Finda a Segunda Guerra Mundial e o Estado Novo, o Brasil se redemocratizou para, logo em seguida, se 
alinhar de forma especial com os Estados Unidos, sobretudo na gestão de Eurico Gaspar Dutra. Os governos 
que vieram depois dele não tiveram condições melhores de barganhar com os Estados Unidos e não foram 
protagonistas de políticas externas altivas. Daí, a partir de Juscelino Kubitscheck, a política externa brasileira 
se latinizou, sendo a maior expressão desse processo a Operação Pan‑Americana (OPA).
As expressões desenvolvimento, autodeterminação e latino‑americanismo são utilizadas para 
caracterizar a inserção brasileira nesse período. Sobre isso, Doratioto e Vidigal (2014, p. 58) explicam 
o seguinte:
Desenvolvimento, autodeterminação e latino‑americanismo estão relacionados 
[...] não como uma sequência temporal ou como acontecimentos com relações 
de causalidade, mas, ao contrário, como acontecimentos que, ao longo do 
período, coexistiram e apresentaram tão somente diferenças de ênfase. Se 
o desenvolvimento vinculado à política exterior foi mais visível durante a 
Segunda Guerra Mundial e à época da Operação Pan‑Americana (OPA), o 
latino‑americanismo foi mais relevante no governo Dutra, nas negociações do 
imediato pós‑guerra e também nos anos da OPA, enquanto a autodeterminação 
foi mais expressiva à época da Política Externa Independente (PEI). Tampouco 
eram unívocos: vários foram os latinos e pan‑americanismos, os perfis das 
políticas desenvolvimentistas e a maneira de se afirmar a autonomia do 
país. A partir da Revolução de 1930, e principalmente do Estado Novo, o 
desenvolvimento tornou‑se o vetor da política exterior brasileira.
Assim, durante todo o período que vai de 1930 a 1961, a inserção internacional do Brasil se deu 
através das relações com os Estados Unidos, ora marcadas por certo poder de barganha por parte 
do Brasil, ora caracterizadas por um alinhamento sem muitas recompensas. A opção de apelar para a 
identidade latino‑americana através da OPA com vistas a atrair a atenção dos Estados Unidos foi um 
tipo de estratégia que se afastou do perfil anterior de política externa e que conseguiu arrancar olhares 
estadunidenses, mesmo que sem muitos retornos.
61
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
É válido destacar que, nesse período, o Brasil conseguiu dar impulso ao seu processo de industrialização, 
ainda que às custas do capital estrangeiro e iniciando graves crises econômicas e financeiras, exacerbadas ao 
longo do período militar e só superadas a partir da segunda metade da década de 1990, com o Plano Real.
5.1 O governo varguista
Tudo aconteceu muito rápido. Os dissidentes das oligarquias de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, 
insatisfeitos com Washington Luís, que havia indicado para sucessor outro paulista, quebrando assim 
o acordo tácito entre paulistas e mineiros, formaram a Aliança Liberal e lançaram Getúlio Vargas para 
presidente contra a candidatura paulista de Júlio Prestes, que acabou vencendo as eleições, sabidamente 
fraudulentas (GARCIA, 2005).
Prestes chegou a visitar os Estados Unidos e a Europa nos meses de junho e julho, como candidato 
eleito, numa época em que a diplomacia presidencial ainda tinha pouco significado e nada mais era do 
que o cumprimento de um protocolo político (GARCIA, 2005).
Já no início de outubro, um movimento armado no Rio Grande do Sul se levantou contra o governo 
de Washington Luís e contra a eleição fraudulenta de Prestes. Os Estados Unidos, na tentativa de conter 
um golpe à democracia, enviaram um cruzador para a costa brasileira e decretaram embargo de armas e 
munições para os revolucionários. Ainda em outubro, no dia 24, Washington Luís foi deposto e uma junta 
provisória, formada por militares gaúchos, assumiu o poder, aguardando a chegada de Getúlio à capital, 
e divulgou nota afirmando o reconhecimento dos compromissos nacionais contraídos no estrangeiro, 
dos tratados, da dívida pública interna e externa e dos contratos vigentes. Em 3 de novembro, Getúlio 
tomou posse como presidente no episódio que ficou conhecido como a Revolução de 1930 e designou 
Afrânio de Melo Franco como chanceler (GARCIA, 2005).
A figura a seguir mostra Vargas e parte de sua comitiva (que era composta, no total, por três mil 
soldados) chegando à estação ferroviária de Curitiba para tomar o trem com destino a São Paulo e, na 
sequência, partir para o Rio de Janeiro, onde a junta militar o aguardava.
Figura 10 – Getúlio e sua comitiva
62
Unidade II
Depois disso, o governo de Vargas foi imediatamente reconhecido por muitos países, inclusive pelos 
Estados Unidos, que a princípio tentaram dificultar a Revolução de 1930:
Reconhecimento do novo governo pelo Peru (2 nov.); Chile, Bolívia, Itália, 
Portugal e Uruguai (6 nov.); Argentina, Áustria, Equador, EUA, Grã‑Bretanha, 
Suécia, Tchecoslováquia e México (8 nov.); Bélgica, Cuba, Colômbia e Santa 
Sé (9 nov.); Alemanha, França, Japão e Paraguai (10 nov.), entre outros países 
(GARCIA, 2005, p. 76).
Quando Vargas tomou posse, pôs fim à política do café com leite e iniciou uma gestão corporativista, 
ainda centrada na oligarquia cafeeira, mas também centrada nos militares e nos industriais, além de 
simpática em relação aos trabalhadores (FAUSTO, 2013).
A figura a seguir satiriza o fato de a chegada de Vargas ao poder ter significado o fim do revezamento 
entre oligarcas paulistas e mineiros na presidência da república, ou seja, o fim da política do café com leite.
Figura 11 – Charge
Ao tomar posse, o novo presidente iniciou a centralização política e econômica. Na seara 
política, Vargas assumiu os Poderes Executivo e Legislativo, dissolveu o Congresso, demitiu os 
governadores e nomeou interventores para substituí‑los, estabeleceu normas de subordinação dos 
estados federados ao poder central e limitou a área de atuação dos estados federados, que ficaram 
proibidos de (FAUSTO, 2013):
• contrair empréstimos externos sem autorização do governo federal;
• gastar mais de 10% do orçamento com investimentos na polícia militar;
• equipar militarmente as políticas estaduais ou armá‑las em proporção superior ao exército.
63
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Na seara econômica, Vargas centralizou a política cafeeira e, para tanto, criou o Departamento 
Nacional do Café. A partir da Crise de 1929, em virtude da qual as exportações de café caíram, 
Vargas teve de tomar uma série de medidas para sustentar o preço do café no mercado e, assim, 
evitar que a economia brasileira, baseada predominantemente na exportação desse produto, ruísse 
de vez (FAUSTO, 2013).
Sobre a política cafeeira, Fausto explica o seguinte:
Muitas das medidas tomadas por Getúlio no plano econômico‑financeiro 
não resultaram de novas concepções, mas das circunstâncias impostas 
pela crise mundial. Na área dos negócios cafeeiros, um decreto de fevereiro 
de 1931 estabeleceu que o governo federal compraria todos os estoques 
existentes no país em 30 de junho de 1931, ao preço mínimo de 60 
mil‑réis. Mas o problema de fundo subsistia: que fazer com as partes dos 
estoques atuais e futuros que não encontravam colocação no mercado 
internacional? A resposta surgiu em julho de 1931: o governo compraria 
o café com a receita derivada do imposto de importação [...] e destruiria 
fisicamente umaparcela do produto. Tratava assim de reduzir a oferta e 
sustentar os preços. Essa opção era semelhante às opções que levaram à 
eliminação da uva, na Argentina, ou à morte de rebanhos de carneiros, na 
Austrália. O esquema brasileiro teve longa duração, embora alguns de seus 
aspectos tenham sido alterados no correr dos anos. A destruição de café só 
terminou em julho de 1944. Em treze anos, foram eliminados 78,2 milhões 
de sacas, ou seja, uma quantidade equivalente ao consumo mundial de 
três anos (FAUSTO, 2013, p. 286).
A figura a seguir mostra sacas de café sendo queimadas na década de 1930.
Figura 12
64
Unidade II
 Observação
A prática de queimar o café para evitar a queda de seu preço respeita a Lei 
da Oferta e da Demanda, segundo a qual o excesso de oferta provoca a redução 
dos preços e a escassez de oferta provoca o aumento dos preços. Assim, a 
queima de estoques deixaria a oferta em um nível adequado, de modo que o 
preço se equilibraria.
Para os países desenvolvidos, a Crise de 29 foi pior. Ela abalou a economia dos Estados Unidos 
e também o frágil equilíbrio que existia no continente europeu, baseado na distensão entre 
França e Alemanha desde 1924. Hitler ascendera ao poder em janeiro de 1933 e, já em outubro, 
encolerizado pelos resultados da Conferência para o Desarmamento, se retirou dela e também da 
Liga das Nações, a exemplo do Japão, que já o havia feito em março daquele ano. A Crise de 29 
é tida, portanto, como um marco do reinício das hostilidades entre as potências europeias pouco 
antes dos eventos que levaram à Segunda Guerra Mundial (SARAIVA, 2007).
 Observação
Foi justamente nesse período de distensão, mais precisamente em 
1924, que a Alemanha logrou se juntar à Liga das Nações, episódio que 
simbolizou a retomada da tolerância mútua entre França e Alemanha.
Antes de retirar‑se da Conferência, Hitler tentou propor em algumas ocasiões a redução do 
armamento de todas as nações que participavam da Conferência, mas as potências se concentravam 
apenas no fato de que a Alemanha não podia se rearmar, pois o Tratado de Versalhes, que lhe fora 
imposto em 1919, proibia isso. Frustrado, Hitler abandonou a Conferência e não hesitou ao promover o 
rearmamento alemão (SARAIVA, 2007).
Mas voltemos ao plano doméstico. Vargas deu também passos importantes nas políticas trabalhistas 
e educacionais. A política trabalhista teve por objetivos principais reprimir os esforços organizatórios 
da classe trabalhadora urbana fora do controle do Estado, o que se deu pela repressão aos partidos de 
esquerda, sobretudo ao PCB, e atraí‑la para o apoio difuso do governo, o que se deu pela criação do 
Ministério do Trabalho, pelo enquadramento dos sindicatos e pela criação das Juntas de Conciliação e 
Julgamento (FAUSTO, 2013).
