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Profa. Dra. Maria Carla Vieira Pinho SAÚDE DA MULHER Fo nt e: h ttp s: //u nd er to p. co m .b r/b lo gs /n ew s/ ed ito ria l-d as -m ul he re s- re ai s- on g- no va -m ul he r PARA REFLETIR – CASO CLÍNICO A.P.R.S., 33 anos, compareceu na Clínica da Família no dia 10/03/2022 e procurou sua Agente Comunitária de Saúde (ACS). Disse que precisava de ajuda para resolver uma questão íntima e pediu que conversasse em particular. A ACS foi até um local mais reservado para conversar e A.P.R.S. começou a chorar dizendo que há 12 anos tenta engravidar e que se sentia velha, pois todas as suas amigas, irmãs e primas já tinham filhos. Disse que sentia muita cólica menstrual e dor pélvica, inclusive durante a relação sexual, e que o namorado terminou com ela por esses motivos. A ACS a acalmou e convenceu a passar por uma consulta no mesmo dia com a enfermeira de sua equipe. Durante a consulta, a enfermeira identificou na anamnese que a usuária nunca havia realizado a coleta do exame citopatológico, pois tinha medo de sentir dor. Negou histórico familiar de câncer de colo uterino e relatou histórico de câncer de mama (mãe e tia materna). Informou que sua menarca foi aos 12 anos e a sexarca aos 14 anos. Informou que desde os 17 anos tenta engravidar, pois gostaria de ter sua independência, mas não consegue. Informou menstruação irregular e DUM 24/02/2022. Disse que não faz uso de qualquer método contraceptivo e que tinha um parceiro fixo há um ano e três meses. O ex-parceiro, 38 anos, possui um filho do relacionamento anterior, mas ela gostaria de realizar o sonho de mãe.... 1. Diante da situação relatada, cite cinco ações que podem ser realizadas para seguimento do caso. Justifique. PARA REFLETIR ⇢ Ao longo da história, quais as conquistas para os direitos da mulher? ⇢ Quando se pensa em Saúde da Mulher, de qual mulher estamos falando? Quem são elas? ⇢ O que é “saúde integral da mulher” e o que são o PAISM e o PNAISM? ⇢ Quais os principais programas para a saúde da mulher no Sistema Único de Saúde? ⇢ Qual o papel no enfermeiro no PNAIS? SOBRE OS ESCRITOS MILENARES, QUAL A SUA OPINIÃO? “A mulher deve adorar o homem como a um deus. Toda manhã, por nove vezes consecutivas, deve ajoelhar-se aos pés do marido e, de braços cruzados, perguntar-lhe: Senhor, que desejais que eu faça?” Zaratustra (filósofo persa, século VII a.C). "Quando um homem for repreendido em público por uma mulher, cabe-lhe o direito de derrubá-la com um soco, desferir-lhe um pontapé e quebrar-lhe o nariz para que assim, desfigurada, não se deixe ver, envergonhada de sua face. E é bem merecido, por dirigir-se ao homem com maldade de linguajar ousado." Le Ménagier de Paris (Tratado de conduta moral e costumes da França, século XIV). "A natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior." Aristóteles (filósofo, guia intelectual e preceptor grego de Alexandre, o Grande, século IV A.C.). "O pior adorno que uma mulher pode querer usar é ser sábia.“ Lutero (teólogo alemão, reformador protestante, século XVI). E O TEMPO VAI PASSANDO... ⇢ "Sempre que o homem sair com os amigos e voltar tarde da noite, espere-o linda, cheirosa e dócil". (Jornal das Moças, 1958) ⇢ "A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, servindo-lhe uma cerveja bem gelada. Nada de incomodá-lo com serviços ou notícias domésticas". (Jornal das Moças, 1959) ⇢ "Se o seu marido fuma, não discuta pelo simples facto de cair cinzas no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa". (Jornal das Moças, 1957) ⇢ "É fundamental manter sempre a aparência impecável diante do marido". (Jornal das Moças, 1957) ⇢ "Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afecto, sem questioná-lo". (Revista Claudia, 1962) ⇢ "A desordem em um banheiro desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa". (Jornal das Moças, 1965) Fonte das imagens: Internet, 2023. CHEGAM OS DIAS ATUAIS... Fonte: Revista Veja, 2016 DE QUE MULHERES ESTAMOS FALANDO? �50,7% da população brasileira; �Principais usuárias do SUS para o seu próprio atendimento e acompanhamento de outras pessoas; �Cuidadoras (filhos, idosos, amigos, vizinhos); �Trabalhadoras, donas de casa, esposas, com dupla ou tripla jornada de trabalho... Fonte das imagens: Internet, 2023. DE QUE MULHERES ESTAMOS FALANDO? ⇢ Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), 2014: ⇢ As mulheres têm uma jornada semanal de quase cinco horas a mais que os homens, incluindo a jornada de trabalho doméstico. ⇢ Apenas no trabalho doméstico, a jornada feminina, de 20,6 horas. ⇢ Mais do dobro