 Observação
O Dia do Trabalhador, comemorado em 1° de maio, foi criação do 
governo Vargas.
65
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
A política educacional foi liderada por Francisco Campos, autor da Reforma Campos, que estabeleceu 
um currículo seriado, o ensino em dois ciclos, a frequência obrigatória e a exigência de diploma de 
nível secundário para ingresso no ensino superior. Antes da Reforma Campos, praticamente não existia 
estabelecimento dedicado ao ensino secundário, salvo na forma de cursos preparatórios para ingresso 
nas escolas superiores (FAUSTO, 2013).
E, no que diz respeito à inserção internacional brasileira, a escalada de Vargas é considerada 
pelos historiadores brasileiros como um episódio de inflexão entre dois mundos: o da economia 
agroexportadora para a sociedade industrial. Essa mudança foi interpretada como a passagem do 
paradigma primário‑exportador para o paradigma desenvolvimentista, embora isso não deva ser 
encarado de forma rígida, já que o Brasil, até a primeira metade do século XX, era extremamente 
dependente das exportações de produtos primários, principalmente do café, que continuou constando 
da pauta de exportações brasileiras pelo menos até meados dos anos 1960, mesmo após a mudança de 
paradigmas (CERVO, 1994).
Em outras palavras, ainda que o Brasil tenha enfatizado menos o perfil de economia agroexportadora 
para investir no perfil de economia industrial, o comércio exterior e a busca de novos mercados para 
os produtos do agronegócio brasileiro persistiram. Ademais, essas primeiras medidas não podem ser 
interpretadas como comuns ao pensamento desenvolvimentista, pois ainda são reflexo da concepção 
estatal‑corporativista do momento em que Getúlio assumiu o poder (CERVO, 1994).
Além dos problemas com o café, havia o problema da dívida externa. Para resolvê‑lo, Oswaldo 
Aranha, então ministro da Fazenda, propôs uma alternativa que consistia na renegociação do conjunto 
da dívida, que foi reduzida de 91 milhões de libras para 34 milhões de libras e vinculada à balança 
de pagamentos, sem a necessidade de novo empréstimo, mas de modo que, para ser saldada, o país 
dependia de balanças comerciais superavitárias (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
 Observação
Oswaldo Aranha era o homem de confiança de Getúlio. Aliás, um dos 
poucos. Aranha foi ministro da Justiça, da Fazenda e das Relações Exteriores 
de Vargas, além de ter institucionalizado seus poderes discricionários, 
contido ameaças ao governo e angariado a simpatia dos Estados Unidos 
durante o Estado Novo.
Como o Brasil dependia de saldos na balança comercial, a promoção das exportações deveria ser 
prioridade do governo. Para promover as exportações e não depender apenas do Departamento de 
Serviços Comerciais do Itamaraty, o único órgão responsável pela promoção comercial àquela altura, 
Vargas priorizou os tratados com a cláusula de nação mais favorecida, segundo a qual a nação beneficiada 
teria garantidas vantagens comerciais, como redução de tarifas, que já haviam sido concedidas a um 
terceiro país. Assim, seguindo as recomendações da Sociedade das Nações no contexto da depressão 
econômica, Getúlio firmou, até 1933, acordos comerciais com a cláusula de nação mais favorecida com 
31 países (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tarifa
66
Unidade II
Sobre esses acordos, Doratioto e Vidigal (2014, p. 60) concluem que:
Até 1933, foram assinados 31 acordos comerciais com a cláusula incondicional 
e ilimitada de nação mais favorecida, que, em sua maioria, não foi seguida pelos 
parceiros comerciais do país, o que levou à denúncia da maioria de acordos 
firmados com países europeus. Os resultados obtidos com esses acordos foram 
tímidos, mas a política de proteção ao setor cafeeiro permitiu que, aos poucos, 
o país superasse as dificuldades no comércio internacional.
Enquanto Getúlio tratava de centralizar o poder em todos os aspectos, a política externa ganhou um 
novo elemento, qual seja, o aumento das trocas comerciais com a Alemanha, possibilitado pelo acordo 
bilateral assinado por ambos os países em 1936. Os Estados Unidos, principais parceiros comerciais 
do Brasil naquele momento, não viam com bons olhos essa aproximação e tentaram, sem sucesso, 
criar obstáculos para impedi‑la. Mais tarde, durante o Estado Novo, Getúlio tentaria barganhar com os 
Estados Unidos e com a Alemanha antes de se decidir definitivamente pelos estadunidenses (DORATIOTO; 
VIDIGAL, 2014).
 Saiba mais
Para conhecer mais sobre Oswaldo Aranha, leia a obra indicada a seguir.
LAGO, P. Oswaldo Aranha: uma fotobiografia. Rio de Janeiro: 
Capivara, 2017.
 Observação
Vale ter em mente que, como dizia Robert Cox, célebre autor da 
Teoria Crítica, tudo é para algo ou para alguém, não existem iniciativas 
desinteressadas. Assim, a fotobiografia de Aranha, aqui indicada, precisa 
ser lida com o olhar de alguém que entende que se trata de uma obra 
produzida pelo neto do homenageado, Pedro Lago.
Já em relação à América do Sul, dois episódios, que pouco tinham a ver com o Brasil, acabaram tendo 
consequências para o governo brasileiro. A partir de 1932, Bolívia e Paraguai passaram a se desentender 
em razão da expectativa de exploração de petróleo,e o Brasil acabou se envolvendo no conflito, apesar 
de inicialmente ter se declarado neutro. O outro episódio está relacionado à disputa, a partir de 1933, 
entre Colômbia e Peru pela região de Letícia, cabendo ao Brasil o papel de mediador da disputa.
A Questão de Letícia, como ficou conhecida, consistiu numa disputa territorial entre Colômbia e 
Peru, que brigavam pela posse do território sob domínio colombiano desde 1922, quando fora assinado 
o Tratado de Salomón‑Lozano. Em 1932, os dois países levaram o caso à Liga das Nações, e o Brasil, 
67
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
já fora da organização desde 1926 e adotando postura neutra, ofereceu serviços de bons ofícios para 
ajudar a solucionar a disputa. O interesse do Brasil em ajudar advinha da preocupação de que, perdendo 
o território, a Colômbia pudesse vir a reivindicar terras sob posse brasileira (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Em 1934, foi assinado no Rio de Janeiro, como resultado da mediação brasileira nessa questão, o 
Protocolo de Amizade entre Colômbia e Peru, pelo qual os dois países reafirmaram a validade do Tratado 
Salomón‑Lozano e continuaram reconhecendo a linha Tabatinga‑Apapóris como fronteira natural entre 
Brasil e Colômbia (GARCIA, 2005).
Já a Guerra do Chaco, entre Bolívia e Paraguai, foi o conflito armado mais violento da América 
do Sul, maior, inclusive, que a Guerra do Paraguai: estima‑se que cerca de 60 mil bolivianos tenham 
sido abatidos e que cerca de 30 mil paraguaios tenham tido o mesmo destino (vale ressaltar que os 
paraguaios ainda estavam bastante arrasados pelo conflito com Brasil, Argentina e Uruguai, ocorrido no 
século anterior). Nesse confronto, Bolívia e Paraguai disputaram a posse do Chaco, região que, após a 
independência dos dois países, era muito despovoada e não pertencia a nenhum deles – mesmo depois 
de quatro tentativas de acordos de limites de fronteiras entre 1884 e 1907, todos rejeitadas por Bolívia 
e Paraguai (GARCIA, 2005).
A figura a seguir mostra a região do Chaco e sua localização geográfica em relação aos dois 
países litigantes.
Bolívia
La Paz
Santa 
Cruz
Puerto 
Suárez
Bahia 
Negra
Campo Grande
Boquerón
Rio Pilcomayo
Nanawa
Olimpo
Rio Verde
Assunção
Potosí
Paraguai 
atual
Paraguai
Gran Chaco
Argentina
Sucre
Brasil
Figura 13 – Região do Chaco
Na década de 1920, a instabilidade política do Paraguai facilitou a instalação de militares da 
Bolívia no Chaco. Em 1927, o governo boliviano solicitou a intervenção da Argentina e do Brasil 
para manter a paz. O governo Vargas procurou manter uma política externa discreta nesse sentido, 
aconselhando soluções pacíficas aos governos boliviano e paraguaio, mas sem envolver o Brasil numa 
mediação. Já o governo argentino foi mais ativo, patrocinando um encontro em Buenos Aires para 
68
Unidade II
promover a paz entre bolivianos e paraguaios e para resolver definitivamente as divergências em 
torno da posse do Chaco, mas esse primeiro encontro fracassou (DORATIOTO, 2014).
Na década de 1930, diante da descoberta de petróleo no Chaco, os dois países entraram num conflito 
armado pelo domínio da região. A guerra começou de fato em julho de 1932, quando tropas bolivianas 
invadiram a região e atacaram um pequeno destacamento paraguaio. Na época, a região era habitada 
por agricultores paraguaios, que haviam inclusive investido, ainda que de forma muito rudimentar, 
na integração logística da região. O fato é que a Bolívia já havia perdido muitos territórios para os 
países vizinhos, e a posse do Chaco alteraria sua realidade econômica, nada otimista naquele momento 
(GARCIA, 2005).
Um fato curioso é que o início da Guerra do Chaco coincidiu com a Revolução Constitucionalista 
de 1932. Durante a guerra civil brasileira, Vargas contou com a boa vontade dos governos vizinhos para 
evitar que os rebeldes paulistas recebessem armamento do exterior. Nesse sentido, o governo paraguaio, 
esperançoso de conseguir do Brasil concessões que o ajudassem a contrapor a dependência comercial 
da Argentina, colaborou com Vargas por meio da interceptação de aviões que os paulistas haviam 
comprado no Chile e que seriam utilizados para compor uma força aérea em São Paulo. O fato é que 
quando Vargas venceu os paulistas, reconheceu que o governo paraguaio fora leal ao Brasil. A Argentina 
também contribuíra com Vargas, evitando que Buenos Aires se tornasse centro de atividades políticas, 
comerciais e financeiras dos rebeldes paulistas (DORATIOTO, 2014).
Vale ressaltar que, com base na política da boa vizinhança, os Estados Unidos tentaram liderar o 
processo para pôr fim à Guerra do Chaco, mas a diplomacia argentina agiu contra essa tentativa, pois 
naquele momento a política externa argentina era marcada por forte tendência europeísta e mantinha 
o país como um contraponto às tentativas estadunidenses de alcançar a hegemonia no continente e às 
tentativas chilenas de alcançar a hegemonia na região (SCENNA, 1975).
Sobre o objetivo da política externa argentina naquela época, Doratioto (2014, p. 106) explica que:
O objetivo da diplomacia argentina, sob Saavedra Lamas, foi o de exercer a 
liderança do seu país na busca da paz, de forma a moldá‑la para preservar 
seus interesses que consistiam em manter‑se hegemônico no Paraguai. 
Esta condição existia desde 1904 e a Argentina pretendia estendê‑la 
também ao Oriente boliviano, que se integraria à sua economia, de tal 
modo que as supostas grandes reservas de petróleo dessa região não 
concorressem com a nascente indústria petrolífera argentina. Não 
interessava aos interesses argentinos que a Bolívia vencesse a guerra, 
obtendo um porto às margens do rio Paraguai, por onde escoaria a 
eventual produção petrolífera boliviana para o mercado platino e, 
mesmo, para os de outros países. Daí o apoio político e militar argentino, 
secreto, ao Paraguai durante toda a guerra e a ação do chanceler 
argentino Saavedra Lamas para frustrar as tentativas norte‑americanas 
e da Liga das Nações de se negociar a paz.
69
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Em 1935, o Brasil mudou sua postura neutra. Isso porque o quadro político brasileiro já se estabilizara. 
O Itamaraty começou então a agir, convidando seus congêneres boliviano e paraguaio a enviarem 
representantes ao Rio de Janeiro para negociar a paz em uma conferência presidida por Getúlio Vargas. 
O governo paraguaio recusou o convite porque, em virtude da vantagem militar obtida pelas forças 
paraguaias, qualquer cessar‑fogo sem garantia de paz favoreceria a Bolívia, dando‑lhe tempo para 
reagir. Já o governo boliviano aceitou de imediato (SILVEIRA, 1997).
No mesmo ano, os embaixadores argentino, chileno, estadunidense e peruano no Rio de Janeiro 
entregaram ao Itamaraty uma nota solicitando a colaboração do Brasil na busca da paz na região 
do Chaco. O convite foi aceito, mas impôs ao Brasil a inclusão dos Estados Unidos e do Uruguai nas 
negociações de paz. Assim, Vargas viajou ao Prata, passando pelo Uruguai e pela Argentina, na mesma 
época em que tinha início a Conferência de Paz do Chaco, em Buenos Aires. Então, o chanceler brasileiro, 
Macedo Soares, se reuniu com seu colega argentino, Saavedra Lamas, e participou da mediação do 
conflito junto com os chanceleres da Bolívia e do Paraguai, o que resultou na assinatura do Protocolo de 
Paz relativo à Guerra do Chaco. As hostilidades cessaram naquele ano, mas o Tratado de Paz definitivo 
só foi concluído em 1938, deixando a região do Chaco sob a posse do Paraguai, que praticamente viu 
seu território original duplicar (GARCIA, 2005).
O chanceler brasileiro intencionava assumir papel preponderante para chegar à paz, contudo a 
tarefa de mediação resultou da iniciativa dos chanceleres argentino e chileno, cabendo a Lamas o papel 
de principal articulador. O chanceler argentino, ao ver que conquistara para si essa função e ciente 
da impossibilidade militar de a Bolívia alcançar seus objetivos no Chaco, não tinha mais motivo para 
continuar protelando a paz,como fizera no passado (DORATIOTO, 2014).
Lamas chegou inclusive a receber o Prêmio Nobel da Paz em 1935, sob a justificativa de ter 
liderado as negociações que resultaram no Protocolo de Paz entre Bolívia e Paraguai. Na verdade, o 
prêmio foi muito criticado, pois o próprio Lamas havia empreendido ação diplomática anterior para 
prolongar a guerra tendo em vista seu interesse de manter a Bolívia sem autonomia energética 
(DORATIOTO, 2014).
Interessante mencionar que, tanto na Questão de Letícia quanto na Guerra do Chaco, o Brasil 
procurou honrar os tratados vigentes, respeitou os princípios de não intervenção e preservou 
a soberania nacional. Na verdade, a diplomacia de Vargas para o Rio da Prata atuou conforme 
diretrizes que nasceram na época de Rio Branco, quais sejam, defesa da estabilidade política 
regional, não intervenção nos assuntos internos dos países vizinhos e diálogo permanente e 
fluido com a Argentina. A política externa de Vargas dava continuidade, portanto, à solução 
pacífica de controvérsias e ao incentivo ao comércio regional. Todavia, na era Vargas, existia a 
hipótese de guerra com a Argentina, como Doratioto (2014, p.116) explica:
A possibilidade de um confronto armado entre Brasil e Argentina nunca fora 
totalmente afastada para os estrategistas dos dois países e retornou com mais 
força devido às divergências, expostas anteriormente, quanto à questão do 
Chaco e pelas posturas dos dois países quanto à Segunda Guerra Mundial. [...] 
No conflito mundial, Getúlio Vargas, embora fosse um ditador desde o golpe 
70
Unidade II
de 1937, colocou o país ao lado dos EUA e da aliança contra o nazifascismo. 
[...] No final de 1943, era tensa a situação no Rio da Prata. Em junho desse ano, 
o presidente argentino Ramón Castillo foi deposto por um golpe de Estado 
promovido pelo Grupo de Oficiais Unidos (GOU), de caráter nacionalista, 
favorável a um regime autoritário e simpático ao nazifascismo, e que até 
então se mantivera secreto; nele tinha proeminência o coronel Juan Domingo 
Perón. Castillo estava revendo a posição de seu país na guerra, de neutralidade, 
a qual isolara a Argentina no continente. O GOU justificou o golpe acusando 
o governo Castillo de corrupto e o tinha como responsável pelo declínio da 
influência argentina na América do Sul. Conforme Moura (2012, p. 142‑143), 
“o golpe visava também se contrapor à crescente força militar do Brasil e 
garantir a preeminência argentina na região”.
Mas, apesar das diferenças, a Segunda Guerra Mundial ampliou as trocas comerciais entre o 
Brasil e o Rio da Prata, particularmente com a Argentina. A interrupção de fluxos comerciais com 
a Europa levou os dois países a assinarem, em 1940, o Tratado de Comércio e Navegação, prevendo 
liberdade de comércio e de navegação entre Brasil e Argentina. Nesse período, houve um aumento 
das vendas de produtos manufaturados brasileiros para a Argentina, principalmente têxteis, o que 
levou a balança comercial bilateral a tornar‑se superavitária para o Brasil (HILTON, 1987).
5.2 A Constituição de 1934 e a “Polaca” de 1937
Voltemos um pouco ao início da década de 1930 para falar sobre a Constituição de 1934. O estado 
de São Paulo desde o início se manteve como foco de resistência ao governo getulino. A elite paulista 
defendia a constitucionalização do país e exigia a nomeação de um interventor civil e paulista. Para 
pacificar os paulistas, Getúlio tomou duas decisões: promulgou o Código Eleitoral e nomeou para o cargo 
de interventor de São Paulo Pedro Toledo, civil e paulista, mas sem prestígio no estado (FAUSTO, 2013).
Em 9 de julho de 1932 estourou em São Paulo a Revolução Constitucionalista. O objetivo desse 
movimento, que ganhou ares de revolta armada, era realizar um ataque contra o governo federal e 
colocar Vargas diante das opções de negociar ou de se render. A Revolução Constitucionalista falhou, pois 
careceu do apoio que havia sido prometido pelo Rio Grande do Sul e por Minas Gerais. Entretanto, finda a 
“guerra”, Getúlio percebeu que não era possível ignorar a elite paulista, que, por sua vez, passou a ter mais 
cautela. O resultado foi a nomeação de um interventor mais caro aos paulistas, Armando de Sales Oliveira, 
a redução do débito dos cafeicultores atingidos pela Crise de 29 e, quase um ano mais tarde, a eleição 
para a Assembleia Constituinte, responsável por redigir a nova carta constitutiva do país (FAUSTO, 2013).
Em julho de 1934 foi promulgada a nova Constituição. Se a de 1891 se inspirara na constituição 
estadunidense, essa se inspirou na constituição alemã, estabelecendo uma república federativa, prevendo 
a nacionalização progressiva de minas, jazidas minerais e quedas de água, dispondo sobre a legislação 
trabalhista (proibição de diferenças salariais para um mesmo trabalho, salário mínimo, regulamentação 
do trabalho das mulheres, descanso semanal, férias remuneradas, indenização por despedida sem justa 
causa etc.), estabelecendo o ensino primário gratuito e obrigatório e o ensino religioso facultativo nas 
escolas públicas (FAUSTO, 2013).
71
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
No mesmo dia em que foi promulgada a Constituição, Getúlio foi eleito presidente pelo voto indireto 
da Assembleia Constituinte, passando de chefe do governo provisório a presidente da República, cargo 
que ocuparia até 1938, quando estavam previstas as eleições para o cargo. Mas essas eleições não 
chegaram a acontecer, pois Vargas deu um novo golpe em 1937, instaurando até 1945 a ditadura do 
Estado Novo (GARCIA, 2005).
A inspiração em governos fascistas não era algo restrito ao Brasil. No entreguerras, governos de 
natureza totalitária se levantaram em diferentes rincões do mundo: na Itália havia o fascismo, na 
Alemanha, o nazismo, na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o stalinismo, em Portugal, 
o salazarismo, na Espanha, o franquismo e no Brasil, o integralismo. A Ação Integralista Brasileira (AIB), 
movimento expressivo no Brasil e sob a liderança de Plínio Salgado, identificava como inimigos o 
liberalismo, o socialismo e o capital financeiro (FAUSTO, 2013).
Em fins de 1936 já se definiam as candidaturas para as eleições previstas para dali a dois anos. 