da observada para os homens, de 9,8 horas por semana. ⇢ Considerando a “dupla jornada”, elas trabalham em média 56,4 horas semanais, contra 51,6 horas deles. Saúde da Mulher Meio Ambiente Lazer Alimentação Condições de Trabalho Moradia e Renda Discriminação nas Relações de Trabalho Sobrecarga com o Trabalho Doméstico Raça Etnia Apesar de as mulheres viverem mais que os homens, elas são mais vulneráveis. Profa. M.Carla 1. Mais restrita que aborda apenas aspectos da biologia e anatomia do corpo feminino. ⇢ O corpo da mulher é visto apenas na sua função reprodutiva e a maternidade torna-se seu principal atributo. ⇢ A saúde da mulher limita-se à saúde materna ou à ausência de enfermidade associada ao processo de reprodução biológica. 2. Mais ampla que considera além dos aspectos mais biológicos outras dimensões como a dos direitos humanos e questões relacionadas à cidadania. ⇢ Nesse caso inclui-se os direitos sexuais e as questões de gênero (a importância da mulher na sociedade, inserção no mercado de trabalho, escolhas, e outros). DE QUE MULHERES ESTAMOS FALANDO? DUAS FORMAS DE ENTENDER A SAÚDE DA MULHER Fonte das imagens: Internet, 2023. EVOLUÇÃO DA SAÚDE DA MULHER NO BRASIL Política restritas à gravidez e ao parto. Política restrita à especificidade biológica - Assistência restrita ao ciclo gravídico e puerperal. Movimento feminista brasileiro - Crítica a esses programas (visão limitada) Introdução de outras questões na agenda política nacional: Gênero, Sexualidade, Reprodução, Anticoncepção e Prevenção as DSTs/ Aids. 1ª Década do Séc. XX Década de 30, 50 e 70 A partir da década de 70 Década de 80 AS MULHERES PASSARAM A REIVINDICAR SEUS DIREITOS Procriação, Sexualidade e saúde, Planejamento familiar, Discriminação do aborto, Democratização da educação à saúde, Garantia os direitos das mulheres como cidadãs EVOLUÇÃO DA SAÚDE DA MULHER NO BRASIL Fonte das imagens: Internet, 2023. PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER (PAISM) 1984: Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) RESULTADO DA MOBILIZAÇÃO DAS MULHERES � Ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação: ⇢ Assistência à mulher de forma integral. ⇢ Pré-natal, parto e puerpério. ⇢ No climatério. ⇢ Planejamento familiar. ⇢ DST. ⇢ Câncer de colo de útero e de mama. ⇢ Outras necessidades detectadas a partir do perfil populacional. PAISM : “Nova e diferenciada abordagem da saúde da mulher” PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER (PAISM) DIRETRIZES DO PAISM �Atenção integral à mulher em relação à saúde reprodutiva! ⇢Aperfeiçoamento do controle pré-natal, parto e puerpério. ⇢Abordagem nos problemas da adolescência até terceira idade. ⇢Controle DSTs, câncer de câncer cérvico-uterino e mama. ⇢Assistência à concepção e contracepção. O PAISM propôs o atendimento à SAÚDE REPRODUTIVA das mulheres, no âmbito da atenção integral à saúde, e não mais a utilização de ações isoladas em planejamento familiar. POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER (PNAISM - 2004) Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva, incluindo o Planejamento Reprodutivo e as DST/HIV/Aids Câncer de colo de útero e mama Atenção às Mulheres e Adolescentes em Situaçãode Violência Atenção Clínico Ginecológica Atenção Obstétrica EIXOS Atenção à Saúde de Segmentos Específicos da População Feminina PNAISM, 2004 Saúde Materna Saúde Reprodutiva Saúde Sexual Saúde da Mulher EVOLUÇÃO Séc. XX PNAISM - PNAISM – OBJETIVOS GERAIS 1. Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente constituídos e ampliação do acesso aos meios e serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo território brasileiro. 2. Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade feminina no Brasil, especialmente por causas evitáveis, em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais, sem discriminação de qualquer espécie. 3. Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no Sistema Único de Saúde ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA PNAISM AÇÕES EDUCATIVAS ⇢ POPULAÇÃO à individual ou grupos ⇢ EQUIPE DE SAÚDE à educação continuada AÇÕES ASSISTENCIAIS ⇢ MULHERES EM IDADE FÉRTILà Ações de Vigilância à Saúde, Acolhimento, Consulta de Enfermagem, Coleta de CO e Exame clínico das mamas, Prevenção das DSTs e AIDS, Tratamento de infecções vaginais, Encaminhamento para outros profissionais e serviços. ⇢ MULHERES NO CICLO GRÁVIDO-PUERPERALà Diagnóstico precoce da gravidez, Matrícula pré-natal (sisprenatal), Revisão puerperal, Aleitamento materno, Consultas subsequentes, Métodos contraceptivos, Prevenção de CA