O Partido Constitucionalista lançou José Américo de Almeida, e a AIB lançou Plínio Salgado. Mas 
Getúlio agiu antes das eleições, utilizando a farsa do Plano Cohen (um plano falso de insurreição 
comunista), cuja mentoria havia ficado a cargo da AIB, para justificar o golpe que daria origem ao 
Estado Novo.
A figura a seguir retrata um casal integralista fazendo a saudação anauê.
Figura 14 – Casal integralista
72
Unidade II
 Lembrete
A Constituição de 1934, inspirada na constituição alemã, estabelecia 
uma república federativa, prevendo a nacionalização progressiva de minas, 
jazidas minerais e quedas de água, dispondo sobre a legislação trabalhista e 
estabelecendo o ensino primário gratuito e obrigatório e o ensino religioso 
facultativo nas escolas públicas.
 Observação
O símbolo do integralismo no Brasil, bordado na camisa de Plínio 
Salgado, era a letra grega sigma (Σ). Também existia a saudação “anauê”, 
parecida com a saudação nazista, na qual as pessoas levavam a mão direita 
acima da cabeça e à frente.
Sobre o Plano Cohen, Fausto (2013, p. 310) explica que:
Um oficial integralista – o capitão Olímpio Mourão Filho – foi 
surpreendido, ou deixou‑se surpreender, em setembro de 1937, 
datilografando no Ministério da Guerra um plano de insurreição 
comunista. O autor do documento seria um certo Cohen – nome 
marcadamente judaico – que poderia ser também uma corruptela de 
Bela Khun, líder comunista húngaro. Aparentemente, o “plano” era uma 
fantasia a ser publicada em um boletim da Ação Integralista Brasileira, 
mostrando como seria uma insurreição comunista e como reagiriam os 
integralistas diante dela. A insurreição provocaria massacres, saques 
e depredações, desrespeito aos lares, incêndios de igrejas etc. O fato 
é que de obra de ficção o documento foi transformadoem realidade, 
passando das mãos dos integralistas à cúpula do Exército. [...] Por 
maioria de votos, o Congresso aprovou às pressas o estado de guerra e 
a suspensão das garantias constitucionais por noventa dias.
Em novembro de 1937, alegando que o texto já estava circulando nos quartéis e que a ameaça 
comunista pairava sobre o Brasil, Getúlio, com a ajuda da cúpula militar, orquestrou um novo golpe, 
suspendendo as eleições previstas para 1938, pedindo que as tropas cercassem o Congresso e 
impedissem a entrada dos congressistas, anunciando a entrada em vigor de uma nova fase política, 
conhecida na história como Estado Novo, e de uma nova Constituição, elaborada por Francisco 
Campos (FAUSTO, 2013).
A figura a seguir satiriza o segundo golpe de Getúlio.
73
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Figura 15 – Charge
Os integralistas, que haviam apoiado e até conspirado a favor do golpe, esperavam que Plínio 
Salgado fosse indicado para o Ministério da Educação, o que não aconteceu. Em 1938, um grupo de 
integralistas adentrou no Palácio Guanabara para depor Vargas, uma retaliação pelo não cumprimento 
de sua promessa, mas foram cercados e fuzilados nos jardins do Palácio. Assim, Vargas conseguiu eliminar 
boa parte de seus opositores, pois os comunistas já estavam na clandestinidade, e a classe dominante 
aceitou o golpe sem resistência (FAUSTO, 2013).
A princípio, a Constituição de 1937, também chamada de “Polaca”, pois se inspirara no modelo 
semifascista polonês, não parecia diferir muito da Constituição de 1934, mas as novidades estavam 
contidas nas disposições finais e transitórias. A parte final do documento estabelecia que o presidente 
tinha poderes para confirmar ou não o mandato dos governadores eleitos e também para nomear 
interventores nos casos de não confirmação (FAUSTO, 2013).
Antes de entrar em vigor, a Constituição deveria obrigatoriamente ser submetida a um plebiscito 
nacional, conforme expresso em seu próprio texto. O Parlamento, as Assembleias Estaduais e as Câmaras 
Municipais foram dissolvidas, mas as eleições para o Parlamento estavam previstas para depois do 
plebiscito. Enquanto aguardava o plebiscito, o presidente tinha o poder de expedir decretos‑leis em 
todas as matérias de responsabilidade do governo federal. Por fim, o artigo 186 das “disposições finais 
e transitórias” declarava em todo o país o estado de emergência, suspendendo assim as liberdades civis 
garantidas formalmente pela própria Constituição.
O plebiscito e, portanto, as eleições para o Parlamento nunca foram realizados. Getúlio, durante 
todo o Estado Novo, governou por meio dos decretos‑leis, transformou os governadores dos estados em 
interventores, substituindo‑os, muitas vezes, por parentes seus ou por militares de sua confiança (exceto 
no caso de São Paulo, que Getúlio tratava com cautela) e nunca revogou o artigo 186, que previa o 
estado de emergência em todo o país (FAUSTO, 2013).
74
Unidade II
 Lembrete
A princípio, a Constituição de 1937 não parecia diferir muito da 
Constituição de 1934, mas as novidades estavam contidas nas “disposições 
finais e transitórias”.
A política externa de Vargas não mudou durante o Estado Novo. O jogo duplo com os Estados 
Unidos e com a Alemanha continuou acontecendo. Por exemplo, em 1935, o Brasil firmou com os 
estadunidenses um acordo comercial que previa concessões tarifárias recíprocas; em 1936, conforme 
já mencionado, o Brasil firmou com os alemães outro acordo comercial, que fez aumentar as 
exportações de algodão brasileiro para o III Reich e tornou a Alemanha o maior fornecedor das 
importações brasileiras (GARCIA, 2005).
Esse jogo duplo permaneceu até 1941 (ano em que Getúlio precisou assumir um lado diante da 
Segunda Guerra Mundial) e é referido pelos historiadores brasileiros como uma fase de “equidistância 
pragmática”, na qual o Brasil não se alinhou com nenhum dos países, mas procurou negociar com quem 
lhe oferecesse mais, tirando vantagem da rivalidade entre as grandes potências (CERVO; BUENO, 2013).
Sobre o estreitamento de relações com a Alemanha, Fausto (2013, p. 324) afirma que:
O período de 1934‑1940 caracterizou‑se pela crescente participação 
da Alemanha no comércio exterior do Brasil. Ela se tornou a principal 
compradora do algodão brasileiro e o segundo mercado para o café. 
Foi sobretudo no setor de importações que a influência alemã cresceu. 
Em 1929, 12,7% das importações brasileiras vinham da Alemanha e 
30,1% dos Estados Unidos; em 1938, os alemães chegaram a superar 
ligeiramente os americanos, com 25% das importações contra 24,2%. 
Naquele mesmo ano de 1938, iam para os Estados Unidos 34,3% e para 
a Alemanha 19,1% das exportações brasileiras.
Os Estados Unidos combinaram pressão e cautela ao lidar com o avanço alemão sobre o Brasil, 
afinal, a Alemanha colocou em prática uma política de influência ideológica na América Latina. Assim, 
em 1933, o novo presidente estadunidense, Franklin Delano Roosevelt, recém‑empossado, anunciou um 
pacote de medidas contra a recessão econômica, o New Deal, e seu secretário de Estado, Cordell Hull, 
implementou a política de boa vizinhança para a América Latina (GARCIA, 2005).
Essa política de boa vizinhança, que duraria até 1945, consistiu em uma estratégia de relacionamento 
com a América Latina caracterizada pelo abandono da prática intervencionista que prevalecera nas 
relações dos Estados Unidos com os países latinos desde o final do século XIX e pela adoção da negociação 
diplomática e da colaboração econômica e militar. Seu objetivo era afastar a influência europeia na 
região (SARAIVA, 2007).
75
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
É nesse contexto que surgiu, por exemplo, o filme Alô, amigos, produzido pelos Estúdios Walt Disney 
em 1942. Nele os personagens Pateta e Pato Donald vêm à América do Sul para conhecer um pouco da 
cultura de alguns países da região; enquanto Pateta conhece a Argentina, Donald vem ao Brasil e trava 
amizade com Zé Carioca e com Carmem Miranda.
A figura a seguir mostra uma propaganda do filme com seu título original, Saludos, amigos.
Figura 16 – Divulgação do filme Saludos amigos
Nesse clima de política da boa vizinhança, os Estados Unidos, durante a VII Conferência Internacional 
Americana, realizada em Montevidéu, em 1933, aprovaram a Convenção sobre Direitos e Deveres dos 
Estados, que incorporou o princípio da não intervenção nos assuntos internos dos outros países. Ademais, 
os Estados Unidos também orquestraram em Buenos Aires, em 1936, a Conferência Interamericana para 
a Manutenção da Paz, que proclamou a unidade americana e reiterou o princípio da não intervenção. 
Após a Conferência, o subsecretário de Estado estadunidense, Sumner Welles, visitou o Brasil para 
discutir a questão da concorrência comercial alemã. Por fim, durante a VIII Conferência Internacional 
Americana, realizada em Lima, em 1938, os Estados Unidos fizeram aprovar a declaração de princípios 
sobre a solidariedade continental (GARCIA, 2005).
Interessante pontuar que, embora o golpe de 1937 tenha sido saudado com entusiasmo na 
Alemanha, o Estado Novo não modificou a “equidistância pragmática”. Prova disso é que, em 1938, 
para equilibrar o jogo duplo, Vargas nomeou para o Ministério das Relações Exteriores o sensato 
Oswaldo Aranha. Os militares pressionaram em vão por um alinhamento à Alemanha, mas não 
obtiveram mais do que um contrato para o fornecimento de artilharia com a alemã Krupp também 
em 1938 (FAUSTO, 2013).
Sobre a nomeação de Aranha, Garcia (2005, p. 80) explica que:
Oswaldo Aranha, político gaúcho e ex‑embaixador em Washington, é 
nomeado novo ministro das Relações Exteriores. A presença de Aranha no 
Itamaraty servirá para contrabalançar a correlação de forças no governo, 
dividido entre pró‑americanos e simpatizantes do nazifascismo.
76
Unidade II
Apesar de transparecer sensatez e imparcialidade na maior parte do tempo, alguns episódios 
evidenciaram que Aranha não era tão neutro assim e tendia paraa parceria com os Estados Unidos em 
detrimento da Alemanha. Antes mesmo de ser indicado para assumir a pasta de Relações Exteriores, 
Aranha pediu demissão do cargo de embaixador em Washington por discordar do golpe que dera origem 
ao Estado Novo. Já em 1944, quando a Sociedade dos Amigos da América foi fechada por Vargas, 
Aranha também pediu demissão do cargo de ministro das Relações Exteriores (GARCIA, 2005).
As desavenças políticas, todavia, nunca atrapalharam a amizade de longa data dos dois. Foi inclusive 
Oswaldo o responsável por fazer o discurso mais emocionado de todos no velório de Vargas, que se 
realizaria em 1954. Num dos trechos de sua fala, Aranha diz:
Quando, há vinte e tantos anos, assumiste o Governo deste País, o Brasil 
era uma terra parada, onde tudo era natural e simples, não conhecia nem 
o progresso, nem as leis de solidariedade entre as classes, não conhecia as 
grandes iniciativas, não se conhecia o Brasil. Nós o amávamos, de uma forma 
estranha e genérica, sem consciência da nossa realidade. Tu entreabriste para 
o Brasil a consciência das coisas, a realidade dos problemas, a perspectiva 
dos nossos destinos. Ao primeiro relance, viste que a grande maioria dos 
brasileiros estavam à margem e a outra parte estava a serviço das explorações 
estrangeiras (DISCURSO..., 2004).
Mas voltemos ao período em que Getúlio ainda estava vivo. Nem o jogo de cintura de Aranha 
evitou que o Brasil tivesse que escolher um lado, e o ano de 1938 trouxe acontecimentos marcantes 
para a relação com a Alemanha. Apesar de certa afinidade ideológica entre o Estado Novo e o nazismo, 
Vargas eliminou da cena política os integralistas após usá‑los no Plano Cohen e, ao mesmo tempo, 
tratou de perseguir nazistas no sul do Brasil, proibindo a atuação do Partido Nazista. Não demorou para 
que o embaixador alemão no Brasil fosse declarado persona non grata, sendo obrigado a deixar o país 
(GARCIA, 2005).
Sobre essa crise, Garcia (2005, p. 81) explica que:
1938 – Decreto assinado por Vargas proíbe qualquer atividade política no 
Brasil por parte de estrangeiros, dentro de campanha nacionalista que já 
vinha sendo na prática implementada (18 abr.). O embaixador alemão no 
Brasil, Karl Ritter, protesta diversas vezes contra as medidas antigermânicas e 
o cerceamento da atuação do Partido Nazista (NSDAP), que possuía escritório 
de representação em São Paulo. A repressão às atividades de propaganda 
político‑ideológica do Partido Nazista nos Estados do Sul do país leva à crise 
diplomática entre o Brasil e a Alemanha: Karl Ritter é declarado persona 
non grata pelo governo brasileiro (21 set.) e a Wilhemstrasse, o Ministério 
dos Negócios Estrangeiros alemão, toma medida similar em relação ao 
embaixador brasileiro em Berlim, José Joaquim Moniz de Aragão.
77
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
No ano seguinte, as relações diplomáticas seriam restabelecidas. Todavia, as marcas do episódio 
permaneceriam presentes.
E agora nos adiantemos brevemente um pouco para falar sobre a Constituição de 1946, que seguiu 
a cartilha liberal‑democrática, abrindo caminho para algumas mudanças importantes, mas mantendo 
as características corporativistas. Na Constituição de 1946, o Brasil foi definido como uma república 
federativa, com um sistema de governo presidencialista, com o Poder Executivo sendo exercido pelo 
presidente, eleito por voto direto e secreto para um período de cinco anos. A obrigação de votar foi 
conferida aos brasileiros alfabetizados, maiores de 18 anos, de ambos os sexos. O casamento ainda era 
um vínculo indissolúvel.
Reiterando o corporativismo, não se suprimiu o imposto sindical, e o direito de greve, apesar de ter 
sido reconhecido em princípio, acabou se tornando inoperante.
5.3 O Brasil na Segunda Guerra Mundial
A Segunda Guerra Mundial foi mais importante do que o Estado Novo para forçar o Brasil a definir 
os rumos de sua política externa.
Em 1939, Vargas afirmou a neutralidade do Brasil na Segunda Guerra. No mesmo ano, a Inglaterra 
promoveu um bloqueio naval e provocou uma brusca queda no comércio Brasil‑Alemanha. Mas os 
britânicos não tinham condições de preencher o vazio comercial deixado pela Alemanha, do que emergiu 
com mais força a presença dos Estados Unidos. De acordo com Garcia (2005), isso levou os estrategistas 
estadunidenses a adotar um conjunto de medidas:
• ampliação do círculo de segurança do país, incluindo a América do Sul e, em especial, a saliência 
do nordeste brasileiro;
• início de uma ofensiva político‑ideológica, promovendo as conferências pan‑americanas em torno 
do objetivo comum de defesa das Américas sob o comando estadunidense independentemente 
do regime político de cada país;
• tentativa de controle da compra de materiais estratégicos, como a borracha, o minério de ferro, o 
manganês etc.
Nesse contexto, Vargas começou de fato uma política de barganha com o “gigante do norte”, cujo 
elemento fundamental foi a busca de apoio para a construção de uma usina siderúrgica de grande 
porte no Brasil. Logo no início de 1940, a Krupp fez proposta para a instalação de uma siderúrgica no 
país, mas a United States Steel Co. não se mostrou até aquele momento interessada no investimento. 
Diante da negativa, num famoso discurso ainda naquele ano, Vargas elogiou as virtudes dos regimes 
fortes, criticou as democracias e reiterou a neutralidade do Brasil na Segunda Guerra, pronunciamento 
que teve repercussão no exterior – os Estados Unidos ficaram surpresos, e a Alemanha ficou satisfeita 
(GARCIA, 2005).
78
Unidade II
Os Estados Unidos reagiram ao discurso e, antes de findo o ano de 1940, concluíram o acordo 
com o Brasil para a construção de uma siderúrgica em Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro, com 
empréstimos do Eximbank e a ser controlada por uma empresa estatal brasileira, a Companhia Siderúrgica 
Nacional (CSN). Assim, Vargas logrou negociar o alinhamento através da “política de barganhas”, num 
momento de extrema polarização política (GARCIA, 2005).
Quando os Estados Unidos entraram na guerra, em dezembro de 1941, o Brasil se sentiu forçado a 
tomar uma posição, apesar de ainda hesitante, sentimento rechaçado apenas depois de um submarino 
alemão afundar cinco navios mercantes brasileiros. Depois disso, em maio de 1942, sob o peso 
massacrante da opinião pública brasileira, indignada com o ataque alemão, o Brasil decidiu entrar na 
Segunda Guerra ao lado dos Estados Unidos (FAUSTO, 2005).
Mas antes de efetivamente entrar no conflito, o Brasil já havia se decidido pelos Estados Unidos, 
conforme explicam a seguir Doratioto e Vidigal (2014, p. 64):
[...] entre fevereiro e março de 1942, o ministro da Fazenda, Artur de Sousa 
Costa, viajou em missão aos Estados Unidos, onde foram assinados acordos 
de natureza militar, estratégica e econômica. Tinha início uma nova fase 
nas relações Brasil‑Estados Unidos, impulsionada pelo fornecimento de 
armas e munições para o Brasil, pela oferta de investimentos e por outras 
formas de cooperação, tendo como contrapartida a venda de material 
estratégico, como borracha e minerais. O Brasil autorizou Washington a 
reformar as bases militares de Belém, Natal e Recife, para que pudessem 
ser mais bem utilizadas.
Ademais, outros acontecimentos reforçam a ideia de que Getúlio já havia escolhido um lado antes 
do ataque alemão aos navios brasileiros, conforme explica Garcia (2005, p. 84):
1942 – O Brasil rompe relações diplomáticas com o Eixo (28 jan.). Artur 
de Souza Costa, ministro da Fazenda, visita os EUA e assina os chamados 
Acordos de Washington (3 mar.). Os EUA concedem um empréstimo 
de US$ 100 milhões para financiar o projeto siderúrgico brasileiro e um 
crédito de US$ 200 milhões para a renovação das Forças Armadas. Trata‑se 
do maior compromisso dos EUA com um país latino‑americano durante a 
Segunda Guerra Mundial. Firmado acordo político‑militar secreto entre o 
Brasil e os EUA para a criação de uma Comissão Mista e utilização de bases 
no Nordeste, como apoio estratégicopara o front no norte da África e o 
controle do Atlântico Sul (23 maio). Após o torpedeamento de cinco navios 
brasileiros em três dias, o Brasil reconhece o estado de beligerância com a 
Alemanha e a Itália (21 ago.). A aliança Brasil‑EUA em tempo de guerra se 
torna irreversível.
A atuação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e da Força Aérea Brasileira (FAB) foi positiva. 
Em julho de 1944, o Brasil enviou a FEB para a Itália, com um efetivo de cerca de 25 mil homens, 
79
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
comandados pelo general Mascarenhas de Morais. Na Itália, os brasileiros foram incorporados ao 
5º Exército dos Estados Unidos e se destacaram em táticas defensivas contra os alemães em duas 
batalhas, a do Monte Castelo e a de Montese. O êxito, ainda que em menor proporção, também 
marcou a participação da FAB no conflito, apesar de ela ter sido criada no contexto da própria guerra.
Sobre a campanha na Europa, Doratioto e Vidigal (2014, p. 66) argumentam que:
O número de integrantes da FEB suscitou um grande envolvimento por 
parte da sociedade, e o fato de terem morrido somente 454 brasileiros 
em combate explica a mobilização dos brasileiros na “volta dos pracinhas”. 
O entusiasmo popular teria contribuído para acelerar a pressão pela 
redemocratização do país.
Poucos duvidam das vantagens militares e políticas da participação direta do Brasil no conflito. 