cervico-uterino e mamário. ⇢ MULHERES NO CLIMATÉRIO à Registro individual dos aspectos físicos e emocionais, Atividade em grupos, Orientação nutricional, Orientação quanto à atividade física e intelectual, Orientação quanto ao uso de medicação e exames solicitados. VOLTAMOS AO CASO CLÍNICO A.P.R.S., 33 anos, compareceu na Clínica da Família no dia 10/03/2022 e procurou sua Agente Comunitária de Saúde (ACS). Disse que precisava de ajuda para resolver uma questão íntima e pediu que conversasse em particular. A ACS foi até um local mais reservado para conversar e A.P.R.S. começou a chorar dizendo que há 12 anos tenta engravidar e que se sentia velha, pois todas as suas amigas, irmãs e primas já tinham filhos. Disse que sentia muita cólica menstrual e dor pélvica, inclusive durante a relação sexual, e que o namorado terminou com ela por esses motivos. A ACS a acalmou e convenceu a passar por uma consulta no mesmo dia com a enfermeira de sua equipe. Durante a consulta, a enfermeira identificou na anamnese que a usuária nunca havia realizado a coleta do exame citopatológico, pois tinha medo de sentir dor. Negou histórico familiar de câncer de colo uterino e relatou histórico de câncer de mama (mãe e tia materna). Informou que sua menarca foi aos 12 anos e a sexarca aos 14 anos. Informou que desde os 17 anos tenta engravidar, pois gostaria de ter sua independência, mas não consegue. Informou menstruação irregular e DUM 24/02/2022. Disse que não faz uso de qualquer método contraceptivo e que tinha um parceiro fixo há um ano e três meses. O ex-parceiro, 38 anos, possui um filho do relacionamento anterior, mas ela gostaria de realizar o sonho de mãe.... 1. Diante da situação relatada, cite cinco ações que podem ser realizadas para seguimento do caso. Justifique. O QUE VOCÊ RESPONDEU? RESPOSTA 1. Realizar o exame de colpocitologia oncótica (exame preventivo), por ela nunca ter realizado, ter vida sexual ativa e ter 33 anos - Este exame deve ser realizado em todas as pessoas que tenham colo de útero, que já tenham tido relação sexual, na faixa etária dos 25 a 64 anos de idade. 2. Ofertar os testes rápidos, pela necessidade de se diagnosticar o HIV, hepatites virais, e sífilis. Os testes rápidos devem ser realizados por todas as pessoas que têm vida sexual ativa. 3. Orientar sobre os métodos contraceptivos e os direitos sexuais e reprodutivos, pois ela está há anos mantendo relação sexual sem uso de nenhum método contraceptivo, no entanto deseja ser mãe. A saúde sexual e reprodutiva envolve a capacidade de desfrutar de uma vida sexual satisfatória e sem riscos, bem com a liberdade de mulheres e homens, jovens e adultos, decidirem se querem ou não ter filhos, o número de filhos que desejam e em que momento da vida gostariam de tê-los. E direito, inclusive, o acesso à informações, meios, métodos e técnicas para ter ou não ter filhos, além de exercer a sua sexualidade e a reprodução livre de discriminação, imposição e violência. 4. Investigar a infertilidade, pois ela é caracterizada pela incapacidade do casal de gestar após um ano de relação sexual sem uso de anticoncepção, quando a mulher tem menos de 35 anos, que é o caso de A.P.R.S. 5. Investigar a dispareunia porque ela está relacionada com diversos fatores: infecções, hipoestrogenismo, infecção no trato urinário, lubrificação vaginal inadequada, prolapso, entre outros BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Brasilia: Secretaria de políticas para as mulheres, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da Mulher. Ministério da Saúde. Assistência pré-natal: Manual técnico, 2000.66p BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Monitoramento e Acompanhamento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM)e do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM). Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por- temas/politicas-para-mulheres/arquivo/central-de-conteudos/publicacoes/publicacoes/2015/pnaism_pnpm- versaoweb.pdf>. Acesso em: 02 Mar. 2022. COREn. Conselho Regional de Enfermagem. Documentos Básicos de Enfermagem: principais leis e resoluções que regulam o exercício profissional de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. São Paulo:COREn,2001. SOARES, Diego dos Santos; SILVA, Ursula Rosa da. O Jornal das Moças: uma narrativa ilustrada das mulheres de 30 a 50 & sua passagem por pelotas nas décadas. Disponível em: <https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/Arte/article/viewFile/3013/2594>. Acesso em 02 Mar.2023. BIBLIOGRAFIA MUITO OBRIGADA! Profa. Dra. Maria Carla Vieira Pinho maria.pinho@fmu.br