Os militares brasileiros ganharam experiência de combate, treinamento logístico e de manejo de 
armas mais ou menos modernas, além de vivência de guerra. O Brasil passou a ser mais respeitado 
pelas nações aliadas, teve papel relativamente importante na construção da ordem do pós‑guerra 
e ganhou prestígio junto aos vizinhos do continente. É certo que o Brasil não se tornou membro 
permanente do Conselho de Segurança da ONU, mas esse desfecho fazia sentido, pois seu território 
não havia sido palco de combate direto e seu poder não era comparável ao das demais potências 
que ganharam assento permanente no órgão (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Mas o maior ganho foi, sem dúvida, o fato de que o retorno dos soldados brasileiros fortaleceu o 
apelo político pela volta da democracia. Vargas foi forçado a renunciar após um complexo jogo político, 
que não cabe discutir aqui. Ele saiu do governo sem muita resistência e voltou para São Borja, de onde 
daria continuidade a sua vida política e se prepararia para voltar ao poder em breve, mas, dessa vez, 
eleito pelo voto popular.
Vargas renunciou em outubro de 1945. José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, 
assumiu como presidente em exercício, tendo Pedro Leão Veloso como ministro das Relações Exteriores, 
e convocou novas eleições para presidente da República. E, enquanto o Brasil se redemocratizava, os 
Estados Unidos e a URSS protagonizavam o surgimento de uma nova ordem internacional no pós‑guerra 
(GARCIA, 2005).
Entrando no contexto internacional, vale descrever brevemente o desenrolar e o desfecho da 
Segunda Guerra. De 1939 a 1941, ainda não se podia falar em um conflito de proporções mundiais, pois 
existiam, na verdade, duas guerras paralelas, uma na Europa (entre a França, a Inglaterra e a Alemanha) 
e outra na Ásia (entre o Japão e a China), que se juntariam em 1941, quando a Alemanha decidiu invadir 
a URSS e o Japão decidiu atacar os Estados Unidos. Nesse momento, as duas guerras paralelas cederam 
lugar à Segunda Guerra Mundial (SARAIVA, 2007).
O ano de 1941 deve ser visto como um momento crucial de inflexão das relações internacionais 
contemporâneas, pois marcou o início de uma nova ordem internacional, em que os Estados Unidos 
preencheram o vazio deixado pela França, naquela altura já derrotada pela Alemanha, e pela Inglaterra, 
80
Unidade II
que ainda resistia ao avanço alemão, e em que a URSS, traída pela Alemanha, vencia os alemães 
(SARAIVA, 2007).
Quando os Estados Unidos responderam ao ataque a Pearl Harbor com o bombardeio do Japão, 
em 1945, aquele episódio representou não só o caso da velha ordem internacional do século XIX, mas 
também demostrou o fim dos sonhos de grandeza do Japão no novo cenário internacional, que só teria 
espaço para dois polos de poder, os Estados Unidos e a URSS. Ainda em 1943, antes mesmo do fim oficial 
da Segunda Guerra, as potências começaram a promover um conjunto de conferências (Teerã, Yalta e 
Potsdam) para regulamentar a paz (SARAIVA, 2007).
Na Conferência de Teerã, realizada em novembro de 1943, os aliados traçaram planos para 
materializar a derrota dos alemães e organizar as primeiras divisões territoriais das tropas de ocupação 
de cada país. Na Conferência de Yalta, realizada em fevereiro de 1945, as forças aliadas reuniram‑se para 
reafirmar o princípio de autodeterminação dos povos e a expansão de regime de caráter democrático, 
além de confirmar o que havia sido estabelecido em Teerã, já sendo possível reconhecer previamente o 
desenvolvimento de uma ordem bipolar protagonizada por Estados Unidos e URSS.
Na Conferência de Potsdam, realizada em julho de 1945, a Alemanha teve o seu território dividido 
em quatro zonas a serem administradas por franceses, britânicos, norte‑americanos e soviéticos, ficando 
estipulado também que pagaria uma indenização de vinte bilhões de dólares (SARAIVA, 2007).
Em meio à regulamentação da paz em 1944, os Estados Unidos solicitaram ao Brasil que considerasse 
estabelecer relações diplomáticas formais com a URSS, ao que Vargas cedeu em 1945, formalizando 
o estabelecimento de relações diplomáticas com os russos. Ainda em 1945, na Conferência de San 
Francisco, foi aprovada a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU), assinada pelo Brasil como 
membro fundador. A ONU substituiria a Liga das Nações, e o seu Conselho de Segurança seria constituído 
por cinco membros permanentes e seis membros não permanentes. Em 1946, na I Reunião da Assembleia 
Geral da ONU, o Brasil foi eleito membro não permanente do Conselho de Segurança (GARCIA, 2005).
O presidente eleito, Eurico Gaspar Dutra, assumiu o poder e nomeou para ministro das Relações 
Exteriores o político e advogado João Neves da Fontoura, o qual representou uma posição de alinhamento 
sem restrições ao bloco ocidental liderado pelos Estados Unidos. Quanto à URSS, as relações diplomáticas 
formais seriam cortadas em 1947 em virtude da caça aos comunistas no Brasil e da perseguição ao 
Partido Comunista Brasileiro (PCB) (GARCIA, 2005).
Interessante notar como foram os Estados Unidos que incentivaram o estabelecimento de relações 
diplomáticas do Brasil com a URSS. Isso porque, no fim do conflito mundial, Estados Unidos e URSS 
haviam guerreado do mesmo lado e defenderam interesses comuns na Conferência de Teerã. A questão 
do antagonismo natural entre capitalismo e socialismo só seria levantada em 1945 por George Kennan, 
homem de confiança de Harry Truman e quem o alertou acerca da rivalidade entre os dois blocos 
(SARAIVA, 2007).
A figura a seguir é um registro de Churchill (primeiro ministro britânico), Truman (presidente 
estadunidense) e Stalin (ditador soviético) na Conferência de Potsdam, realizada em 1945, ocasião na 
81
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
qual ainda não existia o antagonismo entre Estados Unidos e URSS, mas apenas uma aliança frouxa 
baseada no interesse comum de punir Hitler.
Figura 17 – Churchill, Truman e Stalin
O alerta de Kennan fez surgir a Doutrina Truman (1947), a primeira clara formulação política com 
caráter universalista dos Estados Unidos com o fim de conter a expansão do comunismo. Respaldada 
pela Doutrina Truman, a política externa estadunidense durante a Guerra Fria não ficaria restrita ao 
plano ideológico, mas alcançaria os planos econômico, militar e político (SARAIVA, 2007).
No plano econômico, os Estados Unidos criaram programas de recuperação econômica para comprar 
o alinhamento dos países. O Plano Marshall (1947) era voltado para a Europa Ocidental, e o Ponto IV 
(1949), para as regiões periféricas do globo (o Brasil foi incluídoentre os beneficiários desse programa). 
No plano militar, os Estados Unidos assinaram o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), 
instrumento jurídico destinado a promover a defesa da América Latina contra agressões externas, e 
orquestraram a criação da Organização do Tratado de Atlântico Norte (1949), cuja atuação ficou restrita 
à Europa Ocidental. No plano político, os Estados Unidos criaram a Organização dos Estados Americanos 
(OEA), que, na verdade, era o Bureau criado em 1890 e depois transformado em União Pan‑Americana 
em 1910 (GARCIA, 2005).
A reação soviética tardou a vir. Moscou chegou a ensaiar para receber ajuda dos Estados Unidos em 
sua reconstrução econômica, uma promessa das conferências posteriores à Segunda Guerra, mas desistiu 
diante das condições rigorosas impostas pelos norte‑americanos. A saída encontrada pelos soviéticos 
foi o reinício do processo de militarização das fronteiras, o recrudescimento da política de espaços na 
Europa Oriental e o aceleramento do projeto de desenvolvimento da bomba atômica (SARAIVA, 2007).
82
Unidade II
Assim, conforme Saraiva (2007), algumas medidas foram tomadas:
• criação do Kominform (1947), um instrumento de propagação da revolução comunista no mundo;
• ampliação do recrutamento militar (1948‑1950);
• realização do primeiro experimento da bomba nuclear (1949);
• criação do Comecon (1949), uma organização internacional cujo objetivo era integrar 
economicamente as nações do Leste Europeu para fazer frente ao Plano Marshall.
Mas nada que vinha dos soviéticos interessava ao Brasil naquele início de Guerra Fria. Dutra optou 
pelo alinhamento sem recompensa com os Estados Unidos e promoveu uma virada drástica no rumo da 
política externa brasileira, vista apenas nos primeiros anos da Primeira República.
 Saiba mais
Para conhecer uma análise mais aprofundada sobre a participação do 
Brasil na Segunda Guerra Mundial, leia a obra indicada a seguir.
SEITENFUS, R. O Brasil vai à guerra. São Paulo: Manole, 2003.
5.4 O período democrático
Com a redemocratização, Eurico Gaspar Dutra foi eleito presidente da República. Sua política 
econômica era marcadamente liberal. No início de sua gestão, condenou a intervenção estatal e aboliu 
os controles estabelecidos pelo Estado. Naquele momento, a situação do Brasil no plano financeiro era 
favorável, pois o país acumulara divisas no exterior, resultantes das exportações dos anos de guerra. 
Mas a política liberal, marcada por uma onda de importações de todas as espécies e pela valorização da 
moeda nacional, logo mostraria sinais de fracasso, levando a balança comercial brasileira a um déficit 
considerável e obrigando Dutra a mudar de orientação em junho de 1947 e a estabelecer um sistema 
de licenças para importar. Essa guinada surtiu efeito positivo e logrou controlar a inflação, bem como 
favoreceu o avanço da indústria (FAUSTO, 2013).
A política externa de Dutra convergia com a nova realidade internacional, em que os Estados Unidos 
eram um dos polos de poder, mas logo se mostraria equivocada para as novas condições posteriores à 
Segunda Guerra, em que os estadunidenses não precisavam mais barganhar com a América Latina, muito 
menos com o Brasil. Dutra achou que as relações especiais com os Estados Unidos seriam mantidas e, 
por isso, tentou conservar a política de barganha da época da guerra, mas sem sucesso, pois não obteve 
a recíproca do governo americano. Assim, Dutra protagonizou uma política externa que ficou conhecida 
como alinhamento sem recompensa (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
83
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Sobre a espera da recompensa, Doratioto e Vidigal (2014, p. 68) afirmam que:
Os dirigentes brasileiros acreditavam no apoio norte‑americano para a 
manutenção da cooperação econômica e militar entre os dois países, o que 
incluía o reconhecimento, por parte de Washington, dos termos do acordo 
político‑militar de 1942, a possibilidade de obtenção de recursos para obras 
de infraestrutura no Brasil, a continuidade do treinamento militar prestado 
às forças armadas brasileiras (Exército e Marinha) e o fornecimento de 
material bélico. [...] Os militares norte‑americanos consideravam que o 
acordo de 1942 não atendia aos interesses de seu país e que o Departamento 
de Estado deveria deixar claro ao governo do Rio de Janeiro que a “aliança 
especial” perdera sua razão de ser. Entre 1945 e 1947, a ideia de segurança 
coletiva substituiu o compromisso bilateral anterior, e, à pressão brasileira 
em favor do desenvolvimento econômico do país, contrapôs‑se a assistência 
econômica, nos moldes da Missão Abbink (1948), e a continuidade do 
treinamento militar.
A política externa de Dutra ressaltaria os princípios de amizade e de colaboração com todas as 
nações do continente, além do princípio de democracia para a consolidação da paz mundial. Em sua 
posse, o ministro das Relações Exteriores, João Neves da Fontoura, evidenciou que seguiria a política 
exterior dos Estados Unidos, aplicando‑a nas negociações multilaterais e mesmo nas bilaterais, tornando 
o alinhamento uma prática da política exterior brasileira (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Na Conferência de San Francisco (1945), cujo resultado foi a criação da ONU, o Brasil esperava obter 
um posto permanente no Conselho de Segurança, uma ambição incabível naquele momento. Dutra teve, 
então, de se contentar com o assento não permanente pelos dois anos que previam o mandato. Ainda 
no que dizia respeito à ONU, a delegação brasileira foi orientada a seguir as posições de Washington, 
se opondo a iniciativas de regimes comunistas, defendendo o equilíbrio de poder na América do Sul e 
votando em conformidade com as grandes potências, mesmo quando isso ferisse interesses nacionais 
(DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
A conivência do Brasil diante dos interesses dos Estados Unidos no âmbito da ONU também 
refletiu nas relações regionais. Os objetivos da política externa estadunidense em relação à América 
Latina se baseavam num tripé que continha a formação de uma frente antissoviética, o combate ao 
antiamericanismo e a defesa do hemisfério. A Argentina ainda resistia em aderir aos mecanismos 
institucionais regionais criados sob inspiração dos Estados Unidos, mas ratificou o Tiar e ingressou na 
OEA (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Esses dois mecanismos eram fruto da Ata de Chapultepec, documento aprovado durante a 
Conferência Interamericana sobre os Problemas da Guerra e da Paz, realizada na Cidade do México, em 
1945, para discutir o fortalecimento do sistema regional mediante a criação de uma nova organização 
internacional regional e a postura de solidariedade continental. Assim, o Tiar e a OEA concretizaram 
as intenções daquela conferência e definiram o perfil da hegemonia dos Estados Unidos nas Américas 
(GARCIA, 2005).
84
Unidade II
Sobre a resistência da Argentina, Juan Domingo Perón, ditador do país na época em que o Tiar e a 
OEA foram criados, protagonizou uma política externa que ficou conhecida como Terceira Via, pois não 
se alinhava nem com os Estados Unidos e nem com a URSS, mas sim buscava unificar economicamente 
a América do Sul. Isso, nos planos de Perón, deveria ser feito por Argentina, Brasil e Chile através do 
Pacto do ABC, que acabou não sendo aceito por Dutra (HIRST, 1996).
No caso do Brasil, como já mencionado, Dutra não apenas ratificou o Tiar como também rompeu 
relações diplomáticas com a URSS e, domesticamente, reprimiu o comunismo em âmbito interno, 
cassando o registro do PCB (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
O Brasil também ratificou o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (Gatt), destinado a regular o 
comércio internacional, mas defendeu seus interesses econômicos na Conferência de Havana (1948), 
convocada para discutir a criação da Organização Internacional do Comércio, e na Conferência de 
Bogotá (1948), por meio da qual surgiu a OEA. Nessas duas conferências, os interesses econômicos dos 
países em desenvolvimento foram ignorados. Assim, no âmbito da ONU, em1948, foi criada a Comissão 
Econômica para a América Latina (Cepal), encarregada de desenvolver pesquisas e estudos sobre o 
desenvolvimento latino‑americano. Foi aí que, em 1949, para não parecer totalmente alheio às questões 
econômicas latinas, os Estados Unidos também incluíram a região no Ponto IV.
Em 1949, Dutra fez a primeira visita oficial de um governante brasileiro aos Estados Unidos. 
Sobre as expectativas do então presidente brasileiro naquela ocasião, Doratioto e Vidigal (2014, p. 73) 
argumentam que:
Em 1949, Dutra realizou a primeira visita oficial de um governante 
brasileiro aos EUA [...], ainda alimentando esperanças quanto à “relação 
especial” entre o Brasil e os EUA. A ideia era obter maior reciprocidade 
econômica e ajuda financeira para fomentar o desenvolvimento brasileiro. 
As esperanças brasileiras no sentido de obter empréstimos públicos e 
acordos de cooperação científica foram frustradas, mas, em 1950, foi 
estabelecida a Comissão Mista Brasil‑EUA para o Desenvolvimento 
Econômico. Os trabalhos da Comissão tiveram início em 1951, já no 
governo Vargas, e se estenderam até 1953, reafirmando, ao final de suas 
atividades, a importância de capitais privados externos e de recursos 
econômicos nacionais como bases para o desenvolvimento. Era a 
reafirmação do alinhamento sem recompensa.
Já em relação à região do Prata, Dutra deu continuidade à política dos governos anteriores, 
mantendo uma postura tolerante e cautelosa em relação à Argentina. Na esfera política, os setores 
brasileiros não tinham opinião unânime acerca de Perón, os nacionalistas o admiravam, e os liberais 
o hostilizavam. Na esfera comercial, as relações com a Argentina não perderam fôlego, o Brasil queria 
manter a exportação de têxteis para o mercado argentino e a importação de trigo dos produtores 
argentinos, um cereal escasso no mercado mundial naquele período (HILTON, 1987).
85
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
De forma geral, os governantes brasileiros não acreditavam em uma harmonia duradoura nas 
relações com a Argentina e tratavam de evitar conflitos políticos e comerciais com a nação vizinha, o 
que não os impedia, porém, de se preparar belicamente para um eventual confronto armado com os 
argentinos (HILTON, 1987).
Dutra também manteve a tradicional cordialidade nas relações com o Uruguai. Em 1948, o então 
presidente uruguaio, Luís Battle Berres, veio ao Brasil para assinar dois acordos, um de extradição e outro 
de arbitragem e solução de controvérsias. Em 1950, Brasil e Uruguai assinaram o Tratado de Comércio 
e Navegação na tentativa de remover obstáculos que ainda restavam no relacionamento comercial 
bilateral (GARCIA, 2005).
O Uruguai não guardava a mesma cordialidade para com a Argentina de Perón. A Argentina criou 
obstáculos ao turismo de argentinos no Uruguai e dificultou o comércio bilateral, pois Berre se recusava 
a receber influência política e ideológica do regime de Perón (CERVO, 2001).
Sobre essa relação nada amistosa, Doratioto (2014, p. 125) explica que:
No início de 1949, o representante britânico na capital uruguaia relatou 
que “a penetração argentina no Uruguai” tinha se estendido para além 
das esferas econômica e financeira e causava “muita preocupação”, com 
o presidente Battle Berres vendo com apreensão “uma situação que não é 
tanto uma guerra ‘fria’, mas, sim, uma guerra de nervos”. Montevidéu era 
um reduto para exilados políticos argentinos, opositores de Perón, cujo 
governo reagia quer pressionando as autoridades uruguaias para que 
os impedisse de atividades antiperonistas, quer por meio de cobranças 
oficiais, quer por críticas a elas na imprensa oficialista em Buenos Aires.
Outra correspondência britânica, de 1953, relatou que se agravara a situação e que era procedente 
a acusação de que o Uruguai permitia aos asilados argentinos fazer propaganda antiperonista, numa 
postura de desafio insolente à Argentina, que ocorria somente porque o governo uruguaio contava com 
o apoio dos Estados Unidos e do Brasil (DORATIOTO, 2014).
Quanto ao Brasil, a campanha eleitoral de 1950 mostrou que Vargas voltaria ao poder. Porém, dessa 
vez, o fato se deu pelo voto direto do povo, e não por um golpe ou pelo voto indireto da Assembleia 
Constituinte, como acontecera antes.
A figura a seguir satiriza o fato de Vargas, durante sua ditadura, ter determinado que as repartições 
públicas tivessem o retrato do presidente na parede, determinação que serviu de inspiração para a 
campanha eleitoral de 1950.
86
Unidade II
Figura 18 – Charge
A charge anterior diz respeito à marchinha de carnaval intitulada “Retrato do velho”, criada 
especialmente para a campanha de Vargas à presidência da república. A marchinha dizia:
Retrato do velho
Bota o retrato do velho outra vez
Bota no mesmo lugar
Bota o retrato do velho outra vez,
Bota no mesmo lugar.
O sorriso do velhinho faz a gente trabalhar
Eu já botei o meu...
E tu, não vais botar?
Já enfeitei o meu...
E tu, vais enfeitar?
O sorriso do velhinho faz a gente se animar.
Fonte: Lobo e Pinto (1950).
 Observação
Dizem que Getúlio era muito vaidoso e não gostou de ser chamado de velhinho.
Desde o início, o governo Vargas ficou marcado pela cisão dentro das Forças Armadas entre 
nacionalistas e entreguistas, sendo tais denominações bastante intuitivas acerca do que pensavam 
esses grupos quanto à política externa. Por um lado, os nacionalistas defendiam o desenvolvimento 
baseado na industrialização, o investimento do Estado em áreas estratégicas, as restrições ao capital 
estrangeiro e o distanciamento ou mesmo a oposição em relação aos Estados Unidos. Por outro lado, 
os entreguistas defendiam uma menor intervenção do Estado na economia, a abertura controlada ao 
capital estrangeiro, uma postura de rigoroso combate à inflação e um alinhamento irrestrito em relação 
aos Estados Unidos. Isso dava um indicativo de que os entreguistas do governo Dutra agora teriam 
oposição ferrenha (FAUSTO, 2013).
87
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
 Observação
Alguns autores utilizam a expressão associacionistas em vez de entreguistas, 
que é um termo pejorativo.
A política externa do governo Vargas não fugiu das dualidades e das dificuldades enfrentadas por 
Dutra. O primeiro desafio de Vargas foi posicionar‑se acerca do pedido estadunidense de envio de 
efetivo militar brasileiro para auxílio na Guerra da Coreia. Sobre a Guerra da Coreia, é válido dizer que o 
Japão ocupou a Coreia de 1910 a 1945; em 1948, com a derrota japonesa na Segunda Guerra, os aliados 
expulsaram os japoneses e dividiram a Coreia em duas: Coreia do Sul, capitalista, e Coreia do Norte, 
socialista. Em 1950, a Coreia do Norte tentou reunificar as Coreias, mas a ONU e os Estados Unidos 
intervieram, impedindo a reunificação sob a liderança comunista; em 1953, a Guerra da Coreia chegou 
ao fim, e a divisão se tornou definitiva (SARAIVA, 2007).
O fato é que a ONU aprovou a intervenção e os Estados Unidos contaram, na Assembleia Geral, com 
o apoio do Brasil para proceder à intervenção ainda durante o governo Dutra. No ano seguinte, quando 
Vargas já estava no poder, os Estados Unidos cobraram um maior envolvimento do Brasil, conforme 
explica Garcia (2005, p. 90):
1951 – Em carta dirigida a Getúlio Vargas, o presidente Truman, seguido 
depois pelo secretário‑geral da ONU, Trygve Lie, solicita ao Brasil o envio 
de tropas para a Guerra da Coreia (9 abr.). O governo brasileiro, no entanto, 
rejeita maior envolvimento militar no conflito e não atende ao pedido 
norte‑americano.
A negativa de Getúlio se deu em virtude dos contextos externo e interno de instabilidade. 
Externamente, a Guerra Fria passava por um momento intenso, e o futuro da Guerra da Coreia era 
totalmente imprevisível. Internamente, o Brasil padecia de problemas econômicos e via nascer uma 
oposição muito ferrenha a Vargas. Nesse contexto, Getúlio ensaiou repetir a estratégia utilizada durante 
a Segunda Guerra, qual seja, a de promover o desenvolvimento industrialdo Brasil às custas dos Estados 
Unidos e por meio da barganha do alinhamento, o que não teria o mesmo resultado de antes (DORATIOTO, 
VIDIGAL, 2014).
A recíproca estadunidense não veio, pois, ao iniciar a barganha, Vargas não imaginava que os 
norte‑americanos haviam reservado novo lugar à América Latina em sua política externa. No cenário 
da Guerra Fria, a América Latina foi marginalizada, pois os Estados Unidos estavam preocupados com a 
reconstrução econômico‑financeira europeia e com a contenção do comunismo em áreas críticas como 
Grécia, Turquia, China e Coreia, ao passo que as Américas Central e do Sul eram consideradas estáveis do 
ponto de vista político‑ideológico e pouco influenciáveis pelo comunismo, até mesmo porque a URSS, 
ao contrário da Alemanha durante a década de 1940, não tinha condições de se projetar no continente 
americano e, assim, não preocupava os Estados Unidos nesse sentido (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
88
Unidade II
Sobre a postura de Getúlio, Doratioto e Vidigal (2014, p. 71) afirmam que:
Como resultado de uma conjuntura internacional refratária a seus anseios 
desenvolvimentistas e da falta de renovação de suas próprias estratégias 
de governo, Vargas foi levado à adoção de uma política externa que se 
aproximava mais daquela adotada por Dutra do que da implementação na era 
Vargas (1930‑1945). Objetivamente, não é descabido afirmar que a política 
exterior do segundo governo Vargas, nos temas de política internacional, 
foi pautada pelos valores da ideologia norte‑americana da Guerra Fria. 
Os melhores exemplos dessa política, além do acordo militar com os EUA 
(1952), encontram‑se na participação brasileira na IV Reunião de Consultas 
dos Ministros de Relações Exteriores Americanos, em Washington, em março 
de 1951, e na X Conferência Internacional Americana, realizada em Caracas, 
três anos depois.
O Tratado de Assistência Militar entre o Brasil e os Estados Unidos, assinado em março de 1952 e 
conhecido como Acordo Militar Brasil‑Estados Unidos, resgatou mecanismos que haviam sido estabelecidos 
à época da Segunda Guerra. Assim, os norte‑americanos garantiram o fornecimento brasileiro de manganês, 
urânio e areias monazíticas para a indústria bélica estadunidense e ofereceram em troca assistência 
militar e vantagens na aquisição de armamentos usados. Esse acordo só serviu para acirrar ainda mais os 
ânimos entre nacionalistas e entreguistas, pois, para os primeiros, o Brasil perdera a chance de negociar 
contrapartidas que realmente promovessem o desenvolvimento nacional (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
A queixa dos nacionalistas fazia todo sentido, já que a demanda brasileira por iniciativas de 
cooperação econômica fora respondida com mecanismos de cooperação na área militar, exceto pela 
criação da Comissão Mista Brasil‑Estados Unidos, em 1950, que, da mesma forma que a Missão Abbink, 
teria um caráter essencialmente assistencialista (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Sobre a Comissão Mista, Doratioto e Vidigal (2014, p. 72) explicam que:
A Comissão Mista Brasil‑EUA para o Desenvolvimento Econômico, criada em 
19 de dezembro de 1950, foi constituída em um momento menos favorável 
que o do imediato pós‑guerra. Alimentavam essa percepção as reclamações 
brasileiras quanto ao volume da ajuda norte‑americana, à recusa de 
o governo Dutra enviar soldados para a Coreia e ao tom nacionalista da 
campanha de Vargas. Instalada no Rio de Janeiro, em meados de 1951, a 
Comissão Mista iniciava a formulação de projetos para o Bird e o Eximbank, 
quando Vargas propôs a criação da Petrobrás e a regulamentação da remessa 
de lucros pelas empresas estrangeiras que atuavam no país, agravando a 
crise política interna.
O Brasil também se envolveu com as questões da América Central. No caso da crise da Guatemala, 
por exemplo, que foi de 1953 a 1954, o Itamaraty solicitou às embaixadas de países latinos estudos sobre 
a situação do governo guatemalteco de Jacobo Arbenz, um ditador, para instruir o posicionamento do 
89
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Brasil na X Conferência Internacional Americana, então, a poucas semanas de seu início. Os estudos 
indicavam que a melhor atitude seria apoiar a proposta de intervenção dos Estados Unidos, já que 
o governo Arbenz era comunista e vinha promovendo uma série de expropriações no país, como a 
das terras da empresa estadunidense United Fruit Company. E foi por esse motivo que o Brasil votou 
favoravelmente à intervenção (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Na América do Sul, a relação de amor e ódio com a Argentina nunca tinha fim. Em 1951, antes 
mesmo de sua posse, Vargas enviou emissários pessoais a Perón para discutir o relacionamento 
brasileiro‑argentino. Os dois presidentes compartilhavam da opinião de que, diante do contexto 
internacional de instabilidade, uma boa estratégia seria construir nações economicamente fortes que 
fossem capazes de suportar as turbulências políticas do período (HIRST, 1996).
Segundo Cervo (2001), o governo Perón buscou alcançar a autonomia econômica para a Argentina 
da seguinte forma:
[...] reduzindo as inversões estrangeiras, produzindo insumos básicos, 
apoiando a produção agrícola, estabelecendo uma indústria de 
transformação e promovendo pesquisas em setores avançados, como 
a física nuclear. [...] O peronismo alçava a bandeira da luta contra o 
predomínio de Wall Street e o imperialismo do dólar (CERVO, 2001, p. 103).
Foi essa política externa que ficou conhecida como a Terceira Via. Os contatos entre Vargas e Perón e a 
semelhança entre eles (ambos nacionalistas, populistas e autoproclamados defensores dos trabalhadores 
urbanos) pareciam indicar uma cooperação entre Brasil e Argentina, o que teria repercussões para a 
região do Prata, já que a dinâmica entre esses dois países envolvia também as relações com Uruguai e 
Paraguai (DORATIOTO, 2014).
Mas o clima de proximidade não levou à cooperação. Isso se deveu a três motivos. Em primeiro 
lugar, a política de Vargas para o Rio da Prata esbarrava numa poderosa oposição que se preocupava 
em demasia com uma possível “peronização” do Brasil numa época em que o mundo se polarizava cada 
vez mais e que era preciso escolher um dos lados. Em segundo lugar, o Brasil dependia financeira e 
comercialmente dos Estados Unidos, o que mostrava não ser viável escolher o outro lado. Por fim, diante 
do contexto internacional, um discurso de autonomia nacional em vez de um discurso de alinhamento 
ao Ocidente poderia ser mal interpretado pelos norte‑americanos (DORATIOTO, 2014).
Nesse contexto, Vargas fez o que tinha de fazer, conforme explica Doratioto (2014, p. 128):
É conhecida a capacidade de adaptação política que caracterizou a vida 
pública de Getúlio Vargas. Assim, apesar de seu discurso nacionalista e 
de possível simpatia por projetos de Perón, Vargas evitou confrontar seus 
opositores conservadores na política externa e nomeou João Neves da 
Fontoura para chefiar o Itamaraty. Fontoura era um político do PSD, que já 
ocupara esse cargo no governo Dutra, durante sete meses em 1946, e avesso 
ao peronismo.
90
Unidade II
Fontoura iniciou então uma política de contenção da influência peronista, alegando que o 
expansionismo argentino ameaçava o Brasil nos planos político, econômico e militar. Assim, o Itamaraty 
passou a enxergar a proposta de integração de Perón como instrumento de sua ambição no continente, 
o que levou o Brasil a recusar o Pacto do ABC. Na Argentina, a recusa foi interpretada como um indicativo 
de que o Brasil não se envolveria num processo de integração sul‑americana no qual não pudesse ser o 
líder (VIDIGAL, 2003).
Diante da recusa brasileira, no início de 1952, Perón visitou o Chile e assinou um acordo para criar 
uma união econômica chileno‑argentina, apresentada como embrião da integração regional. No Brasil, 
o acordo foi interpretado como ameaça expansionista e serviu para aumentar ainda mais a rivalidade 
entre o Itamaraty e a Argentina (DORATIOTO, 2014).
Em 1953, o projeto de Perón deu passos